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Assistência estudantil psicossocial: caracterização do acolhimento em um projeto de extensão na UFPA / Psychosocial student assistance: characterization of welcoming in an extension project in UFPA

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14402-14415 mar. 2020. ISSN 2525-8761

Assistência estudantil psicossocial: caracterização do acolhimento

em um projeto de extensão na UFPA

Psychosocial student assistance: characterization of welcoming in an

extension project in UFPA

DOI:10.34117/bjdv6n3-347

Recebimento dos originais: 29/02/2020 Aceitação para publicação: 23/03/2020

Aline Pereira Almeida Graduação em serviço social Universidade Federal do Pará

Endereço: Rua Augusto Corrêa, 01 - Guamá, Belém - PA, 66075-110 E-mail: alialmeida00@gmail.com

André Maurício Lima Barretto Doutor em Psicologia Universidade Federal do Pará

Endereço: Rua Augusto Corrêa, 01 - Guamá, Belém - PA, 66075-110 E-mail: andrebar@ufpa.br

Daniela Ferreira Leite de Oliveira Assistente Social

Universidade Federal do Pará

Endereço: Rua Augusto Corrêa, 01 - Guamá, Belém - PA, 66075-110 E-mail: daniela_leitess@hotmail.com

Lorena do Socorro Prazeres da Silva Especialização em Psicanálise

Endereço: Avenida Doutor Nilo Peçanha, 1600. Boa vista, Porto Alegre, RS. 91330-002 E-mail: lorena.prazeres05@hotmail.com

Lucas Cunha Rodrigues Graduando em psicologia Universidade Federal do Pará

Endereço: Augusto Corrêa, 01 - Guamá, Belém - PA, 66075-110 E-mail: rodrigueslucasps4@gmail.com

RESUMO

O presente artigo visa abordar a proposta de acolhimento inserido no projeto de extensão “Clínica de Psicologia: um olhar em atenção à saúde do estudante da UFPA”, vinculado ao programa de assistência estudantil da Universidade Federal do Pará que tem por finalidade propiciar aos estudantes universitários um espaço de escuta e atenção para tratar questões referentes à saúde mental. Para tanto, o acolhimento se dá na perspectiva interdisciplinar entre os campos de psicologia e serviço social enquanto um trabalho em conjunto para ampliar o acesso à informação bem como orientação ao melhor tratamento voltado para a saúde mental.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14402-14415 mar. 2020. ISSN 2525-8761 Palavras-chave: acolhimento, saúde mental, assistência estudantil.

ABSTRACT

This article aims to address the user embracement proposal inserted in the extension project "Psychology Clinic: A look at the student's health care of the UFPA", linked to the student assistance Program of the Federal University of Pará, which has the purpose to provide university students a space of listening and attention to addressing issues related to mental health. In order to do so, the embracement is based on the interdisciplinary perspective between the fields of psychology and social service as a work to broaden access to information as well as guidance to the best treatment aimed at mental health.

Keywords: User embracement, mental health, student assistance.

1 INTRODUÇÃO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) possui o entendimento de saúde a partir de um estado de completo bem-estar físico, mental e social e que não consiste apenas na ausência de doenças ou de enfermidade (CONSTITUIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1946). Com este conceito, é possível perceber que o estado de saúde depende de uma integração de ações de caráter assistencial, preventivo e interventivo, e que abarque uma compreensão mais global sobre o contexto no qual o sujeito está inserido.

Partindo desta ideia, é possível situar a Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAE) também como um conjunto de ações que atentam para a saúde do estudante no ensino superior, uma vez que, ao contemplar as demandas de moradia, alimentação, transporte, apoio pedagógico, dentre outras, contribui para uma constante promoção e manutenção de saúde. O programa, regulamentado pela Portaria Normativa n° 39/2007 e posteriormente pelo Decreto n° 7.234/2010, especifica a atenção a saúde como uma das áreas a serem contempladas. Também versa sobre a prioridade de estudantes oriundos da rede pública de educação básica e em vulnerabilidade socioeconômica. Ademais, deixa a cargo das instituições de ensino superior (IES) federais a definição dos critérios e da metodologia de seleção dos alunos de graduação a serem beneficiados (BRASIL, 2010).

