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Resex marinha do litoral amazonico: territórios e territorialidades pesqueiros / Amazon coast marine resex: territories and fishing territorialities

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Academic year: 2020

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Resex marinha do litoral amazonico: territórios e territorialidades pesqueiros

Amazon coast marine resex: territories and fishing territorialities

DOI:10.34117/bjdv5n12-257

Recebimento dos originais: 07/10/2019 Aceitação para publicação: 18/12/2019

Josinaldo Reis do Nascimento

Biólogo, docente do IFPA Campus Bragança. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da Universidade de São Paulo. DINTER USP/UNIFESSPA. Membro dos

Grupos de Pesquisa: Educação, Trabalho, Tecnologia, Humanidades e Organização Social (ETTHOS) e Estudos Socioambientais Costeiros (ESAC)

IFPA Campus Bragança, Laboratório de Pesca. End. Avenida dos Bragantinos, s/nº, Vila Sinhá, Bragança-PA, CEP: 68.600-000

E-mail: josinaldo.reis@ifpa.edu.br

RESUMO

O presente estudo foi desenvolvido nos territórios das reservas extrativistas marinhas de: Tracuateua; Caeté-Taperaçu; Arai-Peroba e Gurupi-Piriá. A implementação destas Unidades de Conservação – UCs ocorreu a partir de 2005, e desde então representa uma forte estratégia de arranjo institucional para o manejo participativo dos recursos pesqueiros. Os dados foram coletados entre fev/17 e mai/19, através de entrevistas em profundidade, semiestruturadas e observação participante. A criação das RESEX marinhas se deu em meio a uma série de conflitos socioambientais que proporcionaram a estas populações tradicionais formar uma rede solidária de cooperação e articulação social, que contribuiu também com os processos permanentes de geração de conhecimentos e tem estabelecido novos marcos regulatórios para a conservação do ecossistema manguezal desta faixa litorânea. Esse esforço vem freando a expansão da carcinicultura, e tem mantido um embate constante com a pesca industrial, sobretudo com aquelas frotas que possuem licença para captura de peixes diversos com rede de arrasto de fundo na plataforma continental amazônica. Está em curso um processo de adaptação às novas estruturas de poder e governança tecidas nos territórios tradicionais de pesca, edificadas em elementos da natureza, que acabam exercendo um papel crucial nas relações sociais e contribuindo para a compreensão e adaptação à gestão compartilhada por estes pescadores e pescadoras. Na atualidade, este novo quadro político institucional de ascensão de governos, que visivelmente diminui os espaços coletivos de discussões, evidencia cada vez mais a necessidade constante de reorganizações coletivas para que esses grupos sociais possam defender seus territórios e seus modos de vida, majoritariamente ligados à extração dos recursos pesqueiros.

Palavras-chave: RESEX Marinha, Territórios, territorialidades, Ações sociais

ABCTRACT

The present study was developed in the territories of the extractive marine reserves of: Tracuateua; Caeté-Taperaçu; Arai-Peroba and Gurupi-Piriá. The implementation of these Conservation Units – UCs occurred in 2005, and since then represents a strong strategy of institutional arrangement for participatory management of the fishery resources. Data were collected between Feb/17 and May/19, through in-depth, semi-structured interviews and participant observation. The creation of marine RESEX occurred amid a series of socio-environmental conflicts that allowed these traditional populations to form a solidary network of cooperation and social articulation that also contributed to the permanent processes of knowledge generation and established new regulatory frameworks for conservation of the mangrove ecosystem of this coastal area. This effort has slowed the expansion of

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shrimp farming, and has maintained a constant conflict with industrial fishing, especially with those fleets that are licensed to catch several fishes with bottom trawls on the Amazon continental shelf. There is an ongoing process of adaptation to the new power and governance structures that was woven in traditional fishing territories and was built on elements of nature, that is playing a crucial role in social relations and contributing to understanding and adapting to the shared management of these fishermen and fisherwomen. At present, this new institutional political framework of Governments' ascension that visibly diminishes the collective spaces of discussions, increasingly evidences the constant need for collective reorganizations so that these social groups can defend their territories and their ways of life, mostly linked to extraction of fishery resources.

Keywords: Marine RESEX, Territories, Territorialities, Social actions

1 INTRODUÇÃO

2.1 Estirão de vento

2.2 “(...) Num estirão de vento Vindo de Curuçá Atravessei aventadas baias Desejando te encontrar

Á onde está você Minha bela capitoa Com olhos negros Que guiavam minha canoa

Nas águas enluaradas 2.3 Da beira do caeté 2.4 Espiei uma morena 1 Banhado se na maré (...)” 2

3 (Waldemar Vergara L. Filho)

A presente reflexão geográfica foi desenvolvida no litoral nordeste do estado do Pará, em um recorte da microrregião bragantina, nos territórios das reservas extrativistas marinha de Tracuateua; Caeté-Taperaçu; Marinha Arai-Peroba e Gurupi-Piriá (Figura 01).

