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ECLI:PT:TRP:2016: YIPRT.P1.8E

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ECLI:PT:TRP:2016:46519.13.4YIPRT.P1.8E

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRP:2016:46519.13.4YIPRT.P1.8E

Relator Nº do Documento

Márcia Portela rp2016030846519/13.4yiprt.p1

Apenso Data do Acordão

08/03/2016

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Apelação revogada

Indicações eventuais Área Temática

2ª Secção, (livro De Registos N.º 707, Fls.199-241) . Referencias Internacionais

Jurisprudência Nacional

Legislação Comunitária

Legislação Estrangeira

Descritores

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Sumário:

I - Sendo junto um documento no âmbito de um incidente de contradita de uma testemunha, a parte que se opõe à junção do documento deve interpor recurso imediato do despacho que o admitiu, nos termos do artigo 644.º, n.º 2, alínea d), CPC, não podendo impugnar a junção no recurso da decisão final.

II - A falta da exacta indicação das passagens da gravação do depoimento que fundamenta a

impugnação da matéria de facto constitui um ónus secundário que impende sobre o recorrente, que tem como função apenas facilitar o acesso ao meio de prova.

III - Por essa razão, não se pode aplicar a sanção da rejeição imediata do recurso nessa parte, cominada para a inobservância do ónus primário estabelecido no artigo 640.º, n.º 1, CPC (indicar os concretos pontos de facto que considera incorrectamente julgados, os meios de prova que imponham decisão diversa e a decisão que deve ser proferida), cuja função é a delimitação do objecto do recurso.

IV - Caso a omissão da exacta indicação das passagens da gravação dificulte excessivamente a localização dos excertos relevantes deve ser proferido despacho de aperfeiçoamento.

V - O STJ tem afastado, de forma consistente, o entendimento de que os poderes da Relação na reapreciação da matéria de facto estão balizados pelos parâmetros do erro notório ou grosseiro, sob pena de não se garantir um verdadeiro segundo grau de jurisdição.

VI - Tendo o autor invocado a celebração de um acordo com o réu nos termos do qual a ocupação de um espaço para além do que se encontrava arrendado daria direito a uma certa contrapartida, é ao autor que cabe demonstrar que foi ocupado espaço superior ao arrendando por se tratar de facto constitutivo do seu direito.

Decisão Integral:

Apelação n.º 46.519/13.4YIPRT.P1

Acordam no Tribunal da Relação do Porto 1. Relatório

B… – Imobiliária, Ld.ª, com sede em …. Paredes de Coura, instaurou procedimento de injunção, posteriormente transmutado em acção declarativa com processo experimental contra C…, S.A., com sede na Rua … Matosinhos, a qual posteriormente alterou a sua designação social para D…, S.A., pedindo a sua condenação no pagamento da quantia de € 41.804,00, acrescida de juros de mora vencidos até à data de interposição da acção, no montante de € 3.229,28 e vincendos, até integral pagamento, bem como taxa de justiça paga, no valor de € 153,00.

Alegou para tanto, e em síntese, que celebrou com a R. um contrato de aluguer de espaço, mediante o qual cedeu a esta o uso de áreas de terreno situadas em dois distintos imóveis,

mediante o pagamento de uma contrapartida mensal, que a R. deixou de pagar, a partir de Outubro de 2011.

Contestou a R., excepcionando a nulidade total do processo, por ineptidão da petição inicial, por ser manifesta a falta de causa de pedir, e alegando nada dever à A..

Segundo afirma, em resultado de uma operação de cisão-fusão da R. C…, S.A., foi feito o destaque do seu património para a fundir com a ora A., B… – Imobiliária, Ld.ª, tendo o então administrador da

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R. continuado administrador desta até 1 de Julho de 2012, data em que foram eleitos os novos membros dos órgãos sociais para o mandato 2012-2013.

Nessa operação foi transmitida para a A. a propriedade de um dos imóveis referidos na petição inicial e a posição de locatária financeira do outro, impendendo sobre os referidos imóveis contrato de arrendamento e subarrendamento para fins não habitacionais, celebrado em 1 de Junho de 2010, para iniciar nessa mesma data, entre A. e R., para instalação da sua sede e ainda uma parte (com a área de 1.260 m²) do outro imóvel, uma vez que uma mesma área do primeiro imóvel se encontrava ocupada por terceiro, respectivamente, mediante as rendas de € 15.000,00 e € 6.500,00, actualizadas, a partir de Outubro de 2012, para € 15.525,00 e € 6.823,00.

E que os arrendados destinaram-se ao desenvolvimento da actividade da R., nomeadamente armazém, escritórios e parqueamento de viaturas imóvel na sede e terminou, por denúncia do arrendatário, em 28 de Fevereiro de 2013.

Durante a vigência do mesmo, a R. pagou a integralidade das rendas contratadas.

Sustenta a R. que, se a A., como parece decorrer do requerimento de injunção, está a reclamar um valor respeitante à contrapartida da ocupação temporária pela de determinada área dos citados prédios que excede a que lhe foi arrendada, estamos perante um alargamento do objecto do referido contrato de arrendamento, que é nulo por inobservância da forma legalmente prescrita, dele não emergindo, consequentemente, qualquer obrigação de pagamento para a R..

Acrescenta que a celebração de tal contrato não foi previamente autorizada por deliberação do seu conselho de administração e com o parecer favorável do conselho fiscal ou da comissão de

auditoria o que, nos termos do artigo 397.º do Código das Sociedade Comerciais, também acarreta a sua nulidade.

E que nunca foi interpelada para o pagamento de qualquer quantia relativa a este contrato, até porque a A. tinha pleno conhecimento de que a R. não iria proceder ao pagamento de qualquer das quantias reclamadas no procedimento de injunção, precisamente pelo facto de o seu gerente ter sido (e ser, à data da emissão das primeiras facturas indicadas no requerimento de injunção), igualmente administrador da requerida.

Finalmente, ainda que se pudesse reconhecer a validade de um tal contrato, afirma não dever à A. qualquer importância com ele relacionado, uma vez que, pelo menos desde Novembro de 2011, não ocupa qualquer área que não lhe tivesse sido arrendada ao abrigo do aludido contrato de arrendamento e subarrendamento.

Respondeu a A., defendendo que o acordo que serve de causa de pedir à acção nada tem a ver com o contrato de arrendamento comercial que celebrou com a R. em 1 de Junho de 2010, pois o acordo em causa nos autos foi alcançado no início do ano de 2011 e radicou na necessidade da E… continuar a parquear transformadores seus nos prédios sitos na Rua … e na Rua ….

Afirma que nenhuma renda foi estipulada entre as partes, sendo que as facturas emitidas pela A., e que titulam os montantes reclamados, têm por origem um contrato atípico de utilização de espaço que não está sujeito a forma legal. Além do mais, antes da escritura pública de fusão-cisão, a R., enquanto proprietária de um dos imóveis e locatária financeira de outro, facturava e recebia da E… valores mensais decorrentes do parqueamento de transformadores sua propriedade nos

identificados prédios, em razão do constrangimento ou limitações de espaço nas instalações ocupadas pela E… numa área coberta de 1260 m² que fruía no imóvel sede, sito à Rua …. E que, após a escritura pública de cisão-fusão, a A. passou a ser a proprietária e locatária

financeira dos aludidos prédios, sendo que, não obstante, a R. continuou a facturar e a receber da E… todos os valores decorrentes do parqueamento mensal dos transformadores nos ditos prédios.

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Por essa razão, obrigou-se perante a A., agora proprietária e locatária financeira dos ditos imóveis, a pagar-lhe mensalmente montante igual ao que recebesse da E…, ou seja, o valor de € 3,80 por cada um dos transformadores da E… parqueado nos ditos imóveis, multiplicado pelo número de dias de parqueamento por mês, em cada um desses prédios.

Era a R. quem informava a A. do valor apurado por mês para que esta pudesse elaborar a

respectiva factura no âmbito do contrato de utilização de espaço entre ambos celebrado, tendo a R. pago todas as facturas referentes ao parqueamento de transformadores da E… nos meses de Janeiro a Agosto de 2011, não existindo qualquer razão para que deixasse de ter pago as facturas referentes aos meses subsequentes.

Sustentou, finalmente, que a invocação da nulidade do contrato que serve de causa de pedir à acção constitui um abuso de direito e uma litigância de má-fé.

Foi proferida decisão que, julgando a acção procedente, condenou a R. D…, S.A., a pagar à A. B… – Imobiliária, Ld.ª, a quantia de € 41.804,00 (quarenta e um mil, oitocentos e quatro euros), acrescida de juros de mora, sobre os montantes parciais titulados pelas facturas melhor identificadas no ponto 9 dos factos provados – juntas a fls. 50 a 68, com o teor que aqui se dá por integralmente

reproduzido – desde a data de vencimento constante de cada uma de tais facturas até efectivo e integral pagamento.

