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Maria Helena Esteves da Conceicao

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Academic year: 2021

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O ENSINO DE QUÍMICA NA ESCOLA PÚBLICA:

INTERDISCIPLINARIDADE NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO EDUCADOR

CONCEIÇÃO, Maria Helena Esteves Resumo:

Buscar a mudança de postura dos alunos frente à valorização da própria vida através do ensino da química e do estudo das possibilidades de conhecer esse aluno é a proposta deste trabalho. Como conhecer esse aluno e apresentar a ele a ciência que salva e que mata, submetendo-o a um discernimento crítico em prol de sua vida? Como desenvolver no aluno, através das aulas de química, uma valorização do próprio ser partindo do aluno cognitivo e sensibilizando o aluno afetivo, tendo-os como único? A omissão da professora frente à morte lenta desses alunos, devido ao consumo de bebida alcoólica, entre outras formas de desprezo à vida, busca ter um fim. Buscar na Interdisciplinaridade uma proposta de trabalho que una o saber químico ao saber psicológico, movimentando a auto-estima do aluno, transformando seu auto-conceito e propiciando caminhos de auto-valorização é uma das possibilidades vislumbradas. Acreditando na ação como oposição à omissão, resolvi buscar o mestrado. Se a Química é a ciência que dá à vida as condições de existência, há de se cuidar e valorizar essa existência. Pesquisar caminhos para o ensino da química, numa abordagem interdisciplinar que leve o aluno a pensar sua prática social no tocante à sustentabilidade.

Palavras-chave:Interdisciplinaridade. Ensino de química. Escola Pública. Prática Pedagógica

Introdução:

Diante das dificuldades encontradas como aluna, na disciplina de química, no curso colegial, atual ensino médio, propus-me um desafio: graduação em química! Prestei o vestibular e

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fui admitida no curso de graduação - licenciatura plena e bacharelado em química. Não encontrei grandes dificuldades de aprendizagem no curso superior.

Cursando o terceiro ano da graduação, iniciou-se minha trajetória profissional na área, como analista química de controle de qualidade, em uma indústria farmacêutica. Havia aproximadamente oito anos que atuava na indústria, quando se deu minha entrada no magistério público, como professora de química. Apaixonei-me pelo magistério, ampliei o número de aulas atuando também em escola técnica da rede particular de ensino.

Minha experiência em indústria muito me auxiliou nos exemplos usados em aulas teóricas e na operacionalização das aulas práticas. Com o auxílio dos alunos, improvisei laboratórios e, utilizando materiais caseiros dos mais diversos, aconteciam as aulas práticas, enriquecedoras da aprendizagem. Efetivei-me como professora da rede estadual de ensino em 1981. Cursei licenciatura em Pedagogia e sonhei caminhos a serem percorridos com meus alunos. Por alguns, caminhei...

Não sei onde a educação se perdeu!

A conduta dos alunos se modificou, houve uma inversão de valores, o desrespeito pelo professor foi instaurado. Porém, submersa no processo, não percebia a transformação das condições de trabalho do professor e de toda alteração pela qual passava a educação.

E as aulas de química nesse ambiente onde o verbo estudar não encontrava condições de ser conjugado?

Os alunos agora já não tinham o menor interesse por aula nenhuma, pois freqüentavam a escola para se alimentar.

A aula de química ou de qualquer outra disciplina era quase nulidade para esses alunos. O laboratório, em uma das reformas educacionais, foi transformado em sala de aula para atender à demanda de alunos, mesmo após a insistência dos professores da área de ciências, com seus pedidos de não destruição do único ambiente para diversificação das aulas.

Por insistência e ousadia dos professores da área, algumas aulas eram ministradas em espaço aberto, em terreno próximo à escola.

Nesse contexto, as aulas de química passaram por diversos momentos, o da elaboração de processo hidropônico, em que os alunos adoravam – aqueles que faziam a atividade proposta, os “bons alunos”, pois chegavam a colher alimentos e levá-los para suas casas e esse processo de participação desde o plantio hidropônico até o seu resultado final (colheita da verdura) era motivador tanto para eles como para a professora; passaram também por aulas em que a professora apenas depositava o conhecimento, conforme a Educação Bancária de Paulo Freire. Em sala de

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aula, devido ao número excessivo de alunos, o silêncio da turma era exigido por um terrível autoritarismo e eu, a professora, considerada excelente profissional pelos dirigentes da unidade escolar.

