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(1)

Notas Microeconomia II

Angelo Polydoro∗

2012

1

Introdu¸

ao

O curso de microeconomia pode ser comparado `a um pout-pourri de partido alto. Individualmente s˜ao m´usicas muito interessantes, mas n˜ao d´a para cantar todas elas de forma completa. Al´em disso, elas tem que estar conectadas uma com as outras para que o samba n˜ao atravesse.

2

Jogos Est´

aticos com Informa¸

ao Incompleta

Em jogos com informa¸c˜ao completa, o payoff de todos os jogadores ´e de conhecimento comum. Por outro lado, em jogos com informa¸c˜ao incompleta, o payoff de pelo menos um jogador n˜ao ´e conhecido exatamente por todos. Em leil˜oes, por exemplo, o payoff de cada participante ao obter o objeto, ou quanto eles estariam dispostos a pagar n˜ao ´e conhecido pelo leiloeiro e pelos outros participantes. Se fosse, o leiloeiro poderia fazer uma proposta, cobrando exatamente esse valor. Ent˜ao, o comprador estaria indiferente entre comprar o objeto ou n˜ao e o leiloeiro obteria a receita m´axima.

Considere como exemplo a itera¸c˜ao estrat´egica envolvendo um casal em uma quarta-feira `a noite. O casal quer fazer um programa fora de casa, mas infelizmente n˜ao tem nenhuma forma de se comunicar para coordenar as suas a¸c˜oes. As op¸c˜oes s˜ao ir para o cinema ou ir ao Engenh˜ao1 ver um jogo do seu time do cora¸c˜ao. Se a descri¸c˜ao do jogo parasse por a´ı, a aplica¸c˜ao das ferramentas de teoria dos jogos sob informa¸c˜ao completa seriam suficientes para analisar essa situa¸c˜ao e prever seus poss´ıveis resultados. O problema, ´e que existe uma fonte de informa¸c˜ao incompleta: a esposa pode estar com bom ou mau humor e isso afeta o payoff do marido. O payoff de ambos em cada situa¸c˜ao est´a descrito nas tabelas abaixo:

Meu muito obrigado aos alunos de Microeconomia 2 do curso de Economia da FGV que contribu´ıram com coment´arios ao texto. Um agradecimento especial ao aluno Lu´ıs Carvalho da turma de 2011.

(2)

Esposa

Cinema Engenh˜ao

Marido Cinema 2,2 1,1

Engenh˜ao 1,1 0,0

Tabela 1: Payoff com Bom Humor Esposa

Cinema Engenh˜ao

Marido Cinema 1,3 0,-1

Engenh˜ao 3,2 1,-2

Tabela 2: Payoff com Mau Humor

De acordo com essas tabelas de payoff, ir ao cinema ´e uma estrat´egia estritamente dominante para a esposa n˜ao importando o seu humor. Por outro lado, o marido prefere ir ao cinema quando a esposa est´a com bom humor e ir ao Engenh˜ao quando a esposa est´a com mau humor. A pergunta ent˜ao ´e o que far´a o marido?

Para ser capaz de avaliar o impacto das suas decis˜oes o marido precisa estar equipado de uma cren¸ca sobre qual a chance de a sua mulher estar com bom ou mau humor. Essa cren¸ca ´e uma distribui¸c˜ao de probabilidade sobre os eventos: {Bom Humor, Mau Humor} da esposa.

Suponha que em um dia qualquer, a esposa esteja de bom humor com 50% de probabilidade. Por complementaridade, a probabilidade da mulher estar com mau humor ´e de 50%. Ao escolher ir ao cinema, o payoff esperado ´e de:

Eu(Cinema) = .5 × 2 + .5 × 1 = 1.5. Por outro lado, o payoff esperado ao escolher ir ao Engenh˜ao ´e de:

Eu(Engenh˜ao) = .5 × 1 + .5 × 3 = 2.5.

O marido escolher´a ir ao Engenh˜ao, pois o payoff esperado ´e maior do que ir ao Cinema. Esse ´e o equil´ıbrio desse jogo.

Formalmente um jogo com informa¸c˜ao incompleta ´e composto de: • Jogadores: N .

• Tipos dos jogadores: θi ∈ Θi para todo i ∈ N .

• Cren¸cas sobre o tipo dos outros jogadores: λi(θi) ∈ ∆(Θ−i). • A¸c˜oes: Ai para todo i ∈ N .

• Fun¸c˜ao payoff: ui : Θ × A → R.

No exemplo acima, a mulher possui dois tipos: {Bom Humor} ou {Mau Humor}, o homem um tipo ´

unico e a cren¸ca sobre o tipo da mulher (.5, .5).

A id´eia de resumir todas as informa¸c˜oes sobre as cren¸cas e o payoff dos jogadores no tipo ´e original de Harsanyi, ganhador do prˆemio Nobel de economia em 1994 ao lado de Nash e Selten.

Uma estrat´egia em jogos de informa¸c˜ao incompleta ´e uma fun¸c˜ao: si : Θi → Ai que associa uma a¸c˜ao (talvez uma distribui¸c˜ao de probabilidade sobre as a¸c˜oes) para cada tipo do jogador i.

(3)

Definition 2.1 Um equil´ıbrio Nash-Bayesiano para um jogo com informa¸c˜ao incompleta ´e uma lista de estrat´egias (s∗i)i∈N tal que:

s∗i(θi) ∈ arg max ai∈Ai

X

θ−i

λ(θi)(θ−i)ui(ai, s∗−i(θ−i); θi)

para todo θi ∈ Θi e i ∈ N .

2.1 Aplica¸c˜ao: Competi¸c˜ao de Cournot com Informa¸c˜ao Incompleta

Considere um duop´olio de Cournot com demanda inversa P (Q) = a−Q, onde Q = q1+q2´e a quantidade total produzida no mercado. A fun¸c˜ao custo da firma 1 ´e C1(q1) = cq1 e a fun¸c˜ao custo da firma 2 C(q2) = cHq2 com probabilidade θ e C2(q2) = cLq2 com probabilidade 1 − θ, onde cL < cH. Essa incerteza da firma 1 em rela¸c˜ao aos custos da firma 2 pode ser resultado da incapacidade da firma 1 saber se, por exemplo, uma inven¸c˜ao ocorreu na firma 2 que resultou em uma redu¸c˜ao nos custos de produ¸c˜ao.

Fixando a produ¸c˜ao da firma 1 em q1 cada tipo da firma 2 resolve o seguinte problema: max

q2≥0

πH(q2|q1) = [(a − q1− q2]q2− cHq2

q2H = a − q1− cH

2 .

por outro lado, a quantidade ´otima da firma 2 quando possui custo igual a cL: max

q2≥0

πL(q2|q1) = [(a − q1− q2]q2− cLq2

q2L= a − q1− cL

2 .

