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Do rural ao urbano

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Academic year: 2021

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Do rural ao urbano

Integração e ligação entre o Espaço Rural e o Espaço Urbano em Bucelas

Margarida Isabel Correia Rodrigues

(Licenciada)

Dissertação de natureza científica para a obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura, especialização em Urbanismo

Orientação Científica:

Professora Doutora Maria Manuela da Fonte Professor Doutor José Luís Crespo

Júri:

Presidente: Professora Doutora Filipa Viegas Serpa dos Santos

Vogal: Professora Doutora Maria da Graça dos Santos Antunes Moreira

Documento Definitivo Lisboa, FA.ULisboa, Maio, 2020

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(…) our current obsession with only the city is highly irresponsible because you cannot understand the city without understanding the countryside.

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Num processo como este, longo e trabalhoso, cheio de certezas e incertezas, inúmeros desafios e vários percalços pelo caminho, entramos numa longa viagem onde reunimos contributos de várias pessoas que foram indispensáveis para este trabalho de mestrado. Deste modo, venho agradecer aos meus orientadores, Professor José Luís Crespo e Maria Manuela da Fonte, pela paciência, disponibilidade e por todo o conhecimento que me foram transmitindo ao longo destes anos.

Aos meus pais, pela força que me têm dado e por me puderem dar esta oportunidade.

Aos meus colegas e amigos que caminharam comigo, sempre dando o ânimo possível que era imprescindível emocionalmente e intelectualmente. A ti, Carlos, o meu enorme agradecimento, pois estiveste sempre ao meu lado e sem ti isto seria ainda mais difícil.

Por fim, agradecer a todos os que deram um pouco de si, e que confiaram em mim.

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ii

Índice

Índice de figuras ... iv Índice de tabelas... x Resumo ... xii Abstract... xiv Introdução ... 1

I.I O Tema e a problemática ... 1

I.II Delimitação da área de estudo ... 2

I.III Argumentos e hipóteses ... 3

I.IV Objetivos ... 4

I.V Metodologia... 7

Capítulo I – Enquadramento temática ... 9

1.1 Espaço Rural e Espaço Urbano ... 9

1.1.1 Integração do rural com o urbano nos Planos e Legislação em Portugal ……….15

1.1.2 Desenvolvimento Rural e Urbano ... 18

1.2 Património ... 24

1.2.1 Património Cultural ... 28

1.2.2 Paisagem ... 32

1.2.3 Núcleos históricos ... 37

1.2.3 Rotas Históricas ... 39

1.3 Turismo como forma de sustentar o espaço rural ... 47

Capítulo II – Caracterização Área de estudo ... 57

2.1 Enquadramento Geográfico ... 58

2.2 Caracterização Física ... 59

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iii

2.3 Caracterização Social e Demográfica ... 64

2.4 Caracterização do Edificado ... 73

Capítulo III – O rural e urbano em Bucelas – COS e população por sectores ... 85

Capítulo IV – Património e Paisagem em Bucelas ... 95

4.1 Caracterização do Património ... 100

4.2 Rotas em Bucelas ... 121

Capítulo V – Turismo como forma de sustentar o espaço urbano e rural em Bucelas ...129

5.1 Produtos locais ... 133

5.2 Revitalização do espaço público como forma de permanência (Hipóteses de resolução) ... 135

Capítulo VI – Considerações Finais ...147

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iv

Figura 1 - Crescimento da população urbana, semi-urbana e rural. In Peixoto,

1987. ... 11

Figura 2 - Esquema dos desafios propostos pela PAC no período 2014/2020 (REALINHO, 2013) ... 22

Figura 3 - - Novo Quadro Desenvolvimento Rural (REALINHO, 2013) ... 23

Figura 4 - Contrato de parceria - Diretrizes (REALINHO, 2013) ... 23

Figura 5 - Forte do Arpim - paisagem humanizada (Fonte: autora) ... 35

Figura 6 - Carta das Linhas de Torres Vedras e sua ligação com Lisboa nos anos de 1810 e 1811 (http://www.cm-arruda.pt/rota-historica-das-linhas-de-torres) ... 40

Figura 7 - Esquema da primeira Linha defensiva de Torres Vedras (CILT)... 41

Figura 8 - Esquema do circuito de Wellington (CILT) ... 41

Figura 9 - Linhas de Defesa de Torres Vedras (Fonte: Guia das Rotas de Linhas de Torres Vedras) ... 42

Figura 10 - Esquema da Rota das Linhas de Torres Vedras (https://www.rhlt.pt/pt/o-no-das-linhas/) ... 43

Figura 11 - A - Circuito de Alrota/ Arpim (autoria própria); B - Serra de Alrota; C - Carta Serra de Alrota - Obra n. º18 Fortim da Ajuda Grande (Carta cedida pelo Departamento de Urbanismo da Câmara Municipal de Loures) ... 44

Figura 12 - Museu da Vinha e do Vinho, onde se situa o centro de interpretação da Rota das Linhas de Torres Vedras (Autoria da própria) ... 45

Figura 13 - Quinta do Fortunato, paisagem (Autoria: Paulo Carvalho, fotografias retiradas do site archdaily) ... 52

Figura 14 - Quinta do Fortunato, vistas interiores (Autoria: Paulo Carvalho, fotografias retiradas do site Archdaily) ... 53

Figura 15 - Master plan Castelo de Buñol e respetivas perspetivas do espaço (foto retirada do site https://aproplan.pt/portfolio/concurso-recuperacao-do-castelo-bunol-envolvente/) ... 54

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v

douro/) ... 55

Figura 17 - Enquadramento Geográfico ... 58

Figura 18 - Delimitação da freguesia de Bucelas, modelo numérico de elevação (MNE) ... 59

Figura 19 - Unidades Litológicas da freguesia de Bucelas ... 61

Figura 20 - Exposição das vertentes na freguesia de Bucelas ... 62

Figura 21 - Declive em grau na freguesia de Bucelas ... 63

Figura 22 - Número de indivíduos residentes ... 66

Figura 23 - Número de indivíduos presentes ... 67

Figura 24 - Número de residentes empregados ... 68

Figura 25 - População desempregada à procura de primeiro emprego ... 69

Figura 26 - População desempregada à procura de emprego ... 70

Figura 27 - População reformada ... 70

Figura 28 -Número total de edifícios por subsecção estatística entre anteriormente a 1919 e 2011 ... 75

Figura 29 - Número de edificado construído. A - Anterior a 1919; B – 1919 a 1945; C – 1946 a 1960; D – 1961 a 1970; E – 1971 a 1980; F - 1981 a 1990; G – 1991 a 1995; H – 1996 a 2000; I – 2001 a 2005; J – 2006 a 2011 ... 81

Figura 30 - Modelo Territorial - AML (Fonte: CM Loures) ... 83

Figura 31 - Esquema do Modelo territorial do concelho de Loures (Fonte: CM Loures) ... 83

Figura 32 - COS97. Dados cedidos pela DGT ... 85

Figura 33 - COS2007. Dados cedidos pela DGT ... 86

Figura 34 - COS2010. Dados cedidos pela DGT ... 86

Figura 35 - COS2015. Dados cedidos pela DGT ... 87

Figura 36 - COS2018. Dados cedidos pela DGT ... 87

Figura 37 - COS 2015 com menos classes ... 89

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vi

Figura 41 - Número de indivíduos empregados no sector secundário ... 92

Figura 42 - Número de indivíduos empregados no sector terciário ... 93

Figura 43 - Imagem esquerda - Quartel dos Bombeiros Voluntários de Bucelas, imagem direita – Coletividade da Banda Musical de Bucelas (fonte: autora). ... 95

Figura 44 - Vinhas de Bucelas. Vista do Monte Serves (Fonte: autora) ... 97

Figura 45 - Esquema cronológico da evolução do Património em Bucelas (Fonte: autora). ... 99

Figura 46 - Localização igreja Matriz de Bucelas (Fonte: autora) ... 100

Figura 47 - Igreja Matriz de Bucelas (Fonte: autora) ... 101

Figura 48 - Maqueta da Igreja Matriz de Bucelas - Museu da Vinha e do Vinho (Fonte: autora) ... 101

