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Empreendedorismo no Brasil: resultados das políticas públicas para pequenos negócios / Entrepreneurship in Brazil: results of public policies for small businesses

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761

Empreendedorismo no Brasil: resultados das políticas públicas para pequenos

negócios

Entrepreneurship in Brazil: results of public policies for small businesses

DOI:10.34117/bjdv6n11-005

Recebimento dos originais: 03/10/2020 Aceitação para publicação: 03/11/2020

Igor Montenegro Celestino Otto

Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (1992), pós-graduado MBA em Gestão de Negócios, Controladoria e Finanças Corporativas pelo Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG (2019), discente do Mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial da

Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Goiânia. Goiás. Brasil E-mail: igormcotto@gmail.com

Jeferson de Castro Vieira

Graduado em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (1982), mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás (1996) e doutor em Estudos Comparados Sobre as

Américas pela Universidade de Brasília (2001). É professor titular da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Goiânia. Goiás. Brasil

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761

RESUMO

O presente estudo analisou as políticas públicas que visam simplificar e favorecer o empreendedorismo dos pequenos negócios no Brasil, editadas entre os anos 1984 a 2019, e seus impactos formais, através do cruzamento de dados dos principais indicadores socioeconômicos do período. A busca foi por compreender o real impacto dessas políticas públicas através da identificação dos resultados gerados; propor possíveis novas estratégias para melhorar desenvolvimento socioeconômico brasileiro e por fim situar o ambiente pátrio ante as práticas contemporâneas de desenvolvimento socioeconômico por meio do empreendedorismo. Constatou-se que, apesar de se notar avanços na estruturação legal e institucional, o Brasil ainda tem muito a fazer no que tange ao fomento ao empreendedorismo.

Palavras-Chave: Empreendedorismo, Pequenos negócios, Políticas públicas.

ABSTRACT

The present study analyzed public policies aimed at simplifying and favoring small business entrepreneurship in Brazil, published between 1984 and 2019, and their formal impacts, by crossing data from the main socioeconomic indicators of the period. The search was to understand the real impact of these public policies by identifying the results generated; to propose possible new strategies to improve Brazilian socioeconomic development and, finally, to situate the home environment before contemporary practices of socioeconomic development through entrepreneurship. It was found that, despite advances in legal and institutional structuring, Brazil still has a lot to do when it comes to promoting entrepreneurship.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761

1 INTRODUÇÃO

No período de 1984 a 2019, oito dos nove governos brasileiros instituíram políticas públicas e legislações com o objetivo de fomentar o empreendedorismo no país. Todas elas tendiam a garantir tratamento diferenciado, simplificado e favorecido aos pequenos negócios. Implementadas nos campos: administrativo, tributário, trabalhista, previdenciário, de acessos ao crédito, ao mercado e ao desenvolvimento empresarial, de estímulo à inovação tecnológica ou técnica e ao acesso à justiça. Por meio dessas políticas públicas foram criadas diversas novas categorias jurídicas para os pequenos negócios, como o MEI (Microempreendedor Individual); ME (Microempresa); EPP (Empresa de Pequeno Porte) e; EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Social). Houve ainda a criação do SIMPLES Nacional, que integra o recolhimento de impostos e contribuição para estas categorias, o que simplifica e diminui a carga tributária incidente aos pequenos negócios. A Rede Nacional para a Simplificação do Registro e Legalização de Empresas e Negócios (REDESIM) foi criada visando a facilitação para abertura e encerramento de empresas. Houve ainda a simplificação da legislação trabalhista para as MPEs. Buscou-se aumentar o acesso e o volume do crédito para elas destinado através da redução do custo de capital e ampliação de garantias e aval, e ainda, mais recentemente, com a criação da Empresa Simples de Crédito (ESC) a legislação buscou dar acesso aos pequenos negócios a uma nova forma de acesso ao crédito. As políticas públicas também têm atuado no sentido de incentivar a inovação tecnológica e a pesquisa, por meio de redução de impostos para investimentos com esse fim, bem como a criação do Inova Simples que instituiu regime especial simplificado para a criação de Startups.

O objetivo geral deste artigo é identificar e compreender as políticas públicas e legislações brasileiras de indução ao empreendedorismo dos pequenos negócios dentro do recorte temporal estabelecido, para identificar seus resultados e apontar possíveis novas estratégias de estímulos para o desenvolvimento socioeconômico; enquanto seus objetivos específicos são: apresentar a evolução do empreendedorismo dos pequenos negócios no país e conhecer os impactos socioeconômicos da indução ao empreendedorismo, visando responder ao questionamento: quais foram os resultados das políticas públicas para o fomento ao empreendedorismo dos pequenos negócios no Brasil, no período destacado?

No fito de elucidar tal questionamento, realizou-se o levantamento da legislação pertinente, ainda a análise dos dados socioeconômicos e sobre empreendedorismo, disponíveis nos bancos de dados nacionais.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Este artigo está estruturado em cinco seções: introdução; revisão das políticas públicas e da legislação pertinente; metodologia da pesquisa; análise e discussão dos dados e; conclusão.

2 REVISÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E DA LEGISLAÇÃO PERTINENTE

A primeira iniciativa a estabelecer no ordenamento jurídico pátrio regras, normas e tratamento favorecido às micro e pequenas empresas, foi a Lei nº 7.256 de 1984, sob governo do Gal. João Batista Figueiredo, que estabelecia para este segmento a dispensa de obrigações burocráticas, condições diferenciadas e favorecidas para registro especial, regime fiscal, regime previdenciário e trabalhista, apoio creditício, penalidades, e remissão do crédito tributário. Silenciando, porém em qualquer tipo de atuação estatal que não a de regulamentação.

