• Nenhum resultado encontrado

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

ECONOMIA E FINANÇAS

O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico

Se b a s t i ã o d e Sa n t’An n a e Si l v a

A

p e s a r dos cin co anos já decorridos desde sua criação, ainda se verifica, m esm o nos m eios bem inform ados sôbre assuntos econ ôm icos e financeiros, p o u co con h ecim en to a respeito da exata natureza e das reais finalidades d o B an co N acional d o D esen volvim en to E co n ô m ico .

A origem d o B a n co é encontrada no artigo 3.° da L ei n.° 1 .4 7 4 , d e 26 de n ovem bro de 1951, on de foram criados dois adicionais ao im pôsto de renda: um de 1 5 % sôbre o m ontante d o im pôsto d e v id o pelas pessoas físicas, quando exceden te a CrS 1 0 .0 0 0 ,0 0 , e outro de 3 % sôbre as reservas e lucros em suspenso ou não distribuídos, em p oder d e pessoas ju ríd icas. D eterm inou ainda o m esm o diplom a legal que o p rod u to da cobran ça d os adicionais con s­ tituísse um fun d o especial co m personalidade contábil para ser aplicad o na execu ção d o program a de reaparelham ento de portos e ferrovias, aum ento da cap acid ad e d e arm azenam ento, frigoríficos e m atadouros, elevação d potencial de energia elétrica e d esen volvim en to de indústrias básicas e agri­ cultura .

A o estabelecer que as im portâncias provenientes da cobran ça dos refe­ ridos adicionais fôssem, no decurso d o sexto exercício e após o respectivo recolhim ento, restituídas aos contribuintes, co m um a b on ificação, em títulos da d ívida pública, retirou a lei o caráter de im pôsto acs adicionais em causa, configurando-os co m o um a m odalidade de em préstim o com p u lsório.

N a exp osição de m otives de 6 d e fevereiro d e 1952, na qual ju stificou a proposta de criação d o B a n co N acion al d o D esen volvim en to E con ôm ico, historiou o M in istro Ho r á c i o La f e r, então titular da pasta da Fazenda, os entendim entos realizados com altas autoridades financeiras dos E stados U ni­ dos da A m érica, visando à ob te n çã o dos indispensáveis recursos, em divisas, necessários ao Brasil para adquirir equipam entos e m aquinism os destinados à obra de recu peração econ ôm ica d o p aís. C om o conseqüência dêsses enten­ dim entos foram constituídos um “ grupo m isto” e um a “ com issão m ista” , am bos integrados por técnicos brasileiros e am ericanos. O “ grupo m isto” teve co m o finalidade estudar e sugerir providências de efeito im ediato, capazes d e assegurar o abastecim ento de m atérias-prim as indispensáveis a o funciona­ m en to d o parque industrial b rasileiro. A “ com issão m ista” , p or sua vez, fo i organizada a fim de equacionar os problem as fundam entais d o país e re co ­ m endar m edidas de longo alcan ce visan d o a o reaparelham ento d o Brasil nos

(2)

setores de m aior im portância, tais co m o transportes, energia e indústrias b á sica s.

Os estudos iniciais p rocedidos pela Com issão M ista Brasil-Estados U ni­ d os estimaram em um m ínim o d e 20 bilhões de cruzeiros o custo da execução d e um program a de recuperação econôm ica d o B rasil. A m etade dessa im ­ portância, ou seja o equivalente a 500 m ilhões de dólares, ao câm bio oficial, seria levantada através de um a operação de crédito no exterior e destinar- se-ia à com pra d e equipam entos im portados e ao pagam ento de serviços estrangeiros indispensáveis. Os 10 bilhões de cruzeiros restantes, destinados a atender a despesas com o pagam ento de materiais produzidos no país e serviços aqui executados, deveriam ser obtidos através de um processo de transferência, para o setor p úblico da econom ia nacional, de poupanças dis­ poníveis no setor p rivad o.

