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APLICAÇÃO DE METODOLOGIA DE DESEMPENHO NA MANUTENÇÃO DE FACHADAS

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APLICAÇÃO

DE

METODOLOGIA

DE

DESEMPENHO

NA

MANUTENÇÃO

DE

FACHADAS

I. FLORES-COLEN J. DE BRITO V. P. FREITAS

Professora Auxiliar Professor Catedrático Professor Catedrático IST IST FEUP

Lisboa Lisboa Lisboa

SUMÁRIO

A manutenção de fachadas em serviço deve basear-se no conhecimento do desempenho das solu-ções aplicadas durante o seu ciclo de vida. Neste artigo é apresentada uma metodologia de ava-liação do desempenho em serviço na óptica da manutenção, a qual inclui os procedimentos para a avaliação do desempenho mecânico e físico de fachadas rebocadas, assim como os critérios para a decisão das intervenções após a realização de inspecções em serviço.

ABSTRACT

The in-service maintenance of facades should be based on the knowledge of the performance of constructive solutions during their life cycle. This paper proposes a methodology for in-service performance assessment in order to achieve maintenance, including procedures to evaluate the mechanical and physical performance of rendered facades as well as the criteria to help the deci-sion for interventions after the accomplishment of inspections.

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1. INTRODUÇÃO

A manutenção pró-activa de fachadas de edifícios é crucial para garantir o adequado desempenho dos elementos em serviço e satisfazer as necessidades dos utentes, durante o período de vida útil expectável. No entanto, a ocorrência destas acções de manutenção não tem sido prática comum em edifícios correntes (particularmente os edifícios de habitação), resultando em inúmeros pro-blemas, tais como: risco de segurança para os utentes ou transeuntes, sobrecustos associados às intervenções urgentes, paragens no funcionamento normal dos edifícios, entre outros. Muitos são os aspectos que podem ser apontados como razões para este cenário actual: deficiente diagnóstico efectuado em serviço (em termos de recursos humanos, técnicos e económicos), inexistência de critérios de decisão e ausência de requisitos na legislação actual e apoios governamentais.

Esta comunicação apresenta a aplicação de uma metodologia de desempenho de fachadas reboca-das de edifícios correntes (com revestimentos de base cimentícia, doseados em obra ou em fábri-ca) tendo em vista a melhoria no diagnóstico das inspecções durante a vida útil [1]. Nesta meto-dologia é proposto um conjunto de parâmetros em serviço (observação e medição) e os respecti-vos métodos de verificação (inspecções visuais, meios auxiliares de diagnóstico, técnicas de en-saio in-situ e em laboratório) [2]. Por último, são propostos critérios de simplificação dos parâme-tros anteriores na avaliação do desempenho em serviço de rebocos aplicados em fachadas e na escolha das acções de manutenção predictiva (acções que resultam do diagnóstico da inspecção). Essa avaliação é feita de acordo com quatro componentes de desempenho, mas numa abordagem holística do desempenho.

2. DESCRIÇÃO GERAL DA METODOLOGIA PROPOSTA

A metodologia de avaliação do desempenho em serviço proposta incluiu, numa primeira fase, as seguintes etapas principais, i) caracterização das condições de exposição em serviço; ii) identifi-cação dos parâmetros de observação e de medição em serviço; iii) utilização dos respectivos mé-todos de verificação; iv) comparação dos resultados obtidos com os parâmetros de referência propostos, após campanhas em laboratório; v) discussão de critérios para a avaliação do desem-penho em serviço; e vi) discussão de critérios de apoio à escolha das acções de manutenção. Esta metodologia foi utilizada em 42 edifícios (cerca de 100 paramentos), localizados na zona Centro e Sul de Portugal, respectivamente Aveiro, Tomar, Carregado, Lisboa, Linda-a-Velha e Seixal. Sumariamente, os casos analisados têm várias idades de construção (idade entre 1 a 50 anos) e incluíram: muretes rebocados com conhecimento dos produtos aplicados (pré-doseados em fábrica e doseados em obra); fachadas de edifícios (com ou sem conhecimento do tipo de produtos aplicados) e análise de amostras recolhidas in-situ em vários casos (muretes e fachadas e ainda fachadas integradas em processos de reclamação durante o período de garantia). As facha-das de edifícios foram escolhifacha-das aleatoriamente, incidindo em edifícios correntes (de estrutura de betão e maioritariamente com paredes de alvenaria de tijolo, embora existam casos de estudo com outros tipos de suporte).

