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/CONSIDERA ÇÕ ES
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SOBRE
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4TOl ^ l
APRESENTADAA FACCLDADE DE
MEDlCJNA
DO
RIO DE JANEIRO
EM pi3DSZEXtZERO IiS
1339
>PARA SERSUSTENTADA AFIM DF
.
OBTEROGRAO DE DOUTOR I>OR•
* í b âî
JiïfôŒ i, hsv
/uapta*yaturaidaCidade dePorto Alegre
,
Provitictade S.
Pedro doSul.
ESTUDANTEDO G.°ANNODE MEDICINA
.
(VWV\NWWWNWVW\V\ \\\\\\VV\
RIO
DE
JANEIRO,
TYP.1)0DIÁRIO,PROPRIETÁRION
.
L.
VIANNA.
—
18 31). —
CONSIDER\\‘Õ KS SOI
»
HE FEUIDAS DE ARMAS DK FOCO,KOCOES
òPKELIMLAARES .
D
.
i-
soo nnniPdeferidasássoluções decontinuidade produzidas rm qual-
quer parte do corpo porcausas, ámór partedas vezesexternas , queoperao mecha nicaouchimicamente
.
Entendem-
se por feridas de armasde fogoas quenhadassão feitas por projectis arremessados pela explosãoda polvora , acompa-
de contusão, maisou menosintensa, c geralmentedeescara
.
Oinvento da polvora6attrihuido por Polydoro Virgí lioaumchimicoIn
-
glez, que , tendo posto uma porção desta composiçãoenium gral, coberto com uma pedra,e communicando sc
-
llie casualmente o fogo, notou quecom a explosãoapedra fOraarrojada comgrande violência.
Esta descoberta sugge-
rida pelo acaso
,
ao menos na Europa, subminislrou em breve ao homem um novo e terrível agente de destruiçãode sua própria especie! Já em 122G os Chinezcsa empregavão , quer paraatacar , quer para defender.
* Parée diz que em 13W), sitiando AlTonso 11 rei de C.
astella uma cidade defendida pelos Mouros , esteslançavao projectis de ferrocom um estampido horrível, semelhante aodo trovão; eaccrcscenta que muitosséculos antes jádelia ha-
viáo usado em uma batalha
.
OsVenezianos , segundo alguns author»*,
in-
sinuados por Schwartza empregarão cm 1380contra os (ienovezes na ba
-
talha de Chiosa
.
Hoje égeralmcnle usadacomgrande allincopara anniquilar ogí-
nero humano, e tem-
se mesmo premiado a quem tem inventado meios deassassinar, no menor espaço , maior numero de homens!1Reinarao outr'ora diversas opinioes ridículas acerca do verdadeiro caracter das feridas dearmasde fogo : osimperfeitissimos conhecimentos quo então bavião »la Phvsica , da Physiologia , &c
.
, ácilas derão occasiflo. >
áo obs-
tanteconhecermosserde pouco interesse a exposiçãodessastheoriaíT>; todavia fal
-
a-
hemos succintainente,
afimdemostraros progressosda arte.
Vendoos antigos,
quando tinhãode pensarestegenero de feridas,
que os tecidos per-
* Pr«cl»de Ihiitoircunirencllo,l
.
ft, pig.
100, par Anquolil.
2
•>
culidosso motamorfosenvflo cm cscnrus denegridas
,
análogas ás < jue resultao da aeçáo docalorico,
inferirão que os projectisosqueimavao,
ou fosse p<l< »incremento de calor que julgavno resultar da deflagração da polvora, oudo attritoolíeituadona armaenoar
.
O immortal AmbroiseParéefoioprimeiro queartirmou nãoseremas feridas de armas de fogo de natureza combusta , porque as balas, quando impellidas, nãose imprcgnãodesulliciente«]iian-
tidauede calor para produzir semelhante resultado
,
oque prova com asse-
guintes experiências
.
Dando-
se um tirocom bala de cera,
ella se naofun-
de , e perfura um plano de madeira de meia polegada de espessura: efa
-
zendo
-
se uma bala atravessar uma porção de polvora, não a queima; alem disto,
o gráo dccalor preciso paraque a balaqueimasseostecidos a faria derreter ; c d’aqui conclue ocitado author que aopinião de seospredeces-
sores era errónea
.
Elle ainda accrescenta que , se a bala peloobstáculo de um corpose vô um pouco aquecida, deveria entretanto ter ingentetempe-
ratura se saisse incandescente do instrumento ; porque
,
alem desse , rece-
beria o calor fornecido pelo altrito cffeituado no corpo solido opposto
.
A Physica demonstra*que oattrito entre corpossolidos desenvolve caloricoa tal ponto,
(jue póde causar combustão:os corpos molles taobem gozao damesma
propriedade;os fluidos elásticos e líquidos jamais desenvolvem a menor quantidade, ainda que sejãotangidos pelos corpos os mais solidos: d’onde se conclueque asescaras nao provém da combustão ,sim do violento altrito que soiTrcm os tecidos , quando tangidos por projectis movidos com grande velocidade;e tanto 6verdadeiraa nossa asserção, que as escaras estãoem relaçaocom o movimento , volume docorpocontundente,ea resistência que encontra.
Operando osprojectis espantosas ehorríveis feridas , acompanhadas docor
-
tejo de symptomas atterradores que lhes são mui communs , acreditarão os antigos práticosserem envenenadas
,
e comotaesastratavao , o quecausava ao misero enfermo mais perigo do que a propria ferida : todo mundo salie serfalsa tal ideia.
Ambroise Parce, '*aquem aindasedeveodelueidamento da questão, attribue este erroa Devigo , primeiroqueescreveuarespeitoem 150d.
Taobemoaccuza de fautor desta doutrina , refuta-
o ea todososseos sectários.
Joubert,
Chaumet e Pogctseguirãoa veredado immortal pai da Cirurgiamoderna;porémGourmolen, Daléchump,
Riolan,
Paulmier,
Filioii,
e outrosimpugnarãocom argumentos debeis averdade inconstestavel doexí
-
mio reformador ; mas, poriim cila prevaleceu
,
e Guillcmeau contribuioparaotriumfo dos princípios de soo illustre mestre , propagamlo
-
osemseoses-
critos
.