E m lugar de lançar m ão da tributação pura e sim ples para a consecução dessa transferência preferiu o G ovêrn o usar o m ecanism o d o em préstim o, através d o qual se garantisse a futura restituição ao setor privado da econom ia da parcela de poupança transferida ao G o v ê rn o . D adas as dificuldades de utilização d o em préstim o voluntário em uma conjuntura inflacionária, foi preferido o sistema d o em préstim o com pu lsório. O m ecanism o utilizado para a con secu ção dos fundos d o em préstim o: criação de adicionais ao im posto d e renda, garantiu que o levantam ento dos recursos se fizesse, de preferência, nos grupos da popu lação de mais elevado poder de com pra e de m aior p ro­ pensão para p ou p a r.

Sem em bargo das críticas feitas à escolha d o processo d o em préstim o forçad o, pode-se afirm ar ter o sistema adotado constituído um processo são de financiam ento dos p rojetos de reaparelham ento e con ôm ico d o país. A transferência d e poupança d o setor privado para o setor público, conseguida ' através d o em préstim o com pulsório, elim inou os efeitos inflacionários dos investim entos program ados, evitando que se tornasse ainda mais aguda a con corrên cia entre o G ov êrn o e as emprêsas privadas na disputa de fatores d e p rod u çã o escassos.

A obten ção dos recursos em m oeda estrangeira foi assegurada pelo a côrd o financeiro firm ado em W ashington, em 14 d e setem bro de 1951, entre o M inistro da F azen da d o Brasil, d e um lado, e de outro o Secretário do T esou ro A m ericano, o Secretário-Assistente d o D epartam en to d e E stado e os Presidentes-executivos d o B a n co de E xp orta çã o e Im p ortação e d o B an co Internacional de R econ stru ção e D esen volvim ento. P e lo artigo 1.° da Lei n.° 1 .5 1 8 , d e 24 de dezem bro de 1951, foi o P od er E xecu tivo autorizado a contratar ou a dar a garantia d o T esou ro N acion al para a obten ção, no exterior, de créditos até o limite d e 500 m ilhões de dólares, para o fim espe­ cial de financiar o program a de reaparelham ento d e portos, sistemas d e trans­ portes, aum ento da capacidade de arm azenam ento, frigoríficos e m atadouros, eleva çã o d o potencial d e energia elétrica e desen volvim en to de indústrias básicas e agricultura.

U m a vez garantidos os recursos em cruzeiros e em m oeda estrangeira para execu ção d o prcgram a de reaparelham ento econ ôm ico, tornou-se neces­

(3)

Ec o n o m i a e Fi n a n ç a s 4 1 7

sária a expedição de norm as legais com plem entares, nas quais fôssem esta­ belecidas a qualidade, o tipo, os juros, as am ortizações e o resgate dos títulos da dívida pública correspondentes ao em préstim o com pu lsório já autorizado e fôsse assegurado, através da criação d e um fun do especial, o serviço de juros, am ortização e resgate dos m esm os títulos. Julgou-se tam bém aconse­ lhável am pliar a fonte d e recursos em m oeda nacional para financiam ento dos projetos de reaparelham ento econ ôm ico, m ediante a cap tação d e fundos provenientes d e poderosas con cen trações financeiras. Finalm ente, tornou-se indispensável a criação de um organism o governam ental capaz de atuar co m o agente d o G ovêrn o Brasileiro nas operações m onetárias ligadas ao reaparelha­

m ento econ ôm ico, administrar os fundos correspondentes e controlar sua a p lic a ç ã o .

Essas norm as legais com plem entares foram com pendiadas na L ei núm ero 1 .6 2 8 , de 20 de junho de 1952, que dispôs sôbre a restituição dos adicionais criados p e lo artigo 3.° da L ei n.° 1 .4 7 4 , de 26 d e n ovem b ro de 1951 e fixou a respectiva b on ificação; autorizou a em issão de obrigações da D ívid a P ú blica Federal e criou o B an co N acion al d o D esen volvim en to E co n ô m ico .