Figura 49 - Cipo Romano ou Pedra da Memória (Fonte: autora) ... 102

Figura 50 - Localização do Museu da Vinha e do Vinho (Fonte: autora) ... 103

Figura 51 - Museu da Vinha e do Vinho (Fonte: autora)... 104

Figura 52 - Museu da Vinha e do Vinho - Principais fases de trabalho da vinha interativo (Fonte: autora). ... 105

Figura 53 - Exposição temporária no Museu da Vinha e do Vinho intitulada "Largo do antigo cemitério do Espírito Santo” (Fonte: autora). ... 106

Figura 54 - Fotografias do Centro de interpretação das Linhas de Torres Vedras (Fonte: autora). ... 106

Figura 55 - Localização do coreto oitocentista e chafariz, situado na Praça Tomás José Machado (Fonte: autora)... 107

Figura 56- Praça Tomás José Machado (Fonte: autora) ... 108

Figura 57 - Coreto Oitocentista (Fonte: autora) ... 108

Figura 58 - Chafariz oitocentista (Fonte: autora) ... 109

Figura 59 - Casa antiga (Fonte: autora) ... 110

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vii

Figura 63 - Localização Capela de São Roque - Vila de Rei (Fonte: autora) ... 112 Figura 64- Capela de São Roque - Vila de Rei (Fonte: autora). ... 113 Figura 65 - Localização da Capela da Nossa Sra. da Paz (Fonte: autora) ... 113 Figura 66- Capela da Nossa Sra. da Paz (fotografia retirada do site da Câmara

Municipal de Loures -

https://www.cm-loures.pt/AreaConteudo.aspx?DisplayId=1033) ... 114 Figura 67 - Localização da Capela da Nossa Sra. da Conceição da Pedra - Chamboeira /Freixial (Fonte: autora) ... 115 Figura 68 - Capela Nossa Sra. da Conceição da Pedra (Fonte: autora) ... 116 Figura 69 - Localização do Palácio do Conde de Rio Seco (Fonte: autora) 117 Figura 70 – Palácio do Conde do Rio Seco, atual Palácio do Freixial – Residência sénior (Fonte: autora). ... 117 Figura 71 - Chafariz Oitocentista do Freixial (Fonte: autora) ... 118 Figura 72- Localização Forte do Arpim - Serra de Alota (Fonte: autora) ... 119 Figura 73 - Forte da ajuda grande - serra de Alrota (Fonte: autora) ... 119 Figura 74 - Forte do Arpim (Fonte: autora) ... 120 Figura 75- Forte do Arpim - (Fonte: autora) ... 120 Figura 76 - Rota histórica das Linhas de Torres - circuitos: Alrota/Arpim/Ribas (imagem retirada da Câmara Municipal de Loures) ... 121 Figura 77 - Marco geodésico Forte da Ajuda Grande (Fonte: autora). ... 122 Figura 78 - Maqueta do Forte da Ajuda Grande - inserido na exposição do Museu do Vinho e da Vinha em Bucelas (Fonte: autora). ... 123 Figura 79 - Maqueta do Forte do Arpim - inserido na exposição do Museu do Vinho e da Vinha em Bucelas (Fonte: autora). ... 124 Figura 80 - Circuito Alrota/Arpim (fotografia retirada de folheto da Câmara Municipal de Loures) ... 124

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viii

Figura 82 - Mapa da Rota dos Vinhos - Bucelas / Carcavelos / Colares

(http://www.rotadosvinhosbcc.com/bcc/pt/). ... 126

Figura 83 - Percursos da Rota dos Vinhos, dividido em três fases (https://i1.wp.com/www.clubevinhosportugueses.pt/wpcontent/uploads/ 2014/11/rota_bucelas.png). ... 127

Figura 84 - Mapa Turístico de Loures (Câmara Municipal de Loures) ... 128

Figura 85 - Exposição - Museu do Vinho e da Vinha (Fonte: autora). ... 128

Figura 86 - Alojamento local na zona de Bucelas , plataforma Airbnb (https://www.airbnb.pt/s/BucelasPortugal/homes?refinement_paths%5B% 5D=%2Fhomes&current_tab_id=home_tab&selected_tab_id=home_tab&s ource=mc_search_bar&search_type=unknown&screen_size=large&hide_d ates_and_guests_fi) . ... 129

Figura 87 - Figura 89 - Alojamento local na zona de Bucelas, plataforma Booking - https://www.booking.com ... 130

Figura 88 - Mapa das Quintas existentes em Bucelas (Fonte: autora). ... 130

Figura 89 - Quinta da Romeira (Fonte: autora) ... 131

Figura 90 - Quinta Chão de Prado (Fonte: autora) ... 132

Figura 91 - Exemplo de cartazes da Festa do Vinho e das Vindimas. CM Loures ... 134

Figura 92 - Saberes e fazeres retrata algumas das profissões existentes na freguesia de Bucelas ligadas à vinicultura - Museu da Vinha e do Vinho (Fonte: autora) ... 134

Figura 93 - Áreas de Reabilitação Urbano Freguesia de Bucelas (autora) . 135 Figura 94 - Limite da área de reabilitação urbana, Bucelas e Vila de Rei (A1) (autora)... 137

Figura 95 - Limite da área de reabilitação urbana, Freixial e Chamboeira (A2) (autora)... 138

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ix

Figura 97 - Limite da área de reabilitação urbana Vila Nova (A4) (autora) 140 Figura 98 - Limite da área de reabilitação urbana Serra de Alrota (A5) (autora) ... 141 Figura 99 - Estratégia Geral - carta militar 1:25 000 (Fonte: autora)... 142 Figura 100 - Rota proposta e rota existente, ligando pontos de interesse, em complemento de imagem anterior (Fonte: autora) ... 143 Figura 101 - Delimitação de Área de Reabilitação Urbana de Bucelas pela Câmara Municipal de Loures (Fonte: autora) ... 144 Figura 102 - Planta estratégica de zonas potenciais a intervir no centro de Bucelas (demarcadas a azul) escala: 1:2000 (Fonte: autora). ... 145

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x

Tabela 1 - Iniciativa Comunitária LEADER, operacionalizada através dos Programas LEADER (1991-1994), LEADER II (1994-1999) e LEADER + (2000-2066). Programas Orientados para a Valorização do Mundo Rural –

Financiamento (Comissão Europeia Direção-Geral) ... 20

Tabela 2 - Correspondência entre litologia na freguesia de Bucelas ... 61

Tabela 3 - População da freguesia por anos censitários (INE, 2011) ... 64

Tabela 4 - Nº de indivíduos residentes acima de 61 indivíduos ... 65

Tabela 5 - Nº de indivíduos presentes ... 66

Tabela 6 - Nº de residentes empregados ... 69

Tabela 7 - Número de residentes empregados ... 71

Tabela 8 – Tabela resumo ... 71

Tabela 9 - Grupos etários segundo a população residente ... 71

Tabela 10 - Variação da população residente entre 2001 e 2011 ... 72

Tabela 11 - Número de edifícios construídos por anos ... 75

Tabela 12 - Número total de edifícios por subsecção estatística entre anteriormente a 1919 e 2011 ... 75

Tabela 13 - Número de edifícios construídos anteriormente a 1919 (superior a 4 edifícios) ... 76

Tabela 14 - Número de edifícios construídos em 1919 a 1945 (superior a 10 edifícios) ... 76

Tabela 15 Número de edifícios construídos em 1946 a 1960 (superior a 10 edifícios) ... 77

Tabela 16 - Número de edifícios construídos em 1961 a 1970 (superior a 7 edifícios) ... 77

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xi

Tabela 18 - Número de edifícios construídos em 1981 a 1990 (superior a 6

edifícios) ... 78

Tabela 19 - Número de edifícios construídos em 1991 a 1995 (superior a 3 edifícios) ... 79

Tabela 20 - Número de edifícios construídos em 1996 a 2000 (superior a 5 edifícios) ... 79

