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SEMINÁRIO DE RELAÇÃO INTERNACIONAL: 1 SEMINÁRIO NACIONAL DE PÓSGRADUAÇÃO. 12 E 13 DE JULHO DE 2012 ÁREA TEMÁTICA: SEGURANÇA INTERNACIONAL

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SEMINÁRIO DE RELAÇÃO INTERNACIONAL: 1° SEMINÁRIO NACIONAL DE PÓSGRADUAÇÃO.

12 E 13 DE JULHO DE 2012

ÁREA TEMÁTICA: SEGURANÇA INTERNACIONAL

A DINAMICA DA SEGURANÇA REGIONAL NA ÁFRICA SUBSAARIANA: ÁFRICA OCIDENTAL PROTO-COMPLEXOS OU SUB-COMPLEXO REGIONAL

DE SEGURANÇA?

MAMADOU ALPHA DIALLO1 UFRGS

1 Doutorando em Estudos Estratégicos Internacionais (UFRGS), mestre em Ciências Politicas pela mesma universidade.

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Introdução

Este trabalho tem como objetivo discutir a segurança regional na África ocidental e o processo de integração regional a partir do modelo teórico de Complexo Regional de Segurança (CRS) desenvolvido por Buzan e Weaver (2003). O conceito africano de Complexo e de sub-complexo regional de segurança como um conjunto estratégico unipolar, com grau de polarização médio e baixo grau de penetração, é caracterizado por ser menos desenvolvidos dos sub-complexo regionais de seguranças analisados pelos autores supracitados. Para tanto, é importante lembrar que, desde a independência dos países africanos na década de 1960, a África subsaariana se deparou com as mais variadas questões de segurança. Apesar disso, esta região continua sendo importante estrategicamente na geopolítica regional, continental e internacional. Esta relevância estratégica se deve principalmente ao crescimento das descobertas de reservas energéticas como o petróleo na África Ocidental, garantindo 100% de aumento destas reservas entre 1985 e 2005 (CEPIK e OLIVEIRA, 2007:3).

O fim da bipolaridade que se caracterizou pela queda do muro de Berlim, teve um impacto nas assimetrias entre as capacidades dos Estados Unidos, União Européia, Japão China, Rússia e a emergência dos Complexos Regionais de Segurança (CRS) e das potências regionais (CABRAL, 2010: 2), permitindo a certas regiões de estabelecer laços de confiança na área de segurança e dando inicio ou aprofundamento da integração regional em termos de desenvolvimento econômico e social.

Na África isto, se traduz pela reformulação e o fortalecimento das organizações de integração regional como a União Africana (UA), a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), no caso da região Oeste africana. A União Africana, por via das organizações regionais (CEDEAO, SADC etc.), se tornou o principal órgão encarregado de promover a paz e a segurança no continente africano. A criação da UA, no inicio do século XXI, marca o engajamento dos países africanos em buscarem resolver os conflitos, garantirem a boa governança e lutar contra a pobreza e a miséria que são de fato, problemas recorrentes no continente principalmente nas ultimas duas décadas. Ou seja, uma nova aproximação que leva a pensar na estruturação ou fortalecimento de complexo ou subcomplexo Regional de segurança.

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Estas organizações (continental e regional) vêm sendo os pilares da segurança regional, porém, com suporte de países específicos como Nigéria, Líbia, África do Sul etc. Partindo da constatação de que na atualidade de um lado, estas organizações não podem contar com a ajuda da Líbia devido à crise política que enfrenta o país de Khadafi e, do outro, a persistência de crises políticas internas na Nigéria, este trabalho busca responder a seguinte pergunta: Por que a África é vista como um protocomplexo e não um subcomplexo regional de segurança por Buzan & Weaver?