Esta faixa costeira é formada por paisagens dominadas predominantemente pelo ecossistema manguezal, drenado por diversos rios e furos e que formam reentrâncias nas extensas áreas estuarinas, apresentando uma grande abundância e diversidade da biota aquática, o que assegura uma alta produtividade pesqueira (FERNANDES, 2003; ISAAC-NAHUM et al., 2006).

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Esta faixa costeira se caracteriza, sobretudo, por apresentar grande abundância e diversidade da biota aquática, o que assegura uma alta produtividade pesqueira (FREDOU & ASSANO, 2006).

Esta alta produtividade pesqueira está diretamente relacionada aos elevados índices de matéria orgânica proporcionados pela dinâmica das florestas de mangue e dos rios, formando condições favoráveis para reprodução e desenvolvimento dos estoques pesqueiros (VANNUCCI, 1999).

Neste universo litorâneo, o recorte para nossa reflexão geográfica, os territórios são cercados de práticas históricas de uso e manejo dos recursos naturais por suas populações tradicionais1 (BARBOZA & PEZZUTI, 2011; CARDOSO et al., 2018).

Vale ressaltar, que de acordo com o que versa a Lei Nº 9.985 de 18 de julho de 2000, em seu Art. 2º, compreende manejo como: “todo e qualquer procedimento que vise assegurar a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas” (BRASIL, 2000, p.2).

Para estas populações tradicionais litorâneas, este conceito carrega consigo práticas ancestrais, desenvolvidas muito em resposta às adversidades e pressões sobre os recursos naturais comuns dos quais dependem para reprodução dos seus modos de vida. Estas iniciativas exitosas de manejo têm sido impulsionadas por um catalizador digno de nota, a igreja católica, através de suas Pastorais Sociais2, sobretudo a Comissão Pastoral dos Pescadores (CPP), que têm desempenhado um papel importante na mediação de arranjos institucionais como diferentes esferas e estratégias de manejo, principalmente frente às pressões do mercado sob os estoques pesqueiros.

De acordo com Isaac-Nahum & Ferrari (2017), nos últimos anos a pesca3, principalmente a industrial têm aumentado os esforços de captura nas proximidades da costa, e este crescimento tem afetado negativamente os estoques pesqueiros, a implementação de RESEX marinha a partir de 2005, apresenta-se como uma forte estratégia de arranjo institucional de regulamentação participativa de manejo dos recursos pesqueiros.

1 Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social,

que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (BRASIL, 2007, p. 1).

2 De acordo com a CNBB, as Pastorais Sociais compreendem a solicitude de toda a Igreja Católica para com as questões

sociais, isso dentro de uma dimensão sócio transformadora a partir da evangelização. as Pastorais Sociais são setorizadas em onze: da terra, operária, da criança, do menor, da saúde, carcerária, do povo da rua, dos pescadores, dos migrantes, da mulher marginalizada e dos nômades. Estes setores têm como finalidade concretizar ações sociais específicas diante de situações reais de marginalização, é procurar respostas e apontar caminhos coletivos através de ações e organizações para resolução e enfrentamentos destas de situações (CNBB, 2001).

3 Para fins desta tese, consideraremos como pesca as definições dadas pela Lei Nº 11.959, de 29 de junho de 2009, que

estabelece a pesca como toda operação, ação ou ato tendente a extrair, colher, apanhar, apreender ou capturar recursos pesqueiros.

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Desta forma, pretende-se fazer uma breve reflexão acerca das ações sociais4 dos pescadores e pescadoras artesanais5 que culminaram na reconfiguração dos seus territórios tradicionais de

trabalho e de reprodução de seus modos de vida em Reservas Extrativistas Marinhas (RESEX-Mar).

2 DISCUSSÃO

A articulação pró-RESEX chega ao litoral amazônico na década de 1990 e traz consigo reivindicações que têm promovido tanto os processos contínuos de recomposição e reconfiguração dos territórios tradicionais quanto as reafirmações de suas territorialidades6 (TEISSERENC & TEISSERENC, 2016).

De acordo com Simone Maldonado (1993) que propõe como a expressão da territorialidade pesqueira ao analisar as estratégias que propiciam a criação de mecanismos políticos de organização para lidar com as mudanças e oscilações inerentes aos processos evolutivos da atividade pesqueira, o que tem, de certa maneira, se tornado fundamental para as populações tradicionais reconfigurarem as formas de apropriação e o uso dos espaços, consolidando e reafirmando sua territorialidade.