O B an co N acion al d o D esen volvim en to E co n ô m ico foi d ota d o pela Lei n.° 1 .6 2 8 de autonom ia adm inistrativa e personalidade ju rídica própria, gozando, co m o serviço p ú b lico federal, das vantagens e regalias resp ectivas. O B a n co foi autorizado a exercer tôdas as atividades bancárias, na form a da legislação em vigor, sendo todavia lim itada pela lei a sua faculdade d e re ce ­ ber d ep ósitos. F oi ainda estabelecido de form a taxativa que o B a n co só poderia efetuar em préstim os ou financiam entos co m os o b je tiv o s de reapare­ lham ento de portos e ferrovias, aum ento da capacidade de arm azenam ento, frigoríficos e m atadouros, elevação d o potencial d e energia elétrica e desen­ volvim en to de indústrias básicas e da agricultura.

A o definir as atribuições d o B anco, a L ei n.° 1 .6 2 8 o autorizou a receber os adicionais do im posto de renda bem co m o os tributos criados para execu ção d o program a de reaparelham ento e fom en to econ ôm ico, assim co m o a m o v i­ m entar os créditos ob tid os no exterior para o financiam ento d o m esm o p ro­ grama. A o B an co foi tam bém atribuída a responsabilidade de satisfazer os com prom issos decorrentes d o serviço de juros, am ortizações e resgate dos encargos assum idos n o país e no exterior em virtude da execu çã o de progra­ mas de reaparelham ento e fom en to, inclusive no tocan te às obrigações gover­ nam entais resultantes d o em préstim o com pu lsório autorizado. Finalm ente, foi con ferida ao B a n co a atribuição de controlar e fiscalizar a aplicação dos recursos d e qualquer p rocedên cia destinados a obras, serviços ou investi­ m entos incluídos no program a de reaparelham ento e fom en to da econ om ia nacional, bem co m o a contratar, no exterior, por si ou co m o agente d e gover­ nos, entidades autárquicas, sociedades de econ om ia mista e organizações privadas, a abertura de créditos destinados à execu çã o d o m esm o program a.

Para o eficien te desem penho de seus am plos e com p lexos encargos, foi o B an co N acion al d o D esen volvim en to E co n ô m ico d o ta d o da m ais am pla autonom ia adm inistrativa e financeira, em bora tenha sido inclu ído na juris­ d ição d o M inistro da Fazenda co m a obrigação d e prestar suas contas ao

(4)

Tribunal de C ontas. C om o órgãos encarregados de sua adm inistração foram criados um a D iretoria e um C onselho de A dm inistração. À Diretoria, inte­ grada por quatro m em bros, núm ero êste elevado para 6 em 1956, foi atri­ buída a direção executiva d o B an co bem co m o o p oder de decisão sôbre as suas op era ções. A o C onselho de Adm inistração, com posto de sete m em bros, conferiu a lei os poderes de estabelecer a organização interna d o B anco, ori­ entar as suas operações traçando as normas a que devam obedecer, criar car­ gos e funções fixando a correspondente rem uneração, exam inar e julgar os balancetes e balanços e dar parecer sôbre a prestação anual das contas da autarquia.

O B a n co N acicnal d o D esen volvim ento E co n ô m ico foi instalado em 1952 e em n ovem bro dêsse ano realizou a sua prim eira operação, consistente na concessão d e um em préstim o no valor de Cr$ 1 .1 8 1 .0 0 0 .0 0 0 ,0 0 à Estrada de F erro Central d o Brasil para o reaparelham ento da ferrovia, com base no P ro je to n.° 3 da C om issão M ista Brasil-Estados U n id os. N a m esm a data e para execu ção d o m esm o p rojeto deu o B an co a sua garantia, em nom e do T esou ro N acional, para a concessão, p elo B an co Internacional de R e co n s­ trução e D esenvolvim ento, d o em préstim o de 1 2 .5 0 0 .0 0 0 dólares norte- am ericanos à Estrada de F erro Central d o B rasil.