A hipótese do trabalho é que, é inconsistente classificar a África austral como um único subcomplexo regional de segurança, em toda África subsaariana. O argumento aqui é que pelos mesmos critérios usados pelos autores acima referidos, a África Ocidental também é um subcomplexo regional de segurança. Esse argumento se justifica primeiro, pelo papel que a Nigéria como potência regional pode cumprir e cumpre na África ocidental devido a sua importância econômica, sociopolítica e militar. Segundo, pela situação de conflitividade que caracterizou a região nas ultimas duas décadas, obrigando os países da região a se articularem em busca da paz, segurança e do desenvolvimento. Essas duas primeiras justificativas levam a uma terceira, que é a interdependência dos Estados da região no plano político, econômico, social e militar, que motivou a criação da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) em 1975, da União Econômica e Monetária da África Ocidental (UEMOA), em 1994.

A África ocidental é uma zona altamente interdependente em termo de segurança e a Nigéria, tem cumprido um papel fundamental na liderança dos mais países em busca de soluções conjuntas aos diversos desafios que enfrenta a região há décadas. Neste sentido, Tanto os conflitos quanto as crises socioeconômicas e políticas, mostraram que qualquer problema, seja ele interna ou externa a um dos Estados da região afeta direta ou indiretamente os outros países, pondo em risco a segurança regional. Isto explica, por exemplo, os problemas de insegurança gerados pela crise da Libéria, Serra Leoa, nos países vizinhos como Guiné, Costa de Marfim etc. e justifica intervenção das forças armadas Guineenses e senegalesas no conflito de Guiné Bissau em 1998. Ou seja, há certa interdependência entre os Estados da região no que desrespeite a segurança ou insegurança, portanto, isto reforça a hipótese da existência de um subcomplexo Regional de Segurança (CRS) na África Ocidental, contrariando assim a idéia de Buzan & Weaver de que na

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África Ocidental, existe um protocomplexo e não um sub-complexo ou Complexo regional de segurança.

No entanto, apesar dos últimos anos serem marcados por uma evolução positiva em termos de resolução dos conflitos e consolidação da democracia na região, não se pode descartar a hipótese de novas instabilidades na região e, portanto, a necessidade se analisar as capacidades dos atores Estatais e não Estatais bem como os impactos da presença de atores estrangeiros para a segurança regional, na África Ocidental.

Para o melhor entendimento do trabalho, o artigo se divide em três partes independentemente dessa introdução que esta na primeira. Na segunda parte, trata-se da caraterização da África Ocidental, a terceira parte, mostra que a África Ocidental é um sub-complexo em vez de proto-sub-complexos regional de segurança e a quarta parte traz as considerações finais do artigo.

1. Caracterização do subcomplexo Regional de Segurança (CRS) da África Ocidental

Essa sessão tem como objetivo caracterizar o subcomplexo regional de segurança da África ocidental. Para tanto, faço uma breve caracterização do complexo regional de segurança (CRS), da África subsaariana ao qual pertence o protocomplexo regional de segurança da África Ocidental, conforme a classificação de Buzan e Weaver (2003), destacando comparativamente, as capacidades socioeconômicas e militares dos países que compõe o subcomplexo.

O complexo regional de segurança da África subsaariana (ASS) se caracteriza por ser um dos mais conflituosos, pelo menos no período pós-guerra Fria, em comparação com os onze diferentes complexos regionais de segurança definidos por Buzan e Weaver em seu livro, intitulado Regions and Power: the structure of Internacional Security, publicado em 2003. Conforme as próprias palavras destes autores, um rápido olhar da África durante quase quarenta anos de independência (1960-2000), mostra um catalogo de guerras, fomes, pragas, doenças (epidêmicas como HIV/ AIDS), deslocamento em massa da população, ruínas, bárbaras praticas políticas e despojamento ambiental (Buzan & Weaver, 2003:219).

