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Desastres socioambientais na região metropolitana de Florianópolis: uma história das inundações

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Academic year: 2021

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Luís Guilherme Fagundes

DESASTRES SOCIOAMBIENTAIS NA REGIÃO METROPOLITANA DE FLORIANÓPOLIS: UMA HISTÓRIA

DAS INUNDAÇÕES

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Mestre em História. Orientadora: Professora Doutora Eunice Sueli Nodari.

Florianópolis 2018

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática da Biblioteca

Universitária da UFSC.

Fagundes, Luís Guilherme

Desastres socioambientais na Região Metropolitana de Florianópolis : uma história das inundações / Luís

Guilherme Fagundes ; orientadora, Eunice Sueli Nodari, 2018.

273 p.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História, Florianópolis, 2018.

Inclui referências.

1. História. 2. Desastres

Socioambientais. 3. Inundações. 4. Região Metropolitana de Florianópolis.

5. História Ambiental. I. Nodari, Eunice Sueli. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em História. III. Título.

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Dedico este trabalho a meus amores, Luís, Liana e Aline.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar gostaria de agradecer imensamente meu pai Luís e minha mãe Liana, que trabalharam muito para que eu pudesse ter essa oportunidade, espero um dia conseguir retribuir toda a dedicação e o amor com o qual foi criado e educado. Amo vocês. A minha amada Aline, agradeço pela paciência, pelo carinho e companheirismo. O caminho seria muito mais duro sem vocês três ao meu lado.

Devo também um muito obrigado a minha orientadora Eunice Nodari, por sempre me incentivar e acreditar na minha capacidade, assim como sou extremamente grato ao professor João Klug por abrir as portas do Laboratório de Imigração, Migração e História Ambiental (LABIMHA) e por seus conselhos que levo para a vida. E ao professor Manoel Teixeira que esteve presente em várias etapas de minha trajetória, sempre me dando novas oportunidades.

Aos “quirídush” Marcos Aurélio e Alfredo Ricardo, ainda que mais distantes neste ciclo do mestrado devido aos caminhos que a vida toma, saibam que vocês são para mim referências como pesquisadores, professores e amigos. “Rapazish, vocês são uns monstru!”

Não poderia, jamais, deixar de agradecer ao staff dos “bonitos” Angela, Lincon e Nilo, que foram verdadeiros amigos, ajudando em todas as frentes possíveis. Guardo vocês no coração. Ao amigo Lucas Mores, por enriquecer tanto minhas discussões sobre desastres, como também meu conhecimento sobre futebol durante os momentos de descontração. Aos meus grandes amigos de infância Jorge e Pedro que me ajudaram a encarar os dias difíceis de forma mais leve.

Por fim, agradeço a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela bolsa de mestrado. E, ainda a todos aqueles que contribuíram de alguma forma para o resultado deste trabalho. Muito obrigado a todos vocês.

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“Quem mora em Palhoça (...) e sofreu na pele uma das maiores enchentes da região, ainda carrega o medo no olhar quando o céu escurece e o Cambirela some por detrás das nuvens”.

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RESUMO

A presente dissertação tem o intuito de examinar se o processo de urbanização da Região Metropolitana de Florianópolis (RMF) contribuiu para a produção ou potencialização das inundações durante o período de 1970 a 1999, e em caso positivo, analisar de que forma isso ocorreu. Apesar de Santa Catarina ser reconhecida na mídia nacional como um estado onde ocorrem grandes catástrofes, geralmente as inundações são relacionadas apenas com a mesorregião do Vale do Itajaí, desconsiderando o significativo histórico de desastres que possuem as demais regiões. Dessa forma, entendendo os desastres como acontecimentos complexos, que reúnem em si dimensões naturais e culturais, buscamos compreender como a interação entre humanos e ambiente na RMF resultou na produção e/ou potencialização das inundações. Para isso propomos uma análise que integra a base teórica da História Ambiental à uma abordagem serial-quantitativa, o que permite estabelecer as características principais que as inundações assumiram durante o recorte temporal escolhido. Por fim, buscando qualificar esta análise, historicizamos algumas inundações consideradas as mais significativas do período, com o intuito perceber de que forma foram retratadas pelo periódico estadual “O Estado”, com foco especial nas causas apontadas como preponderantes para a ocorrência desses desastres.

Palavras-chave: desastres socioambientais, inundações, Região

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ABSTRACT

The purpose of this dissertation is to examine if the urbanization process of the Metropolitan Region of Florianópolis (MRF) contributed to the production or increase of floods during the period from 1970 to 1999, and if so, to analyze how this occurred. Although Santa Catarina State is recognized in the national media as a state where major catastrophes occur, floods are usually related only to the mesoregion of the Vale do Itajaí, disregarding the significant history of disasters that the other regions have. Thus, understanding disasters as complex events that bring together natural and cultural dimensions, we seek to understand how the interaction between humans and the environment in the RMF has resulted in the production and / or enhancement of floods. For this, we propose an analysis that integrate the theoretical base of the Environmental History with a serial-quantitative approach, which allow to establish the main characteristics that the floods assumed during the chosen temporal cut-off. Finally, in order to qualify this analysis, we historicize some floods considered the most significant of the period, with the aim of perceiving how they were portrayed by the newspaper "O Estado", with a special focus on the causes indicated as preponderant for the occurrence of these disasters.

Key-words: socio-environmental disasters, flood, Metropolitan Region

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Municípios constituintes da RMF...40 Figura 2 – Bacias hidrográficas de Santa Catarina ...52 Figura 3 – Localização da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição ..73 Figura 4 – Parte da capa da edição de 6 de setembro de 1977 do periódico “O Estado” ...176 Figura 5 – Aspecto da inundação de setembro de 1977, Biguaçu ...181 Figura 6 – Aspecto do loteamento Padre Réus em Palhoça em dezembro de 1983 ...190 Figura 7 – Charge “O mar do aterro” ...193 Figura 8 – Montagem com as fotografias da capa da edição de 18 de dezembro de 1983 ...197 Figura 9 – Desvios de precipitação em relação à média climatológica – 1984 ...201 Figura 10 – Desvios de precipitação em relação à média climatológica – 1983 ...202 Figura 11 – Parte da capa da edição de 26 de dezembro de 1995 do periódico “O Estado” ...209

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – Unidades Geoambientais do litoral central de Santa Catarina..43

Mapa 2 – Bacia Hidrográfica do Rio Inferninho...55

Mapa 3 – Localização da Bacia do Rio Biguaçu...57

Mapa 4 – Bacia Hidrográfica do Rio Biguaçu...58

Mapa 5 – Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão Sul...60

Mapa 6 – Localização da Bacia do Rio da Madre...62

Mapa 7 – Bacias Hidrográficas da Ilha de Santa Catarina...63

Mapa 8 – Bacia Hidrográfica do Rio Ratones...68

Mapa 9 – Bacias Hidrográficas do Saco Grande e do Rio Itacorubi...69

Mapa 10 – Bacias Hidrográficas do Rio Tavares e da Tapera...71

Mapa 11 – Unidades Hidrológicas da Lagoa da Conceição...74

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Crescimento populacional na área de estudo (1959 e 2000)

...104

Tabela 2 – População não natural residente nos municípios da RMF (1970-2000) ...106

Tabela 3 – Período de ocorrência das inundações (1970-1979) ...145

Tabela 4 – Período de ocorrência das inundações (1980-1989) ...150

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Amplitude das inundações (1970-1979) ...144 Gráfico 2 – Amplitude das inundações (1980-1989) ...147 Gráfico 3 – Amplitude das inundações (1990-1999) ...152 Gráfico 4 – Média anual de precipitação da estação meteorológica de São José (1911-2003) ...158 Gráfico 5 – Evolução das inundações com base na amplitude (1970-1990) ...162 Gráfico 6 – Média mensal de precipitação na RMF entre 1970-1999 ...166