E demais, dado o caso que ohomem períidoenvenenasseabala para segurar a sua victima, nao obteria semelhanteIim,* **ou pelo menos mui porquea escaraimpediria a absorpçaodo veneno,
quemais rarasvezes,
tarde seria expulso pelasupuração
.
* Pelletan
.
*' I,
.
11pnçf.
20'»c200ediç.
II.
** * Liefe*do Clinico do Marjolin
.
PerryaLaurent,Dice,dm Sc
.
M.
a
Ouliti opimão nao monos absurda quo usexpostas dmmiinu outreo» un
-
*
re' *
»»>,•*sompralicosque.
Soiuio encontradospelavistasopercebesso losaosobro o cauqioalgumadoquobululbuexplicasse a causa daalgunseadavr-
•
norte, ficavuo os Cirurgiões perplexos esus|>cnsos. .
Mas como o espirito humanonaodescamba
emquanto nao descobre acausa cllirientc de qual-
quer lacto, dicerao queá proporçãoquo o projectil percorria
,
deixavaum vacuo no lugarquo occupava,
c quoquando trajectava proximo á boca de um indivíduo,
oar dos pulmões eraexpellido para encher esse vacuo ,e en-
tão tinha lugar a morte por asphyxia
.
Comoa anatomiapatbologica demons-
trasse que as partes subjacenteseraolesadas , como os musculos
,
ossos, liga-
do, pulmões
,
&c. ,
atlribuirão-
na£tviolenta coinmoção do ar , quesuppu-
nhaoser communicada pela bala
.
Imaginarão que este fluido elástico , sendo rapidamente deslocado pelo encontrodoprejectil
, podia exercer noscorpos compressnavaocontusão tal, que destruísse as suas differentes partes:6 oque denomi-
ão peloar
,
contusãopelo vento da bula.Porôm,
como|>odcria effeituar-
se essa ingente pressão no meio doar livre? ! Se estatbcoria fosse exacta , o effeitodeque tratamossobreviriatodasasvezesqueas balaspas-
sassem perto de qualquer parte docorpo; entretanto, vôem
-
se emcada ba-
talhaoíliciaese soldados corn asbarretinas
,
vestidos,ccabellos cortados pelas balas, sem haveromenor accidente; em outrascircumslancias,
porçoes do corpoarrancadas , sem queaspartes adjacentes scjío dilaceradas.
Algunsmi-
litarestem perdido o nariz, sem que se perturbe a respiração ; outros a extremidade do pavilhão da orelha sem lesão da funeçao acústica
.
Pensarão•depois queas contusoes deviãoser attribuidas aochoque eleclrico sobre as partes
.
Suppozerao quea bala adquiria electricidade pelo attrito queexerce nas paredes do instrumento, e quesc descarregava no momento cm que passava junto do indivíduo.
Sabe-
se, porôm,
que os metaesnão seclcctri-
sao pelo attrito
.
Os effeitosattribuidosquer ao ar , quer a electricidade, sáo produzidos pelo choque das balaschegadas aofim de sua carreira,ou emmonstra , se seconsequênciaaltender queda obliquidadeapellecom,quesendo muitangem oelastica , cedecorpo , o queerecua aosede-
corpo vulnerante; em quanto queas partes subpostas
,
sendo menos elásti-
cas , e nao podendoresistir á pressão
,
dilaccrao-
se , e sao mais ou menos contundidas.
A echymose nesta circumstancia naose manisfesta,
porque os vasos de commuoicaçãoda pellecom osorgaos interiores tem sido rompi-
dos
.
'Aexperienciaeobservaçãoroboraooexposto.
Lcvachcr,
Paillard ,Boyer e outros comprovãoestefenomeno.
Os projectis que se usao para carregaras armas de fogo variãode forma ograndeza , segundo aespeciede instrumento que osdeve
arremessar
:as-
sim, lia balasde clavina , pistola , de poças de diversos calibres
,
metra-
lhas,&c
.
&c.
Os matcriacs que enIrão na sua composição sáoordinariamente o chumboc oferro.
Os metaes demaiorpesoespecifico que os precedent«** deveriáo serpreferidos, scfossem maiscommuns.
O* projectis arremessados pelasarmas dc fogo produzem noscorpos or
-
ganisados vivos dous generös dc effeitos: uns são puramente physicos, e semelhantesaos quesc observou noscorpos inertes: outrossaopr
ó
prios dos* 8 Cooper
I
—
cv»r\H>
*
organRatiosvivos.
Como n anulvsedot primeirosillumina fenómenos complicadosnoinia animale,
variados quenós os mencionaremos succintumenteapresentou as feridas de,
armaspor uttendernmsde fogo naáeiona- -
turezade nosso trairailio
.
V bala de chumbo, lançada por uma espingardaperpendicularmenteaurna muralha investida de espessa camada de gesso
,
fazneste corpo pouco resis-
tente um buraco de forma cónica
com
o apice para o lugar do ingresso , e u base para o lado opposto , aonde se aloja.
Arremessada ã pedra rija, despedaça-a depois deoperar um buraco mais ou menos profundo; raras ahi fica.
Se for obliquamcntc , produz uma goteira cuja profundidade e diâmetro variao ;porém, ochoque iTcste corpo , tanto no primeiro corno no segundo caso , effeitua mudançasnotáveis nasbalas, asquaes ora sede-
formgmentosáo de mil modos , ora se dividem
.
Arrojada a em maiorou menor numero de fra-
bala com força a um angulo mais ou menosagudo dc uma pedra,ou aogume de uma faca ,como fazem ásvezesbabeis atiradores, divide
-
se em muitos pedaços , cVc.
Quando a bala tange a extremidade esponjosa deum ossolongo
,
ouqual-
querparle esponjosa, póde traspassal
-
o, deixando geralmenle após desium buraco circular; ou reter-
se na sua espessura.
