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O perfil social do agressor e da mulher vítima de violência doméstica no Município de Sousa-PB.

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CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO

CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

JAMILLA SAMARA FARIAS DE LIMA

O PERFIL SOCIAL DO AGRESSOR E DA MULHER VÍTIMA DE

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO MUNICÍPIO DE SOUSA-PB

SOUSA - PB

2009

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O PERFIL SOCIAL DO AGRESSOR E DA MULHER VÍTIMA DE

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO MUNICÍPIO DE SOUSA-PB

Monografia apresentada ao Curso de

Ciências Jurídicas e Sociais do CCJS

da Universidade Federal de Campina

Grande, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharela em

Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Professor Esp. Rubasmate de Sousa Santos.

SOUSA - PB

2009

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O P E R F I L S O C I A L D O A G R E S S O R E DA M U L H E R V I T I M A DE V I O L E N C I A D O M E S T I C A NO MUNICJPIO DE S O U S A - P B

T r a b a l h o de C o n c l u s a o d e Curso a p r e s e n t a d o ao Centro de Ciencias Juridicas e Sociais d a Universidade Federal de C a m p i n a G r a n d e e m c u m p r i m e n t o aos requisitos necessarios para o b t e n c a o do titulo de Bacharel e m Ciencias J u r i d i c a s e Sociais.

Orientadora Prof3 R u b a s m a t e dos S a n t o s

de S o u s a

B a n c a E x a m i n a d o r a : Data de a p r o v a c a o :

O r i e n t a d o r a : Prof3 R u b a s m a t e d o s S a n t o s de S o u s a

Prof3 Maria de Lourdes Mesquita

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minha luta, d i s p e n s a n d o - m e muitas v e z e s de s e u convivio, para q u e eu enfrentasse a p e n o s a Jornada do dia-a-dia. S e n d o este o resultado concreto do nosso esforco c o m u m dedico toda gloria e louvores do ideal realizado c o m todo amor a:

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A Deus q u e m e d e u muita luz para fortificar m i n h a fe nos m o m e n t o s m a i s dificeis d e s t a c a m i n h a d a ;

A o s m e u s pais pela infinita c o m p r e e n s a o e pela forca a m i m d i s p e n s a d a durante t o d o o curso, q u e refletiram diretamente no m e u d e s e m p e n h o e n q u a n t o aprendiz;

A o m e u noivo, q u e d u r a n t e t o d o o c u r s o m e impulsionou a buscar o a p e r f e i c o a m e n t o e s o u b e c o m p r e e n d e r a m i n h a ausencia e m certos m o m e n t o s .

A orientadora do m e u trabalho, m i n h a admiragao sincera, pela sua dedicagao e c o m p e t e n c i a d u r a n t e a elaboragao d e s t e trabalho;

A o s a m i g o s e a m i g a s , pelo brilho d a a m i z a d e , q u e direta ou indiretamente c o n t r i b u i r a m para a c o n c r e t u d e d e s t e estudo;

Enfim, a t o d o s os professores, c o m quern pude vivenciar a q u e s t a o do saber, s e m j a m a i s e s q u e c e r a dedicagao e paciencia d e s s e s v e r d a d e i r o s iluminadores do c o n h e c i m e n t o .

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d o m e s t i c a , e q u a n d o este dia chegar, os h o m e n s olharao para as m u l h e r e s b u s c a n d o nelas encontrar a dogura, q u e u m dia foi sua caracteristica principal, p o r e m nao mais e n c o n t r a r a o .

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O presente estudo intitulado "O perfil do agressor e da m u l h e r vitima de violencia d o m e s t i c a no m u n i c i p i o de S o u s a - P B " tern c o m o e s c o p o identificar a maior

incidencia de a g r e s s o r e s e de v i t i m a s dentro dos casos de violencia d o m e s t i c a praticada contra a m u l h e r no municipio de S o u s a . Para isso, foi necessaria a

realizacao d e u m a pesquisa de c a m p o na 9a Delegacia Regional d e Policia Civil

-Delegacia Especializada d a Mulher do referido municipio. A o verificar atraves dos d a d o s q u e a maior incidencia de violencia d o m e s t i c a e a q u e l a c o m e t i d a pelo h o m e m contra a mulher, v a l e n d o - s e d a relacao de afetividade existente entre eles, o estudo, entao, priorizou e s t e s c a s o s especificamente. Para contextualizagao do assunto a b o r d a d o , analisou-se a influencia do patriarcalismo na postura de s u p r e m a c i a do h o m e m c o m relacao a mulher, que favoreceu a cultura d a violencia contra a mulher ao longo d o s anos; a l e m disso, foi feita uma revisao do Direito de Familia, d a n d o e n f a s e a o s instrumentos juridicos caracterizadores d a situagao juridica da mulher no p a s s a d o . A b o r d a r a m - s e os e l e m e n t o s principals d a legislacao internacional e nacional referente a d e f e s a da mulher, t e c e n d o anteriormente c o n s i d e r a c o e s conceituais sobre a violencia d o m e s t i c a e s e u s tipos, c o m vistas a Lei 11.340/06. T r a t o u t a m b e m e m linhas gerais d a s discussoes sobre as delegacias especializadas da mulher, m o s t r a n d o sua g e n e s e e sua importancia no contexto d a violencia d o m e s t i c a . Destacou-se ainda, os aspectos essenciais da pesquisa, que permitiu q u e o e s t u d o a l c a n c a s s e o fim d e s e j a d o na sua c o n s e c u g a o , tal seja tragar o perfil do agressor e d a mulher vitima de violencia d o m e s t i c a no municipio de Sousa. Utilizou-se c o m o m e t o d o de a b o r d a g e m de pesquisa o indutivo e c o m o m e t o d o s de p r o c e d i m e n t o , os m e t o d o s historico e estatistico, e a tecnica de pesquisa q u e m e l h o r se a d e q u o u as n e c e s s i d a d e s do estudo foi a d a d o c u m e n t a g a o direta extensiva. Por f i m , vale ressaltar que nao adianta char m e i o s legais de coibir a violencia d o m e s t i c a , n e m tao p o u c o oferecer apoio assistencial as vitimas, se os principals fatores r e s p o n s a v e i s pela deflagragao desta violencia (resquicios d a cultura patriarcalista e a i m p u n i d a d e d o agressor) c o n t i n u a m s e n d o v i v e n c i a d o s na s o c i e d a d e brasileira.

