7_
INTERPRETAçÃO PSICANALITICA E INTERSUBJETTVIDADE* Conlentários sobre o pensamento de Freud
JOI'L BIRMAN
l
TNTRODUçÃOPretenderno
s
examinar, esquematicamente, a concepção freudiana de interpretaçã'o. Para isso, definiremos aþuns pressupostos teóricos da psicanálise e sua especificidade epistemológica como saber interpretativo. Assim, abordaremos a temática dos funda-mentos da psicanálisepor um tópico
bastante restrito, mas que indica um caminho relevante pÍua circunscrever a racionalidade do discurso freudiano.Para
tal,
pretendemos definir a concepçâ'o psicanalítica de sujeito em sua articula-ção coma
noçãode
sentido. O conceito de interpretação se ordena neste contexto, pois através do sentido o sujeito se configura como rnarcado por uma verdade singular,a
ser decifrada pelo processo psicanalítico. Esta problemiúica seria sustentada pelo conceito fundamental do discurso freudiano, isto é, o de impulso.Porém, antes de desenvolver estas questões, procuraremos
definir
a originalidade constituídapclo
campo teórico da psicanálise, considerando a ruptura que esta tevede realizu
para se constituir enquanto saber. Indicarernoso
corte que a psicanálise estabeleceuno
séculoXIX
com os discursos psiquiátrico e psicológico, delineando aexperiéncia da loucura como inærida
no
universo da verdade e sendo reveladora do sentido singular da história do sujeito. Enfim, a psicaniílise teria estabelecido uma nova relação com a experiência da loucura retomando simbolicamente a tradÍção pré-psi-quiátrica. Nesta a loucura estava inserida na ordem do sentido, constituindo um saber original sobre o psíquico que se fundamenta na interpretação.2
E)GERIÊNCIADA
LOUCURA E CONSTITUIçÃO DE UM SABER INTERPRE_ TATIVOPodemos afirma¡ que
o
discurso freudiano inaugurou uma forma de saber que sesus-tenta fundamentalnrente na atribuição de verdade à experiência da loucurat . Por isso mesnìo esta descobcrta
implicou a
subversão da então recente tradição psiquiátrica, naqual
a loucura reduzida à condição de enfermidadefoi
desterrada do universo da verdacle.No
Renascimcnto e na Idade Clássica, isto é, no período histórico anterior â*Confcrência rcalizada no XIV Colóquio de Filosofia do CL[, da UNICAMP, em novembro de 1984.
tl,RliUD, S. Deuil et mélancolie (1917). In: FREUD, S. Métapsychologie. Pa:js Gallimard,
1968, pp. 152-153.
14
Joel Binnandenominada "revolução psiquiátrica", a loucura estava inserida treste universo e isto se verifica de maneira
n
representações legadas pela tradiçãomito'
préii;;r.
A
psicanáli
de que a loucura é uma forma de o sujeito ¡Jnet averclade;mas
.*.nt.
se realiza tlurna direção diversa da que estava anteriormente estabelecida, pois, com Freud, este postulado está centradoio
frrn"ionurnento psíquico e não na estrutu ra cósmica do mundo'Essa filiação freuOianã à tradição pré-psiquiátrica da loucura é bastante evidente' Assim, num ensaio
tardio
como
rose detnoníaca do séculoXVII"'
estafor-;Jtâ"
é üteral, quandoFreud
lógica daqueles temposde
trevas venceu fìnalmenteto
do
período da ciência 'exata'"3.
Potém,¿rrJ.
u, páginasiniciais
dos sonhos' o primadodo
serlti
loucurajá
estava assiualado' codefine o
Esta
a ordellrdo
selrtido supõe que sibilidade de falar e de ser escutado, com todos os efeitosint
rete. para destacar
.rr.,
afrito,
vamos esboçar iniciaimente como se processava arela-a loucura: rica, a loucura era
Com isso, a Psiqu
contexto, a relação terapêutica era uma. r
fronto mortal entrc a figura onipotcnte da
ã.-Ë*
"ott.qü€ncia
dis'so,este ìaber
so
ntalmente umdiscur-*
.*pfi.tti"å,
à medida que nãocon
eriéncia da loucu¡a e a ordem <1o sentido da sua experiência,3. O desdobramento teórico e histórico
di
a constituição de umàir.urro
normalizador sobre a loucuras 'Assim, se
o
discurso psiquiátrlco clctinha a verdade sobre a loucura, esta se transfor-mava numa experiéncia sem sujcitoe
este se constituiria após a modelaçãopsiquiá-trica. por
isso mesmo, a relaçãó do psiquiatra e do louco é assirnétrica, de formaab-soluta. Nela,
o
pri..iro,
,onro
figuia poclerosa' vai impor ao segundo um código de ordenamento que não cônsideraõ
suióltolla
sua experiência' Por isso mesmo, apsi-á;;;; "
traïsforma
nu'r
discurso explicativoe
numa práticade
normalização.Enfim, a
minoridade*riui
ejurítlica
clolouco,
assim como a sua exclusão asilar, sãoos
efeitos ¿ertaJeJituiçãä
prhordial do
lugardo
sujeito nesta experiê'cia'2FOUCRULt, M. ÍI¡stoirc de la folie à I'dge classique. Paris, Galli¡na¡tl, lg'12'
|
¿ c 2'¿ partcs 3l.REUD, s. A scventec't¡ì{crìtury ticuronological ¡rou¡osis (1923). In: The standorl ediliont¡lrlte complete psychologicaí
i*int
ot'SU^ttnd þlàtd..[,onclon, llogart¡ Prcss, 1978' v'XlX'p'12
[Nota editorial: todas as r"i.rã,r"L.',u "ãsa tra¿uçâo das ot¡rasde Freud sera]o indicadas:slandanl Edition.l
at,RIlUD, S. The interpretation o!'dreams (1900). Gp. I e ll, Stantlard Edition,v' lV '
SSobre estes tópicos, vide: BIRMAN, J.
