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OS REVOLUCIONÁRIOS QUANDO NÃO FAZIAM A REVOLUÇÃO. A Revolução Francesa. Istoé-Senhor.

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DIA-A-DIA

TÉXTO'01

REVOLUCIONÁRIOS,

QUANDO NÃO

FAZIAM

A REVOLUÇÃO

Hábitos e costumes- dos

citoyens

na última

década do sécido XVIII

SASS-CLLOTTES

REFLEXÕES

DE MONSIEUR

MENETRA

D A N IEL RO C H E

Os parisienses (600 rmi em 1789) vi­ veram a Revolução mais como atores que como espectadores. Eles uveram de aceitar ou recusar as mudanças mais profundas no social, e na intimidade mesma das psicolo­ gias. A sua vida se organizou nos parâme­ tros 'de uma forte tensão entre o compro­ misso politico ; a continuidade da vida coti­ diana. Nisto os jovens foram mais hábeis que os velhos, os homens mais prontos que as mulheres, mas estas nunca permanece­ ram indiferentes.

Jacques-Louis Mer.etra, 50 anos, mestre artesão considerado ate rico, homem livre

nos costumes e no espirito, colocará por es­ crito a complexidade da vida durante â Re­ volução (cf. Journal de ma Vie. par Jacques-Louis Menetra. compagnon •Atrier au XVI I I siècle). Possivelmente e o único sàns-cvJotte a ter falado e refletido numa forma totai e livre, excluindo-se as confis­ sões coagidas em sede judiciária, ou me mórias sucessivamente reescritas. Que diz Menetra? Primeiramente, fala da importân­ cia da Liberdade. Para ele e para tantos ou­ tros, o que interessa è a esperançae a ale­ gria na véspera de uma mudança que. ini- cialmente, se espera benevolente e sem vio­ lência. Este sentimento de exaltação mobi­ liza homens e mulheres nos dias revolucio­ nários. Com o passar do tempo e a aceiera- ção do processo revolucionário, as novas formas de vida política tornam-se cada vez mais marcantes. A Revolução se desen­ volve nas assembléias de distrito ou de se­ ção, e confere novas responsabilidades aos cidadãos, sejam eles juizes de paz, assesso­ res, presidentes ou guardas nacionais. £ uma vida que desgasta, porque exige muito de cada um, impõe a vigilância política,

ifi-Revolução Francesa, 1789-1989. São Paulo: Istoé-

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A Bastilha continuou sendo o cárcere mais famoso, mas havia mais uns 50. um diferente cio outro, e o tratamento mudava conforme as pnvses do-- prisioneiro. Charlnne Cordav oh te ve até permissão para chamar um pintor que lhe fizesse o retrato

duz a realizar atos que nem sempre se apro­ vam totalmente.

O aprendizado da democracia, que se desejava a mais direta possível, assim como a imaginara Rousseau, exigia um compro­ misso permanente: poucos conseguiram mantê-lo com constância e lucidez. Muitos pagaram por isso com a vida, ou com um exilio cruel. A gestão do tempo era para to­ dos problemática, na busca de conciliação entre o trabalho necessário s sobrevivência material e a participação militante. Para os parisienses, e ainda mais para as parisienses que sustentavam família, o pão de cada dia representava uma gravíssima preocupação. Era necessário encontrar e conservar um trabalho cansativo que nos períodos de crise poderia até faltar. Era necessário com­ prar pão e alimentos, cujos preços conti­ nuavam aumentando. Compreende-se en­ tão a problemática da lista oficial dos pre­ ços, e o tempo perdido numa fila em fren­ te às padarias para obter a ração: 750 g por pessoa/dia em 1793; 250 g em 1.794

A guerra fica mais compreensível ao se considerar que ela mobiliza os jovens desor­ ganizando a economia familiar. A confusão alcança a sensibilidade quando mudam os valores fundamentais. O silêncio dos sinos, a ascensão do anticlericalismo, as grandes manifestações anti-religiosas em que os pa­ dres se casam e Cristo é substituído nas Igrejas pela Deusa Razão, levantam ten­ sões e preocupações. Os movimentos de­ sencadeados pela transferencia do sacro, como o culto de Marat, chocam a tolerân­

cia de uns, confundem a fé de outros, enco­ rajam os adversários. A vida cotidiana an­ terior, fundamentada no sacro, não podia mais ressurgir: o estatuto da religião muda, de faio cultural torna-se f2to de opinião. O anúderical Menetra se tornará "teofiian- tropo”.