África ocidental é uma das regiões que alimentaram esta situação do Complexo Regional de Segurança do continente ao sul do Saara, e certamente nenhuma outra parte do

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mundo adquiriu uma notoriedade maior de instabilidade que África Ocidental nos últimos trinta anos. Segundo Ukeje (2005), a África do Oeste caracterizou-se nos últimos tempos por ser um verdadeiro teatro de violentos conflitos, de instabilidades políticas resultando na inviabilidade da maioria dos dize seis (ver fig.1) Estados poste coloniais da região. A título de exemplos, pode se citar os conflitos da Libéria, Serra Leoa, Costa de Marfim, Casamance (região sul do Senegal) e Guiné Bissau em 1998. Esta situação de conflitividade (interna aos Estados) levou vários analistas em questionar consistência do modelo Westfaliano do Estado para a região (Buzan &Weaver (2003), Ukeje (2005), Ekanza (2005)).

É importante salientar que a ausência da Mauritânia no mapa, se explica pela saída deste país da CEDEAO, desde 2002, e apesar disso ele não deixa de fazer parte integrante da região como um todo. Desse modo, observa-se que a região é geograficamente homogênea, no entanto, politicamente fragmentada, resultado de cerca de oitenta anos de presença colonial nesta parte conhecida como a África Ocidental. Como bem mostra o mapa, temos dezesseis países, tirando a Mauritânia, todos, são membros da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), fundada em 1975. Além disso, temos a União Monetária Oeste Africana (UEMOA), fundada em janeiro de 1994, que agrupa oito (Benin, Burkina Faso, Costa de Marfim, Guine Bissau, Mali, Níger, Senegal e Togo) dos dezesseis países da CEDEAO. Se de um lado, o argumento de Buzan & Weaver (2003), de que a existência de organismos regionais não é suficiente e tão pouco caracteriza a presença de Complexo ou Subcomplexo Regional de Segurança é pertinente e aceitável, do outro, nos parece arbitraria a caracterização da África Ocidental como sendo um protocomplexo e não um subcomplexo. Outros fatos que caracterizaram os países da África subsaariana nas últimas duas décadas são as guerras civis e tragédias humanitárias na região dos Grandes lagos (Ruanda e Burundi), a guerra da Republica do Congo, que parecer conectar de maneira inseparáveis as dinâmicas de segurança das regiões da África austral e Central (Cepik, 2007), e a intensificação das iniciativas conjuntas dos países da CEDEAO em matéria de segurança. Apesar destes fatos, Buzan & Weaver (2003), classificam a África subsaariana como sendo um Complexo Regional de Segurança composto de um único CRS estruturado em volta da África do Sul e de dois proto-complexos (África do Oeste e Chifre da África).

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No entanto, como a segurança é uma questão que interessa além do Estado, todas as coletividades humanas, que podem ser afetadas no plano, militar, econômico, político social e do meio ambiente (Buzan & Weaver, 2003; Williams, 2008), para completar a caracterização da região, é importante analisar esses fatores para os países da África Ocidental. É importante dizer que no plano geral a África Ocidental, tem uma superfície de cinco (5) milhões de quilômetros quadrados representando 17% do total da superfície e 30% da população do continente africano (CEDEAO, 2009).

A região se caracteriza particularmente por suas pequenas e medias economias devido ao fato da maioria dos países serem mercados muito pequenos onde a viabilidade econômica é mínima. Os maiores países da região em termos de superfície são respectivamente, Níger com 1 267 000 quilômetros quadrados (25 %), Mali 1 240 192 quilômetros quadrados (24,3%) e o menor país, é Cabo Verde com 4 033 quilômetros quadrados (0,1%) da superfície da região. Geograficamente, a região é dominada por duas zonas distintas. A primeira zona é a dos países costeiros e a segunda é constituída por países sem saída por mar (Mali, Burkina Faso e Níger).