Tabela 21 - Número de edifícios construídos em 2001 a 2005 (superior a 4 edifícios) ... 79

Tabela 22 - Número de edifícios construídos em 2006 a 2011 (superior a 11 edifícios) ... 80

Tabela 23 - Total por classe das classes da COS 2015 ... 88

Tabela 24 - Solo rural e solo urbano ... 89

Tabela 25 - População sem actividade económica ... 90

Tabela 26 - Número de indivíduos empregados no sector primário ... 91

Tabela 27 - Número de indivíduos empregados no sector secundário ... 92

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xii

espaço urbano e espaço rural, a sua possível integração e conexão e como foram evoluindo, com uma proposta de aplicação em Bucelas. Esta localidade está inserida na Área Metropolitana de Lisboa mas apresenta características muito peculiares, ou seja, está próxima de áreas urbanas mas ainda detém um cariz rural. As transformações no mundo rural, designadamente, a perda (despovoamento) de população e o seu envelhecimento e a diminuição da população em idade ativa, apresentam-se como alguns dos fatores que influenciaram as mudanças do espaço rural. Estes territórios vão perdendo vivências e capacidades, sendo necessário estudarmos e analisarmos estratégias que as possam conter e inverter, potenciando uma correlação com o mundo urbano, contribuindo para uma ligação nestes dois espaços distintos mas cada vez mais atenuados nas suas fronteiras.

Nesta dissertação, e no estudo de caso, iremos analisar a freguesia de Bucelas, onde existem vários pequenos núcleos urbanos rodeados de ruralidade. Na análise desenvolvida discutiremos a qualificação habitacional, ambiental, patrimonial e paisagística, apostando no fortalecimento dos perímetros urbanos que correspondem aos aglomerados tradicionais e aos aglomerados rurais, de modo a que estes se possam tornar atrativos, para absorver a promoção de habitação em espaço rural, dos indivíduos residentes, de modo a precaver a degradação do património construído e reduzir os riscos naturais. Estudamos e apresentamos uma possibilidade de reestruturação e requalificação dos núcleos urbanos tradicionais, visando salvaguardar as áreas agrícolas que dão suporte à produção de qualidade, e criando condições para a expansão deste património imaterial relevante neste território.

Palavras chave: Espaço rural e urbano, Paisagem, Património, Turismo, Bucelas.

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xiv

This dissertation has as its fundamental point the exploration of the concepts of urban space and rural space, their possible integration, connection and their development, the rural soil is losing its experiences, and over the years these two concepts go through several transformations, so is necessary to study and analyze strategies, which may have answers so that the rural world can generate a correlation with the urban world in order to follow up and link these two distinct spaces. We will analyze the existing heritage in the parish of Bucelas, relating the environment, social structure and man.

The case study we will deal in detail with the spatial characterization of the parish of Bucelas, which has several urban centers surrounded by rurality, eventually not having its necessary impact and the “due” experience. starting questions, discussing points such as housing, environmental, heritage and landscape qualification, focusing on the strengthening of urban perimeters that correspond to traditional and rural settlements, so that they can become attractive, to absorb the promotion of housing in order to prevent the degradation of the built heritage and reduce the natural hazards of the resident population, we will undertake a study of a possible restructuring and requalification, with careful growth of the traditional urban centers, something important to safeguard the agricultural areas that support quality production, and conditions for the expansion of this relevant intangible heritage in this territory.

Keywords: Rural space, urban space, Landscape, Heritage, routes, rural development.

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1

Introdução

I.I O Tema e a problemática

O tema do trabalho - do rural ao urbano –

consiste numa investigação de desenvolvimento cultural e da valorização e preservação do património e paisagem, num território fragmentado e com duas realidades distintas, rural-urbano. Foca-se essencialmente no espaço rural e no espaço urbano, tratando-se de uma pesquisa que relaciona estes dois meios, com a qual queremos entender como pode existir uma integração e ligação entre estes dois conceitos distintos e como estas duas realidades funcionam e uma possível unificação dos mesmos.

Pretende-se enquadrar as várias pesquisas de integração e de ligação deste território (Bucelas). A ideia passa por entender se a unificação destes dois conceitos pode vir a dar uma nova vivência ao espaço, ou se apenas deve continuar como atualmente se define. Para isto será necessário abordarmos as várias palavras-chave, sendo estas fundamentais para a definição destes dois conceitos, fazendo parte destas duas realidades.

A escolha deste território prende-se pela existência de dois espaços de natureza diferente, nomeadamente o espaço rural e o espaço urbano, devido aos fatores físicos que estes apresentam e que influenciaram uma fragmentação deste território.

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I.II Delimitação da área de estudo

Bucelas tem uma dimensão territorial de 33,99 km² (INE, 2011) e é a maior freguesia do município de Loures, apresenta uma densidade populacional de 141,6 hab/km² (menor do que a do município), nesta o edificado e a população concentram-se em alguns aglomerados urbanos dispersos pela freguesia, nomeadamente na Bemposta, Bucelas, Vila de Rei e Freixial, todos com uma estrutura etária envelhecida. O envelhecimento da população acentuou-se entre 1991 e 2011 e durante este período a freguesia começou a perder população jovem. Os aglomerados atrás referidos têm um cunho rural e uma fraca acessibilidade. Bucelas apresenta um núcleo histórico com alguma dimensão, que é invadido pela circulação automóvel apesar dos constrangimentos de tráfego, havendo uma deficiente circulação pedonal devido à ausência de passeios, resultando na falta de segurança para peões e acrescido da falta de estacionamento.

Uma das características deste território é a sua topografia acidentada e o efeito barreira proporcionado pela infraestrutura de circulação viária que passa na freguesia - CREL – IC 18 - causando uma fragmentação do território (JF Bucelas, 2017).

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I.III Argumentos e hipóteses

O rural e o urbano são duas realidades distintas, nomeadamente em relação à vivência dos espaços e às suas práticas quotidianas. Uma das diferenças que os distingue são as práticas socioeconómicas, sendo que o espaço rural engloba predominantemente o sector primário, enquanto o espaço urbano é vinculado, principalmente, ao sector secundário e terciário.

Estes conceitos têm um carácter bastante distinto, contudo será necessária uma análise para entender como funcionam e se interligam. Neste sentido iremos trabalhar estes dois temas, com o objetivo de explorar novas formas de viver no espaço, pois esta unificação poderá trazer a possibilidade e o desafio de proporcionar novas vivências, tornando-o integrado com estas duas vertentes. É com base nesta premissa que se irá desenvolver a pesquisa.

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I.IV Objetivos

A dissertação proposta, na componente de investigação, tem como objetivo: ➢ Avaliar as fragilidades e potencialidades da área em análise, nomeadamente o estudo da população neste território; em complementaridade pretende-se analisar as relações entre população e os usos do espaço público, assim como, conhecer as necessidades da freguesia. Fazendo a correlação entres estas duas realidades – o rural e o urbano, e como estas se podem difundir no espaço e no tempo.

A estratégia, passa por:

➢ Pesquisar/investigar ações de reabilitação do espaço público, como se pode ligar e integrar o espaço rural ao espaço urbano, passando por dinâmicas socioeconómicas relacionadas com o turismo rural, estudando a fragmentação existente, não só fisicamente, mas também socialmente, e como se pode unificar e integrar os dois conceitos e as duas realidades.

O objetivo do trabalho será perceber como será possível unificar estes dois conceitos, passando por explorar a fixação da população, a promoção do turismo e a economia local, como reconhecimento e valorização deste território num caracter patrimonial e paisagístico.

A população, ao longo dos anos, tem vindo a diminuir, tornando-se maioritariamente envelhecida, fruto do aumento da esperança média de vida à nascença e da redução da mortalidade que se verificou nas últimas décadas. Estes são problemas com diversas consequências, como a diminuição da população ativa, que leva à diminuição da produção, sendo

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5

que os encargos com os idosos aumentam consideravelmente. Uma das formas de valorizar os idosos é incluí-los no seio da comunidade.