A Constituição Federal de 1988 – CF/88, promulgada no governo do Pres. José Sarney, eleva o tratamento diferenciado e favorecido às micro e pequenas empresas ao nível de proteção constitucional, em seus artigos: 146, d, parágrafo único; 146, A; 170, IX; e 179; explicitando a importância socioeconômica atribuída às micro e pequenas empresas no Brasil. Do ponto de vista formal, poucas alterações trouxe, se comparada ao dispositivo anterior, e mesmo tendo avançado no que tange a estabelecer regimes especiais ou simplificados, e o regime único de arrecadação de impostos, além da eliminação ou redução de obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, não chegou a instituir mecanismos que por si só impulsionassem a atividade, tendo em vista que dependiam de regulamentação específica.

Passou-se então para o período da redemocratização, com a escolha, por voto direto do mandatário do Executivo Federal, onde nenhuma lei ou política pública neste sentido fora elaborada ao tempo do primeiro mandatário, Fernando Collor de Mello que, fora sacado do cargo, por impedimento, antes da conclusão de seu mandato de quatro anos, tendo sido substituído pelo vice-presidente, Itamar Franco.

Em 1994 a Lei nº 8.864 foi sancionada pelo Pres. Itamar Franco que normatizou o art. 179, da CF/88, assegurando o tratamento jurídico diferenciado e às micro e pequenas empresas e regulamentando o registro especial e forma de enquadramento, desenquadramento e reenquadramento, o regime tributário, fiscal, previdênciário e trabalhista, além do apoio creditício.

Durante os dois governos do Pres. Fernando Henrique Cardoso foram implementadas medidas importantes para as MPEs. A Lei nº 9.317, de 1996, criou um regime tributário especial para as micro e pequenas empresas, o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte (SIMPLES), que reduziu e simplificou a tributação.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Foi uma verdadeira reforma tributária para os pequenos negócios brasileiros. Já a Lei nº 9.841, de 1999, que regulamentou os arts. 170 e 179, da CF/88, criou pela primeira vez um Estatuto da MPE no Brasil. Mais uma vez, a legislação estabeleceu tratamento jurídico diferenciado, as definições de MPEs, a forma de enquadramento, desenquadramento e reenquadramento, o regime previdênciário e trabalhista e o apoio creditício. As duas inovações dessa lei foram os capítulos destinados ao desenvolvimento empresarial e à autorização para constituição de Sociedade de Garantia Solidária. Em 2000, esse Estatuto das MPEs foi regulamentado pelo Decreto Federal nº 3.474.

Nos dois governos do Pres. Luís Inácio Lula da Silva foram introduzidas importantes legislações destinadas às MPEs. Em 2003 é aprovada a Emenda Constitucional nº 42, que alterou o regime tributário nacional visando favorecer o empreendedorismo das micro e pequenas empresas. Em 2006 veio à luz a Lei Complementar nº 123, instituindo o novo Estatuto Nacional da Micro e Pequena Empresa, o mais completo e abrangente até hoje, que continua em plena vigência atualmente. Também denominado como Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, esse Estatuto detalhou a definição de MPE, regulamentou a inscrição e a baixa de empresas, tratou de tributos e contribuições regidos pelo SIMPLES, dispôs sobre a facilitação de acesso a mercados, seja nas aquisições públicas seja ao mercado externo. A Lei Geral tratou ainda da simplificação das relações do trabalho, da fiscalização orientadora, do associativismo, do estímulo ao crédito e à capitalização, das regras civis e empresariais e do acesso à justiça e também trouxe um capítulo voltado ao estímulo a inovação.

Em 2007 é sancionada a Lei Complementar nº 127, que introduziu melhorias na LC nº 123/2006. No mesmo ano de 2007, o poder executivo federal edita o Decreto Federal nº 6.204 regulamentando o tratamento favorecido, diferenciado e simplificado para as MPEs nas contratações públicas no âmbito da administração pública federal. E ainda nesse mesmo ano de 2007 a Lei nº 11.598 cria a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e Legalização de Empresas e Negócios (REDESIM), com o objetivo de reduzir o tempo gasto pelos empreendedores brasileiros para a abertura e o fechamento dos negócios formais.

Outra legislação importante em favor dos pequenos negócios brasileiros que teve início no período do governo do Pres. Lula acontece em 2008, com a sanção da Lei Complementar nº 128 que modificou a LC nº 123/2006 e outras leis voltadas para a MPE. A inovação mais importante introduzida pela LC nº 128/2008 foi a criação da figura do Microempreendedor Individual (MEI). A partir desse momento, milhões de empreendedores individuais informais passaram a ter a chance de se formalizar, o que tem contribuído para a mudar a face da formalização de negócios no Brasil. Em 2009 a Lei Complementar nº 133 é aprovada, ampliando as atividades empreendedoras abarcadas pelo SIMPLES.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Sob a égide do governo da Pres. Dilma Rousseff também foram editadas novas leis voltadas para favorecer as MPEs. A primeira foi a Lei nº 12.441, de 2011, que criou a figura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI. A segunda, no mesmo ano de 2011, foi a Lei Complementar nº 139, que teve o objetivo de atualizar a LC nº 123/2006, visando especialmente melhorar o tratamento especial e simplificado ao Microempreendedor Individual (MEI), além de modernizar a legislação relacionada ao Simples Nacional. Mas a medida mais importante da LC nº 139 foi a ampliação em 50% do teto da receita de faturamento dos pequenos negócios optantes do SIMPLES Nacional. E a terceira, em 2014, foi a Lei Complementar nº 147 que introduziu melhorias no Estatuto Nacional da MPE (LC nº 123/2006), especialmente no que tange ao tratamento diferenciado e favorecido aos pequenos negócios nas compras públicas.