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LISTA DE SIGLAS

APSC - Arquivo Público de Santa Catarina ARENA - Aliança Renovadora Nacional ARENA - Aliança Renovadora Nacional

BDE - Banco de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina BNH - Banco Nacional de Habitação

BPSC - Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina CASAN - Companhia Catarinense de Água e Abastecimento

CCB - Centro de Ciências Biológicas CCMs - Complexos Convectivos de Mesoescala CEAU - Conselho de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo

CEDEC - Coordenadoria Estadual de Defesa Civil CELESC - Centrais Elétricas de Santa Catarina CEPED - Centro Universitário de Estudo e Pesquisa sobre

Desastres

COBRADE - Classificação e Codificação Brasileira de Desastres COHAB-SC - Companhia de Habitação do Estado de Santa

Catarina

COMCAP - Companhia de Melhoramentos da Capital CTC - Centro Tecnológico

DNOS - Departamento Nacional de Obras de Saneamento ELETROBRÁS - Centrais Elétricas Brasileiras ELETROSUL - Centrais Elétricas do Sul do Brasil ELOS - Fundação Eletrosul de Previdência e Assistência Social

ENOS - El Niño - Oscilação Sul

EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão do Estado de Santa Catarina

ESEC Carijós - Estação Ecológica de Carijós ESPLAN - Escritório Catarinense de Planejamento Integrado FIESC - Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina

FLORAM - Fundação Municipal do Meio Ambiente FOD - Floresta Ombrófila Densa

FPA - Frente Polar Atlântica

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPUF - Instituto de Planejamento de Florianópolis LAC - Levantamento Agropecuário de Santa Catarina

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mPa - Massa Polar Atlântica mTa - Massa Tropical Atlântica mTc - Massa Tropical Continental

NSC - Nossa Santa Catarina OE - O Estado

PCD - Projeto Catarinense de Desenvolvimento

PDAMF - Plano de Desenvolvimento da Área Metropolitana de Florianópolis

PLAMEG - Plano de Metas do Governo Estadual PNDs - Planos Nacionais de Desenvolvimento

PSD - Partido Social Democrático RBS - Rede Brasil Sul de Comunicações RH8 - Região Hidrográfica Litoral Centro RMF - Região Metropolitana de Florianópolis S2ID - Sistema Integrado de Informações sobre Desastre SERFHAU - Serviço Nacional de Habitação e Urbanismo

SFH - Sistema Federal de Habitação

SUDERF - Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Florianópolis

UDN - União Democrática Nacional UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

UH - Unidades Hidrológicas

UNDESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 27 CAPÍTULO 1 – A REGIÃO METROPOLITANA: CONDIÇÕES AMBIENTAIS E AÇÃO HUMANA ... 37 1.1 – O meio... 41 1.1.1 – Relevo ... 41 1.1.2 - Cobertura vegetal ... 44 1.1.3 – Dinâmica atmosférica... 47 1.1.4 - Hidrografia ... 52 1.2 – Os humanos ... 78

1.2.1 – A participação estatal na urbanização brasileira e catarinense ... 78 1.2.2 – Expansão urbana na Região Metropolitana de Florianópolis ... 87

CAPÍTULO 2 – EXPLORANDO OS DESASTRES: ABORDAGEM SERIAL-QUANTITATIVA DAS INUNDAÇÕES ... 111 2.1 – Os desastres: do excepcional ao ordinário ... 111 2.2 – Da história dos preços à história dos desastres: um caminho possível para a abordagem serial-quantitativa ... 128 2.3 – As inundações dos números: frequência, amplitude e período. ... 136

2.3.1 – Trinta anos de inundações ... 153

CAPÍTULO 3 – “OS CULPADOS DA CHUVA”: AS INUNDAÇÕES NAS PÁGINAS DO PERIÓDICO “O ESTADO” ... 167 3.1 – Setembro de 1977: “O drama que se agrava a cada chuva”. ... 174 3.2 - Dezembro de 1983: “violência das águas traz mais destruição” ... 187 3.3 – Dezembro de 1995: “calamidade no Natal” ... 206 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 229 REFERÊNCIAS ... 233 APÊNDICE A – Inundações ocorridas no período de 1970 a 1979 ... 265 APÊNDICE B – Inundações ocorridas no período de 1980 a 1989 ... 267 APÊNDICE C – Inundações ocorridas no período de 1990 a 1999 ... 270 APÊNDICE D – Totais pluviométricos mensais da RMF de 1970 à 1999 ... 273

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INTRODUÇÃO

Desde os anos 1970 o interesse pelos assuntos relacionados ao meio ambiente cresceu significativamente. Neste vasto campo de discussões, que inclui tópicos como a relação dos humanos com a fauna e a flora, os impactos resultantes das atividades agropecuárias, o destino dos resíduos sólidos, os usos da água, a produção de alimentos, as mudanças climáticas, entre outros, a temática dos desastres ganha cada vez mais espaço e relevância. Esse interesse crescente tanto em noticiar como pesquisar as catástrofes, em parte, pode ser explicado pela enorme quantidade de pessoas que são afetadas todos os anos e os elevados prejuízos que os diferentes desastres provocam.

O aumento da frequência e da intensidade desses acontecimentos é praticamente consenso entre as bases de dados mundiais.1 No Brasil, por exemplo, o total de desastres registrados passou de aproximadamente 8.600 na década de 1990 para 23.200 nos anos 2000.2 Embora as prováveis lacunas existentes na documentação sejam mais significativas nos anos mais remotos e a evolução dos sistemas de informação empregados para o registro proporcionem uma melhor qualidade e quantidade de dados disponíveis, ainda assim a diferença entre as duas décadas é preocupante.

Durante este mesmo período, estima-se que mais de 96 milhões de brasileiros foram atingidos por algum tipo de desastre, com destaque para as secas e inundações que respondem respectivamente por 50% e 40% desse total. O restante dos atingidos sofreram principalmente com vendavais, granizo, geadas, incêndios florestais, movimentos de massa, erosões e tornados.3

Um recente relatório elaborado pelo Centro Universitário de Estudo e Pesquisa sobre Desastres (CEPED) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com apoio do Banco Mundial, revelou que de

1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres. Relatório dos danos materiais e prejuízos

decorrentes de desastres naturais no Brasil: 1995-2014, Florianópolis: CEPED

UFSC, 2016, p. 228.

2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres. Atlas brasileiro de desastres naturais

1991 a 2012: volume Brasil. Florianópolis: CEPED UFSC, 2012. p. 28.

Disponível em: http://150.162.127.14:8080/atlas/Brasil%20Rev.pdf. Acesso em: 10 ago. 2015

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1995 à 2014, em todo o Brasil, o prejuízo com desastres ultrapassou a marca de 182 bilhões de reais.4 Apenas em Santa Catarina, este número chegou a 17,6 bilhões de reais, resultando em uma perda média de 881 milhões de reais ao ano, o que significa 0,4% do PIB do estado.5 Além disso, até 2012, da lista dos setenta municípios mais afetados por desastres no país, trinta e quatro eram catarinenses, incluindo os sete primeiros colocados. 6

Entretanto, é importante destacar que apesar da dimensão que assumiram a partir da segunda metade do século XX, a relação dos humanos com os desastres remontam a milhares de anos atrás, ao ponto de diferentes mitologias relacionarem a origem do mundo à inundações e secas.

No que diz respeito ao litoral central de Santa Catarina, onde está localizada a Região Metropolitana de Florianópolis (RMF), podemos afirmar com base em diferentes fontes que, pelo menos desde o início do século XIX, já ocorriam eventos como estes, algumas vezes provocando severos prejuízos e até mesmo mortes.

