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Perspectivas multidisciplinares sobre a inclusão de PPDs no mercado de trabalho: buscando a inclusão produtiva no setor industrial

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Perspectivas multidisciplinares sobre a inclusão de PPDs no mercado

de trabalho: buscando a inclusão produtiva no setor industrial

Rosimeire Sedrez Bitencourt (UFRGS) rosimeire@producao.ufrgs.br Lucimara Ballardin (UFRGS) lucimara@producao.ufrgs.br Lia Buarque de Macedo Guimarães (UFRGS) lia@producao.ufrgs.br

Carolina Bustos (Bustos&Giacomet) cbstos@terra.com.br Cleyton Vieira de Vargas (UFRGS) cleytonfisio@yahoo.com.br

Resumo

Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa sobre a percepção de profissionais de diferentes áreas de conhecimento a respeito da inclusão de Pessoas Portadoras de Deficiências (PPDs) no mercado de trabalho, principalmente no setor industrial, a pesquisa foi feita com base em entrevistas abertas as quais deram origem aos questionários. Os resultados apontam que apesar do ambiente industrial ser considerado de difícil inclusão, tendo em vista, principalmente, os riscos oferecidos, os participantes concordam que a inclusão é possível, sendo o despreparo dos profissionais, das empresas e da sociedade em geral, para lidar com estes indivíduos, uma das maiores dificuldades para viabilizar tal inclusão. As maiores barreiras, no entanto, estão relacionadas aos postos de trabalho, infra-estrutura de instituições de ensino, acessibilidade de ambientes construídos e vias públicas. Conclui-se que é imprescindível buscar formas de integração entre as áreas de atuação pesquisadas para que ocorra a inclusão de PPDs no setor industrial, bem como para a concepção integrada de sistemas de produção mais inclusivos.

Palavras-chave: Pessoas portadoras de deficiência; Inclusão; Sistema produtivo

1. Introdução

O movimento global em busca da qualidade de vida aponta para a necessidade de repensar o que cada profissional pode contribuir dentro da sua área de atuação em busca de uma sociedade melhor (WORLDWATCH INSTITUTE, 2004). Este esforço passa pela eliminação de todas as formas de discriminação e pela aceitação da diversidade como fundamento para a convivência social (DECLARAÇÃO DE MONTREAL SOBRE INCLUSÃO, 2002).

Uma comprovação desse movimento global é a crescente exigência da sociedade por um comportamento mais ético por parte das empresas, o que tem levado à busca pela colocação, na prática, dos princípios da Responsabilidade Social. Nesse esforço por uma sociedade mais justa, estão incluídas as ações que privilegiam a promoção da saúde no ambiente de trabalho, o estímulo à diversidade e a inclusão social e, em decorrência, no sistema produtivo, de parcelas marginalizadas da população, como as Pessoas Portadoras de Deficiência (CORDE, 2005; FIRJAN, 2003).

Em dezembro de 1999, o Governo Federal editou o Decreto n° 3.298, que regulamenta a Lei n° 7.853 (24/10/89), a qual dispõe sobre a política nacional relacionada às Pessoas Portadoras de Deficiência ou PPDs, parcela que representa 15% da população brasileira. O Decreto implica na reserva de postos de trabalho nas empresas com 100 ou mais empregados, com base nas seguintes cotas: I – 100 a 200 empregados, 2%; II – de 201 a 500, 3%; III – de 501 a 1.000, 4%; IV – mais de 1.000, 5% (CORDE, 2005).

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Essa forma de ampliar as oportunidades de trabalho para as PPDs tem sido questionada, uma vez que não há relatos de países que obtiveram sucesso com base exclusiva neste sistema de inclusão. Segundo Pastore (2003), as pesquisas mostram que quando a empresa admite porque é obrigada pela legislação, as PPDs são alocadas em setores marginais e, muitas vezes, acabam sendo estigmatizados pelos próprios colegas, o que é desumano e contraproducente. A realidade nacional ainda busca pela mera inserção de pessoas portadoras de deficiência e, devido à persistência de desinformação e inadequação das condições de arquitetura, transporte e comunicação, muitas pessoas talentosas e produtivas acabam sendo afastadas do mercado de trabalho (PASTORE, 2001; SASSAKI, 1999).

