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PROCESSOS DE INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO DO CENTRO DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS SANTA ROSA NO MUNICÍPIO DE SEROPÉDICA (RIO DE JANEIRO) E SEUS IMPACTOS E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NO ÂMBITO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUANDU

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Saúde & Amb. Rev., Duque de Caxias, v.8, n.1, p.19-29, Jan-Jun 2013. Página 19

PROCESSOS DE INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO DO CENTRO DE TRATAMENTO

DE RESÍDUOS SANTA ROSA NO MUNICÍPIO DE SEROPÉDICA (RIO DE

JANEIRO) E SEUS IMPACTOS E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NO

ÂMBITO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUANDU

DANIELE CRISTINA FARIA INOCÊNCIO

1

; HUMBERTO YOSHIHARU SAITO

1

;

SHEILA CRUZ DOS SANTOS

1

; VITOR SERGIO ALMEIDA LOPES

2

1Acadêmicos do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental (Escola de Ciências da Saúde, Unigranrio) *sheilacruz@hotmail.com. 2Docente do Curso Tecnologia em Gestão Ambiental (Escola de Ciências da Saúde, UNIGRANRIO) *vitos_lopes10@yahoo.com.br;

Rua Professor José de Souza Herdy, 1160 CEP 25071-200, Duque de Caxias ,RJ

RESUMO

O Centro de Tratamento de Resíduos no município de Seropédica no Rio de Janeiro, o CTR Santa Rosa, está sendo instalado em área de relevância para a conservação dos recursos hídricos na bacia hidrográfica do rio Guandu, da Guarda e Guandu-Mirim conhecida como Aquífero Piranema.Os objetivos deste trabalho são investigar os processos de licenciamento e instalação do CTR Santa Rosa analisar os impactos e conflitos gerados a partir da temporalidade dos fatos, das contradições e das controvérsias, numa abordagem ampliada e crítica, para contribuir com o amadurecimento das relações entre crescimento econômico, democracia participativa, justiça e sustentabilidade ambiental.

Palavras-chaves: Aquífero Piranema, Aterros Sanitários, Licenciamento Ambiental, Conflito ambiental.

THE PROCESSES OF INSTALLATION AND OPERATION OF SANTA ROSA

WASTE TREATMENT CENTRE IN SEROPÉDICA CITY ( RIO DE JANEIRO)

AND ITS SOCIAL ENVIRONMENTAL IMPACTS AND CONFLITS IN THE

RIVER GUANDU WATERSHED.

ABSTRACT

The Waste Treatment Centre in Seropédica city in Rio de Janeiro, the CTR Santa Rosa, is being installed in areas of relevance to the conservation of water resources in Guandu river watershed, Guarda and Guandu-Mirim known as Aquifer Piranema . The objectives of this work are to investigate the processes of licensing and installation of CTR Santa Rosa and to analyze the impacts and conflictsgenerated from the temporality of facts, contradictions and controversies, in a expanded approach and criticism, to contribute to the maturing of the relationship between economic growth, participatory democracy, justice and environmental sustainability.

Key-words: Piranema Aquifer, Sanitary Landfil, Environment Licencing, Environmental Conflict.

INTRODUÇÃO

Embora o CTR Santa Rosa retrate o atual modelo estadual de gestão pública para a destinação final dos resíduos sólidos urbanos (RSU), os principais interessados, Estado e o mega-consórcio empreendedor, divergem em

várias questões com os movimentos sociais organizados, além de Instituições de Ensino Superior, colegiados de caráter ambiental, ONGs, órgãos representativos de classes e as populações residentes nas áreas de influência direta e indireta.

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documentos diversos no desenvolver deste trabalho.

Segundo o Artigo 1º da Resolução CONAMA 01|86:

Impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidadedosrecursos ambientais.

Na perspectiva dos estudiosos da

desigualdade e justiça ambiental e de acordo com Acselrad (2009), o termo “zonas de sacrifício” é definido como “espaços territoriais onde reconhecidamente existe a sobreposição e práticas lesivas ao meio ambiente atingindo grupos sociais de baixa renda ou minorias étnicas".

A instalação e a operação de

empreendimentos dessa natureza e risco trazem

em sua lógica econômica o discurso

contextualizado do emprego, desenvolvimento e sustentabilidade como bases estruturantes para a aceitação pública e apoio ou cooptação das populações diretamente atingidas, que iludidas passam a depositar esperanças de usufruírem dos benefícios propalados tanto pelo órgão ambiental licenciador como pelo empreendedor. Tais comportamentos e estratégias demonstram como as corporações se apropriam e subvertem o termo sustentabilidade, definido por Leroy (2010) como o processo pelo qual as sociedades administram as

condições materiais de sua reprodução,

redefinindo os princípios éticos e sociopolíticos que orientam a distribuição de seus recursos ambientais.