Em 2016, o governo do Pres. Michel Temer sancionou a Lei Complementar nº 155, que mais uma vez buscou o aperfeiçoamento da Lei Geral das MPEs (LC nº 123/2006), reorganizando a metodologia do Simples Nacional, atualizando aspectos da legislação destinada aos pequenos negócios e transformando os degraus íngremes da tributação do SIMPLES Nacional em uma rampa de crescimento mais suave. A LC 155/2016 também instituiu o Programa de Fomento às Atividades Produtivas de Pequeno Porte Urbanas. Em 2018, também sob a égide do governo do Pres. Michel Temer é promulgada a Lei Complementar nº 162, que instituiu o Programa Especial de Regularização Tributária das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte optantes pelo Simples Nacional (PERT-SN), visando a renegociação de dívidas tributárias dos empreendedores dos pequenos negócios junto à União.

Já em 2019, sob o governo do Presidente Jair Bolsonaro, foram sancionadas duas leis de impactos consideráveis para o empreendedorismo brasileiro. A primeira é a Lei Complementar nº 167, que instituiu a Empresa Simples de Crédito – ESC, visando ampliar as alternativas de crédito e financiamento para os pequenos negócios e o Inova Simples, que se configura num importante instrumento para o fomento de Startups, que são pequenos negócios de alto potencial de crescimento, comumente ligadas à inovação e tecnologia. A outra foi a Lei nº 13.874, que instituiu a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica e estabeleceu, em legislação, as garantias de livre mercado e livre iniciativa aos empreendedores do Brasil. As inovações importantes da Lei 13.874/2019 foram a eliminação da cobrança de taxas de registro, o fim da necessidade de alvarás para atividades de baixo risco, o registro de empresas sem dependência de autorização prévia e a fiscalização a posteriori, dentre outros.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 De acordo com a detida análise das legislações pátrias que versam sobre o tema em comento ao longo destes 35 anos, o Brasil buscou criar condições para melhorar o ambiente de negócios para o empreendedorismo dos pequenos negócios. A partir de análise dos dados de base estatística, será possível verificar quais resultados foram obtidos pelo país até o momento e o que ainda falta melhorar nessa área.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

O presente estudo caracteriza-se, quanto à natureza, como uma pesquisa aplicada e, quanto aos objetivos, como descritiva. Também, é definida, quanto aos seus procedimentos técnicos, como estudo dados empírico/estatísticos, quanto à sua abordagem, como qualitativa (GIL, 2009).

O universo de pesquisa se dá em duas partes. A primeira parte da pesquisa (Capítulo 2) se dá por meio da análise pormenorizada das legislações pátrias promulgadas no período de 1984 a 2019, que tratam do tratamento simplificado, diferenciado e favorecido aos pequenos negócios no Brasil. A segunda parte da pesquisa (Capítulo 4) analisa as estatísticas sobre o empreendedorismo dos pequenos negócios no país, nas bases de dados da PNAD Contínua, RAIS, SEBRAE e FGV, estabelecendo a partir daí as conclusões (Capítulo 5).

Esse artigo começa com a análise da legislação brasileira a partir de 1984 quando emerge a primeira legislação brasileira que estabelece tratamento diferenciado, simplificado e favorecido aos pequenos negócios. O tema ganha status constitucional ao ser introduzido na Constituição Federal de 1988. Após isso, todos os governos do país, a exceção de um, editaram legislações destinadas a criar condições mais favoráveis para os pequenos negócios brasileiros. Essa pesquisa analisará a legislação relativa às políticas públicas destinadas ao empreendedorismo, no período de 1984 a 2019. O estudo dos indicadores socioeconômicos do país, por meio dos bancos de dados oficiais nacionais sobre o tema, ajudarão a entender se aconteceram de fato os resultados esperados.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.1 PERFIL DO EMPREENDEDORISMO NO BRASIL

A partir da análise dos dados sobre o empreendedorismo no Brasil é possível entender se a legislação e as políticas públicas que dispõem sobre o tema estão alcançando os resultados esperados. De acordo com pesquisa realizada com base nas estatísticas coletadas em série histórica tanto da PNAD Contínua, do IBGE quanto da RAIS, do Ministério da Economia. é possível traçar de pronto um perfil médio dos empreendedores brasileiros, com as seguintes características: majoritariamente informal

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 (57,9%), masculino (62,2%), conta própria (84,68%), chefe de domicílio (54,64%), tem entre 35 e 55 anos (49%), possui ensino médio ou ensino superior completo (51,96%), tem faixa de renda mensal de até 2 salários mínimos (62,55%), trabalha no empreendimento atual a 2 ou mais anos (77,12%), possui carga horária de trabalho de até 44 horas semanais (71,67%) e atua no setor de serviços (41,31%). A seguir é detalhada a pesquisa contendo os dados de base estatística que demonstram a evolução das características e condições do empreendedorismo brasileiro.