Encontramos semelhança ex-
tremada entre o que se passa noosso e o quose véno gesso. Uma cir
—
cumstancia peculiar pódeconcorrer para mais facilmenteser oassovarado sem fractura ; éa pouca idade do indiv íduo
.
Com effeito , sendo najuventudeos ossos maisesponjosos e menosrijos, contribue isto para oque acabamos de expender.
Porém, qnando a bala attingeorochedo c a mandíbula inferior,dc
.
ou ocorpo de urn osso longo,como o do humerusefemur, não ba os mes-
mos incidentes.Esta porção compactaeresistente geralmente se reduz a es
-
quirolas: rarossao os casos, referidos pelos authorcs
,
emquea balase en-
gasta na sua espessuraou o traspassa
.
Vé-
se poisque oprojectildcchumbo obra nos ossos rijos comona pedra.
Dicemos que , quando uma bala depara como angulo de uma pedra re
-
sistente, ou com ogume de um instrumento cortante
,
se divideem dous, ou mais fragmentos.
Um fenomeno analogose notafrequentemente,
quando o projectil de chumbo choca ângulos , ou eminências, maisou menossali-
entes, dos ossosrijos
.
*Esta circumstancia exige muita attençao do Cirur-
gião em certoscasos,afim de naocommetteralgum errograve,julgando que
.
1ferida naocontem fracçôes da bala , ou porseterencontradoumúnicofra-
gmentodelia, ou por tel
-
a visto cahir omesmo enfermo,
ou em fim por termentoa ferida duas aberturas. ,
entretantoque póde encerraremsi algumfrag-
Os authores que negãoeste fenomeno da divi/ao dizemque asfrac
-
ções lia bala saoenviadas por uma mesma espingarda; ora, nósvomos que ochumbo
,
ditodecaça ,atiradodealgumadistanciaesparge-
se efere sepa-
ra*)imenf.e; (• pois inexacto oquenvanção
.
“ Acreditamosquealgumasvezes.
pelosimples contacto nos tecidos molles, podemasbalas dividir
-
se,
pores-
veies
* í
.
.i r r»f,Percy , S.
Cooper.
Tomwn, Dupuytren,Mflrjolin, Anumst referidopeloDr l*v r A, H f.
irrey, Paillard, eoutro»muito».** Marjolin
.
.
5—
tarvin a*suas parlesconstituintes mal coadunadas
.
Nao poderá a bala des-
pedaçar
-
sequando choque, quer perpendicular ,quer ohliqiiameulc um«tw«qo, v .g.orochedo, eo macillarinferior?Milharestiecausas assazdiíliceis, e talvez impossiveis cie dclcrminamu
-
scexactamente,
operao asua multipli-
cidade
.
Arremessada a halaperpendicularmenteásuperfície d'agua estagnada ,expe
-
rimentano trajoctodemora proporcionadaádensidade doliquido:seobliqua,
|K)de ser reflcctida
,
eassiinproduzirferimentosem pessoas collocadasemlu-
gar opposto: e se a sua direcçao for nimiamente obliqua , pode dar lu
-
gar á umaserie dechapeletas
.
* Yô-
seque a bala,quando penetra no li-
quido, perde parte de sua velocidade
.
Semelhantementenao será apresença da urina, em parte*,
acausa que algumas vezes obsta ao traspassamento da bexiga ?Quando a bala6arremessada de pertoa umquadrode vidro, traspassa
-
osemcomminuil
-
o,esomente forma umdueto analogoaodo tira-
marca: se dedistancia, despedaça
-
o.
Fenomeno quasi semelhantese nota nocorpo huma-
no : sabe
-
seque as feridas feitas por projectiscom ingente impulsão sao me-
nos laceradas queas produzidas por balas quasi mortas: nestas se depara ge
-
lalmente com fracturas comminutivas , quesãoacompanhadas de accidentesat
-
terradorcs;em quanto naqucllas tudo 6menoscomplicado
.
Quando uma bala fere obliquamente uma superfície convexa
,
de pedra,
por exemplo, nao acontornêaordinariamente , e reflccte; quando perpendicular despedaça-
a.
No corpohumano seobservaum fenomeno que parece ,aopri-
meiro volver d’olhos , contraditoriocom oque acabamos deassignalar ;porem acharemos explicação satisfatória
.
Assimacontecefrequentemente queuma bala, arremessada obliquamente á umasuperfície convexa e resistente do corpo, a contornêa e sãe num ponto maisou menos diametral mente opposto ao do ingresso , oque induz a crer que acavidade tem sido varada pelo cen-
tro; entretanto,só temsidocircumdada
.
E’commum ver-
se uma bala ferir afronte,contornear para adireita ou esquerda docraneo, e sair no occi-
p u t ,depois de ter viajado por entre o osso e o courocabelludo. Citão
-
seexemplosde balas que tem tangido n’uinatêmporae saido nado lado opposto
.
Fercy referequeo marechal Lovvendal recebeu na cabeçaumabala que pe
-
netrou ochapéo e courocabelludo perto da têmpora direita ,esahio acima da esquerda
.
( ) I)r.
Hennencimmensos outrospráticos apresentáo factos de natureza idênticaQuando uma bala attingc o externum, póde sair perto das apófises es
-
pinhosas dorsaes; parece entãoque o peito foi traspassado; eno entanto o projectil insinuou
-
scsomente entre aspartes molles do thorax easpartes os-
-
broseas.,Os mesmos fenomenos se observAc. .
• » áo nas paredes do ventre c nosmem-
I)onde procedem estas difTorcnças, e porque a bala nãocontornêa aco
-
lurnnade pedra
,
como as paredes do craneo,
&c? E'evidentementeàdiffe-
rença dos meiosemquea bala setem introduzido queestefenomenoêde
-
vido. Eom efTeito, a bala, ferindoafrontee peneirando ocouro cabelludo
.
êimpedida de passar alem pela resistência dosossosdocraneo, e soffro duas resistência» : 1*» das paredesdocraneo que a impedem depenetrarnaca
-
B'wUn
.
lr«ii*«I« ptoyilque.
