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Modelização dos Adjectivos em Português

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Comemorações dos 75 anos do CLUL – Sessão de Estudantes 5 de Novembro de 2007

Modelização dos Adjectivos em Português

Sara Mendes

Grupo de Computação do Conhecimento Léxico-Gramatical Centro de Linguística da Universidade de Lisboa

Avenida Professor Gama Pinto, 2 1649-003 Lisboa

sara.mendes@clul.ul.pt

Resumo

Neste trabalho avançam-se algumas propostas de modelização dos adjectivos. A principal motivação para este trabalho relaciona-se com o facto de a investigação de larga escala sobre esta categoria ser parca e as propostas de modelização existentes não serem ainda satisfatórias. A abordagem adoptada inscreve-se no quadro do Léxico Generativo e passa essencialmente pela clarificação do papel dos eventos no comportamento desta categoria. Será determinante para a análise apresentada a possibilidade de associar eventos à semântica dos nomes e dos adjectivos, que permitirá explicar uma série de alternâncias observadas. Também a representação dos adjectivos em bases de dados de conhecimento linguístico é um dos objectivos deste trabalho. Especifica-se um pequeno conjunto de relações léxico-conceptuais para uma codificação integrada e com forte motivação linguística dos adjectivos em léxicos relacionais computacionais, e em particular em wordnets. 1 Introdução

A análise e a representação semântica dos adjectivos está longe de ser uma questão trivial, na medida em que estes, talvez mais do que qualquer outra categoria, evidenciam um comportamento linguístico muito particular, em especial no que respeita à sua plasticidade semântica em contexto, i.e., à forma como mudam de significado consoante o material lexical com que co-ocorrem.

De facto, um mesmo adjectivo para além de poder ocorrer em diferentes posições na frase, tanto como modificador do nome, como como complemento de um verbo cópula, pode, em contextos diferentes, revestir-se de significados distintos.

Para além disso, em contextos sintácticos equivalentes, adjectivos diferentes não estabelecem necessariamente relações de natureza idêntica com o nome modificado, para além de também poderem

apresentar restrições de co-ocorrência distintas. Na literatura, a maior parte dos trabalhos sobre a categoria adjectivo debruça-se sobre aspectos particulares do seu comportamento. Berwisch e Lang (1987), por exemplo, desenvolvem um trabalho que visa dar conta dos vários aspectos da estrutura e dos processos relacionados com um domínio restrito do conhecimento linguístico: o domínio dos adjectivos de dimensão em Alemão. No entanto, e apesar de dar conta de vários aspectos de estrutura relacionados com os adjectivos de dimensão, não deixa de ser um trabalho sobre um grupo bastante restrito de items lexicais. Bouillon (1998) analisa a questão da mudança de significado dos adjectivos no quadro do Léxico Generativo (Pustejovsky, 1995), tirando partido da estrutura qualia para derivar vários usos diferentes. No entanto, este trabalho centra-se apenas em alguns casos particulares, tais como o adjectivo vieux (velho), não chegando a avançar uma proposta verdadeiramente abrangente para esta questão.

Também para o Português, a investigação sobre esta categoria se tem concentrado em aspectos ou grupos particulares de adjectivos. Casteleiro (1981) debruça-se sobre as construções completivas de adjectivo. Na parte inicial deste trabalho apresenta-se uma caracterização das principais propriedades da categoria adjectivo. No entanto, apenas o comportamento do grupo particular dos adjectivos que seleccionam orações completivas é aprofundado. Amaro (2002), por seu lado, analisa a questão da mudança de significado. Esta autora aprofunda a questão da mudança de significado em adjectivos em posição prenominal, relacionando a mudança de significado com a posição relativa do adjectivo e do nome em Português.

Assim, quando comparada com a quantidade de trabalho dedicado aos nomes e verbos, a investigação de larga escala sobre adjectivos no quadro da semântica lexical tradicional tem sido escassa.

2 Principais questões empíricas

O estabelecimento de classes de adjectivos não é exactamente uma questão unâmime na literatura.

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Na verdade, existem classificações e tipologias muito diferentes e de natureza diversa: classificações semânticas, classificações sintácticas, classificações segundo o tipo de relação estabelecida entre o adjectivo e o nome a que este se aplica, etc..

Neste domínio, Demonte (1999) faz um trabalho descritivo rigoroso e abrangente para o Castelhano que, com as devidas adaptações, se pode aplicar aos adjectivos em Português (cf. Amaro, 2002; Mendes, 2006).