A firma 1 leva em considera¸c˜ao o fato de que cada tipo da firma 2 escolher´a uma quantidade de produ¸c˜ao diferente. Assim, escolhe q1 de forma a maximizar:

max q1≥0 π1(q1|q2H, qL2) max q1≥0 θ(a − q1− qH2 )q1+ (1 − θ)(a − q1− qL2)q1− cq1 q1 = θ(a − qH2 )q1+ (1 − θ)(a − q2L) 2 .

O equil´ıbrio Bayesiano desse jogo ´e tal que essas curvas de melhor resposta de intersectem. Assim, q2H = a − 2cH + c 3 + 1 − θ 6 (cH − cL) qL2 = a − 2cL+ c 3 − θ 6(cH − cL) q1 = a − 2c + θcH + (1 − θ)cL 3 .

Quando comparamos o equil´ıbrio do modelo de Cournot com informa¸c˜ao completa e custos (c1, c2) com a resposta acima observamos que q2H ´e maior do que q2(cH) e que q2L´e menor do que q2(cL). Isso ocorre, pois a firma 2 leva em considera¸c˜ao n˜ao apenas o pr´oprio custo, mas o fato de que a firma 1 n˜ao conseguir´a ajustar a sua produ¸c˜ao em resposta a quantidade produzida pela firma 2. Lembre-se de que a firma 1 desconhece os custos da firma 2.

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2.2 Provis˜ao de um Bem P´ublico sob Incerteza

Duas pessoas est˜ao decidindo simultaneamente se ir˜ao contribuir ou n˜ao para um bem p´ublico. Os dois obtˆem um benef´ıcio de 1 se ao menos uma pessoa contribuir e 0 se ningu´em contribuir para o bem. O custo de contribui¸c˜ao de cada um ´e ci. A situa¸c˜ao estrat´egica ´e descrita na tabela abaixo:

Agente 1

Contibui N˜ao Agente 2 Contribui 1 − c1,1 − c2 1 − c1,1

N˜ao 1,1 − c2 0,0

Provis˜ao de um bem p´ublico sob incerteza

O benef´ıcio 1 do bem p´ublico ´e de conhecimento comum, mas o custo de cada agente ´e uma informa¸c˜ao privada. Isto ´e, apenas o pr´oprio jogador conhece o seu custo. O custo de cada agente ´e sorteado de forma independente de uma distribui¸c˜ao P (·) com suporte [c, c], onde c < 1 < c. Uma estrat´egia nesse jogo ´e uma fun¸c˜ao si(ci) → {0, 1}. O payoff ´e dado por:

ui(si, sj, ci) = max(s1, s2) − cisi.

Um equil´ıbrio Bayesiano para esse jogo ´e um par de estrat´egias (s∗1, s∗2), tal que s∗i(ci) maximiza Ecjui(si, s

j(cj), ci). Note que como a decis˜ao ´e uma vari´avel bin´aria, o valor esperado se o pr´oprio jogador n˜ao contribuir ´e de zj = P rob(s∗j(cj) = 1. Assim, para maximizar o seu payoff o agente i ir´a contribuir se o seu custo ci for menor do que 1 × (1 − zj) que ´e o benef´ıcio vezes a probabilidade que o outro jogador n˜ao ir´a contribuir. Ent˜ao, s∗i(ci) = 1 se ci ≤ 1 − zj e s∗i(ci) = 0 se ci ≥ 1 − zj. Os tipos do agente i que contribuem pertencem a um intervalo [c, c∗i] e os que n˜ao contribuem (c∗i, c].

Dado que zj = P rob(c ≤ cj ≤ c∗j) = P (c∗j), o n´ıvel ´otimo de c∗i deve satisfazer c∗i = 1 − P (c∗j). Ent˜ao, os dois valores c∗1 e c∗2 devem satisfazer a equa¸c˜ao:

c∗ = 1 − P (1 − P (c∗)).

Suponha que P (·) ´e uma distribui¸c˜ao uniforme no intervalo [0, 2], ent˜ao c∗ que resolve a equa¸c˜ao acima ´e um valor ´unico e igual a 2/3.

Note que se c ≥ 1 − P (1) ent˜ao esse jogo possui dois equil´ıbrios assim´etricos. Um dos jogadores nunca contribui e o outro contribui para todo c ≤ 1.

3

Leil˜

oes

Leil˜oes s˜ao um dos tipos de mecanismo de venda mais comuns. S˜ao vendidos atrav´es de leil˜oes desde obras de arte e t´ıtulos do governo at´e direitos de concess˜ao de explora¸c˜ao de po¸cos de petr´oleo e aeroportos. Al´em da sua aplica¸c˜ao no mundo real, os leil˜oes podem ser escritos como um problema econˆomico bem definido onde as partes n˜ao sabem quanto os seus competidores estariam dispostos a pagar pelo bem em quest˜ao.

Considere o problema de um vendedor interessado em vender um objeto para um grupo potencial de N compradores. Cada comprador atribui o valor de vi ao objeto e este ´e sorteado de uma distribui¸c˜ao uniforme entre [0, v]. O valor atribu´ıdo ao objeto pelo agente i ´e conhecido somente por esse agente e este ´e independente do valor dos outros agentes.

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Ao estudar um determinado formato de leil˜ao estamos interessados em 3 quest˜oes principais: eficiˆencia, receita e comportamento estrat´egico dos agentes. Um leil˜ao ´e eficiente se ele o vencedor do leil˜ao for o participante que atribui maior valor ao objeto. Receita ´e quanto fica para o leiloeiro com a venda do objeto. O estudo dessas propriedades de um leil˜ao s´o ´e poss´ıvel se conhecermos como os participantes ir˜ao se comportar no leil˜ao. Ou seja, a eficiˆencia e a receita de um leil˜ao depende do equil´ıbrio jogado. Nessa se¸c˜ao estaremos interessados em equil´ıbrios Bayesianos sim´etricos, ou seja, onde a estrat´egia de cada participante ´e a mesma.

3.1 Leil˜ao Selado de Segundo Pre¸co

Em um leil˜ao selado de segundo pre¸co, cada participante escreve o seu lance em um papel e submete ao leiloeiro. Quando todos os participantes terminarem de submeter os lances, o leiloeiro identifica o participante que submeteu o maior lance. Este ´e declarado vencedor e paga pelo objeto uma quantia igual ao segundo maior lance submetido.

O lucro de cada participante nesse formato de leil˜ao ´e:

Πi = (

vi− maxi6=jbj se bi> maxi6=jbj 0 se bi< maxi6=jbj.

Onde bi ´e o lance submetido pelo participante i. Quando bi = maxi6=jbj o objeto ´e sorteado entre os detentores do maior lance com igual probabilidade.

Uma estrat´egia no leil˜ao ´e uma fun¸c˜ao βi : [0, v] → [0, v] que especifica o lance para o participante i que atribui valor vi∈ [0, v] ao objeto. Note que valores maiores do que v podem ser desconsiderados com base na racionalidade dos agentes.

Proposition 3.1 A estrat´egia β(v) = v ´e um equil´ıbrio Bayesiano sim´etrico para o leil˜ao selado de segundo pre¸co.