(Daniel Roche.leçiona no Instituto Univer­ sitário Europeu de Florença)

AS PRISÕES_______

BASTILHA,

HOTEL PARA

OS RICOS

ANGELA GROPPI

O marquês de Sade deixa a Bastilha a 4 de julho de 1789, dez dias antes do famoso assalto popular. Conduzido para Charen- ton, “ nu como um verme” , é obrigado a abandonar na sua cela, saqueada e des­ truída dez dias depois, uma biblioteca de mais de 600 volumes, trajes, roupas de cama, móveis, quadros, bem como numero­ sos manuscritos prontos para serem im­ pressos, entre eles Os 120 Dias de Sodoma. A detenção nas prisões da Revolução ofere­ cia possibilidades de uma existência farta­ mente diferenciada, dependendo do lugar, da acusação e da classe social. Cada prisão

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r-tirJia suas particularidades, sua reputação e seu grau de vivenda. No período crucial do , Terror, os cárceres eram aproximadamente 50. Entre os mais terríveis, Bicêtre e Force.

1 O primeiro, analogamente ã Salpétrière, famosa em seguida pel as-experiências de . Chárcot, è um misto dc hospúate de prisão. Nele são presos, segundo-uma antiga confu- jsão, libertinos,' embrulbões, ladrões, pede­ rastas, epiléticos, loucos, velhos inválidos, .pobres, sifdúicos, assassinos e vagabnndos ' (aproximadamente 4.500 na véspera da Re­

volução). Entre os menos duros, Port-Libre (ex-Port-Royal) e a Maison des Ciseux. Neste, os prisioneiros gozam de uma certa liberdade. Reúnem-se, cantam, jogam, po­

dem ler, comentam as notidas dos jornais e fazem juntos as refeições. As mulheres

trocam de roupa conforme as horas, reser­ vando o traje mais elegante para o dia da

execução. Na Force, pagando uma espécie de pensão, podia-se manter junto de si fi­ lhos e servos, e receber comida de fora.

A comida tem um papel central na vida dos prisioneiros. As refeições mais fanas eram destinadas ás ocasiões "excepcio­ nais”. Ostras e vinho branco, foi o que con­ sumiu, na véspera da execução, o duque de Orleans. Mas normal mente procurava-se satisfazer gostos mais sóbrios. 0 cidadão Doilleau escreve para a mulher da prisão de Saint-Lazare e pede uma salada, recomen­ dando que seja bem fresca, e de não esque­ cer azeite, vinagre e pimenta. Mme. Roland d’Abbaye, para adaptar-se à dureza dos tempos, simplifica.o-pròprio regime alimen­ tar substituindo o chocolate e o café por pão e água. comendo carne e legumes sem o dessert, e substituindo o vinho pela cer veja.

Com dinheiro compra-se tudo: até os serviços de relojoeiros, alfaiates, sapateiros, cabeleireiros e barbeiros, que eram também prisioneiros, como também de miniaturis- tas, m uito solicitados. M ane-Anne- Charlotte Corday, assassina de Marat,'uma vez chegada a prisão de A bbaye,.escreve ao Serviço de Segurança Geral pedindo per missão para dormir sozinha e mandar fazer seu retrato.

Mais duros eram os primeiros dias de prisão. Jogados em solitárias sujas e escu­ ras, na espera que vagasse um leito, os cati vos viviam amontoados sobre colchões pú­ tridos. Alguns ai permaneciam para sem pre. São os prisioneiros à la paille, sobre a palha, os pailleux. Mais afortunados, os prisioneiros à la pistole (do nome da moeda) conseguiam obter uma cela a paga­ mento, que podia ser de solteiro ou de casal. (Angela Groppi. jornalista e escritora, é pesquisadora da Fundação Lelio Basso)

PROSTlTUI^a

TÖLERÄNdA,

TERAS A

TUA CASA

ARLETTE FRAGE

Em Paria, no século XVIII, as prostitu­

tas chegam a 25 nriL Representam 13 por cento das parisienses em “idade amorosa” . Numerosas e também muito visíveis: em Paris, naquela época, vive-se normalmen­ te na rua,e as moradias superlotadas, sem serviços, nio permitem qualquer intimidade. Tudo acontece à luz do sol: as festas, os castigos, os desfiles reais, o trabalho e tam ­ bém a violência. A prostituição faz parte da paisagem. Naturalmente, as mulheres que a praticam são muito diferentes uma das ou­ tras. A “ moça para soldados”, dos bairros populares, nada tem a ver com as grandes cortesãs proprietárias de mansões e carrua­ gens douradas e tampouco com as pensio­ nistas de pequenas casas, dominadas pela áspera autoridade das proprietárias, que pa­ gam pela proteção da policia.

A repressão existe, sobretudo, como forma de controle dos hábitos citadinos - como serviço de informação, digamos as­ sim. Os inspetores de policia são encarrega­ dos de infiltrar-se nos ambientes do vicio para conhecer melhor aqueles que por aí circulam, mesmo que se trate de grandes prín­ cipes ou bispos ou magistrados. A opinião pública comove-se com essa excessiva se­ veridade: os parisienses sentem ternura e piedade para com suas jWes de joie. aquelas da miséna e da calçada e sentem também muita aversão por estes homens da policia muitas vezes corruptos e injustos. E eis 1789. Cómo muitas outras questões, a

Vinte e cinco mil prostitutas representavam 13% da população feminina de Paris no fim de 1700. .-( prostituição foi assunto de muitos debates, alimentados pela utopia de "muitas iihas de amor e de iguaidede 57

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prostituição ficá naÍDWcm-<lo-dja. Na con ■ fusão dos projetos que vão e vêm, .nascem sobre esse tema inúmeras utopias. Cogita- se de casas de prazer, onde cada um goza­ ria segundo as suas possibilidades financei­ ras. A igualdade valería apenas para o quanto se relaciona com higiene c a preven­ ção das doenças venéreas. Sobre o assunto, o escritor Restrif de la Bretonne forja incrí­ veis teorias, enquanto o grande arquiteto Claude - Nicolas Ledoux esboça projetos fantásticos dessas doces moradias.

