UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
Vanessa Cristina Baptista
Ação do exercício físico e da atorvastatina na
função cardíaca em modelo experimental
de infarto agudo do miocárdio
CAMPINAS
2019
VANESSA CRISTINA BAPTISTA
AÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO E DA ATORVASTATINA NA
FUNÇÃO CARDÍACA EM MODELO EXPERIMENTAL
DE INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO
Tese apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas, como parte dos
requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutora
em Ciências
ORIENTADOR: Pedro Paulo Martins de Oliveira
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO
FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA
VANESSA CRISTINA BAPTISTA E ORIENTADA PELO
PROF. DR. PEDRO PAULO MARTINS DE OLIVEIRA
CAMPINAS
2019
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Faculdade de Ciências Médicas
Maristella Soares dos Santos - CRB 8/8402
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Action of physical exercise and atorvastatin in experimental
model cardiac function of acute myocardial infarction
Palavras-chave em inglês: Myocardial infarction Physical exercises Atorvastatin Ventricular remodeling Fibrosis Collagen
Área de concentração: Fisiopatologia Cirúrgica Titulação: Doutora em Ciências
Banca examinadora:
Pedro Paulo Martins de Oliveira [Orientador] Luciana Castilho de Figueiredo
Otávio Rizzi Coelho Filho Audrey Borghi Silva João Carlos Ferreira Leal
Data de defesa: 27-02-2019
Programa de Pós-Graduação: Ciências da Cirurgia
Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a) - ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0002-3632-5312
- Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/4608772427134715
Baptista, Vanessa Cristina, 1982-
B229a Ação do exercício físico e da atorvastatina na função cardíaca em modelo experimental de infarto agudo do miocárdio / Vanessa Cristina Baptista. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.
Orientador: Pedro Paulo Martins de Oliveira.
Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas.
1. Infarto do miocárdio. 2. Exercícios físicos. 3. Atorvastatina. 4. Remodelação ventricular. 5. Fibrose. 6. Colágeno. I. Oliveira, Pedro Paulo Martins de, 1968-. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Ciências Médicas. III. Título.
COMISSÃO EXAMINADORA DA DEFESA DE
MESTRADO/DOUTORADO
VANESSA CRISTINA BAPTISTA
ORIENTADOR: PEDRO PAULO MARTINS DE OLIVEIRA
MEMBROS:
1. PROF. DR. PEDRO PAULO MARTINS DE OLIVEIRA
2. PROF. DRA. LUCIANA CASTILHO DE FIGUEIREDO
3. PROF. DR. OTÁVIO RIZZI COELHO FILHO
4. PROF. DRA. AUDREY BORGHI SILVA
5. PROF. DR. JOÃO CARLOS FERREIRA LEAL
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas.
A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da FCM.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a meus queridos pais que incondicionalmente iluminam
meus caminhos obscuros, me apoiaram e me incentivaram nesta trajetória. Sempre
presentes, batalhadores do qual me orgulho de ser filha.
Aos meus familiares, amigos, colegas e professores que contribuíram,
apoiaram e acreditaram na realização deste trabalho.
“Ninguém é tão sábio que não tenha algo para aprender E nem tão tolo que não tenha algo a ensinar” Blaise Pascal
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me dar forças e coragem para vencer os obstáculos e
me proporcionar novos caminhos e possibilidades.
Ao meu orientador Dr Pedro Paulo professor e médico admirável, por ter me
acolhido e aceitar ser meu orientador, me incentivar e apoiar no final desta tese,
muito obrigada pela paciência, cuidado e presteza na correção deste trabalho.
Gratidão por tudo.
Agradeço especialmente a Professora Dra Denise Vaz de Macedo, minha
co-orientadora, pessoa admirável, que esteve presente em todos os momentos, não só
durante a execução deste trabalho, mas principalmente dando incentivo e estímulo,
das mais diferentes formas. Sua paciência, cobrança e, principalmente, o cuidado e
a presteza na correção e orientação do trabalho foram um dos principais
ingredientes para que esta tese tomasse corpo. Muito obrigada por tudo!
Agradeço ao orientador Prof. Dr. Orlando Petrucci por toda orientação,
estímulo e incentivo para que esse trabalho tomasse corpo. Muito obrigada pela
confiança.
A equipe da técnica cirúrgica do Núcleo de Medicina e Cirurgia Experimental,
Willian, Ana e o Miguel pelo auxilio e assistência durante a execução dos
procedimentos cirúrgicos experimentais.
Ao professor Karlos Vilarinho pelo apoio e auxílio e assistência durante os
procedimentos cirúrgicos.
Aos amigos e companheiros de laboratório Helison Rafael do Carmo, Karla
Reichert e Isabela Bonilha. Obrigada por todo apoio e colaboração durante este
A Daniela Diógenes bióloga, amiga e mentora, obrigada pela ajuda e apoio
científico durante a execução dos experimentos laboratoriais. Obrigada por toda
ajuda e por compartilhar seus conhecimentos.
A todos os meus familiares e amigos que me apoiaram e participaram das
minhas escolhas.
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de
RESUMO
Introdução: O infarto do miocárdio (IM) é uma das causas mais frequentes
para o desenvolvimento de insuficiência cardíaca. Estratégias terapêuticas que
modulem o remodelamento ventricular (RV) têm sido indicadas após o IM. O
exercício físico e a atorvastatina podem exercer efeitos na mecânica do miocárdio,
desempenho ventricular, e no metabolismo do colágeno e fibrose.Objetivos: Avaliar
os efeitos do exercício físico e da atorvastatina na melhora do remodelamento
ventricular pós-infarto do miocárdio induzido em ratos de forma experimental.
Materiais e métodos: Foram avaliados 108 ratos Wistar machos com 4 semanas de
vida, submetidos à ligadura permanente da artéria interventricular anterior ou sham.
Os animais foram divididos em 8 grupos: SHAM, (n=7), SHAM/TR (n=6), SHAM/AT
(n= 5), SHAM/TR/AT (n= 8) e IM (n=7), IM/TR (n=9), IM/AT (n=10), IM/TR/AT (n=13).
No 1°dia de pós-operatório, os grupos AT receberam atorvastatina (10mg/kg/dia); no
2°dia, foi iniciado o protocolo de treinamento na esteira durante 8 semanas. Análises
por cateter de pressão-volume e histológica do ventrículo esquerdo (VE) foram
realizadas, bem como o teste de exaustão nos períodos de 4 e 8 semanas pós
treinamento. Resultados: A razão entre peso do VE e o peso animal nos grupos
infartados foi maior nos grupos treinamento e atorvastatina. O treinamento em
associação com a atorvastatina reduziu a área transversal dos cardiomiócitos
quando comparamos aos animais dos grupos IM (IM/TR/AT 273.5 ± 66.9μm2 vs. IM 293.4 ± 65.9μm2, IM/TR 299.2 ± 72.9μm2, IM/AT 299.0 ± 58.6μm2, P<0,01). A partir dos dados hemodinâmicos a derivada de pressão/derivada de tempo mínima (dP/dt
mín) nos grupos IM tratados com atorvastatina, independente ou não de treinamento
0.0002mmHg/s vs. IM/TR 0,00343 ± 0,0008mmHg/s e IM/AT 0,00421 ±
0,0006mmHg/s; IM/TR/AT 0,00234 ± 0,0005mmHg/s vs. IM/AT; P<0,05). O conteúdo
de colágeno e fibrose no VE e observamos que o treinamento associado ou não com
a atorvastatina foi eficiente para diminuir principalmente a ocorrência de fibrose nos
grupos infartados (IM 12.4± 0.76%, IM/TR 4.9 ± 1.6%, IM/AT 12.3 ± 3.8% e
IM/TR/AT 7.0 ± 3.3%; P<0,05). A análise da distância percorrida nos mostra que os
animais treinados tiveram desempenho melhor em relação ao grupo IM (IM 265.5 ±
147.8m vs. IM/TR 673.4 ± 334.3m, IM/TR/AT 641.1 ± 341.0m, SHAM/TR 729.6 ±
184.6m e SHAM/TR/AT 604.3 ± 244.8m; P<0,01). Conclusão: Os dados obtidos nos
mostram que o exercício físico e a atorvastatina melhoraram a funcionalidade
ventricular, reduzindo o remodelamento desfavorável e a hipertrofia após o IM em
ratos.
