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VEÍCULO DE LANÇAMENTO CYCLONE-4: IMPACTOS NO PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO

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Academic year: 2021

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VEíCULO DE LANçAMENtO CYCLONE-4: IMPACtOS NO PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO

A única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível. Lewis Carroll Augusto Luiz de Castro Otero* Carlos Alberto Gonçalves de Araujo** RESUMO

O segmento Acesso ao Espaço do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) é um instrumento de desenvolvimento econômico e tecnológico, e de fundamental importância para a manutenção da soberania nacional. Neste trabalho, realizou-se uma análise dos investimentos previstos nos projetos do segmento de acesso ao espaço nos últimos vinte anos, com foco no desenvolvimento e industrialização de veículos lançadores nacionais. Dessa forma, aborda a evolução do programa de lançadores nacionais Cruzeiro do Sul e do empreendimento cyclone-4. Analisa e efetua considerações acerca da implementação das políticas e estratégias brasileiras para acesso ao espaço, os acordos entre o Brasil e os Estados Unidos da América e principalmente entre o Brasil e a Ucrânia para o empreendimento cyclone-4 e, finalmente, os impactos no desenvolvimento nos programas nacionais de veículos lançadores. A metodologia adotada comportou uma pesquisa bibliográfica, documental e qualitativa com especialistas envolvidos nas atividades espaciais do nosso país. O campo de estudo delimitou-se aos impactos em investimento e prazo. A conclusão indica que o problema de baixo aporte de recursos nos projetos nacionais de segmento Acesso ao Espaço do PNAE é histórico, mas o advento cyclone-4 causou, indiretamente, redução do investimento e alargamento do prazo para o desenvolvimento e industrialização dos projetos nacionais de lançadores para acesso ao espaço.

Palavras-chave: Veículos lançadores. Cyclone-4. Espaço. Defesa. Soberania. launch Vehicle cyclone -4: impacts on BraZilian space proGram ABStRACt

The Access Space segment of the National Space Activities Program (PNAE) is an instrument of economic and technological development, besides a fundamental ____________________

* Coronel Engenheiro Aeronáutico graduado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Contato: <augustotero@gmail.com>

** Coronel Engenheiro R1, Mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra. Contato: <carlosalberto@esg.br>

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importance for the maintenance of the sovereignty of a nation. This study analyzes some proposed investments in projects of the Access segment, performed in the last twenty years. It has been focused on development and manufacture of the national vehicles launchers, which it discusses the evolution of the vehicle launcher in the both Cruzeiro do Sul and Cyclone-4 projects. They have analyzed some considerations about the implementation of Brazilian policies and strategies in the space access agreements between Brazil and the United States; mainly between Brazil and Ukraine Cyclone-4 project, too. Finally, there are the development and the impact of the vehicles launcher programs. The methodology applied involved a bibliographic, a documentary, and a qualitative research, with experts involved in the space activities in our country. The field of study delimited impacts on investment and time frame involved. The conclusion indicates that the problem of low contributions in resources in the national segment of access to space projects of PNAE is historic, but the Cyclone-4 advent indirectly caused a reduction of investments and an extension in the time frame, for the development and industrialization of national projects for vehicle satellite launchers.

Keywords: Vehicles launchers. Cyclone-4. Space. Defense. Sovereignty.

Vehículo de lanZamiento cyclone- 4 : efectos soBre proGrama espacial BrasileÑo

RESUMEN

El Segmento de Acceso al Espacio del Programa Nacional de las Actividades Espaciales (PNAE) es un instrumento de desarrollo económico y tecnológico, y de fundamental importancia para el mantenimiento de la soberanía nacional. En este trabajo un análisis de las inversiones previstas en el segmento de acceso al proyecto espacial en los últimos veinte años, centrándose en el desarrollo y la fabricación de vehículos de lanzamiento domésticos. En este contexto, se analiza la evolución del programa Cruzeiro do Sul y el proyecto cyclone-4. Analiza y hace consideraciones sobre la implementación de políticas y estrategias para el acceso brasileño al espacio, los acuerdos entre Brasil y los Estados Unidos y sobre todo entre Brasil y Ucrania para el proyecto cyclone-4, y, finalmente, los impactos en el desarrollo los programas de vehículos de lanzamiento nacional. La metodología incluyó una bibliográfico, documental y la investigación cualitativa con expertos que participan en las actividades espaciales de nuestro país. El campo de estudio delimitado a los impactos de capital y plazo. La conclusión indica que la baja contribución del problema de los recursos en el segmento nacional de acceso a los proyectos espaciales de PNAE es histórico, pero el advenimiento del cyclone-4 provocó indirectamente la reducción de la inversión y la ampliación del plazo para el desarrollo y la industrialización de proyectos del lanzadores nacionales para el acceso al espacio.

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1 INtRODUçÃO

No Brasil, pode-se considerar que o marco inicial das atividades na área espacial ocorreu em 03 de agosto de 1961, com a criação do Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (GOCNAE), subordinado ao Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), mais tarde, em 1963, convertido em CNAE, com as mesmas atribuições de coordenar e incentivar as atividades espaciais no país. A sua sede foi construída em uma área marginal ao então Centro Técnico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos, e a maioria de seus recursos humanos era oriunda da Força Aérea Brasileira. A motivação para esta iniciativa foi idêntica à da área aeronáutica no início do século XX: a importância do poder aéreo para a defesa nacional.