A prostituição é liberada: recusa-se qual­ quer idéia de fechamento ou de seqüestro - Nesta atmosfera de pseudolibertação desenvolve-se um tipo singular de publici­ dade da prostituição. Publicam-se longas listas de jovens com endereços e tarifas. As­ sim deveriam ser garantidas a liberdade e igualdade. Trata-se de uma verdadeira re­ volução? O século XIX continuará a ver a sociedade burguesa girar em vuita das cor­ tesãs, das casas fechadas, dos grisettes, en quant»' a “jo vem da calçada’” com os olhos arregalados pela fome, esperará o cliente nas proximidades das fábricas.

(Ariette frege, do Centre National de La Recherche Scientifique de Paris, escreveu com o filósofo Michel Foucault o livro La

Désordre de la Famille, em 1982)

de ítodo tipo, fruto das dizimas. Agora re­ cebe seu salário do Estado, que nacionaliza us bens da Igreja: 150 hectares de terra per­ tencente ao cura, à fábrica e ás confratemi- dades da paróquia, ao Hotel Dieu.aoCapi­ tulo e ao Grande Seminário de ChartrejL No dia 14 de julho de 1790, primeiro-ani­ versário da Tomada da Bastilha, a Festa da Federação é celebrada em Gallardon com uma missa solene: o novo prefeito deito (um tabelião) abençoa “a invisível mão que opera com tanta harmonia e tranqüilidade todas as mudanças que impressionam a nossa imaginação e nossos olhos”.

Mas “a invisível mão” não garante por muito tempo a união entre a Igreja e a Re­ volução. Na região de Paris quase não se encontra clero fiel a Roma: no dia 18 de ja ­ neiro de 1791, o cura Cassegrain e seus dois vigários, “depois de um discurso pa­ triótico e pastoral”, prestam juramento “ à Nação, à Lei e ao Rei”. Eles juram nova­ mente em 30 de novembro de 1792, na Pro­ clamação da República, “ser fiéis à Nação e sustentar a Liberdade e a Igualdade ou morrer”.

Mas a República tem ainda necessidade de Deus? Em setembro de 1793, a bandeira tricolor é desfraldada no campanario. Em outubro, sinos, cibórios, vasos sacros

par-A IGREJpar-A

DECLINA

O PRESTÍGIO

DO CURA

PHILIPPE BOUTRY A q u i te coma o h istó ria de um a paroquia a 70 quilôm etros de P a ris , submetida a ordens e cnnfra-nrdens vindas do O G da Revolução

Em Gallardon (1-.20O habitantes, a 18 quilômetros de Chartres e 70 quilômetros de Paris), a Revolução se anur.cia, em 13 de julho de 1789, com uma chuva de pedra: “Em três minutos, perdeu-se tudo, trigo, vi­ nhedos, frutos.” Em outros tempos, nessa terrível tempestade poderia enxergar-se uma manifestação da cólera divina. Naque­ les anus, a miséria muda de significado: as pessoas indignam-se pelo peso dos impos­ tos e denunciam os privilégios fiscais dt> se­ nhor, o duque de Montmurcncy Lavai, e dos eclesiásticos. O conjunto da população (pequenos proprietários, viticultores, arte­ sãos, comerciantes, homens de lei) recebe a Revolução parisiense como a revanche da Justiça e do Direito.

No outono de 1789, o cura-prior Casse­

grain deve renunciar às mil libras de grãos Cuidado com o Terceiro Estado!

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tem para serem fundidos em Chames, a municipalidade sans-culoties denuncia "al­ guns ministros que sempre amarraram a corrente da escravidão dos povos ao trono e à tiara". A 10 de dezembro o povo é con­ vidado a reunir-se em frente da igreja para queimar os títulos feudais. Depois, no inte­ rior da igreja, constitui-se em sociedade po pular, mas a maioria da assembléia, princi- palmenie as mulheres, protesta querendo pelo menos "conservar a missa” e os Jaco binos do burgo sâo vaiados e ameaçados. No dia 5 de janeiro de i794, o abade Cas­ segrain reza uma última missa em ação de g raças pelas vitórias da N ação: a Marselhesa ecoa sob os arcos da igreja gó­ tica. Dois dias mais tarde, por ordem da administração de Chartres, o cura é aprisio­ nado como ‘'suspeito’', a igreja transfor­ mada em Templo da Razão, posteriormente do Ser Supremo.