A partir de n ovem b ro de 1952 e até 30 de setem bro d o corrente ano assinou o B an co N acional d o D esen volvim en to E co n ô m ico 82 contratos de financiam ento, no valor total de Cr$ 1 4 .0 4 6 .5 0 7 .4 4 5 ,7 0 e deu a sua garan­ tia, em nom e d o T esou ro N acional, para a obten ção de financiam entos, no valor total de 3 6 .6 0 0 .0 0 0 dólares americanos, con cedid os p elo B a n co de E xportação e Im p ortação d e W ashington ou p elo B an co Internacional de R econ stru ção e D esen volvim en to. D o s financiam entos con cedid os em cru ­ zeiros haviam sido utilizados, até 30-9-1957, pelos diversos mutuários, CrS 8 .6 7 9 .0 4 1 .5 1 5 ,2 0 , e d os financiam entos em dólares, garantidos p e lo Banco, já tinham sido sacados, até a mesm a data, U S$ 3 4 ,5 8 7 ,1 3 1 .8 0 . Outrossim, d esde o início de suas operações até o fim d o m ês de setem bro con cedeu o B an co avais no valor total de USS 6 9 ,7 7 6 ,3 0 8 .4 4 e D M 2 6 .5 5 5 .1 3 9 ,1 3 para ob ten çã o de financiam entos no exterior, a curto e a m éd io prazo, por emprêsas particulares ou governam entais.

Se analisarmos os financiam entos con cedid os p elo B a n co N acion al do D esen volvim en to E con ôm ico, até 30-9-1957, a fim de discrim iná-los pelos diversos setores beneficiados, encontram os a seguinte d istribuição:

M oeda Nacional M oeda Estrangeira

Ferrovias... Frigoríficos e M atadouros. . Indústrias Básicas... Energia E létrica... 6.4 2 3.2 1 3.569.80 CrS US$ 33,600,000.00 1 8 4.0 0 0.000,00 1.5 3 8.0 4 4.688,00 5.4 8 8.7 2 5.187,90 R od o v ia s...

Portos, R ios e Canais... Armazéns e Silos ... Transportes M arítim os. . .

1 1 3.2 4 0.000.00 2 6 7.9 5 6.000.00 3 1.3 2 8.000,00

(5)

Ec o n o m i a e Fi n a n ç a s 4 1 9

A lém das operações d e em préstim os e financiam entos para o reapare­ lham ento e o fom en to da econ om ia nacional, ao B an co N acional d o D esen ­ volvim en to E con ôm ico têm sido atribuídos, por leis especiais, diversos outros encargos relacionados com a execu çã o d o m esm o program a. Foi-lh e entregue, p or exem plo, o depósito e adm inistração das taxas de m elhoram entos e de ren ovação patrim onial das ferrovias pertencentes à U nião ou por ela arren­ dadas. C abe igualm ente ao B a n co receber em depósito e administrar o F u n do de P avim en tação de R odovias, o F u n d o N acional de E letrificação e o F u n d o Portuário N acional, criados para a execu ção de program as espe­ ciais, relacionados com setores específicos da econ om ia n acion al. R ealiza ainda o B an co outras operações, tais co m o a com pra, no país ou no exterior, de equipam entos para seus mutuários, bem co m o a subscrição, em seu p ró­ prio n om e ou d o T esou ro N acional, d e ações ou obrigações de emprêsas privadas ou sociedades d e econ om ia m ista.

