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Aleitamento Materno. Como tem sido a prática do aleitamento materno em Portugal?

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Academic year: 2021

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Aleitamento Materno

Como tem sido a prática do aleitamento materno em Portugal?

Em Portugal o aleitamento materno teve uma evolução semelhante à de outros países europeus. A industrialização, a II Guerra Mundial, os movimentos feministas, o trabalho feminino, a perda da família alargada e a publicidade da indústria de produção de substitutos do leite materno tiveram como consequência uma diminuição na prática do aleitamento materno. Só a partir dos anos 70 se verificou um retorno a esta prática. Actualmente, apesar de mais de 90% das mães portuguesas iniciarem o aleitamento materno, uma grande parte desiste precocemente da amamentação. Quais são as vantagens do aleitamento materno?

Várias são as vantagens do aleitamento materno, existindo um consenso mundial de que a sua prática exclusiva é a melhor forma de alimentar as crianças até aos 4-6 meses de vida.

Do ponto de vista nutricional, o leite materno é um alimento vivo, completo e natural, que fornece todos os nutrientes necessários. Para além disso, contém outros constituintes que promovem o crescimento e a protecção contra infecções, não só pelas defesas que passam da mãe para o filho, mas também porque há menor risco de contaminação. Parece ainda conferir protecção contra alergias e facilitar a adaptação a outros alimentos.

Do ponto de vista afectivo, o aleitamento materno é também importante na interacção da mãe com o bebé, na medida em que a cooperação, a proximidade e o contacto visual permitem uma adaptação mútua e o estabelecimento progressivo da vinculação, ou seja, de uma relação rica e complexa entre a mãe e o seu filho. Esta adaptação inicia-se logo nas maternidades, em que é importante que a primeira mamada ocorra na primeira hora de vida e que sejam evitados os “suplementos”.

Por fim, o aleitamento materno tem também importância no desenvolvimento psicomotor das crianças.

Para a mãe, para além de permitir sentir o prazer de amamentar, o aleitamento materno facilita a involução uterina e associa-se a menor probabilidade de ter cancro da mama. Na maioria das situações protege as mães de uma nova gravidez desde que

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o aleitamento materno seja praticado em regime livre, sem intervalos nocturnos, sem suplementos de outro leite, nem complementado com qualquer outro tipo de alimento. Tem, também, evidentes vantagens económicas

Quais os factores que intervêm na decisão de amamentar?

A decisão de amamentar é uma decisão pessoal, sujeita a muitas influências. Muitas mulheres cresceram naquilo a que se chama meio aleitante, ou seja, foram amamentadas pelas suas mães e viram outras mulheres a amamentarem os seus filhos e o aleitamento materno é uma prática natural, não surgindo a questão de como alimentar o bebé. Outras mães decidem amamentar porque valorizam positivamente as consequências do aleitamento materno, podendo ser influenciadas pelo seu companheiro, amigas, mãe ou profissionais de saúde.

A mãe que não quer amamentar deve ser respeitada porque também é importante no estabelecimento da relação mãe-filho que a mãe se sinta bem consigo mesma. Neste caso, há no mercado diversos leites disponíveis adequados às diversas fases do crescimento da criança.

Há algumas situações em que a mãe não pode dar de mamar?

As contra-indicações para o aleitamento materno são raras. Podem ser temporárias, ou seja, situações em que a mãe não deve amamentar até que estejam resolvidas e, durante esse período de tempo, os bebés devem ser alimentados com leite artificial e a produção de leite materno deverá ser estimulada (a mãe deve tirar o leite manualmente ou com bomba). São exemplos destas situações algumas doenças infecciosas como a varicela, herpes com lesões mamárias, tuberculose não tratada ou ainda quando tenham de efectuar uma medicação imprescindível.

Também existem contra-indicações definitivas, em que o recém-nascido deve ser alimentado com leite artificial por biberão e dever-se-á proceder a supressão láctea materna. É o caso de mães com doenças graves, crónicas ou debilitantes, mães toxicodependentes, mães infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (SIDA), mães que precisam de tomar medicamentos que são nocivos para o bebé e, ainda, bebés com algumas doenças raras.

