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Os caminhos do onde na história e nas gramáticas 1.1

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Academic year: 2023

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AS FUNÇÕES DO ONDE NA COMUNIDADE DE FALA DE JOÃO PESSOA – PB: UMA ANÁLISE FUNCIONALISTA

Tadeu Luciano Siqueira Andrade – UNEB/Campus IV

0 Introdução

Os itens ou estruturas de uma língua apresentam um caráter dinâmico, sofrem transformações nos níveis sintático, semântico, morfológico e fonético. Essas transformações ocorrem de acordo com os usos que o falante faz da língua nos diversos contextos discursivo-pragmáticos.

Fundamentando-se nesses pressupostos, esta pesquisa consiste na análise das funções do item linguístico onde no português falado na cidade de João Pessoa – capital do Estado da Paraíba. Escolhemos os pressupostos do Funcionalismo norte-americano que nortearão a análise e descrição dos dados referentes às funções desse item nos usos linguísticos. O corpus desta pesquisa é composto de entrevistas que integram o banco de dados do Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba (doravante VALPB).

Dividimos este trabalho em três partes: Na primeira, contextualizamos, em linhas gerais, o aspecto diacrônico do onde e seu comportamento na gramática tradicional (GT), na segunda, descrevemos os pressupostos teórico-metodológicos do funcionalismo, considerando-se os processos de gramaticalização e da iconicidade no estudo da mudança linguística. A terceira consta da análise e descrição do aspecto multifuncional do onde no falar pessoense. Concluímos com as nossas considerações acerca do fenômeno descrito a partir dos resultados obtidos.

1. Os caminhos do onde na história e nas gramáticas

1.1. Do latim ao português

No latim vulgar, o advérbio/pronome1 onde apresentava duas formas ubi e unde que denotavam espaço. Essas formas eram incluídas na classe dos advérbios pronominais e apresentavam os sentidos lugar estático (em que), movimento (lugar a que) e tempo. No latim clássico, o onde tanto apresentava uma diversidade de usos, segundo Saraiva (1993, p. 1237), como tempo, conclusão, exclusão, consequência, proximidade, posse e outros quanto uma variedade de formas, por exemplo: ibi, unde, i, u, hu, hum, umde.

1.2. O onde no português: do período arcaico ao contemporâneo

Andrade (2008), descrevendo o onde em textos das diferentes sincronias do português – do período arcaico ao contemporâneo, constatou que esse advérbio/pronome apresentava uma diversidade de funções que, em alguns períodos da história da língua, desapareceram, ressurgiram, conviveram com outras formas e funções em outros períodos. A cada fase da história do português, o comportamento multifuncional do onde era ampliado, estabelecendo relações intra ou extrafrásicas entre os argumentos do discurso por necessidades argumentativas (cf. BONFIM, 1993). Em síntese, nos usos e nas diversas fases do português, o onde apresentou as seguintes funções: lugar, tempo, direção, instrumento, causa, explicação, posse e outras.

1. 3. O onde nas gramáticas: entre pronome e advérbio

Há alguns itens linguísticos que apresentam uma flutuação na categorização gramatical, uma vez que não existem categorias rígidas de fronteiras bem delimitadas. Entre esses itens, destacamos o onde por pertencer à classe dos advérbios e dos pronomes. Na classe adverbial, é classificado como advérbio de lugar, coesivo e interrogativo; na pronominal, é inserido em duas subclasses: relativo e indefinido. Embora

1 Usamos esta nomenclatura considerando a inserção do onde nas categorias de advérbio e pronome.

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o onde esteja inserido nessas classes, entre os gramáticos não há um consenso. Analisando três gramáticas, constatamos divergências. Para Bechara (2000, p. 171), o onde é um advérbio relativo e interrogativo.

Celso Cunha e Cintra (1985, p. 532) classificam-no como um advérbio-relativo. Por apresentar características de advérbio e de pronome. Rocha Lima (1994, p. 333) considera a mesma classificação proposta por Cunha e Cintra, resume as funções do onde em um pronome-advérbio com valor locativo.

Said Ali ([1923], 1963, p. 185) mostra que essa problemática na categorização do onde vem das fases remotas da língua portuguesa, em que o hu (onde) e onde exerciam também as funções de um pronome relativo. Apesar das divergências entre os gramáticos como também a flutuação do onde nas categorias adverbial e pronominal, há um ponto de interseção entre eles. Trata-se, portanto, de um adjunto adverbial de lugar.