A caracterização das condições de exposição em serviço para os vários casos de estudo foi, de uma maneira geral, visual com registo em ficha de inspecção, incluindo o seguinte: tipo de

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envol-vente; exposição a agentes poluentes; humidade no terreno; acção climática; tipo de solo; tipo de utilização; acção chuva-vento; e proximidade do mar. Em alguns casos, foi utilizado o termo-higrómetro para registo da temperatura ambiente e humidade relativa ambiente. Os parâmetros de observação e de medição com meios auxiliares correspondem ao estudo do desempenho técnico em serviço, associado à deterioração física dos elementos constituintes de fachadas rebocadas, e já foram detalhados em publicações anteriores dos autores [1; 2; 3; 4].

Os métodos de verificação em serviço preconizados foram de quatro tipos: observação visual, meios auxiliares de diagnóstico (pequenos equipamentos ou procedimentos simples de apoio à observação visual), técnicas de ensaio in-situ e em laboratório (ensaios realizados em ambiente controlado, mas com amostras recolhidas durante a inspecção). Verificou-se que as técnicas in-situ auxiliam o diagnóstico em termos de degradação, mas não estabelecem, na sua maioria, rela-ções directas com os requisitos de desempenho existentes na normalização.

De facto, conclui-se que estas técnicas apresentam diferentes graus de conhecimento quando aplicadas à avaliação do comportamento em serviço dos rebocos exteriores, de acordo com o seguinte: i) técnicas com procedimentos normalizados e critérios de avaliação consensuais no meio técnico, com recomendações para a sua aplicação in-situ (por exemplo, o ensaio de arran-camento por tracção pull-off reúne estas condições); ii) técnicas que têm sido utilizadas nas ins-pecções de superfícies rebocadas ou de paramentos de edifícios (antigos ou recentes), com proce-dimentos técnicos de apoio à sua aplicação em serviço, baseando-se, no entanto, em critérios subjectivos de avaliação (que mais uma vez dependem da experiência do inspector) - nestas con-dições inserem-se por exemplo, o esclerómetro pendular tipos P e PT, Martinet Baronnie e os tubos de Karsten ou método do cachimbo; iii) técnicas que, embora de uso corrente, com proce-dimentos normalizados (normas de ensaio da ISO ou da ASTM) no diagnóstico de elementos da construção, como por exemplo estruturas de betão, apresentam ainda pouca aplicação no diagnós-tico de paramentos rebocados (apesar de já existirem estudos desenvolvidos por outros investiga-dores) - nestas condições, inserem-se as técnicas de ultra-sons e a do esclerómetro Schmidt ou tipo N; iv) técnicas que têm sido utilizadas no diagnóstico de paramentos rebocados ou de facha-das, mas cujos procedimentos são apenas referidos no manual do equipamento, sendo ainda es-cassos os estudos de investigação que possam fornecer critérios de avaliação; neste grupo, inse-rem-se as técnicas do kit de campo para sais, fitas colorimétricas, medidor de pH / condutividade, humidímetro, pirómetro de radiação infravermelha e termómetro de infravermelhos a laser. Por último, as técnicas de laboratório, utilizadas com amostras recolhidas em serviço, foram esco-lhidas no sentido de obter parâmetros relevantes para o desempenho que não eram analisados directamente pelas técnicas referidas anteriormente. Verificou-se que a sua aplicação a amostras é reduzida no diagnóstico de rebocos em serviço, assim como os estudos de investigação que, na maioria das técnicas, são ainda incipientes. No entanto, é possível distinguir as técnicas utilizadas em termos do conhecimento técnico adquirido: i) técnicas que resultam da adaptação de outras normalizadas para provetes de argamassa, com requisitos de desempenho definidos - neste grupo, insere-se o ensaio de absorção capilar; ii) técnicas que resultam de outras com procedimentos aplicados mais correntemente a outros materiais (como, por exemplo, amostras de betão ou pedra) - neste grupo, insere-se o ensaio de resistência à compressão de amostras e a medição do volume geométrico e do volume através da pesagem hidrostática para a determinação da massa volúmica aparente ou porosidade aberta ou aparente, apresentando esta última técnica na bibliografia