Com o objetivo de regulamentar as ações do PNAE no contexto institucional da Universidade Federal do Pará (UFPA), foi criada em 2007 a Diretoria de Assistência e Integração Estudantil da Pró-Reitoria da Extensão (DAIE/PROEX). Dez anos depois, em 2017, foi aprovada a criação da Superintendência de Assistência Estudantil (SAEST) da

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14402-14415 mar. 2020. ISSN 2525-8761 UFPA. Esta é, atualmente, responsável pela regulamentação de todos os programas de assistência estudantil vigentes, dentre os quais se destacam cinco principais: Programa Permanência (PPermanência); Programa Casa de Estudantes Universitários (PROCEUS); Programa Bolsa Permanência Acadêmica (PROBOLSA); Programa de Apoio Pedagógico (PROAP); e Programa Estudante Saudável (PES). Cada um destes programas envolve um ou mais benefícios, entre auxílios, bolsas e serviços.

Sendo assim, percebe-se um quadro amplo no âmbito da assistência estudantil da UFPA. Porém, apesar de disponíveis, há uma grande disparidade no que se refere ao estudante usufruir dos benefícios. De acordo com dados apresentados no Relatório Anual de Atividades da SAEST (UFPA, 2018), referente ao ano de 2018, é possível identificar que houve cerca de 15.000 benefícios solicitados e deferidos pelo PES, mas apenas 1.575 discentes foram beneficiados. No caso específico de encaminhamentos realizados pelo referido programa ao Hospital Universitário João de Barros Barreto, foram concedidos 1.030, mas apenas 175 estudantes foram beneficiados. Portanto, é pertinente refletir sobre as razões que levam os estudantes a não procurarem os serviços, apesar da concessão dos benefícios.

É possível ponderar como um aspecto relevante nessa direção à burocratização presente no acesso aos programas. Os procedimentos são demorados, demandam dispositivos de acesso à internet e incluem etapas, como o preenchimento de um longo questionário e envio de vários documentos digitalizados, via plataforma online. Além disso, em meio a todo este trâmite, também se deve considerar a influência de outros fatores, como, por exemplo, o ambiente familiar, a exposição a situações de violência, a dinâmica das relações interpessoais e a vivência de traumas psicológicos graves.

Nesse contexto, o presente trabalho discorre acerca do acolhimento realizado no projeto de extensão “Clínica de Psicologia: um olhar em atenção à saúde do estudante”, uma proposta de atendimento inserida em uma perspectiva de assistência estudantil e articulação psicossocial, o qual vem sendo o contato inicial dos estudantes com algum serviço de atenção à saúde no âmbito da assistência ao estudante no campus da UFPA.

Num primeiro momento, será discutido a presente proposta de acolhimento enquanto um dispositivo clínico. Posteriormente, será realizada a caracterização deste serviço enquanto um processo interdisciplinar, inserido em um projeto de extensão e situado como uma das portas de entrada a rede assistencial da UFPA e à rede pública de saúde mental. Entretanto, antes de tudo, será apresentado um breve histórico do projeto

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14402-14415 mar. 2020. ISSN 2525-8761 de extensão, no qual o acolhimento vem sendo desenvolvido, de modo a situar melhor o leitor nas discussões posteriores.

2 HISTÓRICO

No ano de 2010, iniciou-se a formação do projeto de extensão “Clínica de Psicologia: um olhar em atenção à saúde do Estudante da UFPA”. Este projeto passou a ser desenvolvido dentro das dependências da Clínica-Escola de Psicologia da UFPA e destinava-se à prestação de serviços de atenção psicológica para a prevenção, manutenção e recuperação da saúde psicológica dos estudantes, em especial, daqueles em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Em 2014, enquanto os estagiários e bolsistas de psicologia começavam a realizar o acolhimento, os de Serviço Social foram inseridos no Projeto, e somente no ano de 2016, passaram a realizar o acolhimento. Já neste ano, o projeto contava com uma equipe composta por uma assistente social, um grupo de psicólogos e estagiários/bolsistas de Serviço Social e Psicologia.