As festas cívicas substituem o sacrifício da Eucaristia. A igreja de Gallardon per­ manecerá fechada por 18 meses. Será de­ volvida ao culto católico em junho de 1795. graças a pressões populares: o abade Cas­ segrain, libertado, jura novamente “submis- são e obediência as leis da República” para poder celebrar missa. A Concordata de 180,1 restabelecerá, aqui como em toda a França, a autoridade do cura. Uma ruptura relevante, todavia, aconteceu: no século XIX. em Gallardon, a grande maioria dos homens já não cumunga.

(Philippe Boutry. historiador, leciona na Ecole Française de Roma)

A IMPRENSA

A LIBERDADE

JÁ ERA

UM SONHO

ROGER CHARTIER

A Declaração dos Direitos do -Homem e do Cidadão, decretada pela Assembléia N a­ cional em agosto de 1789, reza no artigo XI: 'A livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos direitos mais pre­ ciosos do homem; cada cidadão pode por isso falar, escrever, imprimir livremente, salvo para responder pelos abusos dessa li­ berdade nos casos determinados pela lei.” Ao afirmar como direito natural, sagrado e inalienável, a liberdade de imprensa, a de- ciaração sanciona de fato uma liberdade já conquistada. Já a partir de maio de 1789. os novos jornais tinham-se multiplicado, ignorando as regras da censura real. No de­ correr de 1789, nascem assim mais de 130 periódicos e atè setembro de 1791 essa ten­ dência não apresenta sinais de arrefeci­ mento. Pelo contrário, em menos de dois anos surgem aproximadamente 600 títulos.

Essa explosão acompanha a situação polí­ tica. Em 1791, os jornais mais lidos tinham assumido uma posição bem definida. À es­ querda encontramos L'Am i du Peuple, de Marat; Les Révolutions de France et de

En: I surgiram niait de 13 S o espaça de dois cinns. viraram 600 imprensa é a vo: da rebelião Mas será tamhéni a prasa do fragilidade da ideia da liberdade 59

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Más conversas dos jardins, teatros e cafés, forma-se

n consciência

revolucionária. Ma gravura, o Café dos Patriotas. A

terceira personagem a partir da

esquerda: de preto, é o abade Sieyès

Brabant, :de 'Camille DesmçAihiwï . Pere' : ".ê Duché ne, de Hébert; Circlg ÍSocial, mais

tarde, Bouche de Fer, de Nibqias Bonneville. Patriotas, mas moderados, 'são Patriote

Française, de Brissot, e os jomais publica­

dos ççlp CJube dqs J a ç o b if^ :j(P Actes des Àpôtfès, de Mààèt"du P a îv '^ a < ^ e K é cfe

Paris, de Du Rozoi, são francamente realis­

tas-A imprensa revolucionária enfrenta sua primeira contradição: deve assumir uma função política inédita, enquanto as condi­ ções de produção e de venda são aqudas que já existiam antes da nova situação. Ne­ nhuma inovação tecnológica corresponde de fato ao extraordinário florescer de tantos jornais, impressos com prensas que não po­ dem tirar mais de 300 cópias por hora e em pequenas tipografias. De outro lado, a di­ vulgação e a venda são ainda aqudas do Ancien Régime, baseadas no envio de pros- . pectos, na apresentação de cartazes que di­ fundem as novas publicações, na venda pe­ las ruas da cidade e, acima de tudo, nas as­ sinaturas. Os assinantes recebem o jornal pelo correio ou por empresas de entrega subordinadas ao próprio jornal. Desse mudo. os Actes des Apôtres conta, em 1790. cum 4.500 assinantes e L'Ami du Peuple, com quatro mil em janeiro de 1791. Pode-se chegar mais longe o Feuille Villageoise, destinado ao mundo rural, em 1790 possui 15 mil assinantes. Les Annales Patriotiques, um periódico girondino, tem 12 mil na primavera de . 1793 e L ’Orateur du Peuple, antijacobino. jeanti te rro ris t a, na primavera de 1795 temr jS ’ mü.

O sucesso dps periódíçói revolucionário s

c&ã ■ ■

éV uma grande procura de leitura quéysjé esconde atrás de uma sede de infor- maçoés,e do interesse peta coisa pública. Na' grande cidade, a leitura do jornal não è apenas um gesto isolado e solitário; nela se < juntam as multidões das praças-e das pòn- _ tes, dos jardins e das ruas: A imprensa de­ sempenha um papel central na constituição de uma nova cultura política, polêmica e criativa, que vê o conflito de opiniões con­ trastantes. Não causa surpresa o fato dç que a carreira jornalística parecesse desejá­ vel e necessária. Aos jornalistas que escre­ viam antes de 1789 (Mallet du Pan, Suard, Rivarole Du Rozoi), junta-se uma multidão de recém-chegados: deputados como Mira- beau, padres constitucionais como Fau- chet, advogados corno Desmoulins eescrito­ res como Louis-Sebastien Mercier encon­ tram na imprensa uma tribuna - sem con­ tar cs escritorzinhos frustrados, que encon­ tram a desforra.

