NOTIFICAÇÃO Nº 007.2015.59.1.1.930434.2014.56225
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS, pela Promotora de Justiça Dra. D
ELISAO
LÍVIAV
IEIRALVESF
ERREIRA, no exercício regular de suas atribuições institucionais, de acordo com o artigo 129, inciso III, da Constituição Federal combinado com o artigo 26, inciso I, alínea “a”, da Lei Federal Nº 8.625, de 12.02.1993, e artigo 4º, inciso I, alínea “a”, da Lei Complementar Nº 011, de 17.12.1993, NOTIFICA o Sr. MARIO JORGE DIAS DA SILVA, requerente na Notícia de Fato nº 4921/2014, relatando supostas irregularidades e negligência no atendimento ao seu filho, que veio a óbito, no Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto, para tomada de ciência de indeferimento de pedido exposto em representação endereçada ao Parquet Estadual, tal como prevê o art.10º, §3º da Resolução nº 548/2007 – CSMP.
Abaixo, subscreve-se um extrato do DESPACHO Nº 009.2015.59.1.1.927834.2014.56225:
Trata-se de Notícia de Fato nº 4921.2014, oriunda de depoimento prestado junto à do 61ª Promotoria de Justiça Especializada no Controle Externo da Atividade Policial, que em razão de notícias aventadas encaminhou cópia do termo de declaração do Sr. Mário Jorge Dias da Silva, que alega ter ouvido dizer que a Polícia Militar, em cumprimento de Mandado de Apreensão, teria atirado em seu filho e encaminhado ao Hospital 28 de agosto para ser atendido; porém, segundo o declarante houve clara negligência médica no Hospital 28 de agosto em conter a infecção abdominal de seu filho, razão que motivou o mesmo a fazer um escândalo para que os médicos procedessem à cirurgia, tendo entrado em coma logo em seguida e, após, vindo a óbito sendo apontado a demora como nexo causal da morte.
Esses autos chegaram à 59ª PRODEDIC em 19.12.2014.
É o breve relatório.
Passo à análise.
No que se refere ao objeto da presente Notícia de Fato, verifica-se que se trata de manifestação em face de Direito à saúde sob caráter individual, de supedâneo Constitucional e legal, já que nossa Constituição a previu dotando-o de fundamentalidade, tratando-o como um Direito Social, estando ancorada às margens da atuação elevada do Ministério Público em sede de defesa do Estado Democrático e de Direito.
Isso se verifica em razão de o Estado de Direito Brasileiro constituir- se como um regime Democrático em que há um reconhecimento aos Direitos Sociais, daí falar-se em Estado do Bem-Estar Social, Welfare State, em que o Estado é o agente regulador da vida e saúde social, devendo promovê-los de forma direta, ainda que a padrões mínimos os direitos sociais, proporcionando cada vez mais, uma melhor qualidade de vida ao seu povo, especialmente pautados em normas voltadas a amparar a necessária intervenção estatal em busca de concretizar a dignidade da pessoa humana, o exercício direto seria o ideal; mas, dadas as condições plurinacionais do Estado, habilitamos a sociedade civil a exercer indiretamente atividades típicas de Estado.
Outrossim, tal matéria possui cunho individual, afastando-se, pois, da atuação ministerial, visto que ao Ministério Público foi atribuída especificamente a tutela dos interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos, sob a letra da Lei Complementar nº 11/93 (Lei Orgânica do Ministério Público), na alínea “a” do seu art. 3º, sendo vedada ao Parquet a defesa de direitos individuais simples.
Considerando que o requerente se julga lesado, faz-se necessário destacar que existe a possibilidade de postular judicialmente a defesa do seu particular interesse, sobretudo porque esse interesse consiste em garantia constitucional; o que o alça a um patamar mais elevado na hierarquia legal (CF, Art. 6º e 7º); devendo para tanto, constituir Advogado, ou não possuindo recursos buscar o amparo da digna Defensoria Pública do Estado do Amazonas em face de suas atribuições Constitucionais (art. 134, CF) e legais (Lei Complementar, arts. 3º-A, inc. I; 4º, incisos VIII, X e XI).
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Na senda das observações já ponderadas cabe refletir no âmbito penal a questão de tutelar como objeto jurídico a omissão de socorro, já que a lei penal (art. 135 do Código Penal) obriga a todo indivíduo que vive em sociedade o dever de prestar assistência a pessoas em certos casos e quando possível fazê-lo se não houver risco pessoal, consistindo em uma norma de solidariedade humana.
Para melhor reflexão trazemos o texto da lei:
“Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.”
Há aqui um delito omissivo próprio em razão de o próprio tipo penal descrever uma conduta omissiva tendo por verbo nuclear um não fazer (non facere), razão porque são unissubsistentes e crimes de mera conduta pois o tipo não presta referência a resultado naturalístico como elementar do tipo, sendo suficiente que o sujeito se tenha omitido indevidamente, independentemente da ocorrência de qualquer modificação no mundo exterior.
1A doutrina tem ensinado que no primeiro caso o crime é de perigo abstrato ou presumido; nos demais há um crime de perigo concreto, o que traz a exigência da demonstração do risco sofrido pela vítima certa e determinada.
2Aqui há um ambiente de natureza eminentemente técnica a ser trabalhado de modo a verificar todas as fases do procedimento realizado deste o ingresso do paciente no Hospital até o pós- operatório a fim de evidenciar o nexo de causalidade entre a conduta médica e o resultado morte; o que deve ser diligenciado junto ao CRM – Conselho Regional de Medicina, que no Capítulo III que trata da Responsabilidade Profissional tendo em vista as condutas ali vedadas.
1 ESTEFAM, André; GONÇALVES, Vitor Eduardo Rios. Direito penal esquematizado: parte geral. 3. ed.
rev. E atual. - São Paulo: Saraiva, 2014, ed. 2014.
2 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal parte especial. 6ª edição, 2014, editora
Reza o artigo primeiro:
“Capítulo III
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL É vedado ao médico:
Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência.
Parágrafo único. A responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode ser presumida.”
Extrai-se da presente norma que há uma previsão semelhante ao Código Penal de uma omissão caracterizada por uma conduta negligente, imprudente e imperita, que venha de qualquer modo a gerar dano ao paciente, dentre outras normas alí previstas, que uma vez sendo descumpridas dá azo a sindicância realizada no âmbito do Conselho Regional de Medicina, conforme Código de Processo Ético-Profissional, Resolução CFM nº 1.897/2009, que reza:
“Art. 7º - A sindicância será instaurada:
I - ex officio;
II - mediante denúncia por escrito ou tomada a termo, na qual conste o relato dos fatos e a identificação completa do denunciante.
§ 1º - A comissão de ética médica deverá encaminhar ao Conselho Regional de Medicina as denúncias que tiver ciência, nos termos da resolução específica.
§ 2º - As denúncias apresentadas aos Conselhos Regionais de Medicina somente serão recebidas quando devidamente identificadas e assinadas, com relato dos fatos, se possível, documentados.
§ 3º - Não ocorrendo a hipótese constante do § 2º, caberá ao conselheiro corregedor fixar prazo de 10 (dez) dias para a complementação da denúncia.
§ 4º - Caso o denunciante não cumpra o disposto no § 3º, caberá ao conselheiro corregedor encaminhar a matéria à câmara específica de julgamento, com despacho fundamentado, para seu arquivamento.”
Assim, em razão da legitimidade para apurar os fatos, cabe à família apresentar a notícia de fato ao Conselho Regional de Medicina para que apurar a conduta
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