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Cad. Saúde Pública vol.24 número6

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Academic year: 2018

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1459

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(6):1456-1459, jun, 2008 A V E R D A D E S O B R E O S L A B O R AT Ó R I O S

FARMACÊUTICOS. Angell M. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record; 2007. 319 p.

ISBN: 978-85-01-07440-9

Pílulas de desconfiança

A publicação, em língua portuguesa, do livro A Verdade sobre os Laboratórios Farmacêuticos, de Marcia Angell, foi uma afortunada idéia e pode oferecer aos profissio-nais de saúde e ao público em geral uma compreensão mais aprofundada sobre a ordem vigente na produção, divulgação e prescrição de medicamentos por parte das indústrias.

Marcia Angell, ex-editora-chefe do conceituado periódico científico New England Journal of Medicine e pesquisadora do Departamento de Medicina Social da Harvard Medical School, onde se dedica a temas rela-cionados à indústria farmacêutica e ao conflito de in-teresses nas investigações científicas, é, seguramente, uma respeitável autoridade para abordar o assunto.

O livro utiliza uma linguagem simples e se torna acessível às pessoas não iniciadas em ciências farma-cêuticas ou em ciências biomédicas. Mesmo assim, não se perde em posições baseadas no senso comum; ao contrário, suas observações são pontuadas com re-ferências que asseveram sua posição.

A pesquisadora faz um rico passeio sobre os mean-dros da vida dos laboratórios farmacêuticos. Seu mer-gulho proporciona uma riqueza de análises que permi-te elucubrar sobre em quem e em que as pessoas têm depositado a vida. Seu plano de trabalho favorece a re-flexão sobre alguns pontos relevantes e, passo a passo, desconstrói alguns mitos.

Inicialmente, é possível destacar à idéia hegemôni-ca, mas equivocada, de que a indústria farmacêutica é inovadora. De acordo com a autora, o mercado carece de produtos realmente novos e não de medicamentos, denominados por ela de “imitação”, uma vez que são variações de drogas antigas.

Outro mito que cai por terra é o do elevado custo financeiro da pesquisa científica despendido pelos la-boratórios farmacêuticos. Marcia Angell advoga que grande parte das pesquisas tem origem em instituições acadêmicas ou governamentais, que recebem verba pública.

O conflito de interesses é mais um sério proble-ma ético envolvendo os laboratórios e a produção de investigações científicas. A autora explica que, a des-peito de uma suposta neutralidade científica, as indús-trias farmacêuticas têm patrocinado as pesquisas que tentam comprovar algo que interessa a elas próprias. Os laboratórios, para justificar que uma determinada droga se mostra eficaz, apenas procuram compará-la a um placebo, mas não com drogas já existentes. Sendo assim, o mercado tem recebido medicamentos que são melhores, apenas, do que nada.

Além disso, Angell alerta que não é raro os labora-tórios, ao conduzirem um ensaio clínico, viciarem seus dados de modo que possam garantir resultados mais favoráveis de seus próprios fármacos. Vale ressaltar que estão em jogo vultosas somas de recursos finan-ceiros utilizadas para cooptar médicos e instituições e, principalmente, para desenvolver uma forte políti-ca de marketing. O estranho convívio entre a indústria farmacêutica e os médicos tem reforçado esta idéia. Willerroider 1 comenta que, na Alemanha,

Grã-Breta-nha, França e Estados Unidos, existem cerca de sete médicos para cada promotor de vendas, número que parece elevado e representativo do valor que o setor de marketing das empresas vem recebendo, como explica a pesquisadora.

Marcia Angell destaca, também, que os laborató-rios têm buscado instituir novos mercados, criando do-enças ainda não estabelecidas. Os medicamentos para ansiedade social ou para o “transtorno da disforia pré-menstrual” são alguns exemplos. Moynihan 2, em 2003, debateu assunto semelhante sobre a criação e fabrica-ção do Viagra para o sexo feminino, sem que houvesse uma definição científica do que seja uma disfunção se-xual entre mulheres.

Por fim, a autora propõe algumas possíveis solu-ções para, se não resolver, ao menos enfrentar essas questões. Portanto, considero este um livro fundamen-tal àqueles que desejam se aprofundar nas questões li-gadas à indústria de medicamentos e aos conflitos de interesse nas investigações científicas.

Alexandre Palma

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. palma_alexandre@yahoo.com.br

1. Willerroider M. Making the move into drug sales. Nature 2004; 430:486-7.

2. Moynihan R. The making of a disease: female sex-ual dysfunction. BMJ 2003; 326:45-7.

Referências

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