INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA ALBERTO CHIPANDE
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REVISTA CIENTÍFICA DO ISCTAC
Propriedade do ISCTACVol. 03, Ano III, Edição Nº 08, Abril - Junho de 2016 Registo: Nº 82/GABINFO-DEC/2014
www.isctac.org Email: revistaisctac@isctac.org
DESTAQUES:
A Teoria do Acto Lesivo vs Teoria da Definitividade e Executoriedade
do Acto Administrativo – discussão a luz do ordenamento Jurídico
Moçambicano
Influência do Transtorno de Personalidade Antissocial no Cometimento
de Crimes
O Impacto Psicológico da Criminalidade na Adolescência e Jovens:
Estabelecimento Penitenciário da Cidade da Beira e Cadeia de Savana
Confissão na Fase Policial: Validade e Credibilidade
Papel da Polícia De Ordem Segurança e a Tranquilidade Pública de
Moçambique
A Verdade no Local do Crime: Uso de Técnicas Científicas na
Investiga-ção Criminal
Estratégias e Papel da China nos Processos de Industrialização dos
Estados da África Austral: Oportunidades, Desafios e Abordagens
Nº 08
ISSN: 2519-7207
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REVISTA CIENTÍFICA DO ISCTAC
Volume 03 Número 08 Abril - Junho de 2016
Ficha Técnica:
Propriedade: ISCTAC
Director: Msc. Júlio Taimira Chibemo Editor: Msc. Emílio J. Zeca
Redacção:
Msc. Edmar Barreto Jorge, Msc. Dário Aquino Cruz, Msc. Patrícia Edgar Domingos, Msc. Joelma Chiquite Gon-çalves Olece, Dr. Deniford Pedro, Msc. Ivan Chamil Abibo e Msc. Emílio J. Zeca
Distribuição: ISCTAC Beira, Junho de 2016
REVISTA CIENTÍFICA DO ISCTAC
Vol. 023 Ano III, Edição Nº 08, 2016
NOTA EDITORIAL
A presente edição da Revista Científica do ISCTAC prossegue com a publica-ção dos textos discutidos no III Congresso Internacional de Criminalística, realiza-do na Cidade de Maputo, entre os dias 28 e 30 de Outubro de 2015, cujo propó-sito central foi de reunir, em foro público, reconhecidos professores, pesquisado-res e alunos dos mais variados programas de licenciatura e pós-graduação, de forma a propiciar e estimular o debate em torno das mais variadas questões referentes ao direito penal, ao processo penal e à criminalística, com enfoque nos processos de reformulação do ordenamento jurídico moçambicano, mas também, as consequências da complexidade característica da sociedade actual, uma sociedade do risco, do consumo, da velocidade, da informação, enfim, uma sociedade complexa em que as ciências criminais acabam por assumir um papel cada vez mais relevante.
Ciente das transformações da sociedade moçambicana, fruto da globali-zação e outros fenómenos transnacionais das responsabilidades perante o momento de transformação e actualização dos sistemas jurídico-penais, em Moçambique, a presente edição apresenta um conjunto de textos que versam sobre temáticas relacionadas com o Direito Penal, criminologia, psicologia forense, entomologia, entre outras áreas. O primeiro texto discute a a teoria do acto lesivo e a teoria da definitividade e executoriedade do acto administrativo à luz do ordenamento jurídico moçambicano. O segundo texto analisa a influên-cia do transtorno de personalidade antissoinfluên-cial no cometimento de crimes. O terceiro texto analisa o impacto psicológico da criminalidade na adolescência e jovens, no estabelecimento penitenciário da Cidade da Beira e Cadeia de Savana.
Os três textos seguidos procuram analisar aspectos relacionados com a produção de provas em processos investigativos. O quarto texto discute a ques-tão da Confissão na Fase Policial: Validade e Credibilidade. O quinto texto abor-da, de forma geral, o papel da polícia de ordem segurança e a tranquilidade pública de Moçambique. O sexto texto debruça-se sobre a produção da verda-de no local do crime com recurso ao uso verda-de técnicas científicas na investigação criminal. Por último, temos um texto que discute um conjunto de questões rela-cionadas com as estratégias e papel da China no processo de industrialização dos estados da áfrica austral, tendo em conta o conjunto de oportunidades, desafios e abordagens.
Por último, mas não menos importante, importa referir que continuamos a aguardar dos prezados leitores a vossa estimada colaboração com críticas, sugestões e contribuições positivas e oportunas para a renovação da Revista Científica do ISCTAC.
O Editor
Emílio J. Zeca, PhD Candidate Estudos Estratégicos Internacionais
A Teoria do Acto Lesivo vs Teoria da Definitividade e
Executoriedade do Acto Administrativo – Discussão à
Luz do Ordenamento Jurídico Moçambicano
Msc. Edmar Barreto Jorge Docente e Investigador do CEEP ISCTAC – Delegação da Beira
Pretende-se neste trabalho discutir a luz do Direito Contencioso Administrativo Moçambicano o
enqua-dramento teórico da in/recorribilidade dos actos administrativos a Luz do preceituado
constitucionalmen-te e as disposições das leis ordinárias e quiçá discutir a inconstitucionalidade. Uma vez que o artigo 253
nº3 estabelece como condição para a recorribilidade todo acto que ofenda um direito do particular e a Lei
ordinária estabelece como condição a definitividade e executoriedade do acto, ao contrario disto veio o
artigo 32 da lei 7/2014 dispor que só são recorríveis actos definitivos e executórios. Constitui objectivo
geral deste ensaio analisar a luz do Direito Contencioso Administrativo Moçambicano o enquadramento
teórico da in/recorribilidade dos actos administrativos a Luz do preceituado constitucionalmente. Em
termos metodológicos o trabalho guiou-se pela pesquisa bibliográfica, que consistiu na pesquisa de
manuais de autores que abordassem a respeito da questão, e o enquadramento legal na legislação
Admi-nistrativa.
Introdução
N
o presente trabalho pretende-se estudar a recorribilidade do acto administrativo, como um dos pressupostos processuais no âmbito do contencioso administrati-vo, uma vez que a Lei do contencioso administrativo a Lei 7/2014 de 28 de Fevereiro estabelece no seu art. 32 que so são recorríveis actos administrativos definitivos e executório por seu turno direito ao recurso contencioso encontra acervo no art. 253 nº 3 da CRM, ao esta-belecer que basta que o acto adminis-trativo lese o direito do particular, para que este lance mão ao recurso conten-cioso. Nesta ordem de ideias, pretende-mos com este ensaio analisar a luz do ordenamento jurídico moçambicano, as teorias de acto lesivo vs a teoria da defi-nitividade e executoriedade do acto administrativo.Constitui objectivo geral deste ensaio analisar a luz do Direito Contencioso Administrativo Moçambicano o enqua-dramento teórico da in/recorribilidade dos actos administrativos a Luz do precei-tuado constitucionalmente.
Em termos de métodos de estudos para a realização deste trabalho recorre-mos a pesquisa bibliográfica, de onde procuramos a luz da doutrina buscar as teorias da recorribilidade do acto admi-nistrativo e buscar enquadramento a luz do ordenamento Jurídico Moçambica-no.
