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DINÂMICA NA CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE MULHER E GÊNERO EM BOGOTÁ 2004-2011

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Setor de Pós Graduação

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Tese apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo,

como

exigência

parcial

para

obtenção do título de Doutora em Serviço

Social sob orientação da Profa. Doutora

Aldaíza Sposati.

3*

*

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4

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(4)

!

(5)

#

Durante estes quatro anos de estudos acadêmicos no doutorado, quero estender a minha mais profunda gratidão para todas as pessoas que, com todas as suas palavras, ações e afeto me animaram para dar lhe vida a um sonho.

À Professora Doutora Aldaíza Sposati, quem me acompanhou sororamente neste caminho. Uma mulher com excelência acadêmica e de grande experiência política, que esteve sempre disposta a dialogar e debater sobre as mulheres na política e a política das mulheres. Muito obrigada Professora por acreditar em mim, pelo incentivo do dia a dia, e por assinalar além do que eu podia ver.

À Professora Doutora Maria Lúcia Carvalho da Silva, a quem admiro profundamente. Seu carinho e compromisso me aproximaram para compreender o significado que tem o Serviço Social junto com os movimentos sociais.

À Professora Doutora Carla García, estudiosa feminista que generosamente acompanhou as minhas reflexões e debates extrapolando os muros do espaço acadêmico.

À Professora Doutora Maria Lúcia Martinelli, quem me brindou confiança, fortaleza e convicção. Sua integridade entre o pessoal e o acadêmico me demonstrou o sentido que tem o projeto ético político para o cenário da América Latina.

À Professora Doutora Ana Rojas Acosta, amiga e colega. Ela conheceu o meu sono, me animou e me estendeu a sua mão. Suas orientações e recomendações foram fundamentais para dar lhe sentido a este processo.

À Professora Doutora Maria Rita Aprile, mina amiga e irmã de vida, infinitamente grata pelo carinho e o abraço sororo. Sua companhia, orientação e força foram fundamentais para que eu aceitasse este desafio.

Ao Profesor Doutor Evaldo Vieira, um educador formidável com que tive a oportunidade de compartilhar diversos espaços. Suas reflexões acompanhadas de humor político alimentaram as minhas motivações, gostos e desgostos.

À CAPES, agradeço todo o apoio financieiro que me permitiu realizar os estudos referentes à esta Tese.

A Adelita, Yrma, María, Eduardo e Roger. Quero lhes dizer uma e outra vez muito obrigada, muito obrigada, muito obrigada. Eu estarei em dívida sempre. Vocês são a minha família, meu apoio e morada nesta grande cidade.

À Universidade da Salle, especialmente ao Irmão Carlos Gabriel Gómez Restrepo e à Dra. Rosa Margarita Vargas, de onde eu recebi incentivo e motivação que foram a base para realizar este desejo.

(6)

Às minhas amigas e mestres Patrícia Uribe e Martha Lucía Uribe, porque me ensinaram que o feminismo é um projeto de vida que nos transforma como mulheres, e que faz deste mundo algo melhor.

Ao meu amigo Juan Pablo Bohórquez, quem sempre será um exemplo a seguir. Sua dedicação, compromisso e humildade são referências, neste mundo acadêmico. Às minhas amigas de Asodepro: Claudia, Gloria, Mirtha, Martha Lucía e Margarita porque sempre estiveram presentes sororamente, sem importar a distância.

Às minhas amigas de caminhada, Fátima Quiroz, Beatriz González, Zoraida Ordoñez, e Nohora Aydeé, mulheres batalhadoras e dispostas a transformar a vida. Ao todo o grupo humano da Subsecretaria de Mulher, Gêneros e Diversidade Sexual.

A todas as mulheres que aceitaram participar na pesquisa: Juanita Barreto, Martha Lucía Sánchez, Martha Buriticá, Osana Medina, Cristina Suaza, Magnolia Agudelo, Claudia Linares, Hilda Victoria Palomino, Olga Luz Cifuentes, Dora Rodríguez, Nohora Aydeé Ramírez, Martha López, Nolvira Soto, Main Suaza, Paulina Treviño, Ana Cecilia Ariza.

Às mulheres que integram as organizações de AMMAC e LISAFE, porque durante a pesquisa me ensinaram que o pessoal é político.

Ao Departamento de Serviço Social da Universidade Nacional, especialmente às Professoras Zulma Santos e Leonor Perilla, assim como às estudantes Karen, Liz, Daniela, Ângela, Rodrigo, e Milena, pelo compromisso com a Política Pública de Mulheres em Bogotá.

Às minhas companheiras e companheiros de Januarias, às minhas colegas e amigas/os Ana, Michele, Liliana, Natalina, Conceição, Soraia, Kátia, Vânia, Augusto, Ademar, Rodrigo y Claudio, todas e todos fizeram que este passo pela PUC SP fosse além do acadêmico. Muito obrigada pelos sorrisos, os abraços, e os encontros latino americanos.

Quero fazer um agradecimento especial à minha família, minha mãe Mercedes, meu esposo Silvio, minha sobrinha Sandra, meus sobrinhos Santiago e Osquitar, à minha cunhada Vicky por todo o amor, a compreensão, e o apoio, fundamentais para dar este grande passo.

(7)

Esta tese analisa as dinâmicas desenvolvidas na construção da Política Pública de Mulheres e a Eqüidade de Gênero, na cidade de Bogotá, durante as administrações de 2004 2007 e 2008 2011, ambas consideradas de orientação política de esquerda. O cenário político colombiano, caracterizado por um conflito social, político e belicista, dificulta o exercício democrático e participativo. No entanto, Bogotá, capital do país, torna se uma referência significativa para os cidadãos e cidadãs na medida em que se constituiu no espaço de articulação de grupos que participaram da construção e da gestão da proposta da Política Pública de Mulheres e de Equidade de Gênero. A hipótese que orientou o estudo foi a seguinte: a participação de mulheres e feministas na administração pública contribui para a visibilidade de novos protagonistas sociais e para promover outras e na cidade. Os processos de negociação, os acordos e desacordos constituem a base para compreender as dinâmicas que se articularam e deram forma ao Plano de Igualdade de Oportunidades e o âmbito da Política Pública de mulheres e Equidade de Gênero, em Bogotá. Pode se concluir nas declarações e documentos sistematizados durante a pesquisa que o espaço conquistado pelas mulheres, em Bogotá, contribui para o fortalecimento da democracia, para o exercício da cidadania e, no cenário da guerra, configura uma forma ainda que em construção de resistência e de defesa da vida, dos direitos humanos, da justiça e da igualdade social.

(8)

6

This thesis allows to analyze the dynamics that unfolded in the construction of the Women and Gender Equity Public Policy (“Política Pública de Mujer y Equidad de Género”) in the city of Bogotá during the last two administrations (i.e., 2004 2007 and 2008 2011) that are considered to be leftist. The Colombian scenery has been characterized by a social, political and armed conflict that makes the democratic and participative exercise a difficult task to achieve. However, Bogotá, the capital city, becomes another point of reference for the citizens; in particular, the proposal was articulated for the construction and management of the Public Policy of Women and Gender Equity. The hypothesis that guided the research wanted to verify if the women and feminist´s participation in the public administration contributes to the visibility of new social democratic actors, that it promotes other forms of being and doing politics in the city. Is it central to the development of this thesis, the negotiation processes, agreements and disagreements that were established in the basis for to understand the dynamics that were articulated and that shaped the Equal

Opportunities Plan (“ ”) and the framework of the

Women and Gender Equity Public Policy in Bogotá. In this respect, it could conclude in the declarations and documents collected during the investigation, which the space that women conquered in Bogotá contributes to the strengthening of democracy, to exercise the citizenship and it is a position to resist war, in defense of life, of human rights, justice and social equity.

