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AS INFLEXÕES DA REVOLUÇÃO RUSSA SOBRE A TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL

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Academic year: 2018

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AS INFLEXÕES DA REVOLUÇÃO RUSSA SOBRE A TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL1

Cristiane Porfírio2

RESUMO

O texto em tela toma como foco os influxos da Revolução Russa sobre o Serviço Social. Dada a amplitude deste “ofício”, precisamos operar um recorte onto-histórico – que como tal não poderá esgotar todos os aspectos dessa complexa história, mas nos limites desta exposição buscará elucidar seus momentos mais marcantes – de modo a enfatizar o processo de gênese, institucionalização e consolidação do Serviço Social, com ênfase no Brasil; o significado sócio-histórico da profissão, destacando, à guisa de conclusões, as inflexões operadas pelo legado da Revolução Russa. Esta, vale observarmos, depois da Comuna de Paris, foi o maior investimento que a classe trabalhadora empreendeu rumo à superação da sociabilidade capitalista e a construção do socialismo. Na contemporaneidade, marcada como advoga Mészáros (2001) pela crise estrutural do capital, mais do que nunca, os seus avanços e descaminhos nos espreitam como a lendária esfinge, exigindo de nós a sua decifração e, sobretudo, a retomada do horizonte do projeto societário para além do capital. Para atender aos rigores desta empreitada, recuperamos a análise dos estudiosos do Serviço Social, com destaque para as obras de Maria Lúcia Martinelli (1991), Manuel Manrique Castro (2011), Marilda Vilela Iamamoto (1995, 1985), José Paulo Netto (1992, 1996, 1999), Maria Carmelita Yasbek (2009) e Joaquina Barata e Marcelo Braz (2009).

Palavras-chave: Revolução Russa; Serviço Social; Emancipação Humana.

LAS INFLEXIONES DE LA REVOLUCIÓN RUSA SOBRE LA TRAYECTORIA DEL SERVICIO SOCIAL

RESUMEN

El presente texto trata de los influjos de la Revolución Rusa sobre el Servicio Social. Debido a la amplitud de este “oficio”, precisamos operar un recorte ontológico – que como tal no pondrá agotar todos los aspectos de esa compleja historia, pero en los límites de esta exposición buscará elucidar sus momentos más notables – de modo a enfatizar el proceso de génesis, institucionalización y consolidación del Servicio

1 O presente texto resultou de palestra conferida no Seminário Comemorativo ao Dia do/a Assistente

Social: Na Luta de Classes não há Empate, promovido pelo Conselho Regional de Serviço Social – 3ª Região/Ceará, nos dias 15 e 16 de maio2017, no Hotel Oásis Atlântico, em Fortaleza (CE).

2 Assistente Social, Doutora em Educação, Professora Adjunta do curso de Serviço Social da

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Social, con énfasis en Brasil, el significado social e histórico de la profesión, concluyendo con las inflexiones operadas por el legado de la Revolución Rusa. Esta, es interesante observar, después de la Comuna de Paris, fue la inversión más importante que la clase trabajadora emprendió rumo a la superación de la sociabilidad capitalista y la construcción del socialismo. En el tiempo actual, marcado, como afirma Mészáros (2001), por una crisis estructural del capital, sus avances e involuciones nos acechan como la legendaria esfinge, exigiendo de nosotros la resolución y, sobre todo, la retomada del horizonte del proyecto societario para allá del capital. Para atender al rigor de esta empresa, recuperamos el examen de los investigadores del Servicio Social, con destaque para las obras de Maria Lúcia Martinelli (1991), Manuel Manrique Castro (2011), Marilda Vilela Iamamoto (1995, 1985), José Paulo Netto (1992, 1996, 1999), Maria Carmelita Yasbek (2009) y Joaquina Barata y Marcelo Braz (2009).

Palavras claves: Revolución Rusa; Servicio Social; Emancipación Humana.

1. Introdução

A Revolução Russa, depois da Comuna de Paris, foi o maior investimento que a classe trabalhadora empreendeu rumo à superação da sociabilidade capitalista e construção do socialismo. Na contemporaneidade, marcada como advoga Mészáros (2001) pela crise estrutural do capital, mais do que nunca, os seus avanços e descaminhos nos espreitam como a lendária esfinge, exigindo de nós a sua decifração e, sobretudo, a retomada do horizonte do projeto societário para além do capital.

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Netto (1992, 1996, 1999), Maria Carmelita Yasbek (2009) e Joaquina Barata e Marcelo Braz (2009).

