CScD[P
E N S A I O
A
d m i n i s t r a n d o
e s t a d o
o
A e x p e riê n c ia d o s g e sto re s g o v e r n a m e n t a is
A ld in o G r a e f C ir o C a m p o s C h r is to F e r n a n d e s Lu iz A lb e r t o d o s S a n t o s Q u e m s ã o o s g e sto re s g o v e r n a m e n ta is ^ L i n d a p o u c o c o n h e c id o c carente de estudos e avaliações mais aprofundados, os Gestores Governamentais representam um caso paradoxal de notável sucesso profissional de servidores públicos com perfil de agentes de mudança num contexto de incerteza quanto à consolidação da carreira para a qual foram recrutados.lista carreira - de Especialistas em P o lític a s P ú b licas e G estã o G overnam ental - fo i concebida co m o peça fundam ental para a re fo rm a d o E stado n o Brasil, através da constituição de uma burocracia estável, qualificada e capaz de assegurar a continuidade a d m in is tra tiv a s e rv in d o com competência a qualquer governo. 0 Gestor Governamental deveria ser um “especialista em comando” , a p to a tra b a lh a r em “ toda e qualquer administração setorial” ,
1 ENAP - Uma Proposta D iferente de Educação, Brasília. ENAP, 1987.
A
implantação da carreira de Especialistas de Políticas e G estão G o v e rn a m e n ta l, d estinou-se a p r o v e r o Estad o b ra s ile ir o de um c o rp o de funcionários com p e rfil generalista, ampla mobilidade fu n cion a l e alta qualificação, pa ra a ocupação de cargos nos escalões superiores da administração pública federal. Este artigo reconstitui a história do recrutamento, form ação e inserção na m á q u in a a d m in is tra tiv a da p r im e ir a tu rm a de G estoresGovernamentais.
O p e rfil profissional delineado no recrutamento e no curso de form ação encontrou ampla receptividade na administração federal. Mas o êxito da experiência não assegurou a sua co n s o lid a çã o , co n sta ta n d o-se a debilitação da carreira e a evasão de seus quadros, m o tiv a d a p e la interrupção do projeto, que até o presente re a liz o u apenas um concurso de recrutamento.___
um “corp o d e e lite ” com p erfil "generalista” ou, ainda, o “Super- Executivo Público” 1.
A ld in o G ra e f / C iro C a m p o s C. Fernandes / Luiz A lberto d o s S a n to s
A
im p le m e n ta ç ã o d este projeto teve início com a criação da Escola Nacionald e A d m in istra çã o Pú blica, em 1986, n o â m b ito da reform a a d m in istra tiva en saiada p e lo
g o v e r n o Sarney, inspirada nas r e c o m e n d a ç õ e s d o r e la tó r io preparado pelo então embaixador Sérgio Paulo Rouanet2.
Este relatório, encom endado ao Ministério das Relações Exteriores, c o n c lu iu p e la v ia b ilid a d e d e in stitu ição , n o Brasil, d e uma Escola de Governo. Incumbiria à ENAP a m issão d e fo rm a r os q u a d ro s d e alta q u a lific a ç ã o destinados aos escalões superiores da administração pública federal. A c o n ce p çã o adotada previa o re c ru ta m e n to e fo rm a çã o d e generalistas, com base no m odelo francês, destinados à atuação em áreas d iv ersifica d a s e com possibilidade de acesso aos mais a lto s ca rgos da h iera rqu ia governamental.
Partia esta concepção de um diag nóstico que apontava a fragilida de dos quadros da administração Direta, o que inviabilizava as estra tégias de reforma pela inexistência de recursos humanos capazes de orientar sua implementação. Em outubro de 1987, o Governo rem ete ao Congresso projeto de
lei propondo a criação de 960 car gos de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental5. Aos ocupantes desses cargos seria assegurado o “exercício em quais quer órgãos da administração Di reta” e a habilitação para “ativida des d e d ir e ç ã o , s u p e rv is ã o e assessoram ento, em a lto nível, bem com o as de formulação, im plementação e avaliação de políti cas públicas nos escalões superio res da administração Direta". A efetiva instituição da carreira só veio a ocorrer depois de realizado o primeiro concurso e com o curso de formação já bastante avançado. Após d ois anos de tram itação n o C on gresso N acion a l, o n d e a proposta foi aprovada em 4 tumos de discussão e vota çã o, fo i constituída, pela Lei n° 7.834, de 6 de outubro de 1989, a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Nesta lei, optou -se pela organ iza çã o dos Gestores enquanto carreira, tendo co m o requ isitos d e in gresso a realização de concurso público de provas e títulos e a conclusão, com a p roveita m en to, d e cu rso d e formação ministrado pela ENAP. Sucessivos d ecretos d e reg u la mentação introduziram restrições à a m p litu d e d e in s erçã o inicialm ente pretendida: enten- deu-se qu e os G estores G over-ROUANET, Sérgio Paulo. Criação dc uma Escola Superior de Administração Pública no Brasil, M inistério das Relações Exteriores, Brasília, 1982.
namentais deveriam ser alocados, p r e fe r e n c ia lm e n te , “ cm áreas sistêmicas de recursos humanos, serviços de adminis- tração geral, organização, sistemas e métodos”-', d e m o d o a não c o n flita r com carreiras organizadas e/ou corpos p ro fis s io n a is e v e n tu a lm e n te re s is te n te s a p ro fis s io n a is g en era lista s com am pla m o b i lid a d e d e n tr o da m áquina governamental.
O re cru tam en to e a fo r m a ç ã o d o s g e sto re s
prim eiro e, até o momento, único concurso de acesso à carreira fo i r e a liz a d o em 1988, com a participação de mais de 68 mil candidatos, qu e concorreram às 120 vagas então oferecidas naquele q u e fo i, à época, um dos mais dispu tados concursos públicos
realizados no país. Para tanto, a então Secretaria da Administração Pública - SEDAP investiu pesadas som as, num a e s tra té g ia d e m ark etin g q u e visava, d e n tr e ou tros o b jetivo s , o resga te da c r e d ib ilid a d e d o s co n cu rso s pú blicos co m o única form a d e ingresso em cargos de carreira. Os candidatos foram submetidos a provas objetivas e dissertativas de Adm inistração, D ireito, Ciência Política, Econom ia, H istória d o Brasil, P o rtu gu ês e lín g u a estrangeira, além d e exam e d e títulos e entrevista.