Na obra Chorografia de Santa Catarina, publicada em 1905, José Vieira da Rosa7 comenta que as “terríveis lestadas”8 eram temporais

4 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2016, op. cit., p. 228. 5 Ibid., p. 71.

6 Ibid., p. 89.

7 José Vieira da Rosa nasceu no ano 1869 em São José e cursou a Escola Militar do Rio de Janeiro entre 1888 e 1892. Foi também diretor do Serviço Geográfico e Inspetor de Proteção aos Índios de Santa Catarina, além de colaborador dos jornais Folha do Commercio e Terra Livre de Florianópolis. Fonte: PAULI, Evaldo. Gal. Paulo Gonçalves Weber Viera da Rosa, um filósofo do dia-a-dia apud BRANDT, Marlon. O espaço rural dos campos do Planalto na Chorographia de Santa Catharina. História: Debates e Tendências, v. 9, n. 1, p. 218-231,

jan/jun. 2010. Disponível em:

http://www.upf.br/seer/index.php/rhdt/article/view/3217. Acesso em: 17 jul. 2016.

8 Maurici Monteiro explica que o sistema de Circulação Marítima, conhecido popularmente como lestada forma muitas nuvens e chuva na costa catarinense e, dependendo da quantidade de umidade e dos ventos, pode chegar a vários quilômetros no interior do continente. A circulação marítima ou oceânica é uma brisa em escala regional, e nada mais é do que ventos úmidos que chegam à zona costeira oriundos dos anticiclones polares, quando a trajetória destes é marítima, ou seja, quando se deslocam sobre o Atlântico a leste do Uruguai e Sul do Brasil em direção ao Sudeste. Fonte: MONTEIRO, Maurici A. Dinâmica atmosférica e

a caracterização dos tipos de tempo na Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá.

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perigosos e muito temidos pelos navegantes e habitantes desta porção do litoral catarinense.

Soprando do largo oceano para terra, impelle os navios para o littoral onde muitos vem sossobrar nos arrecifes que bordam as nossas costas. As chuvas tocadas com tal vento vão de encontro a serra, dando logar a desmoronamentos, cheias de rios e prejuízos de toda sorte. Felizmente não são muito communs taes flagellos.9

Como fica evidente no trecho acima, para José Vieira da Rosa, os desdobramentos danosos provocados pelas “lestadas” não eram muito comuns no século XIX, ao ponto de merecerem destaque em sua obra, apenas quatro episódios, ocorridos em 1811, 1830, 1838 e 1897. Destes quatro temporais, o de março de 1838 parece ter sido o que mais graves consequências produziu. Segundo o autor, naquela ocasião, durante três dias não apenas Desterro (atual Florianópolis), mas toda a costa da então Província de Santa Catarina, foi atingida por uma forte chuva e um vento leste de igual intensidade que provocaram a destruição de plantações, pontes e embarcações. Além disso, prédios públicos foram arruinados e algumas casas desmoronaram, enquanto outras foram arrastadas até o mar, causando a morte de muitas pessoas. Igualmente destrutivos foram os deslizamentos, que carregaram tamanha quantidade de solo até o mar que o deixaram com um tom avermelhado há grande distância da terra firme.10 A “lestada” já durava três dias quando, em 11 de março, o Presidente da Província João Carlos Pardal, enviou o primeiro ofício, de uma série de sete que destinaria à Câmara Municipal de Desterro entre março e julho, à respeito das providências a serem tomadas face ao flagelo que havia acometido a Capital. Neste primeiro documento, informou já estar ciente da situação da cidade e desejando prevenir maiores estragos diante do estado em que se encontravam alguns edifícios, solicitou que os presos da Casa de Câmara e Cadeia fossem utilizados nos serviços de

Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. Disponível em: http://tede.ufsc.br/teses/PGCN0300.pdf. Acesso em: 21 ago. 2018.

9 ROSA, Vieira da. Chorographia de Santa Catharina. Florianópolis: Typ. da Livraria Moderna, 1905. p. 39.

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reparos mais urgentes.11 Apenas três dias depois, o Presidente da Província destina um conto de réis para serem utilizados nestes primeiros reparos.12

A destruição da grande maioria das lavouras, não apenas da Ilha, mas também de parte do continente fronteiriço a ela impôs um período de privação a muitas famílias e criou um certo temor de um desabastecimento de alimentos. Perante tal situação, a Assembleia Legislativa Provincial se reúne e recomenda que a Câmara Municipal de Desterro apresente com urgência uma Postura, que regulasse a excessiva exportação de gêneros de primeira necessidade evitando assim a falta desses produtos. 13

Este episódio de março de 1838 também foi descrito por Lucas Alexandre Boiteux, em Notas para a historia catharinense, de 1912. Nesta obra o autor ressalta que naquela ocasião a Assembleia Legislativa Provincial votou um crédito especial para cobrir os enormes prejuízos que Desterro sofreu com o temporal, sendo Jeronymo Francisco Coelho, então deputado geral, o responsável por obter um auxílio de quarenta contos para serem distribuídos entre os lavradores prejudicados. Entretanto, de acordo com Lucas A. Boiteux, apenas metade desse valor, vinte contos, foram obtidos, e ainda assim, destinados à outro fim.14

Outros eventos que ocorreram neste século tiveram um poder destrutivo menor, mas de alguma forma também interferiram no cotidiano

11 Ofício enviado pelo Presidente da Província de Santa Catarina João Carlos Pardal ao Presidente e aos Vereadores da Câmara Municipal de Desterro relativo às providências a serem tomadas para a restauração da cidade em virtude do temporal, em 11 de março de 1838. Acervo do Arquivo Histórico do Município de Florianópolis - Professor Oswaldo Rodrigues Cabral.

12 Ofício enviado pelo Presidente da Província de Santa Catarina João Carlos Pardal ao Presidente e aos Vereadores da Câmara Municipal de Desterro relativo à liberação de verba para os reparos mais urgente dos estragos causados pela tempestade, em 14 de março de 1838. Acervo do Arquivo Histórico do Município de Florianópolis - Professor Oswaldo Rodrigues Cabral.

13 Ofício enviado pelo Presidente da Província de Santa Catarina João Carlos Pardal ao Presidente e aos Vereadores da Câmara Municipal de Desterro relativo à exigência de tomadas de providências quanto à excessiva exportação de gêneros de primeira necessidade para que se evite a carência dos mesmos na cidade em razão dos estragos da lavoura causados pela tempestade, em 26 de março de 1838. Acervo do Arquivo Histórico do Município de Florianópolis - Professor Oswaldo Rodrigues Cabral.

14 BOITEUX, Lucas Alexandre. Notas para a historia catharinense. Florianópolis: Liv. Moderna, 1912, p. 332.

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dos, ainda pequenos, núcleos de ocupação desta região. Foi assim em novembro 1828, quando duas levas de imigrantes alemães chegaram a Desterro com destino ao alto vale do Rio Maruim para a fundação de uma colônia. Contudo, no final daquele mês, uma grande inundação alagou as várzeas do rio Maruim e impossibilitou a passagem dos colonos. Eles só conseguiram chegar ao seu destino no ano seguinte, para então fundar a Colônia São Pedro de Alcântara, que deu origem ao município homônimo. 15

Apesar de José Vieira da Rosa considerar estes acontecimentos raros no oitocentos, é possível afirmar que, desde o último quarto do século em Desterro, já existia a correlação entre chuvas abundantes e danos, sejam eles materiais ou humanos. Esta ao menos parece ser a associação que fez o engenheiro da Província Polydoro Olavo de Santhiago no Ofício destinado ao Presidente da Província Antônio de Almeida Oliveira em 1979: “É pois, para mim, fora de duvida a necessidade, senão urgência, de uma medida que acautele centenas de vidas e interesses ameaçados todas as vezes que chuvas mais copiosas cahem sobre esta capital”.16

Esta breve exposição sobre desastres que aconteceram num momento anterior ao recorte temporal deste trabalho, não deve ser vista como uma tentativa de encontrar o evento primevo, aquele que seria fundador de uma herança de catástrofes no território que viria a se tornar a RMF. A intensão, é tão somente perceber que a ocorrência desses eventos é pretérita a fenômeno de expansão desses núcleos urbanos na metade do século XX, evidenciando uma relação de longa data entre seus habitantes e os desastres.