O trabalho aqui apresentado concentra-se nos adjectivos atribuidores de propriedades1. Apesar de

estes adjectivos apresentarem, de facto, comportamentos comuns, nomeadamente em termos do tipo de informação semântica que transportam, o que nos permite falar de uma grande classe de adjectivos, há, no entanto, elementos deste grupo, que em contextos sintácticos equivalentes, estabelecem relações distintas com o nome a que se aplicam (cf. (1) e (2)), para além de apresentarem restrições de co-ocorrência distintas, ilustradas em (3).

(1) a. o vestido vermelho

(existe um X tal que X é um vestido e X é vermelho)

b. o cais marítimo

(existe um X tal que X é um cais e X tem uma relação R1 com mar)

(2) a. O Carlos é um bom guitarrista.

(o Carlos é bom como guitarrista, i.e., toca bem)

b. O Carlos é um guitarrista bom.

(ambígua entre: o Carlos é bom como guitarrista, i.e., toca bem, e o Carlos é um guitarrista e o Carlos é bom)

c. O Carlos é um bom rapaz.

(o Carlos é um rapaz e o Carlos é bom) d. O Carlos é um rapaz bom.

(o Carlos é um rapaz e o Carlos é bom) (3) a. A Maria é/está alta.

b. A Maria *é/está contente. c. *Ele viu a Maria alta. d. Ele viu a Maria contente.

Partindo da observação de (1)a e (1)b podemos afirmar que, enquanto no primeiro caso o adjectivo

1 Na medida em que constituem uma classe fechada,

com propriedades muito particulares, os adjectivos que induzem alterações no conceito introduzido pelo nome, em vez de modificarem a sua denotação, como falso, não serão aqui objecto de discussão e análise, dada a necessidade de delimitar os conteúdos tratados, ditada pelas dimensões deste trabalho.

vermelho fixa o valor da propriedade cor de vestido, o adjectivo marítimo, em (1)b, não introduz uma propriedade única, mas sim um conjunto de propriedades, que corresponde ao grupo de traços que descrevem um outro nome – mar no exemplo que estamos a considerar aqui. Seguindo a terminologia generalizada na literatura, adjectivos como vermelho são qualificativos e adjectivos como marítimo relacionais. De facto, as formas como são atribuídas propriedades aos nomes em (1)a e (1)b são consideravelmente diferentes. A atribuição de uma única propriedade corresponde geralmente a uma relação de incidência dessa propriedade no referente nominal ao passo que a atribuição de conjuntos de propriedades implica relações semânticas mais complexas e diversificadas, tal como evidenciam as glosas dos exemplos aqui considerados. Na verdade, adjectivos relacionais como marítimo estabelecem uma relação entre o nome modificado, cais, no exemplo acima, e domínios que lhe são exteriores.

Demonte (op. cit.) estabelece uma grelha de propriedades que permite distinguir estas duas grandes subclasses de adjectivos – a dos adjectivos qualificativos e a dos adjectivos relacionais – dentro do grande grupo dos adjectivos atribuidores de propriedades. Para além de aspectos como a gradabilidade (os adjectivos qualificativos co-ocorrem com advérbios de grau, ao contrário do que acontece com os adjectivos relacionais) e a ocorrência em contextos atributivos e predicativos (os adjectivos qualificativos ocorrem em ambos os contextos, ao passo que os adjectivos relacionais ocorrem quase exclusivamente em contextos atributivos) e em posição pré e pós-nominal (regra geral, ambas as posições são possíveis para os adjectivos qualficativos, ao contrário do que acontece com os adjectivos relacionais, que só ocorrem em posição pós-nominal), já bastante descritos na literatura, esta autora, perante a constatação de que os critérios acima mencionados por vezes não são suficientes para proceder a uma distinção clara destas duas subclasses de adjectivos, propõe critérios adicionais que lhe permitem delimitar estes grupos com maior precisão: a ocorrência dos adjectivos em estruturas comparativas e a formação de sistemas de polaridade.

Apesar da sua relevância em termos de caracterização do tipo de relações estabelecidas entre adjectivo e nome, esta dicotomia entre adjectivos qualificativos e relacionais, por si só, não permite dar conta de contrastes como os apresentados em (3). Mesmo sendo ambos adjectivos qualificativos, ou seja, apresentando exactamente o mesmo comportamento linguístico

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relativamente aos critérios estabelecidos por Demonte (op. cit.), alta e contente evidenciam restrições de co-ocorrência distintas relativamente aos verbos cópula ser e estar.