É estes novos elementos que levam Glaser & Oliveira (2004) a intitularem as Reservas Extrativistas Marinhas de RESEX de “segunda geração”, definição em que os contextos políticos, organizacionais e institucionais aparecem diferenciados das reservas extrativistas criadas em terras amazônicas no final da década de 1980. O sentido ecológico, neste caso, é extrapolado e nota-se um sentido social diferente:

O caso das reservas extrativistas marinhas foi um outro momento deste reconhecimento, pois esses territórios não eram mais apenas constituídos de terras, mas também de águas - rios, lagos, mares, estuários - e a legislação nacional é frágil (ainda hoje) frente a estas novas questões de reconhecimento consuetudinário em territórios aquáticos. Por outro lado, os povos que vivem nestes locais definem, classificam e se representam nestes lugares com muita legitimidade e conhecimento sobre os complexos processos de pertencimento e reconhecimento destes territórios, pelos quais preservam suas (re) produções socioculturais, econômicas, políticas e

4 Um ato ou conjunto de atos que levam em conta as ações e reações dos indivíduos ou “agentes” em sociedade. Os

indivíduos agem considerando o comportamento dos outros, e é assim orientado em seu curso para um ato coletivo como resultante social (WEBER, 1979).

5Para fins de compreensão, pescador artesanal é considerado aqui como: aqueles que reproduzem seus modos de vida

basicamente de recursos pesqueiros, capturados com uso de baixo aporte tecnológico e com predominância de relações de trabalho centrado na família, nos regimes de parceria e/ou compadrio com fortes laços de solidariedade. Além de intrínsecas relações com fatores ambientais, que norteiam seus saberes e fazeres repassados através da oralidade e observação ao longo das gerações (DIEGUES, 1983).

6 A explicação dos conceitos, noções e práticas em que se constituem a territorialidade, e o seu segredo na pesca, não

pode prescindir, ao nível analítico, da identificação do desenvolvimento tecnológico dos diversos grupos ou das condições ecológicas de cada lugar que vão influenciar de maneira determinante a sazonalidade e a localização da pesca. Estes dois elementos conjugados, por sua vez determinam o acesso que os pescadores têm ao mar, tanto em termos da distância a que podem chegar e em que podem constituir seus territórios, como nos termos das relações sociais que ordenam o usufruto dos recursos existentes (MALDONADO, 1993, p. 25).

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ambientais, estabelecendo suas próprias formas de manutenção de natureza e cultura, ambiente e sociedade (BUCCI, 2009, p.20).

Concretamente, a institucionalização dos territórios tradicionais de pesca do litoral nordeste do estado do Pará em RESEX Marinhas demostra nitidamente que contribuiu para uma melhor compreensão dos processos coletivos de luta do pescadores e pescadoras, (re)construindo seus modos de vida, sistemas de manejo e de conservação dos recursos pesqueiros, em meio a uma rede de cooperação e articulação social recheada de conflitos socioambientais, o que implicou, na reconfiguração dos seus territórios tradicionais de pesca, reafirmando, portanto, relações socioespaciais peculiares, apresentando-se como um instrumento motivador de mudanças sociais, Wever et al., (2012) é propulsor da (re)afirmação do sentimento de pertencimento pelo território. Demonstrando ainda como, que efetivamente, tem colaborado para conservar a faixa de manguezal da região e seus atributos ecológicos, freando o avanço da carcinicultura, cujos efeitos devastadores a este ecossistema na região nordeste do país já eram conhecidos em todo o Brasil.

3 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

A trajetória metodológica da presente investigação geográfica foi construída por meio de pesquisas qualitativas, seguindo os preceitos propostos por Poupart et al (2008), compreendendo-a como “um espaço de práticas relativamente diversificadas e múltiplas”, voltadas para o estudo de problemas sociais.

Como destacou Moraes (2005), para gerar análises sociológicas, antropológicas e políticas das questões ambientais demanda toda uma labuta de cunho teórico-metodológico. Por isso, para atingir os objetivos propostos nesta pesquisa, foi realizada uma grande articulação entre prática e teoria.

Em termos práticos, a práxis tem sido decisiva, notadamente com a participação em reuniões, seminários, encontros e congressos de extrativistas, e, paralelamente, com incursão a eventos científicos, algo ocorridos com maior intensidade nos últimos dois anos (2017-2019). Destaca-se, neste contexto, o entrelaçamento entre a práxis paulofreiriana7 e a prática pedagógica realizada em

7 Ao conceber os pescadores e pescadoras artesanais sujeitos deste estudo, enquanto seres sociais que transformam seus

espaços e nestes processos se autotransformam, se recriam, ou seja, na luta pela reprodução dos seus modos de vida, os pescadores e pescadoras transformam suas condições sociais da vida que é, ao mesmo tempo, autocriação e criação coletiva de si mesmo. Segundo Freire (1987), a prática pedagógica deve ser uma ação de transformação social, a prática docente deve ser constantemente dialogada com a realidade objetiva e subjetiva da docência. A realização destas relações conceituais e reflexões sobre as implicações na prática educativa de sujeitos sociais, educadores-estudantes visualiza-se à educação como emancipação social. “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (FREIRE,1987, p.39). Desta forma, o resgate aqui do conceito de práxis, originaria da tradição marxista, associado ao conceito de prática pedagógica imbricada em Paulo Freire, e, por conseguinte, à educação na definição de sentido mais amplo e à ação transformadora é oportuna e contemporânea para as indagações aqui postas.