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dife-rentes procedimentos para a saturação das amostras; iii) técnicas que resultam apenas de estudos de investigação, sem procedimentos publicados; neste grupo, insere-se o ensaio de secagem de amostras (utilizado neste trabalho, após a conclusão do ensaio de absorção capilar).

Procurou-se limitar o estudo desenvolvido aos rebocos aplicados, mais frequentemente, em fa-chadas de edifícios correntes, incluindo as argamassas (pré-doseadas ou tradicionais), cimentícias ou bastardas, com traços ponderais na ordem de 1 de cimento: 0.2 a 0.3 de cal aérea hidratada: 5 a 7 de areia, excluindo, portanto, as argamassas de edifícios antigos, cuja percentagem de cal é significativamente maior. As campanhas em laboratório permitiram um melhor entendimento das técnicas de verificação em vários tipos de rebocos, assim como estabelecer algumas relações entre os parâmetros de medição em serviço (mecânicos e físico-químicos) e os determinados em prove-tes normalizados (parâmetros que se encontram associados aos requisitos encontrados em normas ou na bibliografia técnica).

De um modo geral, os resultados obtidos nas campanhas de laboratório para os parâmetros mecâ-nicos em serviço, medidos com as técnicas mencionadas, apresentaram boas correlações com os seguintes parâmetros de referência: resistência à compressão; módulo de elasticidade dinâmico e tensão de aderência. Adicionalmente, existiram boas correlações entre eles, o que permitiu con-cluir que todos contribuem, em maior ou menor percentagem, para a avaliação das seguintes ca-racterísticas do reboco aplicado em serviço: resistência interna ou coesiva; capacidade de defor-mação; aderência ao suporte e resistência superficial. Por outro lado, os resultados em laboratório para os parâmetros físico-químicos permitiram concluir que existem boas correlações entre estes e os seguintes parâmetros de referência: coeficiente de capilaridade e permeabilidade ao vapor de água, relevantes para a verificação das seguintes características do reboco aplicado em serviço: resistência à penetração da água; resistência à humidade ascensional; resistência higrotérmica e bioquímica. Por último, foram propostos critérios limite entre dois grupos de argamassas [2; 4]], com base no trabalho desenvolvido, tendo ainda sido indicados (quando possível) desvios (máxi-mos e míni(máxi-mos) para cada um dos parâmetros, contabilizando a incerteza dos resultados obtidos em laboratório; adicionalmente, foram também indicadas situações de maior exigência. Apesar da mais-valia dos parâmetros de medição em serviço e dos respectivos métodos de verificação no diagnóstico das inspecções, em termos de avaliação do desempenho de rebocos exteriores, a sua utilização para escolha das acções de manutenção de uma fachada rebocada pode conduzir a cus-tos elevados, inviabilizando a realização da inspecção. Neste contexto, foram simplificados crité-rios para uma maior aplicabilidade da metodologia de inspecção a toda a fachada.

3. APLICAÇÃO À ESCALA DA FACHADA NA ÓPTICA DA MANUTENÇÃO PREDIC-TIVA

A metodologia geral proposta para fachadas rebocadas, com base em inspecções (manutenção predictiva), encontra-se sintetizada no fluxograma da Figura 1. A primeira fase da metodologia consiste na definição do tipo de inspecção e objectivos.