Em línguas como o Português, estes dois verbos cópula são usados em contextos diferentes: ser co-ocorre com propriedades estáveis, permanentes, ao passo que estar está associado a propriedades entendidas como transitórias ou acidentais. No entanto, de acordo com Marrafa (2004) e trabalhos anteriores, a caracterização dos adjectivos com base nesta dicotomia não é trivial, já que muitos adjectivos são ambíguos neste aspecto, podendo co-ocorrer tanto com ser como com estar, uma ambiguidade que levanta problemas em termos de modelização: devemos considerar a existência de um significado base que pode alterar-se em contexto, ou antes a existência de dois adjectivos distintos no léxico, um associado a uma propriedade permanente e outro a uma propriedade acidental2?

Passando agora aos dados apresentados em (2), note-se que (2)a e (2)c, por um lado, e (2)b e (2)d, por outro, apresentam estruturas sintácticas equivalentes, não tendo, no entanto, as mesmas leituras disponíveis. As análises de Wheeler (1972) e Platts (1979), discutidas em Larson (1999), atribuem ambiguidades de leitura como a observada em (2)b à estrutura interna de certos adjectivos qualificativos. No entanto, conjuntos de dados como os apresentados em (2) constituem um problema para análises como estas, que justificam a ambiguidade destas estruturas com a complexidade semântica de certos adjectivos, já que nestes exemplos, e em particular em (2)b e (2)d (dados que apresentam estruturas sintácticas iguais, mas com diferentes leituras disponíveis), o único material lexical distinto é constituído pelos nomes modificados pelo adjectivo bom: guitarrista em (2)b e rapaz em (2)d. Larson (op. cit.), na sequência dos trabalhos de Davidson (1967) sobre advérbios, faz uso da Semântica de Eventos para justificar a ambiguidade de estruturas como a apresentada em (2)b: as duas leituras possíveis são atribuídas à existência de dois traços disponíveis para serem modificados em nomes de actividade como guitarrista: o adjectivo tanto pode modificar a entidade denotada por este nome, como o evento que lhe está associado. Esta análise permite dar conta do contraste entre (2)b e (2)d: rapaz, ao contrário de guitarrista, não está associado a

2 Não vamos aprofundar a análise destes dados aqui.

Para uma discussão detalhada e uma proposta de modelização no mesmo enquadramento teórico escolhido para a análise apresentada neste artigo, ver Amaro et al. (2006).

qualquer evento, logo o adjectivo bom tem apenas um traço disponível para modificar, pelo que (2)d tem apenas uma leitura possível3. A associação de

eventos à semântica dos nomes e dos adjectivos parece, assim, ser crucial para explicar contrastes como os que temos estado a discutir.

Os dados apresentados nesta secção tornam muito claro que apenas uma combinação de critérios sintácticos e semânticos (tal como evidencia a grelha de propriedades constituída por Demonte (op. cit.)) nos permitirá dar realmente conta do comportamento linguístico dos adjectivos e identificar os traços comuns relevantes para cada grupo de adjectivos. Por outro lado, só uma descrição rigorosa e clara poderá lançar bases sólidas para uma modelização precisa desta categoria.

3 Modelização

Uma vez que, para além dos aspectos empíricos discutidos na secção anterior, este trabalho tem também preocupações teóricas e computacionais, e dado o comportamento semântico não trivial dos adjectivos, em particular relativamente à mudança de significado consoante o contexto, torna-se crucial a escolha de um modelo de semântica lexical com recursos suficientes para dar conta da interpretação de palavras em contexto.

De facto, perante o comportamento sintáctico-semântico observado no objecto de estudo deste trabalho, a escolha de um modelo que nos permita derivar um número potencialmente infinito de sentidos a partir de recursos finitos é fundamental. O Léxico Generativo (LG, daqui em diante) consiste num sistema de estruturas de traços e num pequeno conjunto de regras que permitem fazer uma representação semântica estruturada dos itens lexicais, enquanto dá também conta do uso criativo de palavras em contexto e da interacção entre sintaxe e semântica.

Por outro lado, a clarificação do papel dos eventos e a sua modelização permite dar conta de uma série de alternâncias como evidenciam os dados discutidos na secção 2. Incorporada no LG, a estrutura eventiva introduz na análise linguística um nível de representação muito útil. Tal como demonstra Pustejovsky (1991), para analisar fenómenos como o aspecto ou a Aktionsart, são

3 Esta análise, que atribui ao nome toda a

‘responsabilidade’ pelo tipo de ambiguidades observadas, não permite, no entanto, dar conta de todos os dados, já que se registam também contrastes em estruturas em que apenas o adjectivo, ou algum aspecto com ele relacionado, pode ser responsável pelas diferentes leituras possíveis. Deixamos, no entanto, a discussão destes dados fora deste trabalho.