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atividades de facilitação de oficinas de capacitação junto aos núcleos de representações e formação de lideranças dos pescadores e pescadoras nas RESEX marinhas do litoral paraense.

Em termos teóricos, esforços foram dispensados na tentativa de fazer um bom apanhado sobre os principais trabalhos científicos já realizados sobre o tema, além de outros documentos oficiais e extraoficiais que tratem dos processos de criação e gestão das RESEX no território. Em linhas gerais, uma pesquisa bibliográfica, em busca de subsídios reflexivos relevantes para melhor interpretar os dados colhidos.

A coleta de dados ocorreu durante o período que se estendeu de fevereiro de 2017 a maio de 2019, usando método de pesquisa qualitativa, por meio de entrevistas em profundidade, semiestruturadas e observação participante (BONI & QUARESMA, 2005).

Ao longo deste período, em situações diversas, foram realizadas 20 entrevistas em profundidade e registrada a história de vida (HV) das principais lideranças envolvidas nos processos de criação e de cogestão das RESEX Marinha em questão8. Foram coletadas informações importantes para inquirir sobre os processos que motivaram a atuação e o envolvimento dos pescadores e pescadoras, principalmente das lideranças, nas ações sociais que convergiram para criação e consolidação das RESEX Marinhas em seus territórios tradicionais de pesca.

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Figura 01 – Localização das Reservas Extrativistas Marinhas da microrregião bragantina, lócus especifico da análise. Fonte: (PASSOS et al., 2016).

4 RESULTADOS

A institucionalização dos territórios tradicionais de pesca em RESEX marinha se deu em meio a uma série de acontecimentos que vão desde ideias de território de uso comum; a redemocratização do país; perpassando pelos desdobramentos da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e por último, porém não menos importante, a necessidade de estabelecer marcos regulatórios para conservação mais efetiva dos manguezais da região, algo que pudesse “conter” a expansão desordenada da pesca industrial e da carcinicultura em áreas estuarinas, ambas que vinham, especialmente do nordeste brasileiro sob a égide da forma de reprodução capitalista hegemônica.

As ideias de os territórios de uso comum se difundiram na região, inicialmente através de uma articulação entre o Movimento dos Pescadores do Estado do Pará (MOPEPA)9 e Centro Nacional de Populações Tradicionais (CNPT/IBAMMA) e posteriormente com a Universidade Federal do Pará (UFPA), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (EMATER/PA), os Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) e Comissão Pastoral do Pescadores (CPP).

Estas instituições foram fundamentais para o entendimento, adaptações e difusão do conceito desta modalidade de unidade de conservação, principalmente entre as lideranças comunitárias: “a gente tinha uma parceria muito grande com o CNPT, era o órgão ligado ao MMA, Ministério do Meio Ambiente. Através da nossa parceria eu conheci o projeto da reserva”. Relações estas que contribuíram para ocasionar processos permanentes de geração de conhecimentos, com bem elucidou Freire, (1987), de forma simultânea de “ação e reflexão e ação”.

Obviamente, que estes processos e concepções conservacionistas ganharam potência entre os técnicos do CNPT/IBAMA, após as discussões ocorridas durante a Rio-92 e seus reflexos verberaram nos anos seguintes, como até hoje muito do que foi discutido na conferência permanece atual. Certamente, não sou o primeiro a observar tais conexões, que contribuiu para a intensificar as discussões acerca de alternativas que pudessem viabilizar a conservação dos ecossistemas dos ecossistemas tropicais, dentre eles o manguezal, sobretudo, através de modelos que vislumbrasse a participação das populações humanas que utilizam historicamente seus recursos para reprodução dos seus modos de vida.

