Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
VEREDAS 9(portoAlegre, 2008) 115-135
Aspectos da nacionalizacao do Portugues em Mocambique
GREGORIO FIRMINO Universidade Eduardo Mondlane
Descolonizlimos0 Land-Roverl Ja ndoecarro cobrador de impastos Nosdescolonizamo-lo Ja ndoeterror quando entra na povoaciio Ja ndoeLand-Rover do induna e do sipaio (..) Com a nossa luta Transformdmos em amigo este inimigo Nos,descolonizadores Libertdmos a Land-Rover Porque tambem ficou independente, afinal Transformaram-se as objectivos que servia Ehojeemilitante mecdnico Um desviado reeducado Uma prostituta reconvertida em nossa companheira Descolonizdmo-la e com ela casamos E ndo haverd divorcio.
(...) Descolonizamos uma arma do inimigo Descolonizdmos a Land-Rover!
I Excertos de urn poema de MAGAIA, Albino. In:MENDON~A, Fatima; SAUTE, Nel- son.Antologia da Nova Poesia Mocambicana. Maputo: Associacao dos Escritores Mo- cambicanos, 1989.p.6-8.
Versão integral disponível em digitalis.uc.pt
116
Introducao
GREGORIO FIRMINO
Urn dos grandes dilemas que caracteriza a fase da pos-revolucao em contextos pos-coloniais relaciona-se com a construcao de uma na-
<;ao-estado que se defina a partir de urn "nos" colectivo, promoven- do-se a inclusao de todas as forcas sociais, por vezes, centrifugas, que se uniram durante a revolucao nacionalista contra 0 inimigo comum, ou seja, 0 poder colonial. Para Clifford Geertz, 0 dilema surge da tensao de dois impulsos, 0 essencialismo e 0 epocalismo, que remetem, respectivamente, para a "tradicao" ou para "moderni- dade". Esta tensao
e
melhor ilustrada pela questao linguistica por que passam os paises pos-coloniais, uma vez que "ideologias nacio- nalistas constituidas a partir de formas simbolicas baseadas nas tra- dicoes locais - que sao, isto C, essencialistas - tendem, como as lin- guas vernaculares, a serem psicologicamente proximas mas social- mente isolantes; se forem constituidas a partir de formas inseridas no movimento geral da historia contemporanea - isto C, epocalistas - elas tendem, como as linguas francas, a serem socialmente des- provincializantes mas forcadas sob 0 ponto de vista psicologico'' (p.242-3, traducao minha).' Dai que, por exemplo, a adopcao de politi- cas linguisticas exoglossicas em Africa (HEINE 1990; 1993) nao possa ser uma questao pacifica, suscitando, desde 0 advento das in- dependencias africanas, acesos debates principalmente em relacao ao uso da lingua associ ada ao poder colonial.0 debate, normal men- te, junta dois grupos, que Schimied (1991) designou por "abolicio- nistas" e "adaptacionistas", que divergem quanta
a
politica de ma- nutencao das linguas ex-coloniais. Os abolicionistas, que prop5em a exclusao das linguas ex-coloniais, enfatizam consideracoes cultu- rais, ou seja, valores essencialistas, como a prornocao da africanida- de e a elirninacao de vestigios coloniais, enquanto os adaptacionis- tas, que apelama
manutencao das linguas ex-coloniais, dao mais peso a consideracoes praticas, como 0 funcionamento das institui-2"nationalist ideologies built out of symbolic forms drawn from local traditions - which are, that is, essentialist - tend, like vernaculars, to be psychologically immediate but so- cially isolating; built out of forms implicated in the general movement of contemporary history- that is, epochalist - they tend, like lingua francas, to be socially deprovincializing but psychologically forced" (GEERTZ 1973, p. 242-3).