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Academic year: 2021

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(1)Universidade Federal de Juiz de Fora Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas Mestrado em Comportamento e Biologia Animal. Marcos Edmor Ladeira Moreno. OS ATAQUES REALIZADOS PELAS LONTRAS AOS TANQUES DE PEIXES E O CONHECIMENTO DOS PISCICULTORES PARA COM A LONTRA NEOTROPICAL Lontra longicaudis OLFERS, 1818 (CARNIVORA – MUSTELIDAE). Juiz de Fora 2008.

(2) 1. Marcos Edmor Ladeira Moreno. OS ATAQUES REALIZADOS PELAS LONTRAS AOS TANQUES DE PEIXES E O CONHECIMENTO DOS PISCICULTORES PARA COM A LONTRA NEOTROPICAL Lontra longicaudis OLFERS, 1818 (CARNIVORA – MUSTELIDAE).. Dissertação apresentada ao Instituto de Ciências Biológicas, da Universidade Federal de Juiz de Fora, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Ciências Biológicas (Área de Concentração em Comportamento e Biologia Animal).. Orientador: Prof. Dr. Artur Andriolo. Juiz de Fora 2008.

(3) 2. Moreno, Marcos Edmor Ladeira. Os ataques realizados pelas lontras aos tanques de peixes e o conhecimento dos piscicultores para com a lontra neotropical Lontra longicaudis Olfers, 1818 (Carnívora – Mustelidae) / Marcos Edmor Ladeira Moreno. – 2008. 70 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas)—Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2008. 1. Homem – Influência do meio. 2. Comportamento animal. I. Título.. CDU 504.75.

(4) 3. OS ATAQUES REALIZADOS PELAS LONTRAS AOS TANQUES DE PEIXES E O CONHECIMENTO DOS PISCICULTORES PARA COM A LONTRA NEOTROPICAL Lontra longicaudis OLFERS, 1818 (CARNIVORA – MUSTELIDAE).. Marcos Edmor Ladeira Moreno Orientador: Prof. Dr. Artur Andriolo. Dissertação apresentada ao Instituto de Ciências Biológicas, da Universidade Federal de Juiz de Fora, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Ciências Biológicas (Área de Concentração em Comportamento e Biologia Animal).. Aprovada em 28 de fevereiro de 2008. Prof. Dr. Eduardo Nakano Cardim de Oliveira Instituto de Pesquisas Cananéia. Prof. Dr. Vicente Paulo dos Santos Pinto Universidade Federal de Juiz de Fora. Prof. Dr. Artur Andriolo Universidade Federal de Juiz de Fora.

(5) 4. AGRADECIMENTOS. Agradeço a Deus por estar sempre presente em minha vida. Suas diversas formas, maneiras de se fazer presente a cada dia me surpreendem mais e fazem com que minha fé cresça me tornando um ser humano cada vez melhor. A Maria Amélia, meu amor, e seus pais, ou melhor, seus meus pais também. A Tia Carmem pela liberdade e carinho de mãe dispensados a mim e meu irmão. Ao Deton, meu irmão do meio um abraço. Aos tios de Ipatinga pelo suporte financeiro, sentimental e confiança durante não só o tempo do mestrado, mas sim toda a graduação. Ao Rapha por estar sempre jogando do meu lado durante todo o tempo em todas as situações, espero que nosso convívio seja sempre tão próximo, ficaremos juntos. Agora a bola estará com você e pode contar comigo, vamos longe. Aos pesquisadores Janusz Kloskowski, Margarida Santos-Reis, József Lanszki e Valdir Ramos pelo envio de trabalhos e sugestões para o manuscrito. A Rodrigo Bacelar, pela recepção na APA Bacia do Rio São João/ Mico-Leão-Dourado. A Maurício Porto da Secretária de Pesca e Aqüicultura de Casimiro de Abreu, pela maravilhosa recepção e interesse em ajudar na pesquisa. Ao Fábio Prezoto pelas caronas de volta para casa e principalmente pela simpatia e boa vontade com que sempre me atendeu. Lucas (Kogima) e Fran pela força, desde a época do Rio, foi lá que começou o mestrado. A Gabriela e Valdir, minha família carioca, vocês participaram da minha formação e estão no meu coração. A Leandro Abade, pela força, principalmente lá em Casimiro na primeira vez, quando ninguém queria falar. A Alan Cepile pela grande amizade. Aos produtores rurais participantes da pesquisa. A CAPES pelo apóio financeiro concedido durante os dois anos de pesquisa..

(6) 5. Ao Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas – Comportamento e Biologia Animal da UFJF. Agradeço a Andréa por ter me iniciado no fabuloso universo da pesquisa científica, muito do que me tornei e principalmente do que pretendo me tornar passam pelos caminhos que aprendi com você, muito obrigado. Ao Artur, obrigado pela grande confiança depositada, obrigado pelo carinho, obrigado pela atenção, obrigado, obrigado,........................................................OBRIGADO, meu Mestre e meu AMIGO. Mais uma vez a Maria Amélia, minha namorada, companheira, amiga, psicóloga, orientadora, etc... Você foi minha luz e agora sinto que dentre as diversas manifestações acima citadas de Deus você foi e é uma delas, te amo..

(7) 6. RESUMO. A lontra neotropical (Lontra longicaudis) ocorre desde o México até a Argentina, estando entre as espécies de lontra com a maior área de distribuição. Mas apesar desta grande área de distribuição pouco se sabe sobre sua ecologia, comportamento e relação com os homens. O presente trabalho teve como objetivo geral estudar as relações entre os produtores de peixes localizados em 3 Estados brasileiros (Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo) e as lontras, animais estes freqüentemente associados a ataques aos tanques de peixes. Para tal estudo um questionário foi enviado a 50 piscicultores presentes nos estados acima citados, tal questionário continha questões relativas ao levantamento de informações sobre os ataques realizados pelas lontras aos tanques de peixes e se estes geram um conflito entre estas e os piscicultores, assim como questões relativas ao conhecimento dos piscicultores sobre aspectos da ecologia e comportamento das lontras. Os resultados relacionados aos ataques indicam que apesar destes ocorrerem na maior parte das propriedades investigadas, as perdas serem tratadas como grandes pela metade dos investigados e que quanto maior o dano causado maior o sentimento negativo para com as lontras, tais elementos por si só não foram suficientes para a instauração de um conflito entre as lontras e os piscicultores, sendo sim o termo conflito de interesses mais bem colocado, uma vez que a idéia de conflito vem acompanhada de ações danosas entre as partes envolvidas, fato não demonstrado, pois dentre as medidas possivelmente adotadas para a resolução da predação pelos produtores a morte do animal figurou em último lugar. Alguns métodos foram propostos pelos produtores para a solução da predação, em destaque: a utilização de cães, a implementação de cercas e a baixa estocagem de peixes nos tanques. Com relação ao conhecimento dos produtores para com as lontras, estes nos forneceram informações sobre a presença destas em suas propriedades, pequenos córregos e brejos como principais locais de sua ocorrência, tendo as lontras como período de atividade toda a extensão do dia, com picos matutinos e noturnos, sendo animais de hábitos solitários ainda que relatos do avistamento destas em grupos tenham sido freqüentes e com o status atual de sua presença na natureza considerado estável pelos piscicultores que também colocaram que antigamente seu número fora maior. Aspectos de difícil avaliação como a caça e motivos desta também foram avaliados. As.

(8) 7. abordagens do conhecimento dos produtores de peixes, apresentada neste trabalho foram efetivamente substanciais à obtenção e acréscimo de informações relativas às lontras. Embora exista, obviamente a necessidade de investigar mais detalhadamente algumas das informações obtidas junto aos produtores antes que sua veracidade possa ser atestada, os dados aqui relatados todos a partir do conhecimento dos produtores são uma importante fonte de embasamento e direcionamento para ações conservacionistas a serem desenvolvidas na região, além de contribuírem significantemente para o aumento do conhecimento das relações homem e natureza.. Palavras-chave: Interação Homem-Natureza, Predação, Lontra, Conhecimento popular..