Nessa época, o CTA, em cooperação com a National Aeronautics and Space Administration (NASA), agência espacial americana, já trabalhava no desenvolvimento dos foguetes da família SONDA, até o final dos anos 70. Foram projetados e construídos os modelos SONDA I, II, III e IV, todos com tecnologia de propulsão com base em propelente sólido. As especificações do SONDA IV serviram de referência para o domínio das tecnologias imprescindíveis ao futuro desenvolvimento do Veículo Lançador de Satélites (VLS), um engenho espacial projetado para lançar satélites de 100 a 350 kg, em altitudes de 200 a 1000 km (OTERO, 2014).

Em 1965, foi inaugurado o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), localizado em Natal, RN, o qual foi concebido para lançamento e rastreio de foguetes de sondagem.

Em 1971, foi criada a Comissão Brasileira de Atividades Espaciais (COBAE), por meio do Decreto Presidencial no 68.099, com a atribuição de coordenar a execução das metas estabelecidas pela Política Nacional de Desenvolvimento de Atividades Espaciais.

Neste mesmo ano, o Decreto Presidencial no 68.532 extinguiu o CNAE e criou o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), principal órgão civil de execução para o desenvolvimento no campo espacial voltado para a disponibilização de produtos de sensoriamento remoto à comunidade científica, visando à realização de pesquisas e a outras aplicações, em especial nas áreas de recursos naturais, como planejamento urbano, controle de safras, desmatamento, entre outras.

Portanto, percebe-se que uma instituição subordinada ao então Ministério da Aeronáutica, o CTA, preocupava-se com o desenvolvimento de foguetes espaciais, enquanto outra, o INPE, subordinada, na época, ao CNPq, dedicava suas pesquisas às ciências espaciais, vislumbrando, no futuro, a construção de um satélite brasileiro.

Neste contexto, em 1979, a COBAE, identificando um descompasso na condução das atividades espaciais no país, criou um programa governamental denominado Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), com o intuito de

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promover a geração de tecnologia espacial de forma coordenada e com objetivos bem definidos. Este programa contemplava o desenvolvimento de três satélites de coleta de dados ambientais, de dois satélites de imageamento da superfície terrestre, de um veículo lançador compatível com as necessidades, além da infraestrutura terrestre requerida para as missões espaciais, enfim, incluir o Brasil no seleto grupo de países com capacidade de acesso ao espaço.

Aproveitando as suas capacidades, coube ao INPE concentrar seus esforços em pesquisas com foco no desenvolvimento de satélites artificiais e ao então Instituto de Atividades Espaciais (IAE), subordinado ao CTA, a construção do Veículo Lançador de Satélites (VLS) e escolher um novo local para a implantação de um centro de lançamento em condições de atender a missões de grande porte, haja vista que a mancha urbana da cidade de Natal, tinha avançado em direção ao CLBI, impedindo a sua expansão para um centro capaz de realizar lançamentos orbitais (SILVA FILHO, 1999).

Em 1983, a partir de uma análise criteriosa, foi selecionada uma área de aproximadamente 620 km2, no Maranhão, para a construção do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).

Em 1987, foi criado, no âmbito do grupo dos sete países mais industrializados e desenvolvidos economicamente do mundo, também conhecido por G-7, o Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR), a fim de conter a disseminação dos sistemas de armas capazes de transportar engenhos nucleares, com alcance superior a 300 km. Neste contexto, o Brasil era pressionado para que aderisse ao MTCR, pois existia uma preocupação com o desenvolvimento do VLS utilizando propelente sólido, mais apropriado para aplicação em foguetes intercontinentais.

Neste cenário, em substituição ao COBAE, foi criada a Agência Espacial Brasileira (AEB), uma autarquia do governo brasileiro, por meio da Lei no 8.854, de 10 de novembro de 1994, subordinada inicialmente à presidência da República e, posteriormente, em 1996, transferida ao então Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), com a atribuição de coordenar o Programa Espacial Brasileiro (PEB). A AEB recebeu primordialmente a incumbência de elaborar e coordenar a execução do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE). Este programa define as metas do Programa Espacial Brasileiro com previsão de atualização, em princípio, a cada dez anos, podendo ser modificado quando necessário.

Em 1996, foi instituído pelo Decreto no 1.953, o Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (SINDAE), que possui como órgão central a AEB e como órgãos executores, o CTA, o INPE, a base industrial e as universidades, para a capacitação dos recursos humanos.

Em 2003, o Brasil estabeleceu com a Ucrânia o Tratado sobre Cooperação de Longo Prazo na Utilização do Veículo de Lançamento cyclone-4, a partir do Complexo de Lançamento de Alcântara (CLA). Este tratado suscitou calorosas discussões na comunidade espacial brasileira. Assim, coube indagar: Quais os impactos em

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investimento e prazo no desenvolvimento e industrialização de veículos lançadores nacionais advindos da adoção do Veículo de Lançamento cyclone-4 no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE 2012-2021)?