O solo rural vai perdendo vivências, por isso é importante uma estratégia de valorização do património, pois, através do património que nos é deixado conseguimos relacionar o meio ambiental, a estrutura social e o homem. Com esta investigação é importante percebermos como podemos responder às questões colocadas e aos objetivos definidos para o trabalho, nomeadamente: a integração e ligação da vivência do espaço rural com o espaço urbano, valorizando o núcleo histórico de Bucelas; promovendo a economia local e o turismo rural; a preservação e a valorização do património a partir de rotas culturais unificando todo este território – Bucelas.

No desenvolvimento desta dissertação, procurar-se-á responder às seguintes questões de trabalho:

Como funciona a interligação do espaço rural com o espaço urbano?

Como podemos relacionar o Património com a paisagem, permitindo a sua revitalização, possibilitando uma vivência efetiva do espaço público?

Como o turismo pode influenciar o desenvolvimento socioeconómico destas localidades?

Como respostas provisórias a estas questões, surgem desde logo as seguintes:

1. Através de investigação de como a qualificação habitacional, ambiental, patrimonial e paisagística, pode ser uma aposta no fortalecimento dos perímetros urbanos que correspondem aos aglomerados tradicionais e aos aglomerados rurais, de modo a torná-los atrativos, para absorver a promoção de habitação em

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6

espaço rural, dos indivíduos residentes e outros que aqui se possam fixar, de modo a precaver a degradação do património construído, a reduzir os riscos naturais, promovendo o equilíbrio da paisagem e do ambiente;

Recorrer à investigação da possibilidade deste crescimento, tendo o cuidado da preservação dos núcleos urbanos tradicionais, algo muito importante, de modo a salvaguardar as áreas agrícolas que dão suporte à produção de qualidade, criando condições para a expansão deste património imaterial relevante neste território.

2. Nem sempre um incremento significativo de turistas traz impactos positivos no desenvolvimento económico e social do território, o reconhecimento e o estudo destes espaços poderá trazer dinamismo a este território criando uma base de desenvolvimento turístico e económico.

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I.V Metodologia

Este trabalho será estruturado em três partes distintas, mas interdependentes e relacionadas entre si.

Uma primeira fase recai sobre a análise do tema e a sua problemática, recorrendo a documentos históricos e outros que visam responder ao tema. Far-se-á um enquadramento teórico sobre a temática em estudo, onde serão abordados vários fatores essenciais à resolução do trabalho. Os métodos a serem utilizados nesta fase basearam-se na recolha e análise crítica de textos, imagens, documentários e bibliografia.

Numa segunda fase foi realizado o enquadramento, a contextualização e a análise da área de estudo. Neste contexto utilizaram-se métodos quantitativos e qualitativos. As técnicas utilizadas foram a observação direta às práticas espaciais da população na área de estudo, assim como os dados estatísticos, designadamente a informação estatística dos últimos recenseamentos gerais da população (INE) que possibilitaram caracterizar a população e a área de intervenção. A observação direta foi fundamental para o conhecimento do território em análise, com registos desenhados e elementos fotográficos, também tendo sido feita uma investigação e análise com recurso a projetos de referência de relevância nacional e internacional. Nesta fase os métodos basearam-se na recolha e análise crítica de textos, imagens, documentários.

Uma terceira fase incidiu sobre a análise e descrição dos resultados obtidos nas fases anteriores, procurando-se validar as hipóteses e as questões de trabalho e melhor compreender o tema e o problema em análise.

Em síntese, a fase de investigação composta pelas fases referidas, foi fundamental para a concretização de uma nova abordagem que visou estabelecer a integração e ligação entre o espaço rural e o espaço urbano. A

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consulta e análise de bibliografia e a realização de observações exploratórias permitiram a formulação da pergunta de investigação e das hipóteses de trabalho.

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Capítulo I – Enquadramento temático

1.1 Espaço Rural e Espaço Urbano

São muitas as tentativas de definir o que é o mundo rural e o mundo urbano. Do ponto de vista tradicional, o rural é visto como o lugar de subdesenvolvimento e o urbano como o lugar de desenvolvimento devido a estes espaços terem sofrido várias alterações ao longo dos anos. Estas definições não podem ser consideradas absolutas, no entanto ainda é possível encontrarmos pequenos municípios, com uma marcante presença de ruralidade (LINDNER et al., 2009).

A palavra rural surge como um termo ligado ao tradicional, a algo não desenvolvido, não urbanizado, ao campo e à agricultura. Segundo o dicionário atual da Porto Editora de língua portuguesa, o rural é relativo, próprio/pertencente ao campo ou à vida agrícola, algo rústico e campesino; diz-se da freguesia situada fora da vila ou da cidade, refere-se então ao não urbanizado, o não desenvolvido ligado à atividade agrícola e à criação de gado e a um determinado estilo de vida.

O sociólogo Baptista (1999) afirma que o rural aparece como uma tipologia explicativa e não retificadora das realidades concretas. Consideramos assim o rural como um meio que agrega elementos distintivos, dando forma à maneira de ser e estar de cada indivíduo o que influencia a sua ação, defendendo a ideia de que determinados hábitos e costumes são eminentemente urbanos ou rurais.

Já a palavra urbano é o campo transformado pela ação antrópica, ou seja, pela ação do homem sobre o ambiente devido ao desenvolvimento da ciência, referimo-nos então à cidade, mais uma vez recorrendo ao dicionário de língua portuguesa, define urbano como um complexo demográfico formado, economicamente e socialmente, por uma concentração populacional não agrícola, dedicando-se estas a atividades de carácter

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10

comercial, financeiro, industrial e cultural (GINSBERG et al., 1991; NHAMPOCA, 2013).

Para que se consiga precisar o conceito de espaço rural, é fundamental debater o conceito de espaço urbano porque historicamente tem vindo a

ocupar uma posição fortemente relacional. Tradicionalmente

complementares, mesmo tendo nas suas géneses características muito diferentes, atualmente afirma-se que se perderam parte dessas características relacionais e acabam por entrar numa posição de confronto (SLOAT et al., 2018) como exemplo são as novas configurações que a cidade adquiriu devido à descentralização das indústrias (JI et al., 2019). A definição do rural e do urbano deveria ser composta de vários traços típicos e não levando em conta apenas uma peculiaridade (CASTELLS, 1979; SHUCKSMITH

et al., 2006; LINDNER et al., 2009; JEDWAB et al., 2014).

Segundo Sorokin, Zimmerman e Galpin (1981), existem nove diferenças a salientar: diferenças ocupacionais, que geram outras diferenças, os habitantes do meio rural ocupam-se com a agricultura e pecuária; diferenças ambientais, nas quais os trabalhadores rurais trabalham em contacto com a natureza, ao contrário do habitante do meio urbano que vive num ambiente de cidade; a diferença no tamanho das comunidades, onde existe uma analogia negativa entre o tamanho e a percentagem da população ocupada na agricultura; diferenças na densidade populacional, os habitantes do meio rural têm uma densidade populacional mais baixa do que os habitantes do meio urbano; as diferenças da homogeneidade e de heterogeneidade, as populações do meio rural tendem a ser mais homogéneas nas características psicossociais; diferenças na estratificação e complexidade social, sendo a população do meio rural mais homogénea, enquanto os aglomerados urbanos são marcados por uma rede maior manifestada numa maior diferenciação e estratificação social; as diferenças na mobilidade social, a classe urbana é mais dinâmica que a do meio rural, desloca-se mais facilmente do seu trabalho, posição social; diferenças na direção da

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migração, pois a deslocação da população do campo para a cidade é maior; e por último, as diferenças no sistema de integração social, pois os habitantes do meio rural têm menos contacto com pessoas, mas estes seriam mais duradouros do que os dos habitantes do meio urbano (LINDNER

et al., 2009), estas diferenças não são estanques pois existiriam vários

elementos que dariam a continuidade entre esses dois aspetos (LEFEBVRE, 1970; SIMWANDA e MURAYAMA, 2018; LI, et al., 2019;).