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T h e present study entitled "The profile of the perpetrator and of the w o m e n victim of d o m e s t i c violence in the city of S o u s a - P B " has the objective to identify the bigger incidence of aggressors and victims in cases of d o m e s t i c violence against w o m e n in the t o w n of S o u s a . For this it w a s necessary to carry out field research in 9th the Regional Police D e p a r t m e n t - W o m e n Specialist Police of this municipality. W h e n c h e c k i n g t h r o u g h the data that the highest incidence of d o m e s t i c violence that is c o m m i t t e d by m e n against w o m e n , taking a d v a n t a g e of the w a r m relationship b e t w e e n t h e m , the study prioritized t h e s e cases specifically. For contextualization of the subject, it w a s analyzed the influence of patriarchy in the posture of superiority of m e n t o w a r d w o m e n , which has e n c o u r a g e d a culture of violence against w o m e n over the years, moreover, it w a s m a d e a historical overview of Family L a w with e m p h a s i s on the legal instruments on the current legal status of w o m e n in t h e past. A s p e c t s are the main e l e m e n t s of international and national legislation on the d e f e n s e of w o m e n , w e a v i n g a b o v e c o n c e p t u a l and classificatory considerations of d o m e s t i c violence and their manifestations in order to Law 11.340/06. It also outlines the discussions on the specialized w o m e n ' s police stations, s h o w i n g its origin a n d its importance in the context of d o m e s t i c violence. It w a s also highlighted t h e essential aspects of the r e s e a r c h , w h i c h allowed the study r e a c h e d the intended p u r p o s e in its a c h i e v e m e n t s , this is to d r a w the profile of t h e perpetrator and w o m e n victim of d o m e s t i c violence in the city of S o u s a . It w a s used as a method of a p p r o a c h to research t h e inductive and how m e t h o d of p r o c e e d i n g , the historical a n d statistical m e t h o d s , and research t e c h n i q u e that best suits the n e e d s of t h e study w a s t h e extensive direct d o c u m e n t a t i o n . Finally, it is noteworthy that it is useless to create legal m e a n s to curb d o m e s t i c violence, nor provide support assistance to victims, t h e main factors responsible for the outbreak of the violence (remnants of t h e patriarchal culture and the impunity of the a g g r e s s o r ) are still being e x p e r i e n c e d in society brazilian.

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C E D A W - C o n v e n g a o sobre a Eliminacao de T o d a s as F o r m a s d e Discriminacao contra as M u l h e r e s

C E J I L - Centro de Justica e Direito Internacional

EC - E m e n d a Constitucional

C F - Constituicao Federal

C L A D E M - C o m i t e Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos d a Mulher

C P - C o d i g o Penal

D E A M - Delegacias Especializada de Apoio a Mulher

O E A - O r g a n i z a g a o dos Estados A m e r i c a n o s

O N U - O r g a n i z a g a o das Nagoes Unidas

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1 I N T R O D U Q A O 10 2 A N A L I S E H I S T O R I C A DA R E L A Q A O E N T R E H O M E M E M U L H E R NO S E I O F A M I L I A R 13 2.1 DO M A T R I A R C A D O A O P A T R I A R C A D O 13 2.2 E V O L U Q A O D O D I R E I T O D E FAMJLIA B R A S I L E I R O 18 2.2.1 O r d e n a c d e s F i l i p i n a s 19 2.2.2 C o d i g o Civil de 1916 21 2.2.3 E s t a t u t o a Mulher C a s a d a 23 2.2.4 L e i d o D i v o r c i o 2 5 2.2.5 C o d i g o Civil d e 2002 2 7 3 C O M P R E E N S A O S I S T E M I C A DA V I O L E N C I A D O M E S T I C A E D O S I N S T R U M E N T O S L E G A I S D E P R O T E Q A O A M U L H E R 31 3.1 F O R M A S D E V I O L E N C I A D O M E S T I C A E FAMILIAR 31 3.1.1 V i o l e n c i a F i s i c a 32 3.2.2 V i o l e n c i a P s i c o l o g i c a 35 3.2.3 V i o l e n c i a Patrimonial 37 3.2.4 V i o l e n c i a S e x u a l 39 3.2.5 V i o l e n c i a Moral 4 2 3.2 I N S T R U M E N T O S L E G A I S D E P R O T E Q A O A M U L H E R 4 4 3.2.1 A s D e l e g a c i a s E s p e c i a l i z a d a s da Mulher 4 5 3.2.2 L e g i s l a c a o Internacional 48 3.2.3 A L e i Maria d a P e n h a 50 4 A S P E C T O S G E R A I S DA P E S Q U I S A 55 4 . 1 . A N A L I S E D O S D A D O S C O L E T A D O S 56 4.1.1 D a d o s I n f o r m a d o r e s d o Perfil d a Vitima 57 4.1.2 D a d o s I n f o r m a d o r e s do Perfil d o A g r e s s o r 66 4.1.3 D a d o s R e f e r e n t e s a Natureza d a V i o l e n c i a 7 4 5. C O N C L U S O E S 76 R E F E R E N C E S 78 A P E N D I C E 81

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1 I N T R O D U g A O

O p r e s e n t e estudo intitulado "O perfil d o agressor e d a mulher vitima de violencia d o m e s t i c a no m u n i c i p i o d e S o u s a - P B " foi c o n d u z i d o atraves d e u m a

pesquisa de c a m p o realizada na 9a Delegacia Regional de Policia Civil - Delegacia

Especializada d a Mulher e m S o u s a , Paraiba.