Estruturalmente o trabalho apresenta dois pontos fundamentais primeiro traze-mos a abordagem teórica a nível da doutrina e no segundo ponto fazemos uma abordagem da temática a luz do ordenamento jurídico moçambicano.
A teoria do Acto Lesivo vs Teoria
da Definitividade e executoriedade do
acto administrativo – discussão a luz
do ordenamento Jurídico
Moçambica-no
1.1. Acto Definitivo e Executório vs
Teoria do Acto Lesivo e a
Recorribilida-de dos Actos
Nos dias actuais, a questão da recor-ribilidade de um acto administrativo é bastante debatida, vários posicionamen-tos doutrinais, são levantados em torno da temática, neste ponto do trabalho passaremos a analisar a questão a luz da doutrina portuguesa para em seguida discutirmos a realidade moçambicana.
Numa primeira análise pode-se dizer que a Escola Clássica de Lisboa parte de uma noção ampla de acto administrati-vo, sendo que dentro desta só os actos que fossem definitivos e executórios poderiam ser impugnados (na esteira do Prof. Marcello Caetano e do Prof. Freitas do Amaral).
Quanto à Escola de Coimbra, há a adopção de uma noção restrita de acto administrativo, assente na sua recorribili-dade (posição assumida pelo Prof. Rogé-rio Soares e pelo Prof. Sérvulo Cor-reia). Cumpre apresentar a construção e argumentação de ambas as facções. Escola Clássica de Lisboa
Para se perceber qual o entendi-mento relativo à noção de acto definiti-vo e executório, é primeiramente neces-sário explicitarmos a noção de acto administrativo, da qual o Prof. Marcello Caetano e o Prof. Freitas do Amaral par-tem.
Como se afirmou, o Prof. Marcello Caetano1 adopta uma noção ampla de
acto administrativo, ao entender este como a “conduta voluntária de um órgão da Administração que, no exercí-cio de um poder público e para a pros-secução dos interesses postos por lei a
seu cargo, produza efeitos jurídicos no caso concreto”. Esta concepção vai de encontro à orientação francesa, cuja noção de acto administrativo assenta igualmente na produção de efeitos jurídi-cos.
O Prof. Freitas do Amaral2 adopta
também uma noção próxima, ao consi-derar o acto administrativo como “acto jurídico unilateral, praticado por um órgão da administração, no exercício de um poder administrativo, que visa a pro-dução de efeitos jurídicos sobre uma situação individual num caso concreto”.
Desta noção ampla de acto admi-nistrativo distinguiam o conceito de acto definitivo e executório, que era definido pelo Prof. Marcello Caetano como uma “conduta voluntária de um órgão da Administração no exercício de um poder público que, para a prossecução de interesses a seu cargo, pondo termo a um processo administrativo gracioso ou dando resolução final a uma petição, defina, com força obrigatória ou coerci-va, situações jurídicas num caso concre-to”3 . Estamos aqui perante uma noção
bem mais restrita do que aquela que é adoptada na definição de acto adminis-trativo.
Na verdade, enquanto nesta última a pedra de toque era a produção de efeitos jurídicos, para que um acto pudesse ser considerado definitivo e exe-cutório e, como tal, impugnável conten-ciosamente, tínhamos de estar perante um acto que definisse o direito unilateral-mente (daí sendo definitivo) e que a Administração pudesse executar contra a vontade do particular (sendo, por isso, executório).
A definitividade podia, segundo a construção do Prof. Freitas do Ama-ral4 ser entendida em três dimensões: a
horizontal, a vertical e a material.
A definitividade horizontal prendia-se com o procedimento, sendo que o acto
Vol. 3, Nº 08, Ano III, Abril - Junho de 2016
definitivo seria aqui aquele que o con-cluísse, o que lhe pusesse termo, em suma, o acto final. Segundo este enten-dimento, só este dito acto final seria recorrível, não o podendo ser os actos preparatórios - aqueles que, no âmbito do procedimento, não o finalizassem, mas simplesmente permitissem o seu desenvolvimento até que este culminas-se no dito acto definitivo. Contudo, a definitividade horizontal, a ser assim entendida, iria restringir em demasia os actos que poderiam ser recorríveis, aca-bando por se tornar inoperativa. Houve então a necessidade de alargar este conceito de modo a abranger os actos que, apesar de se integrarem no decor-rer do procedimento, tivessem um impacto decisivo no acto final.
O Prof. Freitas do Amaral referia assim “os actos que põem termo a um proce-dimento autónomo dentro do procedi-mento” e os que “implicam resolução final para certa pessoa, impedindo a sua continuação no procedimento”5 . Tal
afastamento da noção de definitividade horizontal acabava por mostrar como este conceito era inadequado. Esta é precisamente a opinião do Prof. Vasco Pereira da Silva, que tece duas grandes críticas à ideia de definitividade horizon-tal:
Por um lado, o Professor entende que existem certos actos que, mesmo no decurso do procedimento, podem ser lesivos e, como tal, não há por que excluir a recorribilidade nestas situa-ções; por outro, o acto que põe termo ao procedimento pode não ser um acto contenciosamente impugnável, “seja porque se trata de um procedi-mento administrativo destinado à cele-bração de um contrato ou de um regu-lamento, seja porque a decisão final não é imediatamente lesiva”6.
Já no que diz respeito à definitivida-de vertical, esta prendefinitivida-de-se com aquele acto que é praticado pelo órgão que se
encontra no topo da hierarquia e que, por isso, constitui a palavra final. Anali-sando esta ideia à luz do conceito de acto recorrível (por definitivo e executó-rio), temos que o acto praticado por um subalterno não poderia ser contenciosa-mente impugnado, tendo antes que exis-tir necessário recurso hierárquico para o superior hierárquico e, só depois de tal ser feito, é que se poderia seguir a via judicial. Assim, para poder existir impug-nação do acto, este teria de não estar sujeito a recurso hierárquico necessário .
Quanto à definitividade material, para um acto ser definitivo teria de defi-nir uma situação jurídica: ou da Adminis-tração ou do particular, um perante o outro. Mais uma vez se levantaram pro-blemas, dada a restritividade desta noção, que deixava de fora muitas actuações administrativas que podiam ser lesivas dos direitos dos particulares, deixando-os sem protecção.
O Prof. Vasco Pereira da Sil-va7 aponta os exemplos das subvenções
ou dos actos de execução, bem como o direito do particular a uma prestação, sendo que estes, adoptando-se esta noção de definitividade, ficariam sem resposta pois não poderiam ser conten-ciosamente impugnados. Cumpre ago-ra falar da executoriedade.
No que diz respeito a este conceito, a Escola Clássica de Lisboa adoptava uma noção ampla de acto executório. O Prof. Marcello Caetano considerava que era executório o “acto administrati-vo que obriga por si e cuja execução coerciva imediata a lei permite indepen-dentemente de sentença judicial”8. Os
dois traços fundamentais seriam assim a obrigatoriedade e a possibilidade de execução coactiva. Esta noção de exe-cutoriedade estava ligada com a ques-tão do privilégio da execução prévia. Como tal, e explicitando, a Administra-ção na prossecuAdministra-ção dos interesses
públi-Vol. 3, Nº 08, Ano III, Abril - Junho de 2016
cos poderia impor aos particulares o direito que esta considerasse o correcto em determinada situação, sem necessi-dade de recorrer aos tribunais.