Palavras-chave: Infarto do Miocárdio, Exercício físico, Atorvastatina,
ABSTRACT
Introduction: Myocardial infarction (MI) is one of the most frequent causes for
the development of heart failure. Therapeutic strategies that modulate ventricular
remodeling (VR) have been indicated after MI. Physical exercise and atorvastatin
may exert effects on myocardial mechanics, ventricular performance, and collagen
and fibrosis metabolism. Objectives: To evaluate the effects of physical exercise and
atorvastatin on the improvement of ventricular remodeling after myocardial infarction
induced in experimental rats. Materials and methods: We evaluated 108 male Wistar
rats at 4 weeks of age submitted to permanent ligation of the anterior interventricular
artery or sham. The animals were divided into 8 groups: SHAM (n=7), SHAM/TR
(n=6), SHAM/AT (n=5), SHAM/TR/AT (n=8), IM/TR (n=9), IM/AT (n=10), IM/TR/AT
(n=13). On the 1st postoperative day, AT groups received atorvastatin
(10mg/kg/day); on the 2nd day, the treadmill training protocol was started for 8
weeks. Left ventricular (LV) pressure-volume and histological catheter analyzes were
performed, as well as the exhaustion test at the 4 and 8 week post-training periods.
Results: The ratio of LV weight to animal weight in the infarcted groups was higher in
the training and atorvastatin groups. The training in association with atorvastatin
reduced the cross-sectional area of the cardiomyocytes when compared to the
animals of the IM groups (IM/TR/AT 273.5 ± 66.9μm2 vs. IM 293.4 ± 65.9μm2, IM/TR 299.2 ± 72.9μm2, IM/AT 299.0 ± 58.6μm2, P<0.01). From the hemodynamic data the minimum time pressure/derivative derivative (dP/dt min) in the IM groups treated with
atorvastatin, independent or non-training, showed higher values compared to the IM
animals (IM 0.00180 ± 0.0002mmHg/s vs. IM/TR/AT 0.00234 ± 0.0005mmHg/s vs.
the training associated or not with atorvastatin was efficient to decrease mainly the
occurrence of fibrosis in the infarcted groups (IM 12.4 ± 0.76%, IM/TR 4.9 ± 1.6%,
IM/AT 12.3 ± 3.8% and IM/TR/AT 7.0 ± 3.3%; P<0.05). The distance analysis
showed that the trained animals performed better than the IM group (IM 265.5 ±
147.8m vs. IM/TR 673.4 ± 334.3m, IM/TR/AT 641.1 ± 341.0m, SHAM/TR 729.6 ±
184.6 and SHAM/TR/AT 604.3 ± 244.8m; P<0.01). Conclusion: The data obtained
showed that physical exercise and atorvastatin improved ventricular function,
reducing unfavorable remodeling and hypertrophy after MI in rats.
Key words: Myocardial infarction, Physical exercise, Atorvastatin, Ventricular
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Protocolo de treinamento na esteira………... 33 Tabela 2: Pesos dos animais, Ventrículos esquerdos e Pulmões…..…... 45 Tabela 3: Avaliações hemodinâmicas………... 49
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Procedimento cirúrgico……….… 30
Figura 2: Esteira………..………... 35
Figura 3: Análise hemodinâmica………... 37
Figura 4: Cardiomiócitos………..……..………... 40
Figura 5: Fluxograma e Randomização ……….……… 42
Figura 6: Imagens histológicas dos cardiomiócitos……….. 46
Figura 7: Área Transversal de Cardiomiócitos………. 47
Figura 8: Análises histológicas da porção do músculo papilar…… 51
Figura 9: Quantificação de fibrose e colágeno do ventrículo esquerdo………... 52 Figura 10: Quantificação de fibrose e colágeno na parede contralateral do ventrículo esquerdo………... 53 Figura 11: Distância caminhada no teste de exaustão……….….. 54
LISTA DE EQUAÇÃO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AHA: American Heart Association
AT: Atorvastatina
CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEUA: Comissão de Ética no Uso de Animais
D: Distância
DC: Doença Coronariana
dP/dtmáx: Derivada de Pressão/Derivada de Tempo máxima
dP/dtmin: Derivada de Pressão/Derivada de Tempo mínima
DP: Desvio padrão
DATASUS: Departamento de Informática do SUS
HMG-CoA redutase: 3-hidroxi-- 3-metilglutaril coenzima A redutase
IAM: Infarto Agudo do Miocárdio
IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
LABEX: Laboratório de Bioquímica do Exercício
IM: Infarto do Miocárdio
IC: Insuficiência cardíaca
ICC: Insuficiência cardíaca crônica
IM: Infarto do Miocárdio
IM/AT: Infarto do miocárdio atorvastatina
IM/TR: Infarto do miocárdio treinamento
IM/TR/AT: Infarto do miocárdio treinamento atorvastatina
Kg/m: quilogramas/metros
NOS: Síntese de óxido nítrico
P: Probabilidade de Significância
PPARs: Peroxisome Proliferator-Activated Receptor
Pr: Performance do rato
RV: Remodelamento Ventricular
SCA: Síndrome Coronariana Aguda
SD: Desvio padrão
SHAM: Sham
SHAM/AT: Sham atorvastatina
SHAM/TR: Sham treinamento
SHAM/TR/AT: Sham treinamento atorvastatina
T: Tempo
Tau: Constante de Relaxamento Isovolumétrico
TF: Treinamento físico
UNICAMP: Universidade Estadual de Campinas
VE: Ventrículo Esquerdo
LISTA DE SÍMBOLOS
±: Mais ou menos %: Porcentagem <: Menor °C: temperatura g: gramas Kg: Quilograma m: metrosm/min: metros por minuto
mg: miligrama
min: minutos
mmHg/s: Milímetros de mercúrio/segundos
ms: Milissegundo
®: Marca registrada comercial
s: Segundos
μL: Microlitro μm: Micrômetro
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO... 19
1.1 Doenças Cardíacas………... 19
1.2 Composição Estrutural do Miocárdio e Remodelamento Ventricular 20 1.3 Exercício físico……… 22 1.4 Estatinas – Atorvastatina……….. 23 2. OBJETIVOS... 26 3. MATERIAIS E MÉTODOS... 27 3.1 Protocolo Experimental ...… 27 3.2 Desenho experimental ...… 27 3.3 Procedimento Cirúrgico ... 29
3.4 Protocolo de treinamento na esteira ... 33
3.5 Teste de Exaustão ... 34 3.6 Avaliações Hemodinâmicas ...… 36 3.7 Análises Histológicas ...… 38 3.8 Análises Estatística... 41 4. RESULTADOS... 43 5. DISCUSSÃO... 56 6. CONCLUSÕES... 62 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 63 8. ANEXOS
8.1 Parecer do comitê de ética ...…
71
19
1. INTRODUÇÃO
1.1. Doenças Cardíacas
As doenças cardiovasculares são uma das principais causas de morte no
mundo. Estima-se que 17,7 milhões de pessoas morreram por doenças
cardiovasculares em 2015, representando 31% de todas as mortes em nível
global (1). Dados da American Heart Association (AHA) estimam prevalência de
5,1 milhões de indivíduos com insuficiência cardíaca (IC) somente nos Estados
Unidos, no período entre 2007 e 2012. Análises do DATASUS, demonstram que
no ano de 2012 houveram 26.694 óbitos por IC no Brasil (2).
Na insuficiência cardíaca crônica (ICC) o coração perde a capacidade de
bombear sangue para satisfazer as exigências metabólicas do corpo. É uma
síndrome clínica complexa, caracterizada por alterações cardiovasculares,
músculo esqueléticas e nas funções neuro-hormonais (3, 4).