2. O funcionalismo: estudo da língua em uso

O funcionalismo foi um movimento dentro do estruturalismo que se caracterizou pela concepção de que o aspecto fonológico, sintático, morfológico ou semântico é condicionado pelo papel que exerce no contexto em que é usado. Os funcionalistas consideram a língua como uma estrutura maleável, sujeita às pressões advindas das diferentes situações comunicativas. Dessa forma, os itens ou estruturas linguísticos não podem ser analisados sem referência à sua função comunicativa, porque os usos são explicados com base no contexto linguístico e na situação extralinguística. As ideias funcionalistas, com diversas formas de se analisar a língua a partir dos usos, proliferam em diversas partes do mundo como: em Londres com Halliday e Fisrt, na Holanda com Reichig e Dick, em Genebra com Bally e Tesnière. Nos Estados Unidos, a partir dos anos 70, os estudos funcionalistas se desenvolveram com as idéias de Thompsom, Givon, Hooper e outros.

Como os itens e estruturas na língua estão sempre em mobilidade, a gramática de uma língua está sempre em processo de constituição. Por isso, abordaremos algumas questões acerca da gramática.

2.1. A gramática no funcionalismo: a interrelação com o discurso

No funcionalismo, a gramática de uma língua apresenta um caráter dinâmico. Novas estruturas morfossintáticas estão surgindo, umas se tornam arcaicas, outras são tidas como padrão a ser seguido, algumas em competição com as já existentes. Isso prova que a gramática de uma língua se constrói no dia-a-dia, refutando, assim, a tese de uma gramática concluída. O surgimento de novas estruturas é motivado por fatores de natureza comunicativa e cognitiva. O falante, ao produzir seu discurso, opera o conhecimento linguístico, adequando-o à situação discursivo-pragmática. Defendemos, portanto, a concepção de uma gramática emergente (HOPPER, 1987) e uma sintaxe advinda do discurso (GIVÓN, 1991). Por isso, não podemos falar numa perspectiva funcionalista separando a gramática do discurso e vice-versa, entre eles uma interrelação. Sendo a gramática o conjunto de regularidades oriundas do uso da língua e essas regularidades são consequências de nossas habilidades interativas e comunicativas. Por outro lado, o discurso é o uso da língua em situações reais de interação. É o discurso que possibilita atualização da gramática nos diversos contextos.

Dessa forma, a gramática é em processo flexível e adaptável, alcança um elevado grau de funcionabilidade no discurso que ocorre graças aos vários princípios do funcionalismo, como a marcação, iconicidade, gramaticalização informatividade e transitividade (cf. FURTADO DA CUNHA, 2008, p.

165). Neste trabalho, considerando-se o fenômeno analisado, abordaremos apenas questões inerentes à gramaticalização e iconicidade.

2.1.1. Gramaticalização

Entendemos a gramaticalização como um processo de mudança linguística, segundo o qual os itens ou estruturas linguísticos em determinados contextos passam a assumir funções gramaticais diferentes da função prototípica. O item ou estrutura gramaticalizados continuam a desenvolver novas

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funções gramaticais, a exemplo do advérbio talvez – tal vez (advérbio de tempo – português arcaico) >

talvez (advérbio de dúvida). A gramaticalização é um processo unidirecional em que um item em um estágio A passa para B e nunca o contrário. O item gramaticalizado migra do sentido mais concreto para o mais abstrato, conforme veremos mais adiante.

Alguns exemplos de gramaticalização:

a. A mudança de verbo pleno para morfema: Hei de cantar > cantarei.

b. A passagem do onde de advérbio de lugar para tempo: Na cidade onde nasci, no período da ditadura, onde não havia respeito aos nossos direitos. (exemplos nossos)

2.1.2. A iconicidade

Definimos a inconicidade como a correlação natural e motivada entre forma e função, isto é, a relação entre o código linguístico e seu significado. No funcionalismo, a estruturas da língua reflete,de certo modo, a estrutura da experiência. Sendo a linguagem uma faculdade mental, supomos que a estrutura linguística revela as propriedades da conceitualização humana do mundo ou o funcionamento da mente (cf. TAVARES e FURTADO DA CUNHA, 2007). O que experenciamos é mais icônico e mais usado na interação, a exemplo da concordância entre o sujeito distante do predicado: quanto mais distante o sujeito do núcleo do predicado, maior a possibilidade da não concordância. Os subprincípios da inconicidade: da quantidade, da integração e da ordenação linear, fundamentam que a gramática de uma língua está em constante alteração e em um processo infinito de renovação.