O currículo profissional dos alunos que fizeram o Curso de Políticas Públicas e Gestão Governamental corroborava o perfil preten d id o para este profissional, com elevada diversidade de formação:
Formação profissional dos
egressos da ENAP la. formação 2a. formação total
Engenharia 31 4 35 Economia 24 3 27 Direito 15 2 17 Administração 10 3 13 História 5 1 6 Arquitetura 4 4 Outros* 19
* CONTABILIDADADE (2). FILOSOFIA (2), FÍSICA (2), INFORMÁTICA (2) MEDICINA (2). RELAÇÕES INTERNACION MS (2), CIÊNCIA POLÍTICA (1). ESTATÍSTICA (1), LETRAS (1), MATEMÁTICA (1), PEDAGOGIA (1), PUBLICIDADE E PROPAGANDA (1). TEOLOGIA (1).
FONTE: AN ESP
A ld in o G ra e f / C iro C a m p o s C . Fornandes / Luiz A lberto d o s S a n to s
O
in g re s s o na C arreira dependia de conclusão, com aproveitamento, doC u rso d e P o lític a s Pú blicas e Gestão Governamental. Com carga horária d e 2.800 horas, desen volvida ao longo de 18 meses em
h o rá rio in te g ra l, o cu rso fo i ministrado por docentes contra tados ju nto a diversas univer sid ad es e cen tros d e en sin o e pesquisa, com o a UnB, UNICAMP, USP, UFMG, UFKI e Fundação João Pinheiro.
Integraram o conteúdo do curso discip lin as básicas de Ciências H um anas (2 3 0 h o ra s), d e in s tru m e n to s d e G estã o (230 horas) e de Pesquisa (130 horas), oferecidas numa primeira etapa. Em segu id a, os alunos d esen volveram 340 horas de laboratório d e Políticas Públicas, através da p re p a ra ç ã o , em e q u ip e s , d e
trabalh os d e d ia g n ó s tic o e proposição de projetos e medidas referentes a uma situação real de governo, objeto de estudo’ . Na etapa d e e s tá g io fo ra m d is p e n d id a s 1.000 horas com im ersã o to ta l d o s a lu n o s na r e a lid a d e d e ó r g ã o s da Administração Direta e Indireta, d o qual resultaram r e la tó rio s d e análise dos problemas vivenciados. O curso fo i co n clu íd o com um período de com plem entação d e 500 horas, d u ra n te o qu al se p ro c u ro u su p rir ca rên cia s constatadas nas etapas preceden tes6, particularm ente no qu e se r e fe re ao c o n h e c im e n to d o s conceitos e métodos da análise de Políticas Públicas.
O temor em permitir a aprovação de profissionais sem as devidas q u a lific a ç õ e s le v o u a uma • Esta atividade, denom inada "Prática d c Políticas Públicas", rep resen tou a parte mais substanciosa d o curso e v i s a » à realização dc trabalhos práticos, cujos temas fo ram d efin idos a partir de "questões nacionais, consoantes com as p rioridades govern a mentais nas áreas sócio-polúica e econôm ica, nos d iferentes níveis da adm inistração pública". C o m relação a o tip o de abordagem qu e as equipes deveriam utilizar, a ENAP recom endava o seguinte: “ não se trata de (p ro d u zir) análise qu e p rivilegie um ou ou tro â n g u lo s e t o r ia l ou d is c ip lin a r , mas s im da im p le m e n t a ç ã o d o s p r o p ó s i t o s m u ltissctoriais e in terd iscip lin a res da Escola". ENAP - P rop osta C u rricular. Brasília. ENAP, f9 8 8 . pags.21-22.
• Muitas objeções p od em ser feitas a um curso de características inéditas, aplicado à p rim eira turma num con texto dc elevada descontinu idade administrativa n o âm bito da ENAP e d c precária sustentação política para o p rojeto d e im plantação da carreira. Algumas deficiências mais evidentes foram apontadas no relatório d o p ro fe ss o r A rnold MELTSNER: a falta d c um c o rp o d e professores em dedicação integral com um e fe tiv o con h ecim en to e experiência de pesquisa com as m etodologias e abordagens d c Políticas Públicas. Os p róp rios alunos também produziram um relatório d e avaliação, durante o
transcorrer do uirso, enunmvludo i tlireçio úi ENAP.
MELTSNER. A rnold J. Report o f Visit to Escola N acional de Adm inistração Pública, Berkeley, 1990.
preocupação até desmedida com a avaliação dos alunos cm todas as etapas do curso. Em pelo menos 4
o c a s iõ e s , os alu n os foram submetidos a bancas examinadoras in te g ra d a s p o r esp ecia listas externos à ENAP, para a defesa de seus trabalhos e rela tó rio s de p e sq u is a e d e es tá g io e, na conclusão do curso, de monografia sobre tema ligado à administração pública.
D e lin e a v a -s e c o m o p e r fil d o p r o fis s io n a l e g re s s o da ENAP c a r a c te r ís tic a s d e fo rm a ç ã o g e n e r a lis ta , e c le t is m o , v is ã o glob a l dos problem as e espírito crítico:
“( . . . ) re s s a lta m -s e as seguintes dimensões como essenciais a o p e r f il dos fu tu ros egressos da líNAP:
- c o n te x tu a liz a ç ã o : ser c a p a z de a n a lis a r e a va lia r as ações do setor p ú b lic o b ra sileiro fre n te aos contextos n a cion a l e
internacional;
- visão p ro s p e ctiv a : ser capaz de a d ota r atitudes p r ó -a t iv a s f r e n t e às tra n s fo r m a ç õ e s do a m b ie n te in te r n o e externo das organizações;
- dimensão institucional: ser capaz de a n a lis a r a e s tr u tu r a das o r g a n i zações públicas, a va lia n do o seu desempenho em te rm o s de e f ic iê n c ia e eficácia; - sensibilidade a d m in is tr a tiv a : ser c a p a z de id en tifica r e d e fin ir p r o blemas a d m in istra tivos, p ropon do alternativas de s o lu ç ã o q u e seja m adequadas aos recursos disponíveis e aos c o n d i cionam entos da conjuntu ra econôm ica, p o lític a e social;
- habilidades gerenciais: ser capaz de o tim iz a r a adm inistração dos recur sos humanos, m ateriais e fina nceiros;
- d im e n s ã o é tic a : ser capaz de conduzir, dentro de p r in c íp io s é tico s , o relacionam ento interpes soa l e o tra to da co is a pública;
- espírito crítico: ser capaz de perceber a realidade a ser analisada em todos os seus aspectos e c o n tr a dições."1
A ld in o G rg e f / C iro C a m p o s C. Fern an d e s / Luiz A lberto d o s S a n to s
A in s e r ç ã o d o s g e s t o r e s na a d m in is t r a ç ã o p ú b lic a
E m janeiro de 1990, por ocasião da conclusão do curso e da posse da primeira turma de egressos da ENAP, as perspectivas de efetiva implantação da carreira não eram das mais animadoras. Com efeito, o órgão no seio do qual o projeto havia nascido não mais existia8 e a sua própria continuação não só parecia com p letam en te descar tada, co m o tom ad a im possível com a decisão de se extinguir 80% dos cargos não-ocupados9. Dessa form a, a in serçã o dos G es to re s d e p e n d e u , em larga
medida, dos contatos cultivados durante os estágios e da iniciativa individual dos egressos da ENAP em abrir espaços de trabalho para a carreira. Não havia, da parte do G o v e rn o , uma p o lític a d e a p ro ve ita m en to desses p r o fis sionais e a atuação da ENAP não p ô d e avançar m u ito a lém da simples intermediação de ofertas de vagas p ro v en ie n tes, na sua maioria, das poucas áreas onde a ca rreira e a Escola eram conhecidos.
