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Boletim Academia Paulista de Psicologia ISSN: X Academia Paulista de Psicologia Brasil

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academia@appsico.org.br

Academia Paulista de Psicologia Brasil

Perez-Ramos, Juan

Reseña de "Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador" de A.M. Benevides-Pereira (Org.)

Boletim Academia Paulista de Psicologia, vol. XXIV, núm. 2, mayo-agosto, 2004, pp. 65-69 Academia Paulista de Psicologia

São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=94612361012

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Benevides -Pereira, A.M. (Org.), (2002) – Burnout: quando o trabalho

ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo

Juan Perez-Ramos (Cad.23)1

Instituto de Psicologia – USP

Um trabalho realizado por autores de diferentes países sempre é enriquecedor. O livro que se relata tem essa particularidade: seus autores são psicólogos brasileiros e espanhóis, na maioria professores universitários e que formam parte de grupos de estudo sobre o tema em epígrafe. O relacionamento entre os autores se fez sentir também porque os profissionais brasileiros realizaram seus estudos de doutorado e pós-doutorado em universidades espanholas, de onde provêm seus conhecimentos com os colaboradores destas instituições.

A organizadora, também autora de seis capítulos dos dez existentes neste livro teve a feliz idéia de reunir estudiosos da matéria de ambos países, em um tema de primordial importância na atualidade, particularmente no mundo do trabalho. Didaticamente, bem estruturado, o livro se inicia com a discussão sobre o construto em foco, para inclui-lo em uma abrangência maior, o stress, e continuar por campos mais específicos como o burnout em profissionais, fisioterapeutas, médicos, enfermeiros, psicólogos, professores universitários e agentes de instituições penitenciárias, e concluir com informações sobre programas e procedimentos de prevenção e intervenção, assim como perspectivas para o futuro.

Primeiramente, são referidas diferentes designações utilizadas para identificar o termo em foco, seja com o intuito de compreender seu sentido ou de pontuar as variações mais conhecidas ao longo de sua evolução. Citam-se as de “síndrome de esgotamento profissional” e de “doença do trabalho”, significando a “sensação de estar acabado” e também a de “neurose profissional” o de “neurose de excelência”, mais freqüentes nos trabalhos brasileiros. São comuns também as expressões em espanhol “stress laboral” ou ainda, “stress

laboral asistencial”, significando uma síndrome, segundo a autora, própria do

âmbito do trabalho, e ainda de caráter assistencial. Além de analisar os termos designativos do vocábulo (“burnout”), freqüentes nos idiomas citados, a autora também faz referência aos de outras línguas, mas prefere mantê-lo na sua forma original (burnout), devido à diversidade que se observa nas suas traduções e também a generalização de seu uso, especialmente a partir dos anos sessenta, quando se registraram os primeiros trabalhos sobre o tema. Tal posicionamento

1 Professor Associado do Programa de Pós-graduação em Psicologia . Endereço para

correspondência: Rua Pelágio Lobo, 107, 05009 – São Paulo – SP, tel. (11)3862-1087 tel/fax.: (11)3675-8889 – E-mail: junaidyl@terra.com.br

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é por nós aceito, razão pela qual preferimos utilizar também os termos stress e

coping, nas suas formas originais por carecerem de uma tradução precisa.

Aceito o uso de termo burnout, Benevides-Pereira, ainda prefere para conceitua-lo dentro de seus limites, a ater-se a seu significado etimológico “aquele que chegou ao limite e, por falta de energia, não ter mais condições de desempenho físico e mental”.

Segue buscando uma compreensão plena para o conceito. Analisa contribuições, que caracterizam o burnout, como forma típica de stress da situação de trabalho. Como em outras oportunidades, ela se desvia do tema central para tecer considerações sobre stress, estressores e formas de superação, idéias estas bastante conhecidas, mas úteis para iniciantes no campo. Analisa diversos modelos explicativos da síndrome e uma variedade de sintomas que podem caracteriza-la, aceitando a conceituação: estado prolongado de stress no ambiente de trabalho, iniciado por um processo de exaustão emocional, que produz conseqüências diversas à pessoa, como: alienação, indiferença, desmotivação e, até ao designado como “despersonalização”.

Há necessidade de esclarecer, no entanto, que outros esforços de especialistas na matéria, como Schaufeli1 deixam em dúvida a condição de

conceituar o burnout, como resultante do ambiente de trabalho, pois estudam esta síndrome também entre estudantes e no contexto escolar.