A presente dissertação tem por objetivo examinar se o processo de urbanização da RMF contribuiu para a produção ou potencialização das inundações durante o período de 1970 a 1999, e em caso positivo, analisar de que forma isso ocorreu. Desta forma, buscando alcançar tal objetivo, esta dissertação propõe o uso integrado das abordagens serial-quantitativa e qualitativa, sob o olhar da História Ambiental. A escolha do aporte teórico da História Ambiental justifica-se por sua capacidade de

15 GERLACH, Gilberto; MACHADO, Osni. São José da Terra Firme. São José: Floriprint, 2007, p. 21.

16 Ofício de Polydoro Olavo de Santhiago, Engenheiro da Província, para Antônio de Almeida Oliveira, Presidente da Província, sobre os danos que as chuvas trazem para a Capital e as providências a serem tomadas. Desterro, 18 ago. 1879. p. 149/149v. F. Pres. P (eng) S1. 2/vol. 18. p. 149. Acervo do Arquivo Público de Santa Catarina

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incorporar a dimensão biofísica a outras dimensões mais comumente abordadas pela historiografia como a política, a econômica, a social e a cultural, e trabalhá-las conjuntamente.17

A partir desse pressuposto, a compreensão dos diversos aspectos do agir humano exige um intenso diálogo com outras disciplinas como a Geografia, a Geologia, a Biologia, a Meteorologia, a Antropologia e a Sociologia o que torna este campo interdisciplinar por excelência. Como afirma o historiador José Augusto Drummond:

A História Ambiental é, portanto, um campo que sintetiza muitas contribuições e cuja prática é inerentemente interdisciplinar. A sua originalidade está na sua disposição explícita de “colocar a sociedade na natureza” e no equilíbrio com que busca a interação, a influência mútua entre sociedade e natureza.18

É através desses conhecimentos produzidos por outras áreas que pode-se conhecer, por exemplo, os aspectos naturais – como relevo, clima, precipitação atmosférica, hidrografia, flora entre outros – fundamentais para se atingir um importante objetivo da História Ambiental, o entendimento de como os seres humanos foram afetados pelo ambiente que os cercam e como eles afetaram esse ambiente através do tempo. Neste sentido, cabe aos historiadores ambientais perceber qual o papel e o lugar da natureza na vida humana.19

Foram utilizados como bases do recorte temporal, o processo de metropolização e expansão urbana da RMF, iniciado no final dos anos 1960, e o maior desastre da região, a inundação de dezembro de 1995. Diante da proposta de uma abordagem serial-quantitativa fez-se necessário definir um período de tempo significativo e que pudesse ser dividido em partes equivalentes, possibilitando assim uma análise comparativa. Deste modo, optamos por definir como recorte temporal o período de 1970 a 1999.

Nesta dissertação foi empregada a noção de inundação de uma maneira ampla, como uma espécie de conceito “guarda-chuva”, no qual

17 PÁDUA, José A. As bases teóricas da História Ambiental. Estudos Avançados, São Paulo, v. 24, n. 68, p. 94, 2010.

18 DRUMMOND, José Augusto. A História Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, 1991, p. 185.

19 WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, 1991, p. 199.

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estão incluídos os três subgrupos de desastres hidrológicos da Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE), a saber: inundações, enxurradas e alagamentos.20 É importante deixar claro, que tal decisão foi tomada após longo debate com a orientadora e outros colegas historiadores que possuem extensa experiência na pesquisa dos desastres. Assim, mesmo reconhecendo a importância da documentação da Defesa Civil e a própria peculiaridade de cada tipo de desastre, neste trabalho representaremos todos por meio da expressão inundação. Esta decisão explica-se não apenas pelas características em comum entre eles, mas sobretudo por fazermos o uso de documentos diversos e de épocas distintas que não se baseiam nessas categorias específicas reformuladas em 201221, o que implica em uma grande dificuldade de enquadrar os acontecimentos menos recentes nesses modelos e, também pelo fato de muitas vezes alagamentos, inundações e enxurradas ocorrerem simultaneamente.

As fontes utilizadas neste trabalho foram encontradas em três arquivos: na Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina (BPSC), no Arquivo Público de Santa Catarina (APSC) e no arquivo digital do Ministério da Integração Nacional, intitulado Sistema Integrado de Informações sobre Desastre (S2ID). Na BPSC a pesquisa foi realizada no setor de obras raras, que conserva e organiza um extenso acervo de

20 Segundo esta codificação as inundações são caracterizadas pela “submersão de áreas fora dos limites normais de um curso de água em zonas que normalmente não se encontram submersas. O transbordamento ocorre de modo gradual, geralmente ocasionado por chuvas prolongadas em áreas de planície”. As enxurradas entendidas como o “escoamento superficial de alta velocidade e energia, provocado por chuvas intensas e concentradas, normalmente em pequenas bacias de relevo acidentado. Caracterizada pela elevação súbita das vazões de determinada drenagem e transbordamento brusco da calha fluvial. Apresenta grande poder destrutivo”. E os alagamentos por sua vez são relacionados à “extrapolação da capacidade de escoamento de sistemas de drenagem urbana e consequente acúmulo de água em ruas, calçadas ou outras infraestruturas urbanas, em decorrência de precipitações intensas.” Fonte: MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Proteção e Defesa Civil.

COBRADE. Disponível em:

http://www.integracao.gov.br/documents/3958478/0/Anexo+V+-+Cobrade_com+simbologia.pdf/d7d8bb0b-07f3-4572-a6ca-738daa95feb0. Acesso em: 18 ago. 2018.

21 O COBRADE substituiu em 2012 a Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos (COPAR), buscando uma unificação a nível internacional da nomenclatura dos desastres.

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periódicos publicados no estado estre os séculos XIX e XX. Neste local foram consultadas as edições diárias do jornal “O Estado” de janeiro de 1970 a dezembro de 1999. No APSC foram encontradas diversas fontes relacionadas aos desastres, como relatórios técnicos, formulários de avaliação de danos, planos de aplicação de recursos, prestações de contas, ofícios, decretos, portarias, telegramas, correspondências e fotografias. Estes documentos estão armazenados no Acervo Iconográfico e nos fundos intitulados Relatórios Avulsos dos Diversos Órgãos e Documentação da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (CEDEC). O S2ID possuí um banco de dados com uma grande quantidade de documentos digitalizados e disponíveis para download, produzidos pelas prefeituras municipais e a pela Defesa Civil durante a ocorrência de desastres, como decretos, portarias, relatórios de avaliação de danos, formulário de identificação do desastre, notificação preliminar de desastre e relatórios técnicos. Além desses arquivos também foi consultado o banco de dados sobre desastres, desenvolvido pelo projeto Desastres Ambientais e Políticas Públicas em Santa Catarina: sob o viés da História Ambiental, coordenado pela professora Eunice Sueli Nodari e tendo como integrantes Marcos Aurélio Espíndola, Alfredo Ricardo Silva Lopes e Luís Guilherme Fagundes.