Sem’recorrer jamais à censura prévia, os poderes revolucionários recorrerão varia­ das vezes a inspeções, proibições, detenções, para amordaçar os jornais rebeldes. Jornais e jornalistas realistas, e pusteriormente Gi- rundinos, serão vitimas do Terror. Em se­ guida, em 1797, o Diretório estabelece uma série de medidas restritivas que submetem a imprensa política a um controle rigoroso por parte dos órgãos estatais. O que indica o quanto era frágil a liberdade proclamada tão solenemente em 1789.

(Roger Cha.-tier, historiador, éprofessor da École de Mau tes Eludes en Sciences Socia- les de Paris)

BARES E CAFÉS

O PAPO

NÃO FOI

INÚTIL

MASSIMO TERNI

Nos últimos anos du Anc.cn Regime. Pa­ ris já era a grande metrópole européia. Nos jardins, nos cafés, nos teatros e nos salões trocavam-se opiniões e as ideias tomavam forma. Desta intensa, ruidosa e muitas ve­ zes desordenada sociabilidade, que rompia as usuais barreiras de casta, o centro focal e a realidade mais importante eram constituí­ dos pelo Palais Royal e pelos seus cafés.

Com toda certeza o duque de Orleans, não cogitava de dar uma contribuição tão direta para a Revolução, quando, aproxi­ madamente seis anos antes, tinha mandado

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4 çònstniír as marquises* q

dim do Palais Royal, alugando óV «paços disponíveis. No entanto, uma Donspetàvel operação comercial, (mandada1 por um jiríncipe, tinha transformado o Palais Royal ■ num,fervilhante parque de diversões, cheio ,.

de õáfes « lojas. Ura lugar apinhado de pari­ sienses t forasteiros-hospedados nas ime­ diações, que cruzavam seus passos e olha­ res com um autêntico harém de prostitutas, de todos os preços e qualidade,estacionarias nas célebres Galeries do Bois, pitoresca- mente descritas por Balzac em Ilusões

Perdidas.

Quando, depois,na primavera t no verão de 1789, os Estados Gerais sio convoca­ dos em Versalhes, e na capital a tempera­ tura política sobe rapidamente, o Palais Royal acusa essa mudança, mesmo man­ tendo as suas características estruturais, de grande oásis de transgressão e de prazer, território livre no qual a policia não tem acesso e a cultura e a bisbilhotice mundana convivem misturando-se com compra e venda das feiras e o ostensivo trottoir dás meretrizes. Tudo acontece numa atmos­ fera alegre e ambígua ao mesmo tempo, e o Palais toma-se, quase naturalmente, o principal forojia Revolução, a agora da so­ berania popular. E aqui que a 13 de julho de 1789, dia anterior à Tomada da Bastilha, Camille Desmoulins, saitando sobre a mesa de um café, pistolas nas mãos, exclama: "Basta com as deliberações, somos nós os mais numerosos. Seremos também os mais fones.”

Foi assim que cada café, no Palais Royal e em toda a cidade, se transformou numa espécie de clube revolucionário. Do Palais Royal temos que lembrar o café de Foy, que como escrevem os Goncourt na sua Histoire de la Société Française Pendam la Révolution é :<ém relação ao Palais Royal, aquilo que o Palais Royal ê em relação a Pans: uma pequena capital de agitação” . Mas vale também u movimento do Caveau, do café Zoppi, do café Godet, do café des Arts, do café Marchand, e tantos outros deslocados na cidade. São centros de dis­ cussão e de choques, onde convergem as noticias do dia e os relatórios dos debates na Assembleia Nacional. Mais cedo ou mais tarde, as propostas se transformam em iniciativas concretas, que sempre alcan­ çam a Constituinte.

De todo modo, o fenômeno político dos cafés não teria sido tão explosivo sem a in­ tensa e violenta atividade jornalística que a Revolução propicia. Ela elege o seu centro nos cafés de Paris, nestes locais de difusão e de leitura pública e coletiva. Os numerosos jornais, entre os quais Les Révolutions de Paris de Loustalot, o Courier de Versailles

de Gorsas, o Patriote Français de Brissot e o Publiciste Parisien de Marat (que se tor­ nará posteriormente L'Ami du Peuple), eram difundidos por uma turma barulhenta de jornaleiros. Para vender, eles acentuam as cores dos titulos sensacionalistas. É uma verdadeira, a própria, democracia direta de praça que se configura através da vida dos cafés. Uma democracia viva e muitas vezes levada a uma tensão paroxistica pelos artigos incendiários doí jornalistas. (Massimo Temi, historiador, leciona na Fackldáde de.Ciênciàs Políticas da Univer­ sidade de Milão) Luís XV!. o rei que prezava comida'farta e vinho forte, caricaturado como revolucionário frequentador de um café

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Pão e vinho, eram esres os alimentos mais populares

nos anos da Revolução. Mas também na alimentação

vigoravam rigorosas escolhas ",de classe".