4.1.1 Total de empreendedores

Dois dos principais objetivos da legislação e das políticas públicas de empreendedorismo são os de ampliar o número de empreendedores no país e de trazê-los para a formalidade. Na Tabela 1 demonstra que o objetivo de ampliação da quantidade de empreendedores no Brasil está sendo alcançado, pois tem crescido de maneira consistente ao longo dos últimos anos, tendo chegado a 28,9 milhões em 2019 ante a 26,86 milhões em 2015. Contudo, tem sido alcançado apenas em parte o segundo objetivo de trazer para a formalidade os potenciais empresários, também denominados informais. O número de potenciais empresários (informais) continua sendo gigantesco no país e era de era 16,8 milhões em 2019, sendo mais do que o dobro da quantidade de empresários formais que totalizaram 8,35 milhões no mesmo ano. Chama a atenção o fato de que proporcionalmente a quantidade de informais cresceu mais do que a de formais no período analisado. Vale ressaltar também que a quantidade de produtores rurais reduziu em números absolutos e proporcionais nesse período, saindo de 4,73 milhões em 2015 para 3,83 milhões em 2019.

Tabela 1 – Brasil: Total de empreendedores por tipo – 2015 a 2019

Ano Total (Mil) Formais (Mil) Formais (%) Informais (Mil) Informais (%) Produtores rurais (Mil) Produtores rurais (%) 4ºQ/2015 26.863 7.277 27,09 14.849 55,28 4.735 17,63 4ºQ/2016 26.263 7.180 27,34 14.729 56,09 4.352 16,57 4ºQ/2017 27.606 7.693 27,87 15.872 57,50 4.040 14,64 4ºQ/2018 28.380 7.991 28,16 16.411 57,83 3.978 14,02 4ºQ/2019 28.999 8.359 28,83 16.802 57,94 3.837 13,23

Fonte: IBGE, PNAD Contínua. Comparação dos resultados do 4ºQ (quadrimestre) de cada um dos anos pesquisados.

4.1.2 Gênero

As políticas públicas destinadas ao empreendedorismo no Brasil almejam dar oportunidades iguais para se empreender no país. No entanto, na Tabela 2 é possível constatar que esse intento não vem sendo alcançado em relação ao gênero que é predominantemente masculino, tendo alcançado 65,20% do total em 2019, com um recuo em relação à 2015 quando era de 68,33%. De outro lado, o

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 gênero feminino cresceu de 31,67% em 2015 para 34,80% em 2019. É perceptível o crescimento proporcional do empreendedorismo feminino, mas ainda muito lento, o que aponta para a necessidade de novas ações para alterar essa situação e permitir que as mulheres possam ocupar melhor esse espaço na sociedade e na economia.

Tabela 2 – Brasil: Empreendedorismo por gênero – 2015 a 2019

Ano Homem (%) Mulher (%)

4ºQ/2015 68,33 31,67

4ºQ/2016 67,66 32,34

4ºQ/2017 66,13 33,87

4ºQ/2018 65,49 34,51

4ºQ/2019 65,20 34,80

Fonte: IBGE, PNAD Contínua. Comparação dos resultados do 4ºQ (quadrimestre) de cada um dos anos pesquisados.

4.1.3 Empregadores e conta própria

Um dos principais intentos das políticas públicas de empreendedorismo no Brasil é a criação de novos postos de trabalho na economia e para isso se tem estimulado que haja mais empregadores. Os resultados dessa pesquisa demonstram uma realidade diferente onde grande maioria dos empreendedores do país continua sendo por conta própria. Na Tabela 3 demonstra que os empreendedores por conta própria eram 85,27% em 2015 e chegaram a 84,68% em 2019. Os empregadores eram 14,73% em 2015 e alcançaram 15,32% em 2019. Apesar da pequena mudança detectada na pesquisa, não houve alteração significativa no perfil do empreendedorismo brasileiro em relação a esse indicador, apontando para a necessidade de revisão das políticas que visam a ampliação da geração de emprego a partir do empreendedorismo no Brasil.

Tabela 3 – Brasil: Empreendedorismo por conta própria e empregadores – 2015 a 2019

Ano Conta Própria Empregador

4ºQ/2015 85,27% 14,73%

4ºQ/2016 84,22% 15,78%

4ºQ/2017 84,03% 15,97%

4ºQ/2018 84,03% 15,97%

4ºQ/2019 84,68% 15,32%

Fonte: IBGE, PNAD Contínua. Comparação dos resultados do 4ºQ (quadrimestre) de cada um dos anos pesquisados.

4.1.4 Empregados

Quanto ao número de empregados no Brasil, as microempresas e as empresas de pequeno porte são as que mais empregam e a sua participação proporcional tem crescido enquanto o número de

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 empregados das médias e grandes empresas tem decrescido. Na Tabela 4, a pesquisa demonstra que somadas as MPEs possuíam 52,79% do total de empregos em 2009, tendo alcançado 54,19% em 2018. Já a soma dos empregados das médias e grandes empresas que era de 47,21% em 2009 caiu para 45,81% em 2018. A presente pesquisa aponta que os pequenos negócios ainda continuam mais intensivos em mão-de-obra do que as médias e grandes empresas que aparentemente estão substituindo o trabalho formal, por aumento de produtividade e/ou por automatização e robotização do trabalho e também substituindo empregados celetistas por profissionais terceirizados.

Tabela 4 – Brasil: Empreendedorismo por porte empresarial e número de empregados – 2009 a 2018

Ano Micro-empresa (Mil) ME (%) Empresa pequeno porte (Mil) EPP (%) Média empresa (Mil) Média (%) Grande Empresa (Mil) Grande (%) Total (Mil) 2009 6.968 24,58 7.999 28,21 4.301 15,17 9.084 32,04 28.354 2012 8.182 24,08 9.563 28,14 5.079 14,95 11.155 32,83 33.982 2015 8.720 25,63 9.717 28,55 4.813 14,14 10.779 31,68 34.031 2018 8.395 25,58 9.390 28,61 4.582 13,96 10.453 31,85 32.823

Fonte: Ministério da Economia, RAIS.