De modo a não existir uma dependência ou criar desigualdades cada país, comunidade e cada geração deve estar atenta (PAHL, 1966; GASPAR, 2004; KONVITZ, 2014) criando oportunidades, fundos e dinamismos para que não se assista em áreas rurais ao envelhecimento da população (figura 1) (como é o caso do interior de Portugal: Bragança, Portalegre, Guarda e Beja), aumentando assim as crescentes taxas de dependência e custos mais elevados, o que torna difícil, para o setor público oferecer serviços de qualidade, por isso acaba por ser do interesse de todos melhorar as oportunidades nas regiões rurais (FERRÃO, 2000; GASPAR, 2004; REALINHO, 2013).

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Só se consegue obter bons resultados se as regiões rurais e urbanas mudarem, mas estas precisam de mudar de formas diferentes, especificamente no fornecimento de alimentos, gestão de riscos de desastres e na habitação. Neste sentido, é necessário uma nova relação entre o mundo rural e o mundo urbano centrados em dois objetivos (FERRÃO, 2000):

– Consolidar relações de proximidade mutuamente benéficas e de natureza sinérgica em detrimento de relações assimétricas e predadoras do mundo rural;

- Transformar as cidades em pontes efetivas entre as áreas rurais e o mundo exterior.

Tal como em Portugal, observamos que de múltiplas formas a agricultura vai perdendo importância no contexto das áreas rurais europeias onde várias transformações ocorrem (JOLLIVET, 1994; KING, 2002; MENDOZA, 2003; MORÉN-ALEGRET e SOLANA, 2004; FONSECA et al., 2004; KASIMIS, 2005; KASIMIS e PAPADOPOULOS, 2005). A urbanização transpõem-se pela disseminação nas áreas rurais de populações não agrícola, criando assim em muitas regiões, as fronteiras entre o rural e o urbano, diversificando-se o povoamento rural, a ponto de a agricultura deixar de ser a única e a mais importante fonte de rendimentos da população, este fator acontece, nos países onde a industrialização é mais antiga e onde existe uma forte densidade populacional, geralmente na maior parte das zonas urbanizadas de todos os países da Europa (ELKAN, 1960; JOLLIVET, 1994; PIUSSI e FARRELL, 2000, NUNES et al., 2005, JONES et al., 2011).

As áreas rurais deixam gradualmente de ser identificadas por consequência direta da modernização da agricultura, com um ambiente de qualidade; de forma progressiva o rural torna-se um espaço disponível para estratégias de localização, desde as atividades económicas e a habitação. Por fim, o rural torna-se o lugar ambientalista à escala planetária tornando-se reserva de

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recursos naturais e objeto de regulamentação sobre o uso desses mesmos recursos (KRIPPENDORF, 1987; CORBRIDGE, 1989;FIGUEIREDO, 2003). As áreas rurais foram sofrendo transformações profundas devido à falência dos modelos de desenvolvimento económico, que vigoravam desde o pós-guerra. Por consequência da crise económica as áreas rurais foram marginalizadas por esses modelos entrando em processo de declínio, por vários anos, passando por situações de dicotomia, ou seja, o rural era definido por oposição ao urbano, como o seu negativo, demarcando ambos os espaços, provocando descontinuidades territoriais, económicas e sociais (FIGUEIREDO e PIRES, 1992; MOLTÓ MANTERO, 2004; HOMMES e BOELENS, 2017; BENNETT et al., 2018).

Os vários desequilíbrios e descontinuidades do crescimento económico provocaram e contribuíram para a redescoberta dos espaços rurais locais. Atualmente estamos a assistir a uma valorização do espaço rural, correspondendo a uma (re)descoberta desse mesmo espaço, não apenas como espaço produtor de alimentos e reserva de mão de obra para as atividades urbano-industrial, mas como espaço de herança, memórias culturais, ambientais, sociais e tradições (FLINN e BUTTEL, 1977 CEC, 1987a; 1987b; 1988; 2001; DUBY, 1991; OECD, 1993).

Assinala-se assim, diferentes fases na conceção das áreas rurais, correspondentes não só às suas condições objetivas, mas também às diferentes perceções do rural, passando pelo entendimento desse mundo como a negação da modernidade pela devoção às tradições e modo de vida dos camponeses, para o entendimento como herança a preservar.

A urbanização e a industrialização provocaram movimentos a favor da salvaguarda das áreas rurais, opondo em grande parte um processo de desenvolvimento que propunha a massificação da sociedade e a degradação de valores sociais, culturais e ambientais. Assim, e deste modo, entende-se, ou começa-se a entender a ruralidade como “reserva moral e cultural”,

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(CHAMBOREDON, 1980). Queremos dizer com isto que a ruralidade acaba por ser um sinónimo de uma noção que remete para a modernidade, e não para uma oposição/marginalização relativa ao processo de modernização que atravessou toda a sociedade. Com isto o CCE (Conselho das Comunidades Europeias), em 1988, transpôs o caracter multifuncional do rural, bem como a sua crescente valorização social (FIGUEIREDO, 2003).

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15 1.1.1 Integração do rural com o urbano nos Planos e Legislação em Portugal

O processo de humanização da paisagem manteve uma relação de complementaridade entre o rural e o urbano até ao fim da idade moderna. Nesta época ocorre o processo de industrialização e tecnologia, o que vem introduzir alterações na união destes dois conceitos que até então eram reconhecidos. As cidades (o urbano) deixam de ser pontos num mapa rural e passam a ser dimensões no território e que começam a afastar-se do campo. Este progresso urbano acaba por ser um espaço de procura de caminhos que defendam uma nova qualidade de vida, baseando-se na construção de um urbano mais sustentável, um rural mais ativo e de uma paisagem mais equilibrada (VALENTE et al., 2016; HOMMES e BOELENS, 2017).

Nesta discussão dos conceitos rural/urbano e naquilo que é a classificação do solo através dos Instrumentos de Gestão Territorial é importante referir a existência de uma nova Política do Uso do Solo e Ordenamento do Território a qual, devido às debilidades existentes na antiga lei do solo de 1976, foi publicada uma nova Lei de Bases do Solo, Ordenamento do Território e do Urbanismo (Lei n.º 31/2014, de 30 de Maio), com a mudança de paradigmas como a flexibilização do planeamento, reforço do PDM (Plano Diretor Municipal), como instrumento estratégico e a reabilitação urbana como desenvolvimento das cidades.

Estas alterações resultam de uma mudança ideológica, da fiscalização preventiva para fiscalização sucessiva, resultando da agilização e simplificação de procedimentos, encurtando assim os prazos, pois até aos anos 1980 existia um zonamento rígido na Europa e posteriormente aos anos 1980 existe uma crítica à rigidez dos instrumentos de planeamento que resulta na criação de instrumentos mais leves, mas que teriam de ser analisados caso a caso.

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Assim sendo, na atual Lei de Solos, foram efetuadas várias inovações como são os casos: da clarificação do Regime do Solo, na qual o solo passa a ser classificado, apenas em duas classes: rústico ou urbano. A partir da realidade existente dos solos e não do destino que se lhe pretenda dar, o que não corresponde àquela que é a função dos planos, que é a de antecipar uma realidade de desenvolvimento que se pretenda que venha a existir no futuro, e não que existe no momento da sua elaboração (ANTUNES et al., 2014). A classificação e reclassificação do solo rústico em urbano traduz-se numa opção de planeamento que depende da comprovação, quantitativa e qualitativa, da respetiva indispensabilidade e adequação ao desenvolvimento económico-social definidos no Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial, o solo urbano apenas integra o solo total ou parcialmente urbanizado e edificado, assim sendo, o solo ainda não urbanizado nem edificado, enquanto não for objeto de programação, é rústico, nada impedindo, em todo o caso, que o mesmo se venha a transformar em urbano por simples efeito da aprovação da respetiva programação (Lei n.º31 /2014, de 30 de Maio).