C om o resultado desta prim eira inserção dos Gestores, em 1990 observava-se a segu in te d is tri buição:
* - A Secretaria da Administração Pública - SEDAP, havia sido extinta p or ocasião da últim a reform a ministerial d o go v ern o Sarncy, ten do suas atribuições sido transferidas para a Secretaria d e Planejam ento e C oordenação • SEPLAN, qu e sem p re encarou com desconfiança c ceticism o a criação d c uma Escola de Adm inistração Pública nos m oldes da ENAP. N ã o obstante, a ENAP passou a estar vinculada à SEPLAN e os cargos ocu pados dos G estores Governam entais foram lotados nesse m esm o órgão.
9 • A edição d o D ecreto n°. 99.011, d c 2 de março de 1990, teve a minúcia de declarar extintos 80% dos cargos vagos "criados pela Lei n ° 7.834, de 6 d e ou tu b ro de 1989" - cargos recém criados de Especialista e m Políticas Públicas e G estão G overnam ental - numa clara indicação d o desinteresse governam ental 110 prossegu im en to d o p rojeto. P os te rio rm e n te , este d isp ositivo fo i torn a d o sem e fe ito p ela Lei n ° 8.460/92, q u e reconstituiu a Carreira “ nos term os da Lei 11o 7.834, d e 1989...", até p orq u e p adecia de flagrante inconstitucionalidade: o D ecreto m encionado regulam entava as Leis n°. 7.800, d e 10 d e julho dc 1989, e 7.822, dc 20 dc setem bro dc 1989, anteriores, p ortan to, à Lei n. 7.834, d e 6 de ou tu b ro de 1989, qu e criou os 960 cargos d c G estor G overnam ental. Apesar da evid en te intenção d e im pedir a institucionalização da carreira e de seu p ro je to d e inserção, p ela via da extinção dos cargos, não há, na exp osição dc m otivos qu e acom panhou o D ecreto, qualquer m enção a este e fe ito ou a esta disposição p o r parte d o G overn o, dem onstrando, aparentem ente, ter a extinção oco rrid o p or vias p o u c o trans parentes. M erece ser lembrada, ainda, a inusitada c injustificada transform ação dos car gos ocu pados d c G estor Governam ental c m cargos d e Analista d e O rçam ento, operada p ela Lei n ° 8.216, d e agosto dc 1991. Tal iniciativa v eio a ser p osteriorm en te julgada inconstitucional p e lo Suprem o Tribunal fe d e r a l (AD In 722-O-DF) e dcsconstitu ída pela m esm a Lei 11o 8.460/92, qu e reconstituiu a Carreira e os 960 cargos originais, llá, p ortan to, cerca d e 880 cargos não p rovidos na Carreira, viabilizando a retom ada im ediata d o p ro je to m ediante a realização de novos concursos.
GESTORES GOVERNAMENTAIS - DISTRIBUIÇÃO POR MINISTÉRIOS EM FEVEREIRO DE 1990
ÓKGÃO QUANTIDADE
Secretaria de Planejamento e Coordenação / PR
(áreas atualmente na SEPLAN) 17
Ministério do Interior 15
Secretaria de Planejamento e Coordenação / PR
(áreas atualmente na SAP) 14
Ministério do Trabalho ■ 13
Ministério da Ciência e Tecnologia 6 !
Ministério da Cultura 6
Ministério da Fazenda 5
Ministério das Relações Exteriores 5
Ministério da Previdência e Assistência Social 3
Ministério das Minas e Energia 3
Ministério dos Transportes 2
Ministério da Agricultura 1
Ministério da Educação 1
Ministério da Saúde 1
Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo 1
a) a concentração 110 M inistério d o Interior se deve à facilidade oferecida p elo 1BAMA para alocação nas Superintendências Estaduais (14 EPPGG).
b ) N o M inistério da Fazenda, a inaior concentração foi na Secretaria d o T esou ro Nacional (4 EPPGG)
c) n o MRE, a alocação se deu na Agência Brasileira de Cooperação. d ) N o MCT, a inaior concentração se deu na então SEI/SCT.
e ) Na SEPLAN/PR (1 ) a maior concentração se deu na SOF e SEPES. Na SEPLAN/PR (2 ) a maior concentração se deu na SRH (10 EPPGG).
FO NTE : AN ESP
D os 93 Gestores em possados a partir d e fevereiro de 1990, um terço havia optado pelo exercício no seu órgão de lotação - a SEPLAN - co n c e n tra n d o -s e , p o rta n to , m a jo rita ria m e n te , nas áreas definidas pela legislação com o de alocação preferencial para este s e g m e n to d e s e rv id o re s : 17
Gestores, correspondentes a 18% d o total, es colh eram áreas d e planejam ento e orçam ento e 14 (15% d o to ta l), áreas q u e desempenhavam atribuições da a n tiga SEDAP, e s p e c ia lm e n te aquelas ligadas a m odernização a d m in istra tiva e a recu rso s humanos.
A ld in o G ra e f / C iro C o m p o s C. Fern an d e s / Luiz A lberto d o s S on to s
O
utros dois importantesn ú cle o s d c absorção desses p ro fis s io n a is
fo ra m o a n tig o M in is té rio d o Interior, através do IBAMA, que recebeu 15 Gestores (16% do total) e o M inistério do Trabalho, que
a colh eu 13 (14% d o to ta l). A preferência pelo 115 AM A se deveu, so b retu d o , à p o ssib ilid a d e de trabalho fora de Brasília, cm muitos casos na cid a d e d e orig em d o profissional. As dificuldades de
instalação em Brasília, particu larm ente dc acesso à m oradia, influenciaram fo rte m e n te tais o p ções, num c o n te x to d e inexistência de quaisquer estímulos para a fixação na capital. No caso do M in istério d o T ra b a lh o, a concentração de Gestores se deveu a contatos construídos durante a íàse de estágio.