P ela L ei n.° 2 .9 7 3 , de 26 de n ovem b ro de 1956, foi prorrogada a vigência das m edidas de ordem financeira relacionadas co m a execu çã o d o P lan o de D esen volvim en to E co n ô m ico . Essa n ova lei ob jetivou , em prim eiro lugar, a prorrogação, p elo prazo de 10 anos, d o em préstim o com pu lsório ao B an co N acion al d o D esen volvim en to E con ôm ico, cob ra d o sob a form a de adicionais ao im pôsto d e renda e cu ja vigência deveria term inar em 31 de d ezem bro de 1 9 5 6 . N ã o se lim itou porém a n ova legislação à prorrogação pura e sim ples dos adicionais d o im pôsto de renda, mas introduziu profu n ­ das alterações no próprio sistema de cap tação d e recursos para o P lan o de D esen volvim en to E con ôm ico, alterando ainda a organização e as norm as de ação d o B a n co N acional d o D esen volvim en to E co n ô m ico . O adicional ao im pôsto de renda passou a ser exigido com base em uma alíquota, ligeira­ m ente progressiva, das pessoas físicas sujeitas a pagam ento de tributo superior a 2 0 .0 0 0 cruzeiros, m antendo-se o adicional de 1 5 % sôbre o im pôsto d e v id o pelas pessoas jurídicas e elevando-se a 4 % o adicional ca lcu la d o sôbre as reservas e lucros em suspenso ou não distribuídos em p oder das em prêsas. D iscip lin ou ainda a n ova lei, de form a detalhada, a em issão e o resgate das O brigações d o R eaparelh am en to E co n ô m ico e baixou norm as disciplinadoras das operações do B anco, além de outras relativas à adm inistração d o estabe­ lecim en to e con trole financeiro de suas atividades.

Os cin co anos d e fun cion am en to e d e op eração d o B an co N acion al d o D esen volvim en to E co n ô m ico já perm item considerá-lo um a iniciativa plena­ m ente vitoriosa, da qual têm d ecorrid o indiscutíveis e palpáveis ben efícios para a econ om ia n acion a l. Antes d o B an co, outras iniciativas govern am en ­ tais tinham sido levadas a efeito, notadam ente através d o P lan o Salte, visando à execu çã o de um program a d e investim entos capazes d e acelerar o d esen vol­ vim en to e co n ô m ico d o p aís. T a is iniciativas encontraram tod avia d ois gran­ des obstáculos que com prom eteram os seus resultados. U m dêles foi a falta de um esquem a adequ ad o para o financiam ento d os investim entos progra­ m ados, d o que resultou o respectivo custeio através d e d ota ções orçam entá­ rias com o conseqüente agravam ento d o d é fic it das contas p ú b licas. O segun­ d o residiu na falta de um organism o con venien tem en te aparelhado para a

(6)

adm inistração d o program a, controle de sua execução e fiscalização dos recur­ sos a êle destinados.

A experiência dos insucessos anteriores determ inou a a doção de cuida­ dos especiais na elaboração d o esquem a de financiam ento d o P lan o de R ea ­ parelham ento e F om en to da E con om ia N acional, notadam ente visando evitar que dêsse financiam ento pudessem resultar conseqüências indesejáveis, agra- vadoras da pressão inflacionária cu ja intensidade se fazia sentir. O único m eio d e assegurar um financiam ento são dos investim entos p rojetados seria conse­ guir a transferência, para o setor público, de poupanças disponíveis no setor p riva d o. T eria sido sem dúvida desejável que tal transferência não tivesse caráter com pulsório, efetivando-se mediante um em préstim o público de natureza voluntária. E m 1956, todavia, a conjuntura inflacionária já se fazia sentir com tôda intensidade e criava, co m o ainda cria nos dias de hoje, óbices praticam ente intransponíveis à colocação, no m ercado de títulos, de apólices e obrigações do T e so u ro . Im pôs-se portanto a necessidade da obten ção dessa transferência m ediante um processo com pulsório, vendo-se o G ov êrn o coloca d o diante da alternativa: im pôsto ou em préstim o forçado, com o único sistema financeiram ente são de captação d e recursos para o financiam ento dos pro­ jetos de reaparelham ento e co n ô m ico .