No plano demografico, a CEDEAO, é a Comunidade Economica Regional mais populosa que existe na África. Segundo dados da CEDEAO (2009), com uma taxa de crescimento medio anual de 2, 67%, a população da região é estimada a 291,8 milhões de habitantes. Nigeria é o país mais populoso da região com uma população estimada a 151,9 milhões de habitantes (mais da métade da população de toda a região ( 52,13% ), seguido de Gana com uma população estimada a 23, 11milhões de habitantes (7,93%) e novamente o país menos populoso é o Cabo Verde com uma população estimada a 0, 53 milhoes de pessoas, numero que representa, 0,18% da população da região (CEDEAO, 2009). Como já referido anteriormente, no plano da estabilidade, é bom lembrar que a metade dos países da região enfrentou nas ultimas duas décadas ou conflito interno ou uma crise sociopolítica aguda. Além desses fatores sociopoliticos e demograficos que caracterizam a região, é importante destacar as emergentes dinâmicas de integração econômica e montária sobre o comando respectivo da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a União Econômica e Monetária da África do Oeste (UEMOA). Entre os quinze países da CEDEAO, oito são membros da UEMOA e usam o Franco CFA como moeda única e os sete outros ( Nigéria, Gana, Gâmbia, Guiné, Serra

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Leoa, Liberia e Cabo Verde), tem cada um sua moeda própria e respondem por 75% do PIB e 68% da população da região (CEDEAO, 2009). Obviamente, essa alta percentagem tanto da população quanto do PIB se explica pelo fato da Nigéria perttencer a este grupo, portanto, isto não diminui a importância dos países da UEMOA na região, pois, de certa forma, este bloco, apesar de respoder por apenas 25% do PIB e 22% da população, consegue contrabalenciar o poder absoluto da hegemonia da Nigéria na região.

Nesta ótica, mesmo se há uma grande disproporcionalidade de poder entre os Estados, pode se falar de polaridade pelo menos entre os países da UEMOA e ex-colonias francesas e o resto dos países que são antigas colônias inglesas exeto Guiné e Cabo Verde. Assim, o projeto de criação de uma segunda zona monetária (ZEMOA2) no horizonte de

2014 na região perece confirmar essa polaridade, apesar da previsão de fundir as duas zonas monetária em 2020 em uma única zona no âmbito da CEDEAO. Esta divisão dos países em duas zonas monétarias, indica que ainda há certa influência externa na região que, no caso dos países da UEMOA, não deixa dúvida quanto ao poder de influência da França na rgeião, já que até na atualidade o Franco CFA, continua dependendo do tesouro francês que garante a paridade e a convertibilidade da moeda.

Igualmente, pode se perceber que existência de uma zona monetária única (UEMOA) bem como o projeto de se criar uma segunda zona monetária (ZMOA) são grandes indícios de amizade-inimizade que se reflete pelo menos no plano econômico, pois favorece o comércio intra-regional. Em suma, Todos os fatores relacionados nesta caracterização da região, indicam a possibilidade da existência de pelo menos um subcomplexo na região e não um proto ou pre-complexo como indicado por Buzan & Weaver (2003). Ou seja, contrariamente a opinão destes autores é possivel mostrar que na África Ocidental existe um subcomplexo regional de segurança e não um protocomplexo. A partir dos critèrios dos autores supacitados e da comparação da região com África australe, definida como um subcomplexo, o objetivo da proxima parte do artigo, mostra que existe um subcomplexo regional de segurança na África Ocidental.

2. África Ocidental: um protocomplexo ou um subcomplexo Regional de segurança?

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Na teoria do complexo, subcomplexo ou protocomplexo regional de segurança o nível de análise é localizado entre as unidades individuais (Estados, regiões) e o sistema internacional como um todo. Ou seja, a teoria aposta na existência de sistema de sub-região como objetos de análise de segurança e oferece uma estrutura analítica para tratar destes objetos, tendo o Estado como unidade de analises para falar sobre a política e os setores militares como fórum para a relação de segurança (SÖDERBAUM e SAW, 2010).