4.1.5 Massa salarial

Também cresceu mais, proporcionalmente, a massa salarial paga aos empregados das microempresas e das empresas de pequeno porte no período de 2009 a 2018 do que a massa salarial das médias e das grandes empresas, que decresceram em percentual no período pesquisado. A Tabela 5 demonstra que somadas as MPEs possuíam 41,37% do total da massa salarial em 2009, tendo alcançado 44,36% em 2018. Já a soma da massa salarial das médias e grandes empresas que era de 58,63% em 2009 caiu para 55,64% em 2018. Nesse caso, é possível conjecturar que uma das possíveis causas seja que a legislação (e a política pública) que visa o fortalecimento das MPEs esteja contribuindo, pelo menos em parte, para esse resultado positivo. Mas vale ressaltar também, que as médias e grandes empresas estão investindo mais em automatização e robotização do trabalho, além de estarem ampliando a terceirização de atividades de seus negócios.

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4.1.6 Condição familiar

Em relação à condição familiar a pesquisa constatou que a grande maioria dos empreendedores do Brasil são chefes de domicílio. Na Tabela 6, a pesquisa aponta que em 2019 os empreendedores chefes de domicílio eram 54,71%, com um recuo em relação a 2015 quando eram 59,77%. Cresceu a participação dos cônjuges no período de pesquisado, saindo de 23,77% em 2015 para 27,71% em 2019. O percentual dos empreendedores que são filhos ou que possuem outra condição familiar não teve alteração significativa no período. O resultado dessa pesquisa demonstra uma tendência, ainda que lenta, de mudança na configuração da condição familiar no empreendedorismo, com a ampliação gradual do protagonismo dos cônjuges.

Tabela 6 - Brasil : Empreendedorismo por condição familiar – 2015 a 2019

Ano Chefe de domicílio Cônjuge Filho(a) Outros

4ºQ/2015 59,77% 23,77% 12,17% 4,29%

4ºQ/2016 57,99% 25,35% 11,96% 4,70%

4ºQ/2017 56,77% 26,39% 11,94% 4,90%

4ºQ/2018 56,44% 26,86% 11,90% 4,80%

4ºQ/2019 54,65% 27,71% 12,12% 5,52%

Fonte: IBGE, PNAD Contínua. Comparação dos resultados do 4ºQ (quadrimestre) de cada um dos anos pesquisados.

4.1.7 Idade

A faixa etária dos empreendedores brasileiros tem se alterado nos últimos anos, mas de muito maneira lenta, como seria de se esperar nesse tipo de indicador. Um importante achado da presente pesquisa, que se encontra na Tabela 7 é de que as faixas etárias de 56 a 65 anos e acima de 65 anos foram as únicas que tiveram crescimento no período de 2015 a 2019, de 1% e de 0,9% respectivamente. Já a faixa etária de 45 a 55 anos apresentou queda de 1,38% no período. As demais faixas etárias tiveram alterações muito pequenas. É de se destacar que a faixa etária dos mais jovens teve recuo, tanto entre os empreendedores até 25 anos quanto entre aqueles que possuem de 25 a 35 anos. Isso nos leva

Tabela 5 – Brasil: Empreendedorismo por porte empresarial e valor da massa salarial – 2009 a 2018

Ano Micro- empresa (Mil) ME (%) Empresa de pequeno porte (Mil) EPP (%) Média empresa (Mil) Média (%) Grande empresa (Mil) Grande (%) Total (Mil) 2009 5.740.332 16,3 8.835.112 25,1 6.386.143 18,1 14.269.199 40,5 35.230.788 2012 9.017.975 16,2 13.860.536 24,9 9.749.476 17,5 22.942.152 41,3 55.570.140 2015 12.502.371 17,9 18.127.624 26,0 11.568.094 16,6 27.608.482 39,5 69.806.572 2018 14.065.528. 18,2 20.199.944 26,2 12.455.083 16,1 30.520.317 39,5 77.240.874

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 a crer que as políticas públicas não tem conseguido ampliar a penetração do empreendedorismo entre os mais jovens.

Tabela 7 – Brasil: Empreendedorismo por idade – 2015 a 2019

Ano Até 25 anos 26 a 35 anos 36 a 45 anos 46 a 55 anos 56 a 65 anos Acima 65 anos 4ºQ/2015 7,37% 19,63% 25,08% 25,10% 16,35% 6,47% 4ºQ/2016 7,20% 19,33% 25,54% 24,73% 16,54% 6,65% 4ºQ/2017 7,04% 19,36% 25,34% 24,41% 16,70% 7,16% 4ºQ/2018 6,73% 18,79% 25,73% 24,12% 17,00% 7,63% 4ºQ/2019 7,03% 19,31% 25,28% 23,72% 17,35% 7,31%

Fonte: IBGE, PNAD Contínua. Comparação dos resultados do 4ºQ (quadrimestre) de cada um dos anos pesquisados.

4.1.8 Escolaridade

A escolaridade do empreendedor no Brasil tem mudado significativamente nos últimos anos. Conforme dados da pesquisa constantes da Tabela 8 em 2015 os empreendedores com ensino fundamental incompleto eram 40,95% e eles eram majoritários, mas esse número recuou para 32,57% em 2019. O número de empreendedores com ensino fundamental completo se manteve praticamente estável no período, saindo de 15,74% em 2015 para 15,47% em 2019. Já os empreendedores com ensino médio completo tiveram um crescimento significativo e se tornaram majoritários, saindo de 29,9% em 2015 para 34,71% em 2019. Os empreendedores com ensino superior completo também cresceram de 13,41% para 17,25% no mesmo período. Esses dados demonstram uma constatação relevante, de que o empreendedorismo está ampliando entre os extratos mais bem educados da população e reduzindo entre os que possuem menor tempo de escolaridade.