Porto (2007, pag.92) expõe que:

[...] não se trata de gerar riqueza e trabalho a qualquer custo, principalmente quando esse “progresso” pode implicar destruição de vidas humanas, culturas e ecossistemas. E essa é uma questão central, do ponto de vista ético e político, quando falamos dos riscos: qual o direito que possui, ou as bases morais que sustentam algum grupo humano ao decidir sobre o futuro de outros, quando o que está em jogo é a própria sobrevivência do grupo atingido?

CARACTERIZAÇÃO GERAL DA

REGIÃO HIDROGRÁFICA

A Bacia Hidrográfica do rio Guandu (1.385km²), da Guarda (346km²) e Guandu-mirim (190km²) engloba quinze municípios (Figura 1) de forma integral e parcial: Mangaratiba, Itaguaí, Seropédica, Queimados, Engenheiro Paulo de Frontin, Japeri, Paracambi, Miguel Pereira, Vassouras, Barra do Piraí, Mendes, Nova Iguaçu, Piraí, Rio Claro, Rio de Janeiro, com uma população de aproximadamente um milhão de habitantes (MMA,2006).

Figura.1: Região Hidrográfica do rio Guandu, da Guarda e Guandu-mirim. (COMITÊ GUANDU, 2011)

Essa Bacia possui como elemento principal o rio Guandu que drena uma área de 1.385km², com uma vazão média de 24,57m³/s para uma precipitação média anual de 1.464,3mm e Q 7,10 de 1,523m³/s (Segundo dados calculados com base na chuva da CPRM) em sua foz, na baía de Sepetiba (MMA 2006). Vale aqui colocar que a Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA) considera como vazão outorgável o valor correspondente a 50% da vazão natural Q 7,10, ou seja, a vazão natural mínima média de sete dias consecutivos, com probabilidade de ocorrer uma vez a cada dez anos. Assim, estima-se que a vazão natural de 1,52 m3/s, distribuída pelos afluentes do rio Guandu, resulte em vazão outorgável de cerca de 0,76 m3/s( INEA, 2005). O município de Seropédica, integralmente inserido nesta bacia hidrográfica, possui extensão territorial de 283,762km² e uma população de 78,186 habitantes (IBGE 2010), sendo que 45,01% de sua população encontram-se no limite inferior da incidência da pobreza (IBGE, 2003).

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Paradoxalmente, Seropédica e outros municípios da região vêm sendo assediados por corporações e empreendimentos de grande envergadura, tanto estrutural como econômica, tendo como elemento comum um modelo desenvolvimentista voltado para o distante mercado externo, desconectado da realidade dos munícipes das áreas de influência direta e indireta das unidades fabris.

Segundo IBGE (2010), a economia municipal é fortemente vinculada a atividades rurais, com destaque para a agropecuária que responde por 53% das despesas e orçamento, ficando para as indústrias 47%. Tais elementos

estatísticos apontam para uma vocação

preponderantemente rural, com uso e significação do ambiente adaptados às disponibilidades dos recursos naturais da região e com características culturais próprias.

CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO

DE SEROPÉDICA E DO AQUÍFERO

PIRANEMA

De acordo com o Comitê Guandu (2011)

o Aquífero Piranema possui abrangência

territorial de aproximadamente 250 km² com maior concentração na parte centro-sul da bacia, estendendo-se pelos municípios de Seropédica, Itaguaí e Rio de Janeiro (Bairro de Santa Cruz),

cuja matriz é arenosa, de composição

mineralógica simples, predominância de feldspato e quartzo.

Considerado um dos três aquíferos mais importantes do Rio de Janeiro, possui reservas

renováveis estimadas em 1.600 l/s. As

características do referido aquífero vêm reforçar a importância desse ambiente, não só pelo seu estoque de areia, mas também pelo seu elevado volume de água. Entretanto, tal recurso natural

encontra-se permanentemente com alta

vulnerabilidade à contaminação, em função da elevada altura do lençol freático, que varia de 2 a 7,5 m, o que justifica a necessidade de intervenção antrópica para a recuperação das áreas degradadas (MMA 2006).