Em 2017, o projeto se vincula à Superintendência de Assistência Estudantil da UFPA (SAEST), por meio do Programa Estudante Saudável (PES). O acolhimento atende à comunidade acadêmica por demanda espontânea, e tendo como critério inicial apenas vínculo acadêmico com a universidade. Para os encaminhamentos internos - lista de espera para psicoterapia - se faz necessário seguir os critérios do PES, priorizando discentes em situação de vulnerabilidade socioeconômica e que estejam cursando sua primeira graduação, na possibilidade de analisar as questões de cunho psicológico, social, econômico e cultural que comprometem a saúde mental das/dos estudantes, de maneira abrangente.

3 ACOLHIMENTO

3.1 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS

O acolhimento no projeto foi originalmente criado para dar conta de um obstáculo surgido a partir da grande demanda de estudantes. Assim, a temporalidade era (e ainda é, de certa forma) o principal desafio ao qual buscava responder o acolhimento. A longa permanência na fila de espera, resultante da crescente procura de estudantes que buscam o projeto, fez com que fosse necessária uma nova estratégia para o atendimento. Pensando nisso, foi criado o acolhimento, enquanto proposta de atendimento e planejado para servir

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14402-14415 mar. 2020. ISSN 2525-8761 como espaço de escuta, orientação, construção, esclarecimento e fortalecimento de estudantes em situação de sofrimento mental. Porém, para além da justificativa temporal, constatou-se que essa prática passou a funcionar também como um espaço essencial para o redirecionamento destes aos programas de assistência estudantil. Esta ideia será desenvolvida mais adiante.

Com o acolhimento, tendo em vista que se trata de uma prática inserida em um serviço de atenção psicossocial, temos por objetivo primordial a disponibilidade de um espaço de livre expressão para o usuário, isto é, um local no qual haja a garantia de que ele será escutado e valorizado em seu sofrimento. Qualquer outro objetivo que se proponha a ser trabalhado no acolhimento passa a ser secundário, em função da importância primordial atribuída a emergência singular de um sujeito de sofrimento.

Partindo do respeito à primordialidade do objetivo supracitado, é possível definir alguns objetivos secundários a serem atendidos com esta prática. São eles: a focalização e articulação de uma demanda atual do usuário; ampliação da consciência do sujeito frente ao seu sofrimento, além da motivação a assumir uma atitude ativa em relação a este; viabilização de intervenções e encaminhamentos que sejam adequados à demanda e/ou orientações pertinentes que visem auxiliar o usuário em algum aspecto do seu sofrimento.

3.2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E TÉCNICOS

O acolhimento realizado pelo projeto está pautado na Política Nacional de Humanização (PNH), no que se refere a uma ação que valorize a queixa do usuário como legitima e singular e na sustentação da relação entre equipe/serviço e usuário/população (universitária). A PNH ainda alerta para a necessidade de uma escuta qualificada, visando à garantia do acesso dos usuários às tecnologias adequadas (BRASIL, 2013).

Silva Júnior & Mascarenhas (2005) abordam o acolhimento nos serviços de saúde como um dispositivo que favorece reflexões e mudanças em relação à organização dos serviços de saúde e a utilização adequada dos saberes para a melhoria nas ações de saúde. Os autores propõe o acolhimento em quatro dimensões: (1) postura, no que se refere a disponibilidade e abertura dos profissionais a receber, escutar e responder de forma humanizada às demandas dos usuários e, de igual forma, às relações e discussões intra- equipe; (2) técnica, com a instrumentalização e ações organizadas dentro da equipe, visando a otimização do processo; (3) reorientação de serviços, na medida em que o acolhimento deve ser um projeto institucional que norteie toda a pratica do conjunto de