Vejamos o que comeu Robespierre quando fo i convidado por M adame Julien

AS-REFE

A MQDA

GUILLOTIN

VERONIQUE NAHOUM-GRAPPE

Em Paris, durante a. época revolucio­ nária, o consumo médio por dia de pão è de 460 gramas por pessoa. P io constitui o principal da refeição fora da.capital e entre os mais pobres. Paris, pelo contrário, è um foco de inovações alimentares. Estão em moda a massa e o arroz,bem como o café- com-leite, ou o cafezinho, que de manhã jã substituiu o copo de vinho ou a sopa. Largo uso também d; chã, para curar ressacas e, acima de tudo, para imitar os ingleses. Es- tão em moda também chocolate, sorvete e tabaco.

Apesar dos novos hábitos, uma certa mentalidade dietética tende a persistir: aquela pela qual se prefere o cozido ao ctu, o quente-seco ao úmido-frio. Para ser bem digeridas, frutas e verduras devem ser cozi­ das no vinho, senão tcraaxn-se perigosas: defender a pêra crua ou o melão, faz parte das audácias intelectuais. Quando Jean- Jacques Rousseau diz que lhe agrada uma refeição simples e rústica, composta de pão, laticínios e frutas, é efetivamente mais “ re­ volucionário” do que quanto o possam con siderar os leitores do século XX.

A frugalidade e a austeridade republi­ cana não parecem efetivamente ter subver­ tido òs costumes alimentares dos parisien­ ses. É claro que almoços ã base de ostras e champanhe, comuns desde a época da

Re-0 camponês não vive sem a sopa

gència, são menos frequentes durante O período revolucionàrio. Pratos muito mar­ cados pelo “luxo e despotismo” tendem a desaparecer.

De-qualquer forma, ê necessáno comer. Eis um exemplo de refeição-revolucionária numa rôtisserie parisiense no ano de 1791:14 centavos, mais dois centavos para ü pão, pagam duas tigelas de sopa com verniceile, uma porção abundante de car­ neiro e “belo pão”. Em fevereiro de 1793, uma familia burguesa convida Robespierre para almoçar. Naquele dia, na agenda de despesas de Mme. Julien, pode-se ler: leite e creme, 14 centavos; dois pães, 24 centavos; verdura, seis centavos; salada, dez centavos; pimenta, cinco centavos; queijo, urn cen­ tavo; sidra, 18 centavos; uma galinha de oito libras, dez centavos.

Por um brévç período, em julho de 1794

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são obrigatórias as “ceias fraternais” ; cada secção de Paris, por rodízio, oferecia uma refeição coletiva em pleaa rua. Compreensí­ vel a perplexidade da pobre Mpae. Rataud: “Se preparo um prato de feijão, os sans-

culotteso jogam na minha cara, se cozinho

perdizes dom couve, os Jacobinos dirão que é um prato aristocrático.” Por fim, ela pre­ parará os dois.

A Revolução alterará de forma quase que definitiva os. horários das refeições. Nas cidades do século XYIII era possivei comer e beber em cada esquina e a qual­ quer momento do dia: havia uma. espécie de fasi fo o d permanente. Depois os.horários da Assembléia Nacional (que começava às 13h) imprimem um novo modelo. O café da manhã já não basta mais. Os deputados têm ótimo apetite, atrasam a primeira refei­ ção e a reforçam com carne assada. No fim, tomam seu cafezinho. Assim nasceu o al­ moço francês.

(Veronique N ahaum-Grappe é professora da Ecole des Hautes Études en Sciences Soei ales de Paris)

O QUEIJO

CIDADÃO

CAMEMBERT,

UM NOBRE

PtERSE BOiSÀRD

O Camembert è um simbolo da França. Como a bandeira tricolor e como a Marseihesa, è um produto da Revolução. Primeiro queijo da idade moderna, o Ca membert nasceu entre 1791 e 1793. As cir­ cunstâncias exatas de seu nascimento per manecem, porém, incertas e deram vida a uma série de variações interpretativas. Ve­ jamos.

A ação se desenvolve em 1791, no cas­ telo de Beaumotícel, em Camembert, pe­ queno município de Pays-de-Auge, na Nor- mandia. Lá Marie Fontaine conhecera seu futuro marido, Jacques Harei. Enquanto jaeques trabalhava na lavoura, Marie pro­ duzia queijos. Ao mesmo tempo, os arren­ datários de Beaumoncel tinham dado refú­ gio a um padre foragido de Brie. Depois do voto a favor da constituição civil do clero, em julho de 1790, muitos padres recusam juramento à República e fogem. São caça­

dos pelos habitantes da cidade, mas os camponeses não hesitam cm ajudá-los.