Tabela 8 – Brasil: Empreendedorismo por escolaridade – 2015 a 2019

Ano Fundamental

Incompleto

Fundamental Completo

Médio Completo Superior

Completo 4ºQ/2015 40,95% 15,74% 29,90% 13,41% 4ºQ/2016 38,07% 15,70% 31,55% 14,67% 4ºQ/2017 36,91% 15,66% 32,11% 15,32% 4ºQ/2018 34,58% 15,01% 33,66% 16,75% 4ºQ/2019 32,57% 15,47% 34,71% 17,25%

Fonte: IBGE, PNAD Contínua. Comparação dos resultados do 4ºQ (quadrimestre) de cada um dos anos pesquisados.

4.1.9 Faixa de renda

A faixa de renda predominante dos empreendedores brasileiros é de até 2 salários mínimos, conforme demonstrado na Tabela 9, tendo alcançado 62,55% do total em 2019, com um recuo em

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 relação à 2015 quando era de 69,14%. De outro lado, faixa de renda de 2 a 5 salários mínimos cresceu de 22,19% para 26,25% no mesmo período e a faixa de 5 salários mínimos acima cresceu de 8,67% para 11,20%. Esses dados demonstram que as políticas públicas ainda não lograram êxito em ampliar a renda dos empreendedores brasileiros, apesar da tendência de mudança nessa situação.

Tabela 9 – Brasil: Empreendedorismo por faixa de renda – 2015 a 2019

Ano De 0 a 2 Salários Mínimos De 2 a 5 Salários Mínimos De 5 a mais Salários Mínimos 4ºQ/2015 69,14% 22,19% 8,67% 4ºQ/2016 67,92% 22,59% 9,49% 4ºQ/2017 66,53% 23,64% 9,83% 4ºQ/2018 64,02% 25,23% 10,76% 4ºQ/2019 62,55% 26,25% 11,20%

Fonte: IBGE, PNAD Contínua. Comparação dos resultados do 4ºQ (quadrimestre) de cada um dos anos pesquisados.

4.1.10 Tempo no trabalho atual

A grande maioria dos empreendedores brasileiros trabalha no negócio atual a 2 anos ou mais, conforme se vê na Tabela 10, em 2019 esse número era de 77,12% do total com uma redução em relação a 2015 quando era de 81,09%. Entre 2015 e 2019 houve ampliação nas outras três faixas pesquisadas, de forma que faixa entre 1 a 2 anos alcançou 7,17% do total, de 1 mês a 1 ano chegou a 13,12% e menos de um mês 2,59%. Esses dados apontam no sentido de que as políticas públicas podem estar surtindo efeito na criação de novos negócios, mas também demonstram que essas mesmas políticas podem estar contribuindo para que não haja uma grande mortalidade precoce dos empreendimentos no Brasil.

Tabela 10 – Brasil: Empreendedorismo por tempo no trabalho atual – 2015 a 2019

Ano 2 anos ou mais 1 ano a 2 anos 1 mês a 1 ano Menos 1 mês

4ºQ/2015 81,09% 6,32% 10,65% 1,95%

4ºQ/2016 80,58% 6,58% 10,78% 2,06%

4ºQ/2017 77,21% 7,03% 13,14% 2,63%

4ºQ/2018 78,33% 7,15% 12,03% 2,49%

4ºQ/2019 77,12% 7,17% 13,12% 2,59%

Fonte: IBGE, PNAD Contínua. Comparação dos resultados do 4ºQ (quadrimestre) de cada um dos anos pesquisados.

4.1.11 Carga de trabalho atual

Outro achado da pesquisa, na Tabela 11, demonstra que majoritariamente os empreendedores brasileiros trabalham jornada de trabalho igual ou inferior à prevista na CLT. Em 2019 71,67% dos

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 empreendedores brasileiros possuíam a carga de trabalho igual ou menor do que a carga horária de 44 horas semanais. Nesse mesmo ano, 28,33% trabalhavam 45 horas semanais ou mais.

Tabela 11 – Brasil: Empreendedorismo por carga de trabalho semanal – 2015 a 2019

Ano 00h a 14h 15h a 39h 40h a 44h 45h a 48h 49h ou mais 4ºQ/2015 8,20% 26,71% 35,51% 10,63% 18,95% 4ºQ/2016 8,00% 27,79% 36,19% 9,50% 18,52% 4ºQ/2017 9,63% 29,14% 33,93% 8,40% 18,89% 4ºQ/2018 10,20% 29,29% 33,05% 8,31% 19,15% 4ºQ/2019 9,74% 28,24% 33,69% 8,04% 20,29%

Fonte: IBGE, PNAD Contínua. Comparação dos resultados do 4ºQ (quadrimestre) de cada um dos anos pesquisados.

4.1.12 Setores econômicos

Serviços é o setor econômico predominante do empreendedorismo no Brasil. A Tabela 12 demonstra que esse setor econômico é o que mais tem crescido no país, chegando a 40,1% do total em 2019 ante a 32,8% em 2015. Todos os demais setores reduziram a sua participação percentual na economia, sendo que entre 2015 e 2019 o agronegócio encolheu de 17,63% para 13,23%, o comércio de 23,74% para 22,99%, a construção de 15,73% para 13,6% e a indústria de 10,1% para 9,87%. Aparentemente esse é um reflexo na mudança do próprio modelo econômico do Brasil, não sendo possível afirmar que esse resultado foi influenciado pelas políticas públicas destinadas ao empreendedorismo. Contudo, as políticas públicas podem reverter essa tendência concentradora em serviços, estimulando a revitalização dos outros setores econômicos.