9O Movimento dos Pescadores do Estado do Pará (MOPEPA) é a representação paraense do Movimento Nacional dos

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Nesta perspectiva, alguns debates começam ocorrer na região bragantina com maior intensidade a partir de setembro de 1998, quando a cidade de Bragança sediou o V Encontro Nacional de Educação Ambiental em Áreas de Manguezal (V-ENEAM). Vale ressaltar que o V-ENEAM, além de trazer em seu cerne debates acerca da conservação, produção e impactos socioambientais em áreas de manguezal, carregava sobretudo, novas ideias, estabeleceu novas redes entre os pescadores e pescadoras (marisqueiras e tiradores de caranguejo) das comunidades de Bragança entre si, e com os dos municípios vizinhos que participaram do encontro, para alguns que foram ouvidos nesta pesquisa, tiveram talvez, o primeiro contato com tais conceitos, com pesquisadores e estudantes, debatendo seus modos de vida, mas vistos sob outro ângulo, aquilo que para eles já se tornará pautas corriqueiras, agora eram vistos por eles como o centro das discussões com/pelos os pesquisadores e acadêmicos.

É sob tais pressupostos, inéditos para região, o encontro provavelmente contribuiu para que alguns pescadores e pescadoras saíssem inquietos e fortalecidos: “a gente começou a visualizar que a gente poderia fazer uma reserva de pesca, um território nosso”, afirmou um dos pescadores que estava no evento e que colaborou com a pesquisa ao expor sua impressão do evento.

Tudo isso nos leva a associar a contribuição de intelectuais neste processo, tanto os “de dentro” quanto os “de fora”, com destacou Porto-Gonçalves (1999) ao refletir sobre a territorialidade seringueira. Aqui também, cada um aparece lançando mão do prestígio que acreditam possuir no campo político-simbólico das ações sociais, justamente porque se é “de fora”, sobretudo quando se é da universidade, há um imaginário que estes sujeitos carregam consigo elementos novos para contribuir com a luta.

Vale ressaltar, que naquele momento a correlação de forças políticas e simbólicas que estava em curso, era entre os pescadores artesanais versus Estado e os empresários do setor pesqueiro, uma luta desigual pelo reconhecimento dos seus territórios tradicionais de pesca, e a articulação e o apoio dos sujeitos ditos “de fora”, foi um elemento de coesão crucial para oficialização destes territórios em favor dos pescadores artesanais. O que é compreensivo, haja visto, que a conquista de um território “significa articulação social, conflitos, cooperação, concorrências e coesões” (SAQUET, 2009, p. 88).

Neste sentido, quero destacar que parte dos pesquisadores do projeto Mangrove Dynamics and Management-MADAM, visivelmente contribuíram para ampliar esta compreensão, já que a experiência dos pesquisadores da área socioeconômica do projeto ao perceberem que a ideia de RESEX marinha vinha se tornando o principal instrumento canalizador dos anseios por regulamentação dos seus territórios, rapidamente encontraram um “canal” por onde pudesse fluir estas pretensões, e aliaram-se aos interesses das organizações coletivas destes pescadores,

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contribuindo entre outras coisas para qualificar o debate entre as lideranças e ampliar a capilaridade das ideias entre as comunidades pesqueiras, sobretudo as de Bragança (GLASER et al., 2005).

É importante registrar que se fazia necessário conseguir a adesão dos municípios envolvidos, e politicamente a ideia não avançava, muito em função do “governo do Estado, através da SECTAM, por exemplo, não era favorável, pois considerava a criação dessas unidades uma intervenção da união” (SILVA-JUNIOR, 2013, p. 46). Dentre as prefeituras dos municípios envolvidos, o executivo da cidade de Bragança exerceu papel crucial na mobilização social e burocrática, sobretudo através da Secretaria Municipal de Economia e Pesca (SEMEP), que agilizou o processo de solicitação para criação das RESEX, que se encontrava parada nas entranhas burocráticas dos órgãos estatais por cerca de dez anos: “ai foi todo um processo que durou 10 anos, o primeiro momento ficou engavetado lá em Brasília. Só no governo Lula, no dia 20 de maio de 2005 foi que ele sancionou as 4 reservas aqui da região”.

Sem entrar aqui no mérito do grau de ruptura política entre as instituições federais e estaduais, sobretudo aquelas diretamente ligadas ao meio ambiente, vale registrar que na visão dos nossos interlocutores, as instituições estaduais, com exceção da EMATER, pareciam orientadas a desarticular a movimentação dos pescadores, como me relatou uma liderança: “a SEMA do Estado nunca contribuiu pra nada..., só fazia atrapalhar. A gente marcava uma reunião ela ia desmarcava, a gente chegava na comunidade estava desmarcada”

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Por isso, é importante destacar, os mecanismos alternativos que foram criados em meio a esta adversidade política para fomentar os debates sobre RESEX nas comunidades pesqueiras e nas organizações coletivas dos pescadores, como foi relatado por alguns técnicos do CNPT/IBAMA ouvidos durante a pesquisa: “Mas ninguém do Estado queria saber de conversar com pescador, de dialogar.... aí a gente teve que tipo camuflar os nossos objetivos de ajudar a criar RESEX”. Isso revela os traços centrais da articulação do movimento Pró-RESEX marinha na região bragantina.