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necessárias distinções mais finas do que os tipos de evento. Assim, no LG, os eventos são descritos em termos das suas estruturas subeventivas, o que tem consequências teóricas importantes, já que disponibiliza uma semântica de eventos definida em termos das propriedades configuracionais internas do evento. Mas o aspecto verdadeiramente determinante para a nossa análise é a possibilidade de associar eventos à semântica dos nomes e dos adjectivos, na medida em que isso nos permite, não só dar conta dos contrastes observados e analisados na secção anterior, mas principalmente avançar uma modelização homogénea de adjectivos com características aparentemente muito particulares, como por exemplo, os adjectivos modificadores de eventos (para a análise detalhada destes adjectivos, no quadro do LG, ver Mendes (2005)). Na verdade, esta associação de eventos à semântica dos nomes permite-nos, por um lado, avançar uma análise única para adjectivos modificadores de entidades e adjectivos modificadores de eventos, e, por outro lado, aproximar adjectivos modificadores de eventos e advérbios.

Um outro objectivo deste trabalho é a representação dos adjectivos em bases de dados de conhecimento linguístico. Assim, tal como se apresentará na secção 4, foi desenvolvida investigação no sentido de incorporar os resultados da análise dos dados aqui apresentados num léxico relacional: a WordNet.PT (Marrafa, 2001; Marrafa, 2002). A suportar a escolha deste modelo de léxico relacional está o facto de, pela sua plausibilidade psicológica e pelo papel crucial que tem desempenhado nas mais diversas aplicações computacionais (e.g. aplicações de tradução automática e de extracção de informação, entre muitas outras), este modelo ser amplamente utilizado como representação de conhecimento lexical em sistemas computacionais.

4 Modelização de adjectivos em léxicos relacionais computacionais

O problema da organização lexical dos adjectivos está longe de ser uma questão consensual, encontrando-se na literatura múltiplas propostas divergentes (cf. Gross, Fischer e Miller, 1989; K. J. Miller, 1998; Hamp e Feldweg, 1998; Alonge et al., 2000; Peters e Peters, 2000)4. Nesta

secção demonstraremos que é possível captar a semântica de base dos adjectivos em wordnets utilizando apenas um pequeno conjunto de relações léxico-conceptuais. Para cumprir este objectivo foram definidas relações transcategoriais com forte

4 Para uma discussão detalhada destes trabalhos no

contexto da modelização dos adjectivos em léxicos relacionais ver Marrafa e Mendes (2006).

motivação linguística.

Apesar de se poder extrair informação estrutural significativa da organização hierárquica dos itens lexicais, em particular no caso dos verbos e dos nomes, a extensão das wordnets a todas as categorias envolve a revisão de algumas relações usadas habitualmente, assim como a especificação de várias relações transcategoriais.

De facto, os adjectivos evidenciam uma organização semântica muito particular que idealmente deve ser espelhada em bases de dados de conhecimento linguístico, como as wordnets.

Nesta secção definir-se-á um pequeno conjunto de relações transcategoriais com o qual é possível espelhar as principais propriedades caracterizadoras dos adjectivos apresentadas e discutidas na secção 2, e, assim, fazer com que as classes de adjectivos aí identificadas emerjam das relações codificadas na rede.

4.1 Relações entre adjectivos e nomes

Fellbaum et al. (1993) e Miller (1998) afirmam que, ao contrário do que acontece com os nomes e verbos, a relação de hiperonímia não é a principal relação estruturante no caso dos adjectivos. Segundo estas autoras, na base da organização dos adjectivos está antes a oposição entre grupos de adjectivos. Estes grupos definem-se em torno de adjectivos que se opõem por antonímia, e aos quais se associam outros por semelhança semântica, dando origem a clusters.

Assim, e na sequência das estratégias discutidas em Mendes (2006), apresenta-se de seguida um pequeno conjunto de relações considerado suficiente para modelizar os adjectivos atribuidores de propriedades em wordnets, garantindo simultaneamente a adequação desta modelização relativamente aos fenómenos empíricos observados.

4.1.1 Relações estruturantes

Em linhas muito gerais, aquilo que caracteriza os adjectivos qualificativos é a sua capacidade de atribuir um determinado valor a um dado atributo do nome com que se relaciona. Com o objectivo de dar conta deste facto, definiu-se a relação semântica caracteriza quanto a/é caracterizado por para ligar cada adjectivo qualificativo ao atributo por ele modificado. Para além de codificar uma das principais propriedades carcaterizadoras desta subclasse de adjectivos, esta relação, em combinação com a relação de antonímia5, permite fazer emergir os clusters de adjectivos referidos acima, sem ter de os codificar directamente na

5 Testes associativos mostram que a antonímia é

também uma das relações estruturantes na organização dos adjectivos.