O Prof. Freitas do Amaral adoptava uma noção bastante semelhante, afir-mando que não seriam executórios os actos administrativos que não fossem obrigatórios e aqueles que, sendo obri-gatórios, não fossem susceptíveis de exe-cução coerciva.
O Prof. Vasco Pereira da Silva tece duras críticas à noção de executorieda-de. Em especial, refere que muitos actos actualmente não são susceptíveis de serem executados coactivamente (o que deriva de se estar perante uma Administração prestadora e não já agressiva) não havendo razões para que se impedisse a sua recorribilidade. Critica ainda o facto de os Professores conside-rarem que certos actos, apesar de não executórios, serem, excepcionalmente, susceptíveis de recurso. Ora tal seria o bastante para se afastar a executorieda-de como característica executorieda-de recorribilida-de, até porque as denominadas excep-ções eram tantas que a dita excepcio-nalidade acabava por ser posta em causa. Por outro lado, para o Professor a obrigatoriedade seria uma característica apenas dos actos imperativos ou de comando e não dos actos administrati-vos em sentido amplo.
A Escola de Coimbra, ao invés da de Lisboa, adopta uma noção restrita de acto administrativo, acto e esse que seria delineado em função da sua recorribili-dade.
O Prof. Sérvulo Correia adopta igual-mente uma noção restrita de acto admi-nistrativo, considerando que este é a “conduta unilateral da Administração, revestida da publicidade legalmente exi-gida que, no exercício de um poder de autoridade, define inovatoriamente uma situação jurídico-administrativa concreta,
quer entre a Administração e outra enti-dade, quer de uma coisa”9. Mais salienta
que o acto pode não ser constitutivo mas meramente enunciativo. Por outro lado, considera ainda que os actos administrativos “podem não ser desde logo passíveis de impugnação, mas des-tinam-se tendencialmente a chegar a esse estádio através dos requisitos da definitividade e executoriedade”10 ainda
que adoptasse uma noção restrita de acto administrativo.
O Prof. Rogério Soares, na linha da orientação alemã que considera que a noção de acto administrativo se refere a manifestações autoritárias da Administra-ção, encara o acto administrativo como uma “estatuição autoritária, relativa a um caso individual, manifestada por um agente da Administração no uso de poderes de Direito Administrativo, pela qual se produzem efeitos jurídicos exter-nos, positivos ou negativos”11.
Afasta ainda da noção de acto administrativo os actos instrumentais, definindo o acto administrativo em razão da recorribilidade. Mas, apesar de ser o recurso que os delimita, vem depois acrescentar que, em certas situações em que está em causa uma repartição de competências, existem actos administra-tivos que não são recorríveis, sendo alvo de críticas por parte do Prof. Vasco Perei-ra da Silva que considePerei-ra assim esta posi-ção contraditória. No que diz respeito à definitividade horizontal, o Professor rejei-ta a ideia de definitividade como quali-dade do acto recorrível, pois considera-va que podia haver uma ofensa dos direitos de particulares, ainda que esti-vessem em causa actos intermédios ou preparatórios.
Rejeitando também a definitividade em sentido material, acaba por recon-duzir a noção de definitividade à definiti-vidade vertical, defendendo o recurso hierárquico necessário prévio à
aprecia-Vol. 3, Nº 08, Ano III, Abril - Junho de 2016
ção contenciosa dos actos administrati-vos. No que diz respeito à executorieda-de, o Prof. considerava este conceito incorrecto e ultrapassado, argumentan-do que este não poderia ter outro signifi-cado que não o de eficácia externa e lesiva dos actos administrativos.
Como tal, apesar de a Escola de Coimbra adoptar uma noção restrita de acto administrativo, o que automatica-mente leva ao afastamento da recorribi-lidade face a certos actuações da Administração, os conceitos de definitivi-dade e executoriedefinitivi-dade foram alvo de críticas.
No que diz respeito ao acto lesivo o João Caupers associa o conceito de acto administrativo lesivo a uma “espécie de ruptura dogmática”. Consi-deramos que a ideia de acto administra-tivo lesivo foi utilizada na revisão da CRM em 2004 para substituir o conceito de acto definitivo e executório.
Tendo aqui sido explicitadas as duas grandes facções no tocante ao acto definitivo e executório, cabe agora aten-der ao actual panorama jurídico,
1.2. A Problemática à Luz do
Ordena-mento Jurídico-Administrativo
Moçambicano
A Problemática da no Ordenamento administrativo Moçambicano surge na situação em que, a administração públi-ca no seu modus operandi venha lesar direitos dos particulares ou mesmo, violar aquilo que são os interesses legítimos. Aqui, desde logo chamamos á colação as garantias jurídicas dos particulares. A questão surge exactamente neste con-texto.
O que tem levantado muita polémi-ca; ora vejamos o artigo 32 da lei 7/2014 estabelece que só são recorríveis actos definitivos e executórios por outro lado a
lei mãe (Constituição da República/ CRM) no seu artigo 253º nº 3 estabelece que é assegurado aos cidadãos interes-sados o direito ao recurso contencioso fundado em ilegalidade de actos admi-nistrativos, desde que prejudiquem os seus direitos, isto é, este preceito tem em conta a teoria do acto lesivo, na medida em que basta que o particular sinta que o seu direito ou interesse legitimo foi vio-lado pode recorrer directamente aos tri-bunais administrativos.
A constituição da República é a lei mãe e prevalece sobre as demais leis, Segundo, o recurso contencioso é um direito constitucional nos termos do artigo 253º nº 3 conjugado com o artigo 62º da CRM e é inalienável, não pode aparecer uma lei ordinária que venha a contrariar.
Trata-se de uma garantia impositiva, mas não limitativa. Isto é, a norma consti-tucional impõe ao legislador ordinário que respeite a impugnabilidade conten-ciosa dos actos lesivos, mas dela não decorre que apenas tais actos sejam impugnáveis junto dos tribunais.
Com a consagração desta garantia impositiva, baseada na lesividade, visou o legislador constitucional, sobretudo, repor no seu devido lugar a questão da impugnabilidade contenciosa do acto administrativo: afinal, o que tinha estado em causa na origem do recurso conten-cioso, era assegurar a todo o lesado por um acto administrativo uma via conten-ciosa de defesa dos seus direitos e inte-resses legítimos. Contrariamente como vimos o legislador ordinário não adoptou a posição na Lei 7/2014, não encontra-mos fundamentos para que essa tivesse mantido.
Fazendo uma breve análise histórica, podemos dizer que essa contradição era “Justificável” em relação a Lei 9/2001, dado que até 2004, a opinião sobre a recorribilidade dos actos administrativos
Vol. 3, Nº 08, Ano III, Abril - Junho de 2016
era mesmo a de o acto ser definitivo e executório até essa altura, ao entrar em vigor a constituição revista em 2004, entendemos que estava-se em face de uma inconstitucionalidade supervenien-te.
Em 2004, abandonou-se a noção de acto definitivo e executório, em nosso entender alargou-se o leque de actos susceptíveis de impugnação – o que ocorreria quando se estivesse perante uma lesão dos direitos dos particulares.