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14402-14415 mar. 2020. ISSN 2525-8761 agentes do serviço; e (4) acessibilidade, referente às circunstancias que viabilizem a entrada de um grupo populacional em um sistema de prestação de cuidados de saúde. Além disso, os autores propõem essas quatro dimensões como áreas primordiais para a avaliação da efetividade do processo de acolhimento, e uma forma de contribuição que permita investigar a direcionalidade da construção do modelo tecnoassistencial, de acordo com os princípios do SUS (Silva Júnior & Mascarenhas, 2005). A proposta destes autores é incorporada no serviço aqui descrito, na medida em que estas dimensões são consideradas de suma importância na constante avaliação da prática do acolhimento. Sabendo que ela é realizada, no projeto, por estudantes de graduação, as quatro dimensões do acolhimento adquirem também valor na avaliação da qualidade da formação profissional dos seus discentes.

Rodrigues & Brognoli (2014) ressaltam que o acolhimento pode ser entendido como um “eixo-diretriz transversal da Atenção à Saúde com vistas à integralidade” (p. 63). Em conformidade com esta noção, os autores destacam que é necessário sustentar uma posição de não-saber, suspender saberes pré-concebidos sobre o sujeito e seu sofrimento, para que se possa escutá-lo. Assim, no acolhimento, enquanto dispositivo clínico de atenção psicossocial, pode-se “dispensar indicações técnicas muito precisas, uma vez que se trata muito mais de uma postura ética do profissional”. Tal orientação faz necessário uma constante autorreflexão e autocrítica epistemológicas. O acolhimento é, em si, uma construção.

Os autores ressaltam ainda, que o acolhimento precisa dar conta de alcançar a demanda para além da queixa. O par queixa-demanda, hoje bastante utilizado para designar a existência de um “outro lado” do sofrimento, no qual contribui o próprio sujeito, traz em seu uso a influência da psicanálise e da noção de inconsciente. É possível falar, assim, de um sujeito de sofrimento, que condiciona em uma expressão o protagonismo do sujeito de direitos e a emergência do sujeito do inconsciente (RODRIGUES; BROGNOLI, 2014). Esta noção reorienta o acolhimento, aqui abordado enquanto espaço de expressão de conflitos.

A dinâmica presente no par queixa-demanda apresenta a queixa como aquilo que o usuário traz como seu problema ou conflito, o que lhe causa sofrimento. O sujeito se apresenta de forma passiva: “ele ou ela, é o objeto de ação de outro que o/a faz sofrer” (RODRIGUES; BROGNOLI, 2014). Por outro lado, a demanda se faz presente quando é produzida no sujeito uma implicação em relação a seu sofrimento. A queixa se transforma

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14402-14415 mar. 2020. ISSN 2525-8761 em uma interrogação, uma dúvida fundamental que insere o sujeito em sua existência e em sua manutenção.

Neste sentido, considerando a prática no acolhimento realizada pelos bolsistas de psicologia, é possível recorrer as contribuições da abordagem psicanalítica, o que possibilita (re) orientar o acolhimento. Uma atenção especial é atribuída ao conceito psicanalítico de sintoma. Freud (1917), diferente da acepção médica tradicional do termo, atribui primazia ao que é indesejado pelo sujeito.

Os sintomas – e referimo-nos aqui, naturalmente, aos sintomas psíquicos (ou psicogênicos) e à doença psíquica – são atos prejudiciais à vida como um todo, ou pelo menos inúteis, dos quais frequentemente a pessoa se queixa como algo indesejado e que traz sofrimento ou desprazer (FREUD, 1917, p. 475).

Para o autor, os sintomas são substitutos de impulsos recalcados que permanecem no inconsciente e que mantém uma constante exigência de satisfação insuportável para o Eu. Este, por sua vez, é obrigado a “emitir o sinal de desprazer e se dispor para a defesa” (FREUD, 1926, p. 31). Em contrapartida, o Eu também integra o sintoma à sua organização, ou, dito de maneira mais acessível, o “naturaliza”, e com isso ele passa a ser um elemento importante na vida cotidiana de uma pessoa, o que promove resistências a sua remissão.