Estudos desenvolvidos pelo Laboratório de Geoprocessamento Aplicado da UFrRJ, encontrado em Goes & Tubbs (2007) apresentam informações e análises a respeito da região de Seropédica e do Aquífero Piranema e de sua importância para toda a região de Baixada Fluminense. Com base em tecnologia de geoprocessamento do software SAGA\ UFRRJ e métodos estatísticos e geofísicos, esses estudos

tiveram como resultados do ambiente de subsuperfície o levantamento dos elementos geológicos fundamentais, como mineralogia, granulometria, hidrogeologia, tipos e espessura dos sedimentos e profundidade do embasamento rochoso. Quanto ao ambiente de superfície foi feita a varredura analítica com base na tecnologia de geoprocessamento, obtendo-se uma base georreferenciada constituída por 32 mapas

temáticos e um elenco de mapas classificatórios sobre as questões ambientais mais relevantes. A

figura 2 é exemplo desses mapas. Figura 2. Localização do CTR Santa Rosa por

sobreposição de imagens. (GOES & TUBBS, 2007)

Conforme os autores, a área é receptora de água ainda não poluída, em sua maioria proveniente da borda serrana próxima, localizada em área de nascentes e cabeceiras de drenagens de primeira ordem, reativadas na época sazonal mais úmida. Essa drenagem convergente alimenta o espesso aluvião, constituído por estratos arenosos de fração grosseira, média e fina, permitindo a conservação do aquífero aluvionar e da água subterrânea que por sua vez migra para os dutos fraturados do embasamento rochoso.

Devido a suas características litoestratigráficas, mineralógicas e granulométricas o ambiente é adequado ao armazenamento e ao aproveitamento de água, pois facilita a infiltração e a circulação da água subterrânea.

Há áreas vulneráveis, como mostra a figura 3, e nos locais de menor vulnerabilidade ocorre o processo de recarga do aquífero, ou seja, a renovação das águas subterrâneas que deveriam ser preservadas para que a contaminação gerada à superfície não alcance o lençol freático. Ao invés disso, com a instalação do Aterro nesta área de baixada, a região perderia a função de proteção do território à sua jusante.

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Figura 3: Áreas de Vulnerabilidade do Aquífero Piranema. (Adaptado de GOES & TUBBS, 2007)

Bastaria a extração em diversos locais das camadas mais superficiais do solo para que o risco de contaminação fosse agravado, e em função dos padrões do fluxo subterrâneo, qualquer contaminação que alcance estas águas subterrâneas poderá, em longo prazo, se dispersar também em direção ao município de Itaguaí.

Ainda em consenso com esses trabalhos,

Seropédica apresenta áreas com rica

biodiversidade de fauna nativa e possui em seus ecossistemas cadeias alimentares complexas, mesmo existindo interferência antrópica em seu meio.

Além dos impactos ambientais negativos, devem ser considerados alguns transtornos a área de influência imediata: a cidade de Seropédica, a UFRRJ, a EMBRAPA e o Assentamento Rural do INCRA. A cidade de Seropédica apresenta uma forte tendência de expansão urbana em direção a área de construção do CTR, registrado em mapa

classificatório Expansão Urbana. A CTR

prejudicaria as atividades econômicas e sociais da região e a UFRRJ sofreria com notórios prejuízos na grande área de Ciências Agrárias e Florestais (GOES & TUBBS, 2007).

O CTR SANTA ROSA

A prefeitura do Rio deu início em 20 de abril de 2011 a descarga de lixo no Centro de Tratamento de Resíduos em Seropédica. O planejamento é despejar no local mil toneladas diárias pelos próximos meses até atingir o total de 6 mil toneladas produzidas. O objetivo é que Seropédica absorva, no início de 2012, os resíduos que eram levados para o Aterro de Gramacho, em Duque de Caxias, à beira da Baía de Guanabara, e que foi finalmente fechado. Seropédica foi escolhida depois de ter sido frustrada, por pressões dos moradores que se organizaram no Fórum de Defesa do Meio Ambiente e Qualidade de Vida da Zona Oeste e Baía de Sepetiba, a intenção era de levar o lixo urbano para o bairro de Paciência, na zona oeste.

O novo aterro é administrado de forma privada pela empresa Ciclus Ambiental, que receberá pelo trabalho e também poderá explorar a geração de energia elétrica, por meio de uma usina que usará o biogás da decomposição do lixo. Entre outras alegações em defesa do CTR, há a de que ele terá três camadas impermeabilizantes entre os detritos e o solo, além de sensores que darão o alerta em caso de vazamento (DIÁRIO VERDE, 2011).

Segundo o Comitê Guandu (2011) há indícios de irregularidades do processo de licenciamento da CTR Santa Rosa tais como:

Descumprimento da Constituição

Estadual do Rio de Janeiro no seu artigo nº 278 onde é vedada à criação de aterros sanitários às margens de rios, lagos, lagoas e mananciais.

E consequente descumprimento da

Política Estadual de Recursos Hídricos lei nº 3239-1999 no seu artigo nº 35 parágrafos 1º e 2º.