2. Serviço Social: gênese, institucionalização e consolidação

Historia Martinelli (1991, p. 60-61) que as profundas derrotas sofridas pelos trabalhadores franceses, assomadas ao esvaziamento do movimento cartista e às rígidas medidas legislativas que limitavam completamente a ação política da classe trabalhadora acabaram criando na burguesia a ilusão de que o recuo dos trabalhadores se daria de forma irreversível. Neste sentido, no final da primeira metade do século XIX, a preocupação precípua da burguesia era criar formas que dissimulassem a massacrante realidade por ela produzida, de modo a evitar que suas contradições e antagonismos se tornassem visíveis, a ponto de arregimentar ainda mais a organização do proletariado, potencializando a formação de sua consciência de classe. Para tanto, nas palavras da autora: “[...] tornava-se indispensável recorrer a estratégias mais eficazes de controle social, capazes de conter o rigor das manifestações operárias e a acelerada disseminação da pobreza e do conjunto de problemas a ela associados”.

Com esse afã, a burguesia se apoiará na experiência das sociedades pré-capitalistas, baseadas no trabalho servil, e em práticas assistenciais que ratificavam a sujeição dos trabalhadores, o que fará de forma bastante camuflada, uma vez que estes, à diferença dos servos, vinham construindo nos seus embates com o capital uma nítida consciência de classe. Desse modo, assevera Martinelli (1991, p. 63, grifo da autora) que:

Racionalizar a assistência nessa fase final da primeira metade do século XIX, quando a Europa era uma vasta república burguesa, após as derrotas dos trabalhadores, significava transformá-la em um instrumento auxiliar do processo de consolidação do modo de produção capitalista, em uma ilusão necessária à eterna reprodução das relações capitalistas de produção.

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estudar a reforma do sistema de assistência pública inglês. Estes reformistas sociais retomaram o clássico lema medieval de assistência: “Fazer bem o bem”.

A atuação dos reformistas sociais cumpriu o importante papel de ocultar as reais intenções do abstrato discurso humanitário, baseado na igualdade e na harmonia entre as classes. Desse modo, atendendo às determinações da burguesia, eles próprios membros desta classe, propiciaram as devidas condições para plasmar a prática social conforme seus interesses de classe. Contudo, observa Martinelli (1991, p. 65-66):

[...], o capitalismo, cumprindo suas leis imanentes, [...], caminhava para uma de suas crises cíclicas, cujas primeiras manifestações, durante a década de 1860, prenunciavam sua intensidade. A retração do comércio e da indústria, o aumento dos salários reais, o declínio das oportunidades de investimento, a expansão do exército proletário, ultrapassando a demanda de trabalho, a generalização da pobreza, o desemprego e a fome eram os reveladores indicativos de que o movimento gestacional da Grande Depressão estava em curso. A fusão dos sindicatos nacionais entre as décadas de 1850 e 1860, trouxe novo impulso para o movimento dos trabalhadores europeus, cuja presença política e social, para grande preocupação da burguesia, ultrapassava os muros das fábricas, os umbrais dos sindicatos.

Era esta, portanto, a complexa e tensa conjuntura histórica mundial daquela viragem de século, na qual a “questão social”, nos dizeres da referida autora, “[...] encontrava-se em plena efervescência em um mundo que se preparava para as grandes guerras mundiais, para a Revolução Russa e tantos outros embates que marcaram o século XX (MARTINELLI, 1991, p. 107).

Foi nessa moldura histórica que a Burguesia, a Igreja e o Estado uniram-se em um compacto e reacionário bloco político, com vistas a refrear as manifestações operárias e a coibir suas práticas e expressões político-sociais. O resultado dessa união foi a criação, em 1869, em Londres/Inglaterra, da Sociedade de Organização da Caridade, instituição que congregou em torno de si os reformistas sociais, com a tarefa precípua de racionalizar e normatizar a prática da assistência. Assim, conforme o registro de Martinelli (1991, p. 66, grifo da autora): “[...] Surgiram, [...], no cenário histórico os primeiros assistentes sociais, como agentes executores da prática da assistência social, atividade que se profissionalizou sob a denominação de ‘Serviço Social’, acentuando seu caráter de prática de prestação de serviços”.

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europeu, de modo que, em 1882, fundou sua primeira sede americana em Nova Iorque e, em 1907, apenas vinte e cinco depois, já se registravam 180 sedes naquele país. Neste momento, faz-se visível a intensa preocupação dessa Instituição com a qualificação dos seus agentes profissionais. Nesse empenho, ganha destaque nos Estados Unidos, Mary Richmond, membro da Sociedade de Organização da Caridade de Baltimore, corroborando com a tese de criação de escolas de Serviço Social e, visualizando o inquérito como instrumento imprescindível para a realização do diagnóstico e tratamento social. Seu esforço culminou com a criação, em 1899, da primeira Escola de Filantropia Aplicada em Nova Iorque. Daí por diante, conforme elenca Martinelli (1991, p. 107) o itinerário de surgimento de escolas de Serviço Social segue contínuo:

Antes mesmo de finalizar o século XIX, ainda no ano de 1899, foi fundada a primeira escola européia, em Amsterdã, Holanda. Nesse mesmo ano, [...] iniciou em Berlim cursos para agentes sociais, que acabaram por dar origem à primeira escola alemã em 1908.