A
psit¡uiatûa como díscurso da morolidade' Rio deJaneiro, Graal, 1978,
"^p.-Vl; eõÜCÀÜf-f, V. ¡i¡rto¡rt de Ia J'olie
à l'âge classique' 3'a parte:
lnUnnr,
F. Du tmit'emenr móral de la fotie ' Paris, J' B' Baillière ' 1840'-lnterpretaçEo Psicarulffíco e
IntersubjetivÌtlade
l5
O
discurso freudiatro transforma esses pressupostosdo
saber psiquiátrico,cons-tituindo
un'ra relaçãointersubjetiva
sim, ful-¡dan.rentando-scno
setìtido da experiência daloucu
não se conlìgura cofiìoum confronto entre
aS figuraSda
'
tnas sirndo
encontrode dois sujeitos inseridos tìa ordem
do
sentido. Co¡n isso, a teoria psicanalíticacons-titui-se
a partir do
sentido veiculado pelas diferentes formas de experiência dalou'
cura no contexto allalítico, encontrando nestas os seus pressupostos'
Nesta perspectiva,
o
processoe
a clfnica psicanalftica são as condições depossi-bilidade para a construção
e
reformulação da teoria psicaxalítíca, ao longodo
per-curso freudiano.A
metapsicologia procura se fundamentar numa teoria explicativa,ÐnhosE. Esse percurso é indicado no prefácio desta obra, otìde Freud forlnula que o
son¡o é uma forlnaçâo psíquica que se insere numa série, cujos outros tertlros são os sintomas das difercntcs cstruturas psicopatológicase. Posterionnente, outras produções psfquicas, collro
o
ato falhol oratlas corno forntaçõcs
do
inc sonJro pcrrttanece corrìoo
Parciente. Isso ocorre não apenas
mas tambént porque
pelo
sonho se apreendeu pela primeira vez a Prescnça, numa produçâ'o psíquica nonnal, dos mesmos mecanismos até então pertencentes aouni-?Sobrc csta articulação, vidc: BIRMAN,
J.
Repcnsando lì¡cr¡d e a constituição da clínicapsica na I í1ica, Tentpo Brasilei r¡l (7 0) : 40-96' 1982'
Ef ,Rl,:LlD, S.TIte interpretation ol'dreams (1900). Capítulo
VIl.
tn: Standard þ)drtion.v-Y'p. XXIU.
t of ,R
I i UD, S.'[lrc psycho¡rathology of everyday lifc (i 901 ). Sta ndad Edit io n, v.
Yl'
t r16
Joel Bin¡nnverso da patologia. Foi ronrpida então a fronteira entle o
Procuremos, cotttuclo,
ir
alérn desselllometrto
inau
di¿rrlo'Podetnos considerar qtre sâ'o as vicissitudes
do
proccso
lìovas^r"î;"å.";;;;#,ìJ;
,ijç:;*re
con<rúzernFre
que roran,
.
oJ,iJ,Tl
na
negativa"e
ìtilncnto
irtconscicntcde
am essamud
analítica'a
nrudança
no
contextoPsiquiá-trico,
o
eixo
da transfonnaçã'o secentla-¡
ersubjetividacle que se estabeleceno
espaçounuiitì.o.
Nela, a loucura se marca pela vcrdade, impondo-sea
sua circulaçãoe
transfortnação
so'é
análiseunru ,.tuçao
åe
relativa simetriae
qtlan
colocaa
assimetriae
demandado
anali
cione
to'
Co-nhecemos
os
efeitos dissono
processo
nsferê
paixão transfere¡cial,a
trarrsferência negativae
o
ódio mortífero do
analisando' qttatrdo não atendidora
sua ããn-'tt¿u de-queo
analista seja a rnaterializaçío deste suposto sabe¡. Eutretanto, para queo
plocesso psrcaualítico se desdobre' a figurado
ana-lista não pode se"òlo"ut
neste lugar ese acreditar na posse
outto
quó
expliqueos
seus infortú¡rios,pois
assim estaria sando se posiåioirasse corno sujeito de sua experiênciae
po cla singularidade de sua história'Como
indica*or,
l'å*"o¡t.tu
da transferência se inse¡e nesse contexto' Elasus-clo sentido' Este reconhecimento
do
sen;; il;t
matéria-prina do saberan
r
isso mesmo'o
aualista também encontrasentidos
partir dearti-;tl;F.t
realizadaspelo
analisando'Serii
,
,:---r^^.