3. O onde e sua mulfuncionalidade

Na língua em uso, formas e funções estão sempre em mobilidade. Uma forma pode apresentar mais de função e vice-versa (cf. ANDRADE, 2008), a exemplo das várias funções que o onde exerce no discurso, além das que a GT postula, conforme abordaremos a seguir.

“Se algo é posto em uso o é por conta de algum papel que desempenha no discurso”

(TAVARES, 2004, p. 165). Todos os usos de um item linguístico no discurso se dão porque há uma função no discurso. Nada na língua ocorre aleatoriamente.

Dessa forma, descrevemos e analisamos os diversos usos do onde na comunidade de fala de João Pessoa. Registramos algumas ocorrências desse item nas entrevistas com falante de 4 a 8 anos de escolaridade. Ressaltamos que a escolha no que alude à escolaridade ocorreu, tendo em vista a estratificação proposta pelo VALPB.

Ao lado das funções prototípicas, ou seja, as que a GT descreve, o onde exerce outras funções no discurso. Não separamos funções discursivas e funções gramaticais, uma vez que todas essas funções estão presentes na gramática e no discurso que, por sua vez, são interrelacionados. Por questões didáticas, analisamos o onde em dois blocos: as funções prototípicas e outras funções.

3.1. Funções prototípicas

Ø Onde relativo-adverbial2 – introduz uma cláusula relativa, seja com o antecedente expresso ou latente. Para não adentrarmos na discussão acerca do onde, pronome relativo ou advérbio de base

2 Alguns gramáticos, como Rocha Lima (1994), Celso Cunha e Cintra (1985), já atribuíram essa função ao onde em relação à sua atuação sintática nas orações relativas.

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pronominal, como fazem os gramáticos, consideramos a dupla função do onde: Do ponto de vista semântico, expressa uma circunstância locativa. Sintaticamente retoma um constituinte de uma cláusula, projetando-o na outra, como no exemplo:

(1) E* Dos bairros que o senhor já morou, qual o que senhor mais gostou e que deixou mais saudade?

I. *É Mangabeira eu gosto mais [man-] onde eu nasci, me criei e tal. (JS3).

O onde retoma o termo Mangabeira, projetando-o na cláusula seguinte, constituindo uma cláusula relativa.

Ø Onde conjuntivo – também chamado de advérbio coesivo, introduz uma interrogativa indireta e, ao mesmo tempo, estabelece uma coesão entre as cláusulas que compõem o enunciado, como em:

(2) E*Como você conheceu a sua esposa?

I* (...) me procurando pro pai dela dizer onde ela tava né por que ela tinha me procurado o irmão dela. (GSN).

Ø Onde indefinido – alguns gramáticos consideram o onde também como um pronome indefinido, a exemplo de José Oiticica (1940, p. 42) que o insere na classe dos pronomes adverbiais. Outros gramáticos classificam-no como um relativo indefinido, por não apresentar antecedente expresso, defendendo a possibilidade de seu desdobramento em no lugar em que, como ocorre no exemplo:

(3) E* como o senhor tá se virando?

I*. Onde eu tiver eu lancho e faço tudo, tudo mais e assim vai indo. (JS)

Ø Onde interrogativo – trata-se do onde empregado como um advérbio interrogativo. Iniciando uma oração interrogativa direta, como em:

(4) E* Ô Josias, seu Josias, o senhor acha que o estudo lhe fez falta em alguma coisa?

I. (...) * Quando ele saiu, ele disse: “Ela mandou eu vim amanhã”. Eu digo foi mesmo? Então valeu! *apertei a mão dela assim e disse: “Boa sorte no emprego”. Fui embora. *agora diga onde? * Na Toália, né? (JS).

3.2. Outras funções

Ø Onde nocional – Trata-se de uma projeção do domínio espacial para outro domínio. O ponto de referência não é um lugar específico, mas um lugar concebido pelo falante ou que existe na sua mente. A abordagem do espaço é de forte cunho cognitivo de tal modo que o homem se apropria desse espaço em todos os seus sentidos, olhando o que rodeia, ouvindo sons, tateando superfícies, volumes, distância e outros aspectos, como em:

(05) E* O que seria diferente na sua vida se tivesse continuado os estudos, o que poderia ter sido?

(...) aí fui pra o Recife, (hes) conclusão final dos exames que teriam sido feito onde eu podia ser reprovado (RRB).

3 As siglas entre parênteses no final dos exemplos referem-se à identificação do informante no VALPB.

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O falante, relatando a sua inserção no Colégio Militar, usa o termo exames que não faz referência a um lugar físico, e sim a uma situação que ocorre em um determinado espaço físico. Há uma abstratização, isto é, do mais concreto para o menos concreto. O onde deixa de se referir a um lugar físico para fazer referência a um lugar abstrato, projetado na mente do falante.

