• Nenhum resultado encontrado

Cad. Saúde Pública vol.24 número6

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Cad. Saúde Pública vol.24 número6"

Copied!
1
0
0

Texto

(1)

EDITORIAL

1202

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(6):1202-1203, jun, 2008

Este editorial dirigido à comunidade científica informa sobre o surto de beribéri que acometeu parte da população tocantineira do Estado do Maranhão, Brasil – 466 e 543 casos notificados, com 33 e nenhum óbito em 2006 e 2007, respectivamente, predominando o sexo masculino, entre 15 e 50 anos e na forma clínica beribéri-seco (Doenças e Agravos Não-transmissíveis, Superintendência de Epide-miologia e Controle de Doenças, Secretaria da Saúde do Estado do Maranhão). No mesmo período foram registrados trinta casos e três óbitos no Estado do Tocantins, segundo informação fornecida pela secretaria de saúde desse estado.

É importante lembrar que o último registro de epidemia de beribéri no Brasil foi entre 1870 e 1910, durante o ciclo da borracha na Região Amazônica, bem documentado por Josué de Castro (Geografia da Fome; 1946).

A partir da hospitalização, em Imperatriz, de pacientes com edema, parestesia de membros in-feriores e superiores, dificuldade de deambular e óbito por insuficiência cárdio-respiratória, deu-se início, em maio de 2006, a uma investigação pela Secretaria da Saúde do Estado do Maranhão, com a participação da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. As hipóteses diagnósticas iniciais foram: doença de etiologia desconhecida, intoxicação por agrotóxicos ou por bebida alcoólica e síndrome de Guillain-Barré.

O noticiário sobre a doença teve grande repercussão nacional e o rumo da investigação mudou de-pois que um médico cearense com experiência na Região Amazônica manteve um contato telefônico com a diretora da regional de Imperatriz, sugerindo o diagnóstico de beribéri. Este foi posteriormente confirmado pelo teste terapêutico com administração de tiamina. A investigação foi então direciona-da para identificar os fatores determinantes e confirmou-se uso abusivo de álcool e atividireciona-dade física la-boral pesada entre os doentes. No presente, estuda-se o consumo alimentar da população, exposição a agrotóxicos e possível contaminação do arroz por microtoxinas de fungos.

No âmbito das ações de combate ao beribéri implementou-se medidas de caráter emergencial como a compra de tiamina, e de curto e médio prazos tais como: distribuição de cestas básicas; ca-pacitação dos profissionais de saúde; vigilância epidemiológica, alimentar e nutricional; instalação dos Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas (CAPS-AD); avaliação do processamento de arroz pelas usinas da região; enriquecimento de alimentos; intensificação da fiscalização, comercia-lização e uticomercia-lização de agrotóxicos; e sistematização dos estudos em andamento sobre o beribéri na região. O Ministério da Saúde coordenou a criação de um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), objetivando planejar e implementar essas medidas, com representantes da Casa Civil, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Agência Nacional de Vigilância Sanitária e Governo do Estado do Maranhão (Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição, Ministério da Saúde. Relatório; 2007).

A criação do GTI possibilitou maior integração institucional e compreensão holística acerca do problema. Apesar das dificuldades de implantação e implementação de algumas dessas medidas, a experiência foi exitosa. No setor saúde vários aspectos ainda necessitam de definição como o tempo ideal de tratamento, critérios de cura e de alta, suplementação para os familiares dos doentes e inves-tigação de outros grupos de risco (crianças e gestantes).

Um outro aspecto relevante refere-se à origem da epidemia na suas dimensões ecológica, social e econômica. Nas últimas décadas, o desenvolvimento nessa região tem priorizado o desmatamento extenso com intensificação da plantação de eucalipto para atender mineradoras e madeireiras ins-taladas na área, além da agropecuária extensiva, em detrimento da produção de alimentos básicos, principalmente arroz, feijão, milho, mandioca e de frutos nativos como castanhas, babaçu e buriti, trazendo como conseqüência a desestruturação da economia local, ampliando a desigualdade social, comprometendo o acesso aos alimentos e a qualidade de vida da população.

Epidemia de beribéri no Maranhão, Brasil

Pedro Israel Cabral de Lira

Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil.

Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição – NE-1, Coorde-nação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição, Recife, Brasil. lirapic@ufpe.br

Sonia Lucia Lucena Sousa de Andrade

Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil.

Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Recife, Brasil.

Referências

Documentos relacionados

Em 2017, o Despacho conjunto 1249/2017 do Ministério da Saúde e Ministério da Defesa Nacional, de 23 de janeiro, instituiu o Grupo de Trabalho Interministerial para a

Com este estudo, acredita-se que será possível demonstrar aos gestores da referida prefeitura, a importância de se possuir um planejamento estratégico na área de tecnologia da

“A estrutura curricular do Curso Técnico em Meio Ambiente, voltado para a população do cam- po, busca formar trabalhadores/as rurais para a identificação e enfrentamento

A análise dos atos legais que possibilitaram a alforria dos cativos pertencentes àquelas três famílias da elite possibilitou perceber que as cartas de liberdade registradas

Designar Grupo de Trabalho composto por representantes da Casa Civil, do Ministério da Justiça, do Ministério da Defesa e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da

Conceder progressão funcional aos Praças abaixo relacionados com a movimentação de um Nível Remuneratório para o outro imediatamente superior, a contar de 13 de julho de 2014*:..

Intracranial  pressure  monitoring  in  severe  head  injury:  compliance  with  Brain   Trauma  Foundation  guidelines  and  effect  on  outcomes:  a  prospective