^
^
impacto cau-sado
em nr.ud
petas'.lj;t.çõ;t
mentais ¿e seus analisandos: a sua "auto-aná1ise"dependia fundarnentalnrente
do
plocesso analítico de seus analisandosl3'
Não teriasiclo esta a diferença crucial entrã Freucl e Breuer?
o
primeiro, não acreditandoocu-par
o
lugar orripotente cla verdade,com todo
o
efeito
eróticoe
estético que isto acarretaria na relação como outro,
pode se avetìturar numa experiência intersubje-tiva;o
segnndo tugiu- em clebanclaclu ,irrun,to-qrrestionado nessa pòsição por Anaor
a.
| 2f
;RIitlt).
S. Lc uroict
le ça (1923)' Cìp'V'
tn: IrRlÌllD' S' Zss¿is tle ¡ts't'chanalrse Paris'Payot, | 981
| .
t,lll,UIt,
S. l,cttres a wilhenr Flicss, Notcs ct ['lans (1887-1902). ln: lrl{l]uD. s' La tuissattcc tlelaps.r'cltotrclvs¿.Paris,PrcsscsUniversitaírcsdtþ'r¡rncc'1973'pp207-8ep¡t'271-2'hiler¡retaçEo Psicarulftica
elntersubjetivùlale
17Procurando
ir
alérn deste argutnento, corrtuclo, qucreuros assínalar¡
ciratlui-dade estabelecidapor
Freud entreos
discursosda
psicarrálise e cla loucura, cluanclocollrenta a construção delirante
de
Sch¡eber. Conrefeito,
Freud considera não ape-nas legítimo ntas tarnbérn superior ao saber psiquiátricoo
discurso de Schreber sobre a loucurart,'u,0
encontra nodelfrio
de Sch¡eber a verificação da te<-¡ria dalibitlo'?.
Por isso nresmo, a psicaniíliseé um
discurso interpretativo, pois prcssupõeo
sen-tido
como eixo
cpistemológico paraa
sua construção. Seria apenas corn amaltu-tenção
do
primadodo
sentidoque a
psicanálise gararttir-se-iade
uln
não-retornoà ordem
psiquiátrica. Assinr, ela inrpossibilitariaa
sua transformação nrrnra prática de nonnalização, problema este, aliás, perfeilanrenteinstituído no
atual canrpo psi-canalítico.Senclo urn saber interpretativo, a psicanálise adota unr processo c¡ue se define
co-mo
irttersubjetivo. Conr isso, inclicamoso
caráterque define a
interprctaçãoana-lltica, isto é,
conro unr efeito que se a¡ticula entre as duas figuras inscridas nocon-texto
analftico, não
existindocntão
o
privilégio de
u¡na de.las nesta lblrnulação, pois a ilrter¡lretaçâ'ovai
se tccerrdo entre os dois pólos <.la relação itrtcrsubjctiva.En-finr,
o prcfixo ittter
da palavra "interpretação"já
indica csta particularidade tla her-menéutica psicanalít ica.3 REALIDADE PSÍQUICA E REPRESENTAÇÃO DA PSICANÁLISE
Após cstc pcrcurso, varnos indicar alguns pressupostos do discurso fieudiano.
A
atri-buição de verdade à cxperiéncia da loucurae a
existência deum
sujeito conto scueixo
tlc
sustcntaçaotêm
como pressuposto queo
sentido dcsta experióncia seen-contra situado naquilo que Freud denominou realidade pslquica
e
não na reolùlqdemateial.
Conr esta distinção se acentua queé
na estrutura do funcionanrentomen-tal quc
sc inscreve cssa cxperiéncia e nâ'o emoutros
referentes extra-subjetivos, sc-janr estcs biológicos ou sociais.A
psiquiatria nãoatributã
verdadeà
experiênciada
loucura quando pretendia fundamentá-la pela consideraçãode
referentes situadosna
realidade nraterial, nâo destacandoo
sujcito
corno ¡efe¡ôncia fundamental. Assim, ao discurso da loucuranão
era
crctlitada qualquer verclade,pois
esta se configuravapcla
adequação/ina-dequaçãoda
cxpcriôncia da loucura a refercntes extra-sulrjetivos.Enlìm, o
discursoda
loucuranão
sc insc¡ia na ordem da verdade quando esta se defilria pela oposi-ção verdadeilo/falso.A
cnrprcita lieudiana sc rcaliza de maneira inversa. Ncsta se acentua permanen-tementc queo
louco senlprcdiz
a verdade, que sua experiência tenì um sentido quer'ltfllltJtl,S.,Jung,C.G.Correspomlance,v. ll.Paris,Gallima¡d, 1975,pp.434epp.95-6. lóI,RliUD,
S. Psycho-analytic notes on an autobiographical account ofa case ofparanoia (De-mcntia pararroides)
(l9l
l). Starulard Edition,v. XXII, p. 43.t tIrRliuD,
l8
Joel Birman;wrde ser clecifrado para possibilitar a-sua enunciação pela palavrar
E.