(9)

Esta tesis permite analizar las dinámicas que se desenvolvieron en la construcción de la Política Pública de Mujeres y Equidad de Género en la ciudad de Bogotá durante las administraciones (2004 2007 y 2008 2011) consideradas de orientación política de izquierda. El escenario colombiano, caracterizado por un conflicto social, político y armado, dificulta el ejercicio democrático y participativo. Sin embargo, Bogotá ciudad capital, se convierte en otro referente para la ciudadanía, en especial, la propuesta que se articuló para la construcción y gestión de la Política Pública de Mujeres y Equidad de Género. La hipótesis que orientó la pesquisa quiso comprobar si la participación de mujeres y feministas en la administración pública, contribuye a la visibilización de nuevas/os actoras y actores sociales democráticos que dinamizan otras formas de ser y hacer política en la ciudad. Es central en el desarrollo de esta tesis los procesos de negociación, los acuerdos y desacuerdos que se constituyeron en la base para comprender las dinámicas que se articularon y le dieron forma al Plan de Igualdad de Oportunidades y al marco de la Política Pública de Mujeres y Equidad de Género en Bogotá. Al respecto, se pudo concluir en las declaraciones y los documentos sistematizados durante la investigación que el espacio conquistado por las mujeres en Bogotá, contribuye al fortalecimiento de la democracia, al ejercicio de la ciudadanía y es una forma de hacer resistencia a la guerra, a la defensa por la vida, los derechos humanos, la justicia y la igualdad social

(10)

#

7 ). Fotografía do centro de Bogotá...14

7 &8 Parque Simón Bolívar em Bogotá...14

7 98 Cartaz de divulgação da Política Pública de Mulher e Gêneros...121

7 (8Organograma da Secretaria Distrital de Planeación – Bogotá...146

(11)

!

(12)

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= 1 * ); Perfil das mulheres que participaram da investigação...29

(13)

> )8Colombia divisao geopolítica...15

> &;Bogotá: divisão político administrativa...17

(14)

#

– Associação Distrital de Educadores

Associação de Mulheres e Mães Abrindo Caminho

! – Associação de Mães Comunitárias para uma Colômbia Melhor – Aliança Popular Nacional

– Associação Nacional de Mulheres Camponesas, Negras e indígenas. – Associação de Usuários Camponeses

! – Bandas Criminais

? – Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher

– Comitê Internacional da Cruz Vermelha

" – Consultoria para los Derechos Humanos y el Desplazamiento – Confederación de Trabajadores de Colombia

– Central Única de Trabalhadores

– Departamento Administrativo Nacional de Estatística

! – Departamento Administrativo de Bem Estar Social Departamento Nacional de Planejamento

– Exército de Libertação Nacional – Exército Popular de libertação

– Estados Unidos

– Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia

– Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia Exercito Popular – Federação Colombiana de Educadores

"– Informe de Desarrollo Humano

– Instituto Distrital da Participação e Ação Comunal – Instituto de Relaciones Europeo Latinoamericanas

@ – Juntas Administrativas Locais

#! – Lesbianas, Gays, Bissexuais, Transgênero e Intersexuais – Associação de Lideranças de Santa Fé

– Mulheres em Desenvolvimento

– Missão para o empalme das series Emprego, pobreza, e Desigualdade. – Movimento Operário Independiente Revolucionário

(15)

"– Oficina de Alto Comissionado para os Direitos Humanos – Organização dos Estados Americanos.

– Organização Internacional do Trabalho – Organização Mundial de Saúde

# – Organização Não Governamental – Organização das Nações Unidas – Organização Panamericana de Saúde

– Partido Comunista Colombiano – Partido Democrático Independiente

! – Produto Interno Bruto

#– Plano de Igualdade de Oportunidades para Equidade de Gênero – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

– Plano de Ordenamento Territorial – Partido Socialista Revolucionário – Sistema de Alertas Tempranas

! – Sistema de Identificação e Classificação de Potenciais Beneficiados para os programas sociais do Estado.

– União de Cidadãs da Colômbia – União Patriotica

(16)

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1

) " = #

" A ! 34

1.1 Manifestação popular e mobilização política: Parte da história

da Capital 36

1.2 Mobilização das mulheres no Século 20: entre acordos e

desacordos 44

1.2.1 O voto feminino, entre tensões e contradições 48 1.2.2 As ondas do movimento feminista entram em questão 54 1.2.3 Institucionalização do discurso das mulheres 59 1.2.4 Insurgência, resistência e a inclusão das mulheres 64

1.3 O movimento de mulheres e feministas e as políticas públicas 71

1.3.1 O movimento feminista e de mulheres na Colômbia, 1980 77 1.3.2 A década de 1990: avanços e grandes perdas 81 1.3.3 Primeira década do século 21: o agravamento da guerra 85

& " 6

! ! # % 101

2.1 Articulação de ações e mobilização feminina 103 2.2 Construção do Plano de Igualdade de Oportunidades para a

Equidade de Gênero – PIOEG 109

2.2.1 PIOEG e os direitos fundamentais das mulheres 111 2.2.2 Reconhecimentos do processo do PIOEG 118 2.3 Negociação e dinâmica da política pública de mulher e gêneros 121 2.3.1 A política “não é nova” para as mulheres 127 2.3.2 Implementacão da Política Pública de Mulher e Gêneros

e o Plano de Igualdade de Oportunidades 132

2.4 Participação e representação das mulheres na administração

(17)

9 143

3.1 Avanços e desafios para as mulheres 148

3.1.1 Participação política e cargos de decisão 152 3.1.2. Conselho consultivo de mulheres: entre acordos e

desacordos 157

3.2 Institucionalização, Transversalização e Territorialização da

Política Pública de Mulher, Gêneros e Diversidade Sexual 161 3.2.1 Dinâmicas nas Casas de Igualdade: tensões e

contradições 166

3.2.2 Dinâmica nos Comitês Operativos Locais de

Mulher e Gêneros 171

3.3 Mulheres, Gêneros, Identidades, Orientações e Diversidades

na Política: Um debate em construção 175

B 180

$ 190

4 200

Anexo A Roteiro

Anexo B Campaña Publicitaria “Muévete por tus derechos” Anexo C Sistematización de entrevistas

(18)

1

No cenário colombiano, o Movimento de Mulheres e Feministas ocupa importante

papel na defesa dos direitos humanos. As vozes das mulheres são de denúncia

contra a violação sistemática dos direitos humanos. Os conflitos: social, político,

econômico e armado violentaram e aniquilaram as vidas e os corpos de crianças,

mulheres, jovens e homens.

São as vozes das mulheres que chegam a todos os espaços, especialmente nos

internacionais, exigindo proteção e garantia de vida. São elas que denunciam a

responsabilidade do Estado em relação aos crimes e violações que são cometidos.

É um Movimento que se levanta para defender a vida. Um Movimento de luta e de

resistência à guerra.

Em um cenário com essas dimensões, é muito difícil construir a democracia e a

cidadania. As pessoas têm medo de participar, pois desconfiam dos processos

políticos e eleitorais. O voto, na Colômbia, não é obrigatório, o que gera os mais

altos índices de abstencionismo1 e baixa participação nas decisões políticas que

afetam o país. Historicamente, há uma classe dirigente que tem participado de

inúmeras situações de corrupção com indiferença e impunidade, exacerbando as

complexas condições da vida da população civil.