Agora, vendo Marie Harei fazer queijo

segundo as receitas de Pays-dé-Àüge, o pa­ dre refugiado sugere o procedimento de Brie. Teria sido assim qiãe, fabricando Brie num molde de Livãrot, Marie Harei, se­ guindo o conselho de um [^jirè.quç fugia da >■ Revo lução, teria inventado õ Q^nembert? Sua filha Marie e seu gétâõ Thoraas Payncl comercializaram o queijo, que teve muito j < sucesso.

Em 1863, o neto de Marie Harei, Victor Payncl, ofereceu um Camembert ao impe­ rador Napoleão III, na estação de Surdon, no Orne, na linha Paris-Granvüle, há pouco inaugurada. O imperador apreciou muito o queijo. Pediu que, em certa quantidade, fosse remetido regularmente para a residên­ cia real, onde Victor teve depois a honra de ser convidado. Graças à consagração impe­ rial, o Camembert conquistou o mercado parisiense, e daí c mundo.

Deve-se, no entanto, a um cidadão ame­ ricano, Joseph Knirim, a rcdescobqrta de Marie Harei. Esse médico de Nova York estava convencido de ter curado as doenças de seu estômago com o uso assiduo de Ca­ membert normando e de cerveja de Pilsen, regime que recomendava a seus pacientes. Seu entusiasmo era tal que atravessou o Atlântico para render homenagem a Marie Harei. Chegando a 15 de março de 1926 á cidadezinha de Vimoutiers, foi até a farmá­ cia c pediu ao estupefato farmacêutico que o acompanhasse até o monumento em ho­ menagem a Marie Harei. O Farmacêutico, como a maioria dos moradores do lugar, disso tudo não sabia cotSà alguma.

Assim os moradores de Vimoutiers

sou-Utn dos mais notáveis queijos do mundo nasceu por volta de 1792. Teria sido inventado por uma normanda. conforme a receita de um padre anti-revolucionário

beram da existéneta e do papel de Marie Harei. O monumento, que não existia, foi erguido. A estátua, que representa Marie Harei em trajes tipicos normandos, foi inau­ gurada a 1 i de abril de 1928 pelo senador do Orne, A lexandre M illerand, ex- presidente da República. Mas essa consa­ gração levantou polêmicas, principalmente por pane dos fabricantes dos outros quei­ jos. Pretendia-se que Marie Harei ê uma fi­ gura de ficção e que Camembert já existia muito tempo antes de 1791. Minuciosas e pacientes pesquisas realizadas por morado­ res da região confirmaram, ao menos, a existência de Marie Harei.

Qualquer que venha a ser a verdade his­ tórica, nasceu um mito moderno que, na época da Revolução, coloca em ccna uma mulher e um padre, criando juntos um queijo consagrado 70 anos depois por um imperador. E um concentrado de história francesa: cada classe social cumpre seu pa­ pel e colabora para enriquecer o patrimônio gastronômico da França.

(Pierre Boisard trabalha no Centre d'Études de l’Emploi, em Paris)

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Négligé à patriote, deshabillé à democrática, toupets à revolucionária, em lugar de gigantescas perucas. O vestuário mudou muito, inclusive para cs cidadãos

A MODÀl

UGAS

E BANHOS;

DE LEITE

DARIA GALATERIA

No dia 3 de fevereiro de 1789 chegou a Paris cercado pda fama de herói da Revolu­ ção americana e pai da Constituição, gou- vemeur Morris, e foi prontamente convi­ dado para o chá dos salões, cm homenagem à nascente anglo mania. Durante suas ma­ nobras para tomar-se ministro plenipoten­ ciário em Paris gouverneur Morris teve ra­ zões para maravilhar-se muito. Os parisien­ ses colocavam no chá, em lugar do leite, uma espécie de queijo de gosto, aliás, deli­ cioso. Hm compensação, as senhoras, ao recebê-lo de manhã, faziem-se encontrar imersas na banheira, mas tinham c cuidado de misturar na água quente uma dose con­ veniente de leite, para tom ar mais picante o visual, com a intervenção de um-pouco de fantasia. “Sois virtuoso, senhor Morris?” perguntavam curiosas; e iniciavam a toüette a partir da liga à inglesa.

A nova moda substituía as anquinhas, as grandes caudas e os babados para um risí­ vel projeto de cauda, o pierrot. Como ex­ trema concessão ao passado, um pequeno enchimento lembrava antigas e retóricas opuiêndas. A saia descia fluída, pronta a acompanhar, segundo as leis da natureza, os movimentos do andar. As gigantescas

p ^ ’éaã,'tas/quáis se escondiam vaánhos * ígtia para manter frescas as flores - prêvi^tái rio arizu^. reduzirâín-se drastica-

mente c a importância da e-nh-r-a geava en­ tregue. agora às -leves ondulações das .plu- jn á s e ^ flores'artifidais," e ao alto dijpèu

jockey,preto, que' também nos homens es­

tava substituindo o tricórnio. De repente, as sedas, suntuosas do Ancièn Regime, cor-de- rosa, violeta, verde-maçã, amarelo-canário, cederam diante do tricolor nacional, que passou a governar as combinações das tin­ tas e a dominar os listrados.