Proof. Fixe o participante 1 sem perda de generalidade e suponha que o maior lance entre os outros participantes ´e p1 = maxj6=ibj. Imagine que o participante 1 escolha submeter um lance z1 < v1. Se v1> z1 ≥ p1 o participante 1 ganha o leil˜ao e obtˆem lucro v1− p1 e este ´e independente de z1.

Por outro lado, quando p1 > v1 > z1 o participante perde o leil˜ao, obtendo lucro zero.

A ´unica situa¸c˜ao onde submeter um lance z1< v1muda o resultado do leil˜ao ´e quando v1> p1> z1. Nesse caso, o participante 1 perde o leil˜ao ao submeter um lance menor do que o pr´oprio valor, quando na verdade poderia ter ganho submetendo v1 = z1 e obtido lucro positivo v1− p1.

Em resumo, no leil˜ao selado de segundo pre¸co βi(vi) = vi ´e uma estrat´egia fracamente dominante. O caso quando z1 > v1 pode ser provado utilizando os argumentos acima. A ´unica diferen¸ca ´e que o lucro pode ser negativo quando na verdade submetendo z1 = v1 seria zero.

O leil˜ao selado de segundo pre¸co ´e sempre eficiente, pois como vence o participante com maior lance e o lance ´e igual ao valor privado, vence o participante com maior valor privado.

3.2 Leil˜ao Selado de Primeiro Pre¸co

Em um leil˜ao selado de primeiro pre¸co, cada participante tamb´em submete o lance em segredo, o vencedor ´e escolhido como sendo o participante que submeter o maior lance, mas o valor pago pelo objeto ser´a igual ao seu pr´oprio lance.

(6)

O lucro dos participantes nesse formato de leil˜ao ´e: O lucro de cada participante nesse formato de leil˜ao ´e: Πi = ( vi− bi se bi > maxi6=jbj 0 se bi < maxi6=jbj.

Note que no leil˜ao selado de primeiro pre¸co submeter um lance igual ao pr´oprio valor ´e uma estrat´egia fracamente dominada. Essa estrat´egia resulta em lucro zero quando o participante vence e zero quando ele perde. Assim, os participantes ao escolher a estrat´egia ´otima levar˜ao em considera¸c˜ao o fato de que escolher um valor menor do que o privado diminui a probabilidade de vencer, mas aumenta o lucro em caso de vit´oria.

Proposition 3.2 A estrat´egia β(vi) = N −1N vi ´e um equil´ıbrio Bayesiano sim´etrico para o leil˜ao selado de primeiro pre¸co.

Proof. Suponha que os jogadores empreguem uma estrat´egia sim´etrica β(vi) = b. Um participante com valor vi ganha se todos os outros jogadores submeterem lances menores do que β(vi) = b. Isso ocorre com probabilidade (β−1(b))N −1 e resulta em um payoff (vi− b). O payoff esperado ´e:

(β−1(b))N −1× (vi− b) + 1 − (β−1(b))N −1 × 0.

Maximizando o payoff esperado em fun¸c˜ao de b encontramos a condi¸c˜ao de primeira ordem: (N − 1)(β−1(b))N −2

β0−1(b))) (vi− b) − (β −1

(b))N −1= 0

em um equil´ıbrio sim´etrico o jogador em quest˜ao tamb´em utilizar´a a fun¸c˜ao lance β(vi) = b, ent˜ao: (N − 1)(vi)N −2

β0(vi)

(vi− β(vi)) − (vi)N −1= 0 (N − 1)(vi)N −2vi− (N − 1)(vi)N −2β(vi) = β0(vi)(vi)N −1 (N − 1)(vi)N −2vi= (N − 1)(vi)N −2β(vi) + β0(vi)(vi)N −1

Dado que um participante com valor para o objeto igual a zero ir´a escolher um lance igual a zero β(0) = 0, podemos resolver a equa¸c˜ao diferencial acima.

d dvi (vi)N −1β(vi) = (N − 1)(vi)N −2vi (vi)N −1β(vi) = (N − 1) Z vi 0 xN −1dxβ(vi) = 1 (vi)N −1 (N − 1) Z vi 0 xN −1dx β(vi) = 1 (vi)N −1 (N − 1) x N N vi 0 β(vi) = 1 (vi)N −1 (N − 1)v N i N β(vi) = N − 1 N vi

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3.3 Compara¸c˜ao entre as receitas dos leil˜oes selados de Primeiro e Segundo Pre¸co O pagamento esperado em um leil˜ao selado de segundo pre¸co de um participante com valor vi ´e:

mII(vi) = Prob [Vencer] × [Pagamento|vi] Prob [Vencer] × E [2 maior lance |vi ´e o maior lance] = Prob [Vencer] × E [2 maior lance |vi ´e o maior valor] = Prob[Todos os Valores S˜ao Menores que vi ] × E [2 maior lance |vi ´e o maior valor] = G(vi) × E[Y1|Y1< vi] = (vi)N −1× N − 1 N vi = vNi ×N − 1 N Por outro lado em um leil˜ao selado de primeiro pre¸co:

mI(vi) = Prob [Vencer] × [Pagamento|vi] = G(vi) × N − 1 N vi = (vi)N −1× N − 1 N vi = vNi ×N − 1 N

Comparando o valor esperado de pagamento no leil˜ao selado de primeiro pre¸co e no de segundo pre¸co vemos que eles s˜ao iguais. Esse resultado segue de um teorema bastante poderoso da teoria de leil˜oes conhecido como ”princ´ıpio da equivalˆencia das receitas”. Esse teorema mostra que se o valor que os agentes atribuem ao objeto for independente e identicamente distribu´ıdos, os participantes forem neutros ao risco e o formato do leil˜ao for tal que o pagamento esperado de um participante que atribua valor zero ao objeto for zero, ent˜ao a receita esperada ao leiloeiro ´e a mesma.

No caso dos leil˜oes de primeiro e segundo pre¸co o que est´a por tr´as do resultado ´e que o pre¸co a ser pago pelo vencedor tem a mesma m´edia, por´em valores maiores podem ocorrer no leil˜ao de primeiro pre¸co. Ou seja, a distribui¸c˜ao de pre¸cos do leil˜ao de primeiro pre¸co ´e mais arriscada, possui maior variˆancia.

4

Economia da Informa¸

ao - Introdu¸

ao

Em certas situa¸c˜oes, a hip´otese de que todas as partes envolvidas na itera¸c˜ao econˆomica possuem a mesma informa¸c˜ao n˜ao descreve muito bem a realidade.

No mercado de seguros, por exemplo, cada pessoa ´e melhor informada sobre qu˜ao propensa ao risco ela ´e. O motorista sabe se ele respeita a sinaliza¸c˜ao de trˆansito, os limites de velocidade, se realiza a manuten¸c˜ao preventiva do ve´ıculo etc. A empresa de seguros, por outro lado, conhece muito pouco ou quase nada sobre as caracter´ısticas do segurado. Assim, a empresa de seguros gostaria de cobrar mais das pessoas com maior risco e um pouco menos das pessoas com menor risco (a um pre¸co muito alto essas pessoas podem desistir de contratar o seguro).