Longe de querer discutir os fundamentos do sintoma para a psicanálise, destaca-se apenas que, para destaca-ser entendido como tal, ele deve destaca-ser reconhecido como indedestaca-sejado pelo sujeito, promover sofrimento e ser integrado a organização na vida cotidiana. Destacando-se que o acolhimento não busca identificar e nem analisar sintomas, afirma-se que o papel do acolhimento é, a sua maneira, incidir sobre uma parcela de sofrimento emergente, sustentada por uma conduta cuja origem é desconhecida para o sujeito, mas que ganha expressão na sua vida cotidiana. Assim, o trabalho é efetuado, conforme já foi dito, através de uma postura humanizada e com uma escuta aberta que favoreça a transformação da queixa impessoal em uma demanda.

É proposto aqui que se pense o acolhimento também como um movimento de construção de uma demanda que seja suficiente para que o sujeito possa se dar conta de sua existência e procurar serviços de apoio, seja na própria instituição ou fora dela. O serviço do acolhimento ressalta ainda: a importância do foco em orientações; a ampliação da consciência; e a investigação do contexto familiar, social e cultural, tendo como base

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14402-14415 mar. 2020. ISSN 2525-8761 o Código de Ética profissional, Códigos da Legislação brasileira (Direito Civil, Direitos Humanos, ECA, Estatuto do Idoso, Maria da Penha, Lei Joanna Maranhão, LOAS, SUAS, SUS, entre outras Políticas Públicas Sociais), com objetivo de motivar os/as usuários/as a combater vulnerabilidades, bem como as barreiras do preconceito que cercam a saúde mental, ofertando assistência psicológica, psiquiátrica e social.

A intervenção, no acolhimento, busca também o empoderamento do sujeito, bem como a orientá-lo (a) a buscar serviços que possam minimizar fatores que promovam sofrimento. Nesse sentido, a contribuição do Serviço Social ao acolhimento ocorre tendo em vista a instrumentalidade de seu fazer “como uma propriedade ou um determinado modo de ser que a profissão adquire no interior das relações sociais, no confronto entre as condições objetivas e subjetivas do exercício profissional” (GUERRA, 2000, p.1).

Dessa forma, o acolhimento adentra na análise de um contexto social, frente as demandas apresentadas por estudantes em situação de sofrimento psicológico. Apresenta a estes as possibilidades de assistência estudantil oferecidas pela Universidade e contribui em sua motivação pela busca ao melhor tratamento.

3.3 PROCESSO INTERDISCIPLINAR E REDIRECIONAMENTO À REDE

O serviço de acolhimento aqui abordado oferece no mínimo três atendimentos de até cinquenta minutos, realizados pelos discentes de Psicologia e de Serviço Social e com a supervisão do professor/coordenador e da assistente social do projeto. Os atendimentos são realizados por meio de uma escuta qualificada, onde é possível direcionar o estudante a serviços específicos de acordo com a avaliação realizada.

Cada estagiário/bolsista possui uma carga horária fixa em um dia específico na semana, no qual se disponibiliza para atender todo estudante que se dirija ao projeto para acolhimento. Em seguida, de acordo com a demanda, são agendados os próximos encontros.

De forma relevante, uma das características marcantes do acolhimento no projeto é a interdisciplinaridade, já que as reuniões semanais fazem com que profissionais e estagiários possam debruçar-se sobre a situação surgida no acolhimento mais nitidamente, de forma sensível e crítica. Nos escritos de Vasconcelos [a interdisciplinaridade] (2010) “é entendida aqui como estrutural, havendo reciprocidade, enriquecimento mútuo, com uma tendência à horizontalização das relações de poder entre os campos implicados” (p.47).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14402-14415 mar. 2020. ISSN 2525-8761 Sendo assim, são realizadas, semanalmente, reuniões de supervisão que possibilitam refletir conjuntamente e pensar no encaminhamento mais viável a partir da demanda. A supervisão é realizada com a presença dos bolsistas/estagiários de Psicologia e Serviço Social, juntamente com um professor/doutor em Psicologia (coordenador do projeto) e uma assistente social. Ressalta-se que espaços como este são necessários para fazer do acolhimento um processo, efetivado pelas constantes trocas de saberes e experiência entre os acolhedores.