A autora se aprofunda nos estudos das variáveis incidentes, quer sejam individuais, quer sejam provenientes do ambiente de trabalho, chegando à conclusão de que, para muitas delas, há falta de consenso entre os autores estudados, o que é confirmado também por nossos estudos. Enriquece este trabalho a análise que faz dos instrumentos de avaliação do burnout, dando maior ênfase ao MBI (Maslach Burnout Inventory) e suas variações, por ser o mais freqüentemente utilizado em pesquisas na área, inclusive em nosso meio, como são os trabalhos referidos neste livro.

A partir dessas considerações gerais, os autores desta contribuição relacionam a síndrome com várias categoria profissionais de natureza assistencial. Deixando de lado repetições e contribuições conhecidas sobre o

stress, é possível chegar a determinadas inferências relacionadas com a

vulnerabilidade ao burnout em cada uma das profissões estudadas. Em relação aos fisioterapeutas e aos estudantes de seu curso (com práticas em estágios), Amorim, um dos autores deste livro, após estudos minuciosos, chega a afirmar a precariedade de pesquisas com tais participantes. No entanto, encontra um aspecto comum entre as poucas disponíveis, que é o emprego do MBI, para a coleta e interpretação dos dados, facilitando, dessa forma, comparações entre

1 Schaufeli, M.S. at al. Burnout and engagement in university students. A cross-national study.

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67 os estudos, especialmente com o realizado por aquele autor utilizando estudantes do 4º ano do Curso de Fisioterapia. Encontrou unanimidade na maior freqüência da exaustão emocional, uma das dimensões do Inventário, nos trabalhos estudados e em sua pesquisa. É possível que a gravidade dos pacientes atendidos pelos fisioterapeutas estudados e sua melhora lenta na reabilitação possam conduzir a quem os tratam a uma exaustão emocional, produzindo assim o

burnout.

Quanto à presença do burnout em médicos, capítulo também elaborado por Benevides – Pereira, chega a afirmar que esta profissão é uma das mais predispostas ao acometimento desta síndrome. É o que ela explica pela maior freqüência de dependência química, suicídios e depressão entre estes profissionais. A vulnerabilidade ao burnout começa a delinear-se durante o curso de formação médica, explicando, portanto, a pesquisa que realiza com os estudantes de medicina e médicos utilizando o MBI. Variáveis individuais como idade, sexo, instabilidade familiar, puderam explicar o aparecimento da síndrome entre estes participantes, situação que ainda merece maiores estudos. A autora ainda faz alusão à mobilização da classe médica que, consciente dessa situação, vem organizando programas preventivos como: “Programa de Atención Integral

a Médico Enfermo” (PAIME) existente na Espanha.

Exaustivo estudo foi também realizado pela organizadora em relação ao

burnout em profissionais de enfermagem, não só pelo seu valor intrínseco, como

pela existência de uma profusa bibliografia internacional, inclusive de trabalhos com MBI, objeto de atenção na sua pesquisa com esses participantes. Para esta finalidade foram estudados profissionais de enfermagem de três hospitais da cidade de Maringá – PR: um Hospital-Escola, outro assistencial de grande porte e ainda outro particular e de médio porte. A investigação é descrita com pormenores, especialmente quanto ao cumprimento de normas éticas, seleção dos participantes e do instrumento de coleta de dados, sendo escolhido o MBI – HSS, 2ª edição. Variáveis individuais e ambientais propiciadoras do burnout foram consideradas. Os resultados mostraram valores altos na dimensão – exaustão emocional do MBI, apesar da variabilidade expressiva entre os grupos de participantes entre cada um dos hospitais referidos, bem como na comparação de outros estudos efetuados no Estado de São Paulo e na Espanha. A autora pondera, cautelosamente, que os resultados não podem ser generalizados, mas que indicam pistas para estudos futuros, inclusive sobre a conveniência da aplicação de novos instrumentos, como é o procedente da Espanha, o

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No referente aos psicólogos, são apresentados os resultados de estudos efetuados por Benevides – Pereira, (brasileira) e Moreno – Jimenez (espanhol) – Professor Titular da Universidade Autónoma de Madrid). Ambos autores destacam a precariedade de estudos disponíveis em relação a esta categoria profissional e nem mesmo a estudantes dos cursos de Psicologia. No entanto, é importante frisar que existem dissertações defendidas na Universidade de São Paulo, por nós orientadas, referentes ao stress em psicólogos que atuam em ambientes de alto risco, como são os hospitais psiquiátricos. Algumas variáveis ambientais comprometedoras, por nos detectadas, concordam com as apontadas no trabalho em análise.