A partir de 2004 em nossa opinião deveria vigorar a enunciação do precei-to constitucional e não ser aplicado a enunciação da lei 9/2001, pois aplicando esta última estaríamos numa situação de inconstitucionalidade superveniente, na medida em que aquando da entrada em vigor da constituição (2004) a lei 9/2001 já estava em vigor, isto é, a Lei 9/2001 precede a Constituição e é com ela incompatível.
Segundo o Prof. Jorge Miranda12 no
âmbito de surgimento de um direito constitucional novo em face do direito ordinário anterior "as normas constitucio-nais derivadas da revisão são recebidas e as normas ordinárias são novadas". Vai ainda mais longe, ao afirmar que esta ideia de novação tem três corolários:
a) Os princípios gerais do Direito passam a ser os que constem da constituição ou os que dela se infirma, directa ou indirecta-mente, enquanto revelações dos valores fundamentais da ordem jurídica escolhido pela constituição; b) as normas legais e regulamentares vigentes á data da entra-da em vigor entra-da nova constituição tem de ser reinterpretadas em face desta e ape-nas subsistem se conforme com as suas normas e princípios; c) as normas anterio-res contrárias á Constituição não podem subsistir – seja qual for o modo de interpre-tar o fenómeno da contradição e ainda que seja necessário distinguir consoante a contradição se de com normas perceptí-veis ou com normas programáticas.
O que não ocorreu, pois a posição seria mantida, assim sendo já em 2001 a lei era inconstitucional conforme referi-mos acima, pois estaríareferi-mos em face de uma inconstitucionalidade supervenien-te.
Portanto por seu turno tendo subsisti-do essa situação havia largas esperan-ças que o Legislador pudesse mudar o seu posicionamento e resolver de uma vez por todos a situação mas essa ainda se verifica conforme levantamos acima, ao analisarmos a revisão feita no âmbito da lei 7/2014, o Legislador manteve a ideia da definitividade e executoriedade como condição para a recorribilidade do acto, contrapondo e ignorando por completo o preceituado na constituição. Para se entender a alteração do paradigma na constituição em 2004 é necessário compreender a conjuntura social e a evolução que ocorreu no con-tencioso administrativo no compito geral. Assim, no Estado Liberal, encontrávamo-nos perante uma Administração agressi-va em que a actividade administratiagressi-va era tida (ou deveria ser tida) como míni-ma, ou seja, a única intervenção que esta deveria ter dizia respeito à garantia da segurança dos particulares. Parafra-seando Vasco Pereira da Silva13:
Aqui denotava-se o carácter individualista da Administração que tinha no acto admi-nistrativo a sua forma de actuação. Este era um acto autoritário que denotava o poder da administração, o poder do Estado, e que se enquadrava na dita Administração agressiva que era o paradigma. Como tal, quando este modelo da Administração agressiva foi posto em causa e posterior-mente abandonado, este acto administrati-vo autoritário deixou de se mostrar adequa-do à realidade social. Tal ocorreu quanadequa-do se deu a passagem do Estado Liberal para o Estado Social.
A evolução que se fez sentir, a Admi-nistração agressiva e preocupada com a sua própria protecção (e não em
pri-Vol. 3, Nº 08, Ano III, Abril - Junho de 2016
meira linha com a dos cidadãos) deu lugar a uma Administração prestadora que virou a sua óptica para a garantia dos direitos dos particulares. O Estado de Direito surgia com uma nova dimen-são, sendo inclusive aqui, nesta fase, que os litígios que envolviam a administração e os particulares passaram a ser julgados por verdadeiros tribunais.
Assim, por via de se ter agora os par-ticulares como cerne da questão, o con-tencioso administrativo foi crescendo e houve a necessidade de se criar tribunais próprios (dado que antes se tinha, na lin-guagem do Prof. Vasco Pereira da Silva, quase-tribunais administrativos) para jul-gar estas causas. Com a crise do Estado Social e a passagem para o Estado Pós-Social, devido à insuficiência de resposta do Estado-providência, houve uma rea-firmação do afastamento do acto admi-nistrativo como figura central do conten-cioso administrativo, colocando-se a tónica agora na relação entre os parti-culares e a Administração.
De facto, a noção de acto adminis-trativo definitivo e executório não se coaduna com a actual realidade. Já não se está perante a tal Administração agressiva que deveria velar apenas pela segurança dos particulares. Efectivamen-te, numa sociedade como a nossa, em que existem cada vez mais agressões aos direitos dos particulares, torna-se necessário que a Administração assuma um papel activo na sua protecção.
Foi precisamente esta evolução que ocorreu pois, face às exigências sociais, foi-se mostrando imperativo que a Admi-nistração começasse a ter um papel activo na defesa dos particulares quan-do estejam em causa situações que os envolvam, devendo esta ser alvo de uma maior responsabilização. Por outro lado, estas concepções de acto definiti-vo e executório esquecem que actual-mente estão perante uma Administração
prestadora, devendo esta actuar no sen-tido da satisfação das necessidades colectivas. Foi assim necessário o conten-cioso administrativo adoptar um cariz subjectivista e alargar o conceito de acto administrativo, de modo a ele abar-car os actos que advêm da actividade prestadora da Administração.
Contrariamente o nosso legislador ordinário, assim não entendeu, pois nem na revisão da Lei em 2014 perdeu uma oportunidade soberba de colocar a lei de acordo com a constituição.
A nossa posição em face do debate trazido neste trabalho, relativamente a esta matéria, levaria-nos mesmo em dizer que estamos em face uma inconstitucio-nalidade do art. 32 da Lei 7/2014, por esta violar claramente um comando constitucional e por conseguinte, em sede de fiscalização sucessiva concreta o Juiz pode desaplicar a norma e reme-ter ao Conselho Constitucional para apreciar e declarar a inconstitucionalida-de, isto quando enquadrado num caso em concreto assumindo o posiciona-mento de aplicador da lei.
Considerações Finais
Após este breve ensaio sobre a ques-tão da recorribilidade de um acto admi-nistrativo é bastante debatida, vários posicionamentos doutrinais, são levanta-dos em torno da temática, ao longo do trabalho analisamos a questão a luz da doutrina portuguesa e em seguida discu-timos a realidade moçambicana.
Numa primeira análise pode-se dizer que a Escola Clássica de Lisboa parte de uma noção ampla de acto administrati-vo, sendo que dentro desta só os actos que fossem definitivos e executórios poderiam ser impugnados (na esteira do Prof. Marcello Caetano e do Prof. Freitas do Amaral).
Quanto à Escola de Coimbra, há a
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adopção de uma noção restrita de acto administrativo, assente na sua recorribili-dade (posição assumida pelo Prof. Rogé-rio Soares e pelo Prof. Sérvulo Correia).