Para responder a essa indagação, este trabalho buscou identificar em que medida a introdução do Veículo de Lançamento cyclone-4 no Segmento Acesso ao Espaço – Veículos Lançadores – do PNAE impactou o investimento e os prazos para o desenvolvimento e industrialização de veículos lançadores nacionais, a partir do exame da documentação disponível, bem como na consulta realizada com especialistas da comunidade espacial brasileira.

Cabe ressaltar que, na análise do ambiente internacional, a Política Nacional de Defesa (PND), documento de mais alto nível do planejamento das ações destinadas à defesa nacional, identifica possível intensificação de disputas pelo domínio aeroespacial, e que tal questão pode levar a ingerências em assuntos internos ou a disputas por espaços não sujeitos à soberania dos Estados, configurando quadros de conflito. Portanto, o desenvolvimento e a autonomia nacionais no setor espacial é um dos objetivos setoriais prioritários e devem ser alcançados e fortalecidos.

2 PROGRAMA NACIONAL DE AtIVIDADES ESPACIAIS (PNAE)

A partir de 1996, o PNAE é o principal instrumento de planejamento e programação da Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais, com previsão de atualização a cada dez anos ou quando houver necessidade.

A terceira revisão do PNAE, de 2005 a 2014, orientou-se por algumas diretrizes entre as quais, cabe destacar: a capacitação no domínio da tecnologia espacial, que, em seu ciclo completo, abrange centros de lançamento, veículos lançadores, satélites e cargas úteis; não aportarão no país tecnologias estratégicas por deferência de terceiros, portanto há que se desenvolvê-las com recursos próprios, em grande e integrado esforço.

O Programa identificava como grandes prioridades para o decênio a continuação do desenvolvimento do Veículo Lançador de Satélites e seus sucessores, com incremento da participação industrial, e da infraestrutura de lançamento, incluindo o Centro de Lançamento de Alcântara; a promoção da comercialização dos meios de acesso ao espaço, pela implantação da infraestrutura geral do Complexo Espacial de Alcântara (CEA), entre outras. Considerava que a construção de veículos lançadores não apenas garante a autonomia para o acesso ao espaço, mas possibilita, também, a exploração comercial de serviços de lançamento.

O Programa estabelecia, ainda, que o avanço de tecnologia com o uso de combustível líquido iria permitir o desenvolvimento de lançadores de médio e

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grande porte, visando à órbita geoestacionária. Paralelamente, esperava-se que a contratação na indústria nacional de sistemas e subsistemas de lançadores e a exploração comercial de serviços de lançamento propiciassem a geração de empregos qualificados e o surgimento de desdobramentos, ou spin-offs1, da tecnologia espacial em outras áreas de atividade econômica.

Os valores orçamentários previstos para o programa de Acesso ao Espaço, no período decenal 2005-2014, são de 1.253,6 milhões de reais, distribuídos conforme o gráfico 1.

gráfico 1 – recursos do programa de Acesso ao espaço

Fonte: PNAE 2005-2014(previsto). IAE/DCTA, 2014. (alocado).

Entretanto, com o surgimento de novas metas e objetivos, houve a necessidade da atualização do PNAE, que culminou com a elaboração da quarta versão, que cobre o período de 2012 a 2021, em que podem ser destacadas algumas diretrizes estratégicas, tais como: consolidar a indústria espacial brasileira; desenvolver intenso programa de tecnologias críticas; ampliar as parcerias com outros países; estimular o financiamento de programas calcados em parcerias públicas e/ou privadas; promover maior integração do sistema de governança das atividades espaciais no país; promover a conscientização da opinião pública sobre a relevância do estudo, do uso e do desenvolvimento do setor espacial brasileiro, entre outras. 1 A utilização de um conhecimento já adquirido para aplicar no desenvolvimento de um novo

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O Programa destaca a necessidade de desenvolver projetos estruturantes e mobilizadores para superar as barreiras que nos impedem de ter acesso ao conhecimento e à comercialização de importantes tecnologias espaciais, particularmente a de veículos lançadores e satélites. Há que se dominar tecnologias críticas que sejam difíceis de obter no mercado mundial e indispensáveis para o cumprimento das missões demandadas pelo país.

O PNAE 2012-2021 antevê alguns projetos, em que se destacam: os satélites de Observação da Terra, o Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas e o de Meteorologia; foguetes suborbitais e plataformas de reentrada; veículos lançadores baseados no Programa Cruzeiro do Sul; infraestrutura de lançamento para acesso ao espaço2 e serviços de lançamento comerciais (Acordo Brasil-Ucrânia).

O Programa ressalta a importância de parcerias com outros países, pois elas facilitam e incrementam os investimentos, dividem custos e riscos, aumentam a quantidade de projetos, impulsionam a abertura de novos mercados, dinamizam a indústria e lhe dão sustentabilidade, ampliam a segurança e a confiabilidade dos produtos e serviços e resolvem problemas regionais e globais. Todavia, apresentam efeitos colaterais, tais como, embargos para aquisição de componentes no mercado internacional (AGÊNCIA..., 2012).

