• Nenhum resultado encontrado

J. epilepsy clin. neurophysiol. vol.12 número3

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "J. epilepsy clin. neurophysiol. vol.12 número3"

Copied!
3
0
0

Texto

(1)

175

Clinical, Psychosocial and Scientific Note

J

ournal of Epilepsy and Clinical

Neurophysiology

J Epilepsy Clin Neurophysiol 2006; 12(3):175-177

Associação Brasileira de Epilepsia (ABE)

Filiada ao International Bureau for Epilepsy

Received May 22, 2006; accepted June 26, 2006.

Consenso Terminológico da Associação Brasileira de Epilepsia

Laura M. F. Ferreira Guilhoto, Regina S. Muszkat, Elza Márcia T. Yacubian

Associação Brasileira de Epilepsia

RESUMO

O objetivo deste texto é rever a terminologia sobre epilepsia utilizada no Brasil, a fim de unificar termos de uso comum tanto para leigos como para profissionais da área de saúde, uma vez que não há consenso. Em teses e artigos leigos sobre epilepsia são comuns termos como epiléptico e portador sendo a epilepsia referida como uma doença ou uma síndrome. Por outro lado, em reuniões de pessoas com epilepsia o termo paciente com epilepsia é comumente utilizado e os indivíduos ali presentes não são pacientes. A partir da hete-rogeneidade da epilepsia, o termo distúrbio parece ser o mais abrangente nos âmbitos cientifico e social. A Associação Brasileira de Epilepsia (ABE) propõe a definição de epilepsia baseada na última da Liga Inter-nacional contra a Epilepsia (ILAE) (2005): distúrbio cerebral causado por predisposição persistente a gerar crises epilépticas e pelas conseqüências neurobiológicas, cognitivas, psicossociais e sociais da condição, devendo ter ocorrido pelo menos uma crise epiléptica. A ABE considera que os termos doença, portador,

epiléptico devam ser proscritos e a epilepsia deva ser considerada um distúrbio, e os indivíduos que a apresen-tem, pessoas com epilepsia.

Unitermos: epilepsia, definição, termos utilizados no Brasil.

ABSTRACT

Terminological Consensus of the ABE

The objective of this paper is to review the terminology about epilepsy used in Brazil, in order to unify terms for lay people and health professionals, hence there is no consensus. Because of the heterogeneity of epilepsy, the term disorder seems to be the more complete regarding scientific and social aspects. The Associação Brasileira de Epilepsia proposes the following definition based on ILAE definition (2005): “Epilepsy is a disorder of the brain characterized by an enduring predisposition to generate epileptic seizures and by the neurobiologic, cognitive, psychological, and social consequences of this condition. The definition of epilepsy requires the occurrence of at least one epileptic seizure”. The ABE considers that the terms disease, carrier,

epileptic must be outlawed and epilepsy should be considered a disorder, and the individuals that present it,

people with epilepsy.

(2)

176 INTRODUÇÃO

A nomenclatura em epilepsia não é apenas forma de delimitação nosológica, mas é também instrumento útil à comunicação, que deve ser utilizado no senso comum. Portanto é inerente nomenclatura adequada, incluindo descrição da singularidade dos indivíduos com epilepsia, a fim de eliminar o estigma social e obter recursos institucionais, médico-legais e estatais, favorecendo a ela-boração de leis específicas.

O objetivo deste texto é rever a terminologia sobre epilepsia para uso comunitário, a fim de unificar termos de uso comum tanto para leigos como para profissio-nais da área de saúde no Brasil, uma vez que não há con-senso.

METODOLOGIA

Foram avaliados dicionários e textos de revisão da li-teratura internacional relacionada a conceitos, nomencla-tura, terminologia e classificação das epilepsias.

RESULTADOS

Hipócrates e Galeno consideravam a epilepsia um sin-toma, enquanto Avicena e Celsus, uma doença. Jackson, em 1873, introduziu conceito fisiopatológico de crise epi-léptica, a qual considerava um sintoma causado por hiperexcitabilidade elétrica neuronal. Portanto, os termos sintoma ou doença passaram a ser utilizados(1).

