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Ciênc. saúde coletiva vol.14 número3

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Escolhas e políticas

Choices and policies

Jeni Vaitsman

3

Com o co-editora deste suplem ento, junto com

Nilson do Rosário Costa, eu não poderia deixar de

fazer alguns comentários sobre sua análise densa e

provocante sobre as relações entre regras

instituci-onais, constrangimentos macroeconômicos e

ino-vações no sistema de proteção social brasileiro após

a Constituição de 1988. São várias e de diferentes

ordens, as questões suscitadas.

O texto critica com propriedade a associação

linear entre ajuste econômico e política social,

des-tacando o papel dos processos internos em relação

aos constrangimentos externos. Ressalta as

condi-ções institucionais favoráveis à construção de um

sistema de proteção social, a despeito da agenda de

ajuste macroeconômico, ainda que essa mesma

agenda tenha determinado a ênfase dada à

focali-zação da proteção aos pobres, sobretudo pelo

Pro-grama Bolsa Família. O desenvolvimento da

polí-tica social teria ganho autonomia relativa em

rela-ção à política econômica, sendo assumidas como

prioridades as questões de combate à pobreza, à

miséria e a desigualdade social.

Enquanto o governo FHC, embora aderindo à

agenda da focalização, teria ampliado a

descentra-lização federativa na saúde e educação, em um

pro-cesso “apresentando estreita relação com a

demo-cratização e a crítica à centralização autoritária do

regime militar e não com a agenda da reforma do

Estado dos anos 1990”, o governo Lula teria feito

outras escolhas. A criação do Programa Bolsa

Fa-mília teria afetado diretamente as disponibilidades

de recursos do governo central para as áreas

soci-ais básicas – saúde, educação e saneamento.

O autor ressalta os conflitos e escolhas –

trági-cas, na situação de desigualdade brasileira – entre

políticas. No entanto, o que é considerado como

avanço na área da educação e saúde nos anos

no-venta, “a ampliação da descentralização federativa

na saúde e educação”, a meu ver, é similar ao

pro-cesso que se deu no âmbito da assistência social

nos anos 2000, sobretudo após 2004. A expansão

nacional do Programa Bolsa Família e sua

conver-gência com o Sistema Único de Assistência Social

ampliou a descentralização federativa para o

âm-bito da assistência social, o componente até então

relegado da seguridade social. Na esfera dos

direi-tos assistenciais, o principal direito assistencial em

transferência de renda, não contributivo e

garanti-do constitucionalmente, o Benefício de Prestação

3 Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo

Cruz. vaitsman@ensp.fiocruz.br

Continuada, para idosos e pessoas com

deficiên-cia, que iniciara sua implementação em 1996 com

cerca de 346.000 beneficiários, alcançou uma

co-bertura de 2,68 milhões de beneficiários em 2007

1

.

Por outro lado, a agenda de desenvolvimento

social a partir de 2004 não implicou a ruptura com

a tradição do movimento de combate à fome e

se-gurança alimentar orientando a agenda social no

primeiro ano de governo, mas antes em seu

redire-cionamento. O combate à fome e à insegurança

alimentar passam a ser tratados como parte de uma

visão integrada de desenvolvimento social. Não

por acaso, o Ministério Extraordinário de

Segu-rança Alimentar e Combate à Fome (MESA), o

Ministério da Assistência Social e a Secretaria

Exe-cutiva do Programa Bolsa Família se fundem no

novo Ministério do Desenvolvimento Social e

Com-bate à Fome, adquirindo

status de secretarias

naci-onais (Secretaria Nacional de Segurança Alimentar,

Secretaria Nacional de Assistência Social e

Secreta-ria Nacional de Renda da Cidadania) com níveis

hierárquicos equivalentes. Não houve ruptura, mas

institucionalização, transformação de agenda

polí-tica em polípolí-tica pública. O Consea, que havia sido

dissolvido no governo FHC e reestabelecido no

governo Lula, teve papel central na promulgação

da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e

Nutrici-onal em 2006 e na instituição do Sistema NaciNutrici-onal

de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN)

2

.

A unificação dos programas de transferência

de renda e das áreas de segurança alimentar,

trans-ferência de renda e assistência social sob a gestão

federal do MDS significou, com a convergência de

políticas e ações, uma nova orientação para

en-frentar o problema, também assinalado pelo

au-tor, do “conjunto expressivo e difuso de benefícios

assistenciais” e da redundância de programas e

superposição de beneficiários.