A distribuição dos Gestores em julho de 1994 apresenta a seguinte situação:
GESTORES GOVERNAMENTAIS - DISTRIBUIÇÃO POR MINISTÉRIOS EM JULHO DE 1994
MINISTÉ Kl OS/SECRETAJRIAS/Ó RGÃO S QUANTITATIVO
Ministério cia Previdência e Assistência Social 12
Ministério da Fazenda 7
Ministério do Trabalho 6
Câmara dos Deputados 6
Secretaria dc Planejamento, Orçamento e Coordenação / PR 6
Ministério do Meio Ambiente c da Amazônia Legal 5
Ministério dos Transportes 4
Ministério da Educação e do Desporto 3
Ministério do Bem-Estar Social 3
Presidência da República 2
SAF 2
Ministério da Ciência e Tecnologia 2
Ministério da Indústria, do Comércio c do Turismo 1
Ministério da Cultura 1
Ministério da Integração Regional 1
Governo do Estado de Minas Gerais/Fundação João Pinheiro 1
Total 62
S
u rp r e e n d e n te m e n te , a análise da inserção dos Gestores, 4 anos depois, s u g e re um a in c a p a c id a d e d e aproveitamento dos Gestores nas áreas historicamente vinculadas às origen s da carreira: perm anece hoje um contingente reduzido nas áreas d e a tiv id a d e s da an tiga SEDAP (atu al S ecretaria da Adm inistração Federal - SAF) e c o n s id e r a v e lm e n te m en o r na SEPLAN (atualmente, Secretaria de P la n e ja m e n to , O rça m en to e Coordenação).O m a io r c o n tin g e n te d o s 62 Gestores ainda em atividade na ca rreira está lo c a liz a d o n o Ministério da Previdência Social, c o n c e n tr a d o s s o b r e tu d o na Secretaria da Previdência Social e r e p re s e n ta n d o 19% d o total. O u tro s n ú c le o s d e a b sorção im portantes continuaram a ser, além da SEPLAN, o Ministério do Trabalho e o Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal (ao qual se vincula o IBAMA, onde permanecem 5 Gestores). Novas e importantes áreas de atração de G e s to re s fo ra m abertas no M in istério dos Transportes, na
Câm ara d o s D ep u ta d o s e n o Ministério da Fazenda.
O t r a b a lh o d o s g e s t o r e s
E m b o r a as características d e recrutamento e de formação dos Gestores e as atribuições d o cargo a p on tem c la ra m e n te para o exercício de funções de direção e de assessoramento su perior na administração federal, mais de uma vez, ao lon go d o curso na ENAP, se questionou abertamente a factibilidade de uma pretensa “carreira de chefes” l0.
Sem p re cisa r p e n e tr a r nos m ea n d ros dessa im p o r ta n te discussão, a simples apresentação d o s d a d o s d e d e s e m p e n h o profissional dos Gestores refuta, factualmente, muitos dos falsos p ro b lem a s e te m o re s in ju s tific a d o s lev a n ta d o s n a q u ela época. Superando até mesmo as expectativas mais otimistas dos p ró p rio s G estores, o acesso a p o s iç õ e s d e ch efia e d e assessoramento em alto nível se deu de forma natural e rápida.
10 • A turma dos Gestores participou, durante o curso, d e m em oráveis sessões de discussão com consultores contratados pela extinta SEDAP para a elaboração d o sistema d e carreiras que, desde aquela época, se p retendia introduzir na Adm inistração Federal. N a visão destes consultores, a criação de uma carreira coin as características de elevadas exigências de qualificação no ingresso e na form ação, ampla m obilidade inter-ministeri- al, p e r fil gcn cra lista e atrib u ições voltadas para a d ireç ã o e o assessoram ento, se su p erp oria indevidam ente à arquitetura de carreiras p or ó rg ã o ou p o r função e se d e frontaria com obstáculos e resistências intransponíveis à assimilação d os G estores p elos dem ais servidores.
A ld in o G ra e f / C iro C a m p o s C . Fernandes / Luiz A lberto d o s Son to s
E
m quatro anos de exercício na administração federal, o contingente de Gestores al cançou e x cele n te desem penh o: 69% dos quadros em atividade na carreira detêm cargos de confian ça. A maior concentração se obser va nas funções de gerência interde dos Gestores (idade média de 35 anos por ocasião do ingresso na ENAP) e mesmo com a existência de casos de pouca ou nenhuma experiência profissional anterior ao
mediária (Coordenações Gerais e Coordenadorias) e de assessoria a óigãos de formulação e de g e rência superior (Secretarias Exe cutivas e Secretarias de Ministéri os), ocupadas pelos caigos d en o minados DAS-4 e DAS-3
Não obstante a relativa
juventu-ingresso na carreira, mais de um profissional desse grupo logrou rápida ascensão a posições de se gundo e terceiro escalões na hie rarquia ministerial: a carreira
con-GESTORES GOVERNAMENTAIS
SITUAÇÃO ATUAL Q UANTO À OCUPAÇÃO DE CARGOS EM COMISSÃO
CARGO QUANTITATIVO %
Sccrctário Executivo I 1,5
Secretário de Ministério 1 1,5
Sccrctário Adjunto / Scc. Adm. Geral de
Ministério / Diretor DAS 5 3 4,5
Coordenador Geral / Chefe dc Gabinete /
Assessor DAS 4 17 28
Coordenador c Assessor - DAS 3 16 26
Chefe de Divisão e Assessor - DAS 2 4 6,5
Chefe dc Serviço e Assessor - DAS 1 5 8
Sem cargo 15 24
Total de membros da carreira em atividade 62 100
Licenciados 6
Total de membros da carreira 68
FONTE: AN ESP
11 - A sigla DAS identifica os cargos em com issão d o G rupo-D ireção e Assessoram ento S uperiores, d e livre p rovim en to na Administração Federal.
ta hoje com um secretário-execu- tivo, um secretário nacional e um secretário d e administração geral de Ministério.