Inconformada, apelou a R., apresentando as seguintes conclusões:

A. Pelo presente recurso, a Ré impugna a sentença que julgou a acção procedente e, bem assim, a decisão proferida pelo Tribunal de 1ª Instância de admissão do incidente de contradita, ao abrigo do disposto no artº 644º, nº 1 al. a) e nº 3 do C.P.C.

B. A Apelante impugna, ainda, a decisão proferida sobre a matéria de facto, por considerar que determinados pontos foram incorrectamente julgados e que do processo constam elementos que impõem decisão diversa da recorrida quanto a esses concretos pontos da matéria de facto,

devendo a decisão proferida ser alterada pelo Tribunal da Relação, ao abrigo do disposto nos artºs 640º e 662º do C.P.C.

C. Face aos depoimentos prestados pela testemunha F… - prestado na sessão da audiência de julgamento do dia 6 de Março de 2015, e gravado no sistema "Citius" das 14:41:30 a 15:21:57 – e às declarações prestadas pelo administrador da Ré Dr. G… - prestado na sessão da audiência de julgamento do dia 6 de Março de 2015, e gravado no sistema "Citius" das 16:50:10 a 17:57:27 -(parte dos quais foi transcrita nestas alegações), deve ser dado como “PROVADO” que “desde Novembro de 2011 a Ré não ocupa, no prédio sito na Rua … qualquer área que exceda os 1260m2 que lhe foram arrendados através do contrato referido em 7º”.

D. Face ao depoimento prestado pela testemunha H… - prestado na sessão da audiência de julgamento do dia 6 de Março de 2015, e gravado no sistema "Citius" das 15:22:26 a 16:30:37-, e ainda aos depoimentos referidos na conclusão anterior (C), foi indevidamente dado como provado que a Ré ocupava área superior à arrendada “com o parqueamento de transformadores”; pelo que as respostas dadas aos pontos 11 e 12 da matéria de facto devem ser ALTERADAS, eliminando-se a referência à ocupação de área superior à arrendada com o parqueamento de transformadores, ficando esses pontos da matéria de facto com a seguinte redacção: Ponto 11: “Em inícios de 2011, a área utilizada no prédio sito na Rua … excedia os 1260m2 arrendados pela Autora à Ré”; Ponto 12: “Assim, em inícios de 2011, por acordo entre autora e ré, como contrapartida da utilização pela ré de área de terreno que excedia os 1260m2 que lhe haviam sido arrendados, esta obrigou-se a pagar à autora o montante que recebia da E… como contrapartida do parqueamento dos

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E. Dos depoimentos acima referidos e, bem assim, dos documentos que estão juntos aos autos, resulta que deve ser ordenada a AMPLIAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO, com a introdução de factos muito relevantes para a boa decisão da causa, indicados nestas alegações, relacionados com:

1) a operação de cisão-fusão descrita sucintamente nos pontos 1 a 5 dos Factos Provados e a representação legal das sociedades Autora e Ré a que alude o ponto 6 dos Factos Provados (em especial o facto de o Administrador da Ré ser, simultaneamente, o único gerente e sócio da Autora e de esta sociedade ser por si totalmente detida e controlada) – factos que devem ainda ser

julgados assentes dada a falta de resposta da Autora às excepções invocadas pela Ré, depois de ter sido notificada pelo Tribunal com essa cominação;

2) o contrato de arrendamento a que alude o ponto 7 dos Factos Provados (incluindo a falta de delimitação da área arrendada no terreno da Rua …);

3) a menção constante das facturas emitidas pela Autora da “isenção de IVA ao abrigo do artº9º do CIVA” e “dispensa de retenção de IRC ao abrigo da alínea g) do nº1 do artº 90º do CIRC”;

4) o facto de a Autora jamais ter solicitado o pagamento das facturas antes da instauração desta acção;

F. O processo contém todos os elementos probatórios que justificam que os referidos concretos pontos da matéria de facto sejam ADITADOS à matéria julgada PROVADA, ao abrigo do disposto no artº 662º do C.P.C.

G. No que se refere ao contrato celebrado entre a Ré e a E…, a Autora é totalmente alheia a esse contrato: a Autora não celebrou qualquer contrato com a E…, não é parceira da Ré no contrato entre esta e a E…, não adquiriu, aquando da fusão-cisão, a posição contratual da ré no contrato com a E…, nem qualquer outro direito relacionado com o mesmo.

H. Após a fusão-cisão, operada aquando da venda da Ré, manteve-se o contrato entre a C…., S.A. e a E…, sendo que a cliente E… fazia, e fez, parte do negócio da venda da empresa por parte do seu proprietário I….

I. I… e o filho J…, ambos administradores da Ré, viram nesse contrato uma oportunidade de realizar dinheiro à custa da Ré, engendrando um estratagema para receberem (através da sociedade

Autora, totalmente controlada, gerida e dominada pelo primeiro) o valor que a Autora recebida da E… com o parqueamento de transformadores, o que foi simples, por diversas razões: em primeiro lugar porque J… era o “gestor da parte operacional da empresa ré mormente no que concerne à relação entre esta e a E…” (cfr pag 9 da sentença) e era ele quem decidia onde eram parqueados os transformadores; em segundo lugar porque se tratou de um contrato verbal e informal, em que os intervenientes no negócio foram precisamente esses dois, sendo, portanto, a família I1… que “controlava a situação”; em terceiro lugar porque no suposto negócio não intervieram os outros administradores da Ré; por fim, porque havia um sentimento de confiança por parte dos restantes membros do conselho de administração da ré, nestes dois vogais que, por serem quem tinha o know how do negócio, foram mantidos em funções por mais dois anos e um ano e meio,

respectivamente, após a venda da empresa Ré.

J. O acordo entre autora e ré que esteve na base da emissão das facturas cujo pagamento é reclamado nesta acção foi indevidamente qualificado pelo Tribunal Recorrido como “contrato atípico”, mas é um contrato de arrendamento (ou melhor, traduz um alargamento do objecto do contrato de arrendamento anteriormente celebrado entre Autora e Ré);

K. Na P.I. a Autora omitiu a existência de um contrato de arrendamento e subarrendamento dos prédios que o seu gerente e sócio I… reservou para si aquando da venda das acções

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representativas da totalidade do capital social da sociedade Ré (procedeu ao destaque do património imobiliário da Ré, de forma a que continuasse a pertencer ao transmitente).

L. Além disso, a forma como a Autora configurou o contrato que serviria de base à sua pretensão é completamente diferente daquilo que ficou a constar da sentença recorrida como tendo sido os termos do acordo celebrado.

M. Está assente nos autos que as partes celebraram um contrato de arrendamento (e

subarrendamento) da totalidade do prédio sito na Rua … e de uma parte do prédio sito na Rua …, com a área de 1260m2 (que passaram para a Ré com a fusão-cisão) e que foram integralmente pagas a totalidade das rendas.

N. Por outro lado, segundo o que resultou dos autos, o acordo celebrado entre Autora e Ré (donde emerge a obrigação de pagamento das facturas reclamadas nos autos):

- Não foi reduzido a escrito;

- foi dado como provado com base no depoimento de duas testemunhas que são parte interessada nesta causa: I…;

- foi celebrado por intermédio de uma pessoa que era simultaneamente gerente da Autora e administrador da Ré, com a colaboração de outra pessoa que era o seu filho e também administrador da ré;

- A Ré pagou à Autora as facturas emitidas por esta até à cessação de funções de J… como administrador da ré;

- A remuneração acordada correspondia ao valor que a Ré recebia da E… pelo parqueamento de todos os transformadores (quer ocupassem área arrendada ou não) e que entregava, na totalidade, à Autora, correspondente a € 3,5 por cada transformador multiplicado pelo número de dias de parqueamento por mês em cada um dos prédios;

- Não se apurou concretamente qual a área não arrendada que foi ocupada pela Ré.

O. A pretensão só poderia proceder se a Autora tivesse demonstrado – o que não ocorreu – que a área ocupada pela Ré excedia aquela que lhe havia sido dada de arrendamento e qual era

concretamente essa área.

P. O que estava em causa era proporcionar o gozo temporário de um imóvel (ou parte dele)

mediante retribuição; tendo as partes celebrado um contrato de arrendamento, o acordo pelo qual a Ré pagaria uma contrapartida pela “ocupação” dos prédios “pertencentes” à Autora configura um alargamento do objecto do contrato de arrendamento, dado que a pretensão da Autora traduz-se em receber da Ré uma contrapartida pecuniária, por esta ocupar (com os transformadores da E… e com viaturas, em resultado da limitação de espaço disponível no imóvel da Rua …) uma área que dizia ser superior àquela que foi inicialmente arrendada;

Q. Isso mesmo resulta expressamente do email enviado em 13 de Janeiro de 2011 pelo administrador J… ao outro administrador da Ré, junto pela Autora como doc. nº 2 com o seu requerimento de 18.09.2013, no qual J… está a apresentar a proposta na qualidade de

administrador da Ré, mas na verdade actua em defesa dos interesses da Autora e propõe, em representação desta, um aumento da renda e, ainda, da resposta que deu à mandatária da Ré quando este o questionou sobre essa sua actuação em nome e no interesse da Autora, ao referir-se à ocupação que a Ré fazia do terreno no …, utilizando a expressão “Vocês estão a ocupar mais de 1260m2".