Porém, paraäscutar essa verdade è necãsário considerar a realidade psíquica como o eixo
ordena-ãài
¿o sujeito. Com esta transformação de referente, a verdade pode ser enunciada,já que no plano da realidade pslquica aquelaconfere uma dimensão
de
absoluto paraabsoluto
que caracterfa a
verdadena
ec freudiano de diferentes maneiras, comoa'
psicológica.
etende transcender
os
registros da corrsciênciae do
ego, inserindoo
sentido
eriência da loucura num maü além,á;;
;;.i;
u,
.u.rui
áiversificadasdo
imp
e delineiamo
percurso histórico do sujeito.com efeito,
a consciênciae o
ego são instâncias psíquicas que representamos
referentesda
realidade materialna ordem
subjetiva, pretendendo assimrepre-sentar
a
totalidadedo
sujeito ao
relacioná-lo às exigênciasda
realidade material' EntÍio, os discursos da consciênciae do
ego se baseiam na relação de causa e efeito entreos
acontecimentos, que se inserem numa cronologiae
se regulam pelosprin-"ffio,
Oulógica formal. Eps ..pr.rentam
o
que
Freud denominoude
"processo
seãundário",1pondo-se
ao
"proãessoprimário" que
regulariao
fundamental da realidade pslquica2 I .Com i^sso,^ destaca-se que
o
discurso freudiano representao
sujeito como sendofundamentalmente dividid-o (Spaltung), rompendo assim
com a
concepção clássica deste,na
qualo
sujeito era iigurado cono
iotalidade una e indivisível' Com Freud,; ;j.ü;
ioi
figurádo, nas duas tópicas,em
registros diferenciados: inconsciente/ pre-cänsciente/cõnsciente, id/ego/superego--Entretanto, esta diversidade fundamentaliemonta
emúltima
instânciaà
multiplicidade impulsivaque o constitui
enquanto zujeito.'euando
Freud denominoua
nova ciência de metapsicologiø, ele assinalava com isso urna forma de saber que pretendiair
além da psicologia, à medida que esta secentrava na consciência e nó egõ.
Co*
isso, indicava também o que seria o fundamentoda
realidade psíquica,isto
posteriormenteo
id'Estas oposiçõeì
- realidade
d,
conscietlte/ incons-ciente, processosecundário/p
m outros equivalentes'Assim, identifica¡rdo a psicanálise com
a
raporo
tempocrono-l
ssobr.
ln: ITRUUD, S. Névrose, psychoseet
perversia
al neurosis (1909), starulardEdi-tio'n,v.
X,
In
Mëtapsychologie, pp' 1524;FRtrUD,
S.
XXIII, PP 267-8'IeFREUD, S. Notes upon a case of obsessional neurosis (1%)9). Stanclard Edition, v. X, pp.
233-6.
20FREUD, S. Audclà du principe de plaisir.(l920). In: FREUD, S. fssais de Psychanalyse
2lFREUD, S. The intcrpretation of tlreams. Cap. VII. Standard Edttion, v. V; FRI'lUD, S.
l-Interpretaçlo PsicanaVtíca e
Intersubjetívidade
19lógico e
o
tempomítico,
essa oposição seformula como
história/prélristória. Da mesma forma, a oposiçâo representação de palavra/representação de coisa éo
últimodesdobramento desta série2 2 .
Entretanto, denominando metapsicologø
o
novo saber, Freud indicava com issotambém a difìculdade que permeou a totalidade clo seu discurso para
definir
a po-sição científìca da psicanálise. Esta, por um lado, procurando definir o sentido da ex-periência da loucura, constituía-se em saber interpretativo; por outro, este saber não seinseria nos cânones objetivistas-experimentais da ciéncia dominante na virada do século
XIX.
Pelo contrário, a subjetivaçlo dos processos impulsivos no contextointersubje-tivo
constituía uma das dimensões fundamentais da psicanálise. Porém a exigência decientificidade está permanentemente presente
no
projeto
freudiano. Sabemos nã'o apenasque a
metapsicologia pretendia sera
formalização explicativada
realidadepsfquica, como também que
a
exigéncia de verdadedo
sujeito se identifìcava para Freud com o ideal da cientifìcidade, de maneira que a teoria da ilusão23 e a crítica da psicanálise como uma forma de lleltanschauung2a estão permanentemente presentes no seu desenvolvimento.Contudo a psicanálise se chocava com os cânones de cientificidade definidos pela razão cientlfica na passagem do século.
A
psicanálise era representada nos seusprimór-dios como
um "conto de
fadascientífìco"
(Krafft-Ebing)2s
e
como uma produção artfstica (Stern, Liepman)26. Essa discussão atravessa o século e nos alcança na atuali-dade. Porém cabe a nós sublinharo
modo comoFreud
representou o jovem saber.Assim, se
a
metapsicologia pretendiair
além da psicologia, para apreendera
reali-dade psíquica nos impulsos que transcendiam a consciência eo
ego, ela acabava por se identificar com a metafísica pela ruptura que realizava com os ideais de científicida-dedo
séculoXIX27.