A dissertação está organizada em três capítulos. No primeiro capítulo, intitulado, Região Metropolitana: condições ambientais e ação humana são apresentadas inicialmente as características ambientais da RMF, destacando principalmente aquelas que permitem qualificar tal região como suscetível as inundações, como o relevo, a cobertura vegetal, a dinâmica atmosférica e as principais bacias hidrográficas. Na sequência demonstra-se de que forma os seres humanos interagiram com este ambiente, examinando como se deu a expansão das cidades, processo este, também associado à construção e potencialização dos desastres.

O segundo capítulo Explorando os desastres: abordagem serial-quantitativa das inundações tem o objetivo de, através de uma abordagem serial-quantitativa, produzir um levantamento das inundações ocorridas durante o recorte temporal, permitindo a construção de um perfil desses eventos conforme sua frequência (a quantidade de vezes que se repetiram), amplitude (quantos municípios foram afetados ao mesmo tempo por um mesmo evento) e período (em quais meses e estações do ano as inundações ocorrem mais ou menos frequentemente). Além disso, discute-se que fatores, sejam eles humanos ou não-humanos foram mais preponderantes na configuração desse perfil. Ao lado disto, buscamos definir nosso entendimento da categoria desastre, ressaltando como as pesquisas nessa área podem tanto retrabalhar noções já consagradas pela

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historiografia, como conceitos mais recente e que vem ganhado cada vez mais espaço nos estudos históricos.

O terceiro capítulo Os culpados da chuva: as inundações nas páginas do periódico “O Estado” tem a função de historicizar os desastres mais importantes do período, definidos a partir do levantamento realizado no capítulo dois e do exame das percepções difundidas no periódico “O Estado” sobre esses eventos. A análise foca na maneira como as inundações foram retratadas no periódico mais importante daquele período, buscando perceber, entre outros aspectos, quais causas foram apontadas para a ocorrência das inundações, e sobretudo, se já naquele momento o processo de urbanização era visto como preponderante para a ocorrência desses desastres.

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CAPÍTULO 1 – A REGIÃO METROPOLITANA: CONDIÇÕES AMBIENTAIS E AÇÃO HUMANA

“É triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a ouve”. Victor Hugo

No Brasil, a região metropolitana foi inserida no ordenamento jurídico a partir da Constituição Federal de 1967 e posteriormente modificado através da Emenda Constitucional nº 01 de 1969, a qual definiu, que apenas a União poderia estabelecer as regiões metropolitanas. Estas, por sua vez, deveriam ser constituídas por municípios que compartilhassem uma comunidade socioeconômica. 22 A criação desse tipo de região foi uma estratégia governamental para a reestruturação do território nacional que visava incentivar a urbanização e o desenvolvimento industrial. Assim, na década de 1970 foram instituídas as primeiras regiões metropolitanas do país, a partir das cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém, Fortaleza e Rio de Janeiro. 23

Nesta mesma década, foram realizados diversos estudos sobre a metropolização de Florianópolis, incluindo a elaboração de um plano diretor para todo o aglomerado urbano, e a criação de um órgão de planejamento para o nova região metropolitana, o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF). Este projeto buscava fortalecer a cidade de Florianópolis frente as capitais vizinhas, Porto Alegre e Curitiba, entretanto a falta de apoio político aliada aos baixos índices de urbanização e concentração populacional, fundamentais naquele momento para a formalização das regiões metropolitanas, adiaram a concretização do projeto.24 A Região Metropolitana de Florianópolis só pode se concretizar juridicamente no final do anos 1990,

22BRASIL. Constituição (1967). Emenda constitucional nº 1, de 17 de outubro de

1969. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/ emc01-69.htm. Acesso em: 13 fev. 2018.

23 CAMPOS, Edson T. A expansão urbana na região metropolitana de

Florianópolis e a dinâmica da indústria da construção civil. Florianópolis, 2009.

200f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Geografia,

Florianópolis, 2009. p. 23. Disponível em:

http://www.tede.ufsc.br/teses/PGCN0403-T.pdf. Acesso em: 13 fev. 2018. 24 Ibid., p. 26.

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após a competência para a instituição dessas regiões ter passado da União para os estados-membros, como ficou definido no artigo 25, inciso 3º da Constituição Federal de 1988:

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.

§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.25

Além das alterações legais, o próprio conceito de região metropolitana se transformou ao passar do tempo. Enquanto, em meados do século XX, estava intrinsicamente relacionado à questões como densidade demográfica e grande contingente populacional, atualmente levam-se em conta outros aspectos como a continuidade do tecido urbano entre os municípios limítrofes, a complementariedade de funções urbanas e a existência de uma cidade-mãe capital do estado ou metrópole regional. Dessa forma, a Região Metropolitana de Florianópolis foi criada pela Lei Complementar Estadual n.º 162, de 1998, extinta pela Lei Complementar Estadual n.º 381, de 2007, e reinstituída pela Lei Complementar Estadual n.º 495, de 2010. Recentemente, foi redefinida pela Lei Complementar n.º 636, de 2014, que também instituiu a Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Grande Florianópolis (SUDERF), autarquia de regime especial com o papel de coordenar os serviços comuns de interesse da região, como transporte coletivo de passageiros, mobilidade urbana e saneamento básico.26

A RMF está localizada na região Sul do Brasil, no Estado de Santa Catarina, mais precisamente na mesorregião da Grande Florianópolis, e é constituída pelos municípios de Águas Mornas, Antônio Carlos, Biguaçu,

25BRASIL. Constituição (1988). Artigo 25, § 3. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10717153 /paragrafo-3-artigo-25-da-constituicao-federal-de-1988. Acesso em: 13 fev. 2018.

26 SANTA CATARINA. Secretaria de Estado do Planejamento. Ações. Regiões

Metropolitanas. Florianópolis, 2018. Disponível em:

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Florianópolis, Governador Celso Ramos, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, São José e São Pedro de Alcântara (Figura 01). O município mais populoso da região é Florianópolis, com 421.240 habitantes, seguido de São José, com 209.840, Palhoça, com 137.334 e Biguaçu, com 58.206 habitantes, conforme o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. Segundo estimativas do IBGE em 2017 a população total da RMF ultrapassou o número de 1 milhão de pessoas, sendo a área total da região de 2.400 km2.27 Nesta dissertação optamos por analisar apenas a área conurbada da RMF, formada pelos quatro municípios citados acima, tendo em vista que possuem um histórico mais significativo de inundações, são os mais populosos da região e apresentam uma formação socioespacial28 semelhante, levando em consideração que compartilharam o mesmo processo de ocupação e posteriormente urbanização.

Entretanto, adicionamos também à área selecionada, Santo Amaro da Imperatriz, já que este município encontra-se em adiantado processo de absorção pela área conurbada de Florianópolis, apesar de apresentar atividades socioeconômicas e culturais independentes. No entanto, há uma crescente relação das atividades comerciais e de serviços com a área conurbada e um deslocamento populacional diário também intenso, à medida que boa parte da população economicamente ativa trabalha em Florianópolis, São José e Palhoça. A integração urbana no seu aspecto físico faz-se principalmente ao longo da BR-282, entremeando aglomerados urbanos e pequenas propriedades rurais. Além disso, sua inclusão contribuiu significativamente para nossa análise, considerando que o município compartilha com Palhoça a Bacia do Rio Cubatão Sul, a maior das bacias hidrográficas da região, implicando em um significativo histórico de inundações, sobretudo pelo fato da cidade de Santo Amaro da Imperatriz ficar às margens do rio principal desta bacia.

As relações deste município com o restante da área conurbada é ainda mais relevante se levarmos em conta que nele é feita a captação de

27 IBGE. Cidades. Panorama. Florianópolis; São José; Palhoça; Biguaçu. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/florianopolis/panorama. Acesso em: 13 fev. 2018.