O infarto do miocárdio (IM) representa uma das causas mais importantes
para o desenvolvimento de ICC. Após o evento isquêmico podem ocorrer
alterações na arquitetura ventricular que envolvem tanto a área infartada quanto a
não infartada, normalmente a parede contralateral (3, 5). O conjunto dessas
alterações morfológicas do ventrículo é chamado de remodelamento ventricular
(RV) (6-10).
No RV ocorre hipertrofia dos miócitos e fibrose intersticial do miocárdio
(11-13). A hipertrofia se traduz em alterações no tamanho e geometria da câmara
ventricular, alterando inicialmente a hemodinâmica, com o aumento no número de
20
parede, ou seja hipertrofia concêntrica e aumento do volume ejetado pelo
aumento do volume diastólico final, ou seja hipertrofia excêntrica (7, 14).
Por outro lado, a intensidade do RV parece estar diretamente associada à
deterioração da função ventricular e, consequentemente, a um pior prognóstico
(5, 7, 11). Nesse contexto, o modelo de infarto experimental no rato tem sido
muito utilizado para o estudo do RV devido à similaridade entre as alterações
fisiopatológicas que acontecem nesses animais e nos humanos após o infarto.
1.2. Composição Estrutural do Miocárdio e Remodelamento Ventricular
O tecido cardíaco é composto por um componente muscular constituído por
cardiomiócitos e um componente intersticial formado por uma matriz extracelular
(15). Os miócitos representam 30% do número total de células miocárdicas,
unidas com o suporte de uma rede de tecido conjuntivo, a matriz extracelular. A
matriz extracelular é composta basicamente de colágeno fibrilar, que é sintetizado
e degradado pelos fibroblastos no interstício. As fibras de colágeno encontradas
no interstício são predominantemente dos tipos I e III que representa 95% do
colágeno total. As principais funções dessa rede são regular a apoptose, resistir a
deformações patológicas, manter o alinhamento das estruturas e regular a
distensibilidade cardíaca e a transmissão de força durante o encurtamento da
fibra cardíaca. O colágeno é um importante modulador tanto da função cardíaca
diastólica quanto da função sistólica (6, 7, 16-18).
O RV possui duas fases, aguda e crônica. A fase aguda ocorre nas
primeiras 72 horas após o evento isquêmico. Neste momento ocorre o aumento
inicia-21
se após as 72 horas de isquemia e consiste na presença de processos
hipertróficos, além de alterações na geometria do ventrículo esquerdo (VE) (19,
20)
No RV após um evento isquêmico o coração se adapta às novas
condições de funcionamento. Ativam-se mediadores que incluem estresse
parietal, neuro-hormonais sistema simpático, renina-angiotensina, aldosterona e
endotelina; liberação de citocinas, estresse oxidativo e isquemia. Esses
mediadores se potencializam mutuamente, agindo de forma relacionada (7, 14).
Inicialmente, ocorrem modificações moleculares e celulares, entre elas
hipertrofia do miócito, degeneração do colágeno e deslizamento das fibras de
colágeno entre si, necrose e apoptose, proliferação e fibrose intersticial. Como
resultado, ocorre hipertrofia dos miócitos e aumento da massa ventricular, os
quais reduzem o estresse parietal dado pela Lei de Laplace, compensando a
demanda aumentada, permitindo uma estabilização inicial. Quando o RV for
insuficiente ou a sobrecarga ultrapassar a capacidade do coração hipertrofiar,
ocorre um desequilíbrio. A hipertrofia passa a ser insuficiente para normalizar o
estresse parietal, criando-se um círculo vicioso que leva à dilatação do coração, a
alterações da geometria, passando para um formato esférico, com alterações de
contratilidade e relaxamento e aumento dos volumes sistólico e diastólico final.
Essas alterações são progressivas, deletérias e podem levar ao desenvolvimento
22
1.3. Exercício físico
O exercício físico em pacientes após o IM é recomendado como um
complemento muito útil, associado ou não com a terapia medicamentosa. Existem
estudos mostrando que o exercício físico melhora a qualidade de vida dos
pacientes e atua no RV esquerdo (4, 21, 22). Parece também estar associado à
mudanças neuro-hormonais, possuir efeitos anti-inflamatórios cardiovasculares,
pulmonares e musculoesquelético (23-26). Além disso, aumenta as fibras
musculares do tipo 1 e melhora os parâmetros metabólicos associados com a
capacidade funcional (14, 18).
Os efeitos do exercício sobre o coração incluem melhora da perfusão
miocárdica, aumento do índice cardíaco e volume sistólico, diminuição da
frequência cardíaca de repouso, do estresse oxidativo e da inflamação; e pode
reduzir o tamanho do infarto do miocárdio e da fibrose (3, 27-29). Adaptações
celulares do miocárdio exercitado incluem o aumento do número de mitocôndrias,
aumento da contratilidade, espessura dos miócitos e da sensibilidade ao cálcio,
juntamente com o aumento da atividade e expressão de enzimas que contribuem
para a função cardíaca melhorada (21, 27, 30).
A hipertrofia fisiológica cardíaca em resposta ao exercício difere da
hipertrofia patológica. A hipertrofia patológica ocorre em resposta a uma série de
estímulos, como o infarto do miocárdio, doença valvar e cardiomiopatia dilatada.
Já a hipertrofia em resposta ao exercício físico (treinamento físico) é
caracterizada pela organização da estrutura cardíaca e função cardíaca normal ou
23
O exercício físico regular também demonstrou reduzir os fatores de risco
cardiovascular; por exemplo, hipertensão arterial e obesidade e está associado a
vários fatores benéficos cardiovasculares (31-33).
Estudos experimentais em ratos com IM indicam que os programas de
treinamento físico podem promover melhorias na morfologia e função cardíaca,
tolerância ao exercício e estado inflamatório, que são afetados pelo evento
isquêmico (3, 34). No entanto, o momento de quando iniciar o regime de exercício
ainda é controverso. Provavelmente devido aos diferentes desenhos
experimentais utilizados, incluindo diferentes tamanhos do IM, tamanho amostral
e programas de exercícios que variam em modo, tais como natação versus
corrida, intensidade e duração do treinamento. Todas essas diferenças entre os
experimentos podem contribuir para os diferentes achados (16).
1.4. Estatinas – Atorvastatina
As estatinas tem efeitos benéficos pleitrópicos no nível cardiovascular,
através da biodisponibilidade da síntese do óxido nítrico (NOS). Estão envolvidas
com ações anti-inflamatórias, antioxidantes, e anti-hipertróficas (15, 35-37). Sua
ação é proveniente da inibição da enzima 3-hidroxi-3-metilglutaril coenzima A
redutase (HMG-CoA redutase). O efeitos das estatinas são mediados via bloqueio
da formação de mevalonato, que resulta na redução da síntese do colesterol (3,
24
Os efeitos benéficos das estatinas na doença arterial coronariana parecem
não ser limitados à sua capacidade de reduzir o colesterol plasmático. Vários
efeitos pleiotrópicos na aterosclerose, incluindo a redução da trombogenicidade
da placa, inibição da proliferação celular e migração, efeitos anti-inflamatórios e
melhora da função endotelial foram descritos (5, 42). Atualmente, existem sete
tipos de estatinas comercialmente disponíveis, tais como a lovastatina,
pravastatina, sinvastatina, fluvastatina, pitavastatina, rosuvastatina e atorvastatina
(43).
Estudos demonstraram que sinvastatina, um inibidor da HMG-CoA
redutase induziu a regressão da hipertrofia cardíaca e fibrose, reduziu os níveis
de ativação de quinases de sinalização sensíveis ao estresse (30, 44). Reverteu a
hipertrofia de cardiomiócitos e melhorou a função ventricular (9, 45). Descobertas
recentes mostraram que a atorvastatina pode melhorar a função cardíaca após o
IM, embora seu mecanismo de ação específico ainda precise ser determinado
(46, 47).