Os cursos destinados à formação de agentes sociais multiplicaram-se pela Europa e pelos Estados Unidos. Em 1908, fundou na Inglaterra a primeira escola de Serviço Social, não ainda com esta denominação, porém já incorporada à Universidade de Birmingham (BORMINGEN). Logo em seguida foram fundadas duas escolas em Paris, uma em 1911, de orientação católica, e outra, em 1913, de orientação protestante.

Portanto, o Serviço Social – dadas as condições peculiares que marcaram suas primeiras formas como profissão –, surge engendrado pelas ardilosas teias do capitalismo, urdidas para efetivar o controle e espalhar o consenso no seio da classe trabalhadora. Conforme a tese defendida por Martinelli (p. 66-67, grifo da autora):

[...]. O Serviço Social já surge, portanto, no cenário histórico com uma identidade atribuída, que expressava uma síntese das práticas sociais pré-capitalistas – repressoras e controlistas – e dos mecanismos e estratégias produzidos pela classe dominante para garantir a marcha expansionista e a definitiva consolidação do sistema capitalista.

Na compreensão de Iamamoto e Carvalho (1985, p. 129):

A especificidade maior que reveste o Serviço Social desde sua implantação não está, no entanto, no âmbito das características que mais evidentemente o marcam. Historicamente, se localiza na demanda social que legitima o empreendimento. [...]. Sua especificidade maior está, pois, na ausência quase total de uma demanda a partir das classes e grupos a que se destina prioritariamente. Caracterizar-se-á, assim, como uma imposição.

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-sociais que demandam este agente, configuradas na emersão do mercado de trabalho. No seu arguto entendimento, a relação de continuidade com as protoformas é inegável (tanto do ponto de vista do ideal, quanto das práticas assistenciais), sobretudo, pela presença marcante da Igreja Católica nos dois âmbitos (protoformas e institucionalização). Contudo, constitui-se um fator insuficiente para explicar a profissionalização, pois, para o autor, o decisivo é a relação de ruptura que se estabelece. Em suas palavras:

O caminho de profissionalização do Serviço Social é, na verdade, o processo pelo qual seus agentes ainda que desenvolvendo uma auto-representação e um discurso centrados na autônoma dos seus valores e de sua vontade, se inserem em atividades interventivas cuja dinâmica, organização, recursos e objetivos são determinados para além do seu controle (NETTO, 1992, p. 68).

Portanto, assevera Netto, o Serviço Social é indissociável da ordem monopólica, é ela que cria sua profissionalidade, a partir da modalidade que o Estado burguês se enfrenta com a questão social, erigindo seus agentes como executores de políticas públicas.

O processo de surgimento e institucionalização do Serviço Social na América Latina é estudado por Castro (2011, p. 44-45). Este, a exemplo de Martinelli, também busca situar a função social que o Serviço Social desempenha no interior das relações sociais entre as classes, valendo-se assim:

[...], do enfoque segundo o qual a profissão, ela mesma, só pode ser entendida no interior do desenvolvimento das relações de produção capitalistas, embasadas nas condições particulares de cada país latino-americano. O processo de imposição da lógica da acumulação capitalista é o eixo em torno do qual se articulam e organizam as funções do Estado e a luta das classes sociais para alcançar sua hegemonia e, naturalmente, entre o conjunto delas e a classe operária, que emerge como o contrário da implantação das relações assalariadas de exploração.

Pautado por essa compreensão, registra Castro (2011 p. 45-46) que o impulso de desenvolvimento da profissão no nosso Continente, também se vincula:

Às exigências históricas da acumulação capitalista, que supõem a reprodução das relações sociais de produção com as suas incidências no campo ideológico, instauram a sua lógica, multiplicando e diversificando mecanismos de intervenção que propiciem a defesa e a ampliação do capital. Este é o impulso específico do qual derivam as forças que põem novos critérios para o desenvolvimento da profissão.

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Igreja Católica, que desde os primeiros momentos desempenhou um papel de extrema importância, e que naquele momento desfechava um ambicioso projeto de recristianização do mundo. É, portanto, nessa profícua relação Burguesia, Estado e Igreja Católica que se verifica

[...] a emersão do Serviço Social, enquanto protagonista de uma prática diferenciada da assistência pública e da caridade tradicional, conecta-se aos objetivos político-sociais da Igreja e das frações de classe vinculadas mais diretamente a ela. Os elementos que mais colaboraram para o surgimento do Serviço Social têm origem na Ação Católica– intelectualidade laica, estritamente ligada à hierarquia católica –, que propugna, com visão messiânica, a recristianização da sociedade através de um projeto de reforma social. Estes núcleos de leigos, orientados por uma retórica política de cunho humanista e antiliberal, lançam-se a uma vigorosa ação dirigida para penetrar em todas as áreas e instituições sociais, criando mecanismos de intervenção em amplos segmentos da sociedade, com a estratégia de, progressivamente, conquistar espaços importantes no aparelho de Estado. A Ação Católica (e, por extensão o Serviço Social) prende-se a um projeto de recuperação da hegemonia ideológica da Igreja – incentivado oficialmente pela hierarquia e tendo como suporte as encíclicas papais –, lutando contra o materialismo liberal e contra a agitação social de cariz anarco-comunista (CASTRO, 2011, p. 47-48, grifo do autor).