Em última análise, o que instigava este pensamento contrário era o modelo de desenvolvimento que estava em curso no Estado do Pará naquele momento, que tinha como norteador principal o projeto do Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Pará (MacroZEE)10.

Sob tais premissas de obrigatoriedade impostas pelo arcabouço legal, o executivo estadual buscava ordenar o desenvolvimento econômico do Pará, focando no discurso do desenvolvimento sustentável, focado em um economicismo visivelmente pautado na reprodução capitalista

10Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Pará (MacroZEE) aprovado pela Assembleia Legislativa do

Estado do Pará (ALEPA) em 2005, vinha a compor o Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico (MacroZEE), que fora criado via Decreto Federal nº 99.193/90, entretanto, somente a partir de 2000 é que o PZEE passou de fato a integrar a o planejamento central. No estado do Pará, com a premissa de incentivar o desenvolvimento das atividades econômicas de bases manejáveis, a redução dos conflitos fundiários, bem como contribuir com a diminuição do desmatamento ilegal, o MacroZEE passou a ser o principal instrumento da política de ordenamento territorial do Estado (FARIAS et al., 2016).

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hegemônica, estimulando fortemente o desenvolvimento vertical de cadeias produtivas diretamente ligadas a exploração dos recursos naturais, sobretudo as cadeias produtivas minerais e agroflorestais. Além disto, para fortalecer os setores agroindustriais, o Estado buscava estabelecer parcerias, principalmente com os agentes privados, com intuito de “horizontalizar” os processos de inovações tecnológicas, seguindo as premissas estabelecidas no Art. 3° do Decreto Federal nº 4.297, de 10 de julho de 2002.

Formando um novo padrão de expansão sociogeográfico, como exemplificado por Porto-Gonçalves (2018), que pretendia aqui expandir as áreas de carcinicultura para o litoral amazônico, contudo para isso, também teria que, de alguma maneira, interferir no arcabouço jurídico-institucional que regulamentava a questão ambiental no país, o que nos leva a associar a afirmação: “a RESEX era contra o desenvolvimento do Estado”.

Estas discussões faziam referências a legislação ambiental brasileira que regula empreendimentos com potencial impacto ambiental e prevê uma rede institucional de controle e fiscalização de seu cumprimento, em áreas de reserva extrativista (RESEX), de acordo com o SNUC, estas prerrogativas inviabilizam estes tipos de empreendimentos particulares pretendidos em seu entorno, como expressa no Art. 18.

Neste embate, em alguns dos municípios estudados aqui, a articulação social e coesões criadas pelos pescadores como os sindicatos de trabalhadores rurais se configuraram como ancoras fundamentais nestas unidades de mobilização11, sobretudo, funcionando como difusor e mobilizador importante das ideias conservacionistas que o modelo de RESEX carregava: “aqui nós tinha o Carlinho do sindicato que era parceiro nosso, do sindicato rural. Nós tivemos esta parceria na mobilização”.

Um traço que me permite concluir que esta participação mais efetiva dos sindicatos de trabalhadores rurais na luta dos pescadores, está ligada os embates pelo controle das colônias de pescadores12 que emergiu ainda na década de 1980, onde os pescadores artesanais não se sentiam

11Este conceito de unidades de mobilização refere-se à aglutinação de interesses específicos de grupos sociais não

necessariamente homogêneos, que são aproximados circunstancialmente pelo poder nivelador da intervenção do Estado – por meio de políticas desenvolvimentistas, ambientais e agrárias – ou das ações por ele incentivadas ou empreendidas, tais como as chamadas obras de infra-estrutura (ALMEIDA, 2004, p.10).

12As colônias de pescadores do Brasil, têm sua gênese a partir de 1919 por iniciativa da Marinha de Guerra. Nesta época, o país, apesar de possuir um vasto litoral e uma grande diversidade de águas interiores, importava parte considerável dos peixes que eram consumido, e alicerçado no discurso de fomentar a produtividade pesqueira, aliado ao de defesa da soberania nacional, já que ninguém melhor que os pescadores, que empiricamente detêm os “segredos” do mar. Sentimento que cresceu após a primeira guerra mundial, aumentou o interesse do Estado em defender a costa brasileira. Desde então as colônias de pescadores estiveram sob a tutela do Estado, estando os pescadores artesanais sob o controle e dominação política de órgãos governamentais, primeiro da Marinha e depois Ministério da Agricultura. As colônias eram definidas como agrupamento de pescadores ou agregados associativos. Para poder exercer oficialmente a atividade pesqueira, os pescadores eram obrigados a se matricular nas colônias. Até então, as relações instituídas entre pescadores e Estado se caracterizavam pelo paternalismo e pelo assistencialismo. A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, os pescadores artesanais conquistaram avanços no que tange aos direitos sociais e políticos, quando as colônias

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representados pela instituição, e se formou um levante nacional pelo controle político das colônias de pescadores, este movimento culminou entre outras coisas, o que posteriormente foi denominado de “Movimento Constituinte da Pesca”(MORAES, 2001).