Sem dúvida, a pobreza, o conflito, a corrupção e a impunidade são fatores que

aprofundam a violência e ocasionam a morte na Colômbia. O Movimento das

Mulheres tem sido um dos que mais resiste e propõe alternativas para lidar com

essa realidade. Sua ação se dá desde mobilizações nacionais, regionais, até locais

e comunitárias. Villarreal (2006: 37) aponta que “As mulheres fazem resistência,

definida esta como a potência que é direcionada para desenvolver o ser, ou seja, a

vida em si". É uma resistência impaciente e proposital porque tem a força do

acontecer cotidiano. Constrói de modo persistente as alternativas para denunciar os

1

(19)

2

abusos sistemáticos do exercício do poder. Desenha e implementa estratégias para

superar as adversidades que enfrentam as colombianas e os colombianos.

Ao longo da história, reflexões são feitas sobre qual é o eixo que articula a luta das

mulheres, no mundo. Na maioria dos escritos e reflexões de grupos de mulheres e

feministas (CASTELLS, 1999), é possível se encontrar os termos que articulam sua

luta: . É a ruptura com o modelo designado para o “ser

humano” do qual elas foram excluídas, não sendo, pois, consideradas humanas.

Elas representam o outro, o estranho, o inferior, o frágil, o desconhecido, a tentação,

o pecado e o perigo.

Ao analisar o papel que tiveram os movimentos sociais, entendidos como processos

históricos, sociopolíticos, construídos pelos protagonistas sociais, identificaMse a luta

permanente pela defesa dos seus interesses. Por meio de suas conquistas ou

resistências (GOHN, 2010), levam uma mensagem para a sociedade (CALLE, 2000).

De acordo com Calle (2000: 20), "a mensagem é a essência do movimento, pois

contempla os valores e âmbitos do significado que tem para interpretar, demandar,

resistir e propor transformações da sociedade" . Dessa perspectiva, a mensagem

que traz o Movimento de Mulheres e Feministas, no decorrer da história, é

denunciar, expor, mostrar o modelo androcêntrico, hegemônico, que impôs o

patriarcado, na lógica de subordinação, discriminação, desigualdade, violência,

opressão e morte.

Analisar as desigualdades sociais em contextos que se dizem "democráticos", exige

refletir sobre o significado real que têm os conceitos de democracia e de cidadania.

Para o Movimento de Mulheres e Feministas, é pôr em questão a igualdade, justiça

e os direitos que seriam garantidos em um ambiente democrático. De acordo com

Folguera (2010:91): "As mulheres estão assumindo um papel de liderança para

redefinir conceitos como desenvolvimento, democracia, direitos humanos, segurança

internacional e ambiente”.

Um cenário que não garante a igualdade entre mulheres e homens não pode ser

(20)

3

morrem em decorrência da pobreza, violência, como assim declara Facio (1997:

351): "A desigualdade entre homens e mulheres mata" . A mesma autora indica que

a desigualdade transpassa todos os âmbitos, incluindo as relações de casal:

"milhares são espancadas e assassinadas pelos companheiros afetivos. As

mulheres não têm o mesmo poder dentro das estruturas política, econômica,

científica e religiosa. Milhares morreram de desnutrição, abortos clandestinos ou

práticas culturais, como a mutilação genital e cirurgias estéticas e obstétricas

desnecessárias" (FACIO, 1997: 351).

Em 8 de março de 2011, foi comemorado os 100 anos do Dia Internacional da

Mulher. Os dados refletem as profundas desigualdades entre mulheres e homens:

apenas 18 mulheres exercem funções de Presidenta ou de PrimeiraMministra, de um

total de 192 EstadosMmembros das Nações Unidas. As mulheres representam 70%

dos pobres do mundo. Realizam 66% de todos os trabalhos e produzem mais da

metade dos alimentos que a humanidade consome. Contudo, sua renda não supera

10% da riqueza da população mundial e, além disso, são detentoras de apenas 1%

das propriedades do mundo2.

O mais grave, nos sistemas chamados "democráticos", é que as mulheres ainda não

são reconhecidas e nem valorizadas como seres plenos da espécie humana. As

estruturas sociais têm sutis barreiras que impedem a participação das mulheres. São

os homens que detêm a concentração de poder, de riqueza, de prestígio social, de

valorização, de reconhecimento e de tomada de decisão, no mundo, impedindo,

dessa maneira, a construção de sociedades mais justas, genuinamente

democráticas e igualitárias.

A humanidade mantém uma "dívida social para com as mulheres". A negação dos

direitos delas é a negação dos direitos humanos em sua acepção mais ampla e

profunda. Os direitos humanos constituem o produto de um período específico na

história e de uma região específica do mundo M o Renascimento na Europa

Ocidental, quando os valores que estão na base do que consideramos, hoje, direitos

2 TICKNER, A.. En “nuestro día”. In: . Disponível em:

(21)

4

humanos surgem dos valores filosóficos, políticos e religiosos dominantes no

Renascimento (FACIO, 1997).

Os valores que darão legalidade aos direitos humanos e resultam de tensões,

contradições, forças e acordos dentro de grupos que se constituem em uma

sociedade. No entanto, são valores baseados em lógicas androcêntricas, como

também afirmam os grupos feministas. Para Facio (1997: 354): "A declaração dos

direitos do homem M direitos do cidadão M tem uma visão androcêntrica influenciada

por ideias filosóficas do liberalismo individualista".

Nas revoluções americana e francesa, o princípio da igualdade era entendido como

a igualdade dos homens perante a lei e, especificamente, voltado aos homens

brancos, burgueses, alfabetizados e com propriedades. Portanto, o conceito de

igualdade não fazia referência a toda a humanidade, excluía os homens pobres,

analfabetos e, evidentemente, as mulheres.

Entre as dinâmicas que se apresentavam no cenário da Europa Ocidental, tomam

forma algumas das propostas criadas pelas mulheres em diversos momentos da

história. Como diz Schaumburg (2009: 52), a primeira vez em que se levantou a

questão da igualdade de gênero foi durante a Revolução Inglesa, na metade do

século 17:

Os Diggers (Associação de Camponeses Pobres), em 1646, se opuseram

à monogamia, promoveram a liberdade sexual e exigiram a eliminação da

propriedade privada. Estas propostas foram contrárias às posições da

Igreja e as classes aristocráticas da época.

Durante a Revolução Francesa, vigorava um sentimento igualitário que fluía no

conjunto social e as mulheres, que tinham origem em uma classe privilegiada,

tinham acesso a amplos graus de cultura, conseguindo a recuperação dos direitos

da mulher, em 1792; embora suas ideias não tenham atingido mais do que um

(22)

5

Na luta das mulheres, é importante destacar o papel que desempenhou Olympe de

Gouges com a Declaração dos Direitos da Mulher e a Cidadã, em 1791, cujo

conteúdo desafiou o sistema e, por essa razão, dois anos depois, foi guilhotinada.

Esse foi um dos eventos mais contraditórios. Apesar de a França ter sido o cenário

em que se defendiam os valores da liberdade, igualdade e fraternidade, não incluía

as mulheres: "Num dos projetos de lei elaborado por um grupo radical da Revolução

Francesa se propôs proibir as mulheres de aprenderem a ler" (VALCÁRCEL, 2008:

65).