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Fazer discriminação de cada fachada em análise e definir zonas a analisar

Definir o tipo de inspecção e objectivos Avaliar a conformidade da condição da superfície rebocada (CS) Avaliar a conformidade das interfaces (INT)

Avaliar a conformidade do desempenho mecânico do reboco aplicado (CM) Avaliar a conformidade do desempenho físico-químico do reboco aplicado (CFQ)

Classificação geral das componentes representada em diagrama radial Fim da avaliação Perfil de desempenho (A a J); (IC1 a IC4); (CD1 a CD4); (CD5 a CD8) Se os resultados

não forem conclusivos

Recolher informação disponível

Definir as acções de manutenção e a urgência

Figura 1 - Fluxograma geral da metodologia proposta para a avaliação do de-sempenho em serviço de fachadas rebocadas

As inspecções a fachadas podem ter diversos objectivos: caracterização do comportamento em serviço após construção; inspecção após reclamação e detecção de anomalias; inspecção planeada no decorrer ou perto do fim da vida da vida útil para confirmação do bom desempenho em servi-ço. As inspecções correntes são, por norma, mais simples e recorrem à observação e realização de

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meios expeditos auxiliares de diagnóstico. As inspecções detalhadas incluem, para além das acti-vidades anteriores, ensaios in-situ e ensaios em laboratório em amostras recolhidas em campo. Para decidir sobre a conformidade do desempenho em serviço de toda a fachada (com área variá-vel) e a consequente preconização ou não de acções de manutenção, os parâmetros de observação e de medição devem ser representativos do comportamento de cada fachada. Este aspecto dificul-ta a análise do desempenho em serviço quando baseada em ensaios (em que um dos critérios mais utilizado é o número mínimo de ensaios por m2), podendo agravar os custos das inspecções e o

tempo disponibilizado para a sua realização. Por outro lado, os seguintes factores contribuem para uma maior ou menor fiabilidade do diagnóstico após inspecção: desconhecimento do tipo de reboco aplicado; ausência de informação sobre o desempenho expectável para determinadas con-dições de serviço; localização das áreas ensaiadas e análise das zonas de fachada acessíveis; equi-pamento disponível para a inspecção; grau de intrusividade das técnicas; condicionalismos na recolha de amostras; grande variabilidade nos resultados obtidos (coeficientes de variação acima de 50%) e na exactidão dos métodos de verificação (a maioria de carácter expedito). Neste con-texto, são propostos critérios de simplificação que permitam análises mais localizadas mas repre-sentativas do desempenho do reboco aplicado na fachada. A selecção do número de zonas a anali-sar tem por base as ISO 2859-1 [5] e ISO 3951 [6] (normas também adaptadas pela NP EN 206-1 [7] para verificação da conformidade de várias propriedades de betão). Para a identificação dos parâmetros não-conformes, foram assim adaptados os critérios propostos pelas ISO relativos a inspecções por atributos, onde o número de não-conformidades é limitado tendo em conta o nú-mero de zonas a ensaiar, o tipo de inspecção (corrente ou detalhada) e o nível de qualidade pre-tendido (equivalente a um limite aceitável de não-conformidades.

As zonas constituintes da fachada mostram sensibilidade variável aos agentes de degradação em serviço. Destas zonas, distinguem-se as seguintes: parede corrente, soco e zona inferior à plati-banda ou cornija. Para a análise de cada uma destas zonas, é proposta uma discretização por ma-lha regular, com um mínimo de 5 a 10 divisões em ambos os lados (Figura 2, à esquerda). O nú-mero total de “quadrados” em cada malha corresponde ao núnú-mero de lotes existentes que serve de base para as zonas a analisar numa inspecção corrente ou detalhada. Nos critérios propostos, são garantidas pelo menos 5 zonas a ensaiar em cada região (numa inspecção corrente).

A conformidade dos parâmetros baseia-se na contagem do número total de resultados obtidos fora dos valores dos limites de referência ou tolerâncias admissíveis, e na comparação desse total com o número máximo permitido (Figura 2, à esquerda). O número máximo aceitável para as não-conformidades depende do tipo de inspecção (corrente ou detalhada) e do nível de qualidade aceitável (AQL). Este nível deve ser predefinido (com recurso às normas ISO referidas) e repre-senta o limite aceitável para uma percentagem média de não-conformidades; assumiu-se neste caso os valores de 4 e 15% que são também propostos para a conformidade de algumas caracterís-ticas no betão [7].