Completo descumprimento da Lei

Estadual no. 3111 de 18/11/1998 que diz

o seguinte:

Art.2º - Quando houver mais de um

EIA/RIMA para a mesma bacia

hidrográfica, a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente deverá realizar a análise conjunta dos

empreendimentos, para definir a

capacidade de suporte do ecossistema, a diluição dos poluentes e os riscos civis, sem prejuízo das análises individuais dos empreendimentos.

Art.3º - O não atendimento ao previsto nesta Lei anulará o licenciamento ambiental.

CONSIDERAÇÕES

SOBRE

O

PROCESSO DE LICENCIAMENTO

A partir do ano de 1986, com a criação do SISNAMA (Sistema Nacional de Meio Ambiente) e de sua instância normatizadora e

regulamentadora, o CONAMA (Conselho

Nacional do Meio Ambiente), os

empreendimentos com significativo impacto negativo sobre o meio ambiente e o ser humano passam a obedecer uma linha de comando e controle que ao mesmo tempo procura equacionar profundas divergências entre proposta operacional e resultados externos aos meios produtivos, criando-se desta forma um campo de disputa

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política que pode ser relacionado ao movimento por justiça ambiental como elemento ideológico.

Os empreendedores dos aterros sanitários devem obter as licenças ambientais dos órgãos responsáveis nas esferas municipais, estaduais ou federais. O CONAMA é o órgão nacional responsável por regular o licenciamento de aterros sanitários, baseado em suas resoluções e nas licenças prévia, de instalação e de operação. No Rio de Janeiro o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) é o órgão ambiental competente para este licenciamento.

As resoluções CONAMA nº. 1 de 23/01/1986 e nº. 237 de 19/12/1997 estabelecem as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e

implementação da Avaliação de Impacto

Ambiental (AIA) e o respectivo Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto

Ambiental (EIA/RIMA), como um dos

instrumentos de Política Nacional do Meio Ambiente, visando à aprovação junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis (IBAMA) para o

licenciamento das atividades.

No artigo oitavo da resolução CONAMA 237 (1997) esta previsto que o Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá a Licença Prévia (LP), a Licença de Instalação (LI) e a Licença de Operação (LO).

A LP é concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade e aprova sua localização e concepção, atesta a viabilidade ambiental e estabelece os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação. O requerimento dessa licença pode gerar a necessidade de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) e elaboração do respectivo Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA), que é o documento que apresenta, de forma objetiva, as conclusões da AIA. A AIA é disponibilizada em audiência pública e as considerações feitas são registradas para avaliação e incorporação no parecer final do órgão de controle. A AIA e o RIMA deverão ser realizados por empresa contratada pelo empreendedor.

A LI autoriza a implementação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental. O requerimento desta licença é realizado após a execução da Licença de

Instalação pelo órgão competente e o

empreendedor pode iniciar a execução da obra do aterro sanitário aprovado.

A LO autoriza a atividade do

empreendimento após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores. O requerimento dessa licença é realizado com o término da obra do aterro, que deve ser implantada de acordo com o previsto na Licença de Instalação. Após a entrega da Licença de Operação, o empreendedor pode iniciar a operação do aterro sanitário.

ORDEM

CRONOLÓGICA

DOS

PRINCIPAIS EVENTOS

Para estabelecer um melhor

entendimento e clareza acerca da temporalidade dos fatos inerentes ao licenciamento do CTR Santa Rosa foi elaborado a tabela a seguir:

Datas Eventos

2002

Decreto 24.710 transforma a área do futuro aterro sanitário de Paciência (Santa Cruz – zona oeste) em área de especial interesse funcional.

18/03/2003

S/A PAULISTA adquiri extensa área de terras no local onde pretende instalar o Centro de Tratamento de Resíduo SANTA ROSA.

05/2007

Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro (TCM) ordena a sustação do contrato entre a Júlio Simões Logística S/A e COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), por suspeita de irregularidades na licitação e na realização do contrato para a construção do CTR Rio no bairro de Paciência.

04/07/2007

O Prefeito de Seropédica, Darcy dos Anjos, encaminha à câmara Municipal de Seropédica Emenda à Lei Orgânica com a finalidade de permitir a instalação do aterro sanitário.

07/2007 Inicia-se a mobilização popular em

Seropédica.

11/ 2007 Elaborado EIA-RIMA do

empreendimento

22/12/2008

SEA (Secretaria Estadual do Ambiente) através do CONEMA (Conselho Estadual de Meio Ambiente) em sua resolução nº 006 revoga a DZ 1311 R4, diretriz de destinação de resíduos, que proibia implantação de aterros em áreas inundáveis entre outras, conforme legislação em vigor.