Segundo Camargo (2010), no período pós-guerra Fria a analise do sistema global de segurança sofreu alterações devido a assimetrias entre as capacidades dos Estados Unidos, União Européia (EU), Japão, China Rússia e a emergência dos Complexos Regionais de Segurança (CRS) e das potências regionais, como África do Sul Brasil, Índia, China etc. Outro marco do fim do mundo bipolar é a idéia do mundo globalizado, que corroboro para o aumento da literatura regionalista principalmente, depois do genocídio de Ruanda, em 1994, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) passou a elaborar uma agenda de cooperação com instituições regionais (WEISS, 1998). Desde então, os processos de regionalização passam a serem percebidos como provedores de paz e de segurança internacional. Nesta ótica, não se discute o mérito e a contribuição da teoria dos Complexos Regionais de segurança (CRS) desenvolvida por Buzan & Weaver em 2003, que abriu um maior leque de possibilidades de se estudar comparativamente diversas regiões e de se analisar fatos e processos no nível global, regional e local. Além de permitir integração normativa e construção de comunidade de segurança e a possibilidade de analisar regiões com alto grau de conflitividade ou/ e com baixas expectativas de institucionalização como é o caso da África subsaariana em geral e particularmente a África Ocidental que trata essa reflexão.

Na visão de Buzan &Weaver (2003), o Complexo Regional de Segurança (CRS), se define pela existência de padrões duráveis de amizade- inimizade entre grupos de Estados cujas preocupações de securitização (ou de securitização) estão estreitamente interligadas e interdependentes. Isto significa que os problemas de segurança ou de securitização dos Estados não podem ser analisados e resolvidos de maneira separada. Nesta perspectiva, a estrutura básica do CRS, se define pela distribuição de poder entre os Estados (polaridade regional), os padrões de amizades-inimizades entre os atores relevantes, que definem o grau de polarização, as relações de poder com atores externos à região, uma fronteira que

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determine os limites de um complexo em relação a outros, considerando pertencimento exclusivo de cada país a um único complexo e finalmente o complexo deve ser composto por dois ou mais países autônomos (BUZAN& WEAVER, 2003; CEPIK, OLIVEIRA, 2007).

A dinâmica da formação e da estruturação do CRS, nesta ótica é determinada por Estados que tem suas respectivas percepções de securitização ou de segurança como sendo interdependente. Ou seja, quando um dado Estado não pode definir e resolver as questões ligadas a sua segurança de forma individual sem levar em consideração, fatores externos, principalmente ligados aos países visinhos, por isso, a importância do fator geográfico. Os complexos regionais de segurança agrupam Estados geograficamente próximos. Dito com outras palavras, países integrados regionalmente tende a formar complexos regionais de segurança ou pelo menos a fazerem parte de um mesmo CRS, caso ele exista na região. Em suma, no entendimento de Buzan & Weaver, ao formular o conceito de Complexo Regional de Segurança (CRS), é de que a segurança deve ser analisada e interpretada desde ponto de vista pós-positiva, como fruto da internacionalização social de discursos securitizantes por um determinado público. No caso da África subsaariana os países membros da CEDEAO, da SADC, classificados por Buzan e Weaver (2003), como sendo países de um mesmo CRS. Nesta perspectiva, observa-se que no caso da África Ocidental, antes da formação da Comunidade Econômicas dos Estados da África Ocidental, em 1975, havia uma insuficiência na interação destes países em termos de segurança, no entanto a CEDEAO conectou toda a região costeira, da Nigéria ao Mauritânia, alem dos Estados como Mali, Burkina Faço e Níger que são países sem saída no mar (BUZAN & WEAVER, 2003:239).

Mesmo aceitando o argumento de que a existência de organismos regionais não necessariamente configura a presença de um complexo ou subcomplexo Regional de Segurança, entendemos que a classificação da África Ocidental como um protocomplexo é uma contradição ao próprio argumento de Buzan & Weaver (2003). Isto porque, apesar de reconhecerem, que logo após a formação da CEDEAO, a organização se orientou em resolver os problemas político e militar da região e de usar esta organização regional, como critério para caracterizar a dinâmica de segurança da África Ocidental como sendo unipolar. Buzan e Weaver, não admitem a existência de um subcomplexo regional de

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segurança nesta parte do continente, mas em contra partida definem a África austral como sendo um CRS, unipolar liderado pela África do Sul, revelando o que Cepik (2007), qualifica de ausência de critério na classificação dos complexos Regionais de Segurança.