Preferiu-se o em préstim o ao im pôsto por m otivos diversos, inclusive de natureza psicológica, consistente na esperança d e uma aceitação mais fácil p elo Parlam ento e p e lo p ú b lico d o esquema p rop osto. A solu ção d o em prés­ tim o oferecia, ainda, a grande vantagem de criar para o organism o respon- - sável pela aplicação d os recursos assim obtidos, a responsabilidade de segura e criteriosa aplicação, capaz de criar os m eios necessários para o pagam ento d os juros e am ortizações correspondentes. E vitava-se por êsse m eio o critério assistencial tã o com um na aplicação dos dinheiros públicos e dotações orça­ mentárias, pois a utilização dos recursos resultantes d o em préstim o com pu l­ sório em em préstim os de favor ou em preendim entos duvidosos sem renta­ bilidade assegurada acarretaria, fatalm ente, o insucesso d e tod o o sistema e a insolvência d o órgão responsável pela execu ção d o esquem a fin anceiro.

A escolha d e adicionais ao im pôsto de renda co m o fonte principal para captação dos recursos teve o o b je tiv o d e evitar a im posição de um n ovo sacri­ fício pecuniário sôbre as classes m enos favorecidas e fazer com que o ônus recaísse de preferência sôbre as classes com propensão para poupar ou seja sôbre os titulares de rendim entos acim a de certo n ív e l. A incidência dos adicionais sôbre as pessoas jurídicas, inclusive sôbre suas reservas, lucros sus­ pensos e não distribuídos, teve a finalidade d e transferir para o T esou ro uma parte da poupança retida nas emprêsas privadas a fim de possibilitar reinves- tim entos através do a utofin an ciam ento. Essa transferência justificava-se plenam ente, um a vez que os recursos captados através dos adicionais d o im ­ p ôsto de renda form ariam um fundo destinado a financiar projetos e em pre­ endim entos privados ao lado d e investim entos e projetos governam entais, desde que ss enquadrassem uns e outros nos ob je tiv o s d o program a d e reapa­ relham ento eco n ô m ico e fom en to da econ om ia n acion al. Finalm ente, a trans­ ferência com pulsória para o fun do d e reaparelham ento eco n ô m ico de uma

(7)

Ec o n o m i a e Fi n a n ç a s 4 2 1

parte das reservas das emprêsas de seguro privado e capitalização e das instituições de previdência bem co m o dos depósitos das caixas econôm icas federais o b jetiv ou a aplicação parcial dessas reservas e depósitos em investi­ m entos essenciais ao desenvolvim ento e con ôm ico d o país, evitando-se sua total canalização para setores m enos prioritários, tais co m o as aplicações im o­ biliárias .

Caracterizou-se portanto o esquem a d e financiam ento d o program a de reaparelham ento econ ôm ico p elo seu caráter são e pela ausência de efeitos inflacionários. N ão im plicou êle em qualquer despesa orçam entária adicional nem agravou a posição d o T esou ro no B an co d o Brasil, não resultando, por­ tanto, dessa operação, qualquer pressão tendente a aum entar os m eios de p agam en to. A o contrário, co m o até o exercício d e 1956 o p rodu to dos a d icio ­ nais d o im pôsto de renda era recolh ido ao B an co N acion al d o D esen volvi­ m en to E co n ô m ico através d o T esou ro N acional, dispôs êste da massa de recursos correspondente a fim de m inorar seus desequilíbrios tem porários d e ca ix a .

