Escola –Função
Social, Gestão e
Política
Escola
O termo escola vem do
grego scholé, que significa
“ lazer, tempo livre”. Foi
usado no período
helenístico para designar o
Da escola como local de lazer para os que não precisavam trabalhar, no sentido grego, evolui-se para uma compreensão
de escola burguesa de escola para todos, tornando-se a forma dominante
de educação tal como é conhecida atualmente.
A escola, em sua forma atual, surgiu com o nascimento da sociedade industrial e com a constituição do Estado nacional,
para suplantar a educação que ocorria na família e na igreja.
No século XVIII, das revoluções burguesas e do Iluminismo, ocorreram as primeiras tentativas de universalização do ensino sob a responsabilidade estatal.
No século XIX, com a urbanização acelerada e o desenvolvimento do capitalismo industrial, a maior complexidade do trabalho exigia melhor qualificação de mão-de-obra, fazendo com que o Estado interviesse na educação para estabelecer a escola elementar universal, gratuita e obrigatória.
Somente no século XVIII, primeiramente na Alemanha e na França, iniciou-se a educação pública estatal, sem que houvesse, porém, interesse em atender aos filhos dos trabalhadores.
Nos Estados Unidos ela foi inaugurada no século XIX, e no Brasil, no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, quando principiou o processo de industrialização no país.
Segundo Libâneo, a idéia de escola pública e obrigatória para todos data dos séculos XVIII e XIX; em quase 300 anos, inúmeros estudiosos tentaram entender e explicar a organização social capitalista e essa sua importante instituição.
A escola surge da
necessidade que
se tem de
transmitir de forma
sistematizada o
saber acumulado
pela humanidade.
Embora constituindo-se no espaço específico que a sociedade reservou para veicular o conhecimento que se julga importante transmitir às novas gerações, a escola permaneceu como a grande esquecida das políticas educacionais.
Que articulações
existem entre
escola e
cidadania?
Se toda comunidade política se caracteriza pela coexistência de várias tradições, a escolaridade tem significado particular. A
escola, de fato, institui a cidadania. É ela o lugar onde as crianças deixam de pertencer exclusivamente à família para integrarem-se numa comunidade mais ampla em que os indivíduos estão reunidos não por vínculos de parentesco ou de afinidade, mas pela obrigação de viver em comum. A escola institui, em outras palavras, a coabitação de seres diferentes sob a autoridade de uma mesma regra. (CANIVEZ, 1991 p 33)
A prática escolar consiste na concretização das condições que asseguram a realização do trabalho docente. Tais condições não se reduzem ao estritamente “pedagógico”, já que a escola cumpre funções que lhe são dadas pela sociedade concreta que, por sua vez, apresenta-se como
constituída por classes sociais com interesses antagônicos. A prática escolar, assim, tem atrás de si condicionantes sociopolíticos que configuram diferentes concepções de homem e de sociedade e, conseqüentemente diferentes pressupostos sobre o papel da escola, aprendizagem, relações professor –aluno, técnicas pedagógicas, etc. (LIBÂNEO, 1986 p. 19)
A escola na perspectiva das
tendências pedagógicas
Tendência liberal tradicional
A escola é chamada a cumprir uma clássica função, enquanto
instituição encarregada da transmissão da cultura do
saber sistematizado .
“ A atuação da escola consiste na preparação intelectual e moral dos alunos para assumir
sua posição na sociedade. O compromisso da escola é com a cultura, os problemas sociais pertencem a sociedade.”
Tendência liberal
renovada progressista
Nessa perspectiva , educação é concebida como um processo ativo,
onde à escola cumpre retratar a vida, buscando “ suprir as experiências
que permitam ao aluno educar-se, num processo ativo de construção e
reconstrução do objeto, numa interação entre estruturas cognitivas
do indivíduo e estruturas do ambiente.”
Tendência liberal tecnicista
A função da escola se orienta para “ produzir indivíduos ‘ competentes’
para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente, informações precisas, objetivas e
Tendência libertária progressista
“uma transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e autogestionário. “
LIBÂNEO p 36
A escola é chamada a cumprir um papel de transmissão dos
conhecimentos universais, buscando a transformação
social.
Tendência progressista crítico - social dos conteúdos.
A função da escola se articularia com a “ preparação
do aluno para o mundo adulto e suas contradições , fornecendo-lhe um instrumental, por meio da
aquisição de conteúdos e da socialização , para uma participação organizada e ativa
na democratização da sociedade” LIBÂNEO p 39
No contexto de uma sociedade
caracterizada pela
globalização
econômica
e
pela difusão do
conhecimento em rede
,
o papel
e a função social da escola
, por
certo,
são redimensionados
.