Na tentativa, então, de explicar a contribuição direta dos sindicatos de trabalhadores rurais nos processos de reconfiguração dos territórios tradicionais de pesca do litoral do Estado do Pará em RESEX Marinha, elucidou ao seu modo um dos pescadores ouvidos durante a pesquisa: “as colônias de pescadores, na verdade não ‘nus’ representava, as pessoas eram nomeadas pelo ministério para ocupar o cargo de presidente. Ai... logicamente isso daí não ‘nus’ representava”.

Além dos sindicatos de trabalhadores rurais, a universidade e os movimentos sociais ligados a pesca, agora a igreja católica através da Comissão Pastoral dos Pescadores (CPP), contribuiu para ampliar as redes solidárias de apoio contra o modelo desenvolvimentista em curso naquele momento, compondo as ditas unidades de mobilização na luta pelo reconhecimento oficial dos territórios tradicionais de pesca.

Estes processos sociais participativos constroem/moldam os territórios e suas territorialidades, como destacou Teisserenc & Teisserenc (2014) ao analisar outros contextos na Amazônia, no qual evidenciaram (re)organização dos territórios, alicerçados numa perspectiva participativa.

5 GUISA DE CONCLUSÃO

A partir da análise da história de vida (HV) das 20 principais lideranças pesqueiras envolvidas diretamente na gênesis destas ações sociais, que culminaram na institucionalização dos territórios tradicionais de trabalho e de reprodução do modo de vida dos pescadores e pescadoras artesanais do litoral nordeste do estado do Pará em RESEX Marinhas, aqui estudados, nos revelou os traços centrais de seus percursos de formação política, e que a maioria, nitidamente encontram apoio e ressonância nas organizações religiosas, especialmente na igreja católica e nos movimentos sociais ligados à pesca artesanal e ao meio ambiente.

A institucionalização destes territórios em RESEX Marinhas, de fato estabelecer novos marcos regulatórios para conservação do ecossistema manguezais desta faixa litorânea, o que visivelmente contribuiu para frear a expansão da carcinicultura para o litoral norte do Brasil e tem mantido um embate constante com a pesca industrial, sobretudo aquelas frotas que possuem licença

de pescadores, através do artigo 8º foram equiparadas aos sindicatos de trabalhadores rurais, recebendo a configuração sindical (MORAES, 2001).

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para a captura de “peixes diversos13” com rede de arrasto de fundo14 na plataforma continental amazônica15.

Vale ressaltar que os peixes chamados “diversos” pela IN n° 2/2010 são de fato as principais espécies-alvo da pesca artesanal, e mantêm importância fundamental para a segurança alimentar e econômica das comunidades de pescadores artesanais desta faixa litorânea.

Há em curso um processo de adaptação às novas estruturas de poder e governança tecidas nos territórios tradicionais de pesca do litoral amazônico, é estas formas, para os pescadores e pescadoras artesanais, são ainda, edificadas de maneira personificada em elementos da natureza, que acabam exercendo um papel crucial nas relações sociais e contribuindo para compreensão do território e o estabelecimento de normas de manejo por estes pescadores e pescadoras.

As territorialidades presentes nas RESEX marinhas aqui analisadas, se referem as formas tradicionais do uso dos recursos pesqueiros e de reprodução social, contudo, coexiste no território formas de reprodução capitalista, como pesca industrial como a qual alerta Silva et al (2014), que visivelmente destoam das compreensões sociocultural edificadas em elementos da natureza:

Pela proximidade de atuação da frota industrial permissionada para peixes diversos, com áreas de atuação da pesca artesanal costeira, o estudo sugere uma avaliação dos impactos sociais, econômicos e biológico em atividades tradicionais de pesca (curral de pesca, pesca de emalhe, pesca de espinhel e pesca de linha e etc.) realizadas por muitas comunidades ao longo de várias cidades e vilarejos da microrregião do Salgado paraense ( SILVA et al., 2014, p. 51).

Apesar da inconsonância, vale destacar que essas atividades impactam o meio ambiente, guardando suas devidas proporções e percepções do espaço onde e como suas técnicas de capturas são realizadas. Neste caso, em especial, como se trata de territorialidades que atuam simultaneamente no espaço e no tempo, uma prejudica de maneira direta a permanência da outra, o que pode explicar as reivindicações em torno de um território “exclusivo” para a pesca artesanal.