Apesar de desempenhar inúmeros efeitos benéficos sobre o sistema
cardiovascular, o tratamento clínico com a atorvastatina pode induzir alguns
reações adversas dose-dependentes como miopatias com índice estimado de 1 a
10%, e em casos mais raros podem evoluir para rabdomiólise (15, 43).
A atorvastatina é um fármaco membro da classe de drogas conhecidas
como estatinas, usadas para reduzir os níveis de colesterol sérico contribindo
para a redução de morbidade e mortalidade nas doenças cardiovasculares (15,
25
A combinação de exercício físico e da terapia com estatina também tem
sido utilizada para reduzir os riscos cardiovasculares, contribuindo para diminuir a
26
2. OBJETIVOS
Avaliar os efeitos do exercício físico e da atorvastatina na melhora do
remodelamento ventricular pós-infarto do miocárdio induzido em ratos de forma
experimental.
Objetivos específicos
Avaliar o remodelamento ventricular por meio da análise histológica do
conteúdo de fibrose, colágeno e dos cardiomiócitos.
Investigar os efeitos da administração da atorvastatina e da associação da
27
3. MATERIAIS E MÉTODO
3.1 . Protocolo Experimental
Este estudo foi realizado no laboratório de Isquemia e Reperfusão do
Miocárdio e laboratório de Técnica Cirúrgica, ambos localizados no Núcleo de
Medicina e Cirurgia Experimental da Faculdade de Ciências Médicas - UNICAMP,
e no laboratório de Bioquímica do Exercício – LABEX, localizado no Instituto de Biologia – UNICAMP, durante o período entre 2014 e 2018. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais- CEUA, sob o protocolo nº 3478-1
(Anexo I).
3.2. Desenho experimental
Foram estudados 108 ratos machos, da linhagem Wistar, com peso médio
de 197g e quatro semanas de idade. Os mesmos ficaram alojados em uma gaiola
no biotério com ciclo invertido de 12:12 horas claro-escuro, sendo das 18:00 ás
06:00 as luzes acesas, em temperatura ambiente de 22°C e com livre acesso a
ração e água. A esteira motorizada possui 12 pistas individuais e o treinamento foi
realizado em uma sala escura, com luz mínima.
Os animais foram submetidos à um protocolo de adaptação na esteira
durante duas semanas antes do procedimento cirúrgico para indução do infarto do
miocárdio ou Sham. Os animais correram na esteira sem inclinação, cinco dias na
semana de segunda-feira à sexta-feira, com velocidade de 10 metros/minutos
28
metros/minutos, durante 30 minutos. Os animais que não se adaptaram à corrida
na esteira foram excluídos do estudo.
Após a cirurgia, os animais descansaram por 1 dia, e no segundo dia de
pós-operatório foi iniciado o protocolo de treinamento durante oito semanas na
esteira para os animais do grupo treinado. O treinamento foi de três dias por
semana, intercalados com um dia de exercício e um dia de descanso). O
29
3.3 Procedimento Cirúrgico
Para realização da cirurgia para indução do IM ou Sham, os animais foram
conectados a um sistema de anestesia inalatória com isoflurano 2%, sem serem
entubados. Após realizarmos estímulos de reflexo para verificar a indução do
plano anestésico, foi realizada uma toracotomia esquerda seguida da dissecção
da musculatura. O tórax foi aberto no 4º espaço intercostal, e o coração ficou
exposto através da incisão torácica. Um fio de polipropileno 6.0 foi passado ao
redor da artéria interventricular anterior para ocluir a luz da artéria. O coração foi
inserido no tórax e a incisão fechada, figura 1. O procedimento durou cerca de
dois minutos.
A técnica foi descrita por Gao et al. (50), sendo feita rotineiramente no
laboratório de Isquemia e Reperfusão do Miocárdio e laboratório de Técnica
Cirúrgica com animais com 4 semanas de idade, com índice de mortalidade
operatória de aproximadamente 15% em virtude do IM, neste estudo os animais
foram submetidos à indução do IM com 6 semanas de idade e apresentou um
índice de mortalidade de 30%.
Os animais Sham foram submetidos ao mesmo procedimento cirúrgico,
porém sem ligadura da artéria interventricular. O coração foi exposto e inserido no
30
A
B C
D E
Figura 1. Procedimento cirúrgico: Fotos em sequência do procedimento para indução do IM ou
Sham, observa-se na foto A- animal com sedação inalatória e realizada a antissepsia; B- toracotomia com dissecção da musculatura; C- coração exposto e passado o ponto na artéria interventricular anterior esquerda; D- incisão cirúrgica fechada e E- animal acordando da sedação, apenas com oxigenoterapia. Nos animais Sham não foi realizada a oclusão da artéria.
31
Após a adaptação na esteira os animais foram divididos aleatoriamente em
oito grupos e foram submetidos ao procedimento cirúrgico para indução do IM ou
Sham:
• Infarto do miocárdio (IM): Os animais foram submetidos ao procedimento cirúrgico com ligadura da artéria interventricular
anterior. No primeiro dia após o procedimento cirúrgico foi
administrado 2 ml de placebo (solução fisiológica) por meio de
gavagem e mantido esse procedimento durante 8 semanas. Esses
animais eram colocados na esteira uma vez por semana durante 5
minutos a uma velocidade de 10 metros/minutos.
• Infarto do miocárdio treinamento (IM/TR): Os animais foram submetidos ao procedimento cirúrgico com ligadura da artéria
interventricular anterior. No primeiro dia após o procedimento
cirúrgico foi administrado 2 ml de placebo (solução fisiológica)
diariamente por meio de gavagem. O protocolo de treinamento na
esteira foi de oito semanas e iniciou no segundo dia após o IM.
• Infarto do miocárdio atorvastatina (IM/AT): Os animais foram submetidos ao procedimento cirúrgico com ligadura da artéria
interventricular anterior. No primeiro dia após o procedimento
cirúrgico foi administrado 10 mg/kg/dia de atorvastatina (Lipitor® – Pfizer), mascerada e diluída em 2 ml de solução fisiológica. Esse
procedimento foi feito diariamente por meio de gavagem durante 8
semanas. Esses animais eram colocados na esteira 1 vez por
32
• Infarto do miocárdio atorvastatina treinamento (IM/AT/TR): Os animais foram submetidos ao procedimento cirúrgico com ligadura
da artéria interventricular anterior. No primeiro dia após o
procedimento cirúrgico foi administrado 10 mg/kg/dia de
atorvastatina (Lipitor® – Pfizer), mascerada e diluída em 2 ml de solução fisiológica 2 ml de placebo (solução fisiológica). Esse
procedimento foi feito diariamente por meio de gavagem. O
protocolo de treinamento na esteira iniciou no segundo dia e foi
realizado 3 dias por semana durante as 8 semanas.
• Sham (SHAM): Grupo Controle. Os animais foram submetidos ao procedimento cirúrgico citado acima sem a ligadura da artéria
interventricular anterior. No primeiro dia após o procedimento
cirúrgico foi administrado 2 ml de placebo (solução fisiológica) por
meio de gavagem e mantido esse procedimento durante 8 semanas.
Esses animais eram colocados na esteira 1 vez por semana durante
5 minutos na velocidade de 10metros/minutos.
• Sham treinamento (SHAM/TR): Os animais foram submetidos ao procedimento cirúrgico sem ligadura da artéria interventricular
anterior e foram submetidos aos mesmos procedimentos do grupo
IM/TR.
• Sham atorvastatina (SHAM/AT): No primeiro dia após o procedimento cirúrgico foi administrado 10 mg/kg/dia de
atorvastatina (Lipitor® – Pfizer), mascerada e diluída em 2 ml de solução fisiológica, diariamente por meio de gavagem e mantido
33
durante 8 semanas. Os animais treinaram na esteira 1 dia por
semana durante 5 minutos na velocidade de 10 m/minutos.