Que razões podem dar conta des te sucesso? Sem pretender ofere cer explicações definitivas, que te rão de ser inferidas de estudos sis temáticos, podem os adiantar algu mas hipóteses. Em prim eiro lugar, a constatação óbvia de que a ad ministração pública no Brasil ca rece de quadros qualificados, so bretudo nos órgãos da chamada administração Direta, que consti tuem o centro do poder do Esta d o , mas p a d ecem d e p erigo sa acefalia12.
Em segu n d o lugar, a form ação generalista, a versatilidade, a ex periência adquirida no trato com prob lem a s e am bientes d iv er sificados, reforça nos Gestores o p a p e l d e v e r d a d e ir o s e m p r e e n d e d o r e s d o S e to r P ú b lic o , so lu c io n a d o re s d e prob lem as, agentes de mudança.
Além disso, contribuiu para a assi m ila ç ã o d esse p a p e l a desvinculação desses profissionais com os v íc io s e a co m o d a ç õ es corporativas qu e se cristalizam dentro da máquina administrativa
em muitos setores. Por não esta rem vinculados ao status quo bu rocrático de nenhum órgão, gra ças à sua mobilidade funcional, os Gestores podem mais facilmente assumir posturas inovadoras. Certamente não faltará quem sugi ra a hipótese de formação de redes de auto-proteção entre estes profis sionais, (constituindo algo com o uma “máfia”), responsáveis pela in dicação mútua para a ocupação de caigos. É certo que os Gestores for mam um círculo de relacionamen tos profissionais e pessoais, inevitá vel em qualquer experiência de trei- namento de longa duração e forta lecido pelas incertezas quanto ao futuro da carreira.
Entretanto, a amplitude e a diver sidade dos loci de trabalho que têm sido abertos a estes profissio nais parecem indicar um fenôm e no oposto: os dirigentes que “ tes tam” com sucesso um Gestor, via- de-regra utilizam a rede de relaci onamentos para atrair outros qua dros na montagem de suas equ i pes. Em mais de um m om ento, ocorreu a paradoxal situação de serem os G estores d is p o n ív e is “disputados” entre os órgãos inte ressados, e demandas não serem atendidas por falta de candidatos. 12 - O tema da acefalia dos ceniros de form ulação, norinatização e su pervisão das políticas públicas n o Estado tem sido a pontado p o r diversos autores c om o um dos p ro blemas estruturais da Administração Pública Brasileira, d eterm inado p e lo padrão d e cres cim en to cen trifu go estim ulado p e lo Decreto-Lei n°. 200/67. Uma referên cia conhecid a acerca dessa discussão £ o trabalho de Luciano Martins: MARTINS, Luciano. Estado Capi talista e Burocracia no Brasil Pós-64, Rio, Paz e Terra, 1985.
RSP
A ld in o G ra e f / C iro C a m p o s C. Fernandes / Luiz A lberto d o s S a n to s C orren d o todos os riscos de umain t e r p r e t a ç ã o p e s s o a l d o s autores, um balanço tentativo de realizações mais notórias em que os Gestores tiveram participação
n e s te s q u a tr o a n o s d e experiência na administração d o Estado, revela um significativo rol de atividades desenvolvidas:
PROJETOS RELEVANTES DESENVOLVIDOS COM A CONTRIBUIÇÃO DE ESPECIALISTAS EM POLÍTICAS PÚBLICAS E
GESTÃO GOVERNAMENTAL - EPPGGS, DE 1990 A 1994 PROJETO/ATIVIDADE PARTICIPAÇÃO
Elaboração dc Projeto dc Lei Orgânica para a
Administração Pública Federal (1989 c 1990)
Participação de EPPGGs nas equipe dc trabalho encarregada pela SEPLAN/SEMOR de propor anteprojeto de Lei Orgânica para a administração pública federal
Implantação do Cadastro Nacional do Trabalhador (1989 e 1990)
Participação de EPPGGs nas equipe de
trabalho encarregada pelo MTb de
desenvolver estudos para a implantação do Cadastro Nacional do Trabalhador
Implantação do Conselho Deliberativo do Fundo dc Amparo ao Trabalhador, cm
1990
Participação de equipe dc EPPGGs na formulação do projeto de regulamentação da Lei n° 7.998, que instituiu o Seguro Desemprego Participação na regulamentação da Lei n° 8.028/90 (reorganização administrativa do Governo Collor)
Participação efetiva em grupo de trabalho destinado à proposição e elaboração de medidas corretivas para o processo de
implementação da reorganização
administrativa de 1990 (Governo Collor) - fusão, criação e extinção dc órgãos e entidades da administração pública,
Implantação do Sistema de Arrecadação do II3AMA
Concepção e desenvolvimento totalmente realizados com a participação de equipe de EPPGGs, em diversas etapas
Participação na elaboração do Plano Plurianual 1991- 1995
EPPGGs integraram grupos de trabalho interministeriais no DNPA/SNP/MEFP e órgãos setoriais de planejamento nos Ministérios
Formulação de projetos relativos a política salarial
Participação ativa dc EPPGGs nas etapas de formulação c negociação da legislação salarial de 1991a 1993
Informatização das
Delegacias Regionais do
Trabalho/MTb
Concepção c desenvolvimento totalmente realizados por EPPGGs, em diversas etapas
cont. Implementação do Programa
Federal dc
Desregulamcntação (1990 a 1993)
EPPGGs compuseram junto à Presidência da República núcleo dc assessoramento à comissão executiva do Programa Federal de Desregulamcntação
Reorganização c
aparelhamento da SUNAB para o exercício de funções de proteção ao consumidor
Participação c condução, por EPPGGs, das etapas de formulação c encaminhamento intra-govcrnamental do projeto
Implantação do Sistema Nacional de Mediação de Conflitos Individuais Trabalhistas nas Delegacias Regionais do Trabalho
Participação ativa dc EPPGGs nas etapas de implementação do Sistema em 9 Estados da Federação
Reorganização da área dc planejamento setorial no MTPS (1991/1992)
Coordenação c implementação do processo por equipe de EPPGGs
Modernização e
reorganização do INSS/MTPS eMTb
Participação cm equipe de trabalho destinada a elaborar diagnósticos organizacionais e
propor medidas de modernização e
estruturação das redes de postos de atendimento do INSS e MTb/DRTs Formulação da proposta de instituição do Programa de Erradicação do Trabalho Forçado c do Aliciamento dc Trabalhadores
Proposta elaborada por EPPGGs c convertida em Decreto Presidencial Formulação e implementação da informatização das Superintendências do IBAMA
Projeto ainda em fase de implementação, sob a coordenação de EPPGGs
Regulamentação e
implementação do Plano de Seguridade Social do Servidor Público Federal - PSS