Para a avaliação da condição da superfície rebocada (homogeneização da cor e textura; existên-cias de descontinuidades e manchas; e desvios geométricos da superfície), foram propostos parâ-metros de observação (tipos de anomalias e respectiva extensão) e de medição (teor de humidade, velocidade de propagação das ondas ultra-sónicas e índice esclerométrico, variação total da cor, rugosidade e desvios geométricos); estes critérios tiveram como objectivo caracterizar a

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degrada-ção visível à superfície e detectar eventuais fenómenos de pré-patologia nas zonas visivelmente boas, constituindo também uma importante base para a necessidade do grau de detalhe a efectuar no diagnóstico ao nível das restantes componentes de desempenho.

Figura 2 - Discretização da fachada (à esquerda) e análise das interfaces (à di-reita).

As interfaces identificadas foram as seguintes (Figura 2, à direita): interface do reboco com os elementos de fronteira existentes na fachada (IC1), tais como peitoris; interface do reboco com a alvenaria, superestrutura e fundações do edifício (IC2); interface do reboco com a alvenaria de suporte (IC3); e interface do reboco com o seu acabamento (IC4), como por exemplo a camada de pintura. Na avaliação da compatibilidade entre interfaces, foram propostos apenas parâmetros de observação e critérios em função do grau de dificuldade da intervenção (GD) e do seu custo em relação ao custo inicial de aplicação do reboco (CI); salienta-se, no entanto, que a realização de ensaios no reboco permitiu identificar incompatibilidades nas interfaces que não eram detectáveis só por uma avaliação visual (por exemplo, num caso de estudo, a fissuração observada não levava a diagnosticar um problema de falta de aderência do reboco ao seu suporte devido à aplicação de um produto impermeabilizante, como foi possível constatar com ensaios complementares com tubos de Karsten aplicados no próprio tijolo do suporte).

Na avaliação da conformidade do comportamento mecânico (resistência interna ou coesiva; capa-cidade de deformação; aderência ao suporte; e resistência superficial) e físico-químico (resistên-cia à penetração da água líquida; resistên(resistên-cia higrotérmica; e resistên(resistên-cia bioquímica) do reboco aplicado, os critérios de medição propostos [1; 2] dizem respeito a zonas sem anomalias visíveis; adicionalmente, foi inserida na metodologia a possibilidade de existir informação sobre as carac-terísticas do reboco aplicado ou de terem sido realizadas inspecções anteriores (neste contexto, a avaliação destas componentes do desempenho deve ser feita relativamente a esses dados já exis-tentes e disponíveis). A conformidade de cada característica foi considerada em termos do núme-ro de parâmetnúme-ros não-conformes e a sua correlação (correlação elevada a média) (Figura 3); nesta análise, foi ainda recomendada a medição de pelo menos quatro parâmetros por cada característi-ca de desempenho.

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Figura 3 - Avaliação do desempenho mecânico do reboco aplicado.

Apesar da vantagem na análise de mais do que um parâmetro, verificou-se em alguns casos haver algumas discrepâncias (por exemplo, parâmetros mecânicos que conduzem a diferentes conclu-sões, como, por exemplo, uma argamassa poder ser avaliada com boa ou má resistência mecâni-ca). Três factores foram identificados como relevantes para estas diferenças: incerteza no parâme-tro de referência, incerteza no método de verificação e incerteza nos resultados obtidos (em ter-mos de coeficiente de variação e número de ensaios). Neste sentido, foi proposto um indicador de fiabilidade que inclua critérios relacionados com os factores anteriores e que apoie o inspector na escolha dos parâmetros mais fiáveis para determinada inspecção. Da aplicação do indicador glo-bal de fiabilidade (Figura 3) aos parâmetros de medição, verificou-se que a velocidade de propa-gação das ondas ultra-sónicas e a porosidade aparente conduziram a uma maior pontuação. Neste contexto, destaca-se a importância da medição da porosidade aparente, parâmetro que permitiu identificar os diferentes tipos de argamassas (aspecto relevante quando não forem conhecidas as características do reboco aplicado), assim como estabelecer relações com outros parâmetros de medição, conforme referido [3].