(9) 8. ABSTRACT The Neotropical otter (Lontra longicaudis) occur since México toward Argentina, staying among the most widespread species of otter in the world. In spite of this great distribution area a little is known about its ecology, behavior and human relation. The present work aim was to study the relationship between fish farmers placed in three Brazilian States (Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo) and the otters, animals frequently associated with fishing tanks’ attacks. For such study, a questionnaire was sent to 50 fish farmers located in the states cited above, containing questions to rise information about the otters’ attack to fishing tanks and if these generate potential conflict between otters and fish farmers, as well as questions concerning the fish farmers’ assessment about otters’ ecology and behavior aspects. The results accounted to attacks shown that, in spite of these attacks occur in the majority of the investigated farms, the losses being threatened as big by the half of investigated and that as larger the damage larger the negative feeling to the otters, such elements by itself were not enough for the establishment of a conflict involving otters and fish farmers, being interest clash the better put term, once that the idea of conflict comes accompanied with harmful actions among the involved parts that in fact, was not verified, cause the dead of the animal figure last in the middle of possible actions adopted by the fish farmers to solve the predation problem. Some fish farmers’ proposed methods to minimize the predation, in prominence: the use of dogs, to implement of fence and low down the stock of fish in fishing tanks. Regarding the farmers’ assessment to the otters, the information supplied by them about otters’ presence in their property, show up small streams and swamps as main place of otters’ occurrence, having as activity period the whole day extension, with morning and night picks, being animals of lonely habits although sighting them grouped reports have been frequent and with current presence status in nature stable by fish farmers that in addition assumed that formerly its number had been larger. Difficult evaluation aspects as the hunt and the reasons of this were also appraised. The approaches of fish farmers’ assessment, presented in this work were substantial indeed to obtaining and increase information about the otters. Although there is, obviously the need of deeper investigation of some information obtained through the farmers before its could be truly attested, the data here reported, from farmers’ assessment onwards, are an important basis and direction source for conservationist actions for being developed in this region, further than significantly contribute to raise the knowledge of human-nature relation. Key-words: Human-nature interaction, predation, otter, popular knowledge..

(10) 9. LISTA DE ILUSTRAÇÕES. Página MAPA 1. Municípios de Minas Gerais aos quais pertenciam os proprietários rurais participantes da pesquisa.....................................................................................................................................21 MAPA 2. Municípios do Estado do Rio de Janeiro ao qual pertenciam os produtores rurais participantes da pesquisa................................................................................................................22 MAPA 3. Municípios do Estado de São Paulo no qual residiam os produtores rurais participantes da pesquisa......................................................................................................................................23.

(11) 10. LISTA DE GRÁFICOS. Página GRÁFICO 1. Número de produtores que relataram ter sofrido perdas nos tanques de peixes, ocasionadas por ataques de lontras.................................................................................................27. GRÁFICO 2. Freqüência dos ataques realizados pelas lontras aos tanques de peixes, relatadas pelos produtores.............................................................................................................................28. GRÁFICO 3. A percepção da intensidade das perdas causadas pelos ataques das lontras aos tanques de peixes............................................................................................................................29 GRÁFICO 4. Freqüência de avistamento das lontras nas propriedades investigadas..................43. GRÁFICO 5. Possíveis locais de ocorrência das lontras, segundo os piscicultores.....................44. GRÁFICO 6. O status atual da população de lontras segundo os piscicultores............................44. GRÁFICO 7. Nível de socialização das lontras segundo os piscicultores....................................45. GRÁFICO 8. Partes do dia mais comuns de se avistar uma lontra de acordo com os piscicultores investigados.....................................................................................................................................46. GRÁFICO 9. Horário dos ataques aos tanques de piscicultura realizados pelas lontras...............46. GRÁFICO 10. Freqüência das respostas dadas pelos produtores quanto à existência ou não da caça de lontras.................................................................................................................................47. GRÁFICO 11. Motivos que levariam a caça das lontras, citados pelos piscicultores...................47.

(12) 11. LISTA DE TABELAS. Página TABELA 1. Números de contatos recebidos e número de questionários enviados e recebidos para os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo........................................................26. TABELA 2. Ordem de importância (decrescente) dada pelos produtores para as medidas sugeridas para a resolução da predação nos tanques de peixes por lontras....................................30. TABELA 3. Métodos sugeridos para a resolução da predação por lontras aos tanques de peixes, segundo os piscicultores.................................................................................................................32. TABELA 4. Nível de escolaridade dos produtores investigados..................................................43. TABELA 5. Respostas dadas pelos piscicultores às opções fornecidas no questionário com relação ao conhecimento destes a respeito do papel ecológico das lontras na natureza...............48.

(13) 12. SUMÁRIO Página. 1. INTRODUÇÃO GERAL.......................................................................................................14 13 2. O POSSÍVEL CONFLITO ENTRE AS LONTRAS Lontra longicaudis (OLFERS, 1818) E OS PROPRIETÁRIOS DE ESTABELECIMENTOS AQÜÍCOLAS....................................19 18 2.1 MATERIAL E MÉTODOS...................................................................................................21 20 2.2. RESULTADOS......................................................................................................................27 26 2.2.1 A ocorrência dos ataques realizados por lontras aos tanques de piscicultura........................28 27 2.2.2 Freqüência dos ataques..........................................................................................................29 28 2.2.3 Conflitos e percepção relacionados aos ataques....................................................................29 28 2.2.4 Sugestões para a resolução do problema...............................................................................31 30 2.3 DISCUSSÃO...........................................................................................................................33 32 3. O CONHECIMENTO DOS PROPRIETÁRIOS DE ESTABELECIMENTOS AQÜÍCOLAS COM RELAÇÃO ÀS LONTRAS Lontra longicaudis (OLFERS, 1818)........40 39 3.1 MATERIAL E MÉTODOS...................................................................................................42 41 3.2 RESULTADOS.......................................................................................................................43 42 3.2.1 Perfil dos piscicultores investigados......................................................................................43 42 3.2.2 Com relação ao avistamento das lontras nas propriedades....................................................44 43 3.2.3 Locais de ocorrência das lontras............................................................................................45 44 3.2.4 Com relação ao status atual das lontras na natureza..............................................................45 44 3.2.5 Quanto ao comportamento social das lontras........................................................................46 45 3.2.6 Período de atividade das lontras............................................................................................46 45 3.2.7 Quanto à existência da caça e motivos pelo qual esta ocorre................................................48 47 3.2.8 Com relação ao conhecimento do papel ecológico das lontras.............................................49 48 3.3 DISCUSSÃO...........................................................................................................................50 49 4. CONCLUSÃO..........................................................................................................................54 53 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................55 54 REFERÊNCIAS...........................................................................................................................58 56 APÊNDICE A...............................................................................................................................59 63 APÊNDICE B................................................................................................................................59 70.