Na classe de modelos que ´e estudada nesse cap´ıtulo existem dois tipos de participantes: os infor-mados e os n˜ao informados. Os informados conhecem a informa¸c˜ao relevante para a tomada de decis˜ao

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e payoff de ambas as partes enquanto os n˜ao informados desconhecem tal informa¸c˜ao. Ou seja, a informa¸c˜ao ´e privada aos agentes informados.

Os modelos descritos nessa se¸c˜ao s˜ao de equil´ıbrio parcial. Eles abstraem de toda dinˆamica em outros mercados que possa influenciar esse mercado. Al´em disso, os agentes (tipicamente dois) s˜ao divididos entre o l´ıder e os seguidor ou entre o principal (mandante) e o agente. Cabe ao principal ou l´ıder propor o contrato (as op¸c˜oes do seguro, os tipos do produto) e ao agente ou seguidor aceitar ou n˜ao os termos desse contrato.

Os modelos com diferen¸cas de informa¸c˜ao podem ser divididos em 3 grandes classes: • Modelos de sele¸c˜ao adversa: A parte n˜ao informada age primeiro. Ex: Seguros.

• Modelos de sinaliza¸c˜ao: A parte informada age primeiro. Ex: Entrevistas para uma vaga de emprego.

• Modelos de perigo moral: A parte n˜ao informada age primeiro e ´e parcialmente informada sobre a decis˜ao da parte informada. Ex: Decis˜ao de um gerente.

Esse cap´ıtulo ´e dividido da seguinte forma. A seguir estudamos os modelos de sele¸c˜ao adversa, sinaliza¸c˜ao e por fim os de perigo moral.

4.1 Sele¸c˜ao Adversa

Em modelos de sele¸c˜ao adversa o agente possui uma informa¸c˜ao que ´e relevante para o lucro do principal e a pr´opria utilidade. Em seguros, por exemplo, se a seguradora cobrar apenas um pre¸co pelo seguro ela pode fazer com que esse pre¸co se torne muito caro para as pessoas com risco baixo, acabando por atrair apenas os de alto risco e resultando em um preju´ızo para a firma. ´E esse exemplo que exploraremos a seguir.

Outros exemplo incluem a sele¸c˜ao dos candidatos no mercado de trabalho, contratos espec´ıficos de empr´estimo banc´ario baseados no risco dos contratantes, qualidade dos terceirizados contratados para realizar uma tarefa etc.

4.1.1 Discrimina¸c˜ao de Segundo Grau

No primeiro modelo de sele¸c˜ao adversa estudado nessa se¸c˜ao analisamos a decis˜ao ´otima de um vendedor de cerveja.

No que diz respeito ao mercado de cervejas indian ale, os consumidores podem ser divididos em dois tipos. Os consumidores que gostam mais desse tipo de cerveja de alta qualidade, com sabor mais apurado, e os consumidores comuns. A utilidade de cada consumidor ao consumir uma cerveja com qualidade q e pagar uma quantia t ´e de:

u = θq − t.

Onde θH = 2 e θL= 1, ou seja, os consumidores que gostam desse tipo de cerveja derivam o dobro de utilidade do que os consumidores comuns ao consumir uma cerveja com qualidade q.

A cervejaria possui fun¸c˜ao custo C(q) = q22 para produzir uma cerveja com qualidade q > 0. Sabe-se que as pessoas que gostam mais de cervejas indian ale correspondem a 10% da popula¸c˜ao, enquanto os consumidores comuns correspondem aos outros 90%.

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Se a firma fosse capaz de identificar perfeitamente o tipo do consumidor ela resolveria o seguinte problema: max q,t≥0ti− C(qi) s.t. θiqi− ti ≥ 0 ou seja, max q,t≥0tH− q2H 2 s.t. 2qH− tH ≥ 0 o que implica qH = 2 e tH = 4. Para os consumidores comuns:

max q,t≥0tL− q2 L 2 s.t. qL− tL≥ 0 o que implica qL= 1 e tL= 1.

Os dois tipos de consumidor estariam indiferentes entre comprar a cerveja ou n˜ao, pois o monopolista seria capaz de extrair todo excedente deles. Al´em disso, o consumidor que prefere esse tipo de cerveja pagaria mais por ela, por´em teria um produto de maior qualidade.

Figure 1: Contratos sobre discrimina¸c˜ao perfeita

O problema ´e que a discrimina¸c˜ao perfeita, ou tamb´em conhecida como de primeiro grau, ´e rara-mente permitida pela legisla¸c˜ao ou ent˜ao fact´ıvel. Mesmo sabendo do tipo dos consumidores a lei pode fazer com que a firma permita um outro consumidor adquirir o produto ao mesmo pre¸co.

Caso opte por oferecer o mesmo par de contratos para os consumidores o que gosta mais desse tipo de cerveja escolher´a a de menor qualidade:

2qL− tL= (θH− θL)qL> 0 = θHqH − tH 2 − 1 = (2 − 1) × 1 > 0 = 2 × 2 − 4.

O consumidor obteria uma utilidade de 1, ao inv´es de zero ao comprar a cerveja de menor qualidade, por´em mais barata.

A pergunta ent˜ao ´e: Como a firma pode aumentar os seus lucros oferecendo um par de produtos tal que cada tipo de consumidor compre a garrafa de cerveja feita para o seu tipo. Ou dito de outra forma, qual a decis˜ao ´otima da firma levando em considera¸c˜ao a restri¸c˜ao de que ela n˜ao ´e capaz de discriminar os consumidores?

Podemos escrever o problema da firma nesse caso como: max qH,qL,tH,tL≥0 πL[tL− C(qL)] + (1 − πL) [tH − C(qH)] θLqL− tL≥ 0 : (Restri¸c˜ao de Participa¸c˜ao L) θHqH − tH ≥ 0 : (Restri¸c˜ao de Participa¸c˜ao H) θLqL− tL≥ θLqH − tH : (Restri¸c˜ao de Incentivos L) θHqH − tH ≥ θHqL− tL: (Restri¸c˜ao de Incentivos H)

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com os parˆametros do nosso problema: max qH,qL,tH,tL≥0 .9  tL− qL2 2  + .1  tH − qH2 2  qL− tL≥ 0 : (Restri¸c˜ao de Participa¸c˜ao L) : IRL 2qH− tH ≥ 0 : (Restri¸c˜ao de Participa¸c˜ao H) : IRH qL− tL≥ qH − tH : (Restri¸c˜ao de Incentivos L) : ICL 2qH − tH ≥ 2qL− tL : (Restri¸c˜ao de Incentivos H) : ICH

As duas primeiras restri¸c˜oes s˜ao conhecidas como restri¸c˜oes de participa¸c˜ao ou de racionalidade. A interpreta¸c˜ao dessas duas restri¸c˜oes ´e que cada um dos tipos de consumidor deve preferir adquirir o produto do que n˜ao adquirir (sua op¸c˜ao externa). As duas restri¸c˜oes seguintes s˜ao as restri¸c˜oes de incentivo. Elas s˜ao conhecidas como restri¸c˜oes de incentivo, pois a qualidade e o pre¸co da cerveja de cada tipo tem que ser escolhida de forma a dar incentivo do determinado tipo escolher a cerveja (pacote) desenhada para esse tipo de consumidor n˜ao o outro. Por exemplo, a terceira restri¸c˜ao implica que o consumidor que gosta mais da cerveja indian ale deve ter uma utilidade maior ao consumir a cerveja de alta qualidade do que a de baixa qualidade.