R. A contrapartida por essa ocupação de área excedente à anteriormente arrendada – a renda - é que foi fixada tendo por base o valor que a Ré recebia com o parqueamento de transformadores da E… – e daí a Autora ter passado a facturar à Ré o valor que esta recebia da E…, por instruções dos

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Administradores da Ré J… e I…, simultaneamente filho do gerente da Autora e o próprio gerente da Autora.

S. Tratou-se, nitidamente, de um aproveitamento da situação, por parte das pessoas que, afinal, dominavam ambas as sociedades (Autora e Ré).

T. E tanto se tratava de um verdadeiro arrendamento (alargamento do contrato de arrendamento que tinha por objecto os dois prédios) que a Autora fez constar das facturas que emitiu à Ré as menções de isenção de IVA (“ao abrigo do artº 9º do CIVA”) e de dispensa de retenção de IRC (“ao abrigo da al g) do nº1 do artº 90º 10 do CIRC”), para rendimentos prediais.

U. O Tribunal a quo confundiu, assim, a qualificação ou natureza do contrato com a forma como foi fixada a contrapartida remuneratória.

V. Não é elemento essencial do contrato de arrendamento que a retribuição seja certa nem

determinada (basta que seja determinável, de acordo com os critérios fixados no contrato); a este propósito, no Acórdão de 17.02.1983 (in Bol. Nº 324, pag 565), o STJ considerou que para haver arrendamento é preciso que dos termos do contrato resulte ou a determinação do quantitativo da retribuição a pagar pelo arrendatário ou um critério objectivo que permita operar tal determinação ulteriormente.

W. Na doutrina, Pinto Furtado entende que “a falta de acordo quanto a um critério de fixação da renda só seria relevante se a lei imperativamente o exigisse – e não é esse o caso” e que “o conceito de determinação não se identifica necessariamente com o de fixidez.

Retribuição determinada não quer dizer que tenha de ser fixa, isto é, invariável, sempre a mesma.”; X. E Pires de Lima e Antunes Varela referem que “o novo Código contenta-se, para integrar o contrato, com uma retribuição, que pode, por conseguinte, não ser certa nem determinada” e que “é essencial à perfeição do arrendamento que as partes tenham acordado no montante da

retribuição que deve ser paga pelo locatário ou no critério que permita a sua fixação”

Y. Além disso, como defende Pinto Furtado o vocábulo gozo, constante da definição legal de locação, tem um sentido amplo, susceptível de abarcar ambas as espécies, podendo portanto haver uma locação de gozo intermitente”

Z. No caso concreto, estamos perante um contrato de arrendamento, na medida em que a

proprietária (e locatária financeiro) dos imóveis se obrigou, mediante retribuição, a proporcionar à Ré o gozo temporário de uma coisa imóvel (artigos 1022º e 1023º CC), mediante retribuição, tendo sido estabelecido o critério que permitia a sua fixação (em função do número de transformadores parqueados);

AA. O arrendamento incidiu sobre a área não arrendada (não abrangida pelo contrato de

arrendamento inicial) do imóvel da Rua … e destinou-se (tal como o inicial) ao desenvolvimento da actividade da Ré, nomeadamente parqueamento de viaturas da Ré e transformadores da E…, cliente da Ré, sendo que o próprio Juiz a quo reconheceu isso mesmo na sentença recorrida. BB. Este arrendamento da área do imóvel ocupada pela Ré e não abrangida pelo contrato inicial é nulo, por inobservância da forma legal, nos termos do artº 220º do Código Civil, uma vez que o contrato de arrendamento urbano deve ser celebrado por escrito (artº 1069º do Código Civil). CC. A Ré invocou que a partir de Novembro de 2011 não utilizou qualquer área que excedesse os 1260m 2 que lhe foram pela Autora arrendados no prédio da Rua …, facto que o Tribunal a quo julgou “não provado” (e que se requereu fosse dado como “provado”) por, segundo refere a sentença recorrida, “se desconhecer qual a área efectivamente ocupada pela ré com o

parqueamento de transformadores no dito prédio”, quando quem tinha de ter alegado qual a área efectivamente ocupada pela Ré que excedia a arrendada era a Autora, já que está a pedir o

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pagamento da remuneração precisamente por esse facto; ou seja, o Tribunal penalizou a Ré por insuficiência da matéria de facto constitutiva do direito cuja alegação e prova incumbia à Autora. DD. O entendimento do Tribunal da 1ª Instância, no sentido de que o contrato “atípico” implicava o pagamento das facturas emitidas pela Autora (só) porque os seus valores tiveram por base aqueles que a Ré havia cobrado da E… (ignorando que a remuneração fora fixada como contrapartida pela ocupação de área que excedia a arrendada) levaria a que houvesse um enriquecimento sem causa por parte da Autora à custa da Ré, situação enquadrável no artº 473º do Código Civil.

EE. Acresce que, o contrato de sociedade da Ré regula o modo de exercício dos poderes de representação, contendo uma cláusula que exigia a intervenção de um número de administradores inferior à maioria, conforme previsto no artº 408º do CSC., designadamente que a sociedade Ré (cujo Conselho de Administração da Ré era composto por 5 membros) se obrigava, ao tempo da celebração do contrato, pela assinatura conjunta de dois membros do conselho de administração ou pela assinatura de um administrador e de um mandatário dentro dos limites do instrumento de mandato.

FF. Não tendo o contrato entre Autora e Ré (quer se considere ou não como contrato de

arrendamento) sido celebrado por dois administradores – como não foi – nem por um administrador e um mandatário, nem tendo sido ratificado, jamais poderia vincular a sociedade Ré.

GG. Por outro lado, a Autora – para este efeito “terceiro” que se relacionou com a Ré – por ser representada por uma pessoa que era simultaneamente administrador da Ré – I… –, não podia ignorar que qualquer um dos administradores não vinculava por si só a Ré, pelo que jamais poderia beneficiar da protecção conferida pelo artº 409º do CSC – norma que “deve ser objecto de

interpretação restritiva, excluindo-se do seu âmbito de aplicação os atos em que a contraparte é um administrador, um sócio ou até um membro de outro órgão da sociedade anónima”, como defende Coutinho de Abreu.

HH. O contrato celebrado entre Autora e Ré não vincula esta, sendo ineficaz em relação à Ré, nos termos do artº 268º, nº1 do Código Civil, aplicável por analogia.

II. O “acordo entre a Autora e Ré” está inquinado ainda por uma outra nulidade: não tendo sido previamente autorizado por deliberação do conselho de administração e com o parecer favorável do conselho fiscal ou da comissão de auditoria – como não foi - é ainda um contrato nulo, nos termos do disposto no nº2 do artº 397º do C.S.C..

JJ. Este contrato foi celebrado entre uma sociedade (a C…, S.A.) e o seu administrador I…, por interposta pessoa: a B… – Imobiliária, Lda que mais não é do que uma sociedade familiar do dito Administrador, que era por si representada (até 16.07.2012) e cujos sócios são o referido I… e a sociedade de que o mesmo é o único sócio “B1… – IMOBILIÁRIA UNIPESSOAL, LD.ª”.

KK. Tratou-se de um negócio ruinoso para a Ré, dado que a remuneração acordada tinha por base todo o montante que a Ré recebia da E… com o parqueamento de todo e qualquer transformador, incluindo aqueles que estavam parqueados em terreno que a Ré tinha tomado de arrendamento à Autora e pelo qual pagava uma renda de € 15.000,00 (e só pode ser percebido por a pessoa que representou a Ré nesse “acordo” ser o próprio representante da parte contrária!)

LL. Apesar de o Tribunal recorrido ter demonstrado alguma sensibilidade quanto à contrapartida “excessivamente desequilibrada em benefício da Autora”, acabou por aceitar a explicação que os próprios membros da família I1… (os próprios beneficiados com esta situação) lhe deram: o suposto “aumento de volume de negócios que parece ter resultado para a ré” – que o Tribunal deu como provado com base num documento que foi junto para efeitos de contradita – incidente que não era admissível – e que nem sequer esclarece se o alegado incremento de facturação resultou de

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operações relacionadas com o parqueamento de transformadores.