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Saúde & Amb. Rev., Duque de Caxias, v.8, n.1, p.19-29, Jan-Jun 2013. Página 24 13/05/2009

ConciS (Conselho da Cidade de Seropédica) envia o ofício nº04/2009 a promotora Patrícia Gabai do MPE (Ministério Público Estadual) do Rio de Janeiro denunciando a ocorrência de crimes ambientais consubstanciado na omissão de informações referentes ao empreendimento de acordo com o Inquérito civil nº 1706/2008.

16/06/2009

Reunião destinada a colher maiores informações sobre a ilegalidade apontada pelo ConciS, objeto do inquérito civil nº 1.706/2008, no gabinete da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva – Núcleo Nova Iguaçu, com a presença da Promotora de Justiça Patrícia Gabai Venâncio.

21/08/2009

GATE do Ministério Público do RJ elabora parecer técnico 1034/09 que levanta vários questionamentos referentes ao EIA-RIMA.

26/08/2009

Audiência Pública convocada pela Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA) sem que fossem observadas as determinações da legislação em vigor (Lei Federal nº 8.625 de 12/02/1993 e CONAMA 01/86), conforme denuncias da Comissão Permanente do Meio Ambiente da Câmara Municipal de Seropédica, através de ofício ao MPE e a CECA, recebidos em 17 e 18 de agosto respectivamente.

15/09/2009

Reitor da UFRRJ, Ricardo Motta Miranda, encaminha as considerações do corpo técnico da Universidade ao presidente do Instituto Estadual do Ambiente, ressaltando a necessidade de realização de novos estudos, uma vez que os já realizados demonstram ser inadequado o local escolhido para a instalação do empreendimento.

24/09/2009

Comitê Guandu elabora e publica parecer técnico nº 005/09 com recomendações técnicas para a implantação do CTR SANTA ROSA, após exaustivas reuniões, com base nas apresentações da empresa e EIA-RIMA.

28/09/2009

Comitê Guandu em sua resolução nº 38 dispõe ad referendum, que seja reavaliado o estudo de localização do empreendimento, por estar localizado em área de reserva hídrica da região metropolitana do Rio de Janeiro.

03/11/2009

S.A. Paulista recebe a LP nº IN000941, válida até o dia 03\11\2011, conforme documentos e informações constantes

do Processo nº E-07/202723/2003 e seus anexos.

06/11/2009

Comissão de defesa do Meio Ambiente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) se reúne com representantes da S.A. Paulista/HAZTEC, DRM (Departamento de Recursos Minerais), vice-prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Secretário Municipal de Meio Ambiente da cidade de Rio de Janeiro, CECA (Comissão de Controle Ambiental) e Câmara de Vereadores de Seropédica.

2010

Formada uma SPE (Sociedade de Propósito Específico) entre Júlio Simões e Haztec Novagerar denominada CICLUS AMBIENTAL, que recebe da COMLURB a concessão para gerir além do CTR Santa Rosa, outras sete ETR’s (Estação de Transferência de Resíduos).

08/04/2010

A SERB (SANEAMENTO E ENERGIA RENOVÁVEL DO BRASIL S.A.) recebe a LI nº IN001633 com base nos documentos e informações constantes do processo nº E-07/508225/2009 e validade até 08 de abril de 2013.

19/08/2010

Novo Prefeito em Seropédica Alcir Fernando Martinazzo se posicionando juntamente com seu secretariado contra o aterro sanitário.

30/09/2010

Prefeito de Seropédica determina através de Ato Oficial a suspensão do alvará de localização do CTR Santa Rosa e instaura sindicância sumária para apurar eventuais ilegalidades no procedimento administrativo.

23/10/2010

COMLURB envia carta de nº97/2010 solicitando da SERB providências imediatas para se garantir a implantação do CTR Santa Rosa tendo em vista que o saneamento da destinação adequada do resíduo está prevista no âmbito dos projetos Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas de 2016.

12/2010

UFRRJ através do Instituto de Tecnologia (IT), representado pelo seu Diretor, Prof. Hélio Fernandes Machado Junior, forma junto com outros profissionais da Prefeitura participantes voluntários, equipe técnica para levantar e avaliar possibilidades técnicas para o tratamento de resíduos sólidos em contraponto à instalação de um aterro sanitário.

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Desembargadora Leila Mariano do TJ-RJ profere despacho pelo ofício SETOE-SECIV-1191-2010 anexando como parte de sua decisão o pedido integral das empresas Júlio Simões e Haztec e determinar que o prefeito “se abstenha” de impedir a realização das obras e implantação do CTR Santa Rosa.

12/01/2011

GELAFRVT (Gerência de Licenciamento Agropecuário e Flora) elabora Relatório de Vistoria nº 263/11 para verificar o cumprimento das condicionantes da LI do empreendimento, cuja atividade identificada no documento é caracterizada como “implantação, operação e ampliação de aterro sanitário”.