Sobre esta questão há no nosso entender uma divergência de aborda-gem entre o preceituado na CRM nº3 do art. 253 e o art. 32 da Lei 7/2014 de 28 de Fevereiro, pois a lei mãe garante aos particulares o direito do recurso conten-cioso sempre que haja um acto da administração pública que viola os direi-tos do particular, outrossim o art. 32 da lei 7/2014 estabelece como condição da recorribilidade que o acto seja definitivo e executório. Nesta perspectiva olha os princípios de interpretação normativa, nenhuma lei pode contraria a CRM assim, estamos diante de uma inconstitu-cionalidade material, pois a Lei 7/2014 vem regular a condição da recorribilida-de do acto administrativo recorribilida-de forma con-trária a CRM.
Essa divergência era justificável no âmbito da Lei 9/2001 e a CRM 2004, pois a CRM era posterior a lei do contencioso, estávamos sim diante de uma inconstitu-cionalidade superveniente, mas o legisla-dor teve a oportunidade de em 2014 na revisão da LPCA (Lei do Processo Con-tencioso Administrativo), adequar o pre-ceituado legal e constitucional mas não o fez, mantendo assim a mesma redac-ção. Mas que como se tem dito na gíria popular não há problema sem solução pode o juiz em sede de fiscalização sucessiva concreta desaplicar a norma e remeter ao Conselho constitucional para a apreciação da constitucionalidade da norma, ou ainda os organismos atribuídos o poder de solicitar a inconstitucionalida-de das normas no âmbito do disposto no art. da CRM pedir a apreciação da constitucionalidade da norma, resolven-do assim o problema de uma vez.
É nosso entender que o legislador constituinte quis adoptar a teoria do
acto lesivo como condição da recorribili-dade dos actos administrativos, ao esta-tuir o preceituado no nº3 art. 253.
Notas e Referencias Bibliográficas
1 Prof. Marcelo Caetano, Manual de direito adminis-trativo, vol. I, Almedina, 1984, p. 440
2 Prof. Freitas do Amaral, Direito Administrativo, vol. III, 1985, P. 66
3 Prof. Marcelo Caetano, Manual de direito adminis-trativo, vol. I, Almedina, 1984, PP. 463-464
4 Prof. Freitas do Amaral, Direito Administrativo, vol. III, 1985, PP. 210-212.
5 Prof. Freitas do Amaral, Direito Administrativo, vol. III, 1985, P. 222.
6 Prof. Vasco Pereira da Silva, Em busca do Acto Administrativo Perdido, Coimbra, Almedina, 1996, PP. 635-636.
7 Iidem
8 Prof. Marcelo Caetano, Manual de direito adminis-trativo, vol. I, Almedina, 1984, PP. 447.
9 Prof. Sérvulo Correia, Noções de Direito Administrati-vo, vol. 1, Lisboa, 1982, PP. 288.
10 Idem
11 Prof. Rogério Soares, Direito Administrativo – lições da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1978, PP. 71. 12 Miranda Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomo II – Constituição, 6ª ed. Coimbra: Coimbra Edi-tora, 2007, PP. 327.
13 Silva, Vasco Pereira da, Em Busca do Acto Adminis-trativo Perdido, Coimbra: Almedina, 1996. PP. 651.
Amaral, Freitas do, Direito Administrativo, vol. III, 1985; Andrade, José Vieira de, A Justiça Administrativa –
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Lei 7/2014 de 06 de Outubro, Imprensa Nacional,
Maputo.
Influência do Transtorno de Personalidade Antissocial
no Cometimento de Crimes
Msc. Dário Aquino Cruz Docente e Investigador do ISCTAC Delegação de Maputo
O presente trabalho tem como objectivo mostrar as características da personalidade psicopática,
demons-trar a razão ou a falta de razão para o cometimento de crimes bárbaros, analisar a formação da
persona-lidade de um psicopata, trazendo também as causas que podem ocasionar tal transtorno. Estamos tratar,
acima de tudo, com a preguiça social diante desse problema tão grave que é a psicopatia, são seres tão
perversos, temos de lidar com a ausência de leis e políticas eficazes para estes casos.
Personalidade, Psicopatia ou
Trans-torno de Personalidade Anti-Social:
Debate Conceptual
O
conceito de personalidade dado por Kaplan e Sadok (1993:556) é a totalidade relativamente estável e previsível dos traços emocionais e comportamentais que caracterizam a pes-soa na vida quotidiana, sob condições nor-mais.Acentue-se que a personalidade só se manifesta quando a pessoa está se compor-tando em relação a um ou mais indivíduos (Fiorelli, Mangini, 2011:97).
Personalidade é definida, de modo sim-plificado, como sendo a forma do indivíduo agir, seu carácter, seus traços emocionais e como ele sente e vivencia essas emoções.
Segundo o CID 10 (Código Internacional de doenças), os transtornos de personalida-de são: [...] transtornos personalida-de personalidapersonalida-de abrangem padrões de comportamento pro-fundamente arraigados e permanentes, manifestando-se como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais.
Transtorno de personalidade é uma for-ma diferenciada de o indivíduo se relacionar com a sociedade, com sua própria vida, com suas emoções e seus sentimentos; há uma perturbação desse indivíduo, perante
as situações que enfrenta, levando-o a cau-sar transtorno principalmente ao próximo.
A classificação de transtornos mentais e de comportamento, em sua décima revisão (CID-10), descreve o transtorno específico de personalidade como uma perturbação gra-ve de constituição caracteriológica e das tendências comportamentais do indivíduo (o chamado delinquente caracteriológico).
Para Nestor Sampaio Penteado (Filho, 2013:167), os transtornos de personalidade não são tecnicamente doenças, mas ano-malias do desenvolvimento psíquico, sendo consideradas, em psiquiatria criminal, pertur-bações da saúde mental.
O CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) descreve oito tipos de transtornos específicos de personalidade, a saber: para-nóide, esquizóide, antissocial, emocional-mente instável, histriônico, anancástico, ansioso e dependente.
O Transtorno de Personalidade Antisso-cial, ou psicopatia, sociopatia traz à Psicolo-gia Forense um interesse particular. No plano policial-forense os transtornos de personalida-des revelam-se de extrema importância, pelo facto de seus portadores (especificamente os antissociais) muitas vezes se envolverem em actos criminosos. Quando o grau de insensibilidades e apresenta extremado (ausência total de remorso), levando o indiví-duo a uma acentuada indiferença afectiva,
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Vol. 3, Nº 08, Ano III, Abril - Junho de 2016
este pode assumir o comportamento delituo-so recorrente, e o diagnóstico é de psicopa-tia.
O transtorno de personalidade antisso-cial, também conhecido como psicopatia, sociopatia, transtorno de carácter, transtorno sociopático, transtorno dissocial, possui tan-tas variações terminológicas como reflexo á aridez do tema e o facto de a ciência não ter chegado a conclusões definitivas a res-peito de suas origens, desenvolvimento e tra-tamento.
O termo psicopatia foi cunhado inicial-mente por Kraepelin (1856-1925), em1904, “possuem personalidade psicopática aque-les que não se adaptam à sociedade e sen-tem necessidade de ser diferentes”; seguiram -se a ele Morel, Magan, Schneider, Mira y López, Cleckley, e mais recentemente Hare, entre outros (Fiorelli, Mangini, 2011:107).
De acordo com o DSM IV (Diagnsticand
Statistical Manual of Mental Disorders), o
con-ceito de transtorno da Personalidade Antisso-cial é: padrão invasivo de desrespeito e vio-lação dos direitos dos outros, que inicia na infância ou começo da adolescência e con-tinua na idade adulta.