MM. No que diz respeito ao incidente de contradita, a Recorrente impugna a decisão que o admitiu, por falta de fundamento legal, pois, como pode ver-se da gravação do incidente registada no Citius, o que a Autora visou com a contradita da testemunha oferecida pela Autora foi não pôr em causa a credibilidade da testemunha, mas sim juntar aos autos o “reporte financeiro” da Ré para tentar demonstrar que tinha havido um aumento da facturação à E… (documento interno da Ré a que a Autora só teve acesso por o seu gerente ser também administrador da Ré); não invocou qualquer circunstância que pudesse afectar a razão de ciência invocada pela testemunha ou a fé que a testemunha merece, antes pretendeu atacar o depoimento propriamente dito e a contradita não é o meio próprio para atacar os factos narrados pelo depoente.

NN. Como referem os Profs. Antunes Varela e Manuel de Andrade, respectivamente, “O incidente pode atacar a pessoa do depoente - a sua fé ou credibilidade – ou a razão de ciência por ele invocada, mas não o depoimento em si mesmo (com o fundamento, p. ex., de ser notoriamente falso ou fantasiado um dos factos referidos pelo depoente)” e “os fundamentos da contradita se reconduzem à “invocação de qualquer circunstância capaz de infirmar a credibilidade do

depoimento (a razão de ciência invocada pela testemunha ou a fé que esta merece). “A contradita pode atacar a pessoa da testemunha: a sua idoneidade para prestar um depoimento sincero, verídico e completo. Não o próprio depoimento.”

OO. O facto de a contradita poder (ou dever, como é o caso do sistema jurídico francês) ser

deduzida antes do depoimento - como sucede noutros sistemas jurídicos – comprova que a mesma não pode dirigir-se ao próprio depoimento em si – factos narrados pela testemunha.

PP. O despacho que admitiu a contradita no caso concreto violou o disposto nos artºs 521º e 522º do C.P.C., não sendo um meio de prova legalmente admitido aquele que foi feito mediante a junção do documento aos autos, pelo que não podia o Tribunal da 1ª Instância ter dado como provado um suposto incremento da facturação dos serviços prestados pela Ré à E…, como “justificação” para o abusivo contrato celebrado entre Autora e Ré.

QQ. O art. 397º, nº 2, do CSC determina que são nulos os contratos celebrados entre a sociedade e os seus administradores, directamente ou por interposta pessoa, se não tiverem sido previamente autorizados por deliberação do conselho de administração, na qual o interessado não pode votar, e com o parecer favorável do conselho fiscal ou da comissão de auditoria.

RR. Como refere J.M Coutinho de Abreu, “O campo dos negócios entre sociedade e

administradores é fértil em conflitos de interesses, em riscos de os administradores obterem vantagens em detrimento da sociedade.”; e “O nº2 do artº 397º compreende não apenas contratos celebrados entre a sociedade e administrador, mas também os contratos em que o administrador participa “por interposta pessoa”, entendendo este autor que nesta noção se devem incluir

“sujeitos, singulares ou colectivos” próximos do administrador, em suma, todos os sujeitos que ele possa influenciar directamente (v.g. uma sociedade de que o administrador é sócio maioritário)” SS. Ferreira Gomes acrescenta que o nº 2 do artº 397º do CSC é aplicável aos seguintes casos: (i) contratos celebrados entre a sociedade e terceiros representados pelo mesmo administrador (dupla representação); (ii) contrato celebrados entre a sociedade e terceiros com administradores comuns que não representam a sociedade no contrato em causa”;

TT. A razão da tutela preventiva que impede os negócios entre administradores e a sociedade é o risco de privilegiarem o seu interesse pessoal em desfavor do interesse da sociedade que eles devem prosseguir com a sua actividade.

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uma sociedade por quotas com dois sócios: o próprio administrador da Ré I… e uma sociedade unipessoal de que ele é o único sócio e o único gerente: B1… – IMOBILIÁRIA UNIPESSOAL. LD.ª. VV. A Autora era, por conseguinte, uma sociedade totalmente detida, gerida e controlada pelo Administrador da Ré I…, tratando-se de sociedade que ele podia influenciar directamente e que não pode deixar de ser considerada “interposta pessoa” para os efeitos previstos no artº 397º, nº2 do C.S.C.

WW. A sentença recorrida incorreu em erro de interpretação da referida norma legal que prevê justamente que os contratos sejam celebrados entre a sociedade e o administrador, por interposta pessoa (que, neste caso, é uma sociedade do próprio administrador); estamos perante o caso de “dupla representação” que a norma em causa visa também abranger.

XX. O contrato celebrado entre Autora e Ré implicou uma contrapartida “excessivamente

desequilibrada” em benefício da sociedade representada pelo administrador, tendo a sociedade por quotas que o mesmo detém totalmente e controla em exclusivo sido utilizada como “interposta pessoa” para a conclusão de um contrato no interesse exclusivo desse administrador.

YY. Este contrato é, pois, nulo nos termos do artº 397º, nº2 do C.S.C..

ZZ. “O abuso do instituto da personalidade colectiva é uma situação de abuso de direito ou de exercício inadmissível de posições jurídicas, verificada a propósito da actuação do visado, através de uma pessoa colectiva”.

AAA. A sociedade autora é, de facto, o I….

BBB. A celebração do “acordo” em inícios de 2011 entre Autora e Ré, mais não visou do que

transferir” para a Autora parte dos proventos auferidos pela Ré da E…, tendo sido essa a verdadeira intenção dos administradores I… e J….

CCC. I… e J… criaram um esquema ardiloso a coberto e na sombra da sociedade que o primeiro representava (e de que era o único representante) e na qual ele detinha em exclusivo, o poder de decisão e administração, para levarem a Ré a fazer-lhes o pagamento de uma quantia equivalente à que recebia do cliente E…

DDD. Propuseram à Ré um aumento da renda que acabou por ser fixada em função do valor

recebido pela E… pelo parqueamento de transformadores, mas sem nunca se ter concretizado que área efectivamente era ocupada que excedia a área arrendada no terreno da Rua ….

EEE. Levaram a Ré – sociedade que também representavam - a pagar à Autora a remuneração total que recebia com o parqueamento da totalidade dos transformadores, em ambos os prédios, incluindo aqueles que estavam parqueados em área arrendada (e pela qual já pagava à Autora as rendas de € 15.000,00 e € 6.500,00).

FFF. I…, e o filho J…, aproveitaram-se da máscara da sociedade, que formalmente adquiriu os bens imóveis, para seu exclusivo benefício pessoal, ou seja, utilizaram a sociedade para prosseguir

objectivos do sócio I… e não o interesse social.

GGG. I… e o filho utilizaram, assim, a sociedade totalmente controlada e dominada por um deles, a fim de poderem, por via da sociedade, receber da Ré um valor superior àquele que resultava do arrendamento dos prédios cuja propriedade reservaram para si aquando da fusão-cisão, ou seja, da venda da sociedade Ré

HHH. Esta forma de actuação afigura-se manifestamente abusiva e desconforme à boa fé, agindo os intervenientes no “contrato” entre Autora e Ré com abuso de direito, figura prevista e regulada no artigo 334º do Código Civil e que é do conhecimento oficioso.

III. A figura da desconsideração da personalidade colectiva das sociedades consiste na derrogação da autonomia jurídico-subjectiva e/ou patrimonial das sociedades em face dos respectivos sócios;

(11)

“Desconsiderar significa derrogar o princípio da separação entre a pessoa colectiva e aqueles que detrás actuam» (PEDRO CORDEIRO11), pelo que haverá, em cada caso, que apurar quem - dos sócios da sociedade devedora - está “por detrás” dos concretos actos que implicaram que essa sociedade “fosse aproveitada para fins que o legislador não previu, ou pelo menos não previu em toda a sua extensão”.

JJJ. E no caso concreto, esse sócio é I…, que é sócio da Autora e sócio único da sociedade unipessoal que é a outra sócia da Autora: é ele que está “por detrás” do aproveitamento que foi feito da sociedade para que viesse a receber um valor da Ré a que não teria qualquer direito a não ser pela intervenção dele próprio e do filho como legais representantes da parte contrária.

KKK. As sociedades comerciais, apesar de terem personalidade jurídica e serem autónomos

sujeitos de direito, não se confundindo com os seus sócios, são por vezes utilizadas para satisfazer interesses dos seus sócios; daí que seja necessário, por vezes, “desconsiderar” a personalidade jurídica da pessoa colectiva.

LLL. Um dos casos que pode exigir a desconsideração da personalidade jurídica da pessoa colectiva é aquele em que se discute se devem ou não ser imputados aos sócios certos

conhecimentos, qualidades ou comportamentos da sociedade e se devem ou não ser imputados à sociedade certos conhecimentos, qualidades ou comportamentos dos sócios - são os chamados casos de imputação.

MMM. Apesar de na maioria dos casos a desconsideração da personalidade jurídica visar atingir o sócio, através do levantamento da personalidade que é atribuída à pessoa colectiva, noutras situações esse princípio funciona no sentido inverso, do sócio para a sociedade, permitindo revelar que é o comportamento do sócio que beneficia a própria sociedade, de forma ilegítima.