17/05/2011

A DILAM (Diretoria de Licenciamento Ambiental) remete ao Comitê Guandu o Ofício de nº 243/2011, assinado pela sua Diretora Ana Cristina Henney, que versa sobre o Estudo de Sinergia e transfere para o Comitê a responsabilidade de definir quais os empreendimentos sinérgicos e quais parâmetros devem ser considerados. GELSARRVT (Gerência de Licenciamento de Atividades de Saneamento e Resíduos) elabora relatório de vistoria nº 1360/11 para acompanhamento da Licença de Operação (LO) do empreendimento, cuja atividade identificada no documento é caracterizada como “tratamento de resíduos da classe II – exceto incineração”.

27/05/2011

Ocorre Audiência Pública na Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro (ALERJ) sobre o CTR Santa Rosa conduzida pela Comissão de Saneamento Ambiental

27/06/2011

CBH (Comitê de Bacias Hidrográficas) Guandu envia ofício de nº 57/2011 à Presidência do INEA e para a DIGAT (Diretoria de Gestão de Águas e Territórios) por solicitação do coordenador da CTAP (Câmara Técnica do Aquífero Piranema) a disponibilização de diversos documentos, inclusos os projetos executivos da estação de tratamento de chorume, da drenagem externa ao aterro e a execução do levantamento de dados hidrológicos, com toda memória de cálculo.

CBH Guandu envia ofício de nº 56/2011

27/06/2011

à Presidência do INEA e para a DIGAT solicitando um técnico de fiscalização responsável pelo empreendimento CTR Santa Rosa, para apresentar uma palestra na CTAP sobre o processo de fiscalização ambiental exercida pelo INEA.

Tabela 1: Datas e eventos do processo de licenciamento do CTR Santa Rosa (MORELLI, 2011).

METODOLOGIA

A análise dos processos de licenciamento e instalação do CTR Santa Rosa será feita com base nas irregularidades apontadas pelos estudos e documentos acima citados, com o intuito de investigar se os impactos e conflitos gerados por

este empreendimento foram corretamente

mensurados, quantificados e qualificados considerando a incontestável vulnerabilidade da bacia hidrográfica do rio Guandu segundo MMA (2006); Goes & Tubbs (2007).

DISCUSSÃO

Segundo Acselrad (2009), as estruturas institucionais de avaliação dos impactos ambientais e de licenciamento de atividades se voltam em grande parte para a legitimação dos empreendimentos, tendo em vista a natureza limitada e tecnicista da informação, da desconsideração do tempo histórico de escuta da

sociedade, do tempo de maturação das

informações entre os atores sociais. Uma análise acurada da cronologia de implantação do CTR Santa Rosa demonstra como as instituições diretamente envolvidas atuaram para legitimar seus interesses, incluso o uso dos instrumentos jurídicos que a priori funcionariam na salvaguarda do bem-estar das comunidades nas Áreas de Influência Direta e Indireta (Eldorado e Chaperó), cuja identidade sociocultural, econômica e histórica é fundamentada na pequena agricultura familiar e suas atividades correlatas.

Considerando que as licenças necessárias para a execução do empreendimento ora em estudo expedidas pelo INEA como instrumentos regidos pelo Art. 8º do CONAMA 237, contemplam na fase de LP a empresa denominada SA Paulista e na fase de LI a Empresa SERB o processo de licenciamento não atende aos critérios de seriedade exigidos, pois a que tem a LI não possui a LP, sendo que todo o processo de licenciamento deveria ter sido integralmente

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elaborado e emitido em nome da SPE Ciclus Ambiental, conforme constatação feita no próprio site da referida empresa onde declara-se a criação com fim específico de destinação e tratamento de RSU e efluentes.

Para que exista a compreensão de todo processo que culminou com a escolha locacional de Seropédica para receber o empreendimento, faz-se necessário retroceder no tempo e expor o conflito gerado na tentativa de licenciar e operar o CTR Rio no bairro de Paciência (Santa Cruz) no ano de 2002, quando o Tribunal de Contas do Município (TCM) do Rio de Janeiro ordenou a sustação do contrato entre Júlio Simões e COMLURB em maio de 2007, sob forte suspeita de graves irregularidades no processo licitatório, levando tanto empreendedor quanto a gestão pública a procurar outros locais para destinação final dos RSU da cidade do Rio de Janeiro.