28 De acordo com Milton Santos, a utilização da categoria formação socioespacial tem por princípios a elaboração de um estudo direcionado à compreensão das questões relacionadas às esferas humanas e naturais, que se apresentam inter-relacionadas. Fonte: SANTOS, M. Espaço e sociedade: ensaios. Petrópolis: Vozes, 1979.

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Figura 1 – Municípios constituintes da RMF

Fonte: RAMOS, Rony. Governador sanciona lei da Região Metropolitana de Florianópolis nesta terça. Agência AL, Florianópolis, set. 2014. Notícia

Executivo. Disponível em:

http://agenciaal.alesc.sc.gov.br/index.php/noticia_single/governador-sanciona-lei-que-cria-regiaeo-metropolitana-da-grande-florianopo. Acesso em: 30 jan. 2018.

água para o sistema de abastecimento Cubatão/Pilões, o mais importante da região, considerando que abastece uma população urbana de

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aproximadamente 700 mil habitantes nos municípios de Santo Amaro da Imperatriz, Palhoça, São José, Biguaçu e Florianópolis.29 Este sistema inclusive foi constantemente afetado pelas inundações das últimas décadas do século XX, o que provocou a interrupção do fornecimento de água potável e o agravamento da situação das pessoas afetadas pelos desastre nesses municípios.

Outro critério importante na definição da área de estudo se deu durante o processo de pesquisa, no qual pudemos constatar que as inundações ocorridas nos demais municípios da RMF (Antônio Carlos, Águas Mornas, São Pedro de Alcântara e Governador Celso Ramos) raramente eram noticiadas no jornal “O Estado”. Sendo assim, se mantivéssemos o recorte espacial ampliado, incluindo todos os municípios, encontraríamos uma grande diferença “artificial” na quantidade de inundações, tornando o estudo menos consistente.

1.1 – O meio

1.1.1 – Relevo

A região da costa catarinense, onde está localizada nossa área de estudo, é formada por rochas do Embasamento Cristalino e pela Cobertura Sedimentar Quaternária, as quais são classificadas como Regiões Geoambientais Serras do Leste Catarinense e Planícies Costeiras, respectivamente. A primeira, dessas duas regiões geoambientais, apresenta sequências de serra dispostas de forma subparalela, no sentido norte-sul, com altitude mais baixa em direção ao litoral.30 As maiores elevações são encontradas na Serra do Tabuleiro, ressaltando-se o Morro do Cambirela com 915 metros em Palhoça. Ainda na parte continental da RMF, destaca-se o Morro da Pedra Branca com 490 metros, na divisa entre Palhoça e São José, e o Morro de Biguaçu com 540 metros, localizado no município homônimo. Na parte insular, o ponto mais alto é o Morro do Ribeirão, com 532 metros, localizado no sul da Ilha de Santa Catarina, mas também merece destaque o Maciço do Morro da Cruz, que

29 PEREIRA, A; ZANIN, V. C. Mananciais da Ilha. CASAN. Recursos Hídricos e Meio Ambiente. Disponível em: http://www.casan.com.br/menu-conteudo/index/url/manancias-da-ilha#0. Acesso em: 30 jan. 2018.

30 ROSA, R. de O. HERRMANN, M. L. de P. Geomorfologia. In: Santa Catarina. GAPLAN. Atlas de Santa Catarina. Rio de Janeiro, Aerofoto Cruzeiro do Sul, 1986.

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apesar de atingir apenas 285 metros de altura máxima é uma área densamente ocupada, com uma população de mais de 20 mil habitantes.31

Nas áreas de menor altitude, entre essas elevações rochosas, ocorrem as Planícies Costeiras, que ao longo da sua extensão apresentam pontais, enseadas e baias. Estes modelos de acumulação, constituídos por sedimentos arenosos e areno-argilosos, apresentam morfologias típicas, geradas pela atuação de processos erosivos e deposicionais. Quando estes processos ocorrem sobre o regime praial pela ação das ondas, correntes e marés formam a unidade geoambiental planícies marinhas. Já as planícies aluviais são resultantes dos processos fluviais e geralmente estão sujeitas a inundações periódicas. Ainda existe uma terceira unidade chamada rampas colúvio-aluvionares que caracterizam-se como uma área de transição entre os ambientais continentais e marinhos. 32

No Mapa 1, adaptado do Mapa Físico do Estado de Santa Catarina produzido pelo IBGE em 2011, podemos observar em verde a área correspondente a unidade geoambiental Planícies Costeiras e em tons de bege e amarelo aquelas referentes à formação Serras do Leste Catarinense.

31 MENDONÇA, M. A dinâmica têmporo-espacial do clima subtropical na

região conurbada de Florianópolis/SC. 2002. 343 f. Tese (Doutorado) -

Programa de Pós-Graduação em Geografia Física, Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002, p. 72. 32 HERRMANN, M. L. de P. Problemas geoambientais da faixa central do litoral

catarinense. 1998. 307f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em

Geografia Física, Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998, p. 133.

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Mapa 1 – Unidades Geoambientais do litoral central de Santa Catarina

Fonte: Adaptado de IBGE. Biblioteca. Catálogo. Mapa Físico do Estado de Santa

Catarina, 2011. Disponível em:

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Com exceção do município de Santo Amaro da Imperatriz, as demais áreas urbanas dos municípios da RMF, estão predominantemente localizadas sobre as Planícies Costeiras, as margens dos baixos cursos dos principais rios como o Biguaçu, o Maruim e o Cubatão.

1.1.2 - Cobertura vegetal

De acordo com o mapa fitogeográfico elaborado por Klein em 1978, a RMF era originalmente coberta por duas formações vegetais distintas a Floresta Ombrófila Densa, predominantemente encontrada nas serras costeiras, e o Sistema Edáfico de Primeira Ocupação, também conhecido como Áreas das Formações Pioneiras, caraterizada principalmente pelos ecossistemas de Restingas e Manguezais. 33

O termo Floresta Ombrófila Densa (FOD), criado por Ellenberg e Mueller-Domboisem 196734, substituiu a expressão Floresta Tropical Pluvial dado por Schimper em 1903 e reafirmado por Richards em 1952. Apesar das palavras Pluvial (de origem latina) e Ombrófila (de origem grega) possuírem o mesmo significado “amigo das chuvas”, aceitou-se a designação de Ellenberg e Mueller-Dombois, porque esta fisionomia ecológica ocorre tanto na Amazônia como em áreas costeiras fora dos trópicos, justificando-se assim o uso da terminologia mais recente.35

A elevada pluviosidade do litoral central de Santa Catarina, onde se encontra a RMF, é capaz, segundo Klein36, de proporcionar uma umidade semelhante aquelas das regiões de floresta equatoriais. Isto permitiu o desenvolvimento de uma floresta tropical em uma região ao sul do trópico de Capricórnio. Este tipo de vegetação é caracterizado por fanerófitos, com subformas de vida macrofanerófitos e mesofanerófitos37,

33 REITZ, R; CABRERA, A. L; KLEIN, R. M. Flora ilustrada catarinense. v. 10, Itajaí: Herbário Barbosa Rodrigues, 1989.

34 Esse termo apareceu pela primeira vez no seguinte artigo ELLENBERG, H.; MUELLER-DOMBOIS, D. Tentative physiognomic-ecological classification of plant formations of the Earth. Berichte des Geobotanischen Institutes der Eidg.

Techn. Hochshule Stiftung Rübel, Zurich: ETH, v. 37, p. 21-55, 1967b. Fonte:

IBGE. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: 2012, p. 17.