• Sham atorvastatina treinamento (SHAM/AT/TR): Os animais foram submetidos ao procedimento cirúrgico sem ligadura da artéria
interventricular anterior e foram submetidos aos mesmos
procedimentos do grupo IM/AT/TR.
3.4 . Protocolo de treinamento na esteira
O protocolo de treinamento foi incremental (49) na esteira, sem inclinação e
está apresentado na Tabela 1.
Tabela 1: Protocolo de treinamento na esteira
Semanas Velocidade m/min Tempo de treinamento 1 12 20 2 12 30 3 15 45 4 15 60 5 20 60 6 20 60 7 22,5 60 8 22,5 60
m= metros, min= minutos
Os animais randomizados para os grupos não treinados (controle SHAM)
caminharam na esteira uma vez por semana durante 5 minutos a 10m/min com o
34
3.5 Teste de Exaustão
O teste de exaustão foi realizado em dois momentos. Após quatro semanas
de treinamento na esteira e após oito semanas de treinamento, figura 2.
Realizamos os dois testes com o objetivo de acompanhar longitudinalmente os
efeitos do treinamento. Antes da realização dos testes os animais foram pesados
em uma balança digital. Seguimos o seguinte protocolo de teste de performance:
• Esteira com 0º de inclinação e velocidade de 12 m/min durante 10 minutos, e a cada 2 minutos aumentamos a velocidade em 1 m/min até atingir 20
m/min. Depois disso a velocidade foi aumentada em 2 m/min a cada 3
minutos até atingir a exaustão. Foi considerado exaustão quando o rato for
35
A
B
Figura 2 Esteira: Fotos da esteira onde foi realizado o treinamento dos animais e o teste de
exaustão, figura A imagem lateral da esteira e imagem B animais correndo na esteira.
Para quantificar a performance animal utilizamos o modelo utilizado no artigo
de HOHL et al. (49), considerando todas as forças proporcionais ao peso corporal
e todas as velocidades proporcionais à velocidade de corrida; a potência
mecânica torna-se proporcional à massa x velocidade. Esta suposição permite
que a performance do rato seja medido através de uma quantificação proporcional
36
Pr = ƩPri = ƩmViTi= ƩmDi mD [equação 1]
Onde, Pr representa a performance (ou desempenho) do rato; Pri é a
performance em cada estágio, m é a massa corporal; Vi é a velocidade do
estágio; Ti é o tempo de execução no estágio; Di é a distância em cada estágio; e
D é a distância total percorrida pelo rato durante o teste. Para esta análise foi
utilizado o programa Matlab. A performance dos ratos (Pr) foi expresso em
quilograma/metros (kg/m).
3.6 Avaliações Hemodinâmicas
Após o teste de exaustão realizado na 8ª semana de
treinamento/tratamento, os animais foram levados ao laboratório de técnica
cirúrgica para realização do estudo hemodinâmico.
Os animais foram anestesiados com xilazina (5 mg/kg) e ketamina (75
mg/kg) através de injeção intraperitonial. Após um cateter de pressão/volume
(SPR- 838, Millar Instruments, Houston, USA) foi inserido na cavidade do VE
através da artéria carótida esquerda. Durante a inserção do cateter foi realizado o
monitoramento da pressão e volume para o correto posicionamento do mesmo. O
cateter foi acoplado em um conversor Power Lab 8/30 A/D (AD Instruments;
Mountain View, CA, USA), figura 3. Correções de condutância foram
determinadas pela injeção de 20-30μL de solução salina hipertônica (NaCl 30%). No final da obtenção dos dados para a análise hemodinâmica, foi realizado
a calibração da cubeta para correção do volume do VE. Foram analisadas as
variáveis: Volume Diastólico Final, Volume Sistólico Final, Constante de
37
Pressão/derivada de Tempo Máximo (dP/dT Máxima) e derivada de
Pressão/derivada de Tempo Mínimo (dP/dT Mínima).
No final do experimento os animais foram sacrificados com um plano
anestésico profundo, por meio de uma overdose de tiopental de sódio e o VE e os
pulmões foram isolados e separados das demais estruturas cardíacas e pesados,
a fim de identificar a presença de hipertrofia miocárdica através da relação com o
peso final dos animais.
38
3.7 Análises Histológicas
As amostras do VE dos animais foram armazenadas para verificar
conteúdo de fibrose, colágeno, e área transversal dos cardiomiócitos. Os cortes
histológicos apresentaram a espessura de 4μm e as imagens obtidas foram correspondentes à altura do músculo papilar.
Para obtenção do conteúdo de fibrose e colágeno foi avaliado o VE por
inteiro e também a região correspondente a parede contralateral do VE (região
não infartada). Para esta análise consideramos a região oposta do IM, de forma
excluir a região infartada e manter apenas a região remota para a análise.
Para análise do conteúdo de fibrose as lâminas foram coradas com
Tricrômio de Masson e para o estudo do conteúdo colágeno a coloração
Picrusirius Red,
Para a obtenção das imagens histológicas foi utilizado o microscópio de luz
óptica e luz polarizada (Imager A2 Axio Carl Zeiss, Germany), com lentes de
aumento de 2,5X e uma câmera acoplada no microscópio - AxioCam ICC 1 – Zeiss. A reconstrução dos fragmentos foi realizada com o uso do programa PTGui
(Rotterdam Netherlands, version 9.1.3). Para a quantificação de fibrose e
colágeno, foi utilizado um programa de análise quantitativa – Image ProPlus version 6.0 – USA.
A análise da área transversal de cardiomiócitos foi realizada para identificar
a presença de hipertrofia miocárdica, foi utilizada a técnica, descrita por Stefanon
et al. (14), medimos o tamanho da área transversal do cardiomiócito em
39
óptica utilizado para a obtenção das imagens para fibrose e colágeno, com lentes
de aumento de 40X. As lâminas foram coradas com colorações de hematoxilina e
eosina, e as imagens foram correspondentes à região não infartada. Para a
análise consideramos 12-15 campos, o que totalizou uma contagem de 74 células
por animal. A medição da área dos cardiomiócitos é dada em micrômetros, e foi
obtida através do contorno manual das células. As células que foram analisadas
apresentavam integridade estrutural em relação ao núcleo e citoplasma. O
programa usado para esta análise quantitativa foi o Image ProPlus: version 6.0 – USA.
40
A A1
B B1
Figura 4. Cardiomiócitos: Imagens representativas da análise do cardiomiócito, a figura A- animal
infarto do miocárdio (IM); A1- zoom da imagem A demonstrando o contorno da célula em micrômetros; B animal sham; B1 zoom da imagem B demonstrando o contorno da célula em micrômetros
41
3.5 Análises Estatística
As análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa SAS
System for Windows (Statistical Analysis System), versão 9.4. SAS Institute Inc,
2002-2012, Cary, NC, USA. As variáveis contínuas foram expressas em média e
desvio padrão (DP ±). Além disso, para testar se as amostras apresentavam
distribuições normais, realizamos testes de D´Agostino-Pearson.
Análise descritiva com apresentação de medidas de posição e dispersão
para variáveis numéricas. Para comparação das medidas entre grupos foi
utilizado o teste de Kruskal-Wallis, seguido pelo teste de Dunn para localização
das diferenças; e para comparação das medidas entre grupos. Para comparação
entre os grupos e tempos foi utilizada a ANOVA para medidas repetidas com
transformação por postos, seguida pelo teste de Tukey para localização das
diferenças, quando necessário. O nível de significância adotado para os testes
estatísticos foi considerado um valor de p< 0,05 (52, 53).
No fluxograma podemos observar o delineamento do estudo e a
42
Fluxograma e Randomização
Figura 5. Fluxograma da Randomização e total da amostra do estudo. Infarto do miocárdio (IM),
infarto do miocárdio treinado (IM/TR), infarto do miocárdio atorvastatina (IM/AT), infarto do miocárdio treinado atorvastatina (IM/TR/AT), sham (SHAM), sham treinado (SHAM/TR), sham atorvastatina (SHAM/AT) e sham treinado atorvastatina (SHAM/TR/AT).