Tabela 12 – Brasil: Empreendedorismo por empresas e setor econômico – 2015-2019

Ano Agronegócio Comércio Construção Indústria Serviços

4ºQ/2015 17,63% 23,74% 15,73% 10,10% 32,80%

4ºQ/2016 16,57% 24,14% 14,34% 9,59% 35,35%

4ºQ/2017 14,64% 23,84% 14,04% 10,38% 37,10%

4ºQ/2018 14,02% 23,09% 13,53% 10,33% 39,04%

4ºQ/2019 13,23% 22,99% 13,60% 9,87% 40,31%

Fonte: IBGE, PNAD Contínua. Comparação dos resultados 4ºQ (quadrimestre) de cada um dos anos pesquisados.

4.2 PARTICIPAÇÃO DO EMPREENDEDORISMO DOS PEQUENOS NEGÓCIOS NO PIB DO BRASIL

Uma constatação importante feita pelo estudo realizado em conjunto pelo Sebrae e pela FGV sobre participação de micro e pequenas empresas na economia nacional (atualizado em março de 2020)

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 é a de que o empreendedorismo dos pequenos negócios tem aumentado a sua participação proporcional no PIB brasileiro. Esse fato nos leva a crer que as políticas públicas destinadas ao empreendedorismo dos pequenos negócios no Brasil, têm alcançado êxito sob esse aspecto.

4.2.1 O Produto Interno Bruto do Brasil (PIB) e a participação das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte no Valor Adicionado ao PIB

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil tem crescido nas últimas décadas, apesar de que aquém das expectativas da sociedade brasileira. De acordo com dados do IBGE, na Tabela 13, em 2002 o PIB do país era de R$ 1.488.787.276.000,00 tendo alcançado em 2017 o valor de R$ 6.583.319.000.000,00.

Tabela 13 – Brasil: Produto Interno Bruto a preços correntes – 2002 a 2017

Ano Valor em Reais

2002 1.488.787.276.000,00 2005 2.170.584.503.000,00 2008 3.109.803.097.000,00 2011 4.376.382.000.000,00 2014 5.778.952.780.000,00 2017 6.583.319.000.000,00

Fonte: IBGE, Contas Nacionais.

Já a participação do empreendedorismo dos pequenos negócios cresceu significativamente em relação ao Valor Adicionado (VA) ao Produto Interno Bruto (PIB), nas últimas décadas. A presente pesquisa encontrou um estudo realizado pelo Sebrae e a FGV apontando que em 1985 a participação dos pequenos negócios no VA/PIB era de 21% e este percentual aumentou consistentemente nas décadas seguintes até alcançar 30% em 2016 e 29,5% em 2017. Um crescimento de 40% entre 1985 e 2017 no total do Valor Adicionado ao Produto Interno Bruto. É possível concluir as políticas públicas destinadas ao fortalecimento do empreendedorismo dos pequenos negócios no Brasil, durante esse período, tiveram um papel relevante para o alcance do resultado.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Tabela 14 - Brasil – PIB - Participação das MPEs no Valor Adicionado ao PIB – 1985 a 2017

Ano Percentual do PIB

1985 21,0% 2001 23,2% 2009 27,1% 2010 26,7% 2011 27,0% 2014 29,4% 2015 28,6% 2016 30,0% 2017 29,5% Fonte: Sebrae e FGV (2020). 5 CONCLUSÃO

Este artigo analisou detidamente a atuação do Brasil quanto ao fomento e incentivo para o desenvolvimento e fortalecimento do empreendedorismo dos pequenos negócios, ao longo dos últimos 35 anos, de 1984 a 2019. Avaliando seus efeitos sob a luz de vasta pesquisa na base estatística disponível para encontrar os resultados que foram alcançados pelo país nesse campo durante o período. As conclusões principais são as seguintes:

O poder público brasileiro atuou de maneira consistente e persistente ao longo dos últimos 35 anos visando aperfeiçoar o ambiente de negócios no Brasil para o empreendedorismo dos pequenos negócios, independentemente do perfil ideológico dos governos desse período. As políticas públicas foram implementadas por 8 dos 9 governos do período, por meio de dispositivos constitucionais, leis complementares, leis ordinárias e decretos. Certamente não faltou comprometimento do Estado com a melhoria das condições para o empreendedorismo dos pequenos negócios no país.

Apesar da quantidade de empreendedores no Brasil ser grande, tendo alcançado praticamente 30 milhões de pessoas em 2019, os esforços das políticas públicas para trazer a maioria dos pequenos negócios para a formalidade ainda não surtiram os efeitos desejados, pois nesse mesmo ano de 2019 57,8% dos empreendedores ainda eram de potenciais empresários (informais). Ainda há muito por fazer em relação à formalização.

Outros dois desafios das políticas públicas do país estão na criação de melhores condições para presença da mulher e do jovem no empreendedorismo. Em 2019 as mulheres ainda eram apenas 34,8% do total de empreendedores do país. E quanto aos jovens, a sua participação no total de empreendedores do Brasil está praticamente estagnada, tanto na faixa etária até 25 anos e quanto na faixa de 25 a 35 anos, que juntas somaram 26,34% do total de empreendedores em 2019.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Com relação à capacidade de geração de empregos, a pesquisa demonstrou que que os pequenos negócios superaram as médias e grandes empresas no número geral de empregos e também tem crescido a sua participação proporcional no total da massa salarial do Brasil. Por outro lado, a quantidade de empreendedores por conta própria, ou seja, aqueles que não geram empregos, continua muito alta no país, sendo de 84,68% em 2019. As políticas públicas ainda não lograram êxito em relação a esse fato.