Entre os acordos atuais destacam-se o realizado com a Alemanha, nos projetos do Satélite de Reentrada Atmosférica (SARA) e do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM); com a Argentina, nos projetos do satélite Sabia-Mar e Plataforma Multi-Missão (PMM) 3, com a Rússia, no projeto do Veículo Lançador de Satélites (VLS-1), com a China, com o Satélite de Observação da Terra, e com a Ucrânia, para lançamentos comerciais do veículo ucraniano cyclone-4 a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, entre outros (AGÊNCIA..., 2012).

Para concretizar todas as propostas previstas neste PNAE, é necessário dispor de recursos da ordem de R$ 9,1 bilhões, sendo 47% destinados aos projetos de missões satelitais, 17% para projetos de acesso ao espaço, 26% para a infraestrutura espacial e 10% para outros projetos especiais e complementares (AGÊNCIA..., 2012).

3 O prOgrAmA cruzeirO dO sul

Em 24 de outubro de 2005, foi proposto o Programa Cruzeiro do Sul (PCS), que seria conduzido pelo DCTA e AEB em parceria com a Rússia, cujo 2 Complexo Espacial de Alcântara (CEA).

3 Arquitetura de satélites desenvolvida pelo INPE, que reúne em uma única estrutura todos os recursos necessários a sua manutenção e operação no espaço.

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início ocorreu com a revisão técnica do projeto VLS-1. Seriam desenvolvidos cinco novos foguetes lançadores até 2022, a um custo inicial estimado de US$ 700 milhões.

O PCS representaria a autonomia do Brasil em tecnologia de lançadores e a possibilidade de colocar as indústrias brasileiras em condições de concorrer no mercado internacional de lançadores, gerando receita e empregos de alto nível.

O nome Cruzeiro do Sul foi uma referência à constelação de cinco estrelas. Originalmente, cada uma delas daria o nome a um foguete lançador: ALFA, BETA, GAMA, DELTA e EPSILON.

Após uma revisão, o Programa Cruzeiro do Sul é ainda uma família de cinco lançadores, porém até a versão BETA. São eles o VLM, o ALFA1 e 2, e o VLS-BETA1 e 2. Diversos países participam de parcerias nos projetos do atual PCS (PANTOJA, 2011).

O VLM será um foguete destinado ao lançamento de cargas úteis especiais ou microssatélites de até 150 kg em órbitas equatoriais e polares, com três estágios a propelente sólido na sua configuração básica. Outras configurações empregarão um quarto estágio em propelente sólido ou propelente líquido, e uma versão triestágio com motor de apogeu em propelente líquido. Neste projeto há uma parceria com a Alemanha e com a Suécia.

O VLS-ALFA1 será constituído pela parte baixa do VLS-1, como primeiro e segundo estágios, e por um propulsor a propelente líquido de 7,5 t de empuxo, como terceiro estágio. O VLS-ALFA1 permitirá a colocação de satélites de massas superiores a 400 kg em órbitas equatoriais de 400 km, ou 250 kg em órbita equatorial de 750 km.

O VLS-ALFA2 utilizará um propulsor a propelente sólido de cerca de 50 t de propelente, como primeiro estágio, e um propulsor a propelente líquido de 7,5 t de empuxo, como segundo estágio. Neste projeto há uma parceria com a Itália e a com Rússia.

O VLS-BETA1 utilizará um propulsor a propelente sólido de cerca de 50 t de propelente, como primeiro estágio, um propulsor a propelente sólido de cerca de 23 t de propelente, como segundo estágio, e um propulsor a propelente líquido de 7,5 t de empuxo, como terceiro estágio. Neste projeto, há uma parceria com a Itália e com a Rússia.

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O VLS-BETA2 utilizará um propulsor a propelente sólido de cerca de 50 t de propelente, como primeiro estágio, um propulsor a propelente líquido de 30 t de empuxo, como segundo, e um propulsor a propelente líquido de 7,5 t, como terceiro estágio. Neste projeto, há uma parceria com a Itália e com a Rússia. O VLS-BETA2 terá capacidade para atender às missões de transporte de 800 kg para órbitas equatoriais de até 800 km de altitude, ou satélites de até 550 kg para órbitas heliosincronas.

Figura 1 - Programa Cruzeiro do Sul

Fonte: OTERO, 2014.

Embora não faça parte do PCS, o VLS-1 continua a ser desenvolvido. É composto por quatro estágios de propulsão sólida e está enquadrado na classe dos lançadores de pequeno porte. O seu lançamento está previsto para meados de 2016. Os recursos disponibilizados para o seu desenvolvimento podem ser visto no quadro a seguir.

Quadro 1 – Recursos para desenvolvimento do VLS-1

Ano 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Alocado

(r$ milhões) 22,4 28 26,1 24,7 31,7 31,4 16,2 15,6 15,6 15,6

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Quadro 2 - Orçamento para Acesso ao espaço (r$milhões) Acesso ao Espaço 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 total Suborbitais Previsto 19,2 19,2 30,2 9,2 20,2 9,2 20,2 9,2 20,2 9,2 166,0 Alocado 3,5 2,6 2,6 4,3 VLS-1 Previsto 62,5 45,7 35,4 11,5 0 0 0 0 0 0 155,1 Alocado 15,6 15,6 15,6 5,5 VLM-1 Previsto 10 25 25 20 20 15 0 0 0 0 115,0 Alocado 10,3 9,3 10 30 VLS-ALFA Previsto 2,0 19 33 98 130 120 40 0 0 0 442,0 Alocado 0,05 0,05 N.D VLS-BEtA Previsto 0,5 3,5 56 68 82 150 120 130 90 0 700,0 Alocado 0 0 N.D.