Esse problema pode ser simplificado utilizando as seguintes observa¸c˜oes:

• A restri¸c˜ao de participa¸c˜ao dos consumidores comuns ´e sempre ativa: tL= θLqL. • A restri¸c˜ao de incentivos dos consumidores sofisticados ´e ativa: tH − tL= θH(qH − qL).

• A qualidade da cerveja comprada pelos consumidores sofisticados ´e maior do que a dos consumi-dores comuns: qH ≥ qL.

• A restri¸c˜ao de incentivo dos consumidores comuns (ICL) e a restri¸c˜ao de participa¸c˜ao do consum-idor sofisticado (IRH) podem ser omitidas do problema.

• Os consumidores sofisticados adquirem um produto com a qualidade igual a aloca¸c˜ao eficiente (de informa¸c˜ao completa) no mercado: qH = qH∗.

Sob essas condi¸c˜oes, que valem no ´otimo, o problema do principal pode ser escrito como: max

qL≥0

(π(θLqL− C(qL)) − (1 − π)(θH − θL)qL) .

Mas, antes, vamos provar as afirma¸c˜oes feitas acima.

Claim 1 A restri¸c˜ao de participa¸c˜ao dos consumidores comuns ´e sempre ativa: tL = θLqL (no nosso exemplo tL= qL.

Proof. Da restri¸c˜ao de incentivos do consumidor sofisticado: θHqH − tH ≥ θHqL− tL e utilizando o fato de que θH ≥ θL:

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Ent˜ao, se a restri¸c˜ao de participa¸c˜ao do consumidor comum n˜ao estiver ativa θLqL− tL> 0, ou seja, ele prefira estritamente comprar o produto, a restri¸c˜ao de participa¸c˜ao do consumidor sofisticado tamb´em est´a ativa.

O vendedor pode aumentar o seu lucro aumentando tH e tL, pois n˜ao altera a decis˜ao de ambos consumidores em comprar o produto. No ´otimo tL= θLqL.

Claim 2 A restri¸c˜ao de incentivos dos consumidores sofisticados ´e ativa: tH − tL= θH(qH− qL).

Proof. Suponha que a restri¸c˜ao de incentivo do consumidor sofisticado n˜ao est´a ativa: θHqH − tH > θHqL− tL

utilizando o fato de que θH > θL:

θHqH − tH > θHqL− tL≥ θLqL− tL= 0.

Novamente n´os podemos aumentar o lucro do vendedor (principal) aumentando tH, pois as restri¸c˜oes de incentivo e de participa¸c˜ao do consumidor sofisticado continuam ativas. Assim, no ´otimo: θHqH− tH = θHqL− tL ou tH− tL= θH(qH − qL).

Claim 3 A qualidade da cerveja comprada pelos consumidores sofisticados ´e maior do que a dos con-sumidores comuns: qH ≥ qL.

Proof. Adicionando as restri¸c˜oes de incentivo de ambos os consumidores: θLqL− tL+ θHqH − tH ≥ θLqH− tH+ θHqL− tL

θLqL+ θHqH ≥ θLqH + θHqL θH(qH − qL) ≥ θL(qH − qL). Como θH ≥ θL, no ´otimo qH − qL≥ 0.

Claim 4

A restri¸c˜ao de incentivo dos consumidores comuns (ICL) e a restri¸c˜ao de participa¸c˜ao do consumidor sofisticado (IRH) podem ser omitidas do problema.

Proof. Um dos itens acima mostra que a restri¸c˜ao de incentivos do consumidor sofisticado est´a ativa. Assim, tH − tL= θH(qH − qL) utilizando a propriedade 3 (qH ≥ qL): tH− tL= θH(qH − qL) ≥ θL(qH − qL) tH − tL≥ θL(qH − qL) θLqL− tL≥ θLqH − tH

ou seja, a restri¸c˜ao de incentivos dos consumidores comuns ´e sempre satisfeita e pode ser omitida. A demonstra¸c˜ao da propriedade 1 tamb´em mostra que a restri¸c˜ao de participa¸c˜ao do consumidor sofisti-cado tamb´em pode ser descartada.

(12)

Claim 5 Os consumidores sofisticados adquirem um produto com a qualidade igual a aloca¸c˜ao eficiente (de informa¸c˜ao completa) no mercado: qH = q∗H.

Proof. Suponha por contradi¸c˜ao que C0(qH) < θH. Ent˜ao, o principal poderia cobrar um pouquinho a mais  por um produto com qualidade  a mais. Nesse novo mecanismo qH0 = q2+ , t0H = tH + θH, ent˜ao:

θHq0H− t0H = θHqH− tHθLqH0 − t0H = θLqH − tH − (θH − θL). Ent˜ao o novo mecanismo satisfaz todas as restri¸c˜oes do problema. Adicionalmente:

t0H − C(q0H) = tH− C(qH) + (θH − C0(qH)).

O novo mecanismo resulta em um lucro maior para o vendedor, o que contradiz o fato do mecanismo encontrado ser ´otimo.

Figure 2: Contratos sobre informa¸c˜ao incompleta

Esse conjunto de observa¸c˜oes feitas acerca do problema do principal ajudam a reduzir bastante a dimensionalidade do problema. As seguintes equa¸c˜oes s˜ao satisfeitas para as vari´aveis do problema:

tL= θLqL tH− tL= θH(qH∗ − qL) qH = q∗H(C0(qH∗) = θH)

substituindo essas restri¸c˜oes no problema do principal obtemos: max

qL≥0

(π(θLqL− C(qL)) − (1 − π)(θH − θL)qL) .

o primeiro termo ´e proporcional ao bem estar da sociedade dos consumidores comuns e o segundo termo representa o efeito sobre a restri¸c˜ao de incentivo do consumidor sofisticado ao aumentar qL. Note que ao aumentar a qualidade da cerveja ruim esta se torna mais atraente para o consumidor sofisticado.

A condi¸c˜ao de primeira ordem ´e:

C0(qL) = θL− 1 − α

α (θH− θL) ≤ θL.

A quantidade qL < q1∗ no caso de informa¸c˜ao completa. A qualidade da cerveja vendida aos con-sumidores comuns ´e menor do que a quantidade eficiente.