A nova forma de se pensar a segurança, da autoria de Buzan, Weaver e Wilde (1998), que ampliou o conceito de segurança no sentido de que, dado qualquer fato descrito como ameaça à segurança, é necessário perguntar a segurança de quê e para quem, igualmente, reforça a possibilidade de se definir a da África Ocidental como um subcomplexo regional de segurança somente já que nesta ótica, a delimitação se da por meio da observação dos processos de securitização e da sua classificação em agrupamentos regionais. Isto é que, a delimitação das regiões, no ponto de vista da segurança internacional, pressupõe a existência de processo de integração regional, onde se baseia a verificação dos níveis da interdependência securitária.

Desse ponto de vista, partindo do pressuposto de que os processos de integração (econômica e geográfica) regional da África austral e da África ocidental são os mais avançados pelo menos institucionalmente falando, ou mais homogêneos do continente, principalmente se consideraram as questões securitárias, apesar da existência em todos os blocos regionais de múltiplas organizações (ver fig.2). Da mesma forma, do ponto de vista da funcionalidade e de atuação em termos de securitização a CEDEAO e a SADC são na atualidade os representantes da União Africana e de certa forma mesmo da ONU em suas respectivas zonas. Isto, não significa que as outras organizações ou blocos regionais do continente não sejam relevantes nas suas respectivas áreas de atuação para a governança continental e global.

Figura. 2 Blocos econômicos regionais na África “ Spaghetti Bowl”

UMA: União do Magreb Árabe

CEMAC: Comunidade Econômica e Monetária da África Central COMESA: Mercado Comum da África Oriental e Austral

CEEAC: Comunidade Econômica dos Estados da África Central GEPGL: Comunidade Econômica dos países de Grande Lagos IOC: Comissão do Oceano Índico

EAC: Comunidade da África do Este

ECOWAS: Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental SACU: União Aduaneira da África Austral

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As atuações da CEDEAO, nas questões de segurança no continente através das forças do ECOMOG lideradas pela Nigéria é um exemplo concreto da institucionalização da África Ocidental como bloco. Isto não significa que a SADC, liderada pela África do Sul não esteja atuando nas questões de paz e de segurança, no entanto acredita-se que comparando as duas regiões e suas respectivas lideranças, pode se afirmar que da mesma forma que África do Sul, é o pivô do CRS da África austral, Nigéria, pode ser o articulador securitário da África Ocidental visto os importantes papeis assumidos ultimamente na região. Portanto, a teoria de complexo regional de segurança como modelo descritivo, tenta explicar as complexidades das dinâmicas regionais de segurança no mundo pós-guerra fria e da sua importância na configuração da nova ordem mundial, não pode deixar de levar em consideração as realidades locais e regionais. Ou Seja, a teoria não constrói blocos, complexos, sub-complexo ou proto-complexos, mas sim busca entender e explicar os que existem nas diferentes regiões do mundo e no caso da África subsaariana, as dinâmicas de seguranças indicam a existência de mais de um sub-complexo.

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O fim do mundo bipolar possibilitou a construção de laços de cooperação e de confiança na área de segurança dando base para a consolidação dos processos de integração regional em termos de desenvolvimento econômico e social. Desse modo, se ao analisar as questões de segurança e de cooperação na África, julga-se importante levar em consideração fatores históricos e políticos que marcaram o continente principalmente durante o período da bipolaridade, que coincide com uma África do sul marcada pelo regime racista. Ou seja, a atual África do Sul apesar de ser em termos de capacidades, militar, econômica e política superior aos outros países do continente, não deixa de ser um país que surgiu das cinza da guerra fria. Portanto, em 2003 quando Buzan & Weaver publicaram Regions and Powers, África do sul, apenas acabava de integrar a geopolítica africana, principalmente com a criação da União Africana (UA) e do NEPAD, em 2001, além disso, é importante lembrar que no mesmo período, os acordos de paz (2002) em Angola somente tinham um ano de existência, fatos que, do ponto de vista da lógica parece confirmar ou reforçar a tese da inconsistência da classificação feita a respeito o Complexo Regional de Segurança da África subsaariana.