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Na prática o bebé já vem “ensinado” a mamar?

Existem três reflexos do bebé relacionados com a amamentação: o reflexo de busca e preensão, ou seja o reflexo de abrir a boca, pôr a língua para baixo e para fora e virar a cabeça quando alguma coisa lhe toca nos lábios ou bochechas; e os reflexos de sucção e deglutição. Existem, porém, algumas coisas que a mãe e o bebé têm de aprender: a mãe tem de aprender como segurar a sua mama e posicionar o bebé para que ele pegue bem na mama; o bebé tem que aprender como pegar na mama para ter uma sucção eficaz. Nesta aprendizagem, os profissionais de saúde nas maternidades têm um papel de grande importância.

Como se sabe se o bebé tem uma boa pega na mama?

Uma boa pega, aquela que torna a amamentação eficaz, implica que a boca do bebé apanhe a maior parte da aréola e dos tecidos que estão sob ela e não apenas o mamilo. A boca do bebé deve estar bem aberta, com o lábio inferior virado para fora, podendo-se ver mais aréola acima do que abaixo da boca do bebé. O queixo do bebé deve tocar a mama.

Qual deve ser a duração da mamada?

A duração da mamada não é importante, pois a maior parte dos bebés mamam o que precisam em 4 minutos, mas alguns bebés prolongam as mamadas até 30 minutos ou mais.

O primeiro leite que sai da mama é mais rico em água e lactose, o açúcar do leite; à medida que a mamada prossegue, o leite vai tendo cada vez mais gordura que também é importante para que o bebé se sinta satisfeito. Desta forma, deve-se esperar que o bebé deixe a primeira mama espontaneamente, esvaziando-a, e se depois disso continuar com fome é que lhe é oferecida a segunda mama. Uma mama vazia permite uma maior produção de leite para as mamadas seguintes.

Mas como saber se o bebé está de facto a mamar?

A mãe pode perceber se o bebé está de facto a mamar quando a sucção é mais lenta do que com uma chupeta, quando verifica que o bebé enche as bochechas de leite ou quando ouve o engolir do leite.

É importante perceber se o bebé não está a fazer da mama da mãe uma chupeta, pois isto pode macerar os mamilos, criar fissuras e levar a mãe a desistir da amamentação.

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Deve haver um horário pré-estabelecido para a amamentação?

O bebé deve ser alimentado em regime livre, ou seja, quando acorda porque tem fome, sendo este alerta importante para uma melhor ingestão de leite.

Eventualmente o médico assistente da criança pode indicar um horário mais definido, ou desaconselhar grandes períodos nocturnos de jejum se houver dúvidas na progressão de peso do bebé. Mas se este estiver a evoluir bem é porque o bebé está a ser bem alimentado.

Que cuidados com a alimentação deve ter a mãe que está a amamentar? Todas as mães se preocupam muito com os alimentos que devem comer, mas o importante é ter uma dieta saudável e variada, evitando comer grandes quantidades de qualquer alimento ou alimentos que estão mais associados a alergias ou que possam excitar o bebé. Durante este período a mãe não deve tentar perder peso. Se na família da mãe houver casos de alergia, esta não deverá abusar do leite e seus derivados.

Depois de iniciada a amamentação, e visto que muitas mães desistem precocemente, como pode ser ajudada a mãe para a sua manutenção?

Os primeiros quinze dias de vida do bebé são muito importantes e durante este período de tempo, a mãe deve ser ajudada, ou substituída, nas tarefas caseiras, a fim de poder dedicar-se plenamente ao seu bebé. É também importante ter o apoio de profissionais de saúde disponíveis para escutar e ajudar a solucionar as dúvidas e os problemas que surgirem.

Quais são os problemas mais comuns e o que fazer?