Desse modo, a Igreja Católica teve um papel decisivo na criação de escolas de Serviço Social na América Latina, tarefa, como bem elucida Castro (2011, p. 65), concretizada “[...] como parte da estratégia de se erigir em produtora dos intelectuais orgânicos de que a sociedade de então carecia”.

Dado o foco desta análise se circunscrever ao Brasil, não poderemos nos alongar nos detalhes da trajetória da profissão na América Latina, cumpre-nos apenas situar em traços bastante largos a sua emersão, na qual nosso país se situa como partícipe. Assim, destacaremos apenas os marcos históricos de surgimento das primeiras escolas de Serviço Social no Chile, Peru e Brasil.

Nesse sentido, seguindo o relata Castro (2011, p.70), no Chile

[...], o fator preponderante para a profissionalização do Serviço Social está no papel da classe operária e outros setores populares. Sob a sua incessante combatividade, a sociedade chilena foi progressivamente sacudida e as classes dominantes, através do Estado, impelidas a acolher as suas exigências e aspirações. Neste sentido, a burguesia chilena é pioneira, ao institucionalizar diversas reivindicações populares e operárias no seio do direito burguês.

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Já no Peru, segundo o mesmo registro, a fundação da escola de Serviço Social em 1937 “[...] está intimamente associada às peculiaridades de um bloco dominante aferrado à sua estirpe senhorial e incapaz de responder às exigências de um período de emergências dos setores populares na vida política” (CASTRO, 2011, p.116-117). Neste fato reside a peculiaridade do Peru em relação aos demais países aqui citados, uma vez que o surgimento das agências de formação profissional do Serviço Social,

[...], não se insere num processo de modernização capitalista liderado por burguesias combativas que se aliam com segmentos populares, polarizando a mobilização antioligárquica. Sem este componente, o movimento popular peruano pôde se expressar com autonomia, a ponto de colocar em risco as estruturas de dominação, enquanto, do outro lado, as forças mais retardatárias promoviam a instabilidade, reprimindo e violentando setores médios cuja iniciativa política ultrapassava o proletariado e as outras camadas populares. No Peru, o capitalismo sustentava-se com a presença de empresas monopolistas estrangeiras, que entravavam o surgimento de forças burguesas nacionais. Por isto não se processava, no seio das classes proprietárias, aquela diferenciação que permite o aparecimento de um setor burguês moderno. Nisto radica, portanto, uma substancial diferença em relação àqueles países, como o Chile e o Brasil, que experimentaram processos de industrialização mais precoces.

No Brasil, à semelhança do Chile, foi no percurso dos anos vinte que a Igreja revigorou a Ação Católica, pondo em marcha um vigoroso movimento que desbordando o caráter estritamente espiritual, lançou profundas raízes na política e na economia, naquele momento, já marcado pela luta de classes. Na contextualização de Castro (2011, p. 101):

Em 1917, uma grande greve geral sacudiu a cidade de São Paulo e outras áreas interioranas. A própria capital do país foi abalada pelo movimento, que reivindicava a jornada de oito horas e aumentos salariais. O sindicalismo anarquista combatia frontalmente o Estado opressor e nutria a esperança de abatê-lo por meio de uma greve geral revolucionária que, preparada para 1918, foi duramente reprimida. No ano seguinte, movimentos grevistas voltaram a se manifestar em várias cidades brasileiras – Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Rio de Janeiro etc. –, todos abafados por uma cruel repressão. 1922, foi fundado o Partido Comunista Brasileiro e, no bojo de toda esta movimentação, promulgaram-se as primeiras leis trabalhistas: uma legislação sobre habitação popular (1921), a criação da Caixa de Aposentadoria e Pensão dos Ferroviários (1923) e a regulamentação dos feriados (1925).

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Vale observar com Castro (2011, p.106) que grande parte das obras sociais católicas voltava-se para a “melhoria dos costumes”. Portanto, sob essa orientação realizaram-se

[...] as incontáveis funções das assistentes sociais junto à família operária, em face do matrimônio, da educação e do cuidado dos filhos, da destinação do salário, dos menores delinqüentes, da segurança social, dos enfermos –

tratava-se de uma atividade para reformar e melhorar os costumes. O mesmo é cabível para as atividades dirigidas à reforma das instituições, uma vez que a conjugação das duas tarefas propiciava as melhores condições para o exercício dos altos fins católicos.