35 IBGE. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: 2012, p. 65.

36 KLEIN, R. M. Ecologia da flora e vegetação do Vale do Itajaí. Sellowia, 31(31): 9-164, 1979.

37 Fanerófitos são plantas lenhosas com gemas aéreas protegidas por catáfilos e situadas acima de 0,25 m do solo. Apresentam-se com dois aspectos ecoedáficos

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além de lianas lenhosas e epífitas em abundância, que o diferenciam das outras classes de formações. Porém, sua característica ecológica principal reside nos ambientes ombrófilos. Assim, a característica ombrotérmica da Floresta Ombrófila Densa está ligada a fatores climáticos tropicais de elevadas temperaturas (médias de 25o C) e de alta precipitação, bem-distribuída durante o ano, o que determina uma situação praticamente sem período biologicamente seco (de 0 a 60 dias secos).38

Ao longo do litoral, bem como nas planícies fluviais e mesmo ao redor das depressões aluviais (pântanos, lagunas e lagoas), há frequentemente terrenos instáveis cobertos por uma vegetação, em constante sucessão, de terófitos, criptófitos, hemicriptófitos, caméfitos e nanofanerófitos.39 Trata-se de uma vegetação de primeira ocupação de caráter edáfico, que ocupa terrenos rejuvenescidos pelas seguidas deposições de areias marinhas nas praias e restingas, as aluviões fluviomarinhas nas embocaduras dos rios e os solos ribeirinhos aluviais e lacustres. São essas as formações que se consideram pertencentes ao Sistema Edáfico de Primeira Ocupação (Formações Pioneiras).40

Em nossa área de estudos, como citado anteriormente, encontramos as comunidades pioneiras Restingas e Manguezais. A palavra Restinga é utilizada para se referir a ambientes da costa, tanto para designar um tipo de vegetação, como para referir-se à área de depósito

diferentes: normal climático e raquítico oligotrófico, subdivididos, conforme suas alturas médias, em: Macrofanerófitos, plantas de alto porte, variando entre 30 e 50 m de altura, ocorrendo principalmente na Amazônia e na Região Sul do Brasil; Mesofanerófitos, plantas de porte médio, variando entre 20 e 30 m de altura, ocorrendo na maior parte do território brasileiro; Microfanerófitos, plantas de baixo porte, variando entre 5 e 20 m de altura, ocorrendo principalmente nas Regiões Nordeste e Centro-Oeste; e Nanofanerófitos, plantas anãs raquíticas, variando entre 0,25 e 5 m de altura, com predominância nas áreas campestres do Brasil. Fonte: IBGE, 2012, op. cit., p. 46.

38 Ibid., p. 65.

39 Terófitos são plantas anuais, cujo ciclo vital é completado por sementes que sobrevivem à estação climática desfavorável, ocorrendo exclusivamente nas áreas campestres. Hemicriptófitos são plantas herbáceas com gemas protegidas no nível do solo pelos céspedes que morrem na estação climática desfavorável, com predominância em áreas campestres. Caméfitos, são plantas sublenhosas e/ou herbáceas predominantemente de áreas campestres pantanosas com até um metro de altura, providas de gemas situadas acima do solo e protegidas por catáfilos ou por folhas verticiladas. Sobre Nanofanerófitos ver nota 37. Fonte: IBGE, 2012, op. cit., p. 46.

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arenoso de origem marinha. Tal uso explica-se exatamente pela estreita relação que esta vegetação possui com o solo em que ocorre. A vegetação de restinga ocorre quase que exclusivamente nas Planícies Costeiras e são caraterizadas, em geral, por superfícies baixas e levemente onduladas. Este ecossistema é caracterizado por solos pobres em argila e matéria orgânica.41

O Manguezal é um ecossistema de tipo fisionômico microfanerófito42 de ambiente salobro, situado na desembocadura de rios e regatos no mar, onde nos solos limosos, cresce uma vegetação adaptada a salinidade das águas.43 A relação com o ecossistema marinho e toda sua fauna aquática, é uma das principais características desse ecossistema, haja vista que o manguezal é um ambiente vital de aporte de nutrientes, reprodução e abrigo de espécies marinhas.

Na RMF, os manguezais então localizados nas desembocaduras dos principais rios, onde existem características físicas e químicas para sua ocorrência. Na Ilha de Santa Catarina podemos citar os manguezais do Ratones, Saco Grande, Itacorubi, do Rio Tavares e da Tapera, enquanto na parte continental os manguezais Aririú-Cubatão, Massiambú e da Palhoça, que mesmo sofrendo com as constantes interferências humanas, ainda é considerado um dos maiores do estado.44

É importante ressaltar que tanto a formação vegetal Floresta Ombrófila Densa, quanto o Sistema Edáfico de Primeira Ocupação que cobriam originalmente nosso recorte espacial sofreram intensas transformações. Desde o século XVIII grandes áreas foram desmatadas para a fixação de comunidades e o desenvolvimento de atividades humanas, processo que se intensificou ferozmente a partir da metade do século XX.

Devido a isso, as maiores áreas de FOD conservadas na região restringem-se àquelas protegidas pelo Parque Estadual da Serra do

41 LISBOA, A. de M. Uma cidade numa ilha: relatório sobre os problemas sócio-ambientais da Ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Insular, 1996, p. 84. 42 Sobre Microfanerófitos ver nota 37.

43 IBGE, 2012, op. cit., p. 137.

44 ESPÍRITO SANTO, S. M. Evolução da ocupação do solo nos manguezais do

município de Palhoça utilizando técnicas de sensorianmento remoto. 2004. 69 f.

Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, Centro de Ciência e Tecnologia, Universidade Federal de Santa Catarina,

Florianópolis, 2004, p. 35. Disponível em:

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Tabuleiro45, a maior unidade de conservação e proteção integral catarinense, criada em 1975, com base nos estudos dos botânicos Padre Raulino Reitz e Roberto Miguel Klein, com o objetivo de proteger a rica biodiversidade da região e seus mananciais hídricos. 46

Da mesma forma, as matas ciliares encontram-se bastante alteradas e a vegetação de restinga sofreu intensamente com a derrubada para a agricultura e formação de pastos. Mais recentemente a ameaça tem sido representada pelas ocupações ilegais ou consentidas para a construção de loteamentos e balneários, considerando-se que a localização destas áreas próximas ao mar, aumenta a pressão das invasões devido à especulação imobiliária, proporcionada pela valorização dos terrenos geradas pelo turismo.47

Os manguezais por sua vez, foram durante centenas de anos explorados para a extração de lenha, além de servirem também como fonte de substancias utilizadas no tingimento de redes de pesca e no curtume do couro. Atualmente esses ambientes tem sido impactados pela construção de prédios, residências, atracadouros, estradas e tanques de aquicultura, além de servirem como receptáculos de despejos de efluentes líquidos e resíduos sólidos de origem industrial e doméstica. 48

1.1.3 – Dinâmica atmosférica

45 O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro ocupa cerca de 1% do território catarinense. Abrange áreas dos municípios de Florianópolis, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, Águas Mornas, São Bonifácio, São Martinho, Imaruí e Paulo Lopes. Fazem parte do Parque as ilhas do Siriú, dos Cardos, do Largo, do Andrade e do Coral, e os arquipélagos das Três Irmãs e Moleques do Sul. Fonte: FATMA. Ecossistemas. Unidades De Conservação. Parque Estadual Da Serra

Do Tabuleiro. Florianópolis. Disponível em:

http://www.fatma.sc.gov.br/conteudo/parque-estadual-da-serra-do-tabuleiro. Acesso em: 13 fev. 2018.

46 Para um maior aprofundamento a respeito do Parque ver: PERES, Jackson Alexsandro. Parque Estadual da Serra do Tabuleiro: natureza, legislação e conflitos na baixada do Maciambú - Palhoça (1975-2012). 2017. 316 p. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em História, Centro de Filosofia e Ciências Humanas Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. Disponível em: http://www.bu.ufsc.br/teses/PHST0604-T.pdf. Acesso em: 2 jun. 2018.