Características da Personalidade
Anti-social
Segundo McCord e McCordapud Mara-nhão (1995:85): “o psicopata é antissocial. Sua conduta frequentemente o leva a confli-tos com a sociedade. Ele é impelido por impulsos primitivos e por ardentes desejos de excitação. Na sua busca autocentrada de prazeres, ignora as restrições de sua cultura. O psicopata é altamente impulsivo. É um homem para quem o momento que passa é um segmento de tempo separado dos demais. Suas acções não são planejadas e ele é guiado pelos seus impulsos. O psicopa-ta é agressivo. Ele aprendeu poucos meios socializados de lutar contra frustrações. Tem ou nenhum sentimento de culpa.
Pode cometer os mais apavorantes actos e ainda rememorá-los sem qualquer remorso. Tem uma capacidade pervertida para o amor. Suas relações emocionais, quando existem, são estéreis, passageiras e
intentam apenas satisfazer seus próprios desejos. Estes dois últimos traços: ausência de amor e de sentimento de culpa marcam visi-velmente o psicopata, como diferente dos demais homens.”
São algumas das características dos psi-copatas, segundo roteiro de Cleckley: boa inteligência, inconstância, insinceridade, infi-delidade, falta de remorso, incapacidade de amar, vida sexual impessoal, entre outras.
Causas
Não existe uma razão que dê causa à psicopatia. Esse transtorno apresenta dois elementos causais fundamentais: uma disfun-ção neurobiológica e o conjunto de influên-cias sociais e educativas, ambientais e fami-liares que o psicopata recebe ao longo da vida. As bases para a definição de psicopa-tia oscilam entre aspectos orgânicos e sociais, nos levando a uma conjugação de factores. Logo, permanece ainda a dúvida quanto a uma causa real e específica desse transtorno.
Conduta Criminosa dos Psicopatas
Enquanto criminosos comuns almejam riqueza, status e poder, os psicopatas apre-sentam manifesta e gratuita crueldade. Men-tem para conseguir atrair suas vítimas, para conseguir a confiança delas, e quando alcançam seus objectivos, praticam a cruel-dade de forma absurda. Eles buscam cons-tantemente o próprio prazer, sendo solitários, muito sociáveis e de aspecto encantador, tendo a sólida convicção de que tudo lhe é permitido, excitando-se com o risco e com o proibido.
Quando matam, tem como objectivo final humilhar suas vítimas, reafirmando sua autoridade e realizando sua autoestima. Para o psicopata, o crime é secundário, sen-do que o que realmente lhe interessa é o desejo de dominar, de sentir-se superior (Filho, 2013:174).
As análises dos perfis de personalidade estabelecem como estereótipo dos assassi-nos (existem excepções), homens jovens, de raça branca, que atacam
preferencialmen-Vol. 3, Nº 08, Ano III, Abril - Junho de 2016
te as mulheres, e cujo primeiro crime foi cometido antes dos30 anos.
Alguns têm histórico de infância traumá-tica, devido a maus tratos físicos ou psíqui-cos, motivo pelo qual têm tendência a isolar-se da sociedade e/ou vingar-isolar-se dela (Filho, 2013:173).
Ainda segundo as análises de estereóti-pos, essas frustrações os induzem a um mun-do imaginário, melhor que o real, onde revi-vem os abusos sofridos, porém dessa vez se identificando com o agressor. Por essa razão, sua forma de matar pode ser de contacto directo com a vítima, utilizando armas bran-cas, estrangulando, golpeando, quando nunca utilizando arma de fogo.
Perfilamento Criminal
Segundo R. N. Kocsis, os perfis criminais são definidos como uma técnica de investi-gação da cena do crime, utilizada para analisar padrões de comportamento que melhor definem um crime violento ou uma série de crimes que podem estar associados, com o propósito de identificar as característi-cas do presumível ofensor. Esta técnica inte-gra processos de recolha e análise da cena de um crime, com o objectivo de predizer o comportamento, as características de perso-nalidade e os indicadores sociodemográficos do ofensor que cometeu esse mesmo, estrei-tando o campo de suspeitos e ajudando na sua detenção (Kocsis, 2003, citado por Soeiro 2009:37).
A construção de um Perfil Criminal é uma técnica de investigação evolutiva que tem como base as ciências humanas e com-portamentais, tais como a Psicologia, a Psi-copatologia, a Psiquiatria Forense, levando-se em conta também a percepção do levando- servi-ço investigativo militar. O ponto central desta técnica passa por determinar com certa exactidão no tocante à predisposição das características de um ofensor desconhecido.
Podemos considerar que a técnica de elaboração de um Perfil Criminal, tendo em conta os objectivos tradicionais associados, pretende responder às cinco questões fun-damentais da investigação criminal (Kocsis, 2006:458):
a. Quem cometeu o crime? b. Quando
cometeu o crime? c. Como foi executado o crime? d. Qual a motivação que está na base deste (s) comportamento (s)? e. Onde foi cometido o crime?
A resposta a estas questões, na maioria dos crimes investigados é adquirida através do trabalho que é desenvolvido pelos profis-sionais de polícia. O recurso à técnica surge associado a crime.
2.2 Troféus
Alguns psicopatas necessitam de algo para lembrá-los de quanto são poderosos. Muitos mantêm alguns itens pessoais da víti-ma como troféu do crime, oque os investiga-dores chamam de “simbolismo”, podendo ser uma peça de roupa, um colar, um sapa-to, etc.
Outros guardam partes do corpo de suas vítimas como troféus.
2.3.
Modus Operandi
, Ritual
e Assinatura
Em relação ao local do crime e cadáver deixados por um assassino, é extremamente importante que se proceda ao exame, à constatação de vestígios e à exacta descri-ção do local e cadáver.
O modus operandi, o ritual e a assinatura são os elementos que conectam os crimes (Casoy, 2004:22).
O modus operandi é o procedimento seguido pelo delinquente para a prática da infracção penal, assegurando o sucesso do criminoso em sua empreitada, protegendo a sua identidade e garantindo sua fuga. Mas encontrar o mesmo modus operandi em diversos crimes não é característica suficiente para conectá-los, já que o modo de agir é dinâmico, sofisticado conforme o aprendiza-do aprendiza-do criminoso e a experiência adquirida com os crimes anteriores.
O ritual é o comportamento que excede o necessário para a execução do crime. É baseado nas necessidades psicossexuais e é crítico para a satisfação emocional do crimi-noso.
Já a assinatura é a combinação de comportamentos, identificada pelos dois
pri-Vol. 3, Nº 08, Ano III, Abril - Junho de 2016
meiros elementos. A assinatura é a marca do criminoso, seu “cartão-de-visita”, algo que se faz imprescindível para o assassino. A assina-tura do crime pode até colocar o criminoso em risco de captura, mas, como um vício, ele precisa dessa marca para aliviar uma tensão interna, quase sempre relacionada à sexualidade mal resolvida (Filho, 2013:173).
Ferimentos específicos podem ser uma forma de assinar um crime. Outras vezes, algum tipo de amarração específica ou um roteiro de acções executadas. Pode tam-bém ser a assinatura a exposição do cadá-ver, tortura, mutilação, inserção de objecto estranho, canibalismo, necrofilia (Filho, 2013:173).