O processo de licenciamento do CTR

Santa Rosa, embora tecnicamente e

administrativamente falho e permeado de articulações e manobras jurídicas e políticas, contou com eventos dignos de nota pelas suas características únicas em prover unilateralmente vantagens e facilitações, sendo uma das mais representativas a revogação da DZ 1311 R4 no auge do conflito ambiental (22/12/2008), que proibia aterros sanitários em áreas inundáveis e dava outras providências para destinação de RSU. Um pouco além na cronologia documentalmente levantada, cita-se uma Audiência Pública ocorrida em Seropédica no dia 26 de agosto de 2010 às 19:00h, extremamente conturbada e violenta, com presença ostensiva de segurança contratada pelo empreendedor sendo o público presente coagido a deixar o local em virtude das fortes animosidades entre as partes interessadas. Entretanto, o Ministério Público Estadual (MPE) entendendo que houve AP, legitima o evento ferindo a Lei Federal nº 8.625 de 12/02/1993 e CONAMA 237/97.

De acordo com Morelli (2011) o agravo de instrumento de nº 0023843-43.2010.8.19.0000 da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça Fluminense pode ser fragmentado em cinco partes distintas para uma análise técnica mais acurada das questões discutidas.

1ª parte: A primeira premissa da qual se deve

partir é a de que os aterros sanitários constituem um mal menor. Ainda que seja desagradável tê-los em seu território e ainda que sua simples existência ponha em risco o meio ambiente, não há dúvida de que a sociedade não conhece outros instrumentos cientificamente mais adequados para a recepção de seus dejetos (MORELLI, 2011).

Análise técnica: O julgamento constituído por

esta instância jurídica expõe claramente como é imputado à sociedade um grau de ignorância com a afirmativa do desconhecimento de outros instrumentos cientificamente sustentáveis para a destinação final de seus resíduos, que não reflete a verdade, visto que o próprio órgão licenciador emitiu a Instrução Técnica (IT) DILAM/CEAM de nº 13/2011, referente à elaboração do EIA/RIMA para a planta de incineração de resíduos sólidos urbanos e industriais não perigosos para geração de energia elétrica a ser operada pela SERB (INEA. 2011). Além disso, na Ilha do Fundão funciona a Usina Verde, projeto que teve origem na COPPE/UFRJ, com capacidade instalada para gerar até 600kw por tonelada de resíduo incinerado.

2ª parte: Não vale, ou não serve, portanto,

protestar genericamente contra os perigos dos aterros sanitários, na medida em que estes terão de existir como alternativa aos antigos lixões situados na idade média do tratamento do lixo (MORELLI, 2011).

Faz-se necessário afirmar que, conforme determina o art. 278 da Constituição Estadual e segundo o art. 35 da Lei Estadual 3239/99, “é vedada a instalação de aterros sanitários e depósitos de lixo às margens de rios, lagoas, lagunas, manguezais e mananciais.” O §2º do mesmo artigo, porém expõe que:

Os projetos de disposição de resíduos sólidos e efluentes, de qualquer natureza, no solo, deverão conter a descrição

detalhada das características

hidrogeológicas e da vulnerabilidade do aquífero da área, bem como as medidas de proteção a serem implementadas pelo responsável pelo empreendimento.

Análise técnica: Percebe-se a intenção de

mascarar ou de omitir no Agravo de Instrumento as corretas definições e caracterizações de “margem de rios” e de “manancial”, nas quais por conceituação técnica estão inclusos os aquíferos.

3ª parte: Com isso, é invalidado o primeiro

argumento da tutela de urgência, pois a simples existência de riscos para o Aquífero Piranema constitui circunstância desprezada pelo legislador, que condiciona a licença, em tais hipóteses, apenas à previsão de medidas de proteção contra eventuais vazamentos (MORELLI, 2011).

Análise técnica: O princípio da precaução

deveria nortear as ciências jurídicas na tutela preventiva do meio ambiente, visto que não se discute garantias de fornecimento de água, mas a impossibilidade de mensurar e qualificar contaminação do rio Guandu, manancial que

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abastece mais de oito milhões de habitantes nas regiões metropolitana e Baixada Fluminense, não existindo estudos científicos capazes de expor com a imperiosa e necessária precisão as consequências da presença de chorume percolado proveniente de falhas no sistema de contenção, drenagem e captação do CTR Santa Rosa.

Cabe aqui citar Porto (2007) que aborda o princípio da precaução como resposta às críticas e inquietações decorrentes da crise ambiental, invertendo os pressupostos do paradigma preventivo – o ônus da prova e dos marcos regulatórios, pois o que a sociedade passa a exigir dos proponentes das novas tecnologias e das agências reguladoras não é propriamente a avaliação científica da existência dos riscos, mas sim da inexistência dos mesmos.