A realizagao d a pesquisa foi possibilitada pela analise d o s inqueritos policiais sobre os quais se d e b r u g o u os f u n d a m e n t o s q u e e m b a s a r a m a pesquisa. Dentre os casos de violencia contra a mulher a p r e s e n t a d o s nos inqueritos, f o r a m focalizados a p e n a s a q u e l e s q u e tratavam de violencia d o m e s t i c a , o b e d e c e n d o - s e ao criterio de t e m p o relativo ao p e r i o d o de Janeiro a J u n h o de 2 0 0 9 .

A p e s q u i s a t e n d o c o m o f o c o principal tragar o perfil do a g r e s s o r e da mulher vitima d e violencia d o m e s t i c a objetivou identificar a maior incidencia de agressores e v i t i m a s dentro d o s casos de violencia intra-familiar praticada contra a m u l h e r no m u n i c i p i o de S o u s a , refletindo a p r e o c u p a g a o nao so d o s profissionais j u r i d i c o s , e sim de toda s o c i e d a d e s o u s e n s e , que a c o m p a n h a os c a s o s c o m a incerteza das c a u s a s e n s e j a d o r a s de tal p r o b l e m a .

O valor d a a b o r d a g e m feita, e v i d e n c i a n d o - s e o contexto da violencia d o m e s t i c a , e n c o n t r a justificativa no a l a r m a n t e indice q u e esta violencia ainda a p r e s e n t a no Brasil. S e n d o a s s i m , m e s m o p a s s a d o s tres a n o s da edigao da Lei 11.340/06 este t e m a continua relevante e continuara s e n d o ate que a incidencia se t o m e inexpressiva.

O m e t o d o de a b o r d a g e m utilizado na pesquisa foi o indutivo, t e n d o e m vista que utilizou-se as especificidades do caso e m particular d a violencia d o m e s t i c a no M u n i c i p i o d e S o u s a (no p e r i o d o de Janeiro a J u n h o de 2 0 0 9 ) , para se chegar a c o n c l u s o e s gerais a respeito d a violencia d o m e s t i c a na regiao. No q u e diz respeito a o s m e t o d o s de p r o c e d i m e n t o foi feito o uso d o s m e t o d o s historico e estatistico. A tecnica de pesquisa q u e melhor se a d e q u o u as n e c e s s i d a d e s d o estudo c o r r e s p o n d e u a utilizagao d a d o c u m e n t a g a o direta extensiva, u m a vez q u e e m p r e g o u - s e formularios.

Inicialmente realizou-se u m a analise historica d a relagao entre h o m e m e mulher no seio familiar, e x a m i n a n d o a influencia do patriarcalismo nas praticas de violencia no a m b i t o familiar. Nesta esteira, visualizou-se a transigao do matriarcado

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para o patriarcado, a p o n t a n d o os e l e m e n t o s q u e possibilitaram esta m u d a n g a de postura do h o m e m c o m relagao a mulher.

T r a z e n d o a d i s c u s s a o do patriarcalismo para as relagoes entre h o m e n s e m u l h e r e s na s o c i e d a d e brasileira, sentiu-se a n e c e s s i d a d e de realizagao de u m a analise historica do direito de familia brasileiro, c o m vistas a o s principals instrumentos legais caracterizadores da situagao legal d a mulher no o r d e n a m e n t o juridico brasileiro. Para possibilitar tal analise, suscitou-se a c o m p r e e n s a o dos seguintes dispositivos: O r d e n a g o e s Filipinas, C o d i g o Civil de 1916, Estatuto d a Mulher C a s a d a , Lei do Divorcio e Codigo Civil d e 2 0 0 2 . C o m anseio de c o m p l e m e n t a r o e s t u d o , dentro do topico referente ao C o d i g o Civil de 2 0 0 2 , reservou-se u m e s p a g o para vislumbrar a postura da Constituigao Federal d e 1988 c o m relagao a mulher.

O s e g u n d o capitulo trouxe a c o m p r e e n s a o sistemica da violencia d o m e s t i c a e d o s instrumentos legais de protegao a mulher, s e n d o q u e a violencia d o m e s t i c a contra a mulher foi referendada c o m vista ao disposto na Lei 11.340/06. P r i m e i r a m e n t e , f o r a m tecidas consideragoes a respeito d a s f o r m a s de violencia d o m e s t i c a e familiar a b o r d a d a s pela Lei Maria d a P e n h a , tais s e j a m : violencia fisica, violencia patrimonial, violencia psicologica, violencia moral e violencia sexual.

C a d a u m a d e s t a s f o r m a s de violencia praticadas contra a m u l h e r foi elucidada tragando s u a s peculiaridades por se tratar de u m tipo e s p e c i f i c o de violencia, aquela sofrida pela m u l h e r e m virtude da relagao de afetividade c o m o agressor. Na tentativa de detalhar os principais resultados praticos d e s t a s f o r m a s d e violencia d o m e s t i c a , b u s c o u - s e explanar os t e m a s controvertidos sobre os quais se inclinam os d e b a t e s a t u a l m e n t e , a e x e m p l o d a s inovagoes trazidas pela Lei 12.908/09 para o c r i m e de estupro, q u e configura violencia sexual.