Conclusão
A mente humana nos revela que nada sabemos sobre ela. A psicopatia não é consi-derada doença, ainda assim sabemos que um psicopata não é normal.
Sabendo que a psicopatia não é algo normal, a nossa lógica é procurar algo que possa “curar” essa anormalidade. Chegamos aqui a um ponto crucial: a psicopatia não tem cura nem tratamento.
As terapias biológicas, ou seja, com medicamentos, e as psicoterapias em geral se mostraram ineficazes para a psicopatia até o momento. Para os profissionais de saú-de, esse quadro é desanimador, uma vez que não existe método eficaz que mude a forma de um psicopata se relacionar com os outros. As psicoterapias são direccionadas às pessoas que estejam com desconforto emo-cional.
Depois de tudo que já foi dito, fica claro que os psicopatas em nada demonstram estarem insatisfeitos emocionalmente, não apresentando sofrimentos emocionais como depressão, ansiedade etc. Logo, não é possí-vel tratar um sofrimento que não existe (Silva, 2008, p. 169).
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Impacto Psicológico da Criminalidade na Adolescência
e Jovens: Estabelecimento Penitenciário da Cidade da
Beira e Cadeia de Savana
Msc. Patrícia Edgar Domingos Docente e Investigadora do ISCTAC Delegação da Beira
O presente artigo tem como objectivo central reflectir sobre o impacto Psicológico causado pela
criminali-dade na Adolescência e Jovens com o estudo realizado no estabelecimento penitenciário da cicriminali-dade da
bei-ra e cadeia de savana. O estudo nos revela o quão perigoso são os efeitos colatebei-rais de uma infância mau
acompanhada e frustrações mau resolvidas no desenvolvimento dos seres humano, onde muita das vezes
acabam sendo alvo de acusações desastrosas sem antes porem terem levantado a ficha psicológica do seu
desenvolvimento atendendo e considerando o meio onde ele se encontra inserido.
Introdução
A
psicologia criminal para Moçambique ainda é uma areia relativamente nova tanto o seu conhecimento como a sua aplicação. Não obstante faz se saber da necessidade de profissionais formados na areia para que possam aju-dar nos trabalhos jurídicos no âmbito de traçar o perfil criminal de um réu ao quanto da sua detenção para posterior-mente dar o devido encaminhamento usando dos meios técnicos profissionais e dos procedimentos psicológicos criminais quanto ao delito cometido.Um dos grandes desafios da Psicolo-gia Criminal é traçar um perfil comporta-mental do indivíduo que comete crime, compreender como pensa, como age, quais são os seus valores, como se com-porta em sua vida particular e social, como vive, que perspectiva tem da vida, quais são os actores que contribuem para uma atitude criminosa, ou ainda
quais aspectos se destacam na constitui-ção do criminoso, se biológico, social ou psicológico. Tudo isso representa uma barreira que vem sendo quebrada por estudiosos e pesquisadores por meio de muitos estudos e pesquisas.
Cabe ressaltar que o que se sabe a respeito dos elementos que confluem para a formação de uma mente crimino-sa está publicado em manuais, livros e por meio do estudo da criminologia, da psicologia criminal, da psiquiatria, biolo-gia criminal e sociolobiolo-gia criminal. Todas essas ciências, cada uma em seu cam-po de estudo busca levantar aspectos que estão na génese do comportamen-to criminal. Sendo o crime classificado, segundo Gomes e Molina (2000), como um problema social e comunitário, o cri-minoso também pode ser classificado como produto e autor desse meio social.
A definição jurídico-legal do crime A tese da conformação do objecto da criminologia pela lei criminal positiva foi durante muito tempo e prevalecente ainda hoje conta com adeptos. Segundo ela, crime
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em sentido criminológico será todo compor-tamento mas só aquele que a lei criminal tipi-fica como tal. Na conhecida síntese de EXNER “a criminologia é a ciência do existen-te, cujo objecto é determinado por valora-ções jurídicas”.
O Conceito de Crime
O crime ou delito é o facto voluntário declarado punível pela lei penal, (Assembleia Da República, Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade). Segundo artigo 8º da CP, são puníveis, não só o crime consumado mas, também o frustrado e a tentativa. Sem-pre que a lei designar a pena aplicável a um crime sem declarar se se trata de crime con-sumado, de crime frustrado, ou de tentativa, entender-se-á que a impõe ao crime consu-mado. Artigo 10 do C.P.
Segundo o artigo 10 do C.P. o crime frus-trado é aquele que:
Há crime frustrado quando o agente pratica com intenção todos os actos de execução que deveriam produzir como resultado o cri-me consumado, e todavia não o produzem por circunstâncias independentes da sua von-tade; pune-se o crime frustrado quando, ao respectivo crime consumado, caiba pena de prisão maior; exclui-se do disposto no número anterior os casos em que, sendo aplicável pena correccional ao crime consumado, a lei expressamente declarar punível o crime frus-trado.
Há tentativa, artigo 11 do C.P., quan-do se verificam cumulativamente os seguintes requisitos:
Intenção do agente; execução começada e incompleta dos actos que deviam produ-zir o crime consumado; ter sido suspensa a execução por circunstâncias independen-tes da vontade do agente, excepto nos casos previstos no artigo 13; ser punido o crime consumado com pena maior, salvo os casos especiais em que, sendo aplicável pena correccional ao crime consumado, a lei expressamente declarar punível a tenta-tiva desse crime.
Não são susceptíveis de imputação,
segundo a legislação moçambicana, artigo 42º do C.P os menores de dez anos; e os que sofrem de anomalia psí-quica sem intervalos lúcidos.
Por seu turno, são inimputáveis:
O menor que, tendo mais de dez anos e menos de catorze tiver procedido sem dis-cernimento; os que sofrem de anomalia psíquica que, embora tenham intervalos lúcidos, praticarem o facto nesse estado; os que, por qualquer outro motivo indepen-dentemente da sua vontade, estiverem acidentalmente privados do exercício das suas faculdades intelectuais no momento de cometerem o facto punível. A negligên-cia ou culpa consideram-se sempre como acto ou omissão dependente da vontade. As causas de exclusão da ilicitude e da culpa, segundo o Código Penal, Arti-go 44º, justificam o facto:
Os que praticam o facto violentados por qual-quer força estranha, física e irresistível; os que praticam o facto dominados por medo insu-perável de um mal igual ou maior, iminente ou em começo de execução; os inferiores, que praticam o facto em virtude de obediên-cia legalmente devida a seus superiores legíti-mos, salvo se houver excesso nos actos ou na forma de execução; os que praticam o facto em virtude de autorização legal no exercício de um direito ou no cumprimento de uma obrigação, se tiverem procedido com a dili-gência devida, ou o facto for um resultado meramente casual; os que praticam o facto em legítima defesa própria ou alheia; os que praticam um facto cuja criminalidade provém somente das circunstâncias especiais, que concorrem no ofendido ou no acto, se ignora-rem e não tiveignora-rem obrigação de saber a exis-tência dessas circunstâncias especiais; em geral, os que tiverem procedido sem intenção criminosa e sem culpa.