(14) 13. 1. INTRODUÇÃO. Os carnívoros tem sido parte do ambiente, cultura e mitologia humana por milhares de anos. Estão no imaginário do ser humano como símbolos de beleza e força. No entanto, toda esta beleza plástica não é suficiente para evitar que boa parte das espécies que ocorram no Brasil esteja em risco de extinção, ou mesmo com uma lacuna sobre informações a seu respeito (IBAMA, 2004). Por estarem no topo da cadeia alimentar, os carnívoros têm grande importância ecológica, pois podem regular a população de presas naturais, e desta forma influenciar toda a dinâmica do ecossistema em que vivem (IBAMA, 2004; TREVES & KARANTH, 2003). São vítimas constantes de praticamente todas as formas de ameaças, como a caça furtiva para troféu, comércio de peles e principalmente, eliminação de indivíduos que estejam causando prejuízo econômico a proprietários rurais e destruição e fragmentação de hábitats (PITMAN et al. 2002). Neste sentido, é premente a necessidade de direcionamento das atividades de pesquisa que possam contribuir com a preservação das espécies de mamíferos carnívoros da fauna brasileira, maximizando a obtenção de informações e minimizando os custos (IBAMA, 2004). As lontras neotropicais Lontra longicaudis (OLFERS, 1818), são animais carnívoros, semi-aquáticos, de hábitos crepusculares, geralmente solitários, cuja biologia e ecologia são muito pouco conhecidas e que ocorrem em todo o Brasil, exceto nas partes mais áridas do nordeste (FONSECA et al. 1984; IBAMA, 2001). A lontra neotropical vive em ambientes de água doce, como rios, lagos e banhados e também utiliza ambientes marinhos como baías, estuários e mangues. Ocorriam em quase todos os ambientes de água doce entre as latitudes 29ºN e 35ºS, incluindo o México e todos os países da América Central e América do Sul, exceto o Chile (CHEHÉBAR, 1990; PARERA, 1996). Sua distribuição atual é desconhecida. Quanto à alimentação, a dieta desses animais é essencialmente piscívora, embora no seu regime alimentar tenhamos outras presas potenciais, pertencentes ao grupo dos anfíbios e.

(15) 14. invertebrados (principalmente crustáceos e insetos) e, em menor escala, pequenos mamíferos, aves aquáticas e répteis (MACÍAS-SANCHES & ARANDA , 1999; PARERA, 1996; SOUZA, 2004). As lontras apresentam uma forte dependência das margens dos corpos d’água onde vivem, já que nelas realizam diversas atividades como descanso, marcação territorial, limpeza do pêlo e criação de filhotes Chanin (apud WALDEMARIN, 2004). Por este motivo a retirada de mata ciliar, poluição inorgânica das águas, são apontadas como as principais ameaças às populações de lontras (CHEHÉBAR, 1990; MEDINA-VOGEL et al. 2003). A mortalidade acidental por atropelamento, que ocorre mais freqüentemente do que seria previsível ou esperado para uma espécie com hábitos semi-aquáticos, a morte por afogamento em redes de pesca, a construção de grandes barragens e por fim a perseguição direta por pescadores, proprietários de estabelecimentos aqüícolas, sendo comuns os relatos de prejuízos causados pelas lontras aos tanques de criação de peixes, são também ameaças para as populações de lontras (CHEHÉBAR, 1990; KRANZ et al. 1998; IBAMA, 2001; PEDROSO-JÚNIOR, 2002; PHILCOX et al. 1999; REUTHER, 2002; ROSAS, 2004; WISNIOWSKA & MORDARSKA, 1998). Constava da lista oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (IBAMA, 2001). Mas nos estudos para elaboração do Plano de Ação: Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do Brasil (IBAMA, 2004), esta foi retirada da lista de animais ameaçados de extinção do Brasil. Segundo a IUCN a L. longicaudis é enquadrada na categoria “dados deficientes” (HILTON-TAYLOR, 2000). Como colocado por JONKER et al. (2006), a “invasão” dos locais inicialmente habitados pelos animais silvestres, tem resultado em um processo de habituação destes para com os “novos moradores”, fato este que acarreta em um compartilhamento deste novo local, o que pode causar danos para a propriedade comercial, jardins, produção agrícola, pecuária, estrutura residencial, animais domésticos e até mesmo para as próprias pessoas ali residentes. A predação é um hábito natural e fundamental para a manutenção da biodiversidade e dos processos ecológicos. Os mamíferos da Ordem Carnívora, ou carnívoros, constituem o principal grupo de animais predadores. Entretanto onde os carnívoros são forçados a coexistir com animais domésticos, a predação se transforma em conflito, que gera perdas de animais domésticos e de carnívoros silvestres. Por esse motivo, os carnívoros têm sido perseguidos mundialmente e suas populações naturais apresentam-se extremamente reduzidas..

(16) 15. Os conflitos entre proprietários de criações domésticas e predadores, provavelmente, tiveram início desde que os primeiros animais foram domesticados pelos seres humanos há cerca de 9.000 anos (NOWELL & JACKSON, 1996). A predação realizada por lontras aos tanques de piscicultura tem sido documentada e estudada principalmente no continente europeu, realizada então pela lontra euopéia, Lutra lutra (LINNAEUS, 1758), na França (LEBLANC, 2003), República Checa (ADÁMEK et al. 2003; KNOLLSEISEN & KRANZ, 1998), Finlândia (SKÁREN, 1988), Polônia (KLOSKOWSKI, 2005; WISNIOWSKA & MORDARSKA, 1998), Alemanha (MYSIAK et al. 2004; SCHWERDTNER, 20007), Portugal (SANTOS-REIS et al. 2004; TRINDADE, 1991) e Hungria (LANSZKI et al. 1998; LANSZKI et al. 2001; LANSZKI et al. 2006). Fato este de extrema importância se considerarmos que estudos envolvendo ataques a criações domésticas são de grande relevância para subsidiar propostas de manejo e medidas de prevenção e controle de danos aos produtores (MENDES et al. 2005). Sendo que produtores rurais acabam “resolvendo” os conflitos por seus próprios meios, ocasionando a morte desnecessária de predadores. Muitas vezes esses animais são mortos de maneira preventiva, apenas pela possibilidade de que estes possam causar problemas às criações domésticas (MENDES et al. 2005; Sillero & Laurenson (apud PITMAN et al. 2002)). No Brasil, o problema da predação exercido pelas lontras aos pescadores e criadores de peixes é bastante noticiado, principalmente de maneira informal pelos mesmos. E somente alguns poucos estudos e medidas tratam desta questão, como por exemplo, NAKANO-OLIVEIRA (2006). Como exemplo, temos que licenças concedidas para a abertura de tanques de piscicultura possuem uma cláusula específica que diz que no entorno do empreendimento a ser construído deverão ser implantadas medidas eficazes para impedir a predação dos peixes por animais silvestres como lontra, sem causar dano a esses animais silvestres (Lei Federal Nº 5197/67 Lei de Proteção à Fauna). As lontras são tratadas como predadoras constantes nas atividades de piscicultura (SEBRAE, 2005). PEDROSO-JÚNIOR (2002), estudando uma comunidade local no Parque Nacional do Superaguí no Estado do Paraná, relatou que estes moradores se referiam às lontras como danosas para as atividades pesqueiras, dizendo: “Quando a lontra tá com fome ela pega o peixe da rede, mas corta tudo. Tem dente afiado danada ela! A turma aí reclama” (morador da Vila das Peças, comunidade do Parque Nacional do Superaguí). As lontras também.