E m s e g u i d a , e v i d e n c i a r a m - s e os Instrumentos legais de protegao a mulher. A importancia de se c o m p r e e n d e r a legislagao internacional, a legislagao interna (Lei Maria d a P e n h a ) e as d i s c u s s o e s acerca das d e l e g a c i a s especializadas da mulher, a d v e m do fato de q u e todo e qualquer estudo q u e se pretende trabalhar a violencia d o m e s t i c a e m f a c e d a mulher, precisa conhecer tais instrumentos, a fim de e n t e n d e r a d i n a m i c a na qual este problema esta inserido.

Por ultimo, f o r a m d e m o n s t r a d o s os a s p e c t o s gerais d a p e s q u i s a , q u e a l e m de trazer o s e l e m e n t o s intrinsecos a estrutura metodologica d o estudo de c a m p o realizado, t r o u x e a analise de t o d o s os d a d o s colhidos nas delegacias, tanto e m

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relagao as vitimas, c o m o e m relagao a o s agressores e a natureza d a violencia, c o m vistas a tragar o perfil do agressor e d a mulher vitima de violencia d o m e s t i c a no M u n i c i p i o d e S o u s a .

O p r e s e n t e e s t u d o e direcionado aos profissionais do c a m p o do Direito, a s o c i e d a d e s o u s e n s e e a t o d o s interessados e m c o n h e c e r a realidade do sertao p a r a i b a n o sob a otica d a violencia d o m e s t i c a contra a m u l h e r no M u n i c i p i o de S o u s a .

Neste d i a p a s a o , c o n v e m lembrar que a violencia d o m e s t i c a nao e propria de d a d a regiao ou m u n i c i p i o especifico, e obra de u m a cultura perpetrada ao longo d o s a n o s ; cultura esta eivada pelos resquicios de u m a s o c i e d a d e patriarcal vivenciada e m outras e p o c a s .

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2 A N A L I S E H I S T O R I C A D A R E L A Q A O E N T R E H O M E M E M U L H E R NO S E I O F A M I L I A R

A fim de c o m p r e e n d e r os a s p e c t o s m a i s importantes d a s relacoes d e familia q u e f i z e r a m c o m que a violencia fosse uma constante e q u e se p r o p o e a realizagao de u m a analise d e s d e os t e m p o s m a i s r e m o t o s , para q u e se possa identificar a f o r m a c a o do perfil do agressor d a mulher nas relacoes de f a m i l i a .

Para se proceder u m a analise das relacoes de familia, e m especial d a relagao entre h o m e m e m u l h e r no seio familiar e necessario levar a d i s c u s s a o para u m piano historico a m p l o , principalmente q u a n d o se deseja evidenciar a s p e c t o s que d e m o n s t r e m o t r a t a m e n t o direcionado a mulher, que possibilita c o m p r e e n d e r c o m o foi difundida a cultura d a violencia e da s u b m i s s a o da m u l h e r no m u n d o de hoje.

E ao buscar s a b e r qual o papel da mulher nas s o c i e d a d e s primitivas, p e r c e b e -se que n e m s e m p r e a mulher esteve n u m a posigao de inferioridade e s u b m i s s a o . Nas s o c i e d a d e s primitivas existia o c h a m a d o matriarcado, que significava a prevalencia da figura f e m i n i n a no seio d a familia e da organizagao social d a e p o c a (os clas).

2.1 DO M A T R I A R C A D O A O P A T R I A R C A D O

O m a t r i a r c a d o foi durante muito t e m p o a f o r m a de constituigao da familia, e m q u e se verificava q u e a mulher tinha u m importante papel, q u e ia a l e m d a reprodugao e da criagao de filhos. A mulher se d e s t a c a v a na religiao, no artesanato e nas tarefas do cotidiano. O espirito criador da m u l h e r p o d e ter inventado a agricultura, os rudimentos d a medicina e a industria da p e s c a . ( A R A G A O 2 0 0 1 , p. 2 3 9 ) .

A figura f e m i n i n a era idolatrada; as d e u s a s e r a m tidas c o m o a razao da vida, t e n d o e m vista q u e a mulher era responsavel pela c o n c e p g a o da vida h u m a n a . S e g u n d o A r a g a o ( 2 0 0 1 , p. 2 3 9 ) : "Nao e e m v a o que as m a i s antigas culturas dao a mulher u m talento s o b r e - h u m a n o para entrar e m contato c o m o misterio, o s a g r a d o e o divino. Afinal, e atraves dela q u e o h o m e m v e m ao m u n d o " .

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No m o m e n t o q u e a n t e c e d e a escrita, as m u l h e r e s e x e r c i a m u m papel f u n d a m e n t a l na vida e m s o c i e d a d e , pois elas e r a m r e s p o n s a v e i s por boa parte das tarefas e da organizagao d o s elas. O matriarcado surgiu c o m o c o n s e q u e n c i a da vida n o m a d e , pois os h o m e n s s a i a m e m busca d e alimento, e n q u a n t o as m u l h e r e s ficavam nos a c a m p a m e n t o s c o m os filhos, c u i d a n d o deles e do cla, f i c a n d o t u d o sob a s u a influencia ( O S O R I O , 2 0 0 2 , p. 98).

Posteriormente, o matriarcado deixou de ser a f o r m a d e organizagao das familias, d a n d o lugar ao patriarcado e a s c e n s a o d a figura m a s c u l i n a , que p a s s o u a ser o b s e r v a d a c o m o s i n o n i m o de superioridade, d e poder e de forga.