A criação d o B a n co N acional d o D esen volvim en to E co n ô m ico constituiu tam bém uma garantia de êxito d o program a de reaparelham ento e de fom en to da econ om ia nacional. A o organism o instituído para atuar co m o agente d o G ovêrn o Brasileiro nas operações m onetárias ligadas ao reaparelham ento e co ­ nôm ico deu-se am pla autonom ia administrativa e técnica. L ivre das peias que entorpecem e dificultam a ação dos órgãos da adm inistração direta, dispõe o B an co d e am pla flexibilidade no m anuseio e aplicação dos recursos p or êle adm inistrados. A sua direção colegiada, com duração d o m andato fixada cm lei, salvo no caso d o Presidente d o B an co, assegura continuidade adm inis­ trativa bem co m o alto grau d e isenção e independência nas decisões tomadas, perm itindo o afastam ento das pressões político-partidárias e dos grupos e co ­ n ôm icos. Finalm ente, a autonom ia assegurada a o B a n co no recrutam ento de seu pessoal e na fixação dos respectivos vencim entos e vantagens perm i­ tiu-lhe a form ação d e um quadro de alto nível profissional e té cn ico .

O problem a crucial d os países subdesenvolvidos co m o o Brasil é o da form a çã o d o volu m e d e capital necessário para o aum ento d o p rod u to n acio­ nal e m elhoria do padrão de vida da p op u la çã o. Essa form ação de capital é todavia lenta em decorrência d o pequ en o volu m e de poupança resultante da insuficiência d o p rodu to n acion al. Trata-se portanto de um círcu lo vicioso cu jo rom pim en to é essencial para acelerar o processo d o desen volvim en to e c o n ô m ic o .

A filosofia que presidiu a criação d o B a n co N acion al d o D ese n v o lv i­ m ento E co n ô m ico foi a crença de ser possível ao E stado, através de um a inter­ v en çã o adequada, obter um m aior volu m e d e poupança global e alterar a com p osiçã o d os investim entos. O B a n co exerce com êsse o b je tiv o um a ação tríp lice . Im p on do-se à confiança dos capitalistas estrangeiros e organizações financeiras internacionais, p rom ov e um a a çã o efetiva no sentido d a atração de m aior volu m e de capitais externos, a serem aqui a plicados sob a form a de em préstim os ou de inversões diretas. O capital nacional, insuficiente para a p rom oçã o d o desen volvim en to e co n ô m ico na escala desejada, é assim suple­

(8)

m entado por um afluxo de capitais estrangeiros, os quais encontram no B anco N acional d o D esen volvim ento E co n ô m ico am paro e garantia para sua apli­ ca çã o .

A ação d o B an co visa, ainda, obter um m aior volu m e de poupança interna. Os adicionais do im pôsto d e renda, base fundam ental dos recursos por êle m obilizados, resultam em parte da com pressão forçada d o p oder de com pra d e grupos sociais com forte tendência para aplicação d e uma parcela de sua renda em consum os não essenciais. Traduz-se portanto essa ação em um a transform ação de gastos potenciais de consum o em poupança destinada ao financiam ento de investim entos considerados co m o prioritários e essen­ ciais.

A terceira form a de a çã o d o B an co consiste em disciplinar o investi­ m en to global, im prim indo-lhe um a escala de prioridades estabelecida de a côrd o co m as exigências d o desenvolvim ento econ ôm ico d o p aís. Parte da poupança privada que seria aplicada exclusivam ente visando o mais elevado ben efício possível para o seu titular, é aplicada, através d o B anco, no finan­ ciam ento de investim entos privados e governam entais que se destinam à elim inação de pontos de estrangulam ento da econ om ia nacional e à execução d e projetos básicos e essenciais ao nosso desen volvim en to e co n ô m ico .