Neste complexo se consideráramos os gastos militares tirando a África do Sul, com um orçamento para 2011, estimado a US$34, 418 milhões, sendo que o orçamento em defesa do país em 2009 foi de US$ 4,35bilhões, Nigéria continua sendo, país que mais investe em segurança (US$ 1, 339 milhões) (Military Balance, 2010). Segundo Wuyi, Edoe (2006), a África do Sul gastou somente 1,4% do seu PIB em segurança enquanto Nigéria gastava (em 2005) 14% de seu PIB. Esse incremento se explica em parte pela preocupação do país tanto por sua segurança interna quanto pelo papel regional da Nigéria em termos de segurança, especialmente no Delta do Níger. Em relação aos países da CEDEAO, em parte as iniciativas de segurança da região, os países da África Ocidental, dependem bastante da liderança nigeriana, devido tanto aos fatores sociais, demográficas, econômicas e militares como mostra a tabela (2) a seguir:

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País

Superf. (Km2)

Pop.(milhões) Forças armadas

Reservistas PIB (U$ bilhões) 2009 Gastos Militare s (U$, milhões Benin 112 620 9,1 4.750 2.500 6, 655 79 Burkina Faso 274 000 15.746232 11200 250 8, 140 123 Cabo Verde 4 033 429474 1200 - 1, 549 8,8 Costa de Marfim 322 463 20617068 10450 10.000 26, 304 360 Gâmbia 11 295 1. 778081 800 - 2,02 26,7 Gana 238 533 23.887812 15500 30,14 264 Guiné 245 857 10.057975 12.300 7000 9,99 5, 020 Guine Bissau 36 544 1.533,964 6 458 2600 0, 836 20,00 Libéria 111 369 3.441 790 2 400 - 3, 958 1,5 Mali 1 240 192 13 443 225 15 150 - 8, 996 180 Mauritânia 1 030 700 1 284 264 3 500 - 6, 030 41 Níger 1 267 000 15 306 252 10 700 - 8, 890 67 Nigéria 923 769 151 900 000 80 000 82 000 173, 004 149 Senegal 197 722 13 711 597 18 620 5 000 12, 821 217 Serra Leoa 71 740 5 132 138 10 500 - 1, 941 11 Togo 56 785 6 031 808 8 550 750 1, 634 67 Fonte: Banco mundial (2009), Military balance (2010)

Pode se perceber nesta tabela que o PIB da Nigéria (US$173, 004 bilhões) é maior que a soma dos PIB do resto dos países da região (US$ 129,904 bilhões), e o orçamento de defesa da Nigéria comparado com os orçamentos dos outros países da região é amplamente superior. Igualmente considerando os orçamentos em defesa, pode se disser que depois da Nigéria temos respectivamente, Gana (US$ 30,14), Costa de Marfim (US$ 26, 30) e Senegal (US$ 12, 82), que gastão mais com defesa. É interessante notar que essa hierarquia pode ser percebida na briga pela liderança regional, desde a independência, portanto, pode se falar da existência de polaridade na região reforçando assim, o argumento do que temos um subcomplexo na África Ocidental.

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No que desrespeite a formação e funcionamento do sub-complexo Regional de Segurança da África Ocidental, essa dependência é de um lado positivo e do outro negativo. No caso do primeiro ponto, é importante notar que a Nigéria assume um papel de liderança devido a suas características de potência regional e tem corroborado come tal, na resolução dos conflitos e restauração da paz (Libéria, Serra Leoa, Guine etc.) tanto com recursos tanto financeiros quanto humanos. A Nigéria lidera as missões de paz dando apoio logístico e operacional nas intervenções militares, feitas na região como, por exemplo, em Serra Leoa, onde 3200 tropas da foram enviados pela Nígeria. Na Libéria, em 2003, a coalizão entre as forças da ONU e as forças da CEDEAO foi liderada pela Nigéria que forneceu 1500 homens. No plano econômico, a participação da Nigéria representa 33% do orçamento anual da CEDEAO e contribui com 32% dos fundos de desenvolvimento da região (JANE´S, 2009). Igualmente, no plano politico, pode se destacar a atuação da Nigéria no plano regional e continental para articular a cooperação intra e entre blocos econômicos da África, como a cooperação entre CEDEAO e a Comunidade Econômica de Desenvolvimento da África Austral (SADC em Inglês). Essa cooperação engloba os setores de segurança (resolução de conflito), comércio, indústria de minas, energéticos e comunicação e informação.