A partir d o m o m e n t o que o h o m e m t o m a para si o papel principal na organizagao d a f a m i l i a , q u e coincide c o m o d e s e n v o l v i m e n t o d a escrita e c o m melhor a p r o v e i t a m e n t o dos recursos d a terra, a m u l h e r e s u b m e t i d a a v o n t a d e m a s c u l i n a . Este m o m e n t o , portanto, e c o n s i d e r a d o o m a r c o inicial da d i s s e m i n a g a o da cultura da repressao, da d e s i g u a l d a d e e da violencia a m u l h e r no m u n d o .

Na Idade A n t i g a , ou A n t i g u i d a d e c o m o e m a i s c o n h e c i d a dentre os historiadores, c o m p r e e n d e n d o o periodo que vai d e s d e a invengao da escrita ate a q u e d a do Imperio R o m a n o do Ocidente, o h o m e m c o m e g a a a c u m u l a r riqueza atraves do d o m i n i o do arado e c o m e g a a m a n u s e a r a escrita, e neste p e r i o d o q u e o patriarcado mostra sua forga. C o n f o r m e preleciona A r a g a o (2006, p. 2 4 1 ) :

A escrita, enquanto instrumento do poder masculino, cassava a palavra da mulher; e, nao so a palavra, mas tambem seu corpo e sua descendencia. Aqui nao custa nada ler que escrita e propriedade privada sao duas faces de uma mesma moeda.

Q u a n d o o h o m e m p a s s o u a a c u m u l a r riqueza atraves de u m maior a p r o v e i t a m e n t o d o s recursos da terra e a d o m i n a r a escrita, c o m p r e e n d e u que podia ir muito a l e m , e q u e a mulher diante desta nova situagao que se a p r e s e n t a v a era a p e n a s u m ser reprodutor.

D e p o i s d e s t a reviravolta na estrutura familiar, a figura f e m i n i n a perdeu sua forga e s u a d i v i n d a d e . O h o m e m decidiu que nao iria partilhar riqueza e poderes c o m elas, que e r a m f i s i c a m e n t e mais fracas.

Para d e m o n s t r a r que a mulher realmente era u m a figura secundaria, c o m e g a r a m por substituir as d e u s a s femininas por d e u s e s m a s c u l i n o s . S e g u n d o A r a g a o (2006, p. 2 4 2 ) :

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Todas as deusas femininas sao substituidas por deuses masculinos: o macho impera. O homem passa a ser uma centelha divina e a mulher e pura submissao. Jave, deus hebreus, sera um que prescindira do elemento feminino e da natureza: ele e incriado, foi gerado de si proprio [...]

De a c o r d o c o m descrito a cima, restava criada a c o n d i c a o de inferioridade da mulher perante o h o m e m . Q u a n d o este p e r c e b e u q u e a l e m de d o m i n a r a escrita e a terra, poderia d o m i n a r a mulher, esta passou a ser vista a p e n a s c o m o ser s e c u n d a r i a

D e s d e que o matriarcado foi v e n c i d o pelo patriarcado e que a mulher v e m s e n d o suprimida pelo h o m e m . A partir deste m o m e n t o a mulher p a s s o u a ser vista u n i c a m e n t e na sua posigao de inferioridade e m relagao ao h o m e m , que fisicamente mais forte, t o r n o u - s e o detentor do poder. Nas ligoes de Kosovski (Apud A r a g a o 2 0 0 1 , p. 2 4 1 ) , d i z q u e :

O advento do patriarcalismo que estabeleceu o dominio do homem nos negocios do mundo e acarretou a submissao da mulher, atribuindo-lhe papel secundario e complementar, aconteceu por ocasiao, ou pouco antes, do aparecimento da escrita.

Esta inferioridade atribuida ao sexo f e m i n i n o fez c o m que sua trajetoria fosse m a r c a d a por muitas lutas: contra a violencia sofrida, contra a subordinagao nas relagoes de familia e contra a exclusao no contexto politico, e c o n o m i c o e social.

P o d e - s e observar a situagao d a s m u l h e r e s nas antigas culturas atraves d a s palavras de A r a g a o ( 2 0 0 1 , p. 2 4 4 ) :

Nas antigas culturas, a mulher nao passa de um reflexo do homem, de um objeto a servigo de seu senhor. Ela esta proxima a escrava e as criangas. E um instrumento de reprodugao. A mulher, enfim, e femea e estara mais proxima do animal do que da pessoa.

A reprodugao q u e era a caracteristica q u e anteriormente enaltecia a mulher e a tornava divina, a g o r a Ihe a p r o x i m a v a d o s animais, que nao tern v o n t a d e propria e que nao c o n s e g u e se impor perante ao h o m e m .

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Na Idade Media, q u e c o m p r e e n d e o p e r i o d o que parte da q u e d a do Imperio R o m a n o ate o s u r g i m e n t o do m o v i m e n t o renascentista, ou seja, d e s d e o Seculo V ate ao s e c u l o X V , a m e n t a l i d a d e do p e r i o d o anterior prevalece e a m u l h e r continua n u m p a t a m a r inferior ao do h o m e m . A s caracteristicas d a s o c i e d a d e desta e p o c a t r a z e m muitas peculiaridades do f e u d a l i s m o que de certa f o r m a influenciaram na postura d o h o m e m e m relagao a mulher.