Fonte: Previsto - PNAE 2012-2021. Alocado no site AEB/Programa Espacial Brasileiro/ Investimentos.

Percebe-se nitidamente até os dias atuais (2015) uma falta de prioridade, em especial, nos lançadores pertencentes ao Programa Cruzeiro do Sul.

Embora não faça parte do PCS, cabe ressaltar o sucesso alcançado pelo Brasil com o lançamento, em setembro de 2014, do veículo de sondagem VS-30, levando como experimento o motor L54, o primeiro com propelente líquido desenvolvido nacionalmente, a base de etanol e de oxigênio líquido, que aumenta, principalmente, os critérios de segurança no manuseio, simplifica o projeto e minimiza os impactos ao meio ambiente (CASTRO, 2014).

4 A utilizAçãO dO cAmpO de lAnçAmentO de AlcÂntArA (clA)

O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) está situado nos arredores da cidade de Alcântara, próximo ao município de São Luís, capital do estado do Maranhão.

A sua posição geográfica privilegiada proporciona uma série de vantagens para lançamento de engenhos espaciais, tais como a baixa densidade demográfica, proximidade do litoral e principalmente a localização, 20 18’ ao sul do Equador, que possibilita uma economia de até 30% de combustível em função do máximo aproveitamento da rotação da Terra para impulsionar os lançamentos nas órbitas equatoriais, em comparação com os serviços equivalentes prestados pelos principais centros espaciais no mundo.

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Além de todos os recursos necessários em um centro de lançamento, está prevista ainda a construção de um porto marítimo e um aeroporto que serão interligados visando à entrega de cargas de grandes dimensões. O porto marítimo e o aeroporto serão utilizados para o recebimento, descarga, armazenagem temporária e serviços de segurança para os componentes do lançador, propelente, equipamentos, entre outros.

Este local com características geográficas singulares e a potencialidade para negócios relativos a lançamentos comerciais despertou rapidamente o interesse de diversos países para o seu emprego, destacam-se notadamente os Estados Unidos da America (EUA) e a Ucrânia.

4.1 O Acordo com os EUA

Em 1996, o Brasil acabou cedendo à pressão internacional e aderiu ao Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR)5, todavia as dificuldades para o acesso às tecnologias sensíveis necessárias à conquista de metas do seu programa espacial continuaram, pois os Estados Unidos também condicionavam o fornecimento destas tecnologias, com a celebração de um Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST). O AST tem a finalidade de blindar a transferência de tecnologias, em especial para a China e para a Rússia, principais concorrentes dos EUA na exploração espacial, e com negócios com o governo brasileiro no segmento espacial, além de estabelecer normas para a concessão de uma área no interior do CLA para uso exclusivo dos norte-americanos6.

Este acordo foi assinado em 18 de abril de 2000, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, entretanto nunca foi ratificado no Congresso Nacional, que considerou excessivas as restrições estabelecidas pelo governo americano, comprometendo a nossa soberania nacional. A seguir, verificam-se algumas propostas deste acordo.

No item 3 do Artigo IV, verifica-se que cabe aos:

[...] norte-americanos, a manutenção do controle sobre os veículos de lançamento, espaçonaves, equipamentos afins, dados técnicos e, ao Brasil, a destinação de áreas restritas para o processamento, montagem, conexão e lançamento dos veículos e espaçonaves por licenciados norte-americanos. (BRASIL, 2000).

5 Associação criada em 1987 pelos países pertencentes ao G-7, e visa à não proliferação de sistemas de armas de destruíção em massa (nucleares, químicas e biológicas).

6 Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América sobre Salvaguardas Tecnológicas relacionadas à participação dos Estados Unidos da América nos lançamentos a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, 18 de abril de 2000.

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Pode-se destacar, também, a obrigação do governo norte-americano de elaborar um Plano de Controle de Tecnologias que discorra sobre “as medidas de segurança a serem implementadas durante as Atividades de Lançamento, inclusive em situações de emergência.” (BRASIL, 2000, p. 6).

Na Alínea B, do item 1, do artigo VII, diz que:

[...] os bens destinados à operação de lançamento serão acondicionados em contêineres lacrados, os quais não serão abertos para inspeção enquanto estiverem no território brasileiro, estando o Governo dos Estados Unidos: obrigado a fornecer às autoridades brasileiras a competente relação. (BRASIL, 2000, p. 9).

Cabe frisar ainda que todos os procedimentos adotados para a utilização do CLA estarão submetidos às normas estabelecidas pela Instrução Normativa SRF nº 29, de 15 de março de 2001, que dispõe sobre a aplicação do regime aduaneiro de admissão temporária aos bens destinados às atividades de lançamento de satélites no CLA.

Naturalmente, a exigência que mais incomodava os críticos do AST é que, em algumas áreas no CLA, os brasileiros somente teriam acesso com a autorização de americanos e que os recursos financeiros oriundos dos lançamentos não poderiam ser utilizados no programa de desenvolvimento de veículos espaciais.