Participação dc EPPGGs nas etapas de formulação de propostas, discussões técnicas, definição de modelos consubstanciados cm Projeto de Lei enviado ao Congresso Nacional regulamentando o PSS
Formulação c negociação da Lei Orgânica da Assistência Social
Participação ativa de EPPGGs em todas as etapas do processo
A ld in o G ra e f / C iro C a m p o s C. Fernandos / Luiz A lberto d o s S a n to s
cont. Criação do Fundo Especial
dc Formação, Qualificação, Treinamento c
Desenvolvimento do Servidor Público, constituído por 1 % das despesas com pessoal
Proposta formulada por EPPGGs que se concretizou cm artigo incluído na Lei n° 8.622/93
Reformulação do Sistema Integrado de Administração de Pessoal do Poder Executivo
Participação de EPPGGs cm equipes de trabalho voltadas ao diagnóstico do sistema e na formulação de proposta dc implantação da folha de pagamento unificada
Implantação do Conselho Nacional do Trabalho e organização da Conferência Nacional do Trabalho
Participação em equipe técnica de trabalho instituída pelo MTb
Implantação cm todos os Estados dos Conselhos Estaduais de Previdência Social
Participação cm equipe técnica de trabalho instituída pelo MPS
Montagem dc Sistema dc Indicadores de Desempenho das Superintendências do INSS
Participação em equipe técnica dc trabalho instituída pelo MPS
Discussão e negociação de projetos de lei de diretrizes orçamentária e leis
orçamentárias, durante sua tramitação no Congresso Nacional
A participação se deve a presença de EPPGGs em assessorias do Congresso Nacional diretamente envolvidas nas negociações
Discussão e negociação de projetos dc lei salariais para o setor público, organização administrativa, sistema dc carreiras, ctc., durante sua tramitação no Congresso Nacional
A participação se deve a presença de EPPGGs cm assessorias do Congresso Nacional diretamente envolvidas nas negociações
Preparação dc propostas do MPS para a reforma da Previdência Social na revisão constitucional
Coordenação e preparação de estudos, pesquisas, condução e participação no processo de discussão das alternativas para a Reforma da Previdência Social
Reativação do Centro dc Treinamento para o Desenvolvimento
Econômico - CENDEC, do IPEA
Participação na equipe que implementou a reativação das atividades dc ensino e pesquisa do CENDEC, a partir de 1992
cont. Reimplantação do curso dc
formação dc
Administradores Públicos da Escola dc Governo da Fundação João Pinheiro do Estado dc Minas Gerais
Recuperação da base conceituai da carreira de Administrador Público, planejamento e implementação do concurso de seleção e do curso de formação para a carreira
D
a análise dos principais atividades que têm ocu pado os Gestores nestesquatros anos pode-se depreender um consistente direcionam ento desses profissionais para áreas não-
rotinizadas da administração públi ca. Particularmente, o trabalho com projetos e o gerenciamen to de equi pes envolvidas com processos de mudança.
Ainda que a ocupação de cargos com elevada carga de rotinas, em áreas com o Recursos Humanos e Serviços Gerais, tenha sido c o mum entre os Gestores, mesmo n e s te s ca so s as s itu a ç õ e s vivenciadas têm sido de intensa mudança: criação d e novos mi nistérios, fusões, incorporações e desm em bram entos de órgãos. Uma surpresa é a constatação da fraca presença da categoria nas ati vidades de análise e pesquisa, que deveria representar uma das prin c ip a is lin h a s d e atu ação dos Gestores: a chamada análise dc Políticas Públicas com a finalida de de subsidiar o processo de for mulação de políticas e a tomada de decisões. Nesse sentido, a tra
jetória dos Gestores dessa prim ei ra turm a tem e s ta d o mar- cantemente vinculada à gerência, seja pelo exercício direto de car gos de direção, seja pela assesso- ria a dirigentes.
P ro fissio n a is b e m -su c e d id o s x ca rre ira fraca: a situ a ç ã o a tu a l d o s g e sto re s
ex p eriên cia dos G estores Governam entais venceu a mais difícil prova: dem onstrar que há trabalho (e m uito trabalho) para profissionais generalistas, com livre m ob ilid a d e institucional, alta qualificação e com prom isso com a m u d a n ça d e n t r o d o Estado.
Paradoxalmente, o prestígio e os laços profissionais construídos nas mais diversas áreas da adminis tração pública não foram suficien tes para a consolidação da carrei ra. Os Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental são hoje uma carreira fraca: a sua remuneração no patamar inicial é inferior à dc um Técnico d o Tesou ro Nacional, com nível de segun
RSP
A ld in o G ro e f / C iro C a m p o s C. Fernandes / Luiz A lberto d o s S a n to s d o grau, ou à dc um terceiro-sar-gento das Forças Armadas. A o lado de outras categorias pro fissionais que, em muitos casos, representam verdadeiras “ilhas de excelência” d o Estado brasileiro, os Gestores acumulam pesadas p e rd a s n os seus patam ares rem uneratóriosB. Além disso, a
inexistência, até o m om ento, de qualquer decisão política no sen tido da realização dc novos con cursos de ingresso, vem corrobo rar as evidências de frágil respal do institucional para este projeto. É evidente que o resultado dessa situação tem sido uma contínua evasão de quadros:
EVASÃO DE GESTORES GOVERNAMENTAIS SITUAÇÃO EM JULHO DE 1994 QUANTIDADE SITUAÇÃO DE DESTINO14
11 Assessor Legislativo no Congresso Nacional
7 Auditor Fiscal do Tesouro Nacional
2 Fiscal de Contribuições Previdenciárias
2 Assessor Legislativo na Assembléia Distrital/DF
1 Juiz do Trabalho
1 Procurador Autárquico do INSS
1 Diplomata
1 Assembléia Legislativa Estadual /MG
1 Banco Nacional de Des. Econ. e Social - I3NDES
1 Oficial de Chancelaria
1 Tribunal de Contas da União
1 Universidade
5 outros/desconhecido
FONTE: ANESP
15 - Em jan eiro d c 1990, os Gestores faziam jus a u n u rem uneração da o rd e m d c USS 1.672 n o início d e carreira e de USS 2.856 no final; h oje estes patamares estão redu zid os a, respectivam ente, USS 503 e USS 988.
14 - As situações dc destino refcrcn vse aos cargos atualm ente o cu pados p elo s egres sos da ENAP q u e concluíram o 1 Curso d e Políticas Públicas c G estão G overnam ental e se e n con tra m fora da carreira, Dos 103 concluitucs, 10 se recusaram a tom ar p osse, retorn an d o aos seus cargos de origem . Outros 25 solicitaram exon eração d ep o is d e te rem tom a d o posse c om o Gestores Governam entais.