— n
mluUe: 2
.
*a do couro cabulliido, monos
fort©son» duvidoqu
« a dosos>o#do cruneo
,
porém assaz considerável para forçar a l»ala a seguir uma Imlui aurva maisou menoslonga,
segundoogrão dovelocidade que possuo;|>ód« a bala percorrer um quarto, um terço,
ou metade docontornodo tranco, e mesmo mais.
Secila è dotada de grandevelocidade
, depois de 1er per-
corridootrojecto,traspassará a pelle
.
Quando a bala fere obliquamenle columna nao encontra em torno deste corpo cylindrico senão o ar que lheimo oppoe resistência assaz considerável para que a contornôe, assim corno fazna nocruneoocouro cabelludo
.
Pelocontrario,
depois de ter feridoacolum-
, ella reflecte sem soffrer movimentoalgum de decomposição
.
Se o projectil fere perpendicularmenlcumasuperficiecôncavaerija, nota
-
se omesmo fenomeno que num plano de natureza idêntica; porém
,
quan-
do attingeobliquamente asuperficie
,
apercorre adaptada maisoumenos cir-
cularmente até chegar aos seos limites ; entãoa abandona e continua a sua carreiraemdirecçáo varia , segundoomaiorou menorcirculamento
operado
: eis porqueem alguns casos é feridooproprio indivíduo que dá otiro,
ou outro qualquer collocado em differente posição: ás vezes ella se divide em fragmentos que divergem paraolado a quesedirigiria a bala.
E' d'est'arte que o projectil,
quando perfura uma das paredes ósseas do craneo,
algumas vezes cm lugar de atravessar ocerebro,
insinua-
se entre adura-
mater e a caixa ossea,
e corre maior ou menor extensão: no tborax vê-
se semelhan-
temente
,
quandoo penetra,
viajar por entre apleura costal c apulmonar, esair num ponto mais ou menosopposto ao doingresso ,ou ficar nopeito distanteda entrada da ferida; eem outraspartesda economia animal obser-
va
-
se omesmo:muitos authoresapresentáofactos desta natureza , como Larrey, Percy, Hennen , Dupuytren,
Marjolin , e outros.
Recebendo um corpo formado de dous planossobrepostos e pouco ligados entresiuma balacombastante impulsão
,
obscrva-
scgeralmentequeosplanos sãligaoo varados sem desunirem-
seem maior oumenor-
se ;extensporéãmo: ê o,
seaquebala tem menor velocidadeacontecena caixa cranea for, des- -
mada de duas camadas de tecido compacto , coadunadas pela diploicaou es
-
ponjosa, quando perfurada por projeclis
.
Muitos planos de polegada de es-
pessura postos verticalmenteunsapósde outrosem distancias iguaes
,
reuni-
dosíixamente por duas travessas
,
apresentáo o fenomeno seguinte,
quando trapassados por projectis: no primeiro plano vêem-
se duas aberturas desse-
melhantes; a do ingresso tem quasi o diâmetro da bala ; a da saida émaior ecirculada de desigualdadesprovenientesdoarrancamento de estilhas:a aber
-
tura da entradanosegundo plano é maior que a do primeiro; porémmenor que a da saida , c assim progressivamente
.
Do exposto , applicado aocorpo humano,
inferimos que os conductos nelle feitos são tanto menores,
quan-
to a força impulsiva do projectil è maior ;e demais , deve
- se
ter cm linharlc conta o apoio das partes subjacentes que existem no ingresso
,
as quaes favorecem a solução de continuidade,
cdeste modo evifao a dilaceração da borda.
Led rane Richeranderrao ,quandodizem que os duetos feitosno
cra-
pelasbalas tem igual dimensão porseroponto de apoio igual
.
O Sr.
Dr.
Pereira do Carvalho c nós tivemos occosiao dcobservaro que avançamosna autopsia feita no infelizBulhões
.
Os projectis atiradospela polvora nãosãoosúnicos agentes dasferidascm questão; elks
reportem ,
algumas vezes,
com oscorpos quedopar
ão
no soo umanoo
7
—
imito
.
1impulsão pura offcituarcmestragosespantosos, conduzindo-
os querin-
tegrameute, quereinfragmentosouoslilhus. Osartilheirosamestradosconhecem
o> otragosque determinaoasbalas
lanvadas
obliquamente no soloinvestido doseixos;quando tem doaggredir o inimigo, infelizmente postado cm tal terreno , fazem pontaria vinte passos diante das lileinspara produziremcha- polotas, e levantarem umanuvem dc pedras que augmentvin amortandade.Na Cirurgia naval véoui
-
se as balasarrancar porçoesdc madeira , que pro- duzem estragos, senãomaiores, iguaes aos das balas.Aspartes rijas, molles,eliquidasdaeconomiaanimal fazemcornqueo pro
-
jectil ora seafaste, ora se approxime da perpendicular , o quedependede circumstancias. Quando a bala, depois de1ersuperadoaresistência da pelle, penetra perpendicularmentenaespessura das partesorganicas, pódeacontecer que haja mais resistência de um lado doque do outro; entao muda-se a direcçao da bala, e se encontra constantemente uma serie de pontos mais resistentesnotrajecto, a abertura dasaida é mui remotadadirecçaoda da entrada: e se penetraobliquamente, dada igual resistência , lia sempre re- fraeçao.
J
Em algumas obras sobre feridas dearmasde fogo,osseosauthorestem queridodeterminar rigorosamente os cffeitose os desvios das balasno corpo humano, segundo,leis matbematicas;porém é quimérico quererobter tal resultado. Scocorpo fosse substancia inanimada, ou composta dc partes cuja densidade, espessura , potência resistente, Ac. ,estivessemexactamcnte conhecidas e apreciadas, poder-se -iao calcular; porém, elle è compostode partes que ora estãoem relaxação ,ora emcontracçaoemgrãosdifferentes: umas partes tem bastante elasticidade, outras nenhuma, &c.; ò portanto impossivel conseguir tal lim.