Outro aspecto relevante da ação exercida p elo B an co N acion al d o D esen­ volvim en to E co n ô m ico é o seu caráter ed u ca tiv o . Já se afirm ou, com razão, que o B an co não financia pessoa ou entidades e sim p ro je to s. R equ isito fun­ dam ental e essencial para a ob ten çã o de um em préstim o é a apresentação _ de p rojeto detalhado, através d o qual seja possível caracterizar o em preendi­

m ento co m o tècnicam ente correto, econ om icam en te aconselhável e financeira­ m ente s ã o . O B an co não distingue, ao examinar os projetos subm etidos ao seu estudo, os oriundos de instituições governam entais ou sem igovernam en- -ta is d os apresentados por em prêsas privadas, sejam estas nacionais ou estran­

geiras. O critério a d ota do consiste no enquadram ento d o p rojeto entre os que, pela lei de sua criação, está o B an co autorizado a financiar e, após êsse enqua­ dram ento, a verificação d o grau de prioridade que se lhe deverá atribuir, sem se levar em consideração a natureza pública ou privada d o postulante d o em p réstim o.

E m conseqüência d o critério adotado p elo B an co na realização de suas operações v ã o os adm inistradores d e emprêsas, sejam estas públicas ou priva­ das, adquirindo o hábito, altam ente benéfico, d e p rojetar e program ar a longo prazo os seus investim entos, analisar com cu idad o os custos de produção, as con d ições d o m ercado, as perspectivas d e rentabilidade e outros fatores. P ro ­ cura o B a n co con vencer os em presários d e que a concessão de créd ito não é um favor ou um instrum ento assistencial, mas um a alavanca poderosa d o pro­ gresso técn ico e d o desen volvim en to e co n ô m ico .

E m suas relações com as em prêsas governam entais, quer estejam estas incluídas no cam p o da adm inistração direta, quer se trate de autarquias ou sociedades d e econ om ia mista, o B an co procura fazer co m que tôdas elas reco­ nheçam o seu caráter d e em prêsa e adquiram con sciên cia de sua

(9)

responsa-Ec o n o m i a e Fi n a n ç a s 4 2 3

bilidade na adm inistração de um a determ inada parcela de capital, cu ja rem u­ neração deverá ser assegurada através de m étodos e processos de trabalho adequados a atividades de caráter industrial.

A inda é cedo, não há dúvida, para um julgam ento final e d efin itivo da ação do B an co N acion al d o D esen volvim en to E co n ô m ico . A sua criação veio, todavia, atender a um im perativo de nosso desenvolvim ento econ ôm ico, pois em tod os os setores da econ om ia nacional fazia-se sentir a necessidade d e um a ação ordenada e planejada d o E stado no sentido d e acelerar êsse desen­ v o lv im e n to . E os resultados b enéficos de suas operações foram reconhecidos p elo P arlam ento N acional quando êste últim o, por expressiva maioria, decidiu prorrogar por mais 10 anos o levantam ento dos recursos financeiros necessá­ rios à garantia da execu ção d o P lan o de R eaparelham ento e d e F om en to da E con om ia N acion al.

Referências

Documentos relacionados

São por demais conhecidas as dificuldades de se incorporar a Amazônia à dinâmica de desenvolvimento nacional, ora por culpa do modelo estabelecido, ora pela falta de tecnologia ou

I) Articulação Flexo L) Pincel para radiadores M) Tubo articulado N) Mini turbo escova P) Cobre rodas para parquet.. P1) Junções para fixação do cobre rodas

[r]

Em  nossa  opinião,  as  demonstrações  financeiras  acima  referidas  apresentam  adequadamente,  em  todos  os 

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza instituído no país faz parte de um sistema maior, o SISNAMA- Sistema Nacional do Meio Ambiente- que, através de

OS VEÍCULOS LOCALIZADOS FORA DO DEPÓSITO DO LEILOEIRO SERÃO RETIRADOS EM DATA AGENDADA COM O COMITENTE VENDEDOR E DESCUMPRIDO O PRAZO PREVISTO PARA A RETIRADA

[r]

4 — Cada uma destas Unidades pode estruturar -se em áreas funcio- nais, e podem ter um responsável, sem estatuto de dirigente, que reporta directamente ao coordenador da