(17) 16. são relacionadas a problemas com os criadores de peixes e pescadores no Plano de ação dos Mamíferos Aquáticos do Brasil (IBAMA, 2001). A espécie também é considerada um incômodo pelos pescadores e aquicultores, principalmente no sul do Brasil, devido ao comportamento adquirido de predar peixes em tanques de aqüicultura e ocasionalmente danificar redes de pesca (ROSAS, 2004). Outros predadores das criações de peixes nos tanques de piscicultura são: garças, socós, ninfas de libélulas, cobras e etc (EMATER, 1984; FONSECA et al. 2004). A questão do entendimento da predação realizada por lontras aos tanques de peixes e as prováveis reações e formas de gerenciar tal acontecimento por parte dos piscicultores, ganha grande importância quando considerarmos que o Brasil possui um potencial imenso para o desenvolvimento das diversas modalidades da aqüicultura, pois apresenta uma grande quantidade de recursos hídricos, além de uma produtiva região costeira. Possui também uma grande riqueza em. espécies,. diversos. microclimas,. e. áreas. adequadas. ao. desenvolvimento. da. atividade.(CAMARGO & POUEY, 2005). Sendo que atualmente a aqüicultura é o sistema de produção de alimentos que mais cresce no mundo (CARDOSO, 2007). O setor aqüícola brasileiro, entre os anos de 1990 e 2001, apresentou um crescimento de 825%, enquanto a aqüicultura mundial cresceu 187% no mesmo período (SCORVO-FILHO, 2004), e as perspectivas e planos governamentais para a solidificação deste mercado, passando pela expansão do número de tanques de criação em ambientes continentais. Outro elemento que agrega importância ao estudo é o fato de o Brasil ainda não possuir uma política nacional de manejo adequada para lidar com o problema da predação a criações domésticas (PITMAN et al. 2002). A importância em se preservar as lontras, reside dentre outros fatores, a estas serem animais de topo de cadeia dos ambientes onde vivem e, por isso, sujeitas a quaisquer alterações que se processem no meio (KREBS, 1994). E por serem animais do topo da cadeia alimentar são responsáveis pelo equilíbrio das populações das presas de que se alimentam, principalmente de peixes. Desta forma, a ausência de lontras em corpos d’água onde elas existiam previamente pode ocasionar um desequilíbrio na quantidade e nos tipos de peixes presentes. São também animais atrativos e cativantes, que podem ser utilizadas como forma de informação e sensibilização do público não só para sua conservação, mas também para a importância das zonas úmidas em geral..

(18) 17. Trabalhos com implicações conservacionistas têm-se utilizado cada vez mais do conhecimento popular dos moradores das áreas em estudo, pois uma vez trabalhado o conhecimento a partir de dentro da comunidade, planos e ações conservacionistas ganham muito em êxito e são mais facilmente justificados perante os mesmos. O processo para a conservação de espécies ameaçadas de extinção é acelerado quando a imagem do animal é valorizada frente à comunidade local (WEDEKIN, 2005). É dentro deste universo que estudos que envolvam a participação popular são pertinentes, pois estes estão diretamente ligados às questões sociais, econômicas, culturais e biológicas, uma vez que o conhecimento popular auxilia o estudo científico (ALVES et al. 2002). DIEGUES (2000) relata a importância de um ambientalismo mais ligado às questões sociais, influenciando uma nova forma de ver a conservação, propondo a participação das comunidades locais no planejamento e gestão das atividades de conservação. No Plano de Ação – Pesquisa e Conservação dos Mamíferos Carnívoros do Brasil, o entendimento e estudo das percepções dos danos causados por animais predadores aos proprietários rurais é um dos caminhos apontados para a possível resolução do conflito e posterior conservação das espécies predadoras. Com o intuito de estudar e obter informações sobre as interações entre os piscicultores e as lontras presentes ao seu redor, a dissertação foi dividida em duas seções. A primeira apresenta uma avaliação sobre a possível existência de um conflito entre os piscicultores e as lontras, gerada pelos ataques destas aos tanques de peixes, analisando-se para isto as percepções dos danos causados pelas lontras aos criadores, as impressões dos criadores para com as lontras em diversas situações e quais medidas ou grupos de medidas são adotadas para gerenciamento da predação. A segunda seção apresenta informações referentes ao comportamento e ecologia das lontras, totalmente baseadas no conhecimento popular dos piscicultores investigados. Os resultados deste estudo visam contribuir para a conservação da lontra, tanto dentro das áreas em estudo, quanto em outros locais onde estas ocorram, uma vez que dados sobre a biologia, ecologia e comportamento destes animais são raros e de extrema importância para o conhecimento e elaboração de estratégias para a conservação da espécie..

(19) 18. 2. O POSSÍVEL CONFLITO ENTRE AS LONTRAS Lontra longicaudis (OLFERS, 1818) E OS PROPRIETÁRIOS DE ESTABELECIMENTOS AQÜÍCOLAS.. Espécies predadoras competem com os humanos pelo uso dos recursos biológicos tais como alimentos (rebanhos, tanques de piscicultura, colheitas, colméias) e espaço. Assim, sua ocorrência pode causar danos significantes (TREVES & KARANTH, 2003; WOODROFFE et al. 2005) podendo-se com isto gerar conflitos entre vida selvagem e homens, conflitos estes que são grandes problemas em muitas partes do mundo (TREVES & KARANTH, 2003). As lontras Lontra longicaudis (OLFERS, 1818), se apresentam como uma destas espécies competidoras com os homens, nas atividades relacionadas à pesca e aqüicultura (NAKANO-OLIVEIRA, 2006; SEBRAE, 2005). Relação esta que acarreta em perseguição pelo homem, gerando com isto uma das ameaças a sua sobrevivência (CHEHEBAR, 1990; IBAMA, 2001; KRANZ et al. 1998; PEDROSO-JÚNIOR, 2002; SKÁREN, 2003; WISNIOWSKA & MORDARSKA, 1998). A predação realizada por lontras aos tanques de piscicultura tem sido documentada principalmente no continente europeu, realizada então pela lontra euopéia, Lutra lutra (LINNAEUS, 1758), na França (LEBLANC, 2003), República Checa (ADÁMEK et al. 2003; KNOLLSEISEN & KRANZ, 1998), Finlândia (SKÁREN, 1989), Polônia (KLOSKOWSKI, 2005; WISNIOWSKA & MORDARSKA, 1998), Alemanha (MYSIAK et al. 2004; SCHWERDTNER, 20007), Portugal (SANTOS-REIS et al. 2004; TRINDADE, 1991) e Hungria (LANSZKI et al, 1998; LANSZKI et al. 2001; LANSZKI et al. 2006). Fato este de extrema importância se considerarmos que estudos envolvendo ataques a criações domésticas são de grande relevância para subsidiar propostas de manejo e medidas de prevenção e controle de danos aos produtores (MENDES et al. 2005). E também que produtores rurais acabam “resolvendo” os conflitos por seus próprios meios, ocasionando a morte desnecessária de predadores. Muitas vezes esses animais são mortos de maneira preventiva, apenas pela possibilidade de que estes possam causar problemas às criações domésticas (MENDES et al. 2005; Sillero & Laurenson (apud PITMAN et al. 2002))..