A o analisar durante este p e r i o d o o t r a t a m e n t o direcionado a m u l h e r nas relacoes de familia pelo h o m e m percebe-se q u e : "Na Idade Media, mais u m a vez, v e m o s a m u l h e r e m seu papel d e e s p o s a e m a e . E seu limite, e s e u reino. O b e d e c e r ao m a r i d o e ter filhos: nada mais Ihe e pedido. A m u l h e r e u m f e u d o e sua obediencia d e v e ser total." ( A R A G A O , 2 0 0 1 , p. 244)

A violencia sofrida pela mulher na Idade Media, pelo que se percebe, parece ser a violencia psicologica. U m a vez que ela esta totalmente s u b m i s s a ao marido, q u e Ihe retira as possibilidades de d e s e n v o l v e r s e u potencial, seu intelecto e s u a s artes.

O b s e r v a - s e que m e s m o q u a n d o ha t r a n s f o r m a c o e s na visao de m u n d o , m o d i f i c a n d o o e n t e n d i m e n t o a respeito da vida, do progresso, do c o n h e c i m e n t o , o h o m e m continua p e n s a n d o do m e s m o jeito c o m relagao a mulher.

Com a expansao maritima e comercial europeia, o homem fundara colonias e entraremos na infancia do capitalismo. O homem unificara todo o planeta. Descobrira novos mundos, mas sera incapaz de descobrir a mulher, seja ela nobre, burguesa ou do povo. (ARAGAO, 2001, p. 244)

A Idade M o d e r n a p e r i o d o q u e vai do seculo X V ao s e c u l o XVIII, tern c o m o principals a s p e c t o s o fato de q u e as mulheres tanto d a s f a m i l i a s aristocratas, c o m o c a m p o n e s a s ou proletarias, t i n h a m u m a fungao diferenciada do h o m e m e m razao do sexo.

Nesta e p o c a havia u m a preocupagao muito g r a n d e c o m a propriedade privada e c o m a sua t r a n s m i s s a o pos-morte, e u m a f o r m a d o h o m e m conseguir que sua propriedade f o s s e transmitida a o s seus v e r d a d e i r o s herdeiros seria controlando a m u l h e r e sua s e x u a l i d a d e , "[...] o q u e so seria possivel c o m a garantia de que a mulher exerceria sua s e x u a l i d a d e no a m b i t o exclusivo do c a s a m e n t o " . (REIS, 1999, p. 101)

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A postura do h o m e m p a s s o u , entao, a caracterizar-se c a d a vez m a i s pela a c e n t u a d a intransigencia para c o m a mulher. O q u e so veio reforgar a hierarquia sexual d o s h o m e n s . Para Reis (1999, p. 105):

A caracterizagao da familia essencialmente pelas vivencias emocionais desenvolvidas entre seus membros e pela hierarquia sexual e etaria conduz a analise de seu funcionamento a centrar-se no binomio autoridade/amor. As vias pelas quais afeto e poder se relacionam dentro da familia permite-nos comparar os diferentes modelos de familia e entender a dinamica interna da familia moderna associada a suas fungoes de reprodutora ideologica.

C o m o se v e , a relagao entre h o m e m e mulher nao tinha c o m o principal f u n d a m e n t o o amor, ou seja, nao era regido s o m e n t e pelos s e n t i m e n t o s , pelo respeito, pela afinidade entre o casal; a d e m o n s t r a g a o de a m o r d a mulher era na v e r d a d e u m a d e m o n s t r a g a o de temor e s u b m i s s a o a autoridade do marido.

Nao e de se s u r p r e e n d e r n u m a familia centrada no binomio autoridade/amor, q u e o c a s a m e n t o fosse "antes de tudo u m ato politico, do qual d e p e n d i a a m a n u t e n g a o d a s propriedades familiares". (REIS, 1999, p. 106)

A s e s p a r s a s t r a n s f o r m a g o e s na f o r m a de t r a t a m e n t o entre h o m e n s e m u l h e r e s so c o m e g a a d e s p o n t a r no m u n d o , no p e r i o d o c o r r e s p o n d e n t e a Idade C o n t e m p o r a n e a q u e e u m t e m p o historico e m aberto, por q u e c o m p r e e n d e o p e r i o d o que vai d e s d e o final do seculo XVIII ate os dias atuais.

O t r a t a m e n t o assimetrico d a d o a h o m e n s e m u l h e r e s so passou a ser q u e s t i o n a d o efetivamente q u a n d o se d e u a evolugao do principio d a igualdade ao longo do seculo XIX, todavia o simples fato dele ter sido c o n t e m p l a d o pelo liberalismo nao permitiu q u e f o s s e d i s s e m i n a d o e m t o d o s os a m b i t o s d a s o c i e d a d e .

Com a Revolugao Francesa, as mulheres vao reivindicar seus direitos de cidadania e assumir um discurso proprio e especifico. E o caso de Olympe de Gouge, escritora atuante e revolucionaria, publicando, em 1789, seu Os Direitos da Mulher e da Cidada, no qual pedira a aboligao total do dominio do homem sobre a mulher. O resultado deu-se em 3 de novembro de 1793, quando a escritora foi guilhotinada sob a acusagao de querer igualar-se a um homem (de Estado) e por traigao a sua condigao de mulher. (ARAGAO, 2001, p. 244)

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Desta f o r m a , c o m p r e e n d e - s e que a igualdade f o r m a l q u e e m e r g i u nas relacoes sociais e e c o n o m i c a s impulsionada pelo liberalismo, de imediato nao influenciou na d e s i g u a l d a d e entre h o m e n s e mulheres.

M e s m o d e p o i s do a d v e n t o do seculo XIX, a mulher ainda p a s s o u m u i t o t e m p o s e n d o ignorada e v e n d o seu potencial ser d e s p r e z a d o pelo h o m e m , pelo direito, pelas ciencias e pela politica.