Mary Wollstonecraft, escritora e feminista inglesa, acompanhou parte do processo e

continuou reivindicando os direitos das mulheres, dando ênfase no papel do Estado,

em sua responsabilidade pela igualdade entre homens e mulheres e pela garantia

de uma educação universal e gratuita para ambos os sexos.

As reivindicações feitas por essas mulheres M e por outras que a história tem

esquecido e nunca reconheceu M diziam respeito à aplicabilidade da igualdade dos

sexos, ao reconhecimento por parte do Estado de seus direitos e do exercício de

sua cidadania. Algumas exigiam mudanças legislativas e o direito ao voto era

considerado essencial. Concomitantemente, houve um profundo debate sobre a

situação da mulher, suas diferenças em termos biológicos e especialmente sobre a

"faculdade" da maternidade como "natural" de seu ser e o papel de cuidadora

família.

De acordo com Kappeli (1993:193), "a interpretação diferente da igualdade conduz a

uma divisão das mesmas mulheres em 'cidadãs' e 'burguesas', que evidencia uma

tensão decorrente dos interesses defendidos em uma sociedade patriarcal. Às

primeiras (cidadãs), a questão feminista é considerada políticoMlegislativa, às

burguesas corresponde a uma questão éticoMsocial" . Ainda assinala Kappeli (1993:

204) "as exigências jurídicas das mulheres têm sentido, quando ao mesmo tempo,

elas questionam as relações do poder como um todo".

As primeiras incursões feitas por mulheres no espaço público são registradas em

clubes, associações e movimentos literários, culturais, políticos. Algumas delas eram

(23)

6

iniciativas para divulgar suas ideias ocorreram por meio de jornais e as aproximaram

de livre pensadores, que apoiaram suas propostas e se tornaram seus

colaboradores. Dentre eles, um dos mais renomados foi John Stuart Mill.

Das grandes conquistas feministas, durante o século 19, sobressai o direito "restrito"

à educação, ao sufrágio, a um salário, e sua participação em processos sindicais,

políticos e comunitários. Para algumas feministas radicais, foram os primeiros

passos em direção à igualdade de direitos, tanto na vida pública, como privada.

Ainda que essas conquistas não sejam generalizadas para todas as mulheres,

somente no século 20, é que chegam ao contexto latinoamericano.

Após a Segunda Guerra, prospera uma atmosfera de forças democráticas;

questionaMse a opressão totalitária e se torna mais evidente a expressão dos direitos

do indivíduo. Desse "clima de resplendor" se beneficiam as mulheres, em certo

sentido. Como propõe Sineau (1993: 127), “a Declaração Universal dos direitos do

homem (1948) menciona a igualdade entre os sexos, bem como a igualdade entre

os cônjuges durante o casamento”. Essas proposições constituíram os insumos das

novas constituições dos países ocidentais (França, Itália e Alemanha), que decidem

incluíMlas com destaque, em suas respectivas leis fundamentais.

Em países da América Latina, nos quais, por razões religiosas, políticas,

econômicas e culturais, o feminismo surgirá mais tarde, exigeMse mais tempo para

propor a igualdade na estrutura social. Somente, a partir da década de 1970, são

produzidas com notável velocidade as reformas relacionadas aos pontos essenciais

de liberdade das mulheres. E, em parte, isso acontece por causa da pressão dos

movimentos feministas, por exemplo, na Organização das Nações Unidas (ONU),

entidade internacional que evidencia sua preocupação com a população feminina,

especialmente quando se refere ao papel da mulher no desenvolvimento social e

econômico de um país.

Nessa mesma década de 1970, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprova a

proclamação de 1975 como o Ano Internacional da Mulher e a celebração da

Primeira Conferência Mundial da Mulher. Além disso, se declara a Década da

(24)

7

a integrar as mulheres no desenvolvimento; criar condições de igualdade entre

homens e mulheres e contribuir para o fortalecimento da paz mundial.

No entanto, "na prática, a prometida igualdade foi limitada a meras palavras. As

mulheres são consideradas nas instituições internacionais, especialmente nas

Nações Unidas, simplesmente como uma área, um aspecto marginal das políticas

gerais das Nações Unidas" (FOLGUERA, 2005: 136). DenunciaMse a ênfase, por

parte da ONU, no balanceamento da representação ideológica e geográfica como

um modo de equilíbrio dos interesses políticos e geoestratégicos e como amostra da

democratização do próprio sistema. Porém, não se atende à democratização em

chave paritária. As mulheres estão ausentes das grandes questões que ocupam as

agendas internacional e global e, ao mesmo tempo, as relativas à igualdade e ao

gênero também estão fora da agenda. (MAQUEIRA, 2006. 56)

Indiscutivelmente, a lógica do sistema social de gênero atribui tarefas e

responsabilidades às mulheres, segundo sua função biológica e com o foco na

maternidade. Para autores, como Muller (2009), nos séculos 18 e 19 se

“institucionalizou” a divisão social do trabalho: em que os cuidados familiares se

localizam no terreno do privado. São as mulheres as encarregadas de cuidar e

proteger a espécie, limitando a sua ação à esfera reprodutiva. Por outro lado, os

homens são os responsáveis pelas atividades de produção que se desenvolvem nos

terrenos público, político, militar e econômico, espaços sociais valorizados e

reconhecidos. Sua função na família é de provedor. Essa divisão social afetou

severamente as condições de vida das mulheres e criou profundas brechas para que

participem em igualdade de condições, na arena pública.

As condições de vida das mulheres dedicadas ao espaço doméstico e familiar e

daquelas mulheres que se atreveram, ou se viram na necessidade de participar do

trabalho operário, tem sido objeto de diversas pesquisas. No entanto, o que mais

impressiona é que as mulheres assumiram o trabalho produtivo e mantiveram o

trabalho reprodutivo (atribuído como "natural"), duplicando o seu trabalho, tempo e

(25)

8

Os estudos feministas nomearam a circunstância como “múltiplas jornadas de

trabalho feminino”. Situação que não é igual para os homens, pois, “alguns”

continuam com seu status de provedor e sem responsabilidades de cuidar da

descendência. Em pleno século 21, a imagem do homem que participa dos trabalhos

doméstico e familiar é descrita como está "ajudando", porque é um dever da mulher

por "natureza", considerada a única responsável.

Indiscutivelmente, a democracia converteMse no ideal ou, talvez, na utopia. As

mulheres apostam na construção de uma sociedade democrática e pluralista. No

entanto, as dinâmicas: social, política, econômica e cultural impedem a consolidação

de um projeto democrático, no seio do modelo capitalista. São muitos os debates

sobre o significado da democracia, seus princípios, o exercício da cidadania e a

garantia plena dos direitos das mulheres.

O movimento feminista, desde a sua criação, se identificou com os valores da

democracia e a ideia de que deve estar sempre presente, especialmente, nas

condições em que o exercício do poder evidencia profundas desigualdades. Na

sociedade, são fundamentais as formas de organização, a definição de objetivos, as

subjetividades, a relação entre o público e o privado, como pedras angulares da

construção da democracia e da cidadania das mulheres. Para Phillips (1996: 79): "M

o pessoal é político – e se constitui em um slogan do movimento feminista em que o

poder é onipresente, destacando a importância da democracia em todos os âmbitos

da vida humana".