É relevante para a sociedade que investimentos sejam feitos com o objetivo de viabilizar, efetivamente, a inclusão produtiva das PPDs. Uma das formas de contribuição é unir esforços a fim de que os novos projetos industriais sejam concebidos para evitar adaptações posteriores por não considerar os seres humanos e suas diversidades (como tem ocorrido), permitindo a inclusão produtiva de PPDs em empresas do setor industrial. O setor industrial é apontado como o que menos emprega PPDs, em função do risco à que estas, supostamente, estariam expostas (BITENCOURT, GUIMARÃES E SAURIN, 2004; PASTORE, 2003; SASSAKI, 2003).

Para melhor entender a complexidade da inclusão e viabilizá-la, principalmente nos sistemas industriais onde a dificuldade de aprendizagem e o risco presumido de acidentes é maior, é necessário o esforço de diferentes profissionais. Para tanto, conforme apresentado neste artigo, foi feito um estudo sobre a percepção que profissionais de diferentes áreas de conhecimento (e que podem contribuir com a inclusão de PPDs) têm sobre a inclusão de PPDs no mercado de trabalho de empresas industriais e, em especial, no “chão de fábrica” destas empresas. Entende-se que estes resultados podem ser utilizados como base para outras pesquisas relacionadas à inclusão de PPDs no mercado de trabalho.

2. Materiais e Métodos

O levantamento dos dados foi feito de acordo com as duas primeiras etapas da ferramenta participativa Design Macroergonômico – DM (FOGLIATTO E GUIMARÃES, 1999): i) Identificação do usuário e coleta organizada de informações e ii) Priorização do Itens de Demanda Ergonômica (IDEs) identificados pelos usuários (componentes do sistema). A coleta organizada das informações é feita com base em entrevistas abertas com uma amostra da população usuária que serve como base para um posterior questionário.

2.1 Identificação do usuário e coleta organizada de informações

A região delimitada para este estudo foi o município de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, sendo a população-alvo, os interessados, em potencial, pela inclusão de PPDs em sistemas produtivos industriais, a saber (Tabela1): o grupo alvo da inclusão (PPDs); o grupo que contribui com a inclusão, já que sua atuação é no sentido de viabilizar que o PPD possa ser incluído (médico do trabalho, psicólogo, terapeuta ocupacional - TO e fisioterapeuta.) e o grupo que concebe soluções para o setor industrial (engenheiro de produção e ergonomista). Obteve-se uma amostra de conveniência de cada um dos integrantes do sistema, sendo que cada integrante foi representado por, no mínimo, dois entrevistados. Como pré-requisito desta primeira etapa, os entrevistados deveriam estar atuando profissionalmente na área em que estão enquadrados.

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Grupo Integrantes do sistema População/ Amostra ** delimitada pelo escopo da pesquisa Característica **

Alvo da

inclusão PPD 6.186 / 22 Deficiência física, auditiva, visual, mental ou múltipla

Médico do trabalho N/A * Atua na avaliação do PPD

Fisioterapeuta N/A * Atua na reabilitação do PPD

Entidade assistencial 11 / 11 Atua na capacitação do PPD e na geração de serviço

Terapeuta ocupacional 40 / 40 Atua na adaptação do trabalho e habilitação do PPD Contribui com

a inclusão do PPD no setor indústrial

Psicólogo N/A * Atua na avaliação e acompanhamento psicológico

do PPD Engenheiro de

produção

20 / 20 Atua na projetação e gestão de sistemas produtivos Concebe

soluções para o

setor industrial Ergonomista 9 / 7 Atua na adequação entre o sistema e o ser humano

* N/A - Não Aplicado: limitação da pesquisa na aplicação dos questionários, por motivos externos, tramites burocráticos, etc.

Tabela 1 – Caracterização da amostra da entrevista e do questionário 2.2 Priorização dos itens de demanda identificados (IDEs)

A idéia desta etapa é identificar fatores intervenientes na inclusão de PPDs. Adotou-se a entrevista como estratégia de identificação da demanda ergonômica, conforme sugerido pelo DM. A entrevista foi composta por um módulo espontâneo no qual questionou-se a cada entrevistado “qual a sua percepção sobre a inclusão das PPDs no mercado de trabalho (em especial em chão de fábrica de industrias) e como esta inclusão poderia ser realizada sob o ponto de vista da sua profissão”. As entrevistas foram feitas com todos os integrantes do sistema listados na Tabela 1. Elas foram gravadas e, de acordo com a ordem e a freqüência em que os itens (IDEs) foram citados, agregou-se um peso relacionado à importância, conforme o somatório dos entrevistados.