Nos últimos tempos/anos, a junção urbano-rural tem vindo a ser substituída por novos relacionamentos entre o espaço urbano e o espaço rural, mostrando as correlações funcionais e espaciais, e a carência de progredir com uma maior integração e complementaridade territorial. Existem perspetivas diferenciadas e em certa medida contrapostas, o que influenciou a generalização das relações urbano- rural, num ponto de vista “anti-urbano”; isto acontece devido à construção face às consequências demográficas, económicas, ambientais e sociais, que os processos de urbanização e o êxodo rural causaram. Noutra perspetiva “pro-urbana”, esta considera os processos de urbanização um sinal de desenvolvimento olhando para as cidades como lugar de inovação, conhecimento, e de crescimento económico e social. Nos últimos anos, progressivamente, tem-se vindo a detem-senvolver ligações e inter-relações entre o rural e o urbano

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mudando as orientações de política territorial. Falamos no caso de Portugal, em que o processo de industrialização foi tardio e o crescimento urbano recente, com isto conduziu a novas questões de ordenamento do território. É nas duas grandes cidades portuguesas Lisboa e Porto que se encontra a maior concentração nacional de atividades de base tecnológica de serviços e indústria. Em paralelo, os espaços rurais ficam associados ao abandono, envelhecimento, à decadência da agricultura, fracas oportunidades de emprego, pouca oferta de educação e serviços, ainda que não seja uma ideia nova refletir sobre as interdependências entre o urbano e o rural (GASPAR, 2004; SANTOS e CUNHA, 2007) acaba hoje em dia por ser ainda uma questão pertinente e complexa a ser estudada (MARQUES, 2003).

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18 1.1.2 Desenvolvimento Rural e Urbano

Numa análise breve da evolução histórica do mundo rural e urbano até meados do séc. XIX, precedeu-se globalmente de espaço e sociedade rural integralmente associados à agricultura comparativamente à restante realidade europeia, esta manteve até mais tarde uma estreita relação com a atividade agrícola, Portugal destaca-se assim como um caso particular. Contudo, este nunca foi um sector de atividade com relevância na economia portuguesa, principalmente quando comparado com os sectores secundário e terciário, não obstante historicamente ter existido uma forte aposta na agricultura.

Portugal integra a Comunidade Económica Europeia (CEE)1 em 1986,

havendo a agricultura portuguesa de se submeter à Política Agrícola Comum (PAC)2, o que instituiu aos agricultores uma desaceleração e reconversão de

produções (FERRÃO, 2000; VALENTE e FIGUEIREDO, 2003).

Nas políticas de desenvolvimento rural, as problemáticas existentes são os desequilíbrios económicos e sociais dos territórios rurais, desde sempre têm estado no cerne das preocupações da União Europeia, desde a fundação da Comunidade Europeia (CE), a Política Agrícola Comum (PAC), tem constituído um pilar na sua construção, representando historicamente a primeira política integrada a nível Europeu. Constata-se uma clara evolução 1Comunidade Económica Europeia (CEE), nome da organização internacional que existiu de 1958 até 1993, atual União Europeia (EU), torna-se importante fazer a distinção entre Comunidade Económica Europeia (CEE) e União Europeia (UE) pois ambas organizações são representativas de estágios preconizados na teoria do processo de integração econômica, desenvolvido na década de 60.

2 A Política Agrícola Comum (PAC) constitui um dos pilares do processo de integração e

consolidação do desenvolvimento económico e social europeu, tornou possível garantir aos cidadãos europeus segurança no abastecimento de produtos alimentares, bem como a sustentação económica do mundo rural que marca uma das faces distintivas da Europa.

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ao longo de décadas de aplicação de políticas indutoras, que se iniciou na potencialização do mundo agrícola, caminhando em direções mais sustentáveis de promover o seu desenvolvimento. Com isto aparece uma crescente importância atribuída às ações locais envolvendo todos os agentes territoriais na definição e implementação de políticas de desenvolvimento rural, que visam uma abordagem territorial, integrada e participativa, chamada a abordagem LEADER (CHAMPANHOLA e SILVA, 2000; REALINHO, 2013).

Neste contexto, é importante referir o que é a abordagem LEADER, trata-se de uma abordagem inovadora no quadro da política de desenvolvimento rural comunitária, a sigla significa “Relações entre ações de desenvolvimento rural”, trata-se então de um método de movimentar e incentivar o desenvolvimento nas comunidades rurais locais, incentiva os territórios rurais a explorarem novas formas de se tornarem ou permanecerem competitivos de utilizarem da melhor maneira os seus trunfos de vencer os desafios que possam enfrentar, nomeadamente o envelhecimento da população, um nível reduzido de oferta de serviços e a falta de oportunidades de emprego. Esta abordagem (LEADER), reconhece que o ser competitivo a nível da produção de alimentos, criação de oportunidades de emprego para a população local e o desfrutar de um ambiente atraente, constituem aspetos complectivos da vida rural, exigindo competências específicas, tecnologias adequadas e serviços que devem ser encarados como um conjunto coeso e acompanhados de medidas políticas específicas (COMUNIDADES EUROPEIAS, 2016. 5 -23).

Existem vários contributos desta abordagem LEADER, os quais: a diversidade de projetos que englobam vários setores de atividade, o desenvolvimento de intervenções territoriais integradas, reforçou também o caracter multifuncional do espaço rural, o aparecimento de ações de financiamento privado que teve como efeito catalisador e crucial, foi criado uma rede de competências locais, dando a devida importância aos problemas territoriais

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e ao desenvolvimento, e por fim demonstrou na prática que o futuro do mundo rural não depende exclusivamente das representações urbanas, sendo possível o planeamento de ações a partir do esforço comum da população local (REALINHO, 2013).

Tabela 1 - Iniciativa Comunitária LEADER, operacionalizada através dos Programas LEADER (1991-1994), LEADER II (1994-1999) e LEADER + (2000-2006). Programas Orientados para a Valorização do Mundo Rural – Financiamento (Comissão Europeia Direção-Geral)

A abordagem LEADER foi criada em 1991, e desde aí tem proporcionado às comunidades rurais da UE (União Europeia) as ferramentas necessárias para que desempenhem um papel ativo na definição do seu próprio futuro (tabela 1), evoluindo no tempo, simultaneamente com o resto da PAC (COMUNIDADES EUROPEIAS, 2016. 5 -23).

No contexto da reforma da PAC a partir dos anos 90, iniciada em 1992, o espaço rural começou a ser fortemente valorizado pela sua função ambiental; com isto, no sentido de uma agricultura sustentável, a Comissão Europeia concede ao espaço rural o papel de funções vitais, não só para a população residente, mas para toda a sociedade. São assim criados objetivos indispensáveis à ação no meio rural: a conexão económica e social, o desenvolvimento do acerto da agricultura europeia ao funcionamento do mercado mundial e a proteção do ambiente e do património natural (CCE, 1988 in VALENTE e FIGUEIREDO, 2003).

Contudo começa a verificar-se uma preocupação crescente da UE com a problemática do mundo rural, a necessidade de um desenvolvimento integrado e o aumento da participação e empenhamento dos agentes locais, com o objetivo de resolver os problemas das áreas rurais, foram

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determinadas políticas e instrumentos que autenticam garantir a disponibilidade de recursos para o desenvolvimento socioeconómico, salvaguardando os recursos naturais e o ambiente. Verificou-se que a agricultura desempenha um papel cada vez menos importante nas áreas rurais, o que causou a urgência da concretização de novas atividades nestas áreas e o melhoramento da multiplicidade de recursos existentes nos espaços rurais (VALENTE e FIGUEIREDO, 2003).

A Comissão Europeia refere que as áreas predominantemente rurais já constituem metade da Europa, representando 20% da população, contudo, a maioria das áreas rurais encontram-se entre as regiões menos favorecidas da UE. A política de desenvolvimento rural3 define três objetivos globais, a

fim de ajudar as regiões rurais, dos quais melhorar a competitividade da agricultura; gerir uma forma sustentável dos recursos naturais; e o equilíbrio do desenvolvimento territorial das áreas rurais. Existem, assim, fundos, como por exemplo o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE), trabalhando juntos para completar o Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER), este define cinco principais domínios de ação, a criação de emprego fora das atividades agrícolas (como novas empresas e o desenvolvimento de atividades turísticas), o desenvolvimento dos acessos e das ligações entre as cidades e as zonas rurais, apoio às pequenas e médias empresas (PME) no domínio agrícola (agroalimentar ou florestal), tais como a sua prevenção de riscos e o desenvolvimento de infraestruturas de base nas aldeias (SANTOS e CUNHA, 2007).