A compreensão da relação sociedade/escola tende a abrigar três posturas: de acordo com
(CORTELLA, 2000 p 131-136)
O otimismo ingênuo Atribui à escola uma missão “Salvífica”
O pessimismo ingênuo Instrumento de dominação
Otimismo crítico
A escola é percebida como instituição social contraditória que comporta, ao
mesmo tempo, a conservação e a inovação , podendo “ servir para
reproduzir as injustiças mas, concomitantemente (…) funcionar como instrumento para mudanças”
A escola na perspectiva de
organismo internacionais
Divisor de águas
Conferência Mundial de Educação para todos, realizada em Jomtien, na Tailândia , em1990.
Conferência de Nova Delhi ( 1993)
As reuniões do Projeto Principal de Educação na América Latina e do Caribe
OBS. Nesses eventos são elaborados declarações com as quais se comprometem os países signatários dos diferentes acordos firmados.
A proposta da CEPAL foi formulada em 1990, resultando, posteriormente, na publicação
Educação e Conhecimento: eixo da transformação produtiva com equidade .
No campo educacional estas enfatizam o ensino fundamental, médio e médio profissional e o desenvolvimento tecnológico .” Tal estratégia contempla objetivos básicos (cidadania e competitividade), diretrizes de políticas (equidade e desempenho) e de reforma institucional (integração e descentralização)”
Obs. Embora não muito discutidas no campo da pesquisa em educação brasileira, têm expressiva difusão nas estruturas de planejamento do país.
Documento que sinalizou na direção de uma nova concepção de educação, e
conseqüentemente da função social da escola
Informe produzido pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, da UNESCO; Educação: um tesouro a descobrir de 1999, também
conhecido como “Relatório Jacques Delors”.
SER
FAZER APRENDER CONVIVER
O Relatório traz algumas considerações sobre a “ administração escolar”
A pesquisa e a observação empírica mostram que um dos principais fatores da eficácia escolar ( se não o principal), reside nos órgãos diretivos dos estabelecimentos de ensino. Um bom administrador, capaz de organizar um trabalho de equipe eficaz e tido como competente e aberto consegue, muitas vezes, introduzir no seu estabelecimento de ensino grandes melhorias. É preciso, pois, fazer com que a direção das escolas sejam confiada a profissionais qualificados, portadores de formação específica, sobretudo em matéria de gestão. Esta qualificação deve conferir aos gestores um poder de decisão acrescido e gratificações que compensem o bom exercício de suas delicadas responsabilidades .( DELORS, p 163)
A escola nos documentos da
política educacional brasileira
• É no início da década de 90, que a escola começa a aparecer.
• Momento chave o Seminário sobre Qualidade, Eficiência e Equidade na Educação Básica, promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, realizado em novembro de 1991, em Pirenópolis.
Na perspectiva de repensar sobre o gigantismo burocrático dos sistemas de ensino e sobre a melhor alocação de
recursos humanos às escolas.Cada
escola deve ter autonomia para elaborar seu próprio projeto institucional e pedagógico, visando a melhoria da
qualidade com equidade. O papel das
instâncias centrais deve ser o de estabelecer diretrizes mínimas, flexíveis e alternativas, de avaliar os resultados e de desregulamentar as exigências formais. (Gomes & Amaral Sobrinho, org. 1992)
• Ainda em Pirenópolis chega o texto
Autonomia da Escola: possibilidades, limites e condições, de Mello (1992,p.175-205)
posteriormente republicado no livro
Cidadania e competitividade: desafios educacionais do terceiro milênio.
• O ano de 1993, oferece um registro
importante para a compreensão do foco sobre a escola. O Plano Decenal de Educação para Todos.
O ex. ministro Murílio Hingel, assinala a importância de um “ esforço integrado e compartilhado entre todas as esferas e agentes do processo educativo, ou seja, a União, os Estados e Municípios, as escolas, os professores e dirigentes escolares, as famílias e a sociedade civil “ na “ luta pela recuperação da educação básica do País”
Torna -se cada vez mais importante que cada uma dessas instâncias e
segmentos assumam compromisso
públicos com a melhoria do ensino,
fazendo da escola um centro de qualidade e cidadania, com professores e dirigentes devidamente valorizados, ajudando o País a edificar um eficiente sistema público de educação básica.( Brasil, MEC.1993)
Em 1994, uma oportuna contribuição à discussão sobre escola vem a público – o projeto Raízes e Asas.Trata –se de um estudo empreendido pelo Centro de Pesquisas para Educação e Cultura – CENPEC que relata experiências de 16 escolas brasileiras envolvidas em ações voltadas para a melhoria da qualidade do ensino de seus alunos.