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rede. De facto, deixa de ser necessário exprimir directamente na rede a relação de semelhança semântica, que é, aliás, algo difícil de definir com precisão, já que pode deduzir-se esta semelhança a partir da identificação dos adjectivos que se encontram ligados a um mesmo nome, lexicalização do atributo por eles modificado (para uma discussão comparativa mais detalhada da forma de modelização aqui proposta e a utilizada na WordNet de Princeton (Miller, 1990; Fellbaum, 1998), ver Mendes (2006)).

Quanto aos adjectivos relacionais, como vimos em secções anteriores, sendo também atribuidores de propriedades, estabelecem, no entanto, relações semânticas mais complexas e diversificadas entre o conjunto de propriedades que introduzem e o nome modificado, funcionando frequentemente como apontadores para a denotação de um outro nome. Para codificar estes adjectivos na rede definiu-se a relação está relacionado com, que permite exprimir esta ligação subespecificada entre o adjectivo e o nome que lexicaliza o conjunto de propriedades introduzido pelo adjectivo.

Este pequeno conjunto de relações – as relações caracteriza quanto a/é caracterizado por e de antonímia para os adjectivos qualificativos e está relacionado com para os adjectivos relacionais – permite-nos codificar os traços característicos destes adjectivos em wordnets, bem como, com as devidas adaptações, noutros léxicos relacionais. Para além disso, e na medida em que as relações semânticas definidas acima espelham propriedades caracterizadoras das duas subclasses de adjectivos em estudo, torna-se possível deduzir a pertença dos itens lexicais codificados na rede a cada uma destas subclasses. Em suma, as classes de adjectivos discutidas neste trabalho emergem da informação codificada na rede, através das relações semânticas estabelecidas entre os itens lexicais. 4.1.2 Relações adicionais

Um dos aspectos comummente observados em relação aos adjectivos prende-se com o facto de esta categoria evidenciar uma rede de relações esparsa. Ora, dado que em léxicos relacionais como as wordnets, o significado dos itens lexicais codificados é dado pela sua rede de relações com os outros itens lexicais, quanto mais densa for esta rede, mais ricas e precisas são as entradas. O incremento da densidade da rede é, pois, de particular importância do ponto de vista de aplicações baseadas em wordnets, já que quanto maior for a riqueza da informação, melhor será o seu desempenho.

Assim, no sentido de aumentar a densidade da rede de relações dos adjectivos e, consequentemente, a precisão da sua modelização,

definiu-se uma nova relação que permite codificar propriedades proeminentes dos nomes, propriedades estas, frequentemente lexicalizadas por expressões adjectivais: a relação tem como característica ser/é característica de.

Embora o estatuto desta relação em termos de conhecimento lexical seja discutível, já que frequentemente codifica informação que corresponde essencialmente a conhecimento do mundo, a sua relevância para aplicações baseadas em wordnets, particularmente aquelas que usam sistemas de inferência, é inegável. Também do ponto de vista das próprias wordnets, esta relação é importante, na medida em que permite que as entradas codificadas na rede sejam mais ricas e precisas.

5 Conclusão

Na análise proposta neste trabalho defende-se que a clarificação do papel dos eventos nas restrições de co-ocorrência dos adjectivos e nas alternâncias observadas, em particular a sua associação à semântica dos nomes e dos adjectivos, permite dar conta dos dados empíricos aqui discutidos. Para além disso, esta análise abre caminho para uma modelização homogénea de adjectivos modificadores de entidades e adjectivos modificadores de eventos, e para uma aproximação do tratamento dos adjectivos modificadores de eventos e dos advérbios.

É também especificado um pequeno conjunto de relações léxico-conceptuais para a codificação da categoria adjectivo em léxicos relacionais computacionais, como as wordnets. Na medida em que implica a implementação de relações transcategoriais, a codificação dos adjectivos em léxicos relacionais contribui para o aumento do poder expressivo destes modelos, pois acaba por ter um impacto positivo na precisão da codificação de todas as categorias.

6 Agradecimentos

À Raquel Amaro e à Professora Palmira Marrafa, pela leitura e comentário deste trabalho.

Agradeço à Fundação para a Ciência e Tecnologia que tem financiado grande parte da investigação aqui apresentada através da bolsa de doutoramento SFRH/BD/8524/2002.

Referências

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