Por último, esta metodologia facilitou a elaboração de perfis de desempenho dos vários parâme-tros ou a representação gráfica das quatro componentes em diagramas radiais de desempenho para cada paramento da fachada. Refere-se, ainda, a importância que o conhecimento técnico e a expe-riência adquirida pelo inspector têm para a escolha das acções de manutenção, apesar da redução da subjectividade verificada com a metodologia geral proposta. Nestas ferramentas de desempe-nho (Figura 4), a avaliação do desempedesempe-nho em serviço nas quatro componentes de avaliação, é feita numa escala de 1 a 5 (menor pontuação corresponde a um maior grau de redução do desem-penho). A não conformidade de alguma das componentes anteriores conduz à preconização de acções de manutenção, que podem ser várias consoante o elemento de construção. Ao nível do reboco aplicado, as acções incluem os seguintes tipos: limpezas; repinturas; reparações;

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substitui-ções ou outras acsubstitui-ções de protecção aos agentes de degradação (como por exemplo, à água ou aos choques em serviço). As acções relacionadas com a incompatibilidade entre interfaces poderão ser de categorias diferentes e ocorrer em um ou mais elementos de construção (estrutura, suporte de alvenaria, elementos de fronteira, entre outros). Assim, a escolha das acções de manutenção foi feita em função da categoria dos trabalhos a realizar (de um modo geral: 4 - monitorização; 3 - acções de limpeza, repintura ou protecção; 2 - reparações ou substituições), tendo em conta que qualquer parâmetro que representava situações de risco para os utilizadores ou condições para mecanismos de degradação acelerada no reboco conduzia a um mau desempenho (classificação de 1) - métodos não-compensatórios de decisão.

Figura 4 - Classificação geral das componentes em perfis de desempenho e em diagrama radial.

A Figura 4 exemplifica os resultados da aplicação da metodologia ao paramento exposto a Sul no caso de estudo EC01. Pelas não conformidades detectadas, recomenda-se neste caso uma monito-rização da condição da superfície (aumento da heterogeneidade da rugosidade e da extensão e/ou abertura média da microfissuração) e da interface (verificação da estabilidade da parede de alve-naria ao longo do tempo, com constante presença de máquinas na zona). Ao nível do comporta-mento do reboco aplicado, verifica-se a não conformidade na sua capacidade de deformação (os dois parâmetros não conformes confirmam a existência de heterogeneidades internas tipo fissura-ção e uma compacidade elevada do produto aplicado); aspectos de execufissura-ção, tais como a aplica-ção mecânica e as condições de aplicaaplica-ção, podem justificar o aparecimento da fissuraaplica-ção nas

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primeiras idades. Adicionalmente, a observação visual identificou um ligeiro aumento da micro-fissuração neste paramento exposto a Sul. As acções a recomendar seriam reparar ou proteger (por exemplo, com uma pintura). Como este produto é hidrofugado na massa e apresenta um bom comportamento físico-químico (apesar de existirem algumas diferenças entre muretes com dife-rentes exposições), não é recomendada intervenção. No entanto, como foi visível uma pequena fissuração até 0.3 mm (máximo 5% da área), as consequências estéticas negativas das técnicas de reparação ou protecção neste tipo de produto (colorido sem acabamento final) podem ser deter-minantes para a escolha da estratégia a seguir a curto, médio ou longo prazo.

4. CONCLUSÕES

A metodologia seguida nos 42 casos de estudo foi adaptada de modo a permitir uma análise glo-bal do desempenho de toda a fachada, sem aumentar significativamente o número de ensaios a realizar. Neste contexto, a fachada foi dividida em três zonas (soco, parede corrente e zona inferi-or a platibanda ou cinferi-ornija) e discretizada numa malha regular para identificar o número de lotes e zonas a ensaiar (em função de um nível mínimo de qualidade e tipo de inspecção, corrente ou detalhada). Nesta proposta de metodologia, foram aferidos os limites mínimos e máximos para cada grupo de argamassas (acrescentando desvios quando possível) e propostos critérios de con-formidade de parâmetros e de características de desempenho. Verificou-se que os parâmetros de medição não estabelecem uma relação unívoca com cada uma das características de desempenho, dada a sua inter-relação. No entanto, foi proposta uma maior ou menor contribuição de cada pa-râmetro para cada uma das características de desempenho. Este aspecto facilitou a avaliação de conformidade por características de desempenho, constituindo uma base para estudos futuros com outros parâmetros de medição.