(20) 19. São poucos os trabalhos que abordam a percepção dos proprietários atacados por lontras e quais atitudes destes para com os animais e suas possíveis implicações para o gerenciamento de tal relação conflituosa. SANTOS-REIS et al. (2004) analisando as interações entre piscicultores portugueses e lontras européias (L. lutra), verificaram que os piscicultores afetados pela predação as consideravam como espécies competidoras e a relação como conflituosa. A mesma situação de conflito é relatada por MYSIAK et al. 2004; SCHWERDTNER & GRUBER (2007) na Alemanha. Em uma investigação sobre os danos causados pelas lontras européias aos piscicultores finlandeses, SKÁREN (1988) mostrou que apenas uns poucos proprietários consideravam as lontras (L. lutra) como animais danosos e competidores com a produção, apesar de serem alvos da predação. TRINDADE (1991) também mostrou que as opiniões sobre a existência ou não do conflito são variáveis entre os produtores portugueses. Resultado similar ao encontrado por LACOMBA et al. (2001), onde pescadores uruguaios apesar de sofrerem perdas nas redes de pesca por lontras (L. longicaudis), não as consideram como competidoras, mas sim simpáticas companhias. Relação esta não compartilhada pelos pescadores investigados por PEDROSOJÚNIOR (2002), no Estado do Paraná, Brasil, onde estes relataram considerar às lontras danosas para as atividades pesqueiras, chegando a ser um problema. A espécie também é considerada um incômodo pelos pescadores e aquicultores, principalmente no sul do Brasil, devido ao comportamento adquirido de predar peixes em tanques de aqüicultura e ocasionalmente danificar redes de pesca (ROSAS, 2004). O mesmo acontece entre donos de cerca de pesca e lontras no litoral sul de São Paulo (NAKANO-OLIVEIRA, 2006). PITT & CONOVER (1996) colocam que as percepções dos pescadores e piscicultores a respeito do impacto de predadores naturais sobre as atividades aqüícolas são raramente analisadas e pouco se sabe sobre sua validade. Contudo, esta percepção pode ser decisiva para a perseguição das lontras pelos pescadores e produtores de peixes (KLOSKOWSKI, 2005). Considerando que o setor aqüícola brasileiro, entre os anos de 1990 e 2001, apresentou um crescimento de 825%, enquanto a aqüicultura mundial cresceu 187% no mesmo período (SCORVO-FILHO, 2004), e as perspectivas e planos governamentais para a solidificação deste mercado, passando pela expansão do número de tanques de criação em ambientes continentais, os estudos entre as possíveis interações criadores de peixes e população de lontras tornam-se ainda mais valiosos e necessários..

(21) 20. Partindo-se do que foi definido por Decker & Purdy (apud JONKER et al. 2006), de que a capacidade de aceitação da vida selvagem é influenciada pelas experiências das pessoas, atitudes e valores individuais. O trabalho busca analisar em um primeiro momento se ataques aos tanques de piscicultura ocorrem nas propriedades investigadas, e se estes geram um conflito entre os produtores e os animais, analisando-se para isto as percepções dos danos causados pelas lontras aos criadores, as impressões dos criadores para com as lontras em diversas situações e quais medidas ou grupos de medidas são adotadas para gerenciamento da predação. Contribuindo com isto para um possível entendimento destes limites de aceitação dos proprietários rurais, e suas respectivas atitudes para com a natureza, no intuito de se desenvolver programas de administração da vida selvagem socialmente aplicáveis e biologicamente aceitáveis (JONKER et al. 2006).. 2.1 MATERIAL E MÉTODOS. Para o levantamento das informações sobre as interações entre os produtores de peixes e as lontras, um questionário foi enviado para piscicultores do Estado de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. No estado de Minas Gerais, os seguintes municípios foram abordados: Argirita, Belmiro Braga, Bicas, Bocaina de Minas, Bom Jardim de Minas, Descoberto, Juiz de Fora, Lima Duarte, Matias Barbosa, Rio Novo, Olaria, Chácara, Piau, Ewbank da Câmara (Mapa 1). E no Estado do Rio de Janeiro nos municípios de Casimiro de Abreu no norte fluminense e Petrópolis (Mapa 2). Os produtores paulistas residiam nos municípios de Campinas, Campos do Jordão, Mairiporã, Monte Mor, Paulínia, Pindamonhangaba (Mapa 3)..

(22) 21. 1:75000. Mapa 1. Em escuro, municípios de Minas Gerais aos quais pertenciam os proprietários rurais participantes da pesquisa. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4e/MinasGerais.svg acessado em 12/09/2007.

(23) 22. 1:75000. Mapa 2. Em escuro, municípios do Estado do Rio de Janeiro ao qual pertenciam os produtores rurais participantes da pesquisa. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4e/RiodeJaneiro.svg acessado em 12/09/2007.

(24) 23. 1:75000. Mapa 3. Em escuro, municípios do Estado de São Paulo no qual residiam os produtores rurais participantes da pesquisa. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4e/SãoPaulo.svg acessado em 12/09/2007.

(25) 24. Para a obtenção do contato dos produtores residentes em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, as seguintes associações foram contatadas: Associação de Criadores de Peixes do Sudeste (ACRIPEIXES), ABRAT (Associação brasileira de truticultores) e Sindicato Rural de Campinas. Um total de 114 contatos nos foi fornecido, sendo 57% (N=65) em Minas Gerais, 30% (N= 34) em São Paulo e 13% (N=15) no estado do Rio de Janeiro. Para aplicação dos questionários, um contato prévio por telefone foi realizado com cada produtor participante da pesquisa Dilman (apud JONKER et al. 2006). Neste contato, os propósitos da pesquisa eram explicitados da seguinte maneira: o pesquisador se apresentava dizendo estar falando da Universidade Federal de Juiz de Fora em Minas Gerais, em seguida dizia-se como conseguirá o contato de tal produtor através da Associação ou Sindicato Rural correspondente, o intuito da pesquisa, referindo-se tratar de um estudo que investigava entre diferentes piscicultores, quais deles já passaram por experiências de predação dos peixes nos tanques de criação por animais silvestres. Duas classes de respostas eram esperadas pelo pesquisador, a primeira seria sim, já ocorreram ataques às criações e a segunda não, nunca ocorreram ataques às criações. Caso positiva a resposta, era perguntado em seguida por qual ou por quais animais. Sendo que em nenhum momento antes da manifestação do entrevistado, com relação aos possíveis animais responsáveis pelos ataques, o pesquisador referia-se ao estudo tratar especificamente dos ataques realizados por lontras aos tanques. Para não influenciar nos comentários futuros. Depois de listados os animais invasores pelo produtor, as motivações e espécie alvo do trabalho eram explicitados. Já com relação às respostas negativas aos ataques, explicava-se ao produtor a pesquisa e a importância da participação deste mesmo não tendo sofrido perdas. No contato pelo telefone, quando a lontra era citada como predadora dos tanques de peixes, era perguntado ao produtor qual o grau desta predação, e a primeira resposta do produtor era anotada, se esta era pequena, média ou grande. Também era perguntado o que estes achavam do animal e se a predação era encarada como um problema. Com a chegada dos questionários respondidos, uma checagem era realizada das respostas dadas ao telefone e as colocadas no questionário. Acertada a participação na pesquisa, o passo seguinte constituía-se em combinar o envio e o retorno dos questionários pelo correio. Os questionários enviados continham dentro de seu.

(26) 25. envelope de remessa outro envelope já preenchido e selado bastando apenas aos produtores colocá-los nas agências dos Correios. Devido à semelhança na criação dos peixes, tais como, na maioria das propriedades método semi-extensivo de criação, diferença no número de estabelecimentos investigados por estados 72% (N=36), 14% (N= 7) e 14% (N=7), respectivamente em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, e também pelas informações na literatura sobre a ocorrência de lontras em todos os três estados investigados (CHEHÉBAR, 1990; PARERA, 1996; WALDEMARIN et al. 1998), os produtores não foram agrupados por região e sim trabalhados em grupos representativos, ora como uma amostra única, ora divididos em dois grupos A e B, produtores atacados e produtores não atacados pelas lontras, respectivamente. O questionário enviado continha questões relativas as opiniões dos piscicultores para com a natureza silvestre, sobre os ataques realizados por lontras aos tanques de peixes e possíveis soluções para lidar com a predação (Apêndice A). Para interpretação da visão dos produtores da natureza silvestre, ocorrência dos ataques, freqüência destes (diários, semanais, mensais ou raros) e percepções dos danos causados pelas lontras, caracterizados no questionário como (pequenos, médios ou grandes), foram usadas porcentagens. Para a realização da comparação das impressões dos produtores de peixes relativas as lontras (gostar, indiferente e não gostar) e o fato de ter sido atacado ou não por elas, os produtores atacados (grupo A) foram sorteados aleatoriamente e distribuídos em cinco grupos, dois deles com 6 indivíduos e três com 7 indivíduos. Os produtores não atacados (grupo B) foram também aleatoriamente distribuídos em cinco grupos, quatro deles com três indivíduos e um grupo com quatro indivíduos. Tal divisão aleatória dos integrantes de cada grupo, em sub-grupos foi necessária para a criação de réplicas amostrais para posterior análise e comparação dos resultados entre os grupos. Utilizando-se para tal comparação o teste de Mann-Whitney. Para análise dos principais métodos de prevenção dos ataques, cinco medidas foram apresentadas aos piscicultores, sendo elas: o uso de métodos de prevenção dos ataques na propriedade, a restauração do habitat dos animais predadores, capturar e transportar os animais para outras áreas, ter os prejuízos compensados pelo Governo e por fim a morte do animal causador dos danos. E estas foram ordenadas pelos produtores de forma decrescente de importância (um a cinco) como possíveis medidas de resolução dos ataques, uma vez que os produtores não atacados também responderam ao questionamento. Esta ordenação serviu para a.