4.2 O Acordo com a Ucrânia

Com a assunção ao governo brasileiro em 2003, pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as negociações com os Estados Unidos foram congeladas, entretanto a ideia de angariar benefícios com a inclusão do CLA em uma parceria internacional não foi descartada.

Depois de uma série de negociações com o governo da Ucrânia, desde meados da década de 1990, o Brasil concretizou, em 2003, o Tratado sobre Cooperação de Longo Prazo na Utilização do Veículo de Lançamentos cyclone-47, no Centro de Lançamento de Alcântara. Segundo esse Tratado, coube ao Brasil disponibilizar a infraestrutura do Centro de Lançamento de Alcântara necessária para o lançamento do cyclone-4, um veículo lançador de satélites desenvolvido pelo governo ucraniano.

Para coordenar as atividades previstas nesse Tratado, foi criada, em 2006, a 7 Tratado comercial realizado entre Brasil e Ucrânia, para a utilização de uma área no município de

Alcântara, no Maranhão, para emprego do Veículo de Lançamento Cyclone-4, e possíveis versões melhoradas, desenvolvidas e fabricadas na Ucrânia, sob o controle da Agência Espacial Nacional da Ucrânia.

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Alcântara Cyclone Space (ACS), uma empresa binacional com o aval dos governos brasileiro e ucraniano.

Conforme o Artigo 9 do Tratado de Longo Prazo, a ACS tem uma série de privilégios alfandegários relativos ao trânsito de equipamentos e materiais envolvidos no processo, assim como no artigo 3 que assegura à ACS “o direito exclusivo de usar o Sitio de lançamento durante o prazo de vigência do presente Tratado”. (BRASIL, 2005)

Analisando os acordos com os EUA e com a Ucrânia, verificam-se alguns pontos em comum, como negar a transferência de tecnologia nos processos envolvidos com o lançamento do veículo espacial e disponibilizar uma área exclusiva para os serviços de lançamento tanto do americano quanto do ucraniano. No caso da parceria com a Ucrânia, os recursos advindos dos serviços, que variam de 25 a 50 mil dólares por lançamento, em princípio devem ser utilizados pela ACS para a manutenção do sítio, indenização pela ocupação da área, seguro, contratação dos lançadores ucranianos e outros custos relacionados com os serviços prestados. Enfim, em nenhum dos acordos, EUA ou Ucrânia, os recursos financeiros poderão ser utilizados para o desenvolvimento dos veículos nacionais pertencentes ao programa de Acesso ao Espaço, podendo ser, inclusive, concorrentes na obtenção de recursos junto ao governo federal durante essa década, como pode ser verificado a seguir.

4.2.1 Alcântara Cyclone Space (ACS)

A Alcântara Cyclone Space (ACS), vinculada às agências espaciais do Brasil e da Ucrânia, foi criada para o desenvolvimento e operação do sítio de Lançamento do foguete cyclone-4, a partir do CLA para a exploração comercial de atividades espaciais.

O plano inicial seria a construção de uma plataforma de lançamento, em uma área de 543 hectares à margem do CLA, entretanto foi abandonado após uma série de entraves da AEB com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) 8 e Ministério Público, que representavam os interesses da comunidade quilombolas na região de Alcântara. Após uma série de questionamentos por parte do governo ucraniano, a solução encontrada pela AEB foi de transferir o projeto para o interior do CLA, onde passaria a ocupar uma área de 450 hectares.

O ACS possuía uma previsão de capital social inicial de U$ 498 milhões divididos em partes iguais entre os dois países, cabendo à parte brasileira R$ 459,8 milhões, que foram inseridos no PNAE em 2012, muito embora a partir de 2008, conforme o gráfico 2, foi disponibilizado pelo governo federal o montante de R$ 393,7 milhões, em detrimento aos recursos previstos para o Programa Cruzeiro do Sul, no período de 2008 a 2012.

8 Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) do INCRA, publicado no Diário Oficial da União de 04/11/2008, Seção 3, p.110. Destina 86% da penísula de Alcântara em território quilombola.

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gráfico 2 – previsão de recursos para a Acs

Fonte: PNAE 2012-2021.

Além dos recursos oriundos do PNAE, também acordos foram firmados para um aumento de capital de aproximadamente U$ 422 milhões a partir de 2008, sendo que a parte que coube ao Brasil pode ser constatada no quadro 3:

Quadro 3 - Aumento de Capital da ACS (R$)

Data Capital/Aumento (R$) 27/05/2008 53.239.013,00 02/10/2008 20.800.000,00 03/03/2009 100.000.000,00 04/09/2009 139.199.220,00 23/06/2010 100.000.000,00 07/11/2011 100.000.000,00 04/07/2012 135.000.000,00 28/05/2013 33.333.334,00 23/08/2013 66.666.666,00

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Os valores disponibilizados no PNAE correspondem a aproximadamente 85% do previsto, muito embora os recursos financeiros adicionados para o aumento de capital da empresa tenham completado os 100% correspondente à parte brasileira. Em 2014, a ACS possui um capital social de U$ 920 milhões.