Em resumo:

• O consumidor do tipo sofisticado recebe uma aloca¸c˜ao eficiente.

• O consumidor do tipo sofisticado est´a indiferente entre o seu pacote (cerveja) e a do tipo comum. • O consumidor do tipo sofisticado recebe uma renda informacional (1−π

π (θH − θL)), ou seja, paga menos do que na aloca¸c˜ao eficiente de informa¸c˜ao completa.

(13)

4.1.2 Seguros

Um outro exemplo bastante estudado do problema de sele¸c˜ao adversa s˜ao os seguros. Nessa se¸c˜ao consideramos o problema de uma seguradora que ´e monopolista e serve a uma popula¸c˜ao que pode ser dividida em dois de acordo com sua classe de risco. Ou seja, cada pessoa da popula¸c˜ao pode ser classificada como sendo de baixo ou alto risco.

Para tornar esse problema mais concreto, considere o caso de uma seguradora de ve´ıculos. Cada pessoa possui um carro que vale W e caso ocorra um sinistro, o carro pode ser vendido por W − d, ou seja, perde d no seu valor.

Um contrato de seguro pressup˜oe o pagamento de um prˆemio q (pagamento pela ap´olice de seguro) e um pagamento da seguradora ao segurado de R (reembolso) no caso da ocorrˆencia de um sinistro. Tanto q quanto R s˜ao vari´aveis de escolha da seguradora e caracterizam a ap´olice.

A riqueza final quando ocorre um sinistro para o segurado ´e de: WA= W − d − q + R e quando n˜ao ocorre um sinistro:

WN = W − q.

A fun¸c˜ao utilidade dos consumidores de ambos os tipos ´e u(w) = ln(1 + w) e a probabilidade de um acidente para os tipos com alto risco ´e de pH e para os de baixo risco pL, onde pH > pL.

A utilidade de reserva, ou seja, a utilidade de um agente que n˜ao contrata o seguro ´e de: piln(W − d) + (1 − pi)ln(W )

e esse valor depende da classe de risco do agente.

Se a seguradora tivesse como saber qual o tipo de cada agente o contrato seria tal que: pi p W − d − q + R + (1 − pi) p W − q = pi √ W − d + (1 − pi) √ W pi( p W − d − q + R −√W − d) + (1 − pi)( p W − q − √ W ) = 0 lucro π = q − pR

(14)

´ Otimo social: piln(W − d − q + R) + (1 − pi)ln(W − q) + q − pR q: pi W − d − q + R+ 1 − pi W − q = 1 R: 1 W − d − q + R = 1 1 = W − d − q + R q = W − d + R − 1 pi W − d − (W − d + R − 1) + R+ 1 − pi W − (W − d + R − 1) = 1 (d − R + 1)pi+ 1 − pi= d − R + 1 R(−p + 1) = d − dp R(−p + 1) = d(1 − p) R = d q = W − d + d − 1 q = W − 1

No ´otimo sob o ponto de vista social existe um seguro perfeito ao agente. Este paga W − 1 pelo seguro. O lucro da firma ´e de π = W − 1 − pd e a utilidade dos agentes pln(W − (W − 1)) + (1 − p)ln(W − (W − 1)) = 0.

Infelizmente, sob informa¸c˜ao assim´etrica sobre o tipo de cada agente essa n˜ao ser´a a decis˜ao em equil´ıbrio da seguradora. O problema da seguradora pode ser escrito da mesma forma como escrevemos o problema da firma na ´ultima se¸c˜ao. Ela escolher´a de forma ´otima dois contratos de seguro (RH, qH) e (RL, qL) de tal forma que os agentes com risco alto escolham (RH, qH) e os agentes com risco baixo escolham (RL, qL). max qH,qL,RH,RL α(qH− pHRH) + (1 − α)(qL− pLRL)) pLln(W − d − qL+ RL) + (1 − pL) ln(W − qL) ≥ pLln(W − d) + (1 − pL) ln(W ) : (IR L) pHln(W − d − qH+ RH) + (1 − pH) ln(W − qH) ≥ pHln(W − d) + (1 − pH) ln(W ) : (IR H) pLln(W − d − qL+ RL) + (1 − pL) ln(W − qL) ≥ pLln(W − d − qH+ RH) + (1 − pL) ln(W − qH) : (IC H) pHln(W − d − qH+ RH) + (1 − pH) ln(W − qH) ≥ pHln(W − d − qL+ RL) + (1 − pH) ln(W − qL) : (IC L)

Novamente esse problema ´e bastante complicado e muitas vezes imposs´ıvel de ser resolvido ana-liticamente (como nesse caso). De qualquer forma, os mesmos resultados encontrados na ´ultima se¸c˜ao podem ser aplicados. Nos resta identificar quem far´a o papel do consumidor comum no caso dos seguros. O problema para a lucratividade da empresa surge quando os agentes com risco alto compram o seguro desenhado para os consumidores de risco baixo. Assim, a restri¸c˜ao de incentivos dos agentes com risco alto deve estar ativa. Por outro lado, os agentes com baixo risco s˜ao os mais propensos a desistir da compra da ap´olice de seguros, ent˜ao eles devem estar pelo menos indiferentes entre adquirir o seguro ou n˜ao. A sua restri¸c˜ao de participa¸c˜ao deve estar ativa.

• A restri¸c˜ao de participa¸c˜ao dos agentes com risco baixo ´e sempre ativa. • A restri¸c˜ao de incentivos dos agentes com risco alto ´e ativa.

(15)

• Ser´a oferecido aos agentes com risco alto uma ap´olice de seguro total (igual a decis˜ao ´otima da firma sob informa¸c˜ao completa).

• Os participantes com risco alto ter˜ao um excedente positivo. Esses resultados podem ser representados graficamente:

Figure 3: Contratos ´otimos em seguros sobre informa¸c˜ao incompleta

4.2 Sinaliza¸c˜ao

Os modelos de sele¸c˜ao adversa apresentados na ´ultima subse¸c˜ao capturam id´eias bastante gerais so-bre o que pode acontecer quando o agente (seguidor) tem mais informa¸c˜ao sobre uma determinada caracter´ıstica que afeta o seu payoff do que o principal (l´ıder).

O problema ´e que esse tipo de modelo n˜ao nos ajuda a entender situa¸c˜oes onde a parte informada age primeiro ou ent˜ao quando ´e do interesse da parte informada se diferenciar. Um exemplo disso s˜ao as garantias de carros usados para diferenciar entre carros de boa ou m´a qualidade (Akerlof) e educa¸c˜ao como mecanismo de sinaliza¸c˜ao no mercado de trabalho (Spence). Estudaremos ambas as situa¸c˜oes a seguir.

4.2.1 Mercado de Carros Usados (Akerlof )

Imagine que em um mercado de carros usados existem carros bons e ruins. Os carros ruins s˜ao aqueles que dado o seu hist´orico de uso apresentam um custo de manuten¸c˜ao esperado maior. Um carro bom vale G para o comprador e g para o vendedor, onde G > g. Por outro lado, um carro ruim vale L para o comprador e l para o vendedor, onde L > l. Al´em disso, G > L e g > l.