Iamamoto (1995, p. 18, grifo da autora) corrobora com essa análise, reiterando que como profissão inscrita na divisão do trabalho, o Serviço Social no Brasil surge como parte de um amplo movimento social de bases confessionais, articulado à necessidade de formação do laicato, com vistas a uma presença mais ativa da Igreja Católica no “mundo temporal”, no início dos anos 1930. Tal movimento faz frente tanto aos princípios do liberalismo como do comunismo, encarados como uma ameaça à sua posição na sociedade. Assim, assevera a autora:

A partir das grandes mobilizações da classe operária nas duas primeiras

décadas do século, o debate sobre a ‘questão social’ atravessa toda a

sociedade e obriga o Estado, as frações dominantes e a Igreja a se posicionarem diante dela. A Igreja a encara segundo os preceitos estabelecidos nas encíclicas papais (especialmente a Rerum Novarum e Quadragesimo Anno, fonte inspiradora das posições e programas assumidos diante dos ‘problemas sociais’. [...]. Impõe-se uma ação doutrinária e organizativa com o objetivo de livrar o proletariado das influências da vanguarda socialista do movimento operário e harmonizar as classes em conflito a partir do comunitarismo cristão (IAMAMOTO, 1995, p. 18-19).

No bojo dessa forma de emersão, constata a sobredita autora, muito mais do que configurar-se como uma nova forma de exercer a caridade, a profissão, mediada pela atividade assistencial, constitui-se num importante instrumento de intervenção ideológica na vida da classe trabalhadora, de modo que seus efeitos são essencialmente políticos, visando à conformação dos trabalhadores às relações sociais vigentes, reforçando a colaboração de classes.

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industrialização; bem como, pela expansão do proletariado urbano, reforçada pela migração interna, criando a necessidade política de controlar e absorver esse setor. Na síntese de Iamamoto (1995, p. 30-31):

O surgimento dessas instituições representa uma enorme ampliação do mercado de trabalho para a profissão, tornando o Serviço Social uma atividade institucionalizada e legitimada pelo Estado e pelo conjunto dominante. Se o caráter de missão do apostolado social e a origem de

classe dos ‘pioneiros’ conferiam legitimidade à intervenção do profissional,

agora essa legitimidade será derivada do mandato institucional, confiado ao Assistente Social, direta ou indiretamente, pelo Estado. A vinculação

institucional altera, ao mesmo tempo, a ‘clientela’ do Serviço Social: de

pequenos segmentos da população pobre em geral, atingida ocasionalmente pelas obras sociais confessionais, seu público se concentrará em amplos setores do proletariado, alvo principal das políticas assistenciais implantadas pelas instituições. Este processo consolida a profissionalização do Assistente Social, que se torna categoria assalariada, e recruta seus membros entre os setores médios. Em suma, o Serviço Social deixa de ser um instrumento de distribuição da caridade privada das classes dominantes, para se transformar, prioritariamente, em uma das engrenagens da execução da política social do Estado e de setores empresarias. (IAMAMOTO, 1995, p. 31).

Os anos 1950 vivenciaram a consolidação dessa trajetória iniciada nos anos 1940, quando sob os auspícios das idéias desenvolvimentistas tem início as práticas de Organização e Desenvolvimento de Comunidade, além das peculiares abordagens individuais e grupais, a profissão se desenvolve através do “Serviço Social de Caso”, “Serviço Social de Grupo” e “Serviço Social de Comunidade”.

Já a década de 1960 implicará profundas mudanças para a profissão. Na avaliação de Netto (1996, p. 115, grifos do autor) o período histórico de vigência da autocracia burguesa no Brasil constitui-se da mais extrema importância para o evolver do Serviço Social no país. Em suas palavras:

Do estrito ponto de vista profissional, o fenômeno mais característico dessa quadra relaciona-se à renovação do Serviço Social. No âmbito das suas natureza e funcionalidade constitutivas, alteram-se muitas demandas práticas a ele colocadas e a sua inserção nas estruturas organizacional-institucionais [...]; a reprodução da categoria profissional a formação dos seus quadros técnicos – viu-se profundamente redimensionada (bem como os padrões da sua organização como categoria); e seus referenciais teórico-culturais e ideológicos sofreram giros sensíveis (assim como suas representações). Este rearranjo global indica que os movimentos ocorridos neste marco configuram bem mais que a resultante do acúmulo que a profissão vinha operando desde antes. Articulam, especialmente, uma diferenciação e uma redefinição profissionais sem precedentes, desenhando mais particularmente a renovação [...] (NETTO, 1996, p. 115, grifos do autor).

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profissão foi capaz de articular, através do rearranjo de suas tradições e do recurso aos contributos do pensamento social contemporâneo, investindo-se como instituição de natureza profissional dotada de legitimação prática. Para Netto (1996, p. 131) os pontos nodais desse processo renovador podem ser sintetizados em quatro aspectos, a saber:

a) A instauração do pluralismo teórico, ideológico e político no marco profissional, deslocando uma sólida tradição de monolitismo ideal;

b) A crescente diferenciação das concepções profissionais (natureza, funções, objeto, objetivos e práticas do Serviço Social), derivada do recurso diversificado a matrizes teórico-metodológicas alternativas, rompendo com o viés de que a profissionalidade implicaria uma homogeneidade (identidade) de visões e de práticas;

c) A sintonia da polêmica teórico-metodológica profissional com as discussões em curso no conjunto das ciências sociais, inserindo o Serviço Social na interlocução acadêmica e cultural contemporânea como protagonista que tenta cortar com a subalternidade (intelectual) posta por funções meramente executivas;

d) A constituição de segmentos de vanguarda, sobretudo, mas não exclusivamente inseridos na vida acadêmica, voltados para a investigação e a pesquisa (NETTO, 1996, p. 135-136).