Os projetais produzemno corpo humanocffeitos quedependem principal- mente de duas circumstancias: l. °da maneira pela qualaarma écarregada:
•2.® tla distanciaemqueédadootiro. Dando-senocorpo humanoum tiro de polvorasecca, sem buxa e tie muito perto, com qualquer espingarda,
chamusca a parte, emuitasvezes saca a epiderme ;c osgraos não incen- diados são arremessados, c perfurão os tecidos obrando como projectis , do que resultauma mancha azul
.
Seotiro for recebidoáqueima roupa,es-
tando o instrumento bellico carregadocom polvora e buxa mais ou menos comprimida , originará incidentes segundoogrão de resistência, afastamen- to docorpo, ea natureza da buxa. Marjolin e Dupuytren dizemtervisto tacs tirosdarema morte. O chumbomiutlo, ou de caça,ou fereagglomera- damente, o que dependeda bondadedo fuzil etla pouca distanciacm quo édadootiro, ouesparge-se,eseosbagos operaoisoladamente. Aacçãoque resulta do primeiro caso é ingente emais formidável do quea deuma só
balatie clavina. Ksto anno vimos naclinica do Sr. Dr. PereiradcCarvalho urn menino de 8 annos dc idadecom uma ferida no anto-braçoesquerdo, effeituada por uma pequenaarmadc caça, com dilaceração quasi total das partes molles, e fracturacommiuutiva docubitusc radins. Abala sómui- t.is vezesvara o pulmão semoccnsionara morte, entretantoquea cargade
Ibumbo despedíiça
-
oe extingue n vida do ferido indubitavelmente. A feri-
dado segundocaso não óseguidaem geralde accidentes mortifères , a me
-
nos queoorgdo nlToctado não tenha grande importância.
Aacçãodasbainsdeartilhariadifférédadasqueacabamosdedescreversómonto por terem aqucllasmassa mais considerável ,cpela grande impulsão quereceitem.
—
N—
Demonstraremos
agora ooino o maior oumenor
aflastamento inline sobre aoeçaodo projectilnos
corpos.
Km|»IM|u«‘iia distancia,
a parte fcrida naow>recebooprojectil no momento da maior velocidade
,
comotuol>cm toda a for-
va
da detlagraçáo da polvorae a buxa.
liasimultaneamente combustão,
M*Ocorpoédellasusceptivel
,
comdilaccraçuo ocontusão enorme;entretanto que,
sendo dado o tiro de longe , só recebe a acedo da bala,
porêtn com menor intensidade.
Quando uma bala ferequalquer orgaosem força su11iciente para varal- o ,
vê-
seentão sómenteum oniicio com ofundo mais lato queo in-
gresso
.
*Quando a bala 6 provida de força para traspassar o corpo humano
,
c ó lançada de alguma longitude, observa-
se que a abertura inicial oflerece di-
mensão queestá em relação com a grandeza do objecto vulnerante
,
as mais dasturavezesregular,
com a circumferencia deprimidacmaiscontusa quea aber-
da saida : esta ècommumentemais ampla, menos regular
,
coma mar-
gem saliente,emaisdesigualmentelacerada;oscontornossao moídosedesor
-
ganisados
,
formão o quecbarnão escaras denegridas:esaode cór amarella-
da, escura , violeta , negra , segundoa quantidadede sangueextraj
&
zadonotecido cellular
,
co tempo que tem decorrido desdeo instanteemqueaferida foi commettida.
Sc o tiro for dado á queima roupa, a abertura do ingresso ê mais larga que a da saida , epenetrada de graos do polvora , c mais ou menos combusta.
Se a bala tanger obliquainentc e com bastante impulsão, deixa um regocujalargura pôde representarexactamcnleo seocalibre.
Alem dascausas que apontamos,
nos elleitos physicos que concorrem para o tra-
j«*cto sinuoso das balas
,
por seo turnooperaoadesigualcontractibilidpdcdos tecidos incididos,
cas mudanças de attitude dodoente.
A acçaodosprojectisnos ossosèvaria :ora elles produzemcontusoesqire, olhadas superficialmonte, parecem serdepequena monta , entretantoque occa
-
sonno alterações profundas; ora operao fracturassimples
,
ou coinminutnas: ora são varados , comou sem esquirçdas; umas vezesdepara-
secom elles na sua espessura; outras com fracturasem outro ponto distante da impressão , o que depende do estado rijo, ou da esponjosidade dos ossos,
da impulsão da bala, da sua direcçáo,
e da sua superficie , &c.
Qualquerque sejaa natureza doprojectilarremessadopela explosãoda polvora, asferidasqueresultáoda sua acçaosaoessencial mente contusas;cacontusãodas partesètantomaisconsiderável,quantoapassagemdocorpocontundente for mais rapid;», aresistência mais forte
,
co seo volume maior.
Asferidas praticadas por balasimpellidas pelas armasdenominadas de vento, em geral,nãodifferent das de armasdefogo.
As feridasas mais graves sao as eíTeituadaspelases-
tilhas das granadas
,
das bombas,
das metralhas,
epelas balas deartilharia. Quasi sempre grandes desordens saoaconsequência inevitável.
ea mór par-
te das vezesoferido compraosdias de vida atroco deumou <lc muitosde seos membros
.
Ima bala, tocandoqualquer partedo corpo
, p
ódc originar quatro gene-
rös de feridas : l
.
° pódc somente produzir contusãosem penetrar a parte, qmr seja por ter perdido a força,
quer pela direcçáoobliquarclativamente
* O BarãoPeref di/aer caiuado pelomovimento do rota çãodoprojectilt P*t t j
0
—
'
l' *
ftt* tangida:•á.
® pódeapresentarsómentouma
abertura;neste
rato a I>!i ealojada, as mais das vezes, nostecidof!3.
*póde traspassaroorgâo: 4a pode o projectil arrancar|<ual|(tier membro,
seoseo diâmetro for maior que die.