Os autores centralizam sua atenção nas parcas pesquisas internacionais, utilizando o MBI em psicólogos escolares, cujos resultados mostram a prevalência da dimensão – exaustão emocional. Quanto aos trabalho brasileiros, apresentam uma pesquisa inter-estadual, empregando, entre outros instrumentos, o MBI. O desenvolvimento da referida investigação se realiza através de cruzamentos entre os resultados de variáveis individuais e ambientais como as dimensões do MBI. Destaca-se dentre os resultados maior predisposição ao burnout nos psicólogos mais jovens e aqueles com relacionamento familiar instável; dados que concordam com nossos estudos sobre stress e coping em psicólogos hospitalares. Instrumentos próprios para essa categoria, em relação ao burnout, também foram sugeridos por Benevides – Pereira e Moreno Jimenez, como o IBI (Inventario de Burnout para Psicólogos). Situação semelhante resultou de nossos estudos, elaborado para análise do stress em psicólogos, o Questionário S-1 de Stress Ocupacional de Pérez-Ramos, validado com estudos estatísticos pertinentes.

Após comentários gerais sobre as pressões que se submetem os profissionais universitários nas suas funções e também de fazer alusões a conceitos sobre burnout já referidos anteriormente, Carlotto chega ao tema central de sua exposição: a síndrome de burnout e a satisfação no trabalho em professores universitários.

Na pesquisa por ela realizada com esses professores, utiliza de um questionário sobre dados sócios-demográficos, do MBI e do Questionário de Satisfação no Trabalho (S20), de Meliá e Perió. São efetuados cruzamentos dos dados obtidos desses três instrumentos com as variáveis individuais e ambientais detectadas. São destacadas as variáveis mais propiciadoras de burnout nessa população: gênero feminino, idade jovem, excessiva carga horária, grande número de alunos, entre outras. Em relação ao MBI e ao S20, prevalece a dimensão-exaustão emocional, por um lado, indicando um processo em curso do burnout e por outro, baixa motivação intrínseca.

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69 Um grupo de profissionais, seriamente afetado pela síndrome poderá ser o dos funcionários de instituições penitenciárias, razão porque foi objeto de estudos por Kurouski (psicóloga brasileira) e Moreno-Jimenez (espanhol, Professor Titular da Universidad Autonoma de Madrid) . Foram utilizados o MBI e O CBB (Cuestionario Breve de Burnout, de Moreno – Jimenez) para coleta de dados. Além dos vários cuidados para garantir a validade da pesquisa, foi estabelecido grupo controle, especialmente pelo fato do CBB não ter sido adaptado ainda à população brasileira. Depois de efetuados os cálculos estatísticos pertinentes intra e inter-grupos com as diferentes divisões dos instrumentos, evidenciou-se claramente a presença da síndrome no grupo experimental. Maiores diferenças foram obtidas, a favor deste grupo, em frustração profissional (CBB) e exaustão emocional (MBI) evidenciando no mesmo a instalação e a evolução do Burnout.

Um capítulo especial foi atribuído à prevenção e intervenção da síndrome em estudo, assegurando, de alguma forma urgentes ações bloqueadoras desse processo. Neste sentido um grupo de psicólogos constituído de Benevides – Pereira (brasileira) e Garrosa Hernandez, Moreno – Jimenez e Gonzales (espanhóis, docentes de diversas universidades de Madri) reuniram seus esforços para tal empreendimento, considerando os fatores estressantes originados no contexto do trabalho e nas características individuais, bem como as estratégias de coping para superação do burnout. Foram previstos programas para cada uma dessas áreas e suas combinações. Maior atenção foi destimada ao coping, incluindo passos específicos e técnicas como de relaxamento, cognitivas e de promoção de comportamentos saudáveis. Posteriormente, um fechamento da obra é efetuado por Benevides – Pereira que faz uma síntese das contribuições apresentadas, visando perspectivas de novos trabalhos e ações.

É evidente que um livro denso como este suscite muitas reflexões e perguntas, mas deixa clara a importância de que se reveste o burnout, na medida em que cuidadosamente avaliado, permite desenvolver ações preventivas e remediativas para garantir melhor qualidade de vida e maior produtividade nas organizações. Acresce-se também a necessidade de dar continuidade a esses estudos, razão porque este livro deve ser recomendado não somente a profissionais e pesquisadores da equipe de saúde mental, mas também aos estudantes universitários nesta área, e a todos aqueles que se interessam pelo bem-estar do ser humano.

Referências

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