Pensar sobre o significado de cidadania M como um exercício pleno de participação

no processo de tomada de decisões em uma sociedade democrática M requer um

mínimo de todos/as e para todos/as. Dessa perspectiva, a democracia deve ter

iguais e efetivas oportunidades para todas e todos. No âmbito da política, todas as

pessoas têm oportunidade de votar e de serem eleitas. Cada pessoa deveria

conhecer as políticas e suas consequências em suas vidas. Assim, as pessoas é

que indicariam os assuntos da agenda política que sempre estariam abertos para o

debate e as mudanças. Finalmente, todos e todas teriam os seus direitos

(26)

9

oportunidade de acesso à compreensão dos assuntos e o direito de participar

exercendo o controle sobre a agenda política.

Por se tratar de uma relação bidirecional, ou seja, além da participação política no

âmbito democrático, é fundamental o papel que devem cumprir aqueles/as que

governam, pois a eles ou elas, lhes cabe a responsabilidade de implementar

políticas que garantam os direitos humanos, sendo eles constitutivos do interesse

público. Portanto, todo sistema de governo democrático deve garantir, preservar e

estender os direitos humanos a toda a população (ROTH, 2006). Promessas não

são suficientes, por isso se requer que os e as governantes/as sejam os/as

responsáveis por pôMlas em prática, para que tenham os efeitos concretos na

sociedade e se materializem no bem estar e qualidade de vida das pessoas,

especialmente, daquelas e daqueles que a sociedade tem excluído historicamente.

De outra perspectiva, a democracia real apresenta inúmeras imperfeições,

começando com as instituições políticas, que estão longe de atingir um ideal

democrático, especialmente porque deveriam garantir o exercício de uma

democracia representativa. Segundo Dahl (2004), a democracia representativa

pressupõe que todos os cidadãos e cidadãs tenham acesso a um conjunto de

direitos fundamentais, de liberdades e de oportunidades.

Para as feministas, as reflexões sobre a democracia apresentam diversos aspectos

que os homens não levaram em consideração. Em primeira instância, houve um

período de insatisfação generalizada em relação à proposta de democracia liberal,

concebida pelas hierarquias e pelos dirigentes do patriarcado, no poder. Durante as

décadas de 1960 e 1970, grupos radicais apostaram em uma democracia mais ativa

e participativa. Essa democracia direta se refletia em sair do anonimato do voto e

compartilhar experiências e conhecimentos, chegar às assembleias e aos debates

amplos e coletivos. "As feministas se ocuparam do que podíamos chamar de micro

nível da democracia, no seio de um movimento, e da democracia na vida cotidiana"

(27)

10

É nesse cenário que feministas apostaram nos valores da democracia local e

descentralizada. Posteriormente, e com alguns alcances, ressurge a confiança nos

mecanismos da democracia liberal: "É possível atingir níveis mais elevados e é

possível ter o poder". Sob a ótica de Phillips (1996), a transição da participação no

rumo da construção da cidadania reflete o movimento ocorrido no pensamento

radical. Essa fase se caracteriza pela ocupação do nível macro do sentido de

pertencimento por parte das mulheres na comunidade política, explorando questões

de inclusão em diversas áreas e atenuando as pretensões universalistas do

pensamento político moderno.

Entre essa participação e o movimento político, as feministas evidenciam e

denunciam as fraquezas que têm a "promessa de igualdade". Não há igualdade para

todas e todos. As mulheres não têm os direitos que são referidos como "universais"

e "inalienáveis". O caminho que se desenha pelo movimento feminista é o da luta

pela democratização; para que se amplie o reconhecimento das mulheres e o direito

universal a ter direitos, segundo Elizabeth Jelin (1994) apud Maquera (2006: 51M52).

As mulheres frente aos direitos humanos tem o seu desafio maior. Elas requerem

uma participação ativa na redefinição permanente do conceito de direitos humanos,

sua contextualização nas relações sociais e gênero e nas lógicas do poder

hegemônico, que impôs o sistema capitalista (MAQUEIRA, 2006: 51M52).

Por outro lado, a forma de exercer o poder em um cenário em que prevalece a

economia de mercado em que a violação dos direitos civis e políticos está facilitada

pela corrupção e falta de governantes éticos; pela erosão das instituições do Estado,

pelas fraquezas e falta de garantias que têm a sociedade civil organizada para exigir

o cumprimento do contrato social. Todos esses aspectos impedem a consolidação

da democracia.

Nas palavras de Puyana (2004: 220), "As políticas econômicas, as guerras e outros

problemas têm levado a que se acentuem as desigualdades sociais, afetando

principalmente as mulheres". Esse raciocínio se complementa com o que afirma

Phillips (1996: 81): "mulheres, nosso desigual acesso aos recursos econômicos é

(28)

11

formação política, que faz de nós politicamente (e não apenas socialmente)

desiguais."

Phillips retoma Dahl (1996: 81) e questiona: “A igualdade política é compatível com a

economia de mercado"? De acordo com Francisco de Oliveira (2004: 115): "a

política institucional gira em falso, pois os condicionamentos e as limitações

impostas pela globalização tornam inúteis e supérfluas as instituições democráticas

e republicanas". Assim, a cidadania está em uma armadilha, porque é subordinada à

lógica capitalista e de mercado e, por conseguinte, renuncia à política progressista e

de direitos.

Entre as armadilhas que impôs o sistema, está o ato de defender as liberdades,

"somos livres, vivemos em democracia". E que acontece com a igualdade e a

justiça? Como indica Phillips (1996), nas abordagens democráticas, se fala de uma

igualdade que ignora ou, de fato, tolera as desigualdades sociais inerentes à

economia de mercado.

Como bem o indica Vieira (2007: 134): "sociedade democrática é aquela em que

ocorre uma participação real de todos os indivíduos no controle dos mecanismos de

tomada de decisões, tendo, portanto, uma participação real deles e delas no

desempenho da produção" . Seu pensamento dá ênfase à participação coletiva no

processo de tomada de decisões, como nos ganhos que são socialmente

produzidos, deixando a condição de consumidores obedientes.

A real cidadania, em uma real democracia, só será possível quando as mulheres e

as minorias não mais sejam oprimidas, quando puderem:

Superar situações de exploração: quando os benefícios derivados do seu

trabalho ou energia vão para outras pessoas sem que elas a

recompensem reciprocamente por dito trabalho; de marginalidade: estão

excluídos/as de participação nas principais atividades sociais, o que, em

nossa sociedade, basicamente significa um local de trabalho com

dignidade humana; falta de poder: vivem e trabalham sob imposições de

(29)

12

grupo, estão estereotipados/as e, ao mesmo tempo, sua experiência e

situação resulta invisível no conjunto da sociedade. Portanto têm poucas

oportunidades e pouca audiência para expressar sua experiência e

perspectiva em relação aos acontecimentos sociais. (YOUNG, 1996: 111)

Sobre os conceitos de democracia e cidadania, assim observa Benevides (1994:

14):

A Democracia surgiu precisamente para responder à necessidade de

reconhecimento das minorias [...] A cidadania democrática deve ser

entendida como um conjunto de direitos e deveres válidos para todas e

todos, aliados ao conceito de igualdade não aritmética, não mecânica,

mas, sim, baseada no reconhecimento das desigualdades.

No entanto, as mulheres não são uma minoria. Pelo contrário, representam a

metade da humanidade. De alguma maneira, observaMse e confirmaMse que

excluídos e excluídas do sistema constituem, em sua maiorias: as mulheres e os

pobres que somados às minorias, em termos de grupos populacionais, como os

povos indígenas, os negros, entre outros, o que demonstra as profundas

desigualdades e a falta de garantias para o pleno exercício da cidadania.