Os IDEs identificados nas entrevistas foram agrupados por afinidade e listados sob forma de questionário, para quantificar a percepção dos usuários em relação a cada um dos itens.Para a mensuração, foi utilizada uma escala contínua de 15 cm, com duas âncoras nas extremidades, conforme sugerido por Stone et al. (1974). O questionário foi dividido em três partes, sendo a primeira para avaliar a infra-estrutura de acesso em Porto Alegre/RS (péssimo ou 0 e ótimo ou 15), a segunda parte para medir a concordância com os itens listados (discordo plenamente ou 0 e concordo plenamente ou 15) e a terceira para medir a importância dos itens (pouco importante ou 0 e muito importante ou 15).

Os questionários foram aplicados aos acadêmicos das instituições de ensino superior de Porto Alegre, aos profissionais ligados as PPDs e as próprias PPDs. Em virtude de entraves burocráticos de algumas instituições, não previstos na programação inicial deste estudo, não foi possível distribuir os questionários para todas as instituições de ensino previstas, o que se tornou uma limitação deste estudo. A pesquisa mostra, portanto, as opiniões dos estudantes do último ano de graduação de terapia ocupacional e engenharia de produção, além dos alunos recém-formados no curso de especialização em ergonomia. Dentre as entidades que lidam com as PPDs, foram selecionadas as instituições credenciadas pela Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de Deficiência e de Altas Habilidades no Rio Grande do Sul – FADERS. Para este estudo, foi utilizada, uma amostra piloto das PPDs (Tabela 1) a qual preserva os mesmos percentuais por deficiência que figuram na relação de inscritos no Sistema Nacional de Emprego do Rio Grande do Sul - SINE/RS, em Porto Alegre, no período entre janeiro de 2000 e junho de 2003 (FGTAS/SINE, 2004).

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portadores de deficiência física puderam respondê-lo individualmente e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (conforme resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde publicada no Diário Oficial número 201, 16/96). Os deficientes auditivos e mentais necessitaram de um representante da entidade para auxiliá-los na leitura e interpretação das questões.

Foi necessário adaptar a forma de aplicação do questionário para os usuários com deficiência visual em virtude da impossibilidade de leitura. Como de acordo com Fresteiro (2002), na ausência da visão, o sentido que substituto é o tato, e com o objetivo de manter a similaridade com o instrumento utilizado pelas demais PPDs, foi colocada uma régua acrílica transparente de 15 cm sobre a escala de Stone et al. (1974) além de ter havido auxílio de um interlocutor. Os cegos deviam passar o dedo sobre a régua e apontar o ponto que melhor representava sua percepção quanto ao item sendo avaliado.

3. Resultados e discussões

Foi feita análise de consistência dos resultados do questionário com base na ferramenta Alfa de Crombach. De acordo com Cronbach (1951), valores de alfa maiores ou iguais a (0.55) indicam uma boa consistência interna. Obteve-se alfa = (0.68), (0.56) e (0.63) para o grupo de questões relacionadas à percepção, a concordância e a importância dos itens, respectivamente. Tendo em vista que os dados não apresentavam distribuição normal, utilizou-se o teste estatístico de Kruskal Wallis (JAQUES, 2003) para comparar as respostas em função do tipo de respondente. Os resultados com diferença estatística (teste de Kruskal Wallis significativo a p-valor < 0.05) foram analisados com teste não-paramétrico de complementação de médias. As respostas dos deficientes mentais mostraram discrepância em relação aos demais grupos e, portanto, são apresentadas separadamente. É possível que esta discrepância esteja relacionada ao tipo de deficiência, mas não faz parte do escopo deste estudo justificar este resultado. Deve-se notar, no entanto, que os deficientes mentais amostrados participaram ativamente deste estudo. 0,00 7,50 15,00 P o s to s de trabalho Ambientes co ns truido s em P OA Vias públicas de P OA Infra-es trutura ins tituiçõ es ens ino

P OA 0 ( pés si m o) at é 1 5 (ó tim o)

Enge nhe iro de P ro duç ã o Te ra pe uta Oc upa c io na l Ergo no m is ta Entida de s P P D - o utro s P P D - m e nta l

Figura 1 - Percepção sobre a infra-estrutura de acesso em Porto Alegre/RS

A Figura 1 apresenta os resultados relacionados às questões sobre infra-estrutura de acesso. Com exceção dos indivíduos portadores de deficiência mental (que apresentaram resultados discrepantes em todos os itens), todos os grupos entrevistados estão insatisfeitos com os postos de trabalho, infra-estrutura de instituições de ensino, acessibilidade de ambientes construídos e vias públicas de Porto Alegre. Com relação à acessibilidade aos postos de trabalho, os portadores de deficiência não mental (PPD-outros) mostraram-se neutros (média

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= 7.5 na escala de 15, ou seja, nem bom, nem ruim) em comparação com os demais grupos respondentes (não PPDs). Em uma análise mais detalhada, retirou-se do grupo “PPD-outros” os deficientes que nunca trabalharam (e, portanto, desconhecem a realidade dos postos de trabalho) tendo-se obtido a média de 6.3 (em 15). Apesar de mostrar insatisfação, a opinião dos PPDs é mais otimista que a dos outros grupos de não PPDs (com média = 4.0).