Asferidas de armas de fogo,
cipal mente quandoos vasos divididosem geral, sangrão pouco
,
ou nada,
prin-
sao de pequenocalibre
,
porque acon-
tusão £talquo osvasos dilacerados pelo instrumentosão»noidos
,
as suasex-
tremidades retratadasnas
carnes
, e asmembranasdas artériasalgumas vezes invertidas,o que obstaá hemorrhngia.
Observao-
sc entretanto hernorrhagias,
quandoos vasosde capacidade são parcialmentedivididos:quando a secção«* completa , acontece algumas veses não as baver
.
A obliteraçãodos vasos deum membroò ás vezes cm tão grande extensão, que praticando-
.«ea am-
putaçãoalêmdo ponto percutido, não ha emissão sanguínea
.
As feridasora são isentasde corpos extranhos, oradepara
-
sen’ellas combalas sómente, ou juntamente com fragmentosde pano proveniente das vestesdoenfermo
,
com buxa,
peças de moeda,
botões,tStc.
,osquaespodem estarprepostosou pospostos ao projectil,
oque a phvsica nosdemonstra evi-
dentemente. Km algumascircumstanciasoprojectil traspassaoorgáo, porém depõe na ferida os corpos já referidos ; em outras, em lim, é partede uma bala, dividida na parte solida da economiahumana
,
que ficano meio dos tecidos.
Quandoa ferida tem sómente ingresso, nãosedeve inferir que a bala existe no meio daíparteslesadassóouacompanhada de fracçõésdas vestes
,
ou da buxa,&c; porque succédéalgumas vezes com eíTeitoqueosvestidos, principalmente a cnmiza,cedendo á impulsão do projectil
,
insinuão-
secomelle na ferida ,formãouma especie de fundo de bolsa, analogoaodedo de luva,que arrasta a bala quando sedespeo individuo
.
Outras vezes basta a simples contracçao muscular para queocorpo vulnerante seja expellido.
O pezo do projectil, diz Marjolin , é bastante para produzir o resultado em questão.
Aséde é a maior necessidade que soffremos pacientes
,
principalmentese tem perdidomuito sangue ;estendidosnocampo dabatalha pedemcomgritos penetrantes que lhes dêem agua para sacial-
a, antes de invocarem os soc-
corrosdaCirurgia.
A maior parte dasvezeso ferido nãosentenoinstante do ferimentosenão dórgravativa cm todoo membro, como se um grandepezooopprimissc; porém nofimde certotempopassa aseraguda ,c augmenta mais oumenos, segundo a natureza das partes
.
Guerreiros intrépidostem sidoferidosemcom-
batesencarniçados , sem comtudo sentirem-scvulnerados: pareceque ain
-
trepidez fazcom queseesqueção dc siproprios
,
c sóincntccuidem cmchegar aoalvo encarado.
Ha orgãos que pela suaimportânciaparccerião nãopoderserlesados, semque seguisseimmediatamenteamorte ; noentantoanaturezapor todaaparte cria excepçoes
.
Marechal, la Martiniére,
* *Prussius,
Fabrice de Hilden,
Gooch,Dice, dni Seien
.
M.
v.
43.
' Percye Laurent
" Memoire«de l'Aeedcmiede Chir
.
t.
1.
®pag.
314.
10
—
llocgg, eMorand ’fullilodubainsperdidasnocrniico Miniquea saudcdo*indi
-
víduosío»edesarranjada
.
0immortulHarvey,
fazendo pesquisascm uuimacs vivo* l'ara veriücaromovimentocirculatório dosangue,
doparoucoinumabalanoteci-
do«lo coraçãodo um cervo
,
o qual se conservava emestadogatisfactorio.
Hippocrateso(iuleno dizem queasferidas contusessupiiraonecessariamen
-
te; A
.
Paróe,
Joubert,
Doublet,
Botai,
Guthrie, John Bell ,e Dupuytren, aHin não que as feridas d’unnas de fogo mio sao susceptiveis de contrahir adhesao im mediata , porque todas as partes molles situadas no trajecto do projeetil supurao pelo cIToito da escara mais ou menos espessa « jue deve ser eliminada por trabalho inflammatorio; nós porém,
apesardo muito respei-
to que tributamos aestes práticos
,
julgamos com Marjolin,
"J.
Hunter , e Sanson que nem cm todas as feridas se vécm escaras , nem mesmo em todas as partes da mesma ferida, eesta diflerença provém gcralmcnle «lo grãode velocidade de que èdotado o projeetil: ora , seaquelles authores dao como obstáculo a presença das escaras, e nós já provámoscom autho-
ridadesque nemsempreasha
,
claro está«juesepotleráobtcl-
a;porém
acr«“dita-
mos que será n’umlimitadíssimonumero«lecasosquesóservemde excepçocs
.
Sempreem razaoda força da contusão e dilaceraçãodas partes, a inflam
-
maçao que sedesenvolvoimmcdialamente em consequência das feridas de ar
-
mas de fogo ó necessariamente mui violenta
.
Quando não seconsegue mo-
derala , extingue a vida dos tecidos «jue sãoredusidos a um estado anormal pela contusão; entãoagangrena augmenta a espessura «la escara produzi
-
da immcdiatainente pela acçãodo corpo vulnera»te, c concorrecm parto para o lim de eliminal
-
a: quando a ferida ò complicada de estupor local,
ou geral,
termina muitas vezes pela gangrenada parte lesada.
A presença dasescaras, a desorganisação mais ou menos completa dos.
tecidos nao são asúnicascausasque cooperão,para queainllammaçaotrauma
-
tica seja necessariamente intensissima; maspor seo turnoajudaoa presen
-
ça dos corpos contundentes ,que as feridas varias vezes enccrrao ; eainda as circumstancias particulares em que se achão ordinariamente as pessoas expostasa este gencro de ferulas
,
a intemperiedas estações , apenúria ,as más disposições dos meios de transporte,
asdidiculdadesea extensão,
mui-
tas vezes considerável, do trajecto que tem de percorrer antes depoderem receber tratamentos contínuos e completos
,
a accumulaçãa dosdoentes, <>por consequência a insalubridade
,
quando naoha meioshygicnicos,
«lomão lugar onde sãoacolhidos.