2.2 E V O L U Q A O D O D I R E I T O DE FAMJLIA B R A S I L E I R O

A realizagao d e u m a analise historica d a s relagoes de familia no Brasil e importante para se identificar de que f o r m a a cultura d a violencia foi inserida no meio social brasileiro e c o n s e q u e n t e m e n t e entender por q u e e t a o dificil no Brasil de hoje dar eficacia as n o r m a s de protegao a mulher.

O fato e q u e o o r d e n a m e n t o juridico brasileiro permitiu por anos a fios a d e s i g u a l d a d e entre h o m e n s e mulheres, e m q u e se evidenciava a fragilidade e inferioridade d a m u l h e r perante o h o m e m e mais a b s u r d a m e n t e permitiam a g r e s s o e s fisicas e ate o homicidio c o m o f o r m a de punigao por certos atos.

De certa f o r m a , o Direito de Familia Brasileiro foi durante muito t e m p o conivente c o m a cultura d a violencia contra a mulher, que u m a v e z implantada, nunca m a i s abolida, m e s m o depois d a s conquistas d o s m o v i m e n t o s feministas, d a criagao d e leis e d a celebragao do principio da igualdade nos mais diversos dispositivos.

No inicio d a f o r m a g a o e constituigao da s o c i e d a d e brasileira, o Direito Positivado nao foi j u s t o c o m a mulher, pois f a v o r e c e u a p e r m a n e n c i a de u m t r a t a m e n t o diferenciado e m relagao ao h o m e m , q u e fez c o m que ela nao participasse a t i v a m e n t e d a vida social, politica, e c o n o m i c a , cientifica e cultural brasileira d u r a n t e muito t e m p o .

A presenga da mulher e a historia de uma ausencia. Era subordinada ao marido, a quern devia obediencia. Sempre esteve excluida do poder e dos negocios juridicos, economicos e cientificos. O lugar dado pelo direito a mulher sempre foi um nao lugar. Relegada da cena publica e politica, sua forga produtiva sempre foi

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desconsiderada, nao sendo reconhecido o valor economico dos afazeres domesticos. (DIAS, 2006.p. 85)

S a b e - s e q u e o Direito e o e s p e l h o da s o c i e d a d e e q u e a cultura da repressao e da violencia contra a mulher esteve positivada no o r d e n a m e n t o brasileiro durante a n o s , p e r m a n e c e n d o vivo ainda hoje na m e n t e de alguns h o m e n s , q u e a c h a m que a mulher nao tern a m e s m a forga produtiva e intelectual deles.

Diz-se q u e a cultura da violencia esta presente ainda hoje na s o c i e d a d e brasileira e m razao dos constantes casos e x p o s t o s pela m i d i a e verificados nas d e l e g a c i a s d o s m u n i c i p i o s , no entanto o o r d e n a m e n t o j u r i d i c o brasileiro c u i d o u e m extirpar d o s s e u s dispositivos legais qualquer ideia q u e suscite a inferioridade d a mulher e m relagao ao h o m e m .

S e g u n d o Lotufo (2002, p. 87): "Pouco a pouco, muito lentamente a realidade juridica foi refletindo a fatica. Hoje, pelo m e n o s legislativamente, os direitos e n c o n t r a m - s e igualados". O que nao m u d o u foi a postura de a l g u n s h o m e n s , que m e s m o a p o s a edigao de n o r m a s de protegao a m u l h e r c o n t i n u a m a g r e d i n d o e t r a t a n d o a m u l h e r c o m o um ser inferior.

A violencia praticada contra a mulher e o resultado d a d e s i g u a l d a d e nas relagoes de familia, propiciada pelo patriarcalismo e m t e m p o s remotos, que a p e s a r de t o d a s as m u d a n g a s propiciadas pela luta feminista, infelizmente ainda continua presente e m alguns lares da s o c i e d a d e atual.

2.2.1 O r d e n a c d e s F i l i p i n a s

No Brasil a historia de luta d a mulher pela s u p r e s s a o do fim da violencia coincide c o m a luta pela igualdade de direitos e d e v e r e s entre h o m e n s e m u l h e r e s .

Na e p o c a do Brasil colonial, a mulher antes de casar estava s u b m i s s a ao pai e depois de casar-se passava a ser s u b m i s s a ao e s p o s o , s e m p r e restando u m a situagao q u e Ihe colocava n u m a situagao a m a r g e m da vida e c o n o m i c a , social e politica do p a i s .

Para c o m p r e e n d e r tal situagao, faz-se necessario analisar a trajetoria da e m a n c i p a g a o j u r i d i c a d a mulher no Direito de Familia Brasileiro, para a s s i m ,

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perceber q u e a legislagao brasileira f a v o r e c e u a imposigao da figura masculina e m detrimento da figura f e m i n i n a .

O direito responsavel pelo tratamento d a d o a familia p e r m a n e c e u por muito t e m p o c o m o s e n d o o instrumento legal f a v o r e c e d o r desta d e s i g u a l d a d e , permitindo atraves de alguns d i p l o m a s legais verdadeiras violagoes a o s direitos d a s m u l h e r e s e n q u a n t o ser h u m a n o .

A s O r d e n a g o e s Filipinas q u e vigoraram no Brasil de 1603 a 1916 d e m o n s t r a v a m u m a real situagao de violencia, d e p e n d e n c i a e s u b m i s s a o da mulher no p e r i o d o colonial. U m aspecto relevante a ser d e s t a c a d o diz respeito ao fato d e que a m u l h e r nao tinha personalidade juridica, u m a vez que ela e o marido e r a m a m e s m a pessoa para t o d o s os efeitos do m u n d o do direito.

Entao, se a ela nao era dada personalidade juridica, p o d e - s e concluir que ela nao existia s e m o marido. A figura do e s p o s o era de f u n d a m e n t a l importancia para a mulher q u e d e s e j a v a exercer certas atividades, pois necessitava d a autorizagao do m e s m o .