0,00 7,50 15,00 PPDs podem atuar em qualquer área Mercado trabalho preparado para PPDs Sociedade preparada para lidar com PPDs Profissionais capacitados p/ contribuir com inclusão É aceitável PPDs trabalhem em amb. industriais 0 ( d is co rd o pl en am en te ) at é 15 ( conc or do pl en am en te )

Eng. Produção T erapeuta ocupacional

Ergonomista Entidades

PPD - outros PPD - mental

Figura 2 - Concordância sobre a capacitação e preparo necessários à inclusão de PPDs 0,00 7,50 15,00 É necessário acompanh. profissional na inclusão É necessário conhecer bem deficiências para incluir É necessário conhecer bem trabalho para incluir É necessário conhecer bem habilidades para incluir 0 (d is co rdo pl en am en te ) a té 15 ( con co rdopl en am en te )

Eng. Produção T erapeuta ocupacional

Ergonomista Entidades

PPD - outros PPD - mental

Figura 3 - Concordância sobre o processo de inclusão de PPDs no trabalho

A Figura 2 mostra o grau de concordância dos grupos entrevistados em relação ao despreparo do mercado de trabalho, e da sociedade como um todo, para lidar com as PPDs. Eles entendem que PPDs podem atuar em todas as profissões e que é viável que as PPDs trabalhem em ambientes industriais (chão de fábrica). Isto está de acordo com o estudo de Bitencourt, Guimarães e Saurin (2004), o qual defende a viabilidade de execução de várias tarefas do chão de fábrica, por PPDs, contanto que elas sejam compatíveis com as habilidades dos deficientes ressaltando-se que, conforme o tipo de deficiência, as PPDs podem executar as tarefas de forma parcial ou integral. No entanto, existem discrepâncias nos resultados sobre a capacitação atual dos profissionais para contribuir com a inclusão das PPDs no mercado de trabalho: para os terapeutas ocupacionais (TOs), os profissionais estão capacitados, ao contrário da opinião das entidades e das PPDs com outros tipos de deficiência. Os engenheiros de produção e ergonomistas entendem que os profissionais estão medianamente capacitados neste aspecto.

0,00 7,50 15,00

do P ró prio P P D da s Em pre s a s do Go ve rno da S o c ie da de

Enge nhe iro de P ro duç ã o Te ra pe uta Oc upa c io na l Ergo no m is ta

Entida de s P P D - to do s

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Os resultados apresentrados na Figura 3 apresentam as demandas relacionadas ao processo de inclusão. Todos concordam com a necessidade de acompanhamento de profissionais de diferentes áreas de conhecimento para garantir a eficácia da inclusão, o que está de acordo com a visão de Pastore (2001) para quem “a mera reserva de postos de trabalho é insuficiente neste processo”. Por outro lado, a idéia de que as PPDs devem ser contratadas em função da sua deficiência e sua adequação ao trabalho é aceita pelos grupos. Esta visão, segundo Oliveira (2002), tem o direcionamento tradicional à deficiência e às funções estereotipadas como o modelo proposto pelo Sistema Nacional de Emprego - SINE/RS (FGTAS/SINE, 1996). A exceção a esta opinião é das PPD-outros, para quem não é tão importante conhecer o trabalho e as deficiências mas, sim, conhecer as habilidades. Este ponto de vista corrobora a idéia de inclusão através das habilidades, conforme proposta de Bitencourt, Guimarães e Saurin (2004).

Quando questionados sobre quais os principais responsáveis por buscar a inclusão de PPDs no mercado de trabalho (Figura 4), existe quase um consenso de que o governo, as empresas, as próprias PPDs e a sociedade de um modo geral são igualmente responsáveis.