43
4. Resultados
Foram inclusos no estudo 108 animais, porém apenas 65 completaram
todo período de estudo. Foram excluídos seis animais por não se adaptaram a
esteira, 33 animais foram a óbito durante o procedimento cirúrgico (IM =6,
IM/TR=6, IM/AT=8, IAM/TR/AT=9, SHAM/AT=2 e SHAM/TR/AT=2). Três durante
o período de recuperação, até 48 horas após a cirurgia (IM/TR= 2 IM/AT=1) e um
após quatro semanas de treinamento (IM/AT=1), figura 5.
Para as avaliações morfométricas e hemodinâmicas foram estudados os
animais; IM (IM, n=7), IM treinamento (IM/TR, n=9), IM atorvastatina (IM/AT,
n=10), IM atorvastatina treinamento (IM/AT/TR, n=13), SHAM (SHAM, n=7),
SHAM treinamento (SHAM/TR, n=6), SHAM atorvastatina (SHAM/AT, n= 5),
SHAM atorvastatina treinamento (SHAM/AT/TR, n= 8).
A Tabela 2 apresenta os dados correspondentes ao peso dos animais,
peso do pulmão e peso do VE do grupo controle (SHAM) e do grupo infarto
experimental (IM) comparados com os grupos correspondentes em cada uma das
intervenções: treinamento, administração de atorvastatina e ambas as
intervenções.
Os dados mostram que nenhuma condição experimental, treinamento,
administração de AT, associação de ambas as condições e mesmo o IM
experimental afetou o peso do pulmão, e nem a relação peso pulmão/peso
corporal nos animais ou peso ventrículo/peso corporal dos animais SHAM.
Já o treinamento e a atorvastatina individualmente aumentaram
significativamente a razão entre PVE/peso dos grupos infartados comparado aos
44
peso do VE do grupo infartado. Por outro lado, quando administrados em conjunto
45
Tabela 2: Pesos dos animais, Ventrículos esquerdos e Pulmões
Pesos (g) Peso Inicial Peso Final Peso VE Peso Pulmão Peso VE/ Peso
Animal Peso Pulmão/ Peso Animal SHAM 253,3±28,01‡ 440,3±41,88 0,8882±0,2542 1,439±0,078 0,00212±0,0006† 0,003±0,0001 SHAM/TR 256,5±28,36‡ 413,0±50,60 0,7759±0,2252 1,543±0,144 0,00188±0,0005#† 0,003±0,0006 SHAM/AT 218,2±15,71 457,0±24,63 1,008±0,1260 1,452±0,126 0,00240±0,0005 0,003±0,0002 SHAM/TR/AT 242,3±21,04 475,4±54,58 1,096±0,2602 1,425±0,091 0,00248±0,0004 0,002±0,0002* IM 221,9±25,02 421,3±47,20 0,8024±0,0864 2,087±1,057 0,00180±0,0002 0,005±0,003 IM/TR 236,4±25,59 417,0±40,19 0,7892±0,0703 1,753±0.960 0,00343±0,0008* 0,004±0,002 IM/AT 224,3±22,84 448,0±32,17 1,162±0,3030# 1,889±0,765 0,00421 ±0,0006* 0,004±0,001 IM/TR/AT 216,5±25,79 447,9±44,79 1,068±0,2814 1,838±0,807 0,00234±0,0005† 0,004±0,002 Valor de P <0,01 0,08 <0,01 0,21 <0,05 <0,05
Tabela 2: Infarto do miocárdio (IM), infarto do miocárdio treinado (IM/TR), infarto do miocárdio atorvastatina (IM/AT), infarto do miocárdio treinado
atorvastatina (IM/TR/AT), sham (SHAM), sham treinado (SHAM/TR), sham atorvastatina (SHAM/AT) e sham treinado atorvastatina (SHAM/TR/AT), g: microgramas. Os dados acima são expressos em média ± desvio padrão. *P<0,01 vs. IM, #P<0,01 vs. IM/TR, †P<0.01 vs. IM/AT e ‡P<0,01 vs. IM/TR/AT
46
Para a quantificação do conteúdo de fibrose, colágeno e a área
transversal dos cardiomiócitos, os animais foram divididos em grupo IM (IM, n=4),
IM treinamento (IM/TR, n=4), IM atorvastatina (IM/AT, n=6), IM atorvastatina
treinamento (IM/AT/TR, n=5), SHAM (SHAM, n=4), SHAM treinamento
(SHAM/TR, n=5), SHAM atorvastatina (SHAM/AT, n= 3), SHAM atorvastatina
treinamento (SHAM/AT/TR, n= 4).
A figura 6 representa as amostras histológicas dos processos hipertróficos
da parede contralateral do VE, realizada através da medição da área transversal
de cardiomiócitos.
Figura 6: Imagens histológicas dos cardiomiócitos. As imagens são representativas dos animais dos oito grupos respectivamente: A- sham (SHAM), B- sham treinado (SHAM/TR), C- sham atorvastatina (SHAM/AT), D- sham treinado atorvastatina (SHAM/TR/AT), E- infarto do miocárdio (IM), F- infarto do miocárdio treinado (IM/TR), G- infarto do miocárdio atorvastatina (IM/AT) e H- infarto do miocárdio treinado atorvastatina (IM/TR/AT). As imagens estão coradas com colorações de hematoxilina e eosina. Escala de barras: 100μm
A figura 7 apresenta a quantificação da área transversal dos cardiomiócitos
nos grupos SHAM e IM nas diferentes intervenções.
A B C D E F G H ______ 100μm _____ 100μm ______ 100μm M 100μm ______ 100μm ______ 100μm ______ 100μm _____ 100μm _ 100μm _____ 100μm
47 SHA M SH AM /TR SH AM /AT SHA M/T R/A T MI MI/T R MI/A T MI/A T/TR 0 100 200 300 400
# p<0.01
† p<0.01
‡
‡
‡
‡
* * p<0.05
p<0.01
Á
re
a
t
ra
n
s
v
e
rs
a
l
d
o
s
c
a
rd
io
m
ió
c
it
o
s
(
µ
m
2)
Figura 7. O gráfico de barras representa a área transversal das células cardíacas nos grupos
estudados: grupo controle sham (SHAM), sham treinado (SHAM/TR), sham atorvastatina (SHAM/AT) sham treinado atorvastatina (SHAM/TR/AT), Infarto do miocárdio (IM), infarto do miocárdio treinado (IM/TR), infarto do miocárdio atorvastatina (IM/AT) e infarto do miocárdio treinado atorvastatina (IM/TR/AT). **P<0.05 IM # P<0,01 vs. IM/TR, † P<0.01 vs. IM/AT, ‡ P<0,05 vs. grupos IM.
Observamos que os animais dos grupos SHAM apresentaram menor área
de cardiomiócitos quando comparados com os animais infartados. Nos grupos
infartados somente o treinamento em associação com a atorvastatina demonstrou
valores de áreas menores comparados aos animais que realizaram as
intervenções separadamente. Esse efeito não foi observado nos animais controle
(SHAM 217,1 ± 46,73 μm2, SHAM/TR 218,5 ± 40,63 μm2, SHAM/AT 199,8 ± 30,82 μm2, SHAM/TR/AT 196,7 ± 35,35 μm2 versus os grupos: IM 293,4 ± 65,90 μm2, IM/TR 299,2 ± 72,99 μm2, IM/AT 299,0 ± 58,66 μm2 e IM/TR/AT 273,5 ± 66,97 μm2.