Isso faz com que cada retorno ao acolhimento ocorra de forma singular e devidamente orientado. Cada experiência de atendimento levada à supervisão encontra suporte coletivo para ser pensado, refletido e avaliado, de modo a responder da melhor forma possível ao estudante/usuário do serviço no próximo encontro. Assim, se estabelece uma relação recíproca entre os encontros de acolhimento e a supervisão, na medida em que o grupo formado por estudantes e profissionais, na supervisão, passa a conhecer o caso, e daí emergem alternativas para as respostas às demandas surgidas no acolhimento.

Também semanalmente, são realizadas reuniões com toda a equipe do projeto. Ao todo, participam onze integrantes: o professor/coordenador, a assistente social, quatro psicólogos (as), três estagiários/bolsistas de Psicologia, e duas estagiárias/bolsistas de Serviço Social. Essas reuniões funcionam como um laboratório, no qual também são discutidos alguns casos, mas em geral, este momento destina-se a construções teórico-práticas a partir dos atendimentos e a discussões e reflexões acerca do fazer no acolhimento e nos atendimentos em psicoterapia dos psicólogos (as).

Desta forma, este espaço contribui para o aperfeiçoamento profissional de seus integrantes, com vistas às suas práticas. No que se refere ao acolhimento, há também uma constante construção de sua práxis, realizada pelos próprios estagiários, relativa aos diversos aspectos que o constituem, tais como temporalidade, técnica, referenciais teóricos etc. Portanto, tal como a supervisão, a reunião de equipe também mantém uma relação de reciprocidade com os encontros de acolhimento, tal como ilustra a figura 1.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14402-14415 mar. 2020. ISSN 2525-8761 Figura 1 – Representação esquemática do processo envolvido no acolhimento.

Fonte: elaborado pelos autores.

Na figura acima também é possível identificar que o desfecho do acolhimento é o encaminhamento. Este é realizado pautado nas dimensões física, psicológica e social/contextual do usuário.

O serviço prioriza os dispositivos de assistência estudantil ofertados pela SAEST. A Instrução Normativa n° 12 de 2018, que regulamenta o Programa Estudante Saudável (PES) “estabelece critérios para concessão de apoio à saúde estudantil dos discentes de graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA) ”. Em seu artigo 3°, destaca

Os projetos de extensão em apoio à Assistência Estudantil na área de saúde assistem nas especialidades de: análises clínicas, clínica médica; ginecológica, psicológica, psiquiátrica, fisioterapia e terapia ocupacional, assistência odontológica preventiva e terapêutica (SAEST, 2018 p.1).

Por meio deste programa, há um bom alcance em relação as possibilidades de encaminhamento em atenção à saúde. Porém, como já foi dito, a assistência estudantil como um todo promove saúde, uma vez que também podem contribuir para o bem-estar físico e social de estudantes do ensino superior. Sendo assim, as orientações/encaminhamentos podem direcioná-las (os) aos diferentes programas de assistência estudantil da universidade, dentre os quais alguns foram citados na introdução deste trabalho. Portanto, é possível situar o acolhimento como um espaço de orientação e redirecionamento à “rede” assistencial da UFPA.