Da mesma forma, procurando definir o sentido da experiência da loucura e rompendo então com os pressupostos da psiquiatria e da psicologia, Freud seencontra com a tradição mito-poética, na qual encontra formulações urálogas âs suas sobre a verdade da loucura e procedimentos similares aos utilizados no método
psica-nalftico.
Com efeito, Freud reconhecia a semelhança entre a técnica das associações livres e os procedimentos dos poetas para constituir um espaço pslquico especial para acriação literária2 E
.
Estas referênciæ são abundantes no discurso freudiano. Nele a evocação da
tradi
ção mito-poética supera a da tradição científìca. No legado mito-poético Freudencon-trou
um manancial inesgotável de indicações sobre o sentido da experiéncia da loucura quefora
excluído dos saberes psiquiátrico e psicológico. Politze¡ assinalou que, para22ttRliLJll,
S. L'inconscient. Cap.
Vll.
ln Métapsychologie.23f tRlil.JD,
S.'l-he future of an illusion (1921). Standard Edition,v. XXl.
2aFR|,:UD, S. The question
of a
Júeltanschøuung. In New Intoductory Lectureson Psycho-onolysis (l 933). Standard Edirion, v. XXII.
2ssobr.
isto, vidc os conrentfuios do editor J. Strachey, in FREUD, S. The aeriology
o|hys-1ëria, v.
lll.
2óJONlrS, G. l,a vie
el
I'oeuvre de Sigmurul Fleud, volune L Paris, Prcssos lJniversitaires delìrancc, 1970,
p
396."C^rlu
de lrrcud a lìliess, 2t4tl8g6. In: FRtrUD, S. Lettres à Wilhcnr lrliess, Notes et Plans(l 887-1 902).ln: FRliUD, S. La ruissance de la psycharwlyse,pp. 1434.
2 E
20
Joel Bimzan4 O DECIFRAMENTO PSICANALNICO
Comaindicaçãododesejodesaproblemáticafreudianaso-ùre
o
su¡eito' O desejo dãsaber
enunciar a existência de um sentido que ordena osujeito.At
aproximar da espe cificidadepretação.
'
Aio.-ulução
de que o sonho tem um sentido indica de modo insofismável aruptu-ra
freudiana com os saberes científìcos sobre a loucura existentes nofinal
do século2epoLITZER, G. Critique des fonelements de la psycholosie (1928). Paris, hesses universi-taires de France, 1968. CaP. I.
3oRLTIIUSSER, L. Freud et Lacan. ln:Positions' Paris, Maspcro, 1965'
-Interpretação Psicanah'ticue
Intersubjòtividale 2l
XIX,
nos quaiso
sonhoe
a loucura eram subprodutosdo
funcionamento cerebral.O sonho podia ser explicado como um efeito da fisiologia do cérebro, masnÍÍo
revela-ria
qualquer sentidoque
seria ordenadopelo
sonhador. Com esse passo inauguralFreud rompe com a tradição científica e se encontra com
o
legado milenar do sensocomum, vale
dizer, com a
tradição pré-psiquiátrica sobreo
sonhoe
a loucura32. Após estabelecer este vínculo com a tradição hermenéutica, Freud se preocupa emdefinir a modalidade do seu método de interpretação. Para isso, Freud critica os méto-dos de interpretaçâo simbólica e
de
deciframento para assinalar a particularidade de seu método. Assim, na perspectiva freudiana caberia superar estes modelos de inter-pretação, constituindo um instrumento original que fosse adequado ao novo objeto de investigação, que estava sendo construído33. Desta maneira, considerando quea,Wo-blemÍtica
da
singularidade do sujeilo constituía a questão fundamental colocada por este novo campo de objetividade, caberia criticar esses métodos estabelecidos.A
hermenêutica freudianavai
se inserir principahnente na tradição do método dedeciframento pela sua superioridade face ao método de interpretação simbólica, mas
renovandoo em tópicos fundanrentais, de maneira a construir uma forma original de deciframento. Para construir um saber da interpretação,
o
método de deciframento ésuperior ao da interpretaçã'o simbólica. Ele desloca
o
ato da interpretação da"intui-çÍio"
e da "engenhosidade" fluidos do intérprete para a solidez do instrumento meto-dológico, e também, ao rornper a estrutura do sonho como sentido totalizante e lhe conferiro
caráter de uma tessififis multiføcetada de signos, o deciframento presupõe a estrutura do sonho como sendo análoga à de umtexto,
reenviando, portanto, âlin-guagem, que seria
o
paradigmado
sentidopor
excelência. Porém este deciframento tradicional deve ser superado, tanto para se romper a relação biunlvoca dos signos com umlivro
pré-estabelecido de significações, quanto para se construi¡ um livro aberto ao sentido, que seja tão ilimitado quanto as possibilidadesde referênciae de combinação destes signos, que corresponderiam entâ'o ao universoinfinito
de posições subjetivas e àdiversidade ilimitada de sujeitos.