Por outrolado , devc-
sc metierem linha de conta o máo estado quasi inevitável das vias digestivas,
em consequência «las al-
ternativas
,
privações, e desvio «lo regimen que partilhão os militares em campanha,
linalmentc n exaltação moral em que estão os soldados , nomo-
mento em que são feridos, exaltação que continua muitas vezesedegenera em delirio , se pertencem ao partido vencedor , ouoabatimento não menos perigoso cm quecácm
,
so pertencem ao partido vencido ; comprecnder-
sc-
* Opuic
.
«Je Chirurgie,pag.
25U.
" Marjolin,pag
.
2V0.
*" Hunierpag
.
523.
— 1 1 —
1I
luolmcnto quo
todas asciroumstuncias
maisfavoravcis para
o desenvol-
vim ntodu intlaiiimuçaolocal
violent
íssimaso
«chão nelles reunidas,
equeC' la inllammaçáo dcvoquasi inevitavelmentecomplicar
-
secom aiTccçOesgravesdo cerebro e das vias digestivas
.
Osaccidentes quecomplicao as feridas dearmasde fogodistinguem
-
seeinprimitivose consecutivos
,
ambos cm locaeso geraes.
Asna appariçào,
du-
-
teressadasduosirao,
,cVce.
intensidade variao,, &da grandeza das feridasc.
infinitamente,
daem radisposi/aoçãda natureza daso particular dos indiví-
• parteäin- -
Na classe dos primitivos locaes inclu ímosadôr de que já tratámos
,
o es-
tupor local , a paralisya , a hemorrha'gia que se manifesta immediatamenle ao ferimento , coutros
.
Os accidentes geraes primitivossão entorpecimento cm todo o corpo , frio universal,
qualquer que seja a estação,
pallidez da pelle, principalmente do semblante,
algumas vezes*a côr è amarclla,
con-
centração do pulso
,
cyncopc,
tremor,
horripilação geral,
movimentoscon-
vulsos , vomitosc soluços
,
algumas vezes sómente estupor ingenteataca o enfermo: estes symptomasmostrao algumas vezes que a ferida-
interessaum orgSo importante cavida: outras porôm não indicãogrande perigo,
c de-
sapparecem no lim de pouco tempo, ouimmediatamente
,
como diz oI)r.
Hennen , pela applicaçáo de uma colherada dc vinho ou dequalqueroutro espirito , ouporummedicamento opindo
.
Osantigos atlribuiãoestes fenóme-
nos á pretendida malignidade destegenero dc feridas, l
.
a Motte c Ravaton dizemser produzidas pelo medo; porôm tantoossoldadosvalentes, como os pusilânimes sao igualmente aflectados.
Lcdran pelocontrario attribue a um sentimento naturalinhérente á cspecic humana,
e pensa queossoldados ba-
leados deixáo
-
setomar deterror pânico,
cm consequência dcselembrarem que estthoresdeãoprestesimmo julga abandonarão ser consequaspessoasência daque lhescoinmosaoçãomaisproduzida pelocaras.
Outrosaumo- -
vimento que o projectil transmitte aocorpo
.
Nóspensamosque todoo agen-
te capaz de produzir umgrãode modificaçãosuíficicntc nosystemsnervoso póde contribuir parao seo desenvolvimento
,
particularmentea commoção : o temor , acolora , asdores,
a hcniorrhagia copiosa , cVc.
,osproduzemse-
melhantemente; porôm, ordinariamentesó lhes dão incremento
.
O estupor algumas vezes é tao profundo , que lira totalmcntc a sensibilidade ao en-
fermo , oqual solTre sem lastimar
-
seoperaçoes as mais dolorosas; tal foio indivíduo de que falia Qucsnay,
cujo estado de embotamento eratao grande, que quandosc lhe propoz a amputaçãodo membro inferior,
respondeuque o negocio não era comsigo,
esolTreu-
a sem dar o menor signal desen-
sibilidade ató omomento da morte
.
Nesteestado mais oumenos considerá-
vel de estupor , a parte fica escura c lívida
,
pastosa , ha diminuição da tempera animal, ou mesmocessaçao.
Os accidentes consecutivos
,
tantolocaescomo geraes, que sobrevém al-
gumas vezes nocursodasferidas dearmas de fogo são a supressão da su
-
puração , abcessos consecutivos na parte enferma
,
ou nas partesinternas,
gangrena,
o tétano , abundanteelonga supuração que reduz os enfermos nomarasmo , e a diarrhéa colliquativn dc queentão quasi sempre succum-
bom ,as hemorrbogiasmanifestadas apósda eliminação dasescaras
,
r ou-
trosveis aomuitosindiv íduo, osquaes
.
dependem docircumstuncias mais ou menos favorá-
a
—
12—
PROGNOSTICO.
O prognostico ilas feridas de armas de fogo 6 tanto mais desfavorável
,
quanto mais distarem do grão de simplicidade:e parafallarmos com preci-
svaãomente que deve variar, não pôde ser estabelecidocm relaemção útheseextensgeralão da; todavia , concebeferida
,
á profundidade-
se e(Tecli-
, ú natureza das parteslesadas,
á constituiçãodo indivíduo, à coragem com quesupporta a desgraça,
ao máo ou bom estado de saúde,
ásagitações do espirito,
ádisposição particularem queseachava na occasiao do ferimento; a accumulaçãonos hospitaes,
áslongas viagens,
maiores ou menores abalos e incommodos notransito ,á impossibilidade do renovar a tempoos appare-
Ihos
,
edeempregaros meios necessários para obstar os primeiros sympto-
mas inflammatorios, ás privações
,
ao máotempo: eainda accrescentaremos,
que o estado de morte de uma qualquer parte faz que , muitas vezes, senãocomprehendaaextensãocrelaçõesdas feridasemquestão;porquecim-
possí vel saber
-
se , em grande numero de casos, quaes as partes privadas de sentimento,
ou movimento , se é um osso,
um tendão , um musculo,
ea feridasó semuitopôde sabermais ampliada do que se
,
quando a escarahaviafor eliminadajulgado;;muitas vezes a vioentão ver-
se—
lia-
lência da pancada tem percutido uma viscera totalouparcialmente, semcoin
tudo poder ser apreciada senão consecutivamente pelossymptoinas que lhes sao proprios
.