48
A Tabela 3 apresenta os dados hemodinâmicos dos animais. Avaliamos os
parâmetros de volumes e índices de relaxamento e contratilidade do VE após as
49
Tabela 3: Avaliações hemodinâmicas
Parâmetros Volume Sistólico
Final(uL) Volume Diastólico Final(uL) Frequência cardíaca (bpm) Tau (ms) dP/dt Máxima (mmHg/s) dP/dt Mínima (mmHg/s) SHAM 265,57±181,70 400,57±222,88 253,7±23,82 14,85±14,15 11100±5591 -10069±4178 SHAM/TR 141,67±167,90 *# 229,50±175,97 277,4±17,35 9,79±1,16 8940±3289 -9844±2379 SHAM/AT 452,82±165,88 486,22±207,51 273,4±44,46 21,86±25,59 17980±4665 -13732±3924 * SHAM/TR/AT 395,38±165,35 418,63±167,41 240,6±36,83 21,57±33,97 12972±7000 -11455±5803 IM 481,71±156,87 515,43±184,77 216,3±43,48 21,94±16,94 6111±2708 -4541±2352 IM/TR 491,89±191,56 564,33±233,98 255,2±69,31 16,51±6,57 9894±5914 -7975±5783 IM/AT 365,16±113,70 420,27±161,92 238,9±55,17 17,67±8,59 17001±10174 -12175±5650 * IM/TR/AT 376,79±116,04 407,38±112,45 240,3±51,57 16,76±10,51 22848±24044 -12594±5531 * Valor de P <0,01 0,12 0,06 0,31 0,07 <0,05
Tabela 3: Representa os dados hemodinâmicos obtidos após 8 semanas do IM. Infarto do miocárdio (IM), infarto do miocárdio treinado (IM/TR), infarto do
miocárdio atorvastatina (IM/AT), infarto do miocárdio treinado atorvastatina (IM/TR/AT), sham (SHAM), sham treinado (SHAM/TR), sham atorvastatina (SHAM/AT) e sham treinado atorvastatina (SHAM/TR/AT), microlito (uL), batimentos por minuto (bpm), milissegundo (ms), milímetros de
50
Embora o infarto experimental (grupo IM) não tenha exibido valores com
diferença estatística significativa quando comparado ao grupo controle sham,
os volumes sistólico e diastólico final e a constante de relaxamento
isovolumétrico (Tau) foram maiores, enquanto as dP/dT Máxima e dP/dT
Mínima foram menores, indicando uma ligeira piora do quadro hemodinâmicos
com o IM experimental.
O treinamento diminuiu o volume sistólico final no grupo SHAM/TR,
efeito que não foi observado no grupo IM. A dP/dt mínima nos grupos
infartados tratados com atorvastatina, independente ou não de treinamento
demostraram valores maiores comparados aos animais IM. A frequência
cardíaca não demonstrou diferenças entre os grupos.
A Figura 8 apresenta os dados da análise histológica na porção do
músculo papilar para os percentuais correspondentes de colágeno
(A,B,C,D,I,J,L,M) e fibrose (E,F,G,H,N,O,P,Q) do VE nas diferentes situações
51
Figura 8: As imagens A e E são representativas dos animais do grupo controle sham A e E (SHAM), B e F sham treinado (SHAM/TR), C e G sham atorvastatina (SHAM/AT) D e H sham treinado atorvastatina (SHAM/TR/AT). As imagens I e N são representativas do grupo infarto do miocárdio (IM), J e O infarto do miocárdio treinado (IM/TR), L e P infarto do miocárdio atorvastatina (IM/AT) e M e Q infarto do miocárdio treinado atorvastatina (IM/TR/AT). As imagens superiores estão coradas com coloração de Tricrômio de Masson para avaliar a porcentagem de fibrose, e as imagens inferiores estão coradas com coloração de Picrusirius Red para avaliar a porcentagem de colágeno.
A B C D 1000μm E F G H 1000μm I J L M 1000μm N O P Q 1000μm
52
A figura 9 apresenta a quantificação do percentual de fibrose (A) e deposição
de colágeno (B) no VE dos diferentes grupos experimentais.
(A) (B) SH AM SH AM /TR SH AM /AT SH AM /TR /AT IM IM/T R IM/A T IM/T R/A T 0 5 10 15
*
# p<0.01 # p<0.01#
†
† p<0.01‡
‡
‡
‡
‡
p<0.01 % F ib r o s e SH AM SH AM /TR SH AM /AT SH AM /TR /AT IM IM/T R IM/A T IM/T R/A T 0 5 10 15‡
‡
‡
‡
% C o lá g e n o p<0.01Figura 9. Os gráficos de barras representam a porcentagem Fibrose (A) e Colágeno (B) nos oito grupos estudados: grupo controle sham (SHAM), sham treinado (SHAM/TR), sham atorvastatina (SHAM/AT) sham treinado atorvastatina (SHAM/TR/AT), Infarto do miocárdio (IM), infarto do miocárdio treinado (IM/TR), infarto do miocárdio atorvastatina (IM/AT) e infarto do miocárdio treinado atorvastatina (IM/TR/AT).. #P<0,01 vs. IM/TR, †P<0.01 vs. IM/AT e ‡P<0,01 vs. grupos IM.
Na figura 9 observamos que o grupo infarto experimental (IM)
apresentou maior percentual de fibrose e deposição de colágeno quando
comparado ao grupo SHAM. O grupo treinamento apresentou menor
porcentagem de fibrose comparado ao grupo infartado.
Nota-se que o treinamento associado ou não com a atorvastatina foi
eficiente para diminuir principalmente a ocorrência de fibrose no grupo
infartado.
Na avaliação do conteúdo de colágeno no VE (figura 9B) observou-se o
que os animais SHAM mostraram valores menores de conteúdo de colágeno
quando comparados aos infartados.
A figura 10 apresenta o percentual de fibrose (A) e deposição de colágeno
53 (A) (B) SH AM SH AM /TR SH AM /AT SH AM /AT /TR IM IM/T R IM/A T IM/A T/T R 0 2 4 6 8 * p<0.05 ‡ ‡ ‡ ‡ % F ib r o s e Co n t r a la t e r a l p<0.01 SH AM SH AM /TR SH AM /AT SH AM /TR /AT IM IM/T R IM/A T IM/T R/A T 0 1 2 3 * p<0.01 * % C o lá g e n o C o n tr a la te r a l
Figura 10. Os gráficos de barras representam a porcentagem de fibrose (Figura 9A) e colágeno (Figura 9B) na parede contralateral do VE nos oito grupos estudados: grupo controle sham (SHAM), sham treinado (SHAM/TR), sham atorvastatina (SHAM/AT) sham treinado atorvastatina (SHAM/TR/AT), Infarto do miocárdio (IM), infarto do miocárdio treinado (IM/TR), infarto do miocárdio atorvastatina (IM/AT) e infarto do miocárdio treinado atorvastatina (IM/TR/AT). *P<0,05 vs. IM, **P<0,01 e ‡P<0,01 vs. grupos IM.
Avaliamos também o conteúdo de fibrose e colágeno na parede
contralateral do VE, e verificamos uma redução no conteúdo de fibrose nos
grupos sham quando comparamos com os grupos IM experimental. Nos grupos
IM experimental somente a associação entre a atorvastatina e o treinamento foi
efetiva em diminuir a fibrose do grupo infartado, figura 10A.
Quando avaliamos o conteúdo de colágeno na figura 10B, apenas o
grupo SHAM mostrou ter menor deposição de colágeno em relação aos
animais dos grupos IM, independente das intervenções.
O desempenho dos animais foi avaliado por meio de um teste
incremental até a exaustão, medido pela distância percorrida no teste. Foram
selecionados para esta análise todos animais incluídos no estudo, IM (IM, n=7),
IM treinamento (IM/TR, n=9), IM atorvastatina (IM/AT, n=10), IM atorvastatina
treinamento (IM/AT/TR, n=13), SHAM (SHAM, n=7), SHAM treinamento
54
treinamento (SHAM/AT/TR, n= 8). Utilizamos para estas análises o programa
Matlab.
Os dados da distância total percorrida pelos animais dos grupos SHAM e
IM nas diferentes intervenções estão apresentados na figura 11.