Na perspectiva de Paulo Freire (1996), nós somos seres condicionados, mas não

determinados. A partir dos movimentos sociais, há propostas democráticas e

cidadãs para superar a opressão, a injustiça e a desigualdade social. Como bem

assinala Sposati (2011: 9), "o reconhecimento do que é universal para a população

significa definir com o que todos os estratos populacionais podem contar". A

sociedade democrática deve exigir a garantia de "o direito a ter direitos", O

cumprimento com alguns maximin (VALCÁRCEL, 2008) que garanta iguais

oportunidades para todas e todos.

Por outro lado, Benevides (2004) sugere a importância de fortalecer a democracia

participativa por meio de sólidos mecanismos, como os conselhos populares, a

participação administrativa em gestões de concepção e implementação de normas

de fiscalização e controle, assim como outras formas incipientes de democracia

direta associada à democracia representativa, como a iniciativa popular legislativa,

(30)

13

mecanismos de justiça, bem como na formulação de políticas públicas para se obter

o fortalecimento de uma sociedade democrática.

PodeMse afirmar que sair da opressão é superar situações de violência e de morte.

As mulheres reivindicam a como opção de vida, de justiça

social, de conquista permanente a favor dos próprios direitos em relação à dignidade

e ao reconhecimento como ser humano.

No âmbito de construir a democracia, lutar pela igualdade, justiça, defesa dos

direitos humanos, o Movimento de Mulheres e Feministas, na Colômbia, tem se

dado a tarefa de discutir seu envolvimento e incidência nos vários níveis de governo.

Algumas o consideram importante, outras, pelo contrário, o consideram perigoso e

ineficaz. No entanto, nas múltiplas agendas construídas pelas mulheres e feministas,

se identifica a preocupação de gerar mudanças e transformações na lógica imposta

pelo sistema econômico, pela cultura reconhecida como "normal" e "natural", que

mantém relações desiguais, construídas nos espaços público e privado, por homens

e mulheres.

Tendo em conta que o cenário desta pesquisa é Bogotá, capital da Colômbia, tornaM

se necessário abrir o “pano de fundo” da Cidade e conhecer a sua história, seus

habitantes, sua organização políticoMadministrativa e as condições atuais que

atravessa a mais importante cidade do país. É o espaço escolhido para que o

Movimento de Mulheres coloque em cena o exercício democrático e cidadão de

(31)

14

! " # $ % &

' # (: Fotografia do centro da Cidade, 2010 Fonte: Prefeitura de Bogotá.

Bogotá é o Distrito Capital (DC) da Colômbia (ver Mapa 1). É considerada uma

metrópole da América Latina. Está localizada na Cordilheira Oriental dos Andes, a

2.630 metros de altura, sobre o nível do mar. A temperatura normal da Cidade é de

14°C, com algumas alterações de clima, na zona tropical.

O significado da expressão território, segundo Saquet (2010: 24M25), vai além da

centralidade e autoridade: “O território significa natureza e sociedade, economia,

política e cultura; ideia e matéria; identidades e representações; apropriação,

dominação e controle; descontinuidade; conexão e redes, domínio e subordinação,

terra, formas especiais, relações de poder, diversidade e unidade”.

' # ): Parque Simón Bolívar, Festival de Verão em Bogotá

(32)

15

Pelo fato de Bogotá ser o território “central”, onde se desencadeiam complexas

relações de poder, controle e dominação para um país como a Colômbia,

identificamMse relações políticas, registros e acontecimentos que deram vida aos

diferentes momentos que caracterizam o cenário da capital, como poderá se

observar no Capítulo 1.

* (: Colômbia: divisão geopolítica

(33)

16

A Cidade foi fundada em 1538, com o nome oficial de Bacatá3. Em seguida, foi

denominada Nossa Senhora da Esperança e Santa Fé. Durante a colonização,

passou a ser conhecida como Santa Fé. Com a Constituição de 1991, passou a ser

Santa Fé de Bogotá e, no ano de 2000, seu nome oficial se tornou Bogotá4.

A Constituição Política de 1991 definiu Bogotá como Distrito Capital, com um regime

administrativo e fiscal especial, autorizando o Prefeito e o Conselho Municipal a

antecipar a descentralização administrativa e as alterações territoriais.

Posteriormente, foi promulgado o Estatuto Orgânico de Bogotá (Decreto N° 1421, de

1993), que subdividiu a Cidade em 20 regiões administrativas (Mapa 2) e se

estabeleceu a participação cidadã em instâncias denominadas Juntas

Administradoras Locais (JAL)5, locais de voto popular em que seus representantes

são escolhidos e a população participa das decisões locais.

A Cidade possui extenso território com 163 mil hectares, entre o urbano e o rural e

áreas protegidas de reservas naturais. Segundo a Prefeitura, 75% do território é

rural. O território inclui toda a extensão do Parque Nacional Natural de Sumapaz

(Mapa 3). A maior parte da população se encontra na zona urbana e, um pequeno

grupo, na zona rural. A população camponesa se concentra em diferentes regiões

da Cidade e se dedica a pequenos projetos rurais.

3

Nome que a capital recebia do povo Chibcha. Viviam, ali, Zipa e sua corte, até a chegada dos espanhóis. O Zipa Tisquezuzha se opôs à ocupação espanhola. Quando morto, se extinguiu a dinastia dos Zipas. Esse território foi incendiado duas vezes pelos indígenas para expulsar os espanhóis. Até 27 de Abril de 1539, o território foi constituído juridicamente com o nome de Santa Fé, quando da chegada do conquistador Gonzalo Jimenez de Quesada, enviado pela Coroa Real para buscar o tesouro El Dorado.

4 Disponível em: <www.bogota.gov.co/portel/libreria/php/decide.php?patron=01.2707>. Acesso em:

23 jun. 2009).

5

ComparandoMse à estrutura do município de São Paulo, as Juntas Administrativas Locais (JAL) correspondem às Subprefeituras. Porém, ao contrário da capital paulista, as JAL, em Bogotá, são eleitas de 4 em 4 anos, por voto da população de cada região administrativa. TrataMse, portanto, de corporações públicas, que constituem o maior órgão de representação política no nível regional. São integradas por 7, 9 ou 11 edis de acordo com o tamanho de cada região. Entre as principais funções da JAL, estão: (1) Adotar o plano de Desenvolvimento Local; (2) Vigiar e acompanhar a prestação de serviços distritais e os investimentos feitos com recursos públicos; (3) Apresentar projetos de investimento para instituições nacionais e distritais; (4) Aprovar o orçamento anual do Plano de Desenvolvimento Local; (5) Acompanhar a execução dos contratos na área e (6) Promover a participação e a fiscalização do cidadão. Disponível em:

(34)

17

" # $ %

* )!Bogotá: divisão políticoMadministrativa

(35)

18

* +!Bogotá: divisão urbanoMrural

Fonte: Prefeitura de Bogotá, 2009

Quem habita a cidade de Bogotá? Bogotá é a cidade que reúne a maior diversidade

de pessoas vindas das várias regiões do território colombiano. A maioria delas é

(36)

19

melhores oportunidades de vida. De acordo com o Censo, realizado em 2005, pelo

Departamento Administrativo Nacional de Estatística (DANE), a Cidade conta com

6.778.691 habitantes e, deste total, somente 50 mil está na região rural, número que

não corresponde a 1% da população.