Nos séculos XIX e XX, vários autores, como Gowers, Wilson, Merritt, Jasper, etc consideravam epilepsia uma doença, e apenas na década de 80 foi introduzido o termo síndrome epiléptica em classificações da International League Against Epilepsy (ILAE) (1985, 1989)(2-4). Algumas ins-tituições ligadas à epilepsia aboliram o termo doença, e preferiram o termo condição, como a Epilepsy Foundation of America(5), ou ainda distúrbio como a Epilepsy Canada(6) e o instituto norte-americano National Institutes of Neurological Disease and Stroke(7). Em 2005, a ILAE pro-pôs nova definição de epilepsia, que descreveremos a seguir(8).

Portanto, a ABE(9) propõe as seguintes definições am-paradas nos trabalhos da ILAE:

 Epilepsia: distúrbio cerebral causado por predisposição persistente do cérebro a gerar crises epilépticas e pelas conse-qüências neurobiológicas, cognitivas, psicossociais e sociais da condição, caracterizada pela ocorrência de pelo menos uma crise epiléptica (ILAE, 2005)(8). Como a epilepsia não é uma entidade nosológica única, mas advém de várias condições diferentes que ocasionam disfunção cerebral, alguns pre-ferem o uso do termo no plural “epilepsias”, mas a Comis-são de Terminologia da ILAE preconiza seu uso no singu-lar, embora reconheça esta diversidade(8).

Comentários: O termo predisposição persistente do cé-rebro é a parte mais importante do conceito. Assim, a ocorrência de apenas uma crise, desde que exista a proba-bilidade aumentada de recorrência da mesma, é suficiente para o diagnóstico de epilepsia. Pela definição anterior da ILAE, para diagnóstico de epilepsia é necessário que o in-divíduo tenha apresentado duas ou mais crises não causa-das por fator imediato definido, ou seja sem evidências de insultos agudos como febre, ingestão de álcool ou intoxi-cação por drogas ou abstinência(10). Vários comentários sobre esse artigo da ILAE foram publicados criticando nes-sa definição, o termo persistente, o fato de não serem ex-cluídas as crises provocadas, assim como a necessidade da associação das conseqüências citadas, o que modificaria os conceitos dos estudos epidemiológicos e o seguimento de crise epiléptica única(11-13). Os autores responderam que uma definição é uma declaração que expressa a natureza essencial de algo e não deve ter necessariamente caráter operacional, sendo neste último caso utilizada em situa-ções específicas(14). Também consideraram que geralmen-te exisgeralmen-tem fatores ingeralmen-ternos e exgeralmen-ternos desencadeangeralmen-tes de crises em pessoas com epilepsia, conhecidos ou não, como, por exemplo, privação de sono, estresse, alterações hor-monais, etc., e que em relação a estudos epidemiológicos, a definição anterior, na qual duas crises eram necessárias, apesar de ambígua, deixava mais confortáveis os epide-miologistas. Segundo Stedman’s, distúrbio constitui alte-ração de natureza estrutural ou funcional resultante de falha no desenvolvimento seja de ordem embriológica, genética ou de fatores exógenos(15).

 Crise Epiléptica: sinais e/ou sintomas transitórios devidos à atividade anormal excessiva ou síncrona de neurônios cerebrais (ILAE, 2005)(8).

Comentários: Esta definição já estava presente no glossário da ILAE de 2001(16). Em ambas sugere-se que é necessária a utilização do termo crise epiléptica e não ape-nas crise.

 Síndrome: distúrbio epiléptico em que ocorre agru-pamento de sinais e sintomas que costumeiramente ocor-rem juntos; estes incluem vários itens como, tipo(s) de crise(s), etiologia, anatomia, fatores precipitantes, idade de início, gravidade, cronicidade, comportamento cícli-co diurno e cicardiano e, às vezes, prognósticícli-co (ILAE, 1989)(4).