Tais mudanças operaram, nos termos do autor, uma erosão do Serviço Social “tradicional”. Vale observar com o mesmo que tal desgaste não se restringiu às fronteiras do nosso país, tendo seu marco histórico nos anos sessenta, constituiu-se um fenômeno internacional, verificável em praticamente todos os países em que a profissão alcançou significativa inserção na estrutura sócio-ocupacional, com forte impacto na América Latina.

Na análise de Netto, o dialético processo de erosão do Serviço Social tradicional e de renovação da profissão no Brasil, apontou para três direções principais, denominadas pelo mesmo de perspectiva modernizadora; atualização do conservadorismo; e intenção de ruptura.

A primeira direção conforma uma perspectiva modernizadora para as concepções profissionais – um esforço no sentido de adequar o Serviço Social, enquanto instrumento de intervenção inserido no arsenal de técnicas sociais a ser operacionalizado no marco de estratégias de desenvolvimento capitalista, às exigências postas pelos processos sócio-políticos emergentes no pós-64. Trata-se de uma linha de desenvolvimento profissional que, encontra o auge da sua formulação exatamente na segunda metade dos anos sessenta – seus grandes monumentos, sem dúvidas, são os textos dos seminários de Araxá e Teresópolis –, revelar-se-á um eixo de extrema densidade no evolver da reflexão profissional: não só continuará mobilizando energias nos anos seguintes como, especialmente, mostrar-se-á aquele vetor de renovação que mais fundamente vincou a massa da categoria profissional (NETTO, 1996, p. 154, grifo do autor).

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vertente que recupera os componentes mais estratificados da herança histórica e conservadora da profissão, nos domínios da (auto)representação e da prática, e os repõe sobre uma base teórico-metodológica que se reclama nova, repudiando, simultaneamente, os padrões mais nitidamente vinculados à tradição positivista e às referências conectadas ao pensamento crítico-dialético, de raiz marxiana. Essencial e estruturalmente, esta perspectiva faz-se legatária das características que conferiram à profissão o traço microscópico da sua intervenção e a subordinaram a uma visão de mundo derivada do pensamento católico tradicional; mas o fez com um verniz de modernidade ausente no anterior tradicionalismo profissional [...]. Aí, exatamente, o seu caráter renovador em confronto com o passado: o que se opera é uma reatualização dele, com um consciente esforço para fundá-lo em matrizes intelectuais mais sofisticadas, [no caso, a fenomenologia]. [...] (NETTO, 1996, p. 157).

A terceira direção [...] é a perspectiva que se propõe como intenção de rupturacom o Serviço Social ‘tradicional’. Ao contrário das anteriores, esta possui como substrato nuclear uma crítica sistemática ao desempenho

‘tradicional’ e aos seus suportes teóricos, metodológicos e ideológicos. Com

efeito, ela manifesta a pretensão de romper quer com a herança teórico-metodológica do pensamento conservador (a tradição positivista), quer com os seus paradigmas de intervenção social (o reformismo conservador). Na sua constituição, é visível o resgate de tendências que, no pré-64, supunham rupturas político-sociais de porte para adequar as respostas profissionais às demandas estruturais do desenvolvimento brasileiro. Especialmente, ela toma forma pela elaboração de quadros docentes e profissionais cuja formação se dera entre as vésperas do golpe e a fascistização assinalada pelo AI-5. Na sua evolução e explicitação, ela recorre progressivamente à tradição marxista [...] e revela as dificuldades da sua formação no marco sociopolítico da autocracia burguesa: sua emersão

inicial (configurada no célebre ‘Método Belo Horizonte’), na primeira metade

da década de setenta, permaneceu por longos anos um signo isolado. À medida que avança a crise da ditadura, e o ‘marxismo acadêmico’ [...] se

desenvolve, ela se adensa, sobretudo enquanto padrão de análise textual; quando a autocracia burguesa entra na defensiva e se processa a transição democrática, ela empolga vanguardas profissionais, fortemente mesclada ao novo irracionalismo [...]. Na primeira metade dos anos oitenta, é esta perspectiva que dá o tom da polêmica profissional e fixa as características da retórica politizada (com nítidas tendências à partidarização) de vanguardas profissionais de maior incidência na categoria, permeando o que há de mais ressonante na relação entre esta e a sociedade [...] (NETTO, 1996, p. 159-160, grifo do autor).