(27) 26. discussão das medidas consideradas mais ou menos eficientes pelos produtores para a resolução da predação. O grau de concordância entre os produtores do mesmo grupo entre as medidas adotadas para a resolução da predação e a correlação entre essas medidas sugeridas por ambos os grupos, foram avaliadas pelos testes de concordância de Kendall - W e correlação de Kendall - Z, respectivamente. O teste de correlação de Spearman foi utilizado para averiguar as possíveis correlações entre: o dano relatado pelos produtores e a impressão sobre o animal, a freqüência dos ataques e a impressão sobre o animal e a freqüência dos ataques e o dano relatado pelo produtor em sua propriedade. O programa estatístico utilizado na análise foi o BioEstat 4.0, a significância estatística foi estabelecida com α = 0,05.. 2.2. RESULTADOS. Do total de 114 contatos, apenas 30% (N=34) deles não foi acessado, pelos seguintes motivos: contatos desatualizados (N=20), a não localização do proprietário do estabelecimento para a explicação dos motivos da pesquisa e combinação do envio e retorno dos questionários (N=10) e também em alguns casos pela não interesse em participar da pesquisa (N=4). Por fim dos 80 produtores contatados, 50 retornaram o questionário conforme combinado, (Tabela 1). Obtivemos uma taxa de devolução dos questionários de 62,5%. Tabela 1. Números de contatos recebidos e número de questionários enviados e recebidos para os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.. Questionários. Contatos recebidos Estado. Enviados. Recebidos. Minas Gerais. 65. 50. 36. Rio de Janeiro. 15. 10. 7. São Paulo. 34. 20. 7. Total. 114. 80. 50. Fonte: Do autor.

(28) 27. As respostas dadas ao telefone pelos produtores concordaram com as apresentadas por eles no questionário. Todos os 50 pesquisados disseram sim ao postulado “Eu acho interessante ver ou saber que existem animais silvestres em minha propriedade”. E entre as opções relacionadas para justificar o interesse pela existência dos animais na propriedade, Apêndice A. Tivemos que a opção mais citada dentre as colocadas foi a de que se importam em preservar a natureza da propriedade com 90% das citações. Menos representativas com apenas 15% e 10%, foram às opções que traziam explicações ao postulado relacionadas ao fato de gostar de animais e ter respeito aos animais se mantidos em seu devido lugar. Considerar o contato com a natureza importante para o crescimento das crianças e jovens, não foi citado.. 2.2.1) A ocorrência dos ataques realizados por lontras aos tanques de piscicultura. Da amostragem total de 50 produtores, 43 deles (86%), disseram ser comum entre os produtores de peixes ouvir histórias de perdas nos tanques relacionadas a ataques realizados por lontras. Trinta e quatro produtores (68%) relataram já terem sido alvo dos ataques, grupo A. Outros 16 produtores (32%) disseram nunca ter passado por eventos de predação, grupo B (Gráfico 1).. Número de relatos. Ataques aos tanques 40 30 20 10 0 sim. não. Gráfico 1. Número de produtores que relataram ter sofrido perdas nos tanques de peixes, ocasionadas por ataques de lontras. Fonte: Do autor.

(29) 28. 2.2.2) Freqüência dos ataques.. Entre os produtores atacados, 85% deles (N=29), relataram a freqüência de ocorrência dos ataques em: diários em 34% (N=10), semanais em 21% (N=6), mensais em 14% (N=4) e raros. Número de relatos (%). em 31% (N=9). (Gráfico 2).. 40,00 35,00 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 Diários. Semanais. Mensais. Raros. Gráfico 2. Freqüência dos ataques realizados pelas lontras aos tanques de peixes, relatadas pelos produtores em (%). Fonte: Do autor. 2.2.3) Conflitos e percepção relacionados aos ataques.. A) A impressão sobre o animal e o fato de o produtor ter ou não sido atacado. Existe uma diferença significativa entre a impressão sobre o animal entre os dois grupos estudados com relação a gostar e não gostar das lontras. Os produtores não atacados possuem uma visão mais positiva do animal, dizem gostar das lontras em maior número que os produtores atacados, (U= 2,61, p=0,009). Fato oposto é demonstrado pelos produtores atacados que dizem não gostar do animal em maior número do que os produtores não atacados, (U=1,98, p=0,047).. B) A percepção dos danos causados pelos ataques. Dos trinta e quatro produtores atacados, metade deles N=17, disseram considerar as perdas grandes, outros 10 produtores (30%) da amostragem como médias e sete produtores (20%) disseram ser pequenos os prejuízos causados pelas lontras. (Gráfico 3). Segundo os proprietários as perdas chegam em média a aproximadamente 13 peixes por ataque, pesando em média 750.

(30) 29. gramas cada, atingindo um patamar de cerca de 9,750 gramas por ataque nos casos de predação mais intensa, (dados estes fornecidos pelas análises das carcaças deixadas na bordas dos tanques ou mesmo próximos aos tanques). Um produtor disse ter perdido cerca de 600 peixes no intervalo. Frequência de respostas (%). de um mês em sua propriedade devido à intensa predação por lontras ocorrente no local.. 60.00 50.00 40.00 30.00 20.00 10.00 0.00 Pequenas. Médias. Grandes. Intensidade das perdas. Gráfico 3. A percepção da intensidade das perdas causadas pelos ataques das lontras aos tanques de peixes. Fonte: Do autor. C) Correlação entre o dano relatado pelos produtores e a impressão para com as lontras Os resultados mostram correlação positiva entre os dano relatado e a impressão sobre o animal, (rs= 0,493, p=0,003). Quanto maior o dano relatado maior é o sentimento negativo para com as lontras.. D) Correlação entre a freqüência dos ataques e a impressão sobre o animal. Os resultados mostram correlação positiva entre as freqüências dos ataques e a impressão sobre os animais, (rs= 0,509, p=0,004). Quanto maior a freqüência dos ataques maior o sentimento negativo para com as lontras.. E) Correlação entre a freqüência dos ataques e a perda relatada pelos produtores. Os resultados mostram correlação positiva entre as freqüências dos ataques e os danos relatados, (rs= 0,494, p=0,003). Quanto maior a freqüência dos ataques maior os danos relatados..