Ø Onde temporal – houve uma migração do onde, do domínio espacial para o temporal. Podemos dizer que se trata de um onde espácio-temporal. Nas ocorrências do onde como espácio- temporal, percebemos que o falante, ao usar esse item, não faz uma referência a um lugar físico específico, mas a um espaço temporal, indicando um evento em um determinado percurso do tempo. Registramos em:

(06) E* como foi?

I. (...) Cê lembra-se que nós viemos aqui com o engenheiro de Pernambuco tirar o nível desse terreno, medir esse terreno, medir tudo, num tempo de chuva onde era cercado com muita madeira aqui (VALPB – III, p.77, l. 24).

O onde está retomando um espaço que não é o terreno, mas um espaço de tempo correspondente ao período de chuva. A correlação entre lugar e tempo é tão próxima que, trocando o onde por quando, percebemos que não houve alteração no sentido do enunciado:

(...) medir esse terreno, medir tudo, num tempo de chuva quando era cercado com muita madeira aqui.

Ø Onde universal – adotamos essa terminologia com referência aos casos nos quais o onde se comporta como um substituto de outro relativo, por exemplo, que, considerado por alguns lingüistas como um relativo universal (MATTOSO CÂMARA, 1975), devido à amplitude de seu emprego. Esse comportamento mostra uma variação entre onde e que e nos usos. Encontramos, no corpus, casos dessa natureza, em:

(07) E* De que brincadeira o senhor mais gostava?

I* Bom a brincadeira da época era:: principalmente era carnaval, quando havia carnaval perto de onde eu morava tinha um clube onde sediava sob o comando do maestro.

(ERG)

Embora o termo clube seja o lugar onde era realizado o carnaval, nesta situação, ele se encontra na posição de sujeito, aquele lugar que sediava o evento. Isso fundamenta o fato de o onde tornar-se um relativo universal através das regularidades do uso. Verificamos também que há casos nos quais, esse item substitui o que comum uma conjunção integrante, introduzindo cláusulas completivas em:

(08).E*Fale um pouco de sua família.

I. (...) Quer dizer esse pessoal sabia onde tinha a inteligência dele pra desenvolver e administrar (ERG).

Ø Onde argumentativo4: o onde exerce funções que possibilitam a organização interna do discurso.

Nessa, organização, além das funções já explicitadas, esse item também funciona como um

4 Adotamos essa nomenclatura, fundamentando-nos em Martelotta (2003: p. 83) ao conceber os dois processos de mudança: a gramaticalização e a discursivização. Nesta, o item assume funções discursivas. Naquela, com a mudança, o item exerce funções na organização interna do texto, como alguns advérbios no português que, passando a integrar a categoria das conjunções, se comportam como operador argumentativo.

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operador argumentativo, estabelecendo relações semântico-pragmáticas. Por isso, adotamos a nomenclatura de onde argumentativo. Na pesquisa, registramos ocorrências de onde como operador argumentativo que, atuando como um anafórico, estabelece relações de explicação, conclusão, oposição e adição. Os exemplos abaixo mostram essas relações:

(09). Mais também o senhor só procurou lá no sexto andar, procurei no terceiro andar, mais num procurou no quarto andar, onde aqui [ne] nesse quarto andar a a localização.

Ele disse: Realmente a gente passou o dia sondando isso aqui ninguém encontrou nada.

(RRB).

(10).E* Antes de morar neste bairro, onde o senhor morava?

I* Eu morava na rua Aragão e Melo onze vinte e oito no bairro da Torre. Já me mudei pra aqui prevendo que isso aqui ia melhorar muito rápido, mas a melhora não aconteceu porque nem a prefeitura nem o governo estadual se importam atualmente com a situação de residência nesse bairro. Haja visto, somente o que é visto nas vistas do prefeito e inclusive do governador, é a orla marítima, aonde ali eu tenho certeza que tem serviço de limpeza que funciona dia e noite (JS).

(11). Então eu podia entrar no no térreo, quase no térreo no terceiro andar ou deixar o o quinto o sexto lá em cima que era uma diferença maior lá eles já tinham trabalhado onde num tinha conseguido debelar. Isso aí me deu sorte dentro da eletrotécnica matoso (RRB).

(12). Fui morar na Benjamim Constants, em uma casinha muito pobre, naquele tempo com meu pai, e minhas primas e depois meu pai casou novamente, uns anos depois casou novamente aonde a sua segunda esposa já veio com quatro filhos (RRB).