Ademais, as possibilidades de encaminhamento também contam com alternativas, tais como as que integram a rede de atenção psicossocial – principalmente as Unidades Básicas de Saúde (UBS’s) e os Centros de Atenção Psicossocial, (CAPS’s) – e, quando possível, plano de saúde, no caso de estudantes que dispõem desta opção. Uma alternativa

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14402-14415 mar. 2020. ISSN 2525-8761 possível é, também, o encaminhamento para algum dos profissionais de psicologia externos à clínica da universidade e que possuem parceria com o projeto. Estes são psicólogos (as) que disponibilizam um certo número de vagas a estudantes universitários que, por algum motivo, procuram e/ou precisam de um acompanhamento psicoterápico, mas não possuem condições de arcar com o custo corrente deste serviço. Neste caso, os atendimentos são cobrados, mas a uma faixa de preço flexível e dentro das condições de cada estudante. A figura 2 ilustra as possibilidades de encaminhamentos mais comuns. Cabe destacar, a partir da figura 2, que o Serviço de Assistência Psicossocial aos Discentes da UFPA (SAPS) é um projeto vinculado a universidade, cujos serviços principais são assistência social, acompanhamento psiquiátrico e psicoterapia individual e de grupo. O acesso ao SAPS acontece por meio do PES, mas optou-se aqui por destacá-lo por conta da recorrência com que são realizados encaminhamentos a este serviço específico.

Figura 2 – Possibilidades de encaminhamento a partir do acolhimento.

Fonte: elaborado pelos autores

Ao fim dos três atendimentos no acolhimento, acrescidas de discussão em equipe interdisciplinar, são ofertadas as possibilidades de encaminhamentos externos aos estudantes que não se limitam exclusivamente à assistência estudantil da UFPA, mas também abrangem: a rede de atenção psicossocial; planos de saúde; psicólogos (as) externos (as) que dispõe de valores acessíveis para estudantes; e SAPS, que se dá no âmbito da assistência estudantil de acordo com os critérios definidos no PES.

Os encaminhamentos internos são realizados a partir da articulação entre o projeto e a própria clínica de psicologia da UFPA. Isso ocorre com a absorção dos estudantes em

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 3, p. 14402-14415 mar. 2020. ISSN 2525-8761 psicoterapia por psicólogos do próprio projeto e, eventualmente, da clínica, e com a realização de consultas, junto à psiquiatra da clínica, de estudantes encaminhados do projeto. A depender da discussão em equipe, é feito o a acompanhamento sistemático do tratamento psicofarmacológico que, porventura, possa ser necessário.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Acolhimento representa uma grande conquista no campo da atenção à saúde mental do estudante universitário na UFPA. Por meio do projeto “Clínica de Psicologia: um olhar em atenção à saúde do estudante”, é possibilitado um local de fala e escuta, bem como é prestado orientações e encaminhamentos mais adequados a cada usuário do serviço.

Já em relação aos efeitos da ação do projeto sobre o contexto da UFPA, destacamos que a ampliação do atendimento psicossocial à comunidade discente proporciona, em muitos casos, a diminuição de censuras individuais às demandas subjetivas. Além disso, favorece condições para a integração dos estudantes à Universidade, por meio da contribuição à manutenção de saúde individual e inserção nos programas de assistência estudantil.

A proposta do acolhimento propicia ampliação de conhecimento acerca dos serviços voltados para a assistência estudantil que são disponibilizados no âmbito universitário. Afirma-se aqui que as ações realizadas no âmbito da assistência estudantil são de extrema importância. Contudo, com a crescente demanda estudantil, percebe-se que os caminhos a se trilhar são desafiadores.

Ademais, com o corte orçamentário do Governo Federal, o projeto na atualidade encaminha-se para o seu encerramento tendo em vista a redução de investimento para mantê-lo. É pertinente refletir a respeito da importância de um investimento nas IES públicas que não priorize apenas o desenvolvimento técnico e científico, mas que atente aos impactos adoecedores que têm os contextos individual e coletivo de seus estudantes, e às dificuldades que esses mesmos contextos proporcionam ao acesso à práticas de saúde. Entendemos este processo no cerne da mercantilização do ensino superior frente a intensificação do sistema neoliberal que avança em escala vertiginosa no âmbito das políticas de assistência estudantil, ao passo em que estudantes tem sua saúde mental, física e social cada vez mais fragilizada.

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Figura 1 – Representação esquemática do processo envolvido no acolhimento.
Figura 2 – Possibilidades de encaminhamento a partir do acolhimento.

Referências

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