Por isso mesmo, considerando
o
sonho como um "escritocifrado",
como Freud o denominava3a , caberia, pelo deciframento psicanalftico, abrir este texto para a leitura edeixálo
fala¡ sem preconceitos, na singularidade da sua linguagem. Assim, cada signo nâ'o remete mais a nenhum sentidofixo,
podendo rerneter aprbrí
a uma diversidadede significações.
O
sentido específìco de cada signo está agora também na est¡ita de-pendência da combinação da totalidade dos signos presentes no sonho, que define ocontexto
do
"escritocifrado".
Desta maneira, para abri-lo à leitura pelo deciframento caberia considerar apriori
cada fragmento-signodo
sonho como uma representação complexa, que remeteria silnultaneamente a uma série de outros fragnrentos-signos do rtresmo sonhoe a
unra série de outros fragmentos-signos da experiéncia histórica dosujeito. Apenas assinl
o
sentido singular de cada fragmento-signo do sonho e de sua combinaçÍIo específica poderia ser rigorosamente decifrado.Enfim,
o
"escritocifra-32
FRIìUD, S. The intcrprctation of dreams. Cap. I. Standar( Editio n, v. lY 33I-RIìUD, S. The intorprctation of dreams. Cap. ll, pp. 96-9.
toFRIìUD,
S. Tlre intcrprctation of dreanrs, p. 97.
¡-Este método de deciframento corresponde à idéia de que o sonho já é uma interpre-tação.
Asim,
Freud postula que no deciframento psicanalltico a interpretação preten'de apreender um sentido que existe, e não criar um sentido novo, pela linguagem do intérprete, a
partir
dos signos apreæntados na configuração interpretável. Iaplanche acentuaisto
ao assinalar que a palavra germânica Deutung apreænta um signifìcado bastante "realista", pois circunscreve uma operação racional que visa a captar o sentido na sua especifìcidade, isto é,que
idade e não um sentidoque
vai
ser recriado pelointérp
debate de Freud comJung
se insere nestecontexto,
tualizaçÍio"do
sentidopromovida por Jung e destaca a singularidade das marcas diversificadas do sentido, en'
lat2ando
o
procedimentoda
"análise" face à totalização promovida pela "síntese". Assim, seo
sentidojá
se encontra registrado e não se constitui como algo criado pelo intérprete, isto implica que se retire apriori
do
intérprete a soberania que tradicionalmenter
intérprete fìcam submetidos às vicisitudes
do
sennão podem recupetar
o
sentidono
registro que lhes interessar. Esta conseqüéncia secolocava inevitavelmente
tanto na
interpretação simbólica quanto ao deciframento tradicional, pois nesteo
código estava definido apriori
ea"atte
da interpretaçâ'o" atribuía à"intuição"
do intérprete um lugar fundamental.Porém, esta singularidade do sentido pressupõe a existência de uma relação de fun-damentação entle
o
sentido e a interpretação, na qual o sentido do sonhojá
seconsti
tui
como uma interpretação do sujeito sobre o seu próprio desejo e o deciframento do sonho visaria a explicitar esta interpretação cifrada. Com efeito,o
"escrito cifrado"já
é uma interpretação que se realizou. Não é entÍIo uma combinação de marcas-signosque demande um código que lhe seja exterior para que possa ser interpretado, sendo
uma combinação que se ordena
por um
código determinado.A
interpretaçãopsica-nalltica
seria a tentativa de descoberta de um código, implicando isso a explicitação de suas regras de fundamento e a pontuação do sentido particular que este código arti-cula num contexto determinado.Seria precisamente isso que Freud destaca quando formula literalmente que a
narra-tiva
oníricajá
é uma interpretação36, e que caberia ao deciframento psicanalítico aremontagem deste processo interpretativo que se encontra materializado nas imagens
do
sonho. Portanto fundamenta-se nesta concepçãoo
postulado freudiano sobre o3tLaPLRNCHE, J. Interpréter [avec¡ Fteld. L'arc (34): 38, 1968. 36FREUD,
Interpretação Psicstwlltica e
Intersultietivùlade
23senti<lo cla loucura,
à
medida que este pr sendo basicamente sentido e que, para isso ¡nente intérprete. Por isso mesmo, o process suU¡etiviOaAè, pois a. figurado
analisand.o nc.te e não ocupa a pooçuo
dt
um meto objeto interpretável pelo analista'5 O IMPULSO COMO FI']NDAMENTO DE UM SABER INTERPRETATIVO sentido e
a, Porém é
stância
o
Pestões se a¡ticulam no conceito fundamen-impulso' Por meio deste podemos destacar ise procura articular as ordens
do
corpo eoposição entre o somático e o e era defìnido como um "con-se Postular a existéncia de um
ns'
que seria a mediação que regularia asda insistente pressão dos impulsos' nunca ordem corporal e a ordem psíquica as
ma relação de causalidade, pois existi' s ordens, de forma a se caracterizar a
exigência de um trabalho de transposição uesiem no universo da representação'
Dessa maneira,
o
conceito de impulso stesintr
que estr
3?lrRtiUD, S. pulsions et dcstins des pulsions (1915). ln Métapsycholosie,p lS'
"Sobr"
alguns dos pressupostos tcóricos do conccito de impulso' vidc:F RtiUD' S' Pulsions et
24
Joel Birmnnlueardereceptáculopassivodasemanaçõescorpóreas,ondeserestringiaàcondiçãode
ffi;ptf;il;no
totnátito ou simplesmente como a auto€xpressão deste'Dede
1gg1, quando realizou a sua obra sobre a afasia3e, Freud-neurologistajá
se inseria na linha¿rrtu inu.tigução,
pois questionava de maneira incisiva a teorialocali-zadora
do
cérebro.