Usando as mesmas ocorrências acima, permutamos o onde por conectivos correspondentes às relações semântico-pragmáticas citadas, percebemos a coerência, conforme mostramos em.

· Mais não procurou, pois tinha aqui nesse quarto a localização.

· Somente o que é visto pelo prefeito e inclusive do governador é a orla marítima, (aonde) por isso, ali eu tenho a certeza que tem serviço de limpeza.

· (...) lá eles já tinham trabalhado mas não tinha conseguido debelar.

· e depois meu pai casou novamente, uns anos depois casou novamente e a sua segunda esposa já veio com quatro filhos.

Em (09), ocorre uma relação explicativa, o falante não resolveu o problema porque não procurou no andar onde havia o vazamento, em (10), há a conclusão que o falante tem acerca do serviço de limpeza na orla. Para ele, a orla é vista pelas autoridades. Em (11), o item onde adiciona argumentos, equivalendo a um conector adversativo. Já em (12), o falante fala do casamento de seu pai e adiciona outro argumento, a esposa com quatro filhos.

Nossas Considerações

Tendo em vista as propriedades sintáticas, semânticas e discursivo-pragmáticas do onde nas ocorrências analisadas, percebemos sua atuação nos diversos níveis da língua. Com isso, dizemos que as estruturas de uma língua estão a serviço da gramática das relações discursivas. Assim, a gramática se revela como uma rede de relações, e o estudo do item lingüístico passa a ser considerado como o estudo das relações que são estabelecidas entre os componentes morfológico, sintático e semântico de uma língua. Estamos tratando, pois, de uma gramática como um conjunto de regularidades oriundas do uso e um item cujas funções estão no nível da gramática e do discurso.

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Através dos estudos funcionalistas, percebemos a evolução da língua, suas variações e mudanças. Dessa forma, o uso é a condição sine qua non para qualquer investigação dos fenômenos lingüísticos. Nos usos, encontramos a explicação para as funções dos itens linguísticos que podem ser explicados através de duas formas: funções que já existiram ou as várias possibilidades cognitivas que o falante tem na sua criatividade linguística, a exemplo da multifuncionalidade do onde nos dados analisados.

Referências

ANDRADE, Tadeu Luciano Siqueira. O item linguístico onde na comunidade de fala de João Pessoa – PB: um estudo funcionalista. João Pessoa 2008, 80p. Dissertação de mestrado (exame de qualificação) _ Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal da Paraíba.

BECHARA, Evanildo. Moderna. Gramática da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2000.

BONFIM, Eneida do Rego Monteiro. Variação e Mudança no Português Arcaico: O caso de u e onde. Rio de Janeiro: revista Palavra no 1, 1993.

CÂMARA, Jr. Joaquim Mattoso. História e estrutura da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, 1975.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

FURTADO DA CUNHA, Maria Angélica. Funcionalismo. In: MARTELOTTA, Mário Eduardo. Manual de Lingüística. São Paulo: Contexto: 2008.p. 157-176.

GIVÓN, Talmy. Functionalism and grammar. Amsterdam: John Benjamins, 1991.

HOPPER, P; TRAUGOTT, E. Grammaticalization. Cambridge: Cambridige University Press, 1993.

HOPPER, Paul. Emergent Grammar. Brekely Linguistic Society, n.13, 1987, p. 139-57

HORA, Dermeval da; PEDROSA, Juliene Lopes Ribeiro. Projeto Variação Linguística no Estado das Paraíba – VALPB. João Pessoa: Idéia, 2001.

MARTELOTTA, Mário Eduardo. Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2008.

ROCHA LIMA, Carlos Henrique. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: José Olimpio, 1994.

SAID ALI, Manuel. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1971.

SARAIVA, F. R. dos Santos. Novíssimo Dicionário Latino-Português: Etimológico, Prosódico, Histórico, Geográfico, Mitológico, Biográfico etc. Rio de Janeiro: Garnier, 1993.

TAVARES, Maria Alice, FURTADO DA CUNHA, Maria Angélica: Contribuições da Lingüística Funcional para a Prática Cotidiana da Gramática em Sala de aula: Análise de Textos Orais e Escritos. In.

Anais do V SELIMEL, Campina Grande: Bagagem/ UFCG, junho, 2007.

TAVARES, Maria Alice. Variação no Uso dos Conectores Seqüenciadores: Uma Questão de Coerência?

In. HORA, Dermeval; BARROS, Antonio dos Martírios (eds). Revista Língua (gem). Macapá: ILAPEC, 2004. p. 157-190.

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