Na Conferência Nacional de Educação para Todos (1994) a escola permanece em foco, sob o argumento de que “ a discussão do Plano Decenal nas escolas, mostrou a importância de rever-se os mecanismos de gestão escolar, de forma a torná-la inteiramente voltada para o êxito e o crescimento humano das crianças e dos adolescentes” ( Brasil. MEC.1994 p 575)
No âmbito da reunião é realizado um painel sobre “ O Projeto Pedagógico da
Escola “, que enfoca vários aspectos
referentes ao tema. O relatório do evento reitera que “ a construção dos projetos político - pedagógico das escolas requer a descentralização e a democratização do processo de tomada de decisões” e que “ a autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte do ato pedagógico “.
O presidente Fernando Henrique
(1995) em seu discurso de
posse, acena para onde se
dirigirá o olhar da política
educacional de seu governo, ao
afirmar que
“ a escola precisa
voltar a ser o centro do processo
de ensino”
.
• Todos os estudos e diagnósticos apontam a escola fundamental como a raiz dos problemas educacionais do povo brasileiro. Portanto, a prioridade absoluta será a de promover o fortalecimento da escola de primeiro grau. Há escolas, há vagas, há evasão, há repetência, há professor mal treinado, professor mal pago, há desperdício. Para trilhar um caminho de seriedade, é preciso acima de tudo, valorizar a escola e tudo o que lhe é próprio: a sala de aula e os professores; o currículo e a formação dos mestres; o resultado da aprendizagem. Planejamento político –estratégico ( p.3)
… é exclusivamente na escola que os
resultados podem ser alcançados. A escola, portanto, sintetiza o nível gerencial-operacional do sistema: a escola fundamental, a escola de ensino médio, a instituição de ensino superior. É na escola que estão os problemas e é na escola que está a solução. Planejamento político –estratégico ( p.4)
O Planejamento político-estratégico é
inteiramente permeado pela idéia da autonomia escolar que se expressa, inclusive, no mecanismo de repasse
automático de recursos. (p.6)
O repasse envolve recursos
suplementares para a manutenção de escolas públicas, através do Fundo
Nacional de Desenvolvimento da
Educação –FNDE
Iniciado em 1995, o programa ,
• Outra ilustração
do interesse da
política educacional sobre a
escola
refere-se ao Programa TV
Escola.
• Também
a
estratégia
de
divulgação
dos
Parâmetros
O foco na escola se traduz também em alguns dispositivos da LDB.
• O primeiro deles refere-se às incumbências dos estabelecimentos de ensino, quais
sejam:
I. Elaborar e executar sua proposta pedagógica;
II. Administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;
III. Assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV. Velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;
V. Promover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI. Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de
integração da sociedade com a escola;
VII.Informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica (Art. 12)
A escola também é referida no artigo que trata da “gestão democrática do ensino
público na educação básica”.
I. “Participação dos profissionais
da educação na elaboração do
projeto pedagógico da escola;
II. Participação das comunidades
escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes.
“Autonomia escolar” é tratada
em dispositivo que prevê que :
“Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público”. ( Art. 15)
A escola tem sido ao longo da história e permanece sendo a instituição social que, por
excelência
trabalha com o conhecimento de forma
sistemática e organizada. A ela cabe ensinar e
garantir a aprendizagem de certas habilidades e conteúdos necessários à inserção das novas
gerações na vida em sociedade, oferecendo
instrumentos de compreensão da realidade e favorecendo a participação dos educandos em relações sociais diversificadas e cada vez mais amplas. ( CENPEC, 1994 p.11)
“ há um espaço de atuação, no âmbito de cada unidade escolar, que pode e
deve ser ocupado por seus educadores “
Nesse processo, há que se buscar também um caminho para que a população e os usuários da escola a
A educação básica é o cimento social necessário à consolidação do Estado democrático de direito,
sendo a escola universalizada e de qualidade, voltada para a aquisição e o domínio dos
conteúdos básicos do
conhecimento universal, condição para o exercício da cidadania. Plano Decenal de Educação
Referências Bibliográficas
DAVIS, Cláudia…[ et al]; VIEIRA, Sofia Lerche(org.) Gestão da escola: desafios a enfrentar . Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
DELORS, Jacques. Educação :um tesouro a descobrir - 4 ed.- São Paulo: Cortez; Brasília , DF: MEC : UNESCO,2000.
FERREIRA, Naura Syria Carapeto; AGUIAR, Márcia Ângela da S. (Orgs.) Gestão da Educação : impasses, perspectivas e compromissos.
LIBÂNEO, José Carlos ; OLIVEIRA, João Ferreira de.; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas, estrutura e organização 6 ed. São Paulo: Cortez, 2008.
PARO, Vitor Henrique . Gestão escolar, democracia e qualidade do ensino. São Paulo . Ática .2007.
PENIN, Sonia Teresinha de Sousa. Progestão: como articular a função social da escola com as especificidades e as demandas da comunidade? Módulo I. Brasília: CONSED- Conselho Nacional de Secretários de Educação, 2001.