A avaliação das quatro componentes de desempenho em serviço (condição da superfície reboca-da, compatibilidade entre interfaces, comportamento mecânico e físico-químico do reboco aplica-do) permitiu escolher, de uma forma geral, o tipo de acções de manutenção (sem intervenção, monitorização, limpeza, protecção, reparação, substituição), e atribuir critérios de urgência (neste caso foram apenas contabilizadas as situações que colocam em risco os utilizadores e/ou que conduzem à degradação precoce do reboco, deixando flexibilidade para a inserção de outros crité-rios de decisão consoante o contexto e intervenientes). A metodologia proposta possibilita a sis-tematização de parâmetros de verificação, contribuindo para uma menor subjectividade da avalia-ção do desempenho em serviço de fachadas rebocadas. No entanto, a interpretaavalia-ção dos resultados e a decisão da estratégia depende sempre do conhecimento técnico e da experiência do inspector, assim como de outros condicionalismos (como, por exemplo, verbas disponíveis para a realização das acções ou condicionalismos de aspecto) inerente a cada contexto. Outros estudos mais recen-tes dos mesmos autores, têm permitido aferir alguns dos critérios de conformidade, limirecen-tes e tole-râncias propostos através da análise de um maior número de casos, com diferentes tipos de degra-dação e condições em serviço. Por último, espera-se assim contribuir para uma maior sensibilida-de relativamente à importância sensibilida-de existirem características ou parâmetros quantitativos que pos-sam integrar os cadernos de encargos no projecto de fachadas de edifícios, complementando os actuais requisitos de desempenho, mas também que permitam uma monitorização na fase de utili-zação em condições reais de serviço.

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5. REFERÊNCIAS

[1] I. Flores-Colen, Metodologia de avaliação do desempenho em serviço de fa-chadas rebocadas na óptica da manutenção predictiva, Tese de Doutoramento em Engenharia Civil, IST, Lisboa, Junho 2009, volume 1, 487p, (2009). [2] I. Flores-Colen, J. de Brito, V. P. de Freitas, H. Corvacho, A.V. Sá, M. A.

Quintela, Performance assessment of external renders on facades, State of the art report, CIB W080 Publication 331, editor: Politecnico Di Milano, (2010). [3] Flores-Colen, I.; Silva, L.; Brito, J. de; Freitas, V. de: In-Service Parameters

from Façades Rendering Mortars: Bulk Density and Open Porosity Deter-mined from Samples Collected In-Situ, Structural Survey, V. 28, n.º 1, Emer-ald, UK, March 2010, pp. 17-27.

[4] Flores-Colen, I.; Brito, J. de; Freitas, V. de: On-site performance assessment of rendering façades for predictive maintenance, Structural Survey, V. 29, No. 2, 2011, pp. 133-146.

[5] ISO, Sampling procedures for inspection by attributes - Part 1: Sampling schemes indexed by acceptance quality limit (AQL) for lot-by-lot inspection, ISO 2859-1. Geneva: ISO, (1999).

[6] ISO, Sampling procedures for inspection by variables - Part 1: Specification for single sampling plans indexed by acceptance quality limit (AQL) for lot-by-lot inspection for a single quality characteristic and a single AQL. ISO 3951. Geneva: ISO, (2005).

[7] IPQ, Betão - parte 1: Especificação, desempenho, produção e conformidade. NP EN 206-1. Lisboa: IPQ, (2007).

INÊS FLORES-COLEN JORGE DE BRITO VASCO DE FREITAS

Professora Auxiliar Professor Catedrático Professor Catedrático IST IST FEUP

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