D
os 93 profissionais que sc tomaram Gestores Gover namentais em fevereiro de1990, 68 ainda permanecem na carreira, evidenciando uma evasão da ordem dc 26%. Considerando
o contingente dos que concluíram com sucesso o curso preparatório à carreira, a evasão se eleva para 34 %. Na verdade, permanecem em e f e t iv o e x e r c íc io apenas 62 G e s to re s , p o s to q u e 6 estão licenciados, numa situação que é d e fa to p re p a ra tó ria à saída definitiva destes profissionais para outras alternativas de trabalho. íi im portan te chamar a atenção para o interesse pela permanência no setor público, entre aqueles que saem: até o m om ento 25 ex- G e s to re s o p ta ram p o r ou tra in s e rç ã o , m e d ia n te co n cu rso público, na própria administração pú blica. As principais áreas de a tra çã o d o s G e s to re s q u e abandonam a carreira, atualmente, são as assessorias d o Congresso Nacional c a Receita Federal. Embora esta seja uma avaliação pessoal dos autores, a identificação c o m o p e r fil p r o fis s io n a l e atividades d o Gestor é bastante grande entre os que abandonam a carreira. O motivo da transferência é, in e q u iv o c a m e n te , a baixa re m u n e ra ç ã o c o h o r iz o n te nebuloso em relação ao futuro da carreira.
O s ge sto re s e a s
e x p e riê n cia s h istó ricas de fo r m a ç ã o de
a d m in istr a d o r e s p ú b lico s no B rasil
descontinuidade e a frágil institucionalização do projeto dos G estores G o vern a m en tais não constituem novidade no contexto histórico mais amplo das sucessivas e interm itentes experiências de form ação d e a d m in istrad ores públicos no Brasil.
A con stata çã o d e a m b ie n te s políticos adversos e dc equívocos d e con cep çã o, q u e e m e rg e da an álise d c tais e x p e riê n c ia s , perm ite id en tifica r os avanços, limitações e desafios que devem ser ponderados para que não se reg istre mais um fracasso nas tentativas de profissionalização do Estado no Brasil.
As iniciativas pioneiras do DASP, durante as décadas de 30 e 40, pretenderam constituir um serviço p ú b lic o p r o fis s io n a liz a d o n o B rasil, mas não resistira m ao em bate com as práticas clien - telistas e patrim on ialistas q u e acompanharam a transição para o período de democracia populista no pós-guerra.15
15 - GRA1IAM, Law rencc S. Civil Service R eform in Drazil, U niversiiy o f Texas 1’rcss, Austin/I.ondon, 1968.
A ld in o G ro e f / C iro C a m p o s C . Fern an d e s / Luiz A lberto d o s S a n to s
D
epreende-se desta experiên c ia a im p o rta n cia d c se trabalhar o am
b ie n t e p o lít ic o d e m o d o a assegurara necessária sus- tentação para p rojeto s qu e im plicam na
revisão dos padrões de relacio nam ento en tre a adm inistração pública e a sociedade.
Tais projetos, eventualmente, terão de se conformar a uma estratégia g ra d u a lista e se letiva de tra n s fo rm a ç ã o , p o s to qu e d ific ilm e n t e se con ta rá com su sten ta çã o p o lític a para um enfrentamento frontal e imediato d o s v íc io s e d is to rç õ e s s e d i m entados desde longa data em nosso sistema político.
N o período pós-guerra, a Fundação Getúlio Vargas realizou importante trabalho de formação de quadros qualificados para a administração pública, desta vez a cargo de uma instituição privada, desvinculada d o E stado16. Desta ex p eriên cia infere-se a necessidade de uma vinculação determinante entre os cursos ministrados e o automático aproveitam ento dos egressos na ocupação de cargos em carreiras do serviço público.
De outra forma, o próprio êxito do programa de formação pode levar
à atração dos quadros para o setor privado ou ao seu aproveitamento d e form a dispersa, d ilu in d o o impacto m odem izador da alocação de profissionais qualificados na máquina.
Mais recentemente, no início dos anos 70, en con tra m os a curta e x p e r iê n c ia d e fo rm a ç ã o d e Técnicos de Planejamento para a o p e ra ç ã o das a tiv id a d e s d e p la n e ja m e n to , o r ç a m e n to e m o d e rn iza ç ã o a d m in istra tiva , através d e program a d c treina mento organizado no âmbito da Secretaria d e M o d e rn iz a ç ã o e Reforma Administrativa - SEMOR/ SEPLAN.17
Este projeto trouxe para o setor público cerca de -100 técnicos que, face à sua baixa a rticu la çã o institucional, inexistência de uma m aior inserção p o lítica e à sua o rg a n iza ç ã o c o m o c a te g o ria funcional integrante do Plano de Classificação de Cargos, acabaram p o r ser a b s o rv id o s p e lo s Ministérios, descaracterizando-se en q u a n to in s tru m e n to s d e revigoram ento dos sistemas d e planejamento c dc modernização. A avaliação desta e x p e r iê n c ia revela a necessidade de atribuição de um “ status” fu n cion a l d ife-16 - CARVALHO, Maria d o Socorro. Trein am en to d e Administradores Públicos na Am é
rica Latina, com especial referenda ao caso brasileiro. Revista ile Administração Pública
n .° 15 (e d iç ã o extra), 1981, pags. 142-167, 155-156. 17 - Ibidem , pag. 158.
renciado e de uma missão bem delimitada a estes profissionais, dc m o d o a e v ita r uma a b sorção d e s a g re g a d o ra , p ela m áquina adm inistrativa, de quadros que d e v e ria m ser a ge n tes d e mudanças.
C o n s id e r a n d o a re fe rê n c ia histórica destes projetos, quais as lim itações e potencialidades da experiência em curso dos Gestores Governamentais?
C om o foi mencionado, diferentes fa to r e s e x p lica m a e le va d a descontinuidade e esvaziamento das experiências de formação de administradores públicos para a modernização do Estado no Brasil: a pura e simples interrupção no nascedouro, a incapacidade de c o n s tr u ir uma id e n tid a d e profissional diferenciada para os q u a d ro s fo rm a d o s , a d e s v in cu lação en tre os profission ais egressos e uma inserção funcional assegu ra d a na a d m in istra ç ã o p ú b lic a , a in c a p a c id a d e d e construir uma coalizão política de suporte para a institucionalização destes projetos.