0 200 400 600 800 1000
IM
IM/TR
IM/TR/AT
IM/AT
SHAM/TR
SHAM
* p<0.01 # p<0.01 # p<0.01SHAM/AT
SHAM/TR/AT
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Figura 11. O gráfico representa a distância total percorrida no teste de exaustão realizado após 4 e 8 semanas de intervenções: (SHAM), sham treinado (SHAM/TR), sham atorvastatina (SHAM/AT) e sham treinado atorvastatina (SHAM/TR/AT), infarto do miocárdio (IM), infarto do miocárdio treinado (IM/TR), infarto do miocárdio atorvastatina (IM/AT), infarto do miocárdio treinado atorvastatina (IM/TR/AT). *P<0,01 vs. IM, #P<0,01 vs. IM/TR nas duas avaliações.
Observa-se que o grupo IM percorreu a menor distância nos dois testes
de exaustão (4ª e 8ª semanas). Esses resultados foram obtidos mesmo com a
caminhada semanal por 5 min a 10m/min para manter a adaptação com a
esteira rolante. Já o treinamento iniciado um dia após o IM experimental foi
eficiente para melhorar o desempenho dos animais, que exibiram uma
distância percorrida significativamente aumentada em relação ao grupo IM e
muito próxima da do grupo SHAM/TR. Nota-se que esse efeito foi significativo a
55
A administração de Atorvastatina não exerceu mesmo efeito, produzindo
56
5. DISCUSSÃO
Diversos grupos de pesquisa têm se dedicado a busca por alternativas
que auxiliem nas possíveis disfunções após IM analisando os efeitos de
diferentes intervenções, em um modelo de IM experimental em animais (21, 28,
39, 54-56). Dentre as possíveis intervenções, o exercício físico tem sido
considerado como estratégia não medicamentosa recomendada para pacientes
com doenças cardiovasculares (54, 57, 58). Estudos também demonstraram
que o treinamento físico e a administração de atorvastatina atuam na
prevenção das disfunções sistólicas e diastólicas da bomba cardíaca no RV (3,
9, 27, 56, 57, 59-61). A proposta deste estudo foi avaliar os efeitos do
treinamento físico e da atorvastatina, em conjunto e separadamente, na função
cardíaca e no RV após o IM. A originalidade do nosso estudo está na aplicação
de um protocolo de treinamento precoce, iniciado dois dias após o evento
isquêmico.
Após o IM, a presença de hipertrofia muscular está diretamente
relacionada com o desenvolvimento de insuficiência cardíaca (9, 62),
principalmente, quando ocorre hipertrofia desproporcional dos cardiomiócitos
devido a um aumento no comprimento da célula em regiões não infartadas
disfuncionais adjacente a um IM transmural crônico (63). Neste estudo foi
avaliado a hipertrofia cardíaca através de duas análises; do índice de massa
ventricular esquerda que é definido como a relação do peso ventricular
esquerdo ajustado pelo peso corporal do animal; e pela área transversal dos
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O grupo IM não apresentou hiperfrofia do VE quando comparado com o
grupo SHAM controle após 8 semanas do procedimento experimental. No
entanto, os animais dos grupos IM/TR e IM/AT exibiram PVE/Peso animal
significativamente maiores quando comparado com o grupo IM. Esse efeito não
foi observado no grupo IM/TR/AT.
Na revisão de literatura os estudos são conflitantes. Existem aqueles
que mostraram que a atorvastatina (9), assim como o treinamento físico (63)
melhoraram a relação peso VE/peso corporal em modelo experimental de
animais infartados e também aqueles que não observam diferenças nesta
relação com o tratamento com a atorvastatina (64), ou com o treinamento físico
(23, 28, 65) . Estudos relataram que a atorvastatina diminui a área transversal
dos cardiomiócitos, quando administrado de uma a quatro semanas após a
indução do IM (9, 64), porém os autores avaliaram apenas o tratamento com a
atorvastatina e na presente pesquisa, o tratamento com a atorvastatina,
iniciada no segundo dia após a cirurgia, não mostrou efeito, só quando
associada ao treinamento.
Avaliando inicialmente os efeitos do IM no grupo experimental (IM) foi
observado que após oito semanas a função hemodinâmica nesse grupo se
apresentava ligeiramente diminuída, com uma tendência a um volume sistólico
e diastólico final maior e valores maiores no Tau e menores na dP/dT máxima,
mas sem diferenças significativas entre os grupos. Quando analisadas as
intervenções entre os grupos, a atorvastatina e a associação com o
treinamento houve uma melhora no relaxamento muscular e disfunção
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Embora os dados sobre a hipertrofia cardíaca tenham mostrado
resultados modestos no grupo IM após 8 semanas do IM experimental, os
dados relacionados ao RV indicaram um aumento significativo no percentual de
fibrose e deposição de colágeno no grupo IM. O remodelamento da parede
contralateral do VE ocorreu, mas foi em menor magnitude. Esse dado era
esperado uma vez que estes animais não foram submetidos à ligadura da
artéria descendente anterior, sendo realizado apenas o procedimento cirúrgico.
Após o evento isquêmico o coração passa por mudanças na matriz extracelular
(3), desencadeada por uma reação inflamatória, perda de cardiomiócitos por
morte celular programada e proliferação dos tecidos fibrosos (12, 46, 66).
Nesse processo de RV pode ocorrer diminuição da função cardíaca, uma vez
que o colágeno está conectado a deficiências na complacência cardíaca,
função sistólica e diastólica, e no comportamento elétrico do coração. A fibrose
está relacionada com a degradação da função ventricular devido alterações
das funções contráteis e de relaxamento da câmara cardíaca. (20, 56, 67).
O efeito do treinamento levando a um menor depósito de fibrose quando
comparados aos grupos IM é claro. Já o uso da atorvastatina não teve efeito
sobre a fibrose, só quando associada ao treinamento. Tang et al. observaram
que a atorvastatina foi capaz de reduzir o conteúdo de fibrose e colágeno
quando administrada antes e depois do IM (5). No estudo de Li Mingyang et al.,
a atorvastatina foi capaz de reduzir o conteúdo de fibrose no VE mas não o
conteúdo de colágeno nos grupos IM (46). Os dados da presente pesquisa não
mostraram efeito da administração de 8 semanas de atorvastatina. Uma
provável explicação é que ela só tenha efeito em animais cujo IM induziu maior
59
Estudos com animais infartados mostram que o exercício físico tem
respostas favoráveis na deposição do colágeno intersticial e fibrose em
modelos animais e atua efetivamente na melhora do RV (11, 15, 18, 30, 57, 60,
63, 66, 68). É importante considerar que antes dos animais serem submetidos
a intervenção cirúrgica, eles realizaram uma adaptação na esteira.
Caminharam por duas semanas, apesar de ser por 15 -20 minutos, sem causar
estresse físico. Esse fato pode ter influenciado nos dados avaliados da função
hemodinâmica. Pesquisas anteriores relataram que o exercício aplicado antes
do IM atenua a disfunção do VE e remodelação cardíaca (21, 55).
Em uma minuciosa revisão literária, foram encontrados estudos com
treinamento físico em modelo de animais infartados (11, 15, 18, 20, 30, 57, 60,
63, 66, 68, 69). Nestes estudos, os autores aplicaram com um protocolo de
treinamento iniciado tardiamente à indução do IM. Outros estudos descrevem
protocolos com 1 semana até 4 semanas após o evento isquêmico, o que
diferencia da presente pesquisa que iniciou o protocolo de treinamento
precocemente, ou seja, no segundo dia após a indução do IM ou sham.
Xu et al. (11) mostraram que o exercício iniciado uma semana após a
indução do IM, cinco dias na semana durante oito semanas foi capaz de
diminuir o conteúdo de colágeno e atenuar a fibrose na matriz extracelular em
animais treinados comparados aos sedentários.
Alves et al. (60) demonstraram que o exercício físico iniciado após seis
semanas do IM melhorou a função cardíaca, os índices de dP/dt máx e dP/dt
min, atenuou a hipertrofia cardíaca e melhorou a deposição de colágeno no VE.
Nesta pesquisa observamos apenas diferenças no índice de DP/dt min, não