(2)

Progra-7 1 4

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Comentários sobre o artigo A proteção

social no Brasil: universalismo e focalização

nos governos FHC e Lula

Comments on the article

Social protection in

Brazil: universalism and targeting in the FHC

and Lula administrations

Carlos Pereira

4

Começo destacando o esforço do autor de fazer

um a análise com parativa da política social dos

governos Fernando Henrique Cardoso (FHC) e

Lula. Nilson Costa desenvolve essa tarefa não

tri-vial de forma isenta e analítica, procurando

identi-ficar, ainda que de forma descritiva, os caminhos e

decisões que foram tomadas em relação à política

social pelos últimos dois governos no Brasil.

4 Departm ent of Political Science, Michigan State University.

pereir12@msu.edu

1.

2.

3.

ma Bolsa Família foi criado, em outubro de 2003,

vários cadastros coexistiam e se superpunham e

uma mesma família podia constar de diferentes

cadastros. A unificação dos programas significou

também a unificação cadastral, no Cadastro Único

dos Programas Sociais, que foi aos poucos – e com

inúmeras dificuldades operacionais – filtrando as

inconsistências e repetições e incorporando em uma

mesma base de dados os beneficiários dos

progra-mas anteriores ao Programa Bolsa Família.

Entre outubro e dezembro de 2003, o número

de beneficiários do Programa Bolsa Família

repre-sentava basicamente os beneficiários migrados dos

programas anteriores. A partir de 2004,

paralela-mente ao processo de migração continuar,

aumen-tou a inclusão de famílias que não eram até então

ben eficiárias de n en hu m program a federal de

transferência de renda. A partir de 2003, enquanto

o número de beneficiários e de valores repassados

pelo Programa Bolsa Família crescia, decresciam

os repasses e o número de beneficiários dos

pro-gramas remanescentes. No que se refere à

expan-são nacional do programa, entre outubro de 2003

a outubro de 2004, os municípios cobertos

passa-ram de 4.396 para 5.521, chegando à totalidade

dos municípios em 2006

3

.

Além da questão da quantidade, há um

pro-blema de qualidade, ou de significado. O

Auxílio-Gás inchava o alcance dos programas sociais, pois

embora a cobertura fosse de 8 milhões de famílias,

os benefícios limitavam-se a 15,00 a cada dois

me-ses. A unificação dos programas elevou o valor

médio dos benefícios de transferência de renda, de

23,24 para 68, 13 em valores de outubro de 2004

3

.

A comparação do orçamento e do gasto em

diferentes setores é crucial para se entender as

pri-oridades políticas em relação às políticas públicas.

Mas como o próprio texto sinaliza, outras

variá-veis devem ser levadas em conta para

explicar

por-que determinadas escolhas são feitas ou porpor-que

certas políticas setoriais são mais bem-sucedidas

em sua institucionalização e seus resultados do que

outras. Esse não foi o propósito do artigo

debati-do, mas é uma das questões que suscita. Os

pro-cessos setoriais de institucionalização das políticas

não são simétricos nem regulares. Em duas

déca-das de dem ocratização, reform as e inovação, a

descentralização das políticas sociais vem se

dan-do em distintos ritmos e produzindan-do diferentes

configurações setoriais.

Esse debate coloca o problema da explicação,

de se encontrar um vocabulário, criar teorias para

o que é novo e que surge na confluência de

diferen-tes processos, internos e externos, mas adquire seu

próprio significado em contextos específicos. Para

uma agenda de pesquisa de políticas em

perspecti-va comparada, duas questões se colocam: por um

lado, a necessidade de se entender a natureza, os

processos e as lógicas setoriais envolvendo a

mo-bilização dos diferentes atores e interesses que

inci-dem sobre a formulação e implementação das

po-líticas de proteção social em contextos específicos.

E por outro, entender que tipo de sistema de

pro-teção social vem sendo construído, visto no

con-texto de desigualdade e exclusão que ele procura

superar por seu conjunto de políticas, sejam elas

universais ou focalizadas.

Referências

Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Com-bate à Fome. [acessado 2009 jan 30]. Disponível em: http:/ / aplicações.m ds.gov.br/ sagi/ m iv/ m iv.p hp Burlandy L. A construção da política de Segurança Ali-mentar e Nutricional no Brasil: estratégias e desafios para a promoção da intersetorialidade no âmbito fede-ral de governo. Cien Saude Colet 2009; 14(3):851-860. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Com-bate à Fome. Dados dos Programas do Ministério do Desen volvim en to Social e Com bate à Fom e, 2004. [ acessad o 2009 jan 30] . D isp o n ível em : h t t p :/ /

Referências

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