Um dos problemas mais frequentes é a mama ingurgitada, ou seja, a mama que fica muito cheia, dolorosa, brilhante e quente, o que pode acontecer na altura da subida do leite (2º-3º dias) ou quando o leite não é retirado em quantidade suficiente. Nesta situação a mãe deve retirar frequentemente o leite da mama até que o se sinta mais confortável e o ingurgitamento desapareça. Pode fazê-lo pondo o bebé a mamar ou retirando o leite com expressão manual (lavar bem as mãos antes de o fazer) ou com bomba. Pode também ajudar a aplicação de parches de água quente e a massagem da mama com a ponta dos dedos em direcção ao mamilo.

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Pode também ocorrer a formação de um nódulo numa parte da mama, o que muito frequentemente está associado ao uso de roupa apertada, uma pancada na mama ou ao facto da criança não sugar daquela parte da mama. Para resolver esta situação, a mãe deve amamentar em diferentes posições e pode também massajar aquela parte da mama em direcção ao mamilo.

Uma situação que por vezes é responsável por a mãe desistir de amamentar é o

mamilo fissurado e doloroso. Esta situação deve-se muitas vezes a uma má pega

do bebé e a maior parte das vezes desaparece quando esta situação é corrigida. A aplicação de uma gota de leite no mamilo e aréola após o banho e após cada mamada facilita a cicatrização.

Se em qualquer dos casos referidos os sintomas persistirem e principalmente se surgir febre elevada e um grande mal-estar, a mãe deve consultar o seu médico porque pode ter uma mastite.

Muitas vezes as mães ficam muito preocupadas porque pensam que o seu leite é insuficiente e acabam por dar “suplementos” ao bebé.

Algumas mães pensam que o seu leite é insuficiente ou que tem pouca qualidade porque o bebé chora mais que o habitual, porque quer mamar mais frequentemente ou demora mais tempo a mamar. Na verdade muitas vezes estas mães têm muito leite, mas falta-lhes confiança de que o seu leite é suficiente e têm dificuldade em cumprir os conselhos anteriormente referidos. O incentivo para o seu cumprimento e a verificação de que o bebé está a aumentar bem de peso, ajuda na maior parte das vezes a ultrapassar estas incertezas.

O retorno ao trabalho é um momento de alguma ansiedade e preocupação. Como manter o aleitamento se a mãe tiver que ir trabalhar antes dos 6 meses de vida do seu bebé, o que acontece na maioria das vezes?

Na verdade a legislação apoia o aleitamento materno, mas nem sempre é fácil mantê-lo. Há que procurar as condições que melhor se adequam a cada caso, por exemplo, pode ser possível levar a criança para uma ama ou creche perto ou no local de trabalho, ou alguém poderá levar a criança para mamar enquanto a mãe trabalha. Se estas hipóteses não forem viáveis, a mãe deve amamentar sempre que estiver em casa (de manhã, à noite e sempre que possível) e pode retirar o leite antes de sair de

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casa e deixá-lo para ser dado ao bebé. No local de trabalho deve retirar leite com a frequência com que o bebé mamaria para manter a produção de leite.

O leite retirado pela mãe pode ser conservado em sacos de plástico esterilizados para o efeito ou em biberão esterilizado, por 48h no frigorífico ou até 2-3 meses no congelador. A descongelação deve ser feita dentro do frigorífico a 4 ºC ou sob água quente corrente (30-40 ºC). Não deve ser utilizado o microondas. Uma vez descongelado, o leite materno pode ser conservado no frigorífico durante 24 horas. Em Resumo:

O aleitamento materno é, como vimos, muito importante quer para a mãe, quer para o seu filho. As pequenas dificuldades que por vezes surgem podem em muitos casos ser ultrapassadas com estratégias simples.

Esperamos que cada vez mais sejam criadas as condições para que um maior número de mães consigam o objectivo de alimentar o seu filho até aos 6 meses de vida com aleitamento materno exclusivo.

Dr. Helder Gonçalves

Dra. Ana Saianda

Serviço de Pediatria

Hospital do Espírito Santo

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