3 A Política Europeia de desenvolvimento rural ajuda as zonas rurais da UE a dar respostas

aos grandes desafios económicos, ambientais e sociais do séc. XXI, designada como segundo pilar” da política agrícola comum (PAC). Esta partilha vários objetivos com outros fundos europeus estruturais e de investimento (FEEI) (Comissão Europeia -Desenvolvimento rural 2014-2021).

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António Realinho, no segundo seminário Ibérico de “Intervenções Raianas no Combate à Desertificação”, em 2013, apresenta um novo quadro de programação, das políticas de desenvolvimento rural e política de coesão 2014/2020, o qual nos diz que neste período (2014/2020) a comissão A PAC pretende responder aos desafios em matéria de alimentação, recursos naturais e territoriais.

Figura 2 - Esquema dos desafios propostos pela PAC no período 2014/2020 (REALINHO, 2013)

A Comissão pretende apoiar o emprego rural e preservar o tecido social das zonas rurais, melhorar a economia rural e promover a diversificação, para que permita aos intervenientes locais explorarem o potencial e otimizarem a utilização dos recursos locais e permitir a diversidade estrutural dos sistemas de produção agrícola, melhorando as condições de vida e desenvolver os mercados locais (REALINHO, 2013).

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Figura 3 - - Novo Quadro Desenvolvimento Rural (REALINHO, 2013)

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1.2 Património

Cada vez mais a noção de património torna-se mais abrangente, alargando-se do material ao imaterial, a conjuntos de territórios mais amplos e até mesmo à paisagem, a ideia de proteção destes dois conceitos, não é uma ideia recente, apenas o que se pode dizer novo será a nova visão integralmente globalizante. Existe um cuidado de proteção com a natureza desde o neolítico, centrando-se principalmente apenas na proteção de recursos, só mais tarde é que se começou a dar mais importância à paisagem e ao seu valor estético, o que iria transmitir a gerações futuras o significado de herança e preservação (CORDEIRO, A. 1998, pp.107-118).

O conceito de património não é algo isolado, só existe em relação a alguma coisa. Segundo o dicionário (Priberam), património é: “Bem ou conjunto de

bens, materiais ou naturais, reconhecidos pela sua importância cultural.”. A

palavra deriva do latim patrimonium e é sinónimo de herança paterna e sugere algo que é deixado às novas gerações pelos antepassados.

O património constitui uma fonte de identidade e coesão para as comunidades afetadas pela mudança e pela instabilidade económica (UNESCO). Devido à destruição causada pelas guerras do início do século XX, foram introduzidas as primeiras normas internacionais relativas ao património, tendo como fundamento o conceito monumental de património herdado do romantismo oitocentista (FAUVRELLE, 2015).

A preservação do património acaba por ser o resultado de um tomar de consciência da sua importância e, consequentemente, um risco de perda da identidade dos povos e das suas comunidades. Assim sendo, é resultado desta identidade a existência da sua riqueza na capacidade em acumular tradições, passado e a história. Desta maneira, damos continuidade a um passado criando um sentimento de pertença, assim como uma relação entre o tempo passado, presente e futuro. Esta definição acaba por ser pouco objetiva, devido à existência das suas várias temáticas (SOUSA, 2014;

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CARBONI e DELUCA, 2016; ROSS, et al., 2017). Devido à necessidade de intervir em favor da preservação das características que dão identidade a cada região, o património começou por ser identificado, protegido e valorizado durante o século XIX, isto acontece devido ao desaparecimento e à vandalização de locais e dos seus produtos, que conduziu a inúmeras situações, particularmente a perda de tradições e costumes. Estas situações fizeram com que o património acumule elementos únicos e insubstituíveis sobre os quais devem ser protegidos. A evolução da tecnologia e da sociedade fez com que o conceito de património fosse evoluindo com vista a uma proteção mais abrangente dos diferentes níveis patrimoniais (arquitetural, industrial, artesanal e imaterial) (BLUESTONE, 2000; CROTTS e PAN, 2007; SCHULTZ e LAVENDA, 2009; SOUSA, 2014).

O património como referido anteriormente é a herança do passado (MOREIRA, 2006) que implica sempre uma escolha cultural, social e política, nesta está subentendida a vontade de herdar o património às gerações futuras. Os vários elementos só são considerados património aquando lhes é atribuído um valor social e histórico, o conjunto deste é que pode representar a capacidade de uma identidade, possibilitando à comunidade estar vinculada ao passado, permitindo um sentido de identidade e consciência da continuidade através do tempo. Deste modo, o património agrega todos os elementos que constituem a identidade de um grupo e que os distingue dos demais (SOUSA, 2014).

Existem outros conceitos que vale a pena referenciar, nomeadamente o valor histórico dado ao elemento patrimonial, existindo uma continuidade evolutiva que é resultado de um passado inevitável, que prevê a existência de algo anterior, ou seja do valor histórico, algo que “existiu um dia”, mas que já não existe (RIEGL, 1987). Deste modo, tudo o que nos foi deixado pelos nossos antepassados tem um valor histórico.

O património nacional é cada vez mais uma referência fundamental que devemos deixar às gerações futuras, sendo a principal prioridade de quem

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guarda o património, a sua conservação, pois qualquer património está sujeito à degradação a partir do momento que é criado. A evolução da legislação em Portugal, esta baseada desde o início do século XX na legislação internacional, acabando por ser importante referenciar um dos instrumentos. A atual Lei de Bases do Património Cultural (Lei n.º 107/8 de setembro de 2001), aprovada em Assembleia da República, estabelece as bases da política e do regime de proteção e valorização do património cultural de bens que, pelo seu valor histórico, científico, social e técnico, integrem o património cultural arquitetónico e arqueológico classificado do país, referindo-se assim a uma enorme diversidade de conceitos patrimoniais. Nomeadamente no artigo 2º, Conceito e âmbito do património cultural, alínea 1 refere que: — Para os efeitos da presente lei integram o

património cultural todos os bens que, sendo testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse cultural relevante, devam ser objeto de especial proteção e valorização. A proteção do património é

feita através deste instrumento legal, mas também através de outros, como convenções e cartas internacionais (UNESCO e União Europeia), através da inventariação, registo e classificação, atuando os organismos do Estado (DGPC – Direção Geral do Património Cultural) e agentes locais como museus, autarquias e organismos privados, como associações de defesa do património.

Françoise Choay (2011) reflete acerca de questões que envolvem o património edificado, o património material, propondo três frentes de análise, a educação/formação, a reutilização de lugares de memória e por fim, retomar as relações entre o universal e o singular. A autora define o conceito de monumento dizendo que, este é um conjunto de artefactos, deliberadamente concebidos e realizados por uma comunidade humana, sejam quais forem a sua natureza e dimensão, no sentido que estes façam lembrar à memória viva, orgânica e afetiva dos seus membros, pode-se caracterizar assim pela sua função identificadora (CHOAY, 2011). A autora

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questiona-se acerca do património edificado, mostrando uma forma diversa das sociedades lidarem com o tempo, temporalidade e a sua constituição. Não só é importante definir o conceito de património como também a definição de património imaterial, aproveitando as oportunidades únicas e imateriais que este tem para nos dar. São estes “pequenos” saberes que dão à cultura intangível de um sítio, do qual muitas das vezes não é dado o seu devido valor e que muitas vezes dita a história dos nossos antepassados. Esta deve ser seguida e valorizada, dando continuidade na realização de um futuro próximo. Segundo a Lei de Bases do Património Cultural (Lei n.º 107/8 de setembro de 2001), artigo 2º, Conceito e âmbito do património cultural, alínea 4) refere isso mesmo. — Integram, igualmente, o património cultural

aqueles bens imateriais que constituam parcelas estruturantes da identidade e da memória coletiva portuguesas.