Se a qualidade do carro fosse perfeitamente observada a competi¸c˜ao entre os compradores faria com que o carro bom fosse vendido por G, enquanto o carro ruim por L.

O problema ´e que a qualidade do carro sendo negociado s´o ´e de conhecimento do vendedor e este tem incentivo a mentir sobre a qualidade do carro sendo negociado, pois este aumenta o seu lucro. Caso n˜ao exista nenhuma forma do vendedor de carros sinalizar a qualidade do ve´ıculo temos dois equil´ıbrios poss´ıveis:

• p = L, se qG + (1 − q)L < g. Assim, L < g e nenhum carro bom ´e vendido em equil´ıbrio.

• p = qG + (1 − q)L, se qG + (1 − q)L ≥ g. Ambos os tipos de carros s˜ao vendidos, mas a qualidade n˜ao ´e revelada em equil´ıbrio.

Ao vender um carro por p < g, o vendedor acaba informando que o carro ´e de p´essima qualidade. Se o vendedor aceitasse negociar um carro de boa qualidade por esse pre¸co ele estaria incorrendo em um preju´ızo, o que n˜ao ´e racional.

No segundo caso, como a propor¸c˜ao de carros bons ´e de q, o pre¸co esperado levando em considera¸c˜ao o desconhecimento dos consumidores ´e de qG + (1 − q)L. O vendedor estaria disposto a vender o carro de boa qualidade por esse pre¸co, pois ´e maior do que g.

No primeiro equil´ıbrio, devido ao problema informacional, nenhum carro de boa qualidade ´e vendido. Esse resultado ´e bastante ruim sob o ponto de vista da sociedade, pois existe um tipo de bem (carro bom) que seria vendido, mas n˜ao ´e devido `a incapacidade do vendedor convencer o cliente de forma cr´ıvel que o carro ´e de boa qualidade.

(16)

Agora suponha que o vendedor de carros pode oferecer uma garantia ao consumidor para tentar convencˆe-lo de que o carro ´e de boa qualidade. Por exemplo uma garantia de x anos tem um custo de x reais em termos esperados quando o carro ´e de boa qualidade e de 2x quando o carro ´e de m´a qualidade. Ao ser oferecido um carro com garantia de x anos tal que os consumidores acreditem que este ´e de boa qualidade, este ´e vendido por G.

A pergunta ent˜ao ´e quando o vendedor ter´a incentivos para dar garantia na venda de um carro. Fixe o primeiro caso qG + (1 − q)L < g, onde n˜ao existem incentivos para os vendedores colocarem os carros de boa qualidade a venda. O lucro ao vender um carro de m´a qualidade sem garantia ´e de L − l para o vendedor. Assim, o valor m´aximo que o vendedor estaria disposto a dar de garantia para convencer o cliente de que esse carro ´e de boa qualidade ´e:

G − 2x − l ≥ L − l G − L ≥ 2x x ≤ G − L

2

Para todo x ≤ G−L2 o vendedor tem incentivos a oferecer garantia para o produto de m´a qualidade e tentar convencer o comprador de que ele ´e de boa qualidade. Por outro lado, ao oferecer uma garantia de x = G−L2 o lucro do vendedor ao comercializar um carro de boa qualidade ´e de G−G−L2 −g = G+L2 −g. Se esse valor for positivo, o vendedor oferecer´a garantia para os carros de boa qualidade e os consumidores ter˜ao a certeza de que esse de fato ´e um carro de boa qualidade. O pre¸co para enganar os consumidores ´e muito caro e se o vendedor fizer isso ele ter´a um preju´ızo. Esse ´e um equil´ıbrio para o caso onde garantias podem ser oferecidas. Note que quando x ≤ G−L2 o consumidor n˜ao consegue ter certeza de que este ´e um carro de qualidade, ent˜ao o pre¸co em equil´ıbrio ´e igual a qG + (1 − q)L e os carros de boa qualidade n˜ao ser˜ao oferecidos.

A segunda quest˜ao ´e se o equil´ıbrio ”pooling” do segundo caso qG + (1 − q)L < g pode ser quebrado quando existe a possibilidade de oferecer garantia.

A maior garantia que o vendedor estaria disposto a dar para que o consumidor acreditasse que o carro ´e de boa qualidade:

G − 2x − l ≥ qG + (1 − q)L − lx ≤ (1 − q)(G − L)

2 .

Por outro lado, ao oferecer uma garantia de x = (1−q)(G−L)2 o lucro do vendedor ´e de:

G −(1 − q)(G − L) 2 − g ≥ qG + (1 − q)L − g (1 − q)G − (1 − q)L − (1 − q)(G − L) 2 ≥ 0 (1 − q)(G − L) 2 ≥ 0.

Ent˜ao os vendedores oferecer˜ao uma garantia de x = G−L2 e o equil´ıbrio ”pooling” ser´a quebrado.

4.2.2 Educa¸c˜ao como sinaliza¸c˜ao no mercado de trabalho (Spence)

Suponha que existam dois tipos de agente com produtividade no trabalho igual a θ1 ou θ2, onde θ1 < θ2. Cada pessoa pode escolher investir um n´umero de anos e em educa¸c˜ao atrav´es de cursos

(17)

diversos (gradua¸c˜ao, p´os e cursos de extens˜ao). Os valores s˜ao normalizados tal que θi ∈ (0, 1] e e ∈ [0, 1].

A utilidade desse agente ´e:

ui(w, e) = w + 1 − e

θi

Note que um aumento na educa¸c˜ao tem um impacto negativo ∂ui

∂e < 0 e que quanto maior for a produtividade, menor o custo de aumentar a educa¸c˜ao ∂ui

∂e∂θ < 0. A quantidade de educa¸c˜ao que uma pessoa tem ´e uma informa¸c˜ao p´ublica.

Uma pessoa que entra no mercado de trabalho com quantidade de educa¸c˜ao e ´e oferecida um sal´ario: w(e) = µ(e)θ1+ (1 − µ(e))θ2.

Onde µ(e) ´e a cren¸ca da firma sobre o funcion´ario ter uma produtividade θ1. A firma inicia esse jogo com uma cren¸ca µ0.

Um equil´ıbrio nesse mercado ´e composto pela estrat´egia de cada tipo de empregado (e∗1, e∗2) e uma cren¸ca da firma µ∗ tal que os empregados maximizem a sua utilidade e a cren¸ca seja consistente com a estrat´egia adotada em equil´ıbrio.

e∗i ∈ arg max e ui(w

(e), e) = w(e) +1 − e θi A fun¸c˜ao sal´ario oferecida aos trabalhadores w∗(e) ´e tal que:

w∗(e) = µ∗(e)θ1+ (1 − µ∗(e))θ2. Por outro lado, se e∗1 6= e∗2 temos

µ(e) = (

1 se e = e∗1 0 se e = e∗2

Se e∗1 = e∗2, ent˜ao µ∗(e) = µ0. Ou seja, ao observar a quantidade de estudo de um determinado candidato a firma n˜ao tem como saber se ele possui produtividade alta ou baixa.