(3)

177 daquela da classificação de crises da ILAE (1981), e esta por sua vez, também já foi submetida a propostas de mo-dificação (Engel, 2001), sendo, por exemplo, o termo parcial substituído por focal(18-20). Os termos síndrome epi-léptica generalizada idiopática e síndrome epiepi-léptica focal relacionada à localização, presentes na classificação da ILAE de 1989, tendem a ser considerados alterações fisiopatológicas de sistemas neurais específicos(21-2).

 Doença: é um termo utilizado para definir condição mórbida na qual há etiologia definida, sinais clínicos consis-tentes e alterações anátomo-patológicas definidas(23-5). Este termo não deve ser utilizado na definição de epilepsia, pois esta pode ter várias etiologias, não tem sinais consistentes nem alterações anatômicas definidas, e, portanto, não pode ser considerada uma doença.

Comentários: Quando a etiologia de uma determina-da forma de epilepsia é definidetermina-da, ela passa a ser considera-da uma doença, como a doença de Lafora, a esclerose tuberosa, etc. Segundo Stedman’s, doença é a interrup-ção, cessação ou distúrbio das funções corporais, de siste-mas, ou órgãos, com pelo menos dois critérios: etiologia definida, sinais e sintomas consistentes, e alterações anatomicamente delimitadas(15). Houaiss considera doen-ça alteração biológica do estado de saúde de um ser mani-festada por conjunto de sintomas perceptíveis ou não(17).

 Pessoa com epilepsia: indivíduo que apresenta epi-lepsia.

Comentários: O termo portador é inadequado, segun-do Aurélio, significa aquele que porta ou conduz, armas, notícias, doença contagiosa, e em medicina só é adequado para doenças infecciosas(25). A palavra epiléptico quando referida a indivíduos com epilepsia ou paciente epiléptico, são termos pejorativos e devem ser abolidos.

CONCLUSÃO

A partir da heterogeneidade da epilepsia, o termo dis-túrbio parece ser o mais abrangente, tanto no âmbito cientifico quanto social. A Associação Brasileira de Epi-lepsia considera que os termos doença, portador e epiléptico devam ser proscritos e a epilepsia deva ser considerada um distúrbio, e os indivíduos que a apresentem, pessoas com epilepsia.

REFERÊNCIAS

1. Lennox WG, Lennox MA. Epilepsy and related disorders. Londres: J. & A. Churchill; 1960. p. 51-8.

2. DeToledo JC, Ramsay RE, Lowe MR Epilepsy: disease, illness, or disorder? Epilepsy & Behavior; 2003;4:455-6.

3. Commission on Classification and Terminology of the International League Against Epilepsy. Proposal for classification of epilepsies and epileptic syndromes. Epilepsia. 1985;26:268-78.

4. Commission on Classification and Terminology of the International League Against Epilepsy. Proposal for revised classification of epilepsies and epileptic syndromes. Epilepsia. 1989;30(4):389-99. 5. http://www.epilepsyfoundation.org/answerplace/About-Epilepsy.cfm 6. http://www.epilepsy.ca/eng/content/basic.html

7. http://www.ninds.nih.gov/disorders/epilepsy/epilepsy.html 8. Fisher RS, van Emde Boas W, Blume W, Elger C, Genton P, Lee P,

Engel J. Epileptic seizures and epilepsy: definitions proposed by the International League Against Epilepsy (ILAE) and the International Bureau for Epilepsy. Epilepsia. 2005;46(4):470-2.

9. http://www.epilepsiabrasil.org.br

10. Commission on Epidemiology and Prognosis, International League Against Epilepsy. Guidelines for epidemiologic studies on epilepsy. Epilepsia. 1993;34(4):592-6.