No segundo ponto, é importante admitir que essa dependência da região em relação à Nigéria tem riscos políticos, econômicos e sociais. Entende-se aqui risco politico, os problemas que as possibilidades de não aceitação ou de oposição de outros países da região, principalmente os países francófonos, a liderança nigeriana pode trazer para o sub-complexo, bem que esta oposição pode ser vista como uma questão de amizade-inimizade que é necessário para a configuração dos CRS. De fato essa oposição existe não somente entre Nigéria e países francófonos particularmente, Senegal e Costa de Marfim, mas igualmente entre países francófonos e países de colonização inglesa. Essa rivalidade reflete de certo modo, a relação de poder entre atores internos e externos a região particularmente as grandes (e super) potências como a França e os Estados Unidos da América (EUA). No entanto, segundo Söderbaum (2010), o fim da Guerra Fria foi seguido na África Ocidental pela retração dos interesses de segurança e da ampliação dos interesses econômicos para além dos países francófonos, além dos recentes movimentos dos Estados Unidos da America em busca de aliados entre os produtores de petróleo, a fim de garantir a sua

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segurança energética, devolvendo assim, á África ocidental a importância estratégica pedida com o fim da bipolaridade. No plano econômico e social é fato que a não contribuição da Nigéria nos organismos e das atividades da região terá graves consequências, podendo por em risco a viabilidade do sub-complexo e os problemas socioculturais e políticos que enfrenta a Nigéria (problemas étnicos e religiosos), pode impedir a contribuição ou participação nas atividades regionais. Considerando que essa possibilidade é mínima porque o país vem consolidando sua democracia com organização periódica de eleições livres e transparentes, legitimando assim o poder do Estado, pode se concluir que visto as dinâmicas de integração e de harmonização das políticas, econômicas e securitárias entre os países da África Ocidental.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse artigo buscou discutir o conceito de proto-complexos regional de segurança aplicado à região da África Ocidental por Buzan & Weaver em seu livro Regions and Powers publicado em 2003. A análise mostrou que pelos mesmos critérios de classificação das regiões em complexo, sub-complexo ou proto-complexos, que divisão do complexo regional da segurança da África subsaariana em um sub-complexo (África austral) e um proto-complexos é inconsistente, visto as dinâmicas de segurança e a historia sociopolítica e econômica da região. Além disso, percebeu-se que apesar da África do Sul ter capacidades econômicas, militares e instituições políticas aparentemente consolidadas, superiores aos dos outros países da região, no ponto de vista da segurança, tanto em nível continental quanto regional, a Nigéria tem uma importância provada e se posiciona como um contrapeso relevante. No que desrespeite a integração regional, viu se que da mesma forma que SADC é um ator relevante para a África austral, a CEDEAO também é um ator relevante na África Ocidental, no plano político, sociocultural e principalmente econômico devido à existência de zona monetária comum consolidada (UEMOA), além da articulação em andamento para constituição de uma segunda (ZMAO). Essas duas estruturas foi vistas neste trabalho como símbolos concretos da intrusão das grandes (e super.) potências (França, Inglaterra, e Estados Unidos). Finamente viu-se que atuação militar tanto da Nigéria quanto da África do Sul em suas respectivas regiões e, em nível continental indica a existência de dois sub-complexo e, certamente, até três se considerarmos o papel da Etiópia

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na sua região. Ou seja, considerando os critérios de classificação de Buzan & Weaver, temos na África Ocidental um subcomplexo regional de segurança e não um proto-complexos, como afirmaram os autores em 2003.

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Referências

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