O ABC do Plano de Ordenamento Territorial de Bogotá (2009) indica que o território

da capital é uma construção social. “Aqueles que habitam a Cidade, com suas

necessidades e seu trabalho, contribuem para que Bogotá se transforme, se

diferencie e se caracterize como território habitado.” Por outro lado, o papel da

população diante da responsabilidade de atuar na organização e na administração

da Cidade se torna importante porque seu sentimento de pertencimento e o seu

exercício de cidadania contribuem para o desenvolvimento das ações e a solução

dos conflitos.

Nos últimos 15 anos, Bogotá tem contribuído para gerar em seus habitantes uma

cultura de respeito e amor pela Cidade. São reconhecidas como importantes, nesse

cenário, as ações pedagógicas implementadas no governo de Antanas Mockus –

Prefeito de Bogotá por duas vezes: 1995M1997 e 2001M2003 – e, mais tarde, as

administrações de Luis Eduardo Garzón (2004M2007), que deu ênfase ao social e à

busca de uma “Bogotá sem Indiferença” e a atual administração, com Samuel

Moreno Rojas (2008M2011), que tem trabalhado a partir da ideia de uma “Bogotá

Positiva”, dando continuidade aos projetos sociais relacionados com a mobilidade

urbana.

Um aspecto interessante na Cidade está relacionado às “apostas” políticas que se

diferenciam das lógicas que imperam no país. Os habitantes da Cidade têm

aprovado propostas inovadoras, que desafiam as elites políticas tradicionais, que

fazem parte da história colombiana. Nas quatro últimas administrações, os Prefeitos

foram acadêmicos, sindicalistas e jornalistas, reconhecidos por seus trabalhos e

afastados dos partidos políticos tradicionais.

A Cidade tem recebido prêmios e diversos reconhecimentos, nacionais e

internacionais. Em agosto de 2009, a Cidade ganhou um prêmio internacional pela

(37)

20

Estados Americanos (OEA). No ano de 2007, a Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), nomeou Bogotá como a Capital

Mundial do Livro M 2007. Entre outros reconhecimentos, destacamMse também:

Cidade da Paz, Cidade com Coração e, o prêmio, O Leão de Ouro na X Mostra de

Arquitetura de Veneza, em 2007.

Um aspecto relevante da Cidade se relaciona à rede de bibliotecas públicas.

Existem três megabibliotecas, e a mais importante é a Luis Angel Arango

(considerada patrimônio cultural), além de nove bibliotecas locais e seis nos bairros,

visitadas por mais de 4,8 milhões de pessoas por ano6. Foram construídos também

parques, ciclovias e calçadas, nos bairros da Cidade, que proporcionaram outro

aspecto visual para a Cidade. O sentido de apropriação do espaço público permitiu

que os cidadãos apoiassem propostas de recuperação de zonas verdes, afluentes

dos rios, pântanos, parques, alamedas e o “dia sem carro” 7.

No entanto, os cenários: social, político, econômico e cultural da Cidade não está

longe da realidade que o país enfrenta. O conflito social e armado continua sendo o

problema mais grave do país, assim como o fenômeno do narcotráfico e o

deslocamento forçado. Conforme observado pela Administração Distrital, em 2009,

“chegam 50 famílias na Cidade, todos os dias, deslocadas pelo conflito interno8”. A

maioria das pessoas é constituída por habitantes das zonas rurais ou provenientes

de cidades pequenas.

No Informativo de Desenvolvimento Humano (IDH) 2008, “Bogotá, uma aposta pela

Colômbia”, afirmaMse que a Cidade é um fenômeno especial que cria condições

próprias para a aglomeração de indivíduos heterogêneos. “A proximidade do espaço

gera atritos. Por isso, o âmbito urbano apresenta diversas formas de convivência

que se expressam de maneira privilegiada nos setores políticos e sociais” (PNUD,

2008: 29).

6 PNUD. Colombia.

," # $ - .. Informe Regional de Desarrollo Humano.

2008.

7 Em pesquisa popular, grande parte da população votou para que, durante um dia, não transitem

carros particulares, na Cidade.

8 Jornal:

El Espectador. Disponível em: <www.elespectador.com/noticias/bogota/articulo153373M

(38)

21

O relatório apresenta a desigualdade que se observa na Cidade, em especial a

divisão entre ricos e pobres, que toma forma no território. Geograficamente, os ricos

vivem no norte e, os pobres, no sul. A discriminação entre uns e outros repercute na

qualidade de vida de seus habitantes:

Os indicadores sociais de Bogotá têm melhorado, mas a cidade não tem

criado condições que favoreçam a relação entre ricos e pobres. O

crescimento de Bogotá tem incentivado uma separação entre o norte rico e

o sul pobre. Especialmente, depois da imigração, resultado da violência

dos anos cinquenta, a cidade consolidou um modelo urbanístico que

estimulou a segregação e os pobres foram se concentrando na periferia.

Esta tendência tem sido estimulada pela estratificação que tem se tornado

um mecanismo de segregação [e] As sociedades democráticas se

constroem em cima da igualdade de oportunidades, e esta condição se

cumpre quando há convivência entre ricos e pobres. (PNUD, 2008: 33M35)

O problema não está em observar como se “misturam” ricos e pobres. É necessário

ir mais além, considerando as condições que separam ricos e pobres. A pobreza é

estrutural e a riqueza faz parte da concentração econômica. Os problemas que

separam uns e outros impedem a construção de uma democracia, além de gerar

desigualdades e discriminações que vão além dos problemas econômicos e sociais.

Dessa forma, as Políticas Públicas da Cidade devem estar voltadas ao

reconhecimento e redistribuição, conforme diz Fraser (2006: 19) “A tarefa é elaborar

uma concepção bidimensional da justiça que possa integrar tanto as reivindicações

defensáveis de igualdade social, como as de reconhecimento das diferenças”.

Em Bogotá, as condições de vida são superiores à do resto do país. Isso acontece

porque vários avanços significativos foram realizados no espaço público: mobilidade

cidadã (calçamento das vias públicas); acesso à infraestrutura de serviços públicos

domiciliares; maior garantia da saúde; universalização da educação básica; melhoria

das condições de segurança e transformação da cultura política. Como bem

colocado por Fuentes (2009: 149):

Os avanços na cultura política e na cultura da Cidade resgataram o

(39)

22

mais significativos, se não o principal dos ocorridos, no século XXI, em

Bogotá, foi precisamente a formulação e o andamento das Políticas

Públicas, que reconhecem a diversidade das vozes emergentes da

Metrópole. O desenho de políticas para mulheres, os afrodescendentes, as

pessoas com deficiência e da comunidade LGBT constituem um marco

muito importante e, em alguns casos, sem precedentes na Cidade.

As Administrações Distritais da primeira década do século 21 envidaram grandes

esforços em favor da ampliação do acesso à saúde e à educação. PodeMse dizer

que as últimas administrações distritais conseguiram superar a concepção de saúde

e educação como “serviço”. Nos fundamentos da Política Distrital, aparece a saúde

e a educação como direitos que devem ser garantidos pelo Estado, o que gerou

conflito com o Governo Nacional uma vez que suas propostas eram e são dirigidas à

privatização da saúde e da educação. A instância do Governo Nacional tem

concedido um papel preponderante aos setores empresarial e financeiro, bem como

tem responsabilizado as famílias para assumir os gastos gerados por esses

“serviços”, expressão utilizada pelo Ministro de Proteção Social.