";
;ffi;l
O.rt.
poitutudo mecanicista na teoria dominante da ando os presupostos da teoria deste' bemî1îi.ï,',Tl,iliÏí"i:iülö:";:iåi1
se posicionando numa
linha
teórica que ões entre o psíquico e o somático' conside-ermitisse à õrdem psíquica uma autonomiarelativa face à ordem orgânica.
En
Sobre a afasiajá a problemática da considerandoo
corpo da linguagem comotigar a articulação entre o orgânico e o ps
^ulirudu
como transposição,isto é, como
amental nesta construção teórica' como se-os seus escritse-os metapsicológicse-os' Da
mes-ao da afasia, Freud
rito
no Plano dalin
mo um instrumento
oderna marcada pela tradição naturalista eu "tratamento", considerando esta relação
a de magia, em função das ligações míticas se constitui como ordem Pslquica se
o
a rlnica caPaz de forma Permanenter
ressupos-r
sPoslçao'I
alizaria o Nesta PersPectivimpulso com uma inscrever na ordem
onde se realizaia a passagem de
um
reg estruturação da ordem psíquica' Por isso dos impulsos do plano de seus represent3eFREUD, S. On Aphasia (1891)' New York' International Universities' 1953' aoFREUD, S. Psychical (or mental) treatment (1891)' Standard
Edition'v'Yll
Y-Interpretaçõo Psicarwlltica e
Intersubietividade
25entre o biológico e
o
psíquico, no qual os irnpulsos seriam considerados "incognoscf-veis". Seriapor
isso, também, que Freudvai
qualificar a teoria dos impulsos corno"mitologia"a
I
da análise e a metapsicologia como uma"lnitologia"
dos irnpulsos. Assím, situado no contexto da ordem psíquica, considerado através de seus repre-sentantes psíquicos, o impulso se apresenta como afeto e como representante-represen-taçõo. Os destinos do impulso na ordem psíquica podem ser apreendidos através das vicissitudes que norteiam a apresentação dessas duas dimensões de sua representaçãona
ordem psíquica. Porém, para captar a inscriçãodo
impulso na ordem psíquica, existe uma evidente prioridade episternológica conferida ao representante-representa-ção frente ao afeto, sendoo
primeiro considerado como a inscrição por excelência, o que marca a passagem entre as duas ordens, pois seria a única forma de investigar aespecifi cidade desta inscrição.
Desta maneira, é
muito
significativo, para a interpretaçâ-o que estanrosdesenvolven-do desenvolven-do
pensamento freudiano, que seja através do representante-representação que sercalize a investigação do impulso. Se¡ia exatamente o representante-representaçã'o que marca a inscriçâ'o do impulso no universo da representação, como pode ser inferido do sentido etimológico
da
palavralatina
"representatìte", que significa "delegado"42. Enfìm, esta passagem da ordemdo
corpo para a ordenr do psíquico, enquanto inscri-çãodo
impulsono
campo da representação,de
fìne rigorosamente a especificidade teórica deste objeto construído pelo pensamento freudiano.A
inscriçãodo
impulsono
universoda
representação atravésdo
representante-representaçãodo
impulso, as dificuldades existentes nessa inscriçãoe
os obstáculos sempre colocados para este trabalho de transposição entre as duas ordens diferentes, assim como a dinâmica constituída entre estes representantes-representações movimen-tados pelo investimento afetivo, vão circunscrever fundamentalmente o campo episte-mológico da psicanálise. Poriso
lnesmo, deslocar o ser do impulso para um dos pólos da oposíção somático/psíquico e silenciar a sua inovação teórica como ser de mediaçio entre estas duas ordens, implica uma transformação fundamental do objeto da psicaná-lise, que conduziria, por um lado, a uma concepção biologizante do seu objeto e, pelo outro, a uma concepção psicologizante do mesmo.Com efeito, considerar
o
impulso como pertencendo fundamentalmente à ordem somática, dissolvendoo
seu ser nas suas"fontes"
corporaise
passar a considerálo como"instinto",
como se realizou com ulna parcela significativa do pensamentopsica-nalftico pós-freudiano (principalmente o americano mas também o inglês)a 3, ou, entâ'o, considerar o impulso como uma entidade pertencente à ordem psfquica (o que ocorreu com uma parcela sígnificativa da psicanálise norte-americana com o nrovimento cultu-ralista), implicarn ambas uma transformação radical
do
objeto da psicaniílise. Ela seaIFRDUD,
S. New introductory lcctures on psycho-analysis (1933).
XXXII
conferênce. Stondarcl Edition, v. XXII, p. 95.a2LAPLANCHf, J., Pontalis,
I.