No arguto exame de Netto (1996, p. 136), esta complexa dialética vivida pelo Serviço Social sob o ciclo autocrático burguês resultou num processo em que “[...] rompimentos se entrecruzam e se superpõem a continuidades e reiterações [...]”, numa clara tensão entre transformação e permanência, com o predomínio do novo.

Na análise de Iamamoto (1995, p. 37, grifos da autora) a ruptura com a herança conservadora materializou-se:

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determinado pelo confronto e a correlação de forças entre as classes fundamentais da sociedade, o que não exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado às suas atividades e pela forma de conduzi-la.

No Brasil, portanto, somente a partir das sendas abertas pelo Movimento de Renovação é que os ventos revolucionários se fizerem sentir, a princípio de modo bastante problemático, dado o viés das fontes consultadas, caracterizando essa primeira aproximação à tradição marxista com o que Netto chamou de “marxsimo sem Marx”, posteriormente abalizado pelo acesso às fontes originais através da inconfundível contribuição de Iamamoto e Carvalho, Martinelli, Netto, Yasbek, Mota, Barroco, dentre tantos outros assistentes sociais que passaram a interpretar a profissão à luz da orientação do materialismo histórico-dialético.

3. O significado sócio-histórico da profissão.

A partir do encontro do Serviço Social com a tradição marxista, superados os problemas iniciais com as fontes secundárias, tornou-se claro o significado sócio-histórico da prática profissional, o qual, segundo Iamamoto (1995, p. 88, grifo da autora), só pode ser “[...] desvendado a partir de sua inserção na sociedade, visto que o Serviço Social se afirma como uma instituição peculiar na e a partir da divisão

do trabalho”. Em outros termos: “[...] afirma-se como um tipo de especialização do trabalho coletivo, ao se constituir em expressão de necessidades sociais derivadas das práticas históricas das classes sociais no ato de produzir e reproduzir seus meios de vida e de trabalho de forma socialmente determinada”.

Vale observar com a autora (1995, p. 98), que tal reflexão não se identifica nem “[...] com a tese unilateral que acentua, aprioristicamente, o caráter conservador da profissão, como reforço exclusivo do poder vigente [...]”, nem com a tese oposta, [...] que sustenta, no nível do princípio, a dimensão necessariamente transformadora ou ‘revolucionária’ da atividade profissional. [...]”. Nos precisos termos de Iamamoto (1995, p. 100):

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pelos interesses de tais classes, tendendo a ser cooptada pelas que têm uma posição dominante. Reproduz também, pela mesma atividade, interesses contrapostos que convivem em tensão. Responde tanto a demandas do capital como do trabalho, e só pode fortalecer um outro pólo pela mediação de seu oposto. Participa tanto dos mecanismos de dominação e exploração como, ao mesmo tempo e pela mesma atividade, da resposta às necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora e da reprodução do antagonismo desses interesses sociais, reforçando as contradições que constituem o motor básico da história [...].

Portanto, a correta apreensão da prática profissional exige o esbatimento tanto do fatalismo como do messianismo, reconhecendo o Serviço Social rigorosamente como uma profissão, cuja atividade materializa-se de forma socialmente determinada pelas condições histórico-conjunturais. Conforme Iamamoto (1995, p. 100), somente munido por essa compreensão é que o Assistente Social poderá aprofundar a compreensão das implicações políticas de sua prática profissional, reconhecendo-a como polarizada pela luta de classes. Desse modo, poderá

[...] estabelecer uma estratégia profissional e política, para fortalecer as metas do capital e do trabalho, embora não se possa excluir esses atores do contexto da prática profissional, visto que as classes só existem inter-relacionadas. É isso, inclusive, que viabiliza a possibilidade de o profissional posicionar-se no horizonte dos interesses das classes trabalhadoras, a serviço de um projeto de classe alternativo àquele em que é chamado a intervir.

De posse dessa lúcida compreensão da função social da profissão, historia Yasbek (2009, p. 151), que a partir dos anos 1980 avançou-se para a consolidação do marxismo como referência analítica hegemônica no Serviço Social brasileiro. No registro da autora:

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Nesse rico debate, lembra a autora, impulsionado pela criação e expansão da pós-graduação (mestrado e doutorado) iniciada na década de 1970, o Serviço Social alcança sua maioridade intelectual, expressa, na atualidade, na significativa produção teórica, geradora de uma bibliografia própria.

Por fim, foi no interior da maturação do Serviço Social, sob a inspiração marxista, que no final dos anos 1970, se começou a tecer os primeiros fios do seu projeto profissional comprometido com os interesses da classe trabalhadora. Barata e Braz (2009, p. 194) identificam como preciso marco desse projeto o chamado Congresso da Virada. Na fala dos autores:

É sabido que, politicamente, este processo teve seu marco no III CBAS, em 1979, na Cidade de São Paulo, quando, então, de forma organizada, uma vanguarda profissional virou uma página na história do Serviço Social brasileiro ao destituir a mesa de abertura composta por nomes oficiais da ditadura, substituindoos por nomes advindos do movimento dos

trabalhadores. Este congresso ficou conhecido como o ‘Congresso da Virada’.