NNN. Existe assim, na desconsideração, um atingimento da pessoa jurídica diferente da visada. Será directa, se se ultrapassar a sociedade para atingir os sócios e indirecta (ou invertida) se partindo-se dos sócios, se atingir a sociedade (Oliveira Ascensão, Lições de Direito Comercial, Lisboa 1986/87, I, pág. 473).

OOO. No caso concreto, justifica-se plenamente a desconsideração da personalidade jurídica societária, fazendo imputar directamente ao sócio o benefício que do “contrato” resultava para a sociedade autora, na medida em que a sua actuação configura abuso de direito.

PPP. O contrato que foi celebrado entre Autora e Ré, por intermédio de I… com a colaboração do filho J…, traduz um comportamento que deve ser imputado ao próprio sócio I… e que configura abuso de direito porquanto excedendo manifestamente os limites impostos pela boa fé e pelo fim social e económico desse direito, visou unicamente prejudicar a sociedade ré e furtar-se à nulidade prevista no artº 397º, nº2 do CSC para os negócios celebrados entre a sociedade e os seus

administradores.

QQQ. A douta sentença recorrida violou, assim, entre outras, as normas dos artºs 220º, 268º, n1, 294º, 334º, 473º, 1069º e 1075º, nº1 do Código Civil, 397º, 408º e 409º do Código das Sociedade Comerciais e artº 521º do C.P.C.

Termos em que deve ser dado provimento ao presente recurso, revogando-se a sentença recorrida e absolvendo-se a Ré o pedido, com as legais consequências, como é de inteira

JUSTIÇA!

Contra-alegou a apelada, assim concluindo:

1. Salvo melhor opinião, não cumpriu a Ré/Recorrente com o ónus que estava a seu cargo quando impugnou a decisão sobre a matéria de facto, cujos específicos pressupostos se acham

(12)

concerne à impugnação da matéria de facto, impondo esse normativo, sem possibilidade de paliativos, regras muito precisas;

2. A Ré/Recorrente impugna o facto constante da alínea a) dos “Factos não Provados” e, ainda, os factos constantes dos pontos 12 e 13 dos “Factos Provados”;

Ora:

3. Não obstante ter feito constar a data da sessão de julgamento, o registo no sistema Citius e a hora de início e do fim dos depoimentos, a Ré/Recorrente transcreveu uma parte do depoimento da testemunha F… e uma parte do legal representante da Ré/Recorrente, tal como lê na própria

motivação de recurso, sem que tivesse indicado com a exactidão que o artigo 640.º, n.º 2, alínea b) do Código de Processo Civil exige, as passagens da gravação em que se funda, mormente os concretos segundos e minutos de início e de fim de cada uma das exactas passagens

Dos depoimentos que transcreveu na sua motivação de recurso;

4. Discorre neste sentido ABRANTES GERALDES in “Recursos no Novo Código de Processo Civil”, 2.ª Edição 2014, págs. 132, 133, 134 e 135;

5. Trata-se de um reforço do ónus de impugnação da matéria de facto que incumbe às partes realizar, sendo decorrência do principio da auto-responsabilidade das partes, impedindo que a impugnação da decisão da matéria de facto se transforme numa mera manifestação de

inconsequente inconformismo;

6. O não cumprimento pela Ré/Recorrente do ónus de impugnação da matéria de facto, por não ter procedido à indicação exacta das passagens da gravação em que se funda - limitando-se a fazer referência ao inicio e final dos depoimentos no registo Citius, mas sem fazer igual referência, como lhe competia, às concretas passagens dos depoimentos que parcialmente transcreveu, com a indicação do minuto e segundo de cada uma delas – tem por consequência legal a rejeição total do recurso respeitante à impugnação da matéria de facto;

Sem prescindir e se assim não vierem V. Ex.ªs a entender – o que se não concede e somente por hipótese de raciocínio se admite:

7. Tanto quanto é possível perceber, para além de algumas questões jurídicas que adiante merecerão pronúncia, os restantes fundamentos em que se funda o presente recurso inserem-se num alegado pretenso erro notório na apreciação da prova, tanto no que diz respeito àquela que foi produzida em audiência de discussão e julgamento, como igualmente da diversa prova documental anexa aos autos;

8. Ora, para que tal fundamento seja considerado atendível é necessário que exista uma falha grosseira e ostensiva na análise da prova, perceptível pelo cidadão comum, denunciadora que se deram como provados factos inconciliáveis entre si, isto é, que o que se deu como provado ou não provado está em desconformidade com o que realmente se provou ou não provou, seja porque foram provados factos reciprocamente incompatíveis, seja porque as conclusões extraídas são ilógicas ou inaceitáveis ou se retirou de um facto dado como provado uma conclusão logicamente inconcebível;

9. Ou, dito de outro modo, tem de haver um erro tal que a matriz do “homem médio”, perante o que consta do texto da decisão recorrida, por si só ou conjugada com o senso comum, facilmente se dá conta de que o tribunal “ad quo” violou as regras da experiência ou se baseou em juízos ilógicos, arbitrários ou mesmo contraditórios, eventualmente até desrespeitando regras sobre o valor de prova vinculada;

10. Donde resulta que, jamais poderá incluir-se no erro notório da apreciação da prova a

(13)

matéria de facto produzida perante si em audiência, bem como a prova documental constante já dos autos, valoração que aquele tribunal é livre de fazer, evidentemente em estreita harmonia com o preceituado no artigo 607.º, n.º 5 do CPC;

11. Daí que o simples facto de a versão da Ré/Recorrente sobre a matéria de facto não coincidir com o entendimento acolhido pelo Tribunal, não conduz, salvo melhor opinião, ao vício de erro notório na apreciação da matéria de facto;

12. Na realidade e conforme se procurará clarificar, é apenas e só a livre convicção do Tribunal recorrido que a Ré/Recorrente procuram visar, porquanto não resulta em qualquer dos vários aspectos focados na sua motivação que no texto da decisão recorrida tenha havido qual

desconformidade com a prova produzida em audiência, com a prova documental que integra os autos, com as regras da experiência comum ou com os ditames legais associados à prova de natureza vinculada, porquanto o que se decidiu não colide com o que se provou ou não provou, como também não se deram como provados ou não provados factos inconciliáveis entre si; 13. Não obstante, a Ré/Recorrente perfilha a tese de que o Tribunal recorrido julgou

incorrectamente a diversidade de prova que lhe foi apresentada, por considerar que determinados pontos da matéria de facto foram incorrectamente julgados, quer no que no refere ao facto

constante da alínea a) dos “Factos não Provados”, quer no que concerne a dois factos que o Tribunal recorrido deu como provados, quer ainda no que respeita a factos que o Tribunal, na perspectiva da Ré/Recorrente, omitiu do elenco dos factos provados;

14. Os presentes autos são ricos por conterem abundante prova documental que inequivocamente comprova a exigibilidade do direito de crédito da Autora/Recorrida perante a Ré/Recorrente;

Com efeito:

15. Bem sabe a Ré/Recorrente e provou-se em audiência de julgamento ter celebrado com a Autora/Recorrida um contrato atípico de utilização ou de “aluguer” de espaço que nada tem a ver com o contrato de arrendamento comercial celebrado entre ambas as partes em 01JUN2010 e que se encontra de fls. 19 a 25 dos presentes autos;

16. E provou-se em audiência de julgamento que foi no contexto do quadro obrigacional decorrente do referido contrato de utilização ou de “aluguer” de espaço que foram emitidas pela

Autora/Recorrida à Ré/Recorrente as facturas cujos valores unitários perfazem o montante total reclamado nestes autos e foram emitidas pela Autora/Recorrida e pagas pela Ré/Recorrente as facturas que se encontram de fls. 182 a 189;

Historiando, no entanto:

17. Em 28MAI2010, a Autora/Recorrida outorgou com a Ré/Recorrente escritura pública de Cisão-Fusão que se encontra de fls. 89 a 137;

18. Nos termos da referida escritura, realizou-se uma operação de fusão cisão, mediante o destaque de uma parte do património da Ré/Recorrente, constituído pelos activos e passivos identificados no Anexo I desse contrato;

19. Na sequência da referida cisão e em virtude da subsequente fusão, a transmissão dos valores patrimoniais devidamente identificados no respectivo balanço, constante do Anexo II do projecto respectivo, foi seguida de correspondente incorporação dos activos e passivos aí mencionados no património da aqui Autora/Recorrida, pelos respectivos valores contabilísticos;

20. Do património destacado da sociedade Ré/Recorrente e incorporado na sociedade

Autora/Recorrida, fez parte o prédio urbano, composto por casa térrea e terreno a mato, com a área de dezasseis mil e oitenta e um metros quadrados, sito no lugar do …, freguesia de …, concelho de Matosinhos, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos, sob o n.º 2626 e inscrito