A e x p e r iê n c ia d o s G es to re s G o v e rn a m e n ta is so b rev iveu a d ifíc e is circu n stâ n cias de
nascim ento, orfã de lideranças q u e, n o â m b ito da m áq u in a administrativa ou do m eio político, a p a tro cin a ss em sem a m b i güidades ou mesmo assumissem a “paternidade” do projeto.
P o r o u tr o la d o , os G e s to re s construíram, p o r vias tortuosas, uma só lid a id e n tid a d e p r o fis sional, robustecida precisamente na luta p e la v ia b iliz a ç ã o da ca rreira, d e fla g ra d a d e s d e o período de curso na ENAP. Embora não tenham d e se n vo lv id o uma doutrina ou mesmo um discurso p o lític o - id e o ló g ic o e s p e c ífic o , v in c u la d o à sua id e n t id a d e fu n c io n a l, a p e r s is te n te e traumática negação de um “vir-a- ser” para este projeto tem obrigado o g r u p o a c o n s tr u ir um diagnóstico e um projeto para o Estado brasileiro, sem prejuízo do p lu ra lis m o p o lít ic o q u e o c a r a c te r iz a .18 A lém d is s o , os Gestores se converteram em grupo d e p re s s ã o 19, a tu a n d o nas en tranhas da m áq u in a a d m i nistrativa e no Legislativo para a viabilização de sua carreira. O projeto dos Gestores incorpora um im p o rta n te a van ço, ao - A elaboração, p elo gru po, d e propostas para a Administração Pública n o Brasil te in s id o p reocu p ação constante. Existem, entretanto, posicionam entos divergentes, in clusive em relação à configuração a ser assumida pela carreira de Especialistas e m Políti cas Públicas e G estão Governam ental.
■' - A curiosa im putação aos Gestores d o rótu lo dc "corporativistas" não é rara. Efetivam ente, a organização desses profissionais fo i im prescindível ã sua p róp ria exis tência. Entretanto, a natureza da carreira e o p erfil de seus quadros são in irinsecam ente avessos ao corporativism o, p orq u e favorecem uma ampla dispersão e elevada m obilida d e através da máquina. Dessa forma, os Gestores d ificilm ente p od eriam se valer d e re cursos político-institucionais essenciais às práticas corporativistas, com o, p o r exem p lo, o con trole d e uma área, órgã o ou sistema esp ecífico den tro da máquina governam ental.
A ld in o G ra e f / C iro C a m p o s C . Fernandes / Luiz A lberto d o s S a n to s
assegurar a inserção profissional dos egressos da ENAP em carreira e s p e c ífic a . P o r o u tr o la d o , a c o n fig u ra ç ã o desta carreira apresenta a peculiariedade de não id e n tific á -la com nenhum ministério, secretaria ou segmento d o g o v e rn o . Esta característica deveria tomá-la bastante atraente, c o m o p o d e r o s o e versá til instrumento de mudança a serviço de qualquer governo.
Do pon to de vista da viabilidade política do projeto, ele se norteava, na v e rd a d e , p o r um m o d e s to gradualismo: não tinha a pretensão de propor a mudança estrutural no Estado, o ataque instantâneo e voluntarista a vícios e distorções conhecidos, mas, tão somente, a gradual revitalização da máquina p ú b lic a através da progressiva d is se m in a ç ã o d e a gen tes de mudança: cm cinco anos, verificar- se-ia o im p a cto cu m ulativo da absorção de 960 Gestores em todos os setores.
A in d a assim, constata-se, com perplexidade, as dificuldades de c o n v iv ê n c ia da a d m in istração pública brasileira com a mudança, ainda que contida nos limites de projetos-piloto, com o é o caso dos Gestores Governamentais. Existem inequívocos indicadores de sucesso desta experiência, explicitados pela própria trajetória profissional dos eg re s s o s da
ENAP.
Mas, co m o d e m o n s tr a d o ao lo n g o d estetra b a lh o, não rep re se n ta ra m c o n d iç ã o s u fic ie n te para o fortalecimento político d o projeto, ora descontinuado.
Esta situação evidencia, na verdade, uma d im e n s ã o até a go ra negligenciada da crise d o Estado n o B rasil: a fra g m e n ta ç ã o , desorganização interna e acefalia das suas estru tu ras a d m i nistrativas, que representam hoje ve rd a d eira am eaça à g o v e r n a bilidade. Mais grave, porém , é a constatação da in existên cia dc projetos consistentes de reforma administrativa, que têm, no Brasil, o s c ila d o e n tre as boas id é ia s obstruídas pela paralisia decisória n o G o v e r n o S arn ey e o obscu rantism o volu n tarista d o período Collor.
Resumen
ADMINISTRANDO EL ESTADO: LA
EXPERIENCIA DE LOS GESTORES
GUBERNAMENTALES
La implantación de la carrera de Especialistas en Políticas Públicas y G es tió n G u b e rn a m e n ta l se d e s tin ó a p r o v e e r al E stado b ra s ile n o un c u e r p o d e funcionários con perfil generalista, amplia movilidad funcional y alta capacitación, para la ocupación de
cargos cn los rangos superiores de la administración Pública Federal. Este a rtic u lo re c o n s titu y e la h is tó ria d e i re c lu ta m ie n to , fo rm a c ió n c in s erció n en la máquina administrativa dei primer g r u p o d e g e s to r e s gu b er- namentales. El perfil profesional delineado en el reclutamiento yen e l cu rso fo rm a c ió n e n c o n tró a m p lia re c e p tiv id a d en la Adm inistración Federal. Pero el éxito dc la experiencia no aseguró su consolidación.
A b stra ct
THE ADMINISTRATION OF THE
STATE. THE EXPERIENCE OF THE
GOVERNMENTAL SPECIALISTS
Creation o f a career for spccialists in public policy and govemmental a d m in is tra tio n was a im ed at providing thc Brazilian State with a staff o f administrative cmployees, w ide career mobility and excellent tra in in g to o c c u p y the high e c h e lo n s o f F ed era l A d m in is tration. This article reconstitutes the history o f recruiting, training and in s e rtio n in to the administrative machine o f the first class o f g o v e rn m e n ta l administrators. The profcssional profile outlined in recruiting and d u rin g tra in in g was very w e ll re c e iv c d in the F ed eral A d m in is tra tio n . H o w e v e r, the
sucessful training and recruiting e x p e rie n c e d id n o t gu a ra n tee sucess in consolidating the project.
Aldino Graef, Ciro Cam pos C. Fernandes e Luiz A lberto dos Sautos são E sp ec ia lista s em P o lític a s P ú b lic a s e G e s tã o Governamental.