0 7,5 15 Ergonomistas Engenheiros Produção T erapeutas Ocupacional 0 ( pouc o) a té 15 (m ui to )

Contribuição da sua profissão Sente-se qualificado

Figura 5 - Contribuição da profissão (dos entrevistados) em relação ao quanto se sente capacitado para contribuir com a inclusão de PPDs

Quando questionados sobre a contribuição de sua profissão no processo de inclusão, as três áreas de conhecimento que participaram da fase do questionário (ergonomia, engenharia de produção e terapia ocupacional) são consideradas significativamente importantes (Figura 5), o que está de acordo com a descrição das atribuições destas profissões. Conforme o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (2004), entre os objetivos do TO está a preservação, manutenção, desenvolvimento e restauração da capacidade funcional do indivíduo, a fim de habilitá-lo ao melhor desempenho físico e emocional possível; os ergonomistas contribuem para o projeto e a avaliação de tarefas, trabalhos, produtos, ambientes e sistemas, no sentido de torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas (INTERNATIONAL ERGONOMICS ASSOCIATION, 2001) e à engenharia de produção, que ocupa uma posição de interface entre o sistema técnico e o ser social, compete o projeto e operações relacionadas à manutenção e a melhoria de sistemas produtivos envolvendo homens, recursos financeiros e materiais, tecnologia, informação e energia (ABEPRO, 2003). No entanto, ao contrário dos TOs, os engenheiros de produção e os ergonomistas acreditam estar pouco capacitados para atuar nesse contexto.

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0,0 7,5 15,0 Fisioterapeuta T erapeuta Ocupacional T écnico de Segurança do T rabalho Assistente Social Psicologo Administrador (Recursos Humanos) Engenheiro de Produção Ergonomista Médico do T rabalho

Engenheiros de Produção Entidades Ergonomistas Terapeuta Ocupacional

Figura 6 - Percepção sobre a importância das diferentes áreas de conhecimento para a inclusão de PPDs

Quando solicitados a enumerar as profissões mais importantes para a eficácia da inclusão, o ergonomista e o engenheiro de produção consideram o ergonomista o principal contribuinte para a inclusão (Figura 6). Isto provavelmente se deve ao fato de que a Ergonomia é uma área estudada e atualmente enfatizada na grade curricular do curso de Engenharia de Produção, mas não pertencente ao currículo do TO, por exemplo. Isto deve ter refletido na opinião dos TOs de que o engenheiro de produção não é tão importante no processo de inclusão. As entidades assistenciais, por atuarem em um contexto prático, e diretamente contar principalmente com a atuação de profissionais da área da saúde em seu quadro efetivo de funcionários, consideram o fisioterapeuta e o TO como os profissionais mais importantes, delegando menor importância aos profissionais de engenharia, ergonomia e recursos humanos. Ressalta-se, no entanto, que as entidades dão ao técnico de segurança do trabalho o mesmo nível de importância conferido ao fisioterapeuta e ao TO. Observa-se que nenhuma profissão sofreu um destaque discrepante em relação à sua não participação neste processo, o que contribui para a idéia de que é necessário uma visão interdisciplinar entre as diferentes áreas, para viabilizar a real inclusão.

4. Considerações Finais

Tratando-se da inclusão de PPDs no mercado de trabalho, os diferentes grupos pesquisados entendem que é possível uma inclusão produtiva. Eles apontam, de uma forma geral, dificuldades na inclusão em relação aos postos de trabalho, infra-estrutura de instituições de ensino, acessibilidade de ambientes construídos e vias públicas de Porto Alegre, assim como o despreparo da sociedade e das empresas em lidar com estes indivíduos.

Observou-se que as áreas de conhecimento abordadas apontam a relevância e a necessidade de contribuição da sua profissão no processo de inclusão da PPD. No entanto, ao contrário do grupo de terapeutas ocupacionais (TO), os engenheiros de produção e ergonomistas acreditam estarem despreparados para atuar nesse contexto. Da mesma forma, o grau de importância dado às profissões pode ser decorrente da estrutura curricular destes cursos, que não discutem a atuação conjunta com outras áreas de conhecimento: por exemplo, o TO aparenta desconhecer o papel do Ergonomista e do Engenheiro de Produção, da mesma forma que estes últimos desconsideram a importância do TO.

Conhecer as demandas necessárias para a inclusão da PPD no ambiente de trabalho sob diversos pontos de vista é fundamental para propor soluções eficazes. Desta forma, acredita-se que é necessário buscar possíveis formas de integração entre as áreas de atuação pesquisadas (além de outras que não entraram no escopo desta pesquisa) para viabilizar a inclusão produtiva de PPDs no mercado de trabalho, e na concepção integrada de sistemas de produção mais inclusivos.

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Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com a colaboração financeira do CNPq (bolsas de pós-graduação) e do PPGEP/UFRGS (infra-estrutura e equipe do NDE/LOPP/UFRGS).

Referências

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