Emergência do conceito de adolescência
e Juventude
Conceito de Jovem
O conceito Jovem está interligado aos contextos histórico, sócio-político e económico do país. A passagem da
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infância para a vida adulta nem sempre é suave. É um período em que cada indi-víduo passa por mudanças físicas, psico-lógicas e sociais, onde ocorrem também mudanças nos sentimentos e atitudes em relação a outras pessoas em geral.
É neste período de crescimento onde se forma a identidade pessoal, onde o jovem precisa de fazer ajusta-mentos para vir a assumir, posteriormen-te, as responsabilidades que a socieda-de lhe exigirá. A Política da Juventusocieda-de Moçambicana, tem em conta as contri-buições recolhidas em vários fóruns juve-nis e outros segmentos da sociedade, bem como as experiências de outros paí-ses, na República de Moçambique, defi-ne-se Jovem como todo o indivíduo moçambicano do grupo etário dos 15 aos 35 anos.
Um facto constante no mundo todo é que os protagonistas da violência e da criminalidade, tanto os autores quanto às vítimas, são jovens e adolescentes do sexo masculino. A proporção para as mulheres é bastante reduzida. Sendo que a preponderância dos jovens entre os criminosos pode ser explicada desde as abordagens hormonais até as sociais e psicológicas. A juventude é a fase da vida adulta em que o desejo de consu-mo é maior e a renda, menor. Do ponto de vista psicológico, os jovens são as pessoas que assumem maiores riscos no seu comportamento.
Outros estudos falam da necessida-de do jovem necessida-de emoções intensas, que podem ser obtidas em atitudes lícitas ou ilícitas. A altíssima mortalidade de jovens encontrados em algumas modalidades do crime e a maior chance de serem capturados e condenados a uma pena prolongada, à medida que continuam a carreira criminosa, contribuem para que não seja muito comum encontrar crimi-nosos de idade avançada.
Conceito de Adolescência
Como o de infância, definido por Philippe Ariès, o conceito de adolescên-cia pode ser datado historicamente: podemos dizer que tendo nascido com a revolução ele emerge no século XIX (o termo adolescência perde a sua conota-ção trocista nos dicionários em 1850). Só no século XX adquire os seus fundamen-tos médicos a palavra hormona é criada em 1905 por Starling e psicológicos os
Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualida-de Sexualida-de Sigmund Freud data Sexualida-de 1905.
Adolescência é o período de
transi-ção entre a infância e a vida adulta, caracterizado pelos impulsos do desen-volvimento físico, mental, emocional, sexual e social e pelos esforços do indiví-duo em alcançar os objectivos relacio-nados às expectativas culturais da socie-dade em que vive. A adolescência se inicia com as mudanças corporais da puberdade e termina quando o indiví-duo consolida seu crescimento e sua personalidade, obtendo progressivamen-te sua independência econômica, além da integração em seu grupo social.
Os limites cronológicos da adoles-cência são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) entre 10 e 19 anos (adolescents) e pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre 15 e 24 anos (youth), critério este usado princi-palmente para fins estatísticos e políticos.
A associação entre adolescência e criminalidade não é inquietação exclusi-vamente própria de sociedades com acentuadas desigualdades sociais e em que as políticas sociais governamentais, ainda que se esforcem por minimizá-las, não logram assegurar direitos sociais fun-damentais para grandes parcelas da população urbana ou rural, cujo ónus recai preferencialmente sobre crianças e adolescentes, como sugerem vários estu-dos (Araújo, 1996; Faria, 1992; Hoffman,
Vol. 3, Nº 08, Ano III, Abril - Junho de 2016
1992; Singer, 1996).
Mesmo em sociedades caracteriza-das por elevados indicadores de desen-volvimento humano, condições e quali-dade de vida, a preocupação com o envolvimento de crianças e adolescen-tes com o mundo do crime não é recen-te e revela, não raro, traços não muito distantes do modo como o problema é percebido e enfocado na sociedade contemporânea. Tanto nos Estados Uni-dos e Canadá quanto em vários países europeus especialmente, Inglaterra, França, Alemanha e Itália, essas inquie-tações sociais têm sido constantes desde a segunda metade do século XIX, embo-ra adquiembo-ram colorido mais dembo-ramático em determinadas conjunturas histórico-sociais.
Falar sobre adolescentes e violência é o de abordar suas causas. Esse é segu-ramente um dos terrenos mais movedi-ços e sujeito a debates não raro influen-ciados por acirrado clima político-ideológico. Muitos estudos vêm se apri-morando nessa direcção, buscando iso-lar uma ou mais variáveis que, associa-das entre si, responderiam por fortes estí-mulos à delinquência juvenil. Feito isto cabe identificar cinco conjuntos de cau-sas:
Influências individuais relacionadas à biografia pessoal, à inserção em grupos, ao desempe-nho de lideranças, ao emprego do tempo livre e à saúde mental; Influências familiares associadas, entre outros aspectos, aos confli-tos entre pais e entre pais e filhos, ao suporte financeiro e à educação proporcionados por pais e parentes, à iniciação sexual e à gravi-dez precoces; Influências escolares que incluem não apenas inserção e participação regularem nas actividades, como também em programas especiais, tais como os de pre-venção ao consumo de drogas e álcool; Influências dos grupos de pares, menor partici-pação em actividades desportivas, menor dedicação a trabalho voluntário, menor fre-quência a programas de mediação e resolu-ção de conflitos; Influências da vida comuni-tária, inclusive presença em áreas "isentas de aplicação sistemática de leis" como sejam
zonas que sediam o tráfico de drogas, o comércio de produtos roubados, a explora-ção da prostituiexplora-ção (Donziger, 1996; CSPV, 1994).
Nesse elenco de causas, não se poderia ignorar o argumento defendido por demógrafos que sustêm a influência da youth wave ("onda jovem"), detecta-da ao longo desta décadetecta-da, que aconte-ce “quando, como resultado de uma dinâmica demográfica prévia, os grupos etários entre 15 e 24 anos experimentam
um crescimento
excepcio-nal” (Dellasoppa, Bercovich e Arriaga, 1999:170). Esse argumento sugere que, em virtude da onda jovem, esse grupo etário não apenas estará à frente de uma série de fenómenos novos escolari-zação precoce, inserção precoce no mercado de trabalho, uniões conjugais e constituição precoces de famílias, formu-lando portanto novos desafios para as políticas sociais, como também prova-velmente estará na dianteira de tantos outros problemas, como delinquência, consumo de drogas, desobediência civil.
Definições e Terminologias
de profiling
O processo de inferência das carac-terísticas de indivíduos responsáveis por actos criminais diz respeito à noção de
profiling, que é uma das subcategorias
das técnicas de investigação criminal e que faz a correspondência entre a per-sonalidade e o comportamento criminal. Embora se trate de um modelo de predi-ção recente e em desenvolvimento, o objecto e a função desta técnica supõe a compreensão do criminoso e do crime. O profiling consiste num processo de análise criminal que associa as compe-tências do investigador criminal e do especialista em comportamento huma-no. Trata-se de uma perícia pluridiscipli-nar, logo, dificilmente um só indivíduo