47 LISBOA, op. cit., p. 85.

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Por sua posição no globo terrestre e suas características geomorfológicas, Santa Catarina está sobre a influência das principais correntes circulatórias da América do Sul, sendo elas as massas de ar Tropical Atlântica (mTa), Tropical Continental (mTc), Polar Atlântica (mPa), e Equatorial Continental (mEc) e o mecanismo frontológico Frente Polar Atlântica (FPA).

A Massa Tropical Atlântica atua constantemente durante todo o ano. Enquanto no verão esta massa torna-se instável pelo aquecimento basal que sofre em contato com o continente, no inverno o resfriamento basal aumenta sua estabilidade propiciando tempo bom. Quando Santa Catarina está sob o domínio dessa massa os dias apresentam pouca nebulosidade, ventos fracos, alta umidade relativa e pequenas variações térmicas (de 22º C a 30º C). Não raro, o aquecimento pode formar próximo as encostas nebulosidades cumuliformes49, provocando assim os chuvas fortes e passageiras.50

Originada na Depressão do Chaco51, a Massa Tropical Continental atua no estado apenas durante o verão. O ar quente e seco da planície central do continente é responsável por condições de tempo consideradas desagradáveis, devido ao forte calor que se mantém mesmo durante a noite, à baixa umidade e a fraca intensidade dos ventos.52

49 Com base na altitude, as nuvens mais comum na troposfera são agrupadas em quatro famílias: Nuvens altas, médias, baixas e nuvens com desenvolvimento vertical. As nuvens das três primeiras famílias são produzidas por levantamento brando sobre áreas extensas. Estas nuvens se espalham lateralmente e são chamadas estratiformes. Nuvens com desenvolvimento vertical geralmente cobrem pequenas áreas e são associadas com levantamento bem mais vigoroso. São chamadas nuvens cumuliformes. Fonte: GRIMM, A. M. Notas de Aula.

Meteorologia Básica. Universidade Federal do Paraná, Programa de

Pós-Graduação em Física, 1999. Disponível em:

http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap6/cap6-2-2.html. Acesso em: 30 jan. 2018.

50 MONTEIRO, M. A; FURTADO, S. M. de A. O clima do trecho Florianópolis – Porto Alegre: uma abordagem dinâmica. Geosul, Florianópolis, v. 10, n. 19/20, p. 117-133, jan./dez. 1995, p. 125.

51 A Depressão do Chaco é um centro negativo localizado no interior do continente sul-americano, e de atuação notável no Brasil meridional, especialmente durante a estação de verão. Sua origem está ligada às ondulações da Frente Polar que se verificam nas latitudes médias. Fonte: HERRMANN, 1998, op. cit., p. 45.

(49)

Outra massa de ar típica do verão no litoral catarinense é a Equatorial Continental. Durante esta estação ela se desloca de sua fonte, a planície amazônica, atraída pelos sistemas depressionários do interior do continente e avança de acordo com a posição da Frente Polar Atlântica. Na RMF, essa massa contribui para elevados índices pluviométricos, que por vezes são acompanhados de intensas rajadas de ventos e fortes trovoadas de duração passageira, geralmente ocorridas durante a tarde. 53

Diferentemente das duas anteriores, a Massa Polar Atlântica, tem atividade especialmente no inverno. Ela é resultante do ar polar que se dirige para o Oceano Atlântico e periodicamente invade o continente sul-americano. Em sua origem o ar é seco, frio e estável, todavia, à medida que se desloca absorve calor e umidade da superfície morna do oceano, tornando-se mais instável. 54

O quadro da dinâmica atmosférica se completa com a atuação dos mecanismos frontológicos, que representam o choque entre massas de ar de propriedade e direções diferentes. Por isso, devemos destacar também a Frente Polar Atlântica, cujo eixo principal se localiza próximo ao do Rio da Prata, e caracteriza-se por possuir grande mobilidade e variação de intensidade no decorrer do ano. No verão, como todo o Cone Sul da América está aquecido devido à atuação de massas tropicais, as possíveis incursões de ar polar ocorrem em maiores latitudes. Dessa forma, a diferença de densidade entre as massas tropicais e polares ocorrem sobre o oceano, formando frentes, a partir dessas áreas. Quando estas frentes são formadas próximas à costa catarinense provocam zonas de instabilidade sobre o continente, resultando em trovoadas com pancadas de chuva.55

A RMF, mesmo estando na Zona Temperada Sul, na classificação de zonas térmicas da Terra, não apresenta características climáticas tipicamente temperadas. Os climas temperados caracterizam-se pela influência intensa das massas polares, com verão quente e curto e inverno polar. Entretanto, essa região apresenta características climatológica controladas também pela atuação de massas tropicais e equatoriais, como vimos acima, proporcionando verões quentes e invernos frescos típicos dos climas subtropicais. Além da posição latitudinal, outros fatores geográficos conferem ao clima de toda a Região Sul do Brasil um caráter

53 HERRMANN, 1998, op. cit., p. 46. 54 Idem.

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claramente subtropical. Um desses fatores, segundo Monteiro56, seria a reduzida continentalidade decorrente da forma afunilada da porção meridional da América do Sul, impossibilitando um resfriamento capaz de constituir grandes anticiclones térmicos, o que reduziria a quantidade de chuvas.

De acordo com o Mapa de Climas do Brasil elaborado pelo IBGE em 200257, a RMF está inserida nos climas subquente super úmido, sem período seco (na faixa litorânea) e mesotérmico brando super úmido (na faixa interiorana). Estes climas correspondem ao genérico Cfa de Köppen-Geiger, descrito como temperado chuvoso (mesotérmico úmido) com verão quente, sem estação seca. Portanto, o clima da região caracteriza-se por possuir precipitações bem distribuídas durante o ano, sem a caracterização de uma estação seca definida, da mesma forma, o regime térmico não apresenta estações típicas divididas igualmente em três meses. Há na verdade dois períodos quentes (com médias entre 18ºC e 22ºC), a primavera e o outono, um mais quente (acima de 22ºC), o verão e um mais fresco (entre 15ºC e 18ºC), o inverno.58

Durante o verão em Santa Catarina, devido ao aquecimento continental ocorre a diminuição das pressões e as massas tropicais passam a dominar a dinâmica atmosférica na região. Por sua vez, as massas polares recuam para o continente antártico diminuindo as invasões do anticiclone migratório polar para o norte. As chuvas durante esta estação são intensas, localizadas e de curta duração, geralmente no final dos dias. É no mês de janeiro que a maioria dos municípios catarinenses apresenta o maior volume de chuvas de todo o ano, essa média de precipitação cai um pouco em fevereiro, e em março é registrado o menor valor médio de precipitação pluviométrica acumulado no verão, embora Florianópolis apresente um índice elevado de precipitação neste mês, assim como outros municípios da faixa litorânea. 59

O outono é a estação de transição dos tipos de tempo de verão para o inverno, ainda em seu primeiro mês, a distribuição de pressões segue semelhante ao verão. Isto ocorre porque as massas intertropicais (mTa mais ativa do que a mEc) continuam dominando. Mesmo assim, aos

56 MONTEIRO, C. A. de F. Geografia Regional do Brasil: Região Sul (Tomo 1, cap. III), Série Biblioteca Brasileira. Rio de Janeiro, IBGE, 1963, p. 117-169. 57IBGE. Biblioteca. Catálogo. Mapa de Clima do Brasil, 2002. Disponível em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/informacoes_ambientais/climatologia/mapas/brasil/clim a.pdf. Acesso em: 13 fev. 2018.

58 MONTEIRO, 1963, op. cit. p. 134. 59 MENDONÇA, op. cit., p. 245.

Referências

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