O chamado projeto éticopolítico da profissão, avançou nos anos 1980, consolidou-se nos anos 1990 e segue em constante construção e disputa, nos dias atuais fortemente tensionado pelos rumos da crise estrutural do capital e suas nefastas consequências sobre a classe trabalhadora e pela nova reação conservadora no seio da profissão expressa pelo avanço do pensamento pós-moderno. Contudo, como bem atesta Netto (1999, p. 104‐5):

Nosso projeto éticopolítico é bem claro e explícito quanto aos seus compromissos. Ele: tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor ético central – a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolher entre alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Conseqüentemente, o projeto profissional vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de classe, etnia e gênero.

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3. À guisa de conclusão: o legado da Revolução Russa para o Serviço Social

Nos limites da história aqui recuperada pudemos observar que a gênese do Serviço Social inscreve-se num amplo movimento conservador costurado entre a Burguesia, o Estado e as Igrejas Cristãs (Protestante e Católica), com o fim precípuo de camuflar a luta de classes, controlar e alienar a classe trabalhadora. Neste sentido, nos seus primórdios a profissão atua frontalmente contra o legado da Revolução de Outubro, encarnando ora “a polícia da família”, ora o austero apostolado exorcista do “espectro comunista que ronda a família operária”.

As vozes da Revolução só ecoaram muito mais tarde, e ressoaram entre nós através do Movimento de Reconceituação/Renovação, movimento internacional com peso significativo na América Latina, que buscou novas bases para o Serviço Social. Podemos dizer que estes foram os primeiros passos que a profissão encetou no sentido de uma auto-avaliação, que como vimos, aqui no Brasil, resultou em três direções teórico-metodológicas: duas conservadoras e uma contestadora da ordem estabelecida.

Foi exatamente pela mão dessa direção contestadora que o Serviço Social brasileiro afinou os ouvidos com aquelas vozes, promovendo uma primeira aproximação com a tradição marxista, teoria que inspirou a Revolução Russa. A princípio, como dito anteriormente, esse enlace ocorre de forma bastante problemática, dado o caráter secundário das fontes utilizadas, ganhando posteriormente maturidade com o acesso às obras marxianas nos anos 1980.

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preciso dizer que esta posição se refrata de modo diversificado no interior da categoria, contudo a direção política foi consolidada.

Em tempos profundamente contra-revolucionários como os que vivemos hoje, o projeto societário do Serviço Social, nos limites da sua atuação, sem incorrer as já conhecidas mistificações da prática profissional messiânica ou fatalista, como verdadeiro parceiro da classe trabalhadora, deverá mais do que nunca ser empunhado pela categoria, sobretudo, para que não caiamos na cilada dos apelos “cívicos” das velhas bandeiras burguesas em defesa da democracia e da cidadania, estas, bem entendido, são inegavelmente importantes para a garantia dos nossos direitos civis, mas não podem jamais constituir-se nosso horizonte de luta, porque enquanto tal apenas reproduz o poder do capital sobre o trabalho, mantendo intocada a sociedade do estranhamento.

Por fim, a Revolução Russa, a exemplo das revoluções burguesas, nos provou que somos os verdadeiros demiurgos da história. Portanto, nesses 100 anos, o que nos resta é aprender com as suas lições, perscrutando rigorosamente os seus avanços e, sobretudo, os terríveis retrocessos de sua degeneração, no sentido de retomar o autêntico projeto societário em favor do socialismo/comunismo, condição sine qua non para ultrapassamos a pré-história da humanidade.

Por isso, concluo com as lúcidas palavras do Poeta:

Não serei o poeta de um mundo caduco Também não cantarei o mundo futuro

Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças Entre eles, considero a enorme realidade

O presente é tão grande, não nos afastemos Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes A vida presente.

(Carlos Drummond)

4. REFERÊNCIAS

CASTRO, Manrique Manuel. História do Serviço Social na América Latina. São Paulo, Cortez, 2011.

CFESS et all (Orgs.). 30 anos do Congresso da Virada. Brasília, 2009.

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IAMAMOTO, Marilda Vilela e CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórica metodológica, São Paulo, Cortez, 1985.

MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: Identidade e alienação. 2ª Ed. São Paulo: Cortez, 1991.

NETTO, José Paulo. A construção do projeto éticopolítico contemporâneo. In: Capacitação em Serviço Social e Política Social. Módulo 1. Brasília: CEAD/ABEPSS/CFESS, 1999.

NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 3ª Ed. São Paulo: Cortez, 1996.

NETTO, José Paulo. Capitalismo monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1992.

TEIXEIRA, Joaquina Barata; BRAZ, Marcelo. O projeto ético-político do Serviço Social. In: CFESS e ABEPSS (Orgs.). Serviço Social: direitos e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

YASBEC, Maria Carmelita. Os fundamentos do Serviço Social na contemporaneidade. In: CFESS e ABEPSS (Orgs.). Serviço Social: direitos e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

Referências

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