4.2.2.1 O cyclone-4

O cyclone-4 é um lançador de porte médio, sendo o primeiro projetado e desenvolvido pelas empresas ucranianas Yuzhnoye e Yuzhmash para a binacional ACS, que terá a exclusividade na prestação dos serviços de lançamentos de satélites a partir do CLA.

Este engenho espacial é o membro mais recente, por volta de 2013 e 2014 da vitoriosa família cyclone com um histórico de 97% de sucesso entre 227 lançamentos já realizados e com possibilidade de lançar múltiplas cargas úteis em diferentes órbitas. Como foi desenvolvido a partir de seu antecessor, o cyclone 3, conhecido por sua eficiência, espera-se que o cyclone-4 atinja ainda um melhor grau de confiabilidade.

O foguete de 40 metros de comprimento, três metros de diâmetro e coifa com quatro metros de largura, é composto de estágios, mais a unidade de carga útil, e terá a capacidade de colocar satélites de grande porte em torno de 5.300 kg, em órbita terrestre baixa de até 500 km de altitude, ou satélites de médio porte de até 1600 kg, em uma órbita geoestacionária ou 3.800 kg em órbita heliossíncrona, isto é, órbitas projetadas para que seja sempre dia, quando o satélite sobrevoa o ponto de interesse. Utilizará, ainda, motores movidos a combustível líquido a base de hidrazina9.

Após a apresentação dos principais projetos do programa Cruzeiro do Sul e do empreendimento cyclone-4, é possível analisar os efeitos causados pela introdução do foguete ucraniano cyclone-4 no Programa de Acesso ao Espaço do PNAE sobre os nacionais, em termos de investimento e prazo.

5 OS EFEItOS DA ADOçÃO DO VLC-4 NO PNAE

Inicialmente a proposta para a utilização do foguete ucraniano cyclone- 4 teve como objetivo a prestação de serviços de lançamentos de satélites a partir do CLA, com o intuito de adquirir capacidade para construção de foguetes de grande porte para colocação em órbitas geoestacionárias, transferir tecnologias, desenvolver a indústria nacional no setor aeroespacial, entre outras metas.

Entretanto, o empreendimento desde o início sofreu uma série de contestações com relação aos benefícios para o Brasil. Liderando o bloco dos defensores, temos 9 A hidrazina requer rigoroso cuidado de manuseio e operação, pois é extremamente tóxica.

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o professor Roberto Amaral, ex-ministro do MCTI e ex-presidente da ACS, quando afirma que “a parceria Brasil-Ucrânia representa novas oportunidades para nossos cientistas e para todo o país”. (AMARAL, 2011).

Todavia, não comungam da mesma opinião alguns representantes da comunidade científica envolvidos nas atividades espaciais no Brasil (OTERO, 2014).

De acordo com estes especialistas10, o empreendimento cyclone-4, segundo os termos definidos no Tratado Brasil-Ucrância, bem como pelas condições das atividades em andamento, não representa “novas oportunidades para nossos cientistas e para todo o país” (OTERO, 2014), inclusive não haverá repasse ou desenvolvimento conjunto de tecnologias para o desenvolvimento do veículo lançador, pois o projeto foi concebido e executado exclusivamente por empresas ucranianas. Portanto, do ponto de vista da pesquisa, desenvolvimento, projeto e industrialização, a contribuição é insignificante, entretanto há áreas onde uma parceria com a ACS poderia servir de embrião para futuros programas de cooperação. Muito embora, em função da falta de recursos humanos, bem como a tecnologia utilizada no desenvolvimento do cyclone-4, inclusive a utilização da hidrazina como propelente líquido, não despertaram o interesse da comunidade científica brasileira em participar do projeto. (OTERO, 2014).

Verifica-se, ainda, que os recursos históricos para o Programa de Acesso ao Espaço são muito aquém dos necessários para o seu desenvolvimento, pois se situam entre 25 e 32 milhões de reais por ano, para o VLS-1 e VLM, por exemplo. De 2008 a 2013, o VLS-1 recebeu R$ 150,8 milhões, e o VLM, R$ 19,6 milhões, que significa 39% e 18%, respectivamente, do previsto. Entretanto, para o cyclone-4, até 2014, foi destinada a quantia de R$ 374,1 milhões, que deverão ser acrescidos de mais de R$ 500 milhões em função do aumento do capital da ACS. Portanto, do valor constante no PNAE (R$ 459,8 milhões) foram alocados 81% do previsto. Neste contexto, verifica-se a disposição em privilegiar o empreendimento cyclone-4, conforme planejado no PNAE, em detrimento aos projetos nacionais. Ainda, de acordo com os especialistas entrevistados (OTERO, 2014), a adoção do empreendimento cyclone-4 pelo PNAE 2012-2021 desestimulará o investimento em projetos nacionais de lançadores a propelente líquido de médio e grande portes. 10 Mario NIWA possui graduação em Engenharia Mecânica pelo Instituto Tecnológico de

Aeronáutica (ITA), mestrado e doutorado em Engenharia Aeroespacial pela Universidade de Tóquio;

Christian Giorgio Roberto Taranti possui graduação em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e doutorado em Electrical Engineering pela Naval Postgraduate School;

Venâncio Alvarenga Gomes possui graduação em Engenharia Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e mestrado em Ciências Aeroespaciais pela Universidade da Força Aérea (UNIFA);

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Assim, pode-se deduzir que o advento cyclone-4 causou, indiretamente, redução dos investimentos nos projetos nacionais, pois os recursos direcionados para o projeto ucraniano poderiam ter sido canalizados para os lançadores brasileiros.