(14)

na respectiva matriz predial sob o n.º 1723; Ora:

21. Foi, pois, este, o contexto fáctico e jurídico que enquadrou o contrato de arrendamento e subarrendamento para fins não habitacionais celebrado entre ambas as partes em 01JUN2010 e que se encontra de fls. 19 a 24 destes autos;

22. Nos Considerandos A) e B) do contrato de fls. 19 a 24 destes autos, resulta, de resto, a factualidade acima exposta e dada como provada na decisão recorrida;

23. No Considerando C) desse mesmo contrato de fls. 19 a 24, lê-se o seguinte: “Parte do imóvel da Sede, com uma área correspondente a 1.260 m2, encontra-se presentemente alocado a uma terceira entidade, por contrato de depósito celebrado pelo prazo de um ano, automaticamente renovável por períodos sucessivos, com início de vigência a 01 de Outubro de 2009, adiante designada por “Área Onerada”, melhor identificada na planta que se junta como Anexo I.”; 24. Como se demonstrou em audiência de julgamento, a terceira entidade a que se alude no

Considerando C) como estando a ocupar parte do imóvel sito na Rua …, freguesia de …, Matosinhos, era a E…;

25. Temos, pois, que a concreta causa de pedir destes autos é totalmente diversa e autónoma da realidade obrigacional decorrente do contrato de arrendamento para fins não habitacionais

celebrado entre Autora e Ré em 01JUN2010 (fls. 19 a 24 destes autos), ainda que a razão de ser da sua existência esteja conexa com a realidade vertida no Considerando C) desse documento e que acima se já transcreveu;

26. Tal como se provou em audiência de julgamento, o contrato de utilização ou de “aluguer” de espaço que serve de causa de pedir aos presentes autos está para além das áreas abrangidas nos prédios identificados no contrato de arrendamento para fins não habitacionais junto a fl. 19 a 25 destes autos;

27. Provou-se em audiência de julgamento que esse contrato de utilização ou de “aluguer” de espaço foi celebrado entre ambas as partes no início do ano de 2011 e resultou da necessidade da E… de continuar a parquear transformadores seus nos prédios sitos na Rua … e na Rua …, Cfr. Doc. de fls. 138 a 139 dos presentes autos;

28. Provou-se em audiência de julgamento que, antes da escritura de cisão-fusão datada de 28MAI2010 já a Autora/Recorrida, enquanto proprietária do imóvel sito na Rua … e locatária do imóvel sito na Rua …, facturava e recebia da E… valores mensais decorrentes do parqueamento de transformadores sua propriedade, a pedido desta, nos dois referidos identificados prédios, em razão do constrangimento ou limitações de espaço nas instalações da E… compreendidas na área de 1260 m2 que usava e fruía no imóvel da Sede sito na Rua …, a que alude o Considerando C) do contrato de fls. 19 a 25 dos autos, como se demonstra pelos Docs. de fls. 140 a 152 dos presentes autos;

29. Provou-se em audiência de julgamento que, após a referida data de 28MAI2010, oportunidade da escritura de cisão-fusão, as qualidades de proprietária e de locatária dos dois referidos imóveis transferiram-se, como dito, da esfera jurídica da Ré/Recorrente para a esfera jurídica da

Autora/Recorrida, sendo que, não obstante, não deixou de ser a Ré/Recorrente a receber da E… os valores decorrentes do parqueamento mensal de transformadores nos prédios de que passou a ser arrendatária e subarrendatária através do contrato celebrado em 01JUN2010 (fls. 19 a 25 destes autos), Cfr. Docs. de fls. 153 a 180 dos presentes autos;

30. Provou-se em audiência de julgamento que, tal como decorre do teor do Doc. de fls. 138 e 139 dos presentes autos, a partir do início de 2011, permaneceu a Ré/Recorrente a facturar e a receber

(15)

mensalmente da E… os valores a que esta estava obrigada pelo parqueamento dos

transformadores, mas obrigou-se a Ré/Recorrente perante a Autora/Recorrida a pagar-lhe,

mensalmente, montante igual àquele que da E… recebesse a esse título, em razão da circunstância de ser a Demandante/Recorrida a proprietária e a locatária dos prédios cujos espaços estavam a ser utilizados, os quais excediam as áreas contratualizadas no Doc. de fls. 19 a 24 dos presentes autos;

31. Bem andou, salvo melhor opinião, a decisão recorrida ao dar como Provados todos os Factos dela constantes, mormente os Factos n.º 12 e 13; do mesmo modo bem andou a decisão recorrida ao dar como não provado o Facto descrito na alínea a) dos Factos Não Provados;

32. Com efeito, resulta da própria transcrição efectuada pela Ré/Recorrente (ainda que em violação do disposto no artigo 640.º, n.º 2, alínea a), parte final) do depoimento da testemunha F… que em 2011 a área utilizada com o parqueamento dos transformadores da E… no prédio … excedia os 1260 m2 arrendados pela Autora/Recorrida à Ré/Recorrente através do contrato de fls. 19 a 24 dos autos e, ainda, que em inícios de 2011, por acordo entre Autora/Recorrida e Ré/Recorrente, como

contrapartida pela utilização por esta, com o parqueamento de transformadores da E…, da área de terreno da Rua … que excedia os 1260m2 que lhe haviam sido arrendados, esta obrigou-se a pagar à Autora/Recorrida o montante que recebia da E… como contrapartida do parqueamento dos

transformadores em ambos os terrenos;

33. A testemunha F…, controlador de tráfego da Ré/Recorrente, declarou em Tribunal que a faixa de terreno no prédio sito em … ocupada pelos transformadores da E… quer antes quer depois da saída do Dr. J… da administração da Recorrente se situou entre os 3000m2 (30m2 x 10m2), 4000m2 (40m2 x 10m2)ou 5000m2 (50m2 x 10m2), isto é, seguramente estava a ser ocupada área superior aos 1260m2 contratados entre ambas as partes;

34. De resto, os documentos de fls. 138 e seguintes reflectem as negociações entre os

representantes da Autora/Recorrida e da Ré/Recorrente, assim como o motivo invocado para tais negociações: a ocupação, por parte da Ré/Recorrente, no prédio sito à Rua … de uma área superior a 1260m2 que lhe foi arrendada no mesmo prédio;

35. De resto, salvo melhor opinião, a eventual demonstração pela Ré/Recorrida que não se

encontrava a ocupar mais do que a área contratada de 1260m2 contratada com a Autora/Recorrida – o que não logrou demonstrar -, sempre a demonstração de tal facto não a exoneraria da

obrigação de pagamento das facturas reclamadas nestes autos;

36. Na verdade lê-se na decisão recorrida, muito acertadamente: “Não sendo questionado que os valores constantes de tais facturas tiveram por base aqueles que a ré havia cobrado à E… como contrapartida do parqueamento de transformadores nos terrenos por ela arrendados e

subarrendados à autora, entre Outubro de 2011 e Março de 2013, teremos de concluir, face aos termos do acordo entre ambas celebrado, que a ré continuava a vinculada ao pagamento à autora daqueles montantes.”;

Entretanto:

37. A Ré/Recorrente insiste numa esdrúxula lógica conspirativa contra si de Pai, Filho, Cunhada, Irmã, desconsideração da pessoa colectiva, etc, somente no intuito de justificar a tese que

apresenta e que não tem justificação, visando confundir o MMo. Juiz a quo e, agora, os Senhores Juízes Desembargadores;

38. É que a Ré/Recorrente esquece deliberadamente o racional do negócio atípico celebrado entre ambas as partes e que grandes benefícios patrimoniais gerou para a Ré/Recorrente;

(16)

decisão recorrida, nos termos seguintes:

(…) Contudo, as testemunhas I… e J…, e também pela testemunha K…, adiantam uma explicação que nos pareceu verosímil e, por isso convincente, segundo a qual, do aumento do número de

transformadores parqueados possibilitada pela utilização de uma área superior à inicialmente arrendada, resultou um incremento do volume de negócios explicado quer pelas operações associadas ao referido parqueamento (carga e descarga), cujo pagamento não foi “transferido” para a autora, quer pelo aumento do volume de transportes contratados pela E… à ré, uma que esta detinha o quase exclusivo do transporte de transformadores desta última empresa. Tudo isto se traduziu num aumento do volume de facturação à E… que mais do que compensava a “perda” das receitas atinentes ao parqueamento dos transformadores. Parece-nos, de facto, ser essa a situação plasmada no reporte financeiro da ré referente ao exercício do ano de 2011, junto a fls. 479 e

seguintes, documento esse não impugnado pela ré, do qual se extrai o apontado crescimento do volume de negócios entre a ré e a E…, que passou de 1,5 milhões de euros em 2010 para 2,05 mihões de euros no ano de 2011. (sublinhados e negritos nossos);