Entre os avanços alcançados e avaliados pelo PNUD (20059 ; 2008) relacionado ao

cumprimento dos objetivos de Desenvolvimento do Milênio em Bogotá e Prestação

de Contas de 2010, apresentada pela Prefeitura10, podem se observar alguns

indicadores que refletem as condições de melhoria na qualidade de vida de seus

habitantes.

Um dos programas mais importantes: “Bogotá sem Fome”, constituiu um avanço

progressivo na garantia do direito à alimentação. AfirmaMse que, nos últimos quatro

anos, o Programa contribuiu para diminuir a desnutrição crônica de 15% para 11% e,

a aguda, de 1,1% para 0,8%. Diariamente, são atendidas 200 mil pessoas nas 340

cozinhas comunitárias.

9 PNUD. Alcaldía de Bogotá.

" # / / -0 & /

Disponível em:

http://www.pnud.org.co/img_upload/33323133323161646164616461646164/Compromisos%20Bogot a%20con%20Objetivos%20del%20Milenio.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2009.

10 ALCALDIA DE BOGOTÁ.

(40)

23

Há, ainda, outro Programa que se refere à restauração de Direitos e Inclusão Social,

dirigido a indigentes, com especial atenção a meninos, meninas e jovens de rua,

adultos/as com limitação física ou mental e famílias em extrema pobreza. Isso

acontece porque muitas pessoas que chegam à Cidade, vítimas de deslocamento

devido ao conflito armado, e devido à falta de oportunidades tem que se dedicar à

mendicância.

O Programa “Capacitação e Oportunidades para a Geração de Empregos e

Elevação de Renda” direciona esforços para o surgimento de pequenas e médias

empresas, ofertas de primeiro emprego e inclusão profissional de pessoas pobres. O

desemprego, em Bogotá, foi de 11,8%, em janeiro de 2011. Em toda Colômbia, a

taxa de desemprego foi de 13,5%, sendo que o trabalho informal é de 55%.

O Programa “Mais e Melhor Educação para Todos e Todas” tem se tornado uma

referência para o país. Desde o ano de 2007, a educação é gratuita em todos os

colégios oficiais do Distrito. A melhoria qualitativa do sistema educacional é notória,

como mostram os últimos anos de avaliações estaduais.

Os Programas “Saúde para Uma Vida Digna” e “Saúde em Casa” incrementaram o

acesso ao sistema público de saúde, visando ao atendimento das famílias mais

pobres; a mortalidade materna foi reduzida para 2%, e a gravidez na adolescência

caiu 6%. No entanto, a gravidez indesejada, em adolescentes, ainda apresenta um

número bastante significativo. Segundo a ONG Profamília (2010), 19% das jovens

com idades entre 15 e 19 anos já são mães de família ou estão esperando seu

primeiro filho.

A pobreza11, em Bogotá, continua sendo um fator que preocupa a cidadania. Em

2003, os pobres correspondiam a 34,58% da população. Em 2005, essa taxa

reduziu para 29,79%. O número de indigentes12 era de 7,34% da população e

11 CORREA J.

Portafolio.co.com. Na Colômbia, consideraMse em condição de pobreza as pessoas

que têm renda igual a US$ 3 por dia. Um grupo familiar de quatro pessoas é considerado pobre quando sua renda corresponde a dois salários mínimos, que equivale a U$ 500. Disponível em:< http://www.portafolio.co/archivo/documento/CMSM7688709>. Acesso em. 2 dez. 2010

12 Ibid. A condição de indigência, ou de extrema pobreza, engloba pessoas que têm menos de US$ 2

(41)

24

diminuiu para 3,96%. Apesar dos avanços, a Cidade continua sendo dividida entre

ricos e pobres, em um cenário de profundas desigualdades sociais, agravadas pela

violência e pelo conflito armado.

PodeMse concluir que, durante esses oitos anos (2004M2011) M período de estudo da

presente investigação – aconteceram avanços significativos na Cidade,

principalmente, diante do propósito de aumentar os recursos públicos voltados para

a satisfação das necessidades básicas e garantia dos direitos das populações mais

pobres. NotaMse, também, que houve continuidade nas melhorias da Cidade por

meio de propostas políticas e administrativas anteriores. A gestão pública foi

avaliada com transparência (PNUD, 2008) na administração das finanças, situação

que se refletiu nas receitas de impostos da Cidade e no investimento social. No

entanto, atualmente a Procuradoria e Fiscalização, órgãos do Ministério Público,

estão promovendo investigações para averiguar escândalos e contratos ilícitos, que

afetam a imagem do prefeito Moreno Rojas e de sua administração, destacando o

denominado: “Carrossel das Contratações”13.

Segundo o Informe de Desenvolvimento Humano M IDH (PNUD, 2008: 57), o fato de

as decisões serem tomadas por técnicos não significa que favoreçam o

desenvolvimento humano. É necessário levar em conta critérios avaliativos focados

no bem público. Nesse sentido, os Prefeitos exerceram papel determinante, pois

eram independentes e estavam comprometidos com um modelo público de cidade.

Por isso, as medidas necessárias foram tomadas possibilitando a continuidade das

políticas de seus antecessores.

*2 & #

O método que norteou esta investigação é qualitativo, “partindo do pressuposto que

existe uma relação dinâmica entre o mundo real e o indivíduo; um vínculo

indissolúvel entre o mundo objetivo e a subjetividade do indivíduo” (CHIZZOTTI,

13Jornal

El espectador. , & . " # . 4 de abril de 2011.

(42)

25

2000: 79). As Políticas Públicas de Mulheres e Gêneros em Bogotá representam um

processo construído a partir do público, convertendoMse em uma realidade em

movimento, tecida por várias subjetividades.

Levando em consideração o método dialético (históricoMcrítico), foi possível fazer

uma leitura crítica da realidade a partir da perspectiva histórica, social e política

(TRIVIÑOS, 1998; VILLASANTE, 2002). Esse processo contribuiu para a

compreensão da dinâmica do Movimento de Mulheres e Feministas na Colômbia,

revelando tensões e contradições, ao longo da história e o legado que continua

presente.

Por outro lado, foi utilizado também o método de análise de conteúdo (CHIZZOTTI,

2000) para “mergulhar fundo” nas mensagens encontradas nas entrevistas e

documentos relacionados à Política Pública. Foram estudadas as motivações, os

interesses e as práticas, algumas expostas abertamente, e outras, de conteúdo

latente, identificadas nos documentos e discursos. Também, foi fundamental utilizar

nesta investigação a análise do conteúdo das atas e dos registros de reuniões,

encontros e outros eventos realizados, ao longo dos oito anos, objeto de estudo.

As mulheres que participaram da investigação foram entrevistadas a partir de um

roteiro (Anexo A). Suas declarações enriqueceram a informação encontrada nos

documentos, informes, atas, registros, publicações, vídeos e em campanhas

publicitárias (Anexo B), entre outros. O grupo de mulheres, em sua maioria, era

integrado por feministas. Algumas delas se autodenominavam militantes outras não

e, outras, ainda, se definiam simplesmente como pertencentes ao Movimento de

Mulheres. Algumas reconheciam suas relações com o partido Pólo Democrático,

outras, por sua vez, diziam ser “simpatizantes” e, outras, não aceitavam nenhum

compromisso partidário. Durante as entrevistas (Anexo C), todas elas se mostraram

dispostas a compartilhar seus conhecimentos, experiências, reflexões, debates,

medos e desafios.

No total, foram realizadas 16 (dezesseis) entrevistas individuais (ver Quadro 1) e

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