13A Instrução Normativa nº 2 de 15 de janeiro de 2010 que em seu artigo 1º define peixes diversos da seguinte maneira:

I - Espécies a capturar: pescada-gó Macrodon ancylodon; pescada-curuca Micropogonias furnieri; cambéua Notarius grandicassis; corvina Cynoscion sp.; peixe-espada Trichiurus lepturus; paru Chaetodipterus faber; uritinga Sciades proops; sardinha Anchoviella sp.; bandeirado Bagre bagre; peixe-galo Selene setapinnis e Selene vomer; cangatá Arius quadriscutis; e peixe-pedra Genyatremus luteus; (BRASIL, 2010).

14A Instrução Normativa nº 2 de 15 de janeiro de 2010 que em seu artigo 1º define arrasto de fundo como: II - Método

de pesca: arrasto de fundo com portas, sem correntes na tralha inferior, com malhas de tamanho mínimo de 100 mm no corpo da rede e 70 mm no túnel de saco, medidas tomadas entre nós opostos da malha esticada; (BRASIL, 2010).

15Instrução Normativa nº 2 de 15 de janeiro de 2010 que em seu artigo 1º resolve: Permitir a concessão de Autorização

Provisória de Pesca para embarcações devidamente autorizadas para a pesca de arrasto de camarão-rosa, excepcionalmente no período do defeso 2009/2010, na área compreendida entre a fronteira do Guiana Francesa com o Brasil (linha loxodrômica que tem o azimute verdadeiro de 41º30', partindo do ponto definido pelas coordenadas de latitude 4º30'30''N e longitude de 51º38'12''W) e a divisa dos estados do Piauí e Ceará (Meridiano de 41º12'W) (BRASIL, 2010).

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Esta sobreposição de territorialidades e coexistências de conflitos, como destaca Heidrich (2009), tem sido pauta recorrente nos debates. Mesmo com a institucionalização dos territórios tradicionais de pesca no litoral amazônico, definida a normatização para usufruto “exclusivo” da pesca artesanal, no caso as RESEX Marinha. Para compreendermos melhor esta situação, de modo geral, esta pesca de arrasto vem sendo exercida nos limites e/ou na área do entorno destas unidades de conservação.

Desta forma, destaco que estes debates merecem maior atenção por parte dos tomadores de decisão, haja vista que a coexistência clara destes conflitos socioambientais comprova a necessidade de articulações para além dos territórios institucionalizados, a fim de assegurar a efetiva exclusividade e usufruto, manejo e gestão dos estoques pesqueiros por estas populações tradicionais.

Vê-se, desse modo, que para conservação mais efetiva dos recursos naturais, cada vez mais se exige um ordenamento territorial que seja capaz de enfrentar estas sobreposições de territorialidades.

Pode-se observar também que as relações que criam as territorialidades nem sempre necessitam de demarcação, de fronteira propriamente dita (como normalmente visto nas UC’s em questão, das quais os pescadores não sabem ao certo onde são os limites da unidade, apenas que garantem a eles o direto do usufruto deste espaço). Contudo, as relações cotidianas de ocupação e uso do espaço e dos recursos naturais de suas percepções e representações culturais, em suma, as relações sociais com o espaço vivido e concebido, estas sim estão bem definidas, como destacou Sack (1986), o que também foi evidenciado na percepção de muito dos nossos interlocutores.

Vale destacar, que a análise do território, “deve ser trabalhado sempre a partir de sua perspectiva temporal, já que envolve profundas transformações ao longo da história” (HAESBAERT & LIMONAD, 2007, p. 50). É imprescindível considerar neste estudo, no momento histórico em questão, que a reprodução social dessas comunidades e populações tradicionais pesqueiras do litoral amazônico, encontra-se em risco, inclusive como outras para além do litoral amazônico. Tomemos um exemplo concreto: as quebradeiras de coco babaçu (Maranhão, Tocantins, Pará e Piauí), os quilombolas e indígenas do país, estas populações encontram-se historicamente ligadas pelas dificuldades de reconhecimento de direitos, cidadania, identidade e cultura, agora mais que nunca, com ascensão de um governo central de extrema direita (a partir das eleições de 2018), esta perspectiva do tempo na análise das territorialidades para populações tradicionais tornam-se cada vez mais relevante.

Este novo quadro político institucional agravam os problemas e evidenciam a necessidade de reorganizações coletivas para que esses grupos sociais possam defender seus modos de vida, majoritariamente ligada a extração de recursos pesqueiros, por isso suas organizações tornam-se cada

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vez mais fundamentais para garantir a conservação destes territórios de uso comum institucionalizado a partir deste acúmulo de lutas sociais registrados aqui: “pra mim, essa política de reserva... veio principalmente para garantir a nossa área de pesca. Pra nós pescador essa é a maior garantia de futuro. Agora as pessoas respeitam mais nós aqui da maré”.

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