40. Isto é: como se lê no documento de fls. 138, se a Ré/Recorrente que se encontrava a utilizar área excedente em relação aos 1260m2 contratados em … com o parqueamento de

transformadores da E…, não aceitasse compensar a Autora/Recorrida por essa utilização excessiva de área, esta deixaria de permitir esse parqueamento, o que geraria um lucro cessante na esfera patrimonial da Ré/Recorrida decorrente das cargas e descargas desses transformadores

parqueados e do exclusivo dos transportes daí inerentes que esta deixaria de debitar à E…;

41. Foi esse o motivo por que se celebrou o contrato atípico que serve de causa de pedir ao pedido de tutela jurisdicional formulado;

Por seu turno:

42. Provou-se em audiência de julgamento que, acordado ficou entre Autora/Recorrida e Ré/Recorrente que esta pagaria àquela, mensalmente, o valor de € 3,50 por cada um dos

transformadores da E… que fosse parqueado nos prédios identificados nos autos, multiplicado pelo número de dias de parqueamento por mês, em cada um desses prédios;

43. Provou-se em audiência de julgamento que esse mesmíssimo montante mensal era, repete-se, facturado pela Ré/Recorrente à E… e recebido por aquela desta – como já antes, aliás, sucedia.; 44. Provou-se em audiência de julgamento que era a Ré/Recorrente quem informava a

Autora/Recorrida do valor apurado em cada mês, para que a Demandante pudesse facturar àquela o valor devido no âmbito do contrato de utilização ou de “aluguer” de espaço entre ambas

celebrado, tal como decorre taxativamente dos Docs. de fls. 140 a 180 dos presentes autos;

45. Provou-se em audiência de julgamento que o montante mensal devido pela Autora/Recorrida à Ré/Recorrente, a esse título, era apurado no final de cada mês, correspondendo cada uma das facturas emitidas ao valor devido pelos transformadores da E… que se viessem a revelar parqueados nos dois referidos prédios no mês imediatamente anterior;

46. Provou-se em audiência de julgamento que a Autora/Recorrida emitiu à Ré/Recorrente e esta pagou àquela cada uma das facturas que titulou a relação contratual que serve de causa de pedir a estes autos referentes aos meses de Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Maio, Junho e Agosto de 2011, Cfr. fls. 182 a 189 dos presentes autos;

47. Ou seja: a Ré/Recorrente veio argumentar que não existia qualquer outro contrato com a Autora/Recorrida que não aquele que se encontra de fls. 19 a 24 dos autos, quando é certo que pagou à Autora valores mensais a coberto do contrato de utilização ou de “aluguer” de espaço que bem sabe e se provou em audiência de julgamento ter celebrado com a Demandante e que, a dada

(17)

altura, incumpriu, deixando de pagar os valores titulados pelas facturas que se juntam e que nos presentes autos se reclamam, Cfr. fls. 190 a 208 dos presentes autos;

48. Tal como se verifica através da análise das referidas facturas reclamadas nestes autos, a mais antiga em data (emitida em Outubro, a fls. 190) é referente ao mês de Setembro de 2011;

49. Provou-se em audiência de julgamento que nenhuma das facturas cujo valor a Autora/Recorrida reclama nestes autos foi devolvida pela Ré/Recorrente, o que bem evidencia, por um lado, que esta bem conhece o contexto contratual subjacente à sua emissão e, por outro, a sua exigibilidade; 50. Mais: é a própria Ré quem, em Maio deste ano, fornece um extracto de conta-corrente relativo à sociedade Autora e de onde resulta, precisamente, o saldo devedor reclamado nestes autos - € 41.804,00, Cfr. fls. 209, 210, 211 e 212 dos presentes autos;

51. E, como se não bastasse, é a Ré/Recorrente quem expressamente confessa dever à

Autora/Recorrida o valor reclamado nestes autos, Cfr. fls. 213 a 214 e fls. 215 a 217 dos presentes autos;

52. Relevante, ainda, a análise do teor de fls. 218 a fls. 226 para se extrair a dinâmica contratual demonstrada em julgamento e vertida na decisão recorrida;

53. Além disso, como bem refere a decisão recorrida: “Com efeito, todas as testemunhas inquiridas e o próprio legal representante da ré ouvido em declarações de parte atestam, em moldes

essencialmente coincidentes, a existência de um acordo entre a E… e a ora ré, relativo à ocupação da área descoberta do prédio sede da ré, sito à Rua …, e de parte do prédio sito à Rua …, com o parqueamento de transformadores da E…, acordo esse perfeitamente distinto daquele outro celebrado entre as mesmas partes referente à ocupação do armazém sito no prédio sede da ré, titulado pelo contrato escrito designado contrato de de depósito cuja cópia está junta a fls. 409 e segs.”;

54. E prossegue a decisão recorrida: “Particularmente relevante a este respeito, designadamente pela coerência e “desinteresse” no desfecho da causa que manifestou, foi o depoimento da testemunha K…, funcionário da E… responsável por toda a logística dos transportes; Entretanto:

55. Na sequência do despacho judicial do MMo. Juiz a quo proferido na sessão de julgamento com data de 06-03-2015 e que determinou que a Ré/Recorrente procedesse à junção aos autos de cópias de todas as facturas emitidas à E… desde 2009 a Fevereiro/13, relativas ao contrato de aparcamento de transformadores, a Ré/Recorrente juntou aos autos cento e um (101) documentos; 56. Não obstante o depoimento da testemunha K… ter já atestado esse facto, uma primeira certeza objectiva se pode, desde já, extrair, com toda a segurança, desde já: tendo a E…, sido notificada em duas ocasiões distintas pelo Tribunal para esclarecer se contratou com a aqui Ré, a utilização de uma área adicional a que se refere o contrato de depósito de fls. 409 a 410 e para juntar aos autos os documentos comprovativos dos pagamentos à Ré dos valores pagos pela ocupação de tal área adicional, verifica-se, através dos documentos ora juntos pela Ré/Recorrente, que a E… prestou informações falsas ao MMo. Juiz a quo nos seus requerimentos de fls. 258 a 403 e de fls. 425 dos autos;

57. É que: está comprovadamente demonstrado que, além dos € 6.500,00 que a E… pagava e a Ré/Recorrente recebia, em execução do contrato de depósito de fls. 409 e 410, a E… pagou e a Ré/Recorrente recebeu, durante, pelo menos, o período compreendido entre 2009 e Fevereiro de 2013, montantes relacionados com o parqueamento de transformadores quer na parte exterior do prédio de que a Autora/Recorrida é locatária sito na Rua … (edifício-sede), quer no prédio de que a Autora/Recorrida é proprietária sito na Rua …, valores esses que se encontram titulados pelos 101

(18)

documentos então juntos pela Ré/Recorrente e que, inelutavelmente resultam, de um contrato, não reduzido a escrito, de “aluguer” ou de “utilização” de espaço;

58. Esses documentos provam que muito antes da celebração da escritura pública de cisão-fusão de fls. 89 a 137, a Ré/Recorrente, enquanto proprietária e locatária financeira dos imóveis supra referidos, facturava e recebia da E… valores mensais decorrentes do parqueamento nos ditos imóveis de transformadores desta última sociedade (1.º Tema da Prova);

59. Os mesmos documentos então juntos provam, ainda, que após a celebração da escritura pública de cisão-fusão de fls. 89 a 137, a Ré/Recorrente continuou a facturar e a receber

mensalmente da E… os valores a que estava obrigada pelo parqueamento dos transformadores (2.º Tema da Prova);

60. Provam também tais documentos que a Ré/Recorrente destinava a utilização das áreas de tais imóveis ao parqueamento dos transformadores da E… (4.º Tema da Prova).