Era preciso audácia para promover um trabalho diferenciado na escola, pois os alunos conversavam entre si, trocavam opiniões e isso fazia barulho, incomodava, era considerado bagunça. Foi com muito custo que consegui produzir com os alunos sabão e desinfetante e convidá-los a distribuir esse material em um presídio feminino. Esta foi uma forma de atuação em Projeto Social com os adolescentes, das mais valiosas já vivenciadas por mim.

Além da aprendizagem em química, aprendiam também a cuidar das outras pessoas. Foram momentos ricos de aprendizagem, de atuação e interação dos alunos. Com essas atividades práticas e atuações sociais, embora raras, via possibilidades de melhoria na postura dos alunos.

Alguns anos se passaram, favelas foram construídas ao redor da escola, grades foram colocadas para proteger a escola. E a cada ano, a população local empobrecendo, empobrecia também a escola, tanto no aspecto financeiro quanto no de possibilidades de melhoria da qualidade das aulas. Os alunos, aos poucos, iam se envolvendo com as drogas: álcool, maconha, cocaína, segundo seus próprios discursos.

E o professor? Impotente, continuava com giz e lousa explicando o Modelo Atômico de Rutherford-Bohr. Alunos embriagados em sala de aula já faziam parte da rotina e o professor, com giz e lousa explicando o Modelo Atômico de Rutherford-Bohr. As grades que ora os protegiam, agora já abrigavam alguns deles do lado de dentro da escola.

Ano após ano e professor ali, com seu giz e lousa explicando o Modelo... O quadro geral há de ser modificado!

A cada ano que se inicia, apresento aos alunos do primeiro ano, a química como a ciência que salva e a ciência que mata e mostro-lhes que tudo depende do uso que fazemos dela. Travamos longas discussões sobre exemplos de vida e de morte a partir da química. Vamos estudando, conhecendo o conteúdo socialmente elaborado e elaborando outros novos. Mas, o discurso não convence; apenas alguns alunos se interessam pelo estudo. A grande maioria vai agora à escola por lazer, uma vez que nem a isso eles têm mais direito, como moradores de periferia e muitas vezes desempregados, oriundos de famílias de baixo poder aquisitivo. A escola é ponto de encontro, de namoro, de consumo de bebida alcoólica, de encontro e confronto de gangues.

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A aula é ainda menos interessante, a relação aluno-professor é superficial. Os alunos, de modo geral, não valorizam as próprias vidas e, portanto, não sentem necessidade de respeitar o outro.

A fragmentação dos saberes distanciou o ser humano afetivo do ser humano cognitivo; parece que o ser que ama é diferente do ser que aprende. Assim o aluno, muitas vezes sequer percebe o valor de sua vida. Não se respeitando como ser humano integral, muitos consomem-se nas drogas, entram para as salas de aula sem a menor condição de aprendizagem e de elaboração de conhecimento, alcoolizados. Ao professor resta implorar silêncio e tentar desenvolver alguma atividade com os pouquíssimos alunos que ainda têm certo grau de interesse.

Minha trajetória profissional em educação, tendo ocupado os cargos de coordenação pedagógica e direção de escola por vários anos, propiciou-me uma visão múltipla do adolescente. A especialização em psicopedagogia forneceu-me subsídios teóricos, através da Psicogenética de Wallon, dos estudos de Vygotsky para tentar ousar e lançar a esse aluno um olhar como ser integral, um ser que aprende, que ama e que necessita, urgentemente, ser amado.

Buscar a mudança de postura dos alunos frente à valorização da própria vida através do ensino da química e do estudo das possibilidades de conhecer esse aluno é a proposta deste trabalho. Como conhecer esse aluno e apresentar a ele a ciência que salva e que mata, submetendo-o a um discernimento crítico em prol de sua vida? Como desenvolver no aluno, através das aulas de química, uma valorização do próprio ser partindo do aluno cognitivo e sensibilizando o aluno afetivo, tendo-os como único?

A omissão da professora frente à morte lenta desses alunos, devido ao consumo de bebida alcoólica, entre outras formas de desprezo à vida, busca ter um fim.

Buscar na Interdisciplinaridade uma proposta de trabalho que una o saber químico ao saber psicológico, movimentando a auto-estima do aluno, transformando seu auto-conceito e propiciando caminhos de auto-valorização é uma das possibilidades vislumbradas.

Acreditando na ação como oposição à omissão, resolvi buscar o mestrado.

Se a Química é a ciência que dá à vida as condições de existência, há de se cuidar e valorizar essa existência.