4ª parte: Também fadada ao insucesso a assertiva

da necessidade de realização de um estudo de sinergia, eis que tal estudo ocorre no bojo do próprio estudo de impacto ambiental, seguindo, no caso concreto, a orientação traçada no item 3.5.2 da Instrução Técnica DECON 03/2006, que preconizava a avaliação da “sinergia dos impactos gerados pela implantação e operação da atividade, em conjunto com outras atividades implantadas

ou a ser implantadas na mesma bacia

hidrográfica, conforme Lei no3111/1998 (MORELLI, 2011).

Análise técnica: Observa-se que no mesmo

instrumento (Agravo de instrumento de nº 0023843-43.2010.8.19.0000 da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça Fluminense) há menção do Estudo de Sinergia, segundo lei estadual 3.111/98. Embora citada, a IT FEEMA 003/2006 relativa à confecção do EIA/RIMA, inexiste mesmo em sua complementação o estudo de sinergia.

5ª parte: Por outro ângulo, o Centro de

Tratamento de Resíduos de Seropédica já está em funcionamento sem qualquer indício de falhas em seu sistema de proteção do solo e das águas subterrâneas, valendo acrescentar que a eventual procedência do pedido autoral não importará no perecimento do direito, tampouco impedirá que se dê curso à obrigação de fazer pretendida, pois o aterro poderá ser paralisado a qualquer momento (MORELLI, 2011).

Análise técnica: Quando existe a alegação da

inexistência de indícios de falhas, há que se fundamentar em dados de monitoramento das águas subterrâneas obedecendo as dinâmicas de vazão subsuperficial da pluma na bacia hidrográfica do rio Guandu. Desconhece-se a existência de laudos periciais que atestem a assertiva exposta como certeza absoluta e os juristas reconhecem a possibilidade de paralisação do CTR a qualquer momento.

CONCLUSÃO

O litígio socioambiental representado pela instalação do CTR Santa Rosa e a desativação do aterro controlado de Gramacho (Duque de Caxias) no ano de 2012 revelam grandes fragilidades institucionais, pois é inaceitável que em pleno século XXI ainda exista a lógica do enterramento de RSU como solução “economicamente viável”. Considerando que o encerramento daquele aterro controlado foi previsto à quase vinte anos, tempo mais do que suficiente para o desenvolvimento de novas

tecnologias, mais uma vez corrobora o

“evangelho da ecoeficiência” (segundo Martinez-Alier, apud Zborowski, 2008) em que os problemas ambientais são tratados segundo a internalização dos custos e práticas ditas “limpas”, colocando na mão das instituições, especialistas e tecnoburocratas o poder decisório segundo as regras de um mercado fortemente economicizado e excluindo das discussões e reivindicações os grupos e setores sociais que têm em sua estrutura cultural outros reconhecimentos, usos, significações e direitos para o meio ambiente.

O processo de licenciamento como instrumento previsor e antecipatório das mudanças e impactos ambientais tem obedecido à lógica hegemônica da ecoeficiência, cuja abordagem e mediação dos possíveis conflitos recaem nas soluções baseadas em técnica e ciência, não levando em consideração fatores

intangíveis pelos números ou fórmulas

matemáticas, não correspondendo às expectativas de uma avaliação crítica, havendo necessidade de criação e implementação de novas ferramentas que considerem a avaliação da equidade ambiental como fator de relevância dentro dos EIA/RIMA, segundo constatado no trabalho desenvolvido.

As profundas contradições entre as legislações ambientais, propostas de políticas públicas ambientalmente insustentáveis, sua execução pelos agentes públicos e a estrutura capitalista ecoeficiente transformam e reduzem os espaços territoriais da Bacia Hidrográfica do rio Guandu, da Guarda e Guandu-Mirim em meras commodities apropriáveis pelo capital privado neoliberal, contrapondo-se à fragilidade das populações residentes que não possuem real poder decisório sobre as condições ambientais segundo suas necessidades e percepções, o que configura sérios desequilíbrios relativos à equidade dos direitos fundamentais expressos no Art. 225 da Constituição Brasileira que afirma que cada brasileiro tem garantido o direito e usufruto ao

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meio ambiente equilibrado e essencial a sadia qualidade de vida.

A problematização, as discussões e proposições para a gestão integrada e integradora dos RSU necessitam de profundas mudanças e estudos por parte da sociedade para que as determinantes ambientais e sociais retratem de

fato e de direito a contemplação da

sustentabilidade democrática do conjunto de aspirações comuns às sociedades continuamente expostas a novos cenários ambientais em seus territórios.

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Recebido em / Received: 2012-10-31 Aceito em / Accepted: 2013-10-07

Imagem

figura 2 é exemplo desses mapas.
Tabela  1:  Datas  e  eventos  do  processo  de  licenciamento  do  CTR  Santa  Rosa  (MORELLI,  2011)

Referências

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