Por sua vez:

61. Referiu a Ré/Recorrente no requerimento por via do qual juntou os referidos 101 documentos que “delas (facturas) não pode retirar-se uma conclusão quanto à área ocupada com esse

parqueamento”;

62. É evidente que tal não corresponde à verdade, como se demonstrou testemunhalmente, pois o pagamento pela Ré/Recorrente à Autora/Recorrida das facturas de fls. 181 a 189 só aconteceu, porque (i) ambas as partes acordaram verbalmente a utilização de parte dos imóveis identificados nos autos (3.º Tema da Prova), (ii) que uma parte da área utilizada pela Ré/Recorrente do imóvel de …, no …, não estava abrangido na área do contrato de arrendamento de fls. 19 a 25 (5.º Tema da Prova) e (iii) porque a Ré/Recorrente ocupou o imóvel sito na Rua … (edifício-sede) e ocupou

também área superior àquela que lhe estava arrendada no prédio sito na Rua …, no …, com o parqueamento de transformadores da E… (7.º Tema da Prova);

63. Provam os documentos que então seguidamente juntou a Autora/Recorrida aos autos, para infirmar, o que a Ré/Recorrente afirmou no requerimento sob resposta e transcreveu no artigo 7. desse requerimento, que, indiscutivelmente, aquela se encontrava a ocupar uma área excedente à contratada no imóvel sito na Rua …, no …, desde o início da vigência do contrato de arrendamento de fls. 19 a 25, tal como a própria Demandada/Recorrente reconhece em comunicação escrita dirigida à Autora/Recorrida;

64. De resto, além dos depoimentos prestados por várias testemunhas em audiência de

julgamento, é isso que resulta do teor dos documentos de fls. 138 e 180, de fls. 209 a 212 e da confissão expressa da Ré/Recorrente exarada no documento de fls. 215 a 217, circunstâncias objectivas que traduzem a exigibilidade do direito de crédito reclamado nestes autos pela Autora/Recorrida, o qual se encontra titulado pelos documentos de fls. 190 a 208 dos autos;

65. Ademais, a Ré/Recorrente não devolveu e reconheceu contabilisticamente as facturas emitidas pela Autora/Recorrida – as de fls. 181 a 189 e as reclamadas nestes autos de fls. 190 a 208 –, o que demonstra inequivocamente que as aceitou por saber serem devidas, motivo pelo qual os custos que os subjazem concorreram para a formação do lucro tributável da Ré nos exercícios dos anos 2011, 2012 e 2013, reduzindo a Ré/Recorrente, nessa mesma exacta medida, a sua matéria colectável apurada em sede de IRC;

Por sua vez:

66. Diz a Ré/Recorrente no seu requerimento “que não houve qualquer aumento de facturação mensal à E… que pudesse ter levado à celebração de um pretenso “contrato de aluguer de espaço” no ano de 2011.”;

(19)

67. Pode-se verificar pelas facturas ora juntas, de que em 2009 e até Julho de 2010, os preços pagos pela E… por transformador e por dia de parqueamento, se situavam entre os € 4 e os € 7,5 por dia e por unidade, utilizando a Ré/Recorrente, em exclusivo, o parque da …;

68. Para que houvesse mais interesse da E… no parqueamento de mais unidades, pois estava a E… com falta de espaço nas suas instalações e excesso de produção, e também para beneficio da

Ré/Recorrente, pois iriam facturar transportes desde … (E…) até aos prédios da Autora/Recorrida, operações de descarga e posterior carga e transporte subsequente até ao Porto de …, acordado foi com a E… que, por transformador e a partir de Julho de 2010, seriam só debitados € 3,5 por dia e por transformador, oferecendo a Ré/Recorrente gratuitamente o parqueamento de transformadores para o mercado nacional (clientes da E… – L… e M…);

69. Assim, o volume de negócios da Ré/Recorrente relativos a transportes de cargas e descargas aumentou e os custos de parqueamento da E… diminuíram, mas ocuparam muito mais espaço, passando a ser utilizado o parque de …, para além dos 1.260 m2 que a Ré/Recorrente tinha de arrendamento contratado com a Autora/Recorrida nesse prédio;

70. Ou seja: as facturas ora juntas pela Ré/Recorrente apenas reflectem a facturação desta relativa ao parqueamento dos transformadores da E…;

71. No entanto, o volume de facturação para a Ré/Recorrente aumentou consideravelmente – vide documento de fls. 479 e seguintes juntos aos autos na sessão de julgamento do dia 06 de Março último, através do qual se verifica que o volume de facturação da Ré/Recorrente à E… foi de € 113.011,00 no ano de 2010 e, no ano de 2011 (após o contrato de utilização de espaço celebrado com a Autora/Recorrida), o volume de facturação da Ré à E… subiu para o montante de €

280.397,00 -, em consequência dos transportes dos transformadores entre a sede da E… e os prédios da Autora/Recorrida e, posteriormente, entre esses prédios e o Porto de …, assim como com todas operações de carga e descarga dos mesmos;

72. O negócio era bom para ambas as partes, porque, por um lado a Ré/Recorrente facturava mais transportes e operações de carga e descarga e, por outro lado, a Autora/Recorrida conseguia rentabilizar o seu espaço;

73. Foi este o racional do celebrado contrato de “aluguer” ou de utilização de espaço, que esteve na base da emissão das facturas de fls. 181 a 189 pagas pela Ré/Recorrente à Autora/Recorrida e das facturas de fls. 190 a 208 reclamadas nestes autos, que a Ré/Recorrente nunca devolveu, integrou na sua contabilidade e, com isso, beneficiou fiscalmente, e cuja obrigação de pagamento reconheceu expressamente no documento de fls. 215 a 217 dos autos;

Numa outra ordem de considerações:

74. Argumenta a Ré/Recorrente que “O contrato celebrado entre as parte não é um contrato

atípico, mas sim um contrato de arrendamento, que tem por base a concessão do gozo de parte de um prédio, mediante retribuição”;

75. Mais: chegou a alegar a Ré/Recorrente no seu articulado de oposição à injunção que não celebrou com a Autora/Recorrida qualquer contrato de “aluguer de espaço” em inícios de 2011 e que, por conseguinte, inexistia a causa de pedir que sustenta o pedido de tutela jurisdicional formulado;

76. Salvo melhor opinião, nenhuma razão assiste à Ré/Recorrente, como bem assinala a decisão recorrida;

77. O contrato celebrado entre ambas as partes não se tratou de um arrendamento e a prova disso mesmo é a de que nenhuma renda entre as partes foi estipulada;

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Ré/Recorrente nestes autos tiveram por origem um contrato atípico de utilização de espaço, o qual não está sujeito a forma legal, consubstanciando, pois, um negócio consensual;

79. Assim e pese embora não existir contrato reduzido a escrito, nenhum vício de forma será susceptível de afectar os seus efeitos jurídicos.

80. Nesse mesmo sentido, discorre - e bem - a decisão recorrida, tomando por referência as particularidades do caso concreto e os pressupostos legais ínsitos nos artigos 1022.º e 1023.º do Código Civil para qualificação de um contrato de arrendamento urbano;

Por sua vez:

81. Veio a Ré/Recorrente sustentar que o negócio celebrado entre ela e a autora é nulo, nos termos do artigo 397.º, n.º 2, do CSC, por ter sido outorgado entre a sociedade Ré/Recorrente e o seu então administrador, por interposta pessoa – a aqui Autora/Recorrida – sendo esta uma sociedade familiar daquele seu administrador, por ele representada, na qualidade de sócio gerente, até Julho de 2012:

82. Inaplicável é à situação vertente a disciplina normativa do indicado comando legal, tal como considerou a decisão recorrida;

83. Adere a Autora/Recorrida, na integra, àquilo que a decisão recorrida discorre - e bem – a este propósito;

84. De resto, ao agir como age processualmente a Ré, fá-lo em exercício de flagrante abuso de direito, nos termos do artigo 334.º do Código Civil, excepção que aqui expressamente se invoca para todos os legais efeitos;

85. Sem prejuízo e sem conceder, sempre se dirá que, em caso de nulidade, verificar-se-ia enriquecimento ilegítimo da Ré/Recorrente, porquanto recebeu da E… valores que lhe não pertencem, por resultar a sua causa da ocupação de espaço existente em prédios de que é

proprietária e locatária a aqui Autora e que estão a descoberto da relação contratual estabelecida a fls. 19 a 24.

Isto posto:

86. Invoca a Ré/Recorrente que a contradita requerida pela Autora/Recorrida e deferida pelo MMo. Juiz a quo, no final do depoimento da testemunha N…, foi ilegal;

87. Com franqueza, não se alcança onde pode estar essa pretensa ilegalidade, visto que a referida testemunha, cujas funções eram as de verificação de facturação no período a que se reportam os factos do processo, instada para o efeito, afirmou peremptoriamente no decurso do seu

depoimento, que o volume de facturação total da Ré/Recorrente não sofreu nenhum acréscimo que fosse visível.

Perante essa afirmação da testemunha, no final do seu depoimento, foi requerida a sua contradita com a exibição de um documento cujo teor contrariava manifestamente a anterior afirmação da testemunha – visto que dele resultava um aumento muitíssimo substancial do volume de facturação da Ré/Recorrente à E… -, destinada a abalar a credibilidade da testemunha;

88. Perante a evidência da contradição, foi a contradita admitida pelo MMo. Juiz a quo, uma vez que preenchia todo os pressupostos legais a que aludem os artigos 521.º e 522.º, ambos do Código de Processo Civil;

89. Do mesmo modo age a Ré/Recorrente com manifesto abuso de Direito, nos termos do artigo 334.º do Código de Processo Civil, ao suscitar agora a inovadora questão – até agora nunca invocada – que se prende com a alegada falta de poderes desta para celebrar o contrato atípico que celebrou com a Autora/Recorrida e que serve de causa de pedir a estes autos. De tão evidente que é a falta de razão que assiste à Ré/Recorrente por tudo quanto acima se disse já e os

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