Conforme verificado no PNAE 2005-2014, o lançamento do VLS-1, nas diversas versões prototípicas, vem sendo adiado desde 2007. Com a edição da última versão do PNAE de 2012 a 2021, a nova data para a satelitização do VLS-1 passou a ser 2018, isto é, um atraso de 11 anos.

Embora não se possa correlacionar diretamente ao empreendimento cyclone-4, cuja previsão de lançamento é 2016, sabe-se que, segundo a teoria de gerenciamento de projetos (PERRELLI, 2015), existem três restrições básicas como critério crítico para o sucesso de uma gestão, que são: escopo, custo e prazo. A alteração em qualquer destes parâmetros acarreta, inexoravelmente, alteração nos demais, consequentemente, a qualidade do projeto será comprometida. No caso do Programa de Acesso ao Espaço, o descompasso entre o valor necessário para o desenvolvimento com o valor alocado, provavelmente foi uma das principais causas no atraso do cronograma estabelecido (OTERO, 2014).

Outra consequência não desejável com o empreendimento cyclone-4, segundo os especialistas entrevistados, diz respeito a um provável retardo no desenvolvimento de projetos nacionais de lançadores a propelente líquido de médio e grande porte (OTERO, 2014).

6 CONSIDERAçõES FINAIS

Os projetos de lançadores nacionais do Programa Espacial Brasileiro subsistem apesar das imensas dificuldades tecnológicas enfrentadas pelos pesquisadores, das promessas e discussões políticas e das restrições financeiras impostas pelo governo federal.

É provável que a pouca prioridade destinada ao Programa Espacial Brasileiro seja causada pela falta de conexão com os problemas sociais e as dificuldades no campo econômico que o país atravessa, muito embora esteja relatado, em vários documentos de política e estratégia, em especial na Estratégia Nacional de Defesa (END, 2008), que o domínio da tecnologia para construção de veículos lançadores é uma das prioridades estabelecidas para o setor espacial e fundamental para atender às aspirações de conquista da soberania neste campo. Por outro lado, constata-se que os recursos para o projeto em parceria com a Ucrânia para a exploração comercial do Campo de Lançamento de Alcântara, inicialmente de U$ 498 milhões, adquiriu um reajuste na ordem de 90% de recursos financeiros. Especialistas argumentam que este acordo não é vantajoso para o Brasil porque não permite que o país tenha acesso às tecnologias espaciais associadas ao empreendimento cyclone-4, de forma proporcional à sua participação financeira.

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Analogamente, de forma indireta, o privilégio, em termos percentuais de alocação de recursos do cyclone-4, em detrimento dos projetos nacionais, foi responsável também pelos atrasos verificados desde 2007, pois as verbas destinadas para o projeto ucraniano poderiam ter sido canalizadas para os empreendimentos nacionais constantes no Programa Cruzeiro do Sul e os prazos menos alargados que os verificados atualmente.

Finalmente, cabe frisar que o acesso só é garantido àqueles que empreendem esforços próprios, independentes ou em parcerias estratégicas para desenvolver e empregar o conhecimento científico e tecnológico no longo prazo. O esforço para capacitação tecnológica e industrial tem como estratégia os contratos de licenciamento e os acordos de cooperação, a partir dos quais foram e ainda são perseguidas as condições de autonomia (LUZ, 2010).

REFERÊNCIAS

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AMARAL, Roberto. ciência, tecnologia e soberania nacional: dificuldade para a construção de um projeto nacional. Brasília, DF: Senado Federal. Subsecretaria de Edições Técnicas, 2011.

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______. Decreto nº 5436, de 28 de abril de 2005. Promulga o Tratado entre a República Federativa do Brasil e a Ucrânia sobre cooperação de longo prazo na utilização do Veículo de Lançamentos Cyclone-4 no Centro de Lançamento de Alcântara. Assinado em Brasília, em 21 de outubro de 2003. Diário Oficial [da] República Federativa, Brasília, DF, 29 abr. 2005a. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5436.htm>. Acesso em: 09 jun. 2014.

______. Decreto nº 7041, de 22 de dezembro de 2009. Promulga o acordo de entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da Ucrânia sobre cooperação científica e tecnológica. Diário Oficial [da] República Federativa, Brasília, DF, 23 dez. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br /ccivil_03/_ Ato2007-2010/2009/Decreto/D7041.htm>. Acesso em: 09 jun. 2014.

(19)

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República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América sobre Salvaguardas Tecnológicas relacionadas à participação dos Estados Unidos da América nos lançamentos a partir do Centro de Lançamento de Alcântara. Brasília, DF, 2000.

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Imagem

gráfico 1 – recursos do programa de Acesso ao espaço
Figura 1 - Programa Cruzeiro do Sul
gráfico 2 – previsão de recursos para a Acs

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