(31) 30. 2.2.4) Sugestões para a resolução do problema.. Os produtores responderam a uma questão com possíveis soluções para a resolução do problema da predação. Ambos os grupos dos produtores atacados e não atacados foram pesquisados neste item. Trinta produtores responderam corretamente à questão, outros 20 ficaram de fora. Entre os produtores do grupo A, obteve-se uma forte concordância na ordenação das formas adotadas para a resolução da predação (W= 0,55, p<0,001). Entre os produtores do grupo B, houve também uma forte concordância para as possíveis melhores formas de se conter os ataques (W=0,53, p<0,001). Foi observada uma correlação entre os métodos de prevenção dos ataques citados pelos dois grupos estudados, (Z= 1,95, p=0,025). Ou seja, produtores atacados sugeriram medidas semelhantes aos produtores não atacados para solução do problema. Devido a esta correlação entre os produtores atacados e não atacados, com relação às possíveis medidas adotadas para resolução da predação, estes foram agrupados para análise desta questão. Na tabela 2, temos a classificação, por ordem de importância, das medidas sugeridas para a solução do conflito apresentada aos produtores.. Tabela 2. Ordem de importância (decrescente) dada pelos produtores para as medidas sugeridas para a resolução da predação nos tanques de peixes por lontras. N=30.. Rank de importância dado pelos produtores Medidas sugeridas. 1. 2. 3. 4. 5. Uso de métodos de prevenção aos ataques. 50%. 26,66%. 16,66%. 6,66%. 0. Restaurar o ambiente destes animais. 30%. 33,33%. 20%. 13,33%. 3,33%. Capturar e soltar os animais em outra área. 10%. 23,33%. 56,66%. 3,33%. 6,66%. 6,66%. 10%. 3,33%. 60%. 20%. 0. 6,66%. 3,33%. 20%. 70%. Ter os prejuízos compensados pelo governo Matar o animal. Fonte: Do autor.

(32) 31. As medidas citadas com o grau de importância 1 e 2 foram agrupadas e consideradas como mais aplicáveis, ou com o maior grau de concordância entre os produtores. As medidas com a maioria das citações posicionadas no índice de número três foram consideradas como intermediárias para a solução da predação, e por fim as medidas com o maior número de citações nos índices 4 e 5, foram julgadas como menos adotadas, ou mesmo consideradas menos aplicadas pelos produtores para a resolução da predação. Dentre as opções apresentadas para a solução do problema, a correspondente ao uso de métodos de prevenção na propriedade, foi a melhor posicionada nos dois grupos. O uso de métodos de prevenção na propriedade recebeu 23 indicações pelos produtores entre os índices 1 e 2. Sendo esta medida então a considerada mais eficaz por eles para a solução da predação. Para a opção restaurar o ambiente desses animais predadores, os proprietários a consideraram como uma das principais medidas de solução do problema, com 19 citações entre os índices 1 e 2. Já com relação à opção de capturar e soltar os animais causadores de danos em outra região, esta esteve com 17 citações (56,66%) no índice 3, embora considerada por alguns produtores como sendo apenas uma medida paliativa da predação, Quanto à opção de ter os prejuízos compensados pelos órgãos responsáveis, nenhum produtor assinalou-a como uma das opções principais para resolução da predação em nenhum dos dois grupos. Esta ficou com a maioria do número de citações N= 24, entre os índices 4 e 5. Em comentários sobre esta medida, alguns produtores colocaram que as perdas são problemas seus e que eles mesmos deveriam tratá-los. Como opção colocada em último lugar no grau de importância, tivemos a morte do animal invasor, que em apenas dois representantes do grupo A e nenhum do grupo B, esteve marcada como umas das principais medidas para resolução do predação, figurando com 90% das citações entre os índices 4 e 5. E por fim, 21 dos 34 produtores que sofrem ataques das lontras, comentaram sobre os métodos de prevenção adotados em suas propriedades para lidar com os ataques (Tabela 3)..

(33) 32. Tabela 3. Métodos sugeridos para a resolução da predação por lontras aos tanques de peixes, segundo os piscicultores.. Métodos Sugeridos. Número de vezes citados. A presença de cães na propriedade Uso de cercas tradicionais Uso de cercas elétricas Implementação de tanques-redes Baixa densidade populacional nos tanques tanques maiores Telar os tanques de alvenaria Cercar os tanques com cabelo humano. 7 5 3 2 1 1 1 1. Total. 21. Fonte: Do autor. 2.3 DISCUSSÃO. A taxa de devolução dos questionários obtida no trabalho pode ser considerada alta quando comparada com outros estudos que também utilizam o envio e retorno de questionários para estudos relativos a conservação da natureza, que segundo CONNELLY et al. (2003), não ultrapassam em média 30% da remessa inicial. Provavelmente este alto índice de retorno obtido no trabalho, deveu-se ao contato prévio realizado por telefone junto aos proprietários, para esclarecimento da pesquisa e confirmação do compromisso em se retornar os questionários. A concordância entre as informações obtidas ao telefone com as oriundas do questionário, nas questões onde tal procedimento foi possível de se realizar, representou uma maneira de se validar e qualificar as informações obtidas pelo método de investigação adotado no estudo, e segundo Dilman (apud JONKER et al. 2006), tal cruzamento de informações é indicado em estudos nos quais questionários são submetidos a algum grupo de pesquisados, pois através da concordância ou não dos fatos verificados no momento do contato por telefone e suas posteriores versões apresentadas nos questionários, é possível se trabalhar baseado nas respostas dadas com maior ou menor segurança a respeito das colocações presentes nos questionários respondidos. O método aqui adotado mostrou-se eficiente e nos proporcionou a exploração das respostas aos.

(34) 33. questionamentos apresentados aos produtores de maneira segura e confiável, a aplicação de questionários enviados pelos Correios, também nos possibilitou o alcance de um número grande de áreas ampliando a abrangência do estudo, com isto diversas propriedades em diversas localidades foram investigadas. Abrangência amostral esta importante em se tratando das lontras serem animais pouco estudados, com déficit de informações ecológicas, comportamentais e também de distribuição geográfica (CHEHÉBAR, 1990; IBAMA, 2001). O fato de os produtores concordarem com a presença de animais silvestres em suas propriedades é consistente com a tônica atual, nas pesquisas sobre as relações homem-natureza selvagem (CONFORTI & AZEVEDO, 2003; JONKER et al. 2006; MARKER et al. 2003; NAKANO-OLIVEIRA, 2006). Em geral esta literatura sugere que em especial na ausência de conflitos ou problemas consideráveis os proprietários rurais são a favor da preservação e continuidade da vida selvagem em suas propriedades. Embora alguns estudos tenham sido realizados no Brasil em relação aos ataques de criações domésticas, como bovinos e ovinos por Panthera onca e Puma concolor (CONFORTI & AZEVEDO, 2003; MAZZOLI et al. 2002; PALMEIRA & BARRELLA, 2007), informações sobre a freqüência dos ataques e prejuízos causados pelos demais carnívoros são pouco reportados (MENDES et al. 2005; NAKANO-OLIVEIRA, 2006). Os ataques aos tanques de peixes ocorrem sim nas áreas estudadas, com uma taxa total de trinta e quatro produtores (68%) do total relatando terem sofrido perdas por causa das lontras. Os dados mostram valores semelhantes aos encontrados pelos pesquisadores, principalmente europeus com relação aos ataques realizados por lontras européias, 69% (N=241), 40% e 62% (N=71), encontrados por SKÁREN (1998), SANTOS-REIS et al. (2004) e KLOSKOWSKI, (2005), respectivamente aos piscicultores na Finlândia, Portugal e Polônia. Com relação à freqüência dos ataques aos tanques de piscicultura os resultados variam em porcentagens semelhantes. As lontras fazem uso dos tanques de acordo com a oportunidade de acesso aos peixes, características dos tanques e características do seu próprio habitat (KRANZ et al. 1998; LANSZKI et al. 2001. Então provavelmente a freqüência dos ataques percebidos tenha haver com as condições ambientais das propriedades, tanto relacionadas aos tanques que em alguns casos assemelha-se a lagos naturais, quanto a características da propriedade como, por exemplo, distância dos centros urbanos, natureza circundante e por último, mas não menos importante a presença de uma população residente de lontras no local. Outro fator importante que.