TRATAMENTO.
Dividiremos o tratamento cm local e geral
.
A primeira classeabrange o-
curativo propriamente dito, os medicamentostopicos
,
a posição do membro, os meios de prevenir e destruir o estrangulamento,
intlammaçao,
e gan-
grena
,
a extraeçáo dos corpos extranhos, a amputação, a suspensãodahe-
morrhagia, &c
.
&c.
A segunda comprehendc as bebidas de differente natu-
reza, a diéta em diversos gráos
,
asdoplecções sanguí neas,
o repousodo corpo edo espirito , a pureza d o a r , Ótc.
&c.
Tratamentolocal
.
E’inútileimprudentetentar acurapelaprimeiraintensao,-
porque háquasiconslantcmeuteescaraqueinveste asuperfície da ferida
,
c,
por maistenueque seja, éumentrave;edemaisproduz desarranjos immensos.
Devem-
se exceptuaras laceraçõesque partem , emalguns casos,daferida principal,como asqueseobservào cmconsequência de tiros dados juntoáboca,ondeoslábiossao rasgados extensamente pela expansão subita da deflagração da polvora, e jquellas
,
mais ou menoslongas , que se vfiemalém das partesamortecidas, segundo referem authores do renome,
feitas por estilhas de balas , metra-
lhas
,
bombas,
c por fragmentos de madeira arremessados pelas balas: então devem-
»©reunir todas as partes sangrentas,
o que não apresontão vestígio de combustão ou de mortificação,
cxccplo se a reunião das partes laceradas transformar a ferida,
que devo supurar,em
dueto longo c estreito ,eamea-
çar ser interessada do estrangulamento; porque neste cosoa laceraçãosu
-
bstitue a» incisões amplialorios
.
ia
—
t
igualinento inutil e pernicioso introduzir nag feridaspenetrantes
fios, porque
o lim a quesepropoc oCirurgião éobstar areunião dos lábios,
e n'*'abemos que asescaras que ncllas seachlo impedem a agglutinaçao ; etodemais ao appareciinento dos accidentesintroduçãode fiosdeterminainflammatoriosmaisfacil;,
porpromptatanto,
, este methodoei ntentamen-
deve ser proscripto
.
Vntigamcnte, quando a bala operava duas aberturas
,
cstabelecifio muitas vezesno trajecto umscdonbo,
com a intensáode evitar a reunião muiprom-
pta ,nhos
.
para dar livre corrimentollà muito que este meio foiao púsrejeitado,
efavorecer, por serasaida doso sedcnbo umcorposestracorpo-
extranho
,
o qual muitasvezes é origem de inflammação assazgrave,
c nao preenche os fins encarados.
Deve o pratico abstcr
-
sc de todo o topico irritante , de que outr’ora so fazia frequente uso com detrimento dos feridos.
Em outro tempo , quando se julgava que as feridaserãoenvenenadas,
instillaváo nellas oleofervendo,
a fim de destruir oefieitodosuppostoveneno.
Parée foi oprimeiro que bem seutio a importância de banir do tratamento das feridas,
ouso de topicos desorganizadores.
Diz elle, nasua insigne obra,
que comprara aum Cirur-
gião piemontezum segredo para curar as feridasde armas de fogo, e erao oleo de caens , oqualse obtinha
,
fazendoferver emoleo commum caensi-
nhos extrahidos do ventre materno:estetopico ,emultima analyse , nada mais e (jue umamistura de mucilagem eoleo
.
Actualmente alguns práticos appli-
ctasão pranchetas de fios finos untados decom cerôto,ouembebidasemoleo e cober
-
cataplasmas emollientes
,
compressas , ataduras , enpparelhos conten-
tivos
,
segundo a formaesituação das partes,
muimediocrementeapertados.
Nós , porém
,
attendendoà propriedadedaagua , járecommendada pelo dico de Cóscm muitos lugares de suasobrascontra a inflammação, faremos delia um usofrequenteerasoavol.
Nas inflammaçóes ,diz este grande homem, aagua fria allivia poderosamen te,e énecessárioregarcom ellaaspartes inflam- madas: «Adin/Iammationes frigida conferi,el partes, qua inflammaiionem,patiuntur
,
refrigeramlœ.
» Celso diz: «Sigravis inflummatio est, me-
ncqut
"lutinandi spesest
,
negue movetur, agua calidœ necessarius usus est.>>Muito prcconisada foi outr’ora a agua, sobre a qual se proferião algumas palavras mystcriosas,oqueera de grandecfieitoparaalguns feridos.
Masoqueeraaagua comsofépalavras, nella confiavmystcriosasão , com?Simpleso que obtinhagua frescaào;-
scmascurasalguns feridos tinhcomo miraculosasão nis;-
c sabe-
se a ascendênciaque temaimaginação nacura dasenfermidades,alem daacçaodos medicamentos ,oque não nosseria diflicil demonstrar; masfor-
ramo
-
nos a esse trabalho por não ser consentâneocomo nosso intento.
Nósdiremoscom obarãe Percy,queaagua deverepresentar o primeiro papel na cura destas feridas
,
c quoos Cirurgiões que delia fizeremumuso rasoavel e methodico obterão (coBteris paribus) maior numero de bons resul-
tadosmana, que um, taosimples methodo de tratamento produz na organisação hu
-
do que aquellcs que nao tiverem coragem bastante para arrostraras prevenções
.
Scfosse possível, cm uma feridadearma defogo, ou outra qual-
quer feridagravenocotovelo
,
joelho,
pé,
&c. , conservar
a parte por dez ou quinzemaiornumerodias mergulhadadeferidos.
na agua , haverifio»A agua , dizGuthriemenos,
òamputaumexcellenteçõesc salvartopico-
se.
que-
iaem certoscasos previneinteiramente uinflammação