11. Ahmed SN. Epileptic seizures and epilepsy. Epilepsia. 2005; 46(10):1698-702.

12. Beghi E, Berg A, Carpio A, Forsgren L, Hesdorffer DC, Malmgren K, Shinnar S, Temkim N, Thurman D, Tomson T. Comment on epileptic seizures and epilepsy: Definitions proposed by the International League Against Epilepsy (ILAE) and the International Bureau for Epilepsy (IBE). Epilepsia. 2005;46(10):1698-702. 13. Gomes-Alonso J, Andrade C, Koukoulis A. On the definition of

epileptic seizures and epilepsy. Epilepsia. 2005;46(10):1698-702. 14. Fisher R, van Emde Boas W. Response: definitions proposed by the

International League Against Epilepsy (ILAE) and the International Bureau for Epilepsy (IBE). Epilepsia. 2005;46(10):1698-702. 15. Stedman’s illustrated dictionary. 28a ed. New York: Lippincott

Williams & Wilkins; 2005.

16. Blume WT, Lüders HO, Mizrahi E, Tassinari C, van Emde Boas W, Engel J. Glossary of descriptive terminology for ictal semiology: Report of the ILAE Task Force on Classification and Terminology. Epilepsia. 2001;42(9):1212-8. http://www.ilae-epilepsy.org/Visitors/ Centre/ctf/glossary.cfm#data

17. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 1a ed. Rio de Janeiro:

Objetiva; 2001.

18. Commission on Classification and Terminology of the International League Against Epilepsy. Proposal for revised clinical and electroencephalographic classification of epileptic seizures. Epilep-sia. 1981;22:489-501.

19. Engel Jr J. ILAE Commission Report. A proposed diagnostic Scheme for people with epileptic seizures and with epilepsy: Report of the ILAE Task Force on Classification and Terminology. Epilepsia. 2001;42(6):796-803. http://www.ilae-epilepsy.org/Visitors/Centre/ ctf/overview.cfm

20. Engel Jr J. ILAE Task force on classification and terminology. Classification of epileptic disorders. Epilepsia. 2001;42(3):316. 21. Wolf P. Basic principles of the ILAE syndrome classification. Epilepsy

Research. 2006;70(suppl 1):20-6.

22. Berg A T, Blackstone NW. Concepts in classification and their relevance to epilepsy. Epilepsy Res. 2006;70(suppl 1):11-9. 23. Jennings D. The confusion between disease and illness in clinical

medicine. CMAJ. 1986;135:865-9.

24. Kleinman A, Eisenberg L, Good B. Culture, illness, and care. Clinical lessons from anthropologic and cross-cultural research. Ann Int Medicine. 1978;88:251-8.

25. Pearce JMS. New diagnoses for old disease: dangers and distractions. Quarterly Journal of Medicine. 1994;87:253-8.

26. Aurélio século XXI: O dicionário da língua portuguesa. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1999.

Referências

Documentos relacionados

Os dendritos basais no hilus foram mais freqüentes, longos e ramificados e os dendritos apicais apresentaram maior número de ramificações na camada molecular interna nos

A família tem um papel mediador que favorece a recuperação do paciente, sendo que relações familiares saudáveis são ricas fontes de suporte social do paciente, sendo que quando

All patients admitted at the Pediatric Neurology Unit of Pequeno Príncipe Hospital between May 2000 and May 2005 with the diagnosis of first unprovoked epileptic seizure were

e do comportamento de crianças epilépticas através de questionários fornecidos aos pais destas crianças, compa- rando-as com grupo controle, observaram que crianças com

MAPANG: malformações por anormalidades da proliferação e apoptose neuronal e glial; MAMIN: malformações por migração neuronal anormal; MAOC: malfor- mações por anormalidades

Objective: We aim to report a 29-year-old male patient with medically intractable right temporal lobe epilepsy whose ictal SPECT showed a conspicuous high extracerebral accumulation

No caso específico do paciente aqui apresentado, a causa de base seria Epilepsia Generalizada Primária com crises de ausência.. Se o paciente tem Ausência Infantil ou Juvenil,

Legenda: ANP - Avaliação neuropsicológica (exames não especificados); ASI - Adolescent Symptom Inventory-4; ASM - crianças com asma; AUT - pacientes com autismo; CA - crise