Pesquisar caminhos para o ensino da química, numa abordagem interdisciplinar que leve o aluno a pensar sua prática social no tocante à sustentabilidade

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A prática em sala de aula, o desgaste físico e emocional do professor, a conversa dos professores no horário do intervalo sobre o desânimo das aulas seguintes, a falta de perspectiva em relação a um futuro mais digno para o aluno e para o professor a inquietação do professor frente à postura de auto-desvalorização do aluno leva-me a buscar, como relevância social e educacional do problema, alternativas de práticas pedagógicas que possam proporcionar, pelo menos, esperança na possibilidade de melhoria na área educacional, na prática pedagógica do professor, no sentido de ter uma fala significativa para o aluno, que além de proporcionar condições de aprendizagem também o faça refletir criticamente sobre o valor da vida.

Torna-se necessária uma investigação sobre conceitos de Zona de Desenvolvimento Proximal, de Vygotsky, para a compreensão dos processos de aprendizagem do adolescente.

O tema Interdisciplinaridade também merece ser pesquisado, pois esclarece-nos a respeito da articulação possível entre a química e psicologia; e ainda mais, no sentido de permitir ao adolescente a possibilidade de buscar em sua própria história soluções para seus problemas, conforme nos indica Fazenda (2003).

Vale ressaltar que esse enfoque teórico pretende ser a linha estrutural deste trabalho, pois busca pautar-se na contribuição pioneira e incomparável de Ivani Catarina Arantes Fazenda, no tocante à Interdisciplinaridade,

O Professor Reflexivo também é um assunto que investigarei, a fim de pesquisar sua importância no momento de elaboração da aula que se pretenda interdisciplinar, pois como retrata Alarcão (2005), “A noção de professor reflexivo baseia-se na consciência da capacidade de pensamento e reflexão que caracteriza o ser humano como criativo e não como mero reprodutor de idéias e práticas que lhe são exteriores”.

Há ainda a necessidade de estudo sobre as características dos adolescentes, para buscar entender os motivos de suas ações. Para tanto, contarei com a colaboração da Teoria Psicogenética de Wallon, quando nos propõe a alternância dos aspectos cognitivos e afetivos ao longo da vida humana; fator relevante e imprescindível para nortear o agir do professor em sala de aula.

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A fim de compreender a dinâmica do professor de Química na elaboração da aula e na relação com seu aluno, optei pelo paradigma qualitativo de pesquisa, numa abordagem crítica, sob o enfoque da Etnografia Colaborativa, pois como afirma Magalhães (1994), este tipo de metodologia permite ao pesquisador conduzir uma pesquisa voltada para a auto-reflexão do professor e possibilitar-lhe entender a sua ação, a relacionar teoria e prática, intenção e ação. Justifica-se essa metodologia, pois a pesquisa vem acontecendo com a participação de três professores de química, dos quais sou um, e de três alunos do ensino médio de uma unidade escolar da rede estadual de ensino, situada na zona leste da cidade de São Paulo.

A coleta de e a análise de dados serão pautados, teoricamente, em Rizzini, Castro e Sartor (1999). Os dados serão coletados a partir da história de vida dos três professores e dos três alunos supracitados. A observação participante (em andamento), o diário de campo e questionários com perguntas abertas, para as quais utilizarei Lucioli (2003) serão também instrumentos a serem utilizados na coleta de dados. Devido à presença de questões abertas na coleta de dados, esta pesquisa terá em sua análise de dados a Análise de Conteúdos, instrumento útil para sanar problemas de ambigüidade de interpretações.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade – adolescência – cognição – afetividade Referência Bibliográfica:

ALARCÃO, Isabel. Professores Reflexivos em uma Escola Reflexiva. São Paulo: Cortez, 2005. FAZENDA, Ivani. Em Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa São Paulo: Papirus, 2003.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São Paulo:Paz e Terra, 1979.

GALVÃO, Izabel. Henry Wallon – Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil.Rio de Janeiro:Vozes, 1995.

KHOL, Marta – Aprendizado e desenvolvimento:um processo sócio-histórico.São Paulo:Scipione, 1993.

LUCIOLI, Roseméri Maria.As Perguntas como Mediadoras no Processo de Construção do Conhecimento. PUC-São Paulo.2003.

MAGALHÃES, Maria Cecília Camargo.Etnografia Colaborativa e Desenvolvimento do Professor. Texto publicado no IEL – Trabalhos em Lingüística Aplicada n.23;Campinas:jan/jun 1994.

PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza (Org).Psicologia&Educação– Revendo Contribuições.São Paulo: Educ, 2000.

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RIZZINI, Irma; Castro, Monica Rabello e Sartor, Carla Daniel.Pesquisando...Guia de pesquisa para programas sociais.Rio de Janeiro:Editora Universitária Santa Úrsula,1999.

Referências

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