(35) 34. também pode ter gerado esta não distinção entre as freqüências de ataques percebidas, pode ser o fato de os animais agirem principalmente a noite, dificultando a visualização da predação e até mesmo das carcaças que segundo alguns produtores não são deixadas no local de abate (LEBLANC 2003). Nós hipotetizamos que devido aos relatos de predação por lontras aos tanques de piscicultura, os produtores atacados apresentariam uma percepção menos favorável às lontras. Fato demonstrado no estudo, onde os produtores atacados disseram não gostar das lontras em maior número do que os produtores não atacados, e que também dentro do grupo dos produtores atacados, os que mencionam as perdas como grandes, apresentam uma impressão mais negativa do animal quando comparado aos produtores que consideram as perdas como medianas ou mesmo pequenas fato também demonstrado no estudo. Além dos motivos citados acima, a freqüência de ocorrência dos ataques também demonstrou ser um indicativo de conflito entre os produtores e as lontras, pois quanto maior as taxas de visitas nas propriedades, maiores os sentimentos de negação para com o animal e maiores os danos relatados pelos produtores. Todos estes motivos são importantes fontes de conflitos entre produtores rurais e animais silvestres, como por exemplo: onças, chetas, cães selvagens, castores e lobos, respectivamente (CONFORTI & AZEVEDO, 2003; JONKER et al. 2006; LINDSEY et al. 2005; MARKER et al. 2003; STRONEM et al. 2007), e mesmo com relação às lontras (MYSIAK et al. 2004; NAKANOOLIVEIRA, 2006; SANTOS-REIS et al. 2004; SCHWERDTNER & GRUBER, 2007). A respeito dos danos causados pelas lontras estes foram considerados grandes pela metade dos pesquisados. A degradação dos habitas como a poluição dos rios e diminuição da oferta de peixes no ambiente natural, assim como o comportamento oportunístico relatado para as lontras, podem estar envolvidos no acesso desses animais aos tanques e posterior percepção de perda obtida pelos proprietários. KLOSKOWSKY (2005) apresentou uma taxa de 57% dos piscicultores investigados relatando os danos como grandes. SANTOS-REIS et al. (2004) também relatou perdas médias de até 10 kg por dia de predação nos tanque portugueses. Este número de peixes perdidos e peso médio também são semelhantes aos dados apresentados por LANSZKI et al. (1998) e LEBLANC (2003). Alguns produtores caracterizaram as perdas em torno de 20 a 30% da produção nos períodos mais críticos, porcentagens também apresentadas por KLOSKOWSKY (2005). Entretanto tal cálculo de perda fica comprometido tanto por motivos de dificuldades na localização e estimativa do peso das carcaças deixadas pela lontra,.

(36) 35. como também ao fato da necessidade de uma maior precisão e confirmação dos dados de freqüência de ataques realizados na propriedade, lembrando que as proporções dadas às freqüências de ocorrência dos ataques serem diários ou mesmo raros, ficaram muito próximas. Um outro aspecto que chama a atenção para a necessidade de uma verificação mais detalhada tanto da freqüência dos ataques quanto da perda mencionada, foi explicitado por KLOSKOWSKI (2005), onde este investigando através da análise das fezes deixadas pelas lontras em duas propriedades com tanques de piscicultura de criação de carpas (Cyprinus carpio), onde em uma delas os danos eram relatados como extensos e na outra como pouco expressivos ou inexistentes, as porcentagens de carpas presentes na análise das fezes das lontras locais apresentavam proporções similares (44% e 41%) respectivamente. Mas tal semelhança na análise, ou mesmo contestação da veracidade das opiniões, não muda em nada a percepção de perda dos proprietários afetados por eventos de predação. Estes continuaram a pensar e a tomar medidas de acordo com os fatos que são percebidos e interpretados na sua vivência. Sendo então esta percepção de dano mais um fator contribuinte para a caracterização do conflito entre os produtores e as lontras. Ainda dentro das hipóteses originalmente formuladas, tais relações aparentemente não amistosas entre produtores atacados e lontras, originariam medidas e métodos igualmente desfavoráveis aos animais. Caracterizando-se com isto o conflito propriamente dito entre homem e natureza selvagem. Mas é justamente neste ponto é que nossas análises tomaram rumos distintos do pensamento original e se mostraram de certa forma intrigantes e estimulantes para a implementação de propostas conservacionistas. Como aspecto final e fundamental para a análise da existência ou não de um conflito, entre os piscicultores e as lontras, ficou o tópico relacionado às possíveis medidas adotadas para a resolução dos ataques. A correspondência apresentada entre as atitudes ou métodos sugeridos pelos produtores para a resolução da predação dentro de cada grupo estudado, e a correlação significativa entre as medidas adotadas considerando-se os dois grupos de forma conjunta sinalizam que embora sob pressões diferentes, os produtores abordados de ambos os grupos, concordam entre si com relação às medidas adotadas ou hipoteticamente adotadas para a prevenção dos possíveis ataques, sendo estas do grupo das medidas menos drásticas..

(37) 36. O conflito estaria demonstrado ou mesmo instaurado se a medida hipotética matar o animal causador de dano, medida mais drástica, estivesse entre as mais adotadas, especialmente entre os produtores do grupo A. Fato não ocorrido, esta foi sugerida como medida mais eficiente ou adotada em apenas 6,66% das ordenações. Ficando como menos adotadas por ambos os grupos em 90% das ordenações. Resultados concordantes com alguns trabalhos de percepção dos danos causados por lontras aos tanques de peixe, onde apesar de a predação ser uma realidade, os proprietários não encaram a morte do animal como medida primordial para a solução dos problemas (LEBLANC, 2003; SKÁREN, 1998; TRINDADE, 1991). Mas diferentes de outros como MYSIAK et al. (2004); SANTOS-REIS et al. (2004); SCHWERDTNER & GRUBER (2007), onde a morte das lontras já passa a ser considerada. Esta divisão entre causar danos à vida da lontra ou não, parece ser um aspecto particular deste animal, seja por ser um carnívoro de médio porte, seja talvez pelo fato de a predação não ser tão significante ou até mesmo pela imagem da lontra e seu aspecto carismático, considerada um animal dócil e até mesmo engraçado, graças a sua locomoção desengonçada quando fora da água (STEVENS & SERFASS, 2005). Pois no caso de outros carnívoros, principalmente de grande porte, tais como, onças, leopardos, chetas, cães selvagens e lobos uma grande parte dos trabalhos que tratam da predação realizada por eles, a morte do animal possui um peso considerável dentre as principais medidas adotadas para solução da predação (CONFORTI & AZEVEDO, 2003; PALMEIRA & BARRELLA, 2007; WOODROFFE et al. 2005). As medidas mais adotadas para a solução da predação foram à implementação de métodos de prevenção na propriedade, consideradas no trabalho como menos drásticas ou danosas, com 76,6% das ordenações nos índices 1 e 2. Resultados estes compartilhados com os relatos de LACOMBA et al. (2001); LEBLANC (2003) e SKÁREN (1998), nos quais a prevenção dos ataques foi sugerida como uma possível solução dos conflitos. E apesar da existência de danos, as soluções e percepções obtidas não enredavam um possível conflito. Ainda dentro dos métodos possivelmente mais adotados para a solução da predação nos tanques a restauração do habitat das lontras ficou com 63,3% das citações no rank de maior importância, índices 1 e 2. Medidas estas interessantes de serem lembradas pelos investigados que concordando com o postulado antes citado por eles, onde estes exibiram uma forte ligação com a preservação da natureza (90%), mostra que existe por parte destes uma visão além da simples relação entre perdas materiais e animais danosos, mas também uma visão geral e.

Referências

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