B. Vocabulaire de la psychanalyse. Paris, Presses Unive¡sitaires de France, 19'13,4.4 ediçîo, pp. 412-3.
43corno fica rcpresentado na traduçâo de Strachey pan a Standard Edition, onde Tlieb étra-duzido por instinto.
Assim, seria
o
posicionamentodo
pensamento freudiano face aos termos desta antiga problemática da metafísica ocidental, procurando apreender a passagem entre o somático e o psíquico pela inscrição da"força"
no universo da representação, que con-fere originalidade epistemológica ao saber psicanalltico face à biologia, à psicologia e àpsiquiatria. Seria pela consideração dos obstáculos colocados nesta inscrição, que se
apresenta pelos destinos do impulso na ordem pslquica, que a primeira tópica
freudia-na pôde se constituir, considerando a oposição inconsciente/préconsciente/consciente,
pois
o
impulso, enquanto ser intermediário entreo
psíquico eo
somático, estaria aquém desta problemática. Comodiz
Freud,"a
oposiçÍÍo entre consciente e incons-ciente nä'o se aplica aos impulsos"a a.A
problemática de um psiquismo inconsciente apenas se coloca de forma legftima quando considera fundamentalmente as marcas diversificadas produzidæ por estes im-pulsos no universo da representação, de forma a marcÍu esta passagem pela diversidadede
inscrições. Seriapor
isso, também, queo
deciframento psicanalítico se tomaria válido epistemologicamente como a metodologia adequada para a apreensâ'o destecam-po teórico. Com efeito, seria esta concepção de impulso e a demanda para a sua inscri-ção necessária no universo da representação que nos permitiria representar a metodo-logia psicanalftica como devendo realuar
o
deciframento diversificado destasinscri
@es e de sua dinâmica na ordem psíquica.
Assim, esta inscrição do impulso no universo da representação seria o que inaugura
o
sujeito como sentidoe
como intérprete, vale dizer, como sujeito-interpretação daforça do
impulso. Se considerarmos que as demandas dos impulsos são múltiplas ediversificadas, podemos indicar agora porque este sujeito-interpretação se apresenta necessariamente como diverso e plural, distante, então, da figura de um sujeito uno e
totalizado que se origina num ponto
fixo.
Além dísso, estas marcas originárias sofrema posteriori um
permanente processode
reinterpretação em função das diferentes posições libidinais queconfþram o
percurso histórico do sujeito. Podemos entrever também que este vai se constituindo como uma trama interminável de sentido na qual é imposslvel definir uma origem absoluta, poiso
que a genealogiado
sujeito indica éque este é, desde sempre, interpretação.
O
deciframento freudiano,na
sua insistência analítica, desliza na rededo
senti-do senti-do particular ao particular. Ele é a contrapartida metodológica dessa concepção de zujeito fundado no impulso. Porém, se isso nos indica
o
caúÍ.er interpretativo do saberpsicanalítico, é preciso que destaquemos neste contexto a necessária dimensão inter-subjetiva desta forma de interpretação.
Assim, para que se realize o domínio da força dos impulsos no universo da represen-tação, ê preciso considerar o lugar fundamental ocupado pelo outro. Desde os seus
pii-mórdios,
o
sujeito apenas se ordena, enquantotal,
através dooutto,
situado como intérprete destes impulsos polimorfos. Sem ele não existe qualquer possibildade pæaaaFREUD,
Interpretaçio Psicannlttica e
Intervbietivídade
27aquele de
ord
mesmorefere
a
esta
defineo
quedestina
aro fun bém adepend
sujeitoria . Portanto, seria pela interpretação
do
outro queo
sujeito æ constitui no universo da representação, inscrevendo os impulsos.Porém
o
enigma de suas origens acompanha desde sempre a história do sujeito,mo-delando
de suæ marcas deim
sua tessitu¡apslquica.
sinfantis"a?
sâõmat
o sujeitoor-dena
ao
rso para apreendero
Nelas,desta-cando certos referentes corporais e certas formas de relação interzubjetiva, ele procura reconstituir
o
seu advento como sujeito, pela interpretação de suas origens. Enfim, como
processo psicanalltico, no qual o sujeito empreende a genealogia de seu enigma,ele
retoma maisuma
vezo
que
rcaliza desde sempre, reinterpretando as "teorias sexuaisinfantis"
que construiu no seu percutso histórico.aSFREUD, g. Esquisse d\rne psychologie scientifique (l 895). ln: La naissance de b psycharu-lyse,p, 336,p.376.
aóFREUD,
S. Inhibition,symptômeetangoisse (1926).Pa¡is,PressesUniversitairesdeFrance, 1973. Cap. IX e X.
aTFREUD, S. Les théo¡ies sexuelles infantiles (1908). In: FREUD, S. La vie sexuelle.Pais,
Presses Universitai¡es de France, 1973.