Esse modelo possui dois tipos de equil´ıbrio. O primeiro ´e quando os tipos dos agentes decidem por a¸c˜oes diferentes em equil´ıbrio. Esse tipo de equil´ıbrio ´e conhecido como equil´ıbrio separador. O segundo tipo ´e quando os dois tipos de agente escolhem a mesma quantidade de educa¸c˜ao em equil´ıbrio. Esse tipo de equil´ıbrio ´e conhecido como equil´ıbrio ”pooling”. Primeiro vamos investigar os equil´ıbrios separadores.

Em um equil´ıbrio separador, dado uma cren¸ca µ, cada tipo de agente deve preferir receber o sal´ario e passar pela quantidade de educa¸c˜ao definida para o seu tipo. As duas restri¸c˜oes de incentivo devem ser satisfeitas.

O agente com produtividade baixa θ1 preferir´a o sal´ario escolhido para ele se:

θ1+ 1 θ1 ≥ θ2+1 + e1 θ1 e∗1 ≥ θ1(θ2− θ1)

(18)

Se a quantidade de educa¸c˜ao exigida para se passar por uma pessoa de produtividade alta for menor do que θ1(θ2− θ1) esse tipo de agente estaria disposto a obter o diploma e1.

Efetuando a mesma an´alise para o tipo com produtividade alta obtemos: θ2+ 1 − e2 θ2 ≥ θ1+ 1 θ2 e∗2 ≤ θ2(θ2− θ1).

Quando a quantidade de educa¸c˜ao exigida para acreditar que o candidato possui um produtividade alta ´e muito grande, at´e mesmo esse tipo de agente decide por n˜ao obter o diploma.

Os valores de e∗1 e e∗2 estabelecem limites inferiores e superiores para a quantidade de educa¸c˜ao exigida para conseguir diferenciar os dois tipos de candidatos. Assim, quando e < e1 o tipo baixo decide se educar. Por outro lado, se e > e2 at´e mesmo o tipo produtivo n˜ao opta por n˜ao obter o diploma.

No equil´ıbrio separador e∗1= 0, e∗2 > e1 e µ∗(e) = 1 se e = e∗2 e 0 caso contr´ario.

Em um equil´ıbrio ”pooling”, ambos os tipos de candidatos escolhem a mesma quantidade de ed-uca¸c˜ao. Esse n´umero m´aximo de anos de estudo ep ´e tal que:

µ0θ1+ (1 − µ0)θ2+ 1 − ep θ1 = θ1+ 1 θ1 ep = θ1(1 − µ0)(θ2− θ1).

Ao observar uma quantidade de educa¸c˜ao igual a zero o empregador sabe que se trata de um candidato com baixa produtividade. Por´em, na medida em que as cren¸cas s˜ao tais que ao escolher uma educa¸c˜ao de ep o tipo de baixa produtividade consegue obter um sal´ario µ0θ1 + (1 − µ0)θ2 esse tipo optar´a por ep. O tipo com alta produtividade sempre escolhe ep quando este ´e menor do que ep, pois o sal´ario m´edio ´e maior do que θ1.

4.3 Perigo Moral

A classe de modelos de perigo moral compreendem todas as situa¸c˜oes onde a a¸c˜ao de um agente afeta a sua utilidade e a de outro agente, e essa a¸c˜ao n˜ao ´e observada, s´o o seu resultado.

Um bom exemplo de situa¸c˜oes envolvendo perigo moral ´e a rela¸c˜ao entre os acionistas e os gerentes de uma empresa. A a¸c˜ao dos gerentes n˜ao ´e observada pelos acionistas. Eles s´o conseguem observar o resultado do trabalho do gerente (venda, lucratividade etc). Um outro exemplo ´e a rela¸c˜ao entre um paciente e o m´edico. O m´edico n˜ao observa se o paciente tomou os rem´edios corretamente ou se ele seguiu as suas orienta¸c˜oes, a ´unica coisa que ele observa ´e o seu estado de sa´ude.

No modelo que estudaremos existe um empregado e o dono da empresa (empres´ario). O empregado escolhe entre trabalhar e = 1 ou n˜ao e = 0. A utilidade do agente ´e:

u(w) − a

, onde u(w) ´e uma fun¸c˜ao estritamente cˆoncava (√w, por exemplo). O empregador (principal) observa somente se o agente tem sucesso ou fracasso na tarefa sendo realizada. Se o agente trabalhar, a proba-bilidade de sucesso ´e de P e o empregador recebe um payoff xS. Se ele n˜ao trabalhar, a probabilidade de sucesso cai para p < P e o payoff do principal ´e de xF em caso de fracasso na execu¸c˜ao da tarefa. O valor de xF < xS.

(19)

O empres´ario decidir´a os sal´arios wS e wF de forma a incentivar o empregado a trabalhar. A restri¸c˜ao de incentivos pode ser escrita como:

P u(wS) + (1 − P )u(wF) − 1 ≥ pu(wS) + (1 − p)u(wF) que pode ser reescrita como

(P − p)(u(wS) − u(wF)) ≥ 1

A diferen¸ca entre wS e wF aumenta a medida em que P fica mais pr´oximo de p, pois se torna mais dif´ıcil discernir se o agente trabalhou ou n˜ao.

Al´em da restri¸c˜ao de incentivos, existe a restri¸c˜ao de participa¸c˜ao. O empregado pode em algum momento pedir demiss˜ao e procurar um emprego em outro lugar obtendo utilidade u.

P u(wS) + (1 − P )u(wF) − 1 ≥ u

No n´ıvel de sal´arios ´otimo, ambas as restri¸c˜oes v˜ao ser satisfeitas com igualdade. O lucro do empres´ario ´e de

W1= P (xS− wS) + (1 − P )(xF − wF).

As duas restri¸c˜oes (participa¸c˜ao e de incentivos) resultam em duas equa¸c˜oes com duas vari´aveis u(wS) e u(wF). Assim, resolvendo para essas vari´aveis:

u(wF) = u − p P − p u(wS) = u + 1 − p P − p

O problema ´e que talvez induzir o agente a trabalhar seja muito caro. Nesse caso, o empres´ario pode decidir por oferecer um sal´ario tal que wF = wS = w e u(w) = u. O lucro da firma nesse caso ´e de:

W0= pxS+ (1 − p)xF − w

A diferen¸ca entre o lucro do empres´ario nos dois casos ´e de:

W1− W0 = (P − p)(xS− xF) + w − P wS− (1 − P )wF.

Na medida em que o sucesso ´e mais atraente do que o fracasso para o empres´ario xS− xF ´e grande o empres´ario vai optar por fazer o agente trabalhar.

Referências

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