Assim sendo, património imaterial são as tradições que tornam cada país, cada cidade, aldeia, diferente e única no mundo; este foi um dos principais objetivos que esteve na base da criação da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), (FERNANDES, J. 1998, pp.65-72) em Portugal temos como património cultural imaterial da Humanidade o Fado (música popular urbana portuguesa), Dieta mediterrânica, Cante alentejano (cantar polifónico do Alentejo), Falcoaria, a produção de Figurado em barro em Estremoz e mais recentemente os Caretos de Podence (Macedo de Cavaleiros).

Em síntese, entende-se que o património é um fator fulcral de desenvolvimento das sociedades expressando a identidade histórica e as vivências de um povo devido ao seu enorme potencial de dinamização do espaço, podendo ser encarado como um rendimento adicional à comunidade, um motivo de autoestima e uma possibilidade de autonomia e de estatuto social (SOUSA, 2014).

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28 1.2.1 Património Cultural

Património acaba por ser numa linguagem corrente uma noção com teor económico e jurídico, designando um conjunto de bens, direitos e obrigações que são avaliáveis em dinheiro, esta análise pecuniária não se adequa no âmbito cultural, nesta noção é importante referir dois aspetos, o de valor de riqueza e o de conjunto. Património cultural4, deriva da

expressão inglesa cultural heritage (herança cultural), alerta-nos para uma realidade básica que é a herança, acabamos então por sermos todos nós herdeiros quer queiramos ou não; é disso que é necessário ter consciência, pois é precisamente o que mais nos tipifica e diferencia da natureza animal. Porém a cultura é um exclusivo nosso, combinamos a expressão portuguesa com a inglesa, afirmando que todos somos herdeiros e que o património cultural é a nossa herança cultural (ZDOROV, A. 2009, pp. 453-455).

O património cultural é um gerador de uma solidariedade orgânica entre a sociedade, sendo esta uma coesão que se traduz no sentimento de pertença a uma mesma comunidade, isto acontece porque este representa a persistência do agregado humano ao longo do tempo, acaba por ser um núcleo da identidade coletiva, possibilitando que nos reconheçamos e sejamos reconhecidos, é assim que se caracteriza, se diferencia e distingue da fisionomia física e moral de um lugar, cidade, região e país, sendo este motivo pelo qual o património cultural é no presente o repositório do passado, também para a sociedade o património cultural é para o indivíduo (MENDES, 2012).

4 Património cultural é uma expressão sobre os modos de vida desenvolvidos por uma

comunidade e transmitidos de geração em geração (costumes, práticas, lugares, objetos, expressões artísticas e valores). O património cultural frequentemente é expresso como património cultural intangível ou tangível Carta de turismo cultural internacional: princípios e guias para uma gestão do turismo cultural e do património.

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29 “ (…)

Inútil definir este animal aflito. Nem palavras,

nem cinzéis, nem acordes,

nem pincéis

são gargantas deste grito. Universo em expansão.

Pincelada de zarcão Desde mais infinito a menos infinito. “

António Gedeão

“O património é hereditário, é histórico, é identitário – mas é, antes do mais, cultural. (…) “(Mendes, 2012, p. 19).

O conceito principal de cultura fixa-se na época do renascimento, época à qual se constituiu na história da Europa o primeiro grande momento em que o património cultural se revela uma força decisiva para sair da estagnação, no século XV, principalmente na península itálica. Estava a ser necessária uma cultura nova, cultura esta que respondesse às mudanças da sociedade desse tempo, sendo o essencial da cultura um meio e não um fim em si mesmo, procurando sempre novas respostas e propor diferentes interpretações da realidade. Existe, assim, ao longo do tempo vários exemplos, pioneiros, nomeadamente Brunelleschi5, que examinou

cuidadosamente os deteriorados templos e palácios romanos, com o intuito

5 Filippo Brunelleschi- Escultor e arquiteto, nasceu na cidade de Firenze no ano de 1377,

veio a morrer na cidade de Florença no ano de 1446, pioneiro na utilização de pórticos típicos da Renascença.

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de recuperar as suas formas, articulando com a sua construção original. Ao mesmo tempo, Lorenzo Valla6aparece com a linguagem e o estilo de pensar

medieval resulta da reestruturação do latim, seguindo-se assim o surto das línguas novilatinas7 que entre os séculos XV e XVI, conhecem as suas

primeiras gramáticas, de seguida começam a nascer as literaturas nacionais, tendo neste âmbito linguístico e literário o património cultural antigo fundado o património cultural moderno (MENDES, 2012).

Segundo o autor Paulo Carvalho (2012, pp. 49-60), o património é um

“conceito marcado por um certo nomadismo científico e por uma plasticidade temporal e espacial (…)” em ambientes geográficos aparece

como uma temática de grande relevância e visibilidade estratégica no sector do desenvolvimento das populações e do território. O património gera tendências evolutivas que permitem salientar o crescimento e alargamento do campo patrimonial, acaba por dar uma maior relevância as dimensões imateriais e dos ambientes rurais, esta valorização no contexto paisagístico incentiva a participação da população nas diversas tarefas relacionadas com a proteção do património, o que vem estabelecer uma nova relação e responsabilidade crescente do poder local, ao incrementar estas estratégias de cooperação e a construção de redes e ainda o reconhecimento da educação patrimonial (CARVALHO, 2012).

Em conclusão, importa falar de que a coesão económica, social e territorial têm como motivo principal a salvaguarda e a valorização do património, como conjuntura fundamental para a melhoria da qualidade estética e vivencial da paisagem, o rural (como falado em sub-capítulos anteriores), na sua multiplicidade de expressões e representações através do património

6 Lorenzo Valla - Escritor, Filólogo, Filósofo e professor especialista em retorica e oratória,

nasceu na cidade de Roma no ano de 1405, veio a falecer em S. João de Latrão no ano de 1457.

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cultural e natural, forma uma matriz incontornável daquilo que deve ser a inclusão das paisagens e das populações nos objetivos do desenvolvimento sustentável (CARVALHO, 2012; BARTHEL-BOUCHIER, 2016).

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32 1.2.2 Paisagem

O conceito de paisagem foi definido e evoluindo ao longo de vários anos. Inicialmente começou por se descobrir a partir de pintores, artistas e poetas. Na antiguidade, nomeadamente no Egipto, o ambiente era bastante controlado, tudo o que estaria fora do controlo humano era olhado com desconfiança, daí serem construídos jardins fechados para lazer. A ideia geral de paisagem já existia e era baseada na observação do meio, encontrando-se nas artes e nas ciências das diversas culturas, a compreensão deste tema foi influenciada pela filosofia. Ainda hoje o conhecimento da realidade define-se como se vê a paisagem (MAXIMIANO, 2004).

A conceção do estudo da paisagem a partir da década de 1960 é adotado nos países latinos do sul da Europa, Bertrand (1972)apoiado também nos conceitos sistémicos estabelece uma maneira completamente nova de abordar a paisagem, define-a então como “uma porção de espaço”, esta caracterizada por uma combinação dinâmica e instável de elementos geográficos, físico, biológicos e antrópicos, que entre si fazem da paisagem um conjunto inseparável. Se partirmos do princípio de que a paisagem se comporta como um geossistema8, ela será menos abstrata e mais coerente

referente à delimitação espacial de unidades homogéneas, distinguem-se em três meios, o meio físico, o ecossistema e a interação humana, o que permite introduzir uma dimensão temporal e uma perspetiva evolutiva. Mais tarde no final dos anos 70, após aprofundar os seus estudos, reconsiderou-se a sua perspetiva de ver o termo de paisagem, assumiu então que este não formava um conceito, mas sim um sistema, esta conceção levou ao desenvolvimento de uma metodologia de análise do

8 O termo geossistema, está associado aos sistemas territoriais naturais no contexto

geográfico, a sua estrutura é influenciada pelos fatores sociais e económicos (ROSOLÉM, 2010, p.3).

Referências

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