Os mais atingidos pela m oda inglesa fo­ ram, porém, os homens. A cor burguesa, o

preto, cancelou a colorida silouettedos aris­ tocratas. O arco-iris de impalpáveis sedas, suntuosos bordados, rendas suaves no pes­ coço c nos pulsos, longos gilets e os culottes de cores contrastantes, as meias imaculadas do haàit brodé começavam a parecer. A, espada, insígnia da aristocracia, fora banida a tempo. O barão de Frénilly envergonhava-se ao recordar que tinha sido enviado, quando criança, prestar homena­ gem a um decrépito Voltaire, de roupa verde-maçã, um tricórnio e espadim. Agora gastava seus sapatinhos e seus trajes de seda nas cavalgadas matinais, enquanto à noite se apresentava em jantares com sua nova redingote de tecido negro, o gilet aciiHurado, calças compridas e justas, en­ fiadas em-botas de cano alto, mas de borda virada em pele mais clara.

Gouverneur Morris, logo imitado pelo ge­ neral "La Fayette, não usava mais a peruca, com cinco ordens de cachos, obrigatória para a noite, e nem aquela com três semicír­ culos de cachinhos, um tempo permitida só para o dia. Morris exibia um simples toupet

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com uma cônica ondulação sobre as ors- ihas, e levemente desarrumada, como se o vento da história e as preocupações da ideologia tivessem alguma relação com a e- legância.

Durante algumas estações, as mulheres desfilaram de négligé a la pa:rioie, ou de deshabillé a la démocradque, fazendo ba­ lançar brincos de vidro “constitucionais"’ e medalhões confeccionados com Iragmentos de pedras da Bastilha. As fivelas dos sapa tos e os botões de prata foram doados à na­ ção e substituídos por cadarços de seda e botões de aço, sobre os quais começam a aparecer, desde 1791, os primeiros perfis de barretes frígios. Mas só no ano seguinte apareceram as “carmanholas"’.

Eram calças largas e sem forma, longas até os tornozelos. Combinavam com paletó curto e escuro, de tecido rústico, um alegre gilet de cor ideológica (vermelho), ou de lis­ tras de tendência patriótica, e um lenço no pescoço. Pês nus, enfiados em tamancos. Assim se vestia o riquíssimo senhor Chazet, o mais feio e arrumado ladrão de Paris, para salvar sua deliciosa amante, a baro­ nesa de Mackau, detida na Force nos dias dos massacres por ocasião das prisões. Imi­ tando os tons roucos dos vendedores das Halles, defendeu a causa da baronesa diante de improvisado, atroz tribunal - que foi indulgente. Eram anos em que qualquer aristocrata que quisesse fazer-se passar p.ir sans-culotte teria de submeter-se a um ritual desagradável: lavar os cabelos.

Na Assembléia, os deputados trajavam as, redingotes listradas em cores sóbrias, mas Robespierre atravessou a Revolução com uma teimosa graça Ancien Regime, sempre de peruca. Já aqueles que tinham algo para esconder, preferiam usar chapéu por cima dos cabelos soltos. Depois dos tempos fortes do Terror, os incroyables exibiram uma atitude perenemente per­

plexa: à oratória tempestuosa dos revolu­ cionários opuseram um calculado balbucio: não pronunciavam o erre, e acentuavam gra­ ciosos movimentos da língua entre-dentes. Para os trajes, inspiravam-se numa magnifi­ cência insolente, sem cuidar de diferenciar- se dos novos ricos: golas imensas, muito de­ coradas; coletes curtos e de muitas cores;’ redingotes e calças justas, cheias de botões;. sapatinhos chatos, com pontas, muito leves. Na mão levavam, como se fosse uma leve' bengala de passeio, um reforçado porrete para defender-se dos Jacobinos. As mereeilleus, contrariando a virtude republi­ cana, molhavam os vestidos de musselina para tomá-los transparentes, e se inspira­ ram no bom selvagem de Rousseau para os corpetes cor de pele que ressaltavam o seio. Chegavam a soltar os cabelos, mas so de­ pois de corná-los crespos e volumosos, mantendo-os por uma hora sobre uma pa­ nela em ebulição.

A

República es­ tava em guerra contra a Inglaterra, mas há muito tempo a França, encantada por de­ mocráticas instituições além-mar, tinha-se empenhado aJacrememe em perder a bata­ lha da moda. Novamente cobertos de pó- de-arroz, perfumados pelas pastilhas de musgo, os novos elegantes se admiravam de tudo. Olhavam a um centimetro de distân­ cia com enormes oculos, cujas lentes desfo­ cavam todas as coisas e exclamavam: “C est incroyable" (é inacreditável). Com a simulação da miopia tentavam inutilmente apagar as truculentas visões do Terror. E uma só coisa podia de verdade torná-los in­ crédulos: o passado.

(Daria Galai «na é professora na Universi­ dade La apienza de Roma.)

Referências

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