Quanto à escolaridade dos empreendedores no Brasil a pesquisa demonstrou que ela tem ampliado nesse segmento econômico, de forma que se tornou majoritária a faixa dos que possuem ensino médio completo superando os que possuem ensino fundamental incompleto, que lideravam o ranking antes. E o número dos que possuem ensino superior completo também superou os que possuem o ensino fundamental completo. Pela primeira vez, em 2018 os empreendedores com mais anos de escolaridade (ensino médio e superior completo) superaram os que tem menos anos de escolaridade (ensino fundamental incompleto e completo) e seguiram ampliando a sua participação em 2019.

A pesquisa confirmou que a faixa de renda dos empreendedores brasileiros ainda é muito baixa, sendo que 62,55% (quase dois terços do total) tiveram renda de até 2 salários mínimos em 2019. Por outro lado as demais faixas de renda superiores tem crescido proporcionalmente, demonstrando que há uma melhor perspectiva para o futuro, caso essa tendência persista. Mas aqui também vale ressaltar que as políticas públicas precisam intensificar o foco na melhoria da produtividade e da competitividade dos pequenos negócios visando ampliar a sua renda.

Em relação à mortalidade dos negócios no Brasil, a pesquisa demonstrou que a grande maioria dos empreendimentos está aberta a dois anos ou mais, tendo sido de 77,12% em 2019, número que vem reduzindo devagar percentualmente ao longo dos anos. Consequentemente, ao mesmo tempo vem crescendo a quantidade de novos negócios.

Em relação à carga horária dos empreendedores brasileiros a pesquisa demonstrou que a grande maioria se dedica ao seu empreendimento em tempo igual ou menor do que as 44 horas prevista na CLT para os trabalhadores assalariados, sendo 71,67% do total em 2019. Esse é um tema não abarcado pelas políticas públicas, mas esse achado da pesquisa é importante para entender melhor como é o comportamento do empreendedor no Brasil.

Quanto a divisão do empreendedorismo entre os setores econômicos, a pesquisa demonstrou que a economia brasileira está ficando cada vez mais dependente do setor de serviços, onde atuam 40,31% das empresas. Apesar de ser uma tendência mundial, o crescimento do setor de serviços está eclipsando o restante dos setores econômicos do país. Aqui é importante ressaltar que as políticas

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761 públicas podem e devem estimular os outros setores econômicos, visando dar mais equilíbrio ao desempenho das atividades econômicas no Brasil, não deixando-o tão dependente do setor de serviços, o que certamente é uma vulnerabilidade que pode custar muito caro no futuro.

Em relação ao objetivo de ampliação da participação do empreendedorismo dos pequenos negócios na economia brasileira a pesquisa demonstrou que os esforços do setor produtivo e do setor público estão surtido resultado. A principal expressão desse resultado está na participação dos pequenos negócios no Valor Agregado (VA) ao Produto Interno Bruto (PIB) que cresceu de 21% em 1985 para 29,5% em 2017. Esse número é relevante. Ainda assim, vale ressaltar que está aquém do percentual de participação do VA no PIB já alcançado pelas economias de países mais desenvolvidos.

A conclusão final do presente artigo é a de que o ciclo de vida do atual modelo de políticas públicas que objetiva garantir tratamento diferenciado, simplificado e favorecido aos pequenos negócios está chegando ao fim. Para alcançar melhores resultados visando o fortalecimento do empreendedorismo dos pequenos negócios no país será necessário inovar no modelo de políticas públicas destinadas a esse segmento. O Brasil e o mundo estão se transformando rapidamente, de forma que será fundamental adotar novas práticas e novas ideias para revalorizar e ressignificar o papel dos empreendedores e de seus negócios em nossa economia, para assegurar que no futuro próximo possamos alcançar melhores condições socioeconômicas para toda a população brasileira.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.84279-84298, nov. 2020. ISSN 2525-8761

REFERÊNCIAS

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Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE); Fundação Getúlio Vargas (FGV). Estudo sobre participação de micro e pequenas empresas na economia nacional (atualização de março de 2020). Disponível em: https://datasebrae.com.br/wp-content/uploads/2020/04/Relat%C3%B3rio-Participa%C3%A7%C3%A3o-mpe-pib-Na.pdf. Acesso em: 01/06/2020.

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Tabela 1 – Brasil: Total de empreendedores por tipo – 2015 a 2019  Ano  Total  (Mil)  Formais (Mil)  Formais (%)  Informais (Mil)  Informais (%)  Produtores rurais  (Mil)  Produtores rurais (%)  4ºQ/2015  26.863  7.277  27,09  14.849  55,28  4.735  17,63
Tabela 3 – Brasil: Empreendedorismo por conta própria e empregadores – 2015 a 2019
Tabela 4 – Brasil: Empreendedorismo por porte empresarial e número de empregados – 2009 a 2018  Ano   Micro-empresa  (Mil)   ME (%)  Empresa pequeno porte  (Mil)  EPP (%)  Média  empresa (Mil)  Média (%)  Grande  Empresa (Mil)  Grande (%)  Total (Mil)  200
Tabela 5 – Brasil: Empreendedorismo por porte empresarial e valor da massa salarial – 2009 a 2018  Ano  Micro-  empresa  (Mil)  ME (%)  Empresa de pequeno porte  (Mil)  EPP (%)  Média  empresa (Mil)  Média (%)  Grande  empresa (Mil)  Grande (%)  Total (Mil
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