A m u l h e r era ainda obrigada a se s u b m e t e r aos c o m a n d o s do marido sob pena d e ser castigada e nos c a s o s de d e s o n r o s a conduta podia ate ser morta por ele, c o n f o r m e esclarece Lobo (2005. p.54):

A mulher necessitava de permanente tutela, porque tinha "fraqueza de entendimento" (Livro 4, Titulo 6 1 , §9.°, e Titulo 107). O marido podia castigar (Livro V, Titulos 36 e 95) sua companheira; ou matar a mulher, acusada de adulterio (Livro 5, Titulo 38), mas identico poder nao se atribuia a ela contra ele. (Grifo do Autor)

A violencia cometida contra a mulher de certa f o r m a era "legalizada", ou seja, fazia parte do conjunto de normas juridicas vigentes a e p o c a . Tal p e r m i s s a o de violencia esta c l a r a m e n t e expressa nos referidos d i p l o m a s legais atraves d o s v e r b o s "podia", "castigar" e "matar".

A s agoes violentas praticadas contra a mulher nao era a p e n a s u m a f o r m a de punigao por desvios de c o n d u t a , m a s t a m b e m d e m o n s t r a v a ser u m m o d o de reforgar a ideia d a s u p r e m a c i a m a s c u l i n a .

A g r a n d e dificuldade nos dias atuais de veneer a violencia contra a mulher, e de fazer valer os m e c a n i s m o s legais de protegao de s e u s direitos, pode ter raizes nos p e r i o d o s e m q u e o r d e n a m e n t o j u r i d i c o brasileiro foi c u m p l i c e c o m a situagao de

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desrespeito a o s direito das m u l h e r e s . C o m o pode ser percebido direitos f u n d a m e n t a l s c o m o a vida e a integridade fisica e r a m c l a r a m e n t e violados.

Muitos tracos d a violencia d o m e s t i c a presente na s o c i e d a d e c o n t e m p o r a n e a p o d e m ser resquicios de u m p e r i o d o e m q u e a mulher a l e m de nao receber u m t r a t a m e n t o igual ao dos h o m e n s , tinha que aceitar a violencia que Ihes era imposta.

2.2.2 C o d i g o Civil d e 1916

C o m a c h e g a d a d o C o d i g o Civil de 1916, f o r a m suprimidas as violencias fisicas c o m o f o r m a de punicao da mulher, c o n t u d o ela c o n t i n u o u v e n d o os s e u s direitos s e n d o d e s r e s p e i t a d o s c o m a m a n u t e n c a o da s u a s u b m i s s a ao marido e m muitos a s p e c t o s .

De a c o r d o c o m o disposto no C o d i g o Civil d e 1916 a m u l h e r ao contrair matrimonio via desfeita sua plena c a p a c i d a d e e t o r n a n d o - s e relativamente incapaz.

Para a mulher o c a s a m e n t o era u m verdadeiro "precipicio" social, pois d e p o i s de c a s a d a necessitava da autorizagao do marido para exercer atividades c o m o trabalhar, contrair obrigacoes, ser tutora, litigar e m j u i z o civel ou criminal, entre outras.

E m c o m e n t o ao C o d i g o Civil de 1916, c o m d e s e n v o l t u r a salientou Lobo (2005, p. 54 e 55):

Sem os exageros do periodo colonial, considerava a mulher relativamente incapaz - ao lado dos filhos, dos prodigos e dos silvicolas - e sujeita permanentemente ao poder marital. Nao podia a mulher, sem autorizagao do marido, litigar em juizo civel ou criminal, salvo em alguns casos previstos em lei [...]

T o d a s estas restrigoes que e r a m impostas a mulher d e p o i s dela casar-se era fruto de u m a c o n c e p g a o de superioridade masculina arraigada na s o c i e d a d e da e p o c a .

A s e v e r i d a d e era ainda maior q u a n d o se tratava de s e p a r a g a o do casal. Na realidade nao havia dissolugao do c a s a m e n t o nos t e r m o s juridicos q u e se tern hoje. O t e r m o utilizado na e p o c a era o desquite, e m virtude da c o n c e p g a o de ser o

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c a s a m e n t o indissoluvel e por que a palavra desquite d a v a a ideia d e nao quites, ou seja, e m debito c o m a s o c i e d a d e .

Nos m o l d e s e m q u e se estruturava o p e n s a m e n t o e as relacoes sociais d a e p o c a , para a m u l h e r levar c o n s i g o o rotulo d o desquite era muito pior que superar os e n t r a v e s i m p o s t o s pelo matrimonio, c o m s u a s exigencias d e autorizagao para o e x e r c i c i o d e a l g u m a s atividades e c o m toda s u b m i s s a o devida ao marido.

No q u e t a n g e as relagoes havidas fora do c a s a m e n t o , vale frisar q u e e r a m t o t a l m e n t e r e p u d i a d a s , pois so c o m o c a s a m e n t o era reconhecido a constituigao d a familia legitima. O b s e r v e :

Os vinculos extramatrimoniais, alem de nao reconhecidos, eram punidos. Com o nome de concubinato, eram condenados a clandestinidade e a exclusao nao so social, mas tambem juridica, nao gerando qualquer direito. Em face da inferioridade, as claras, era ela a grande prejudicada. Como o patrimonio normalmente estava em nome do homem, quando do fim do relacionamento, quer pela separagao, quer pela morte do companheiro, elas nada recebiam. (DIAS, 2006, p. 86 e 87)

O s filhos c o n c e b i d o s fora do c a s a m e n t o nao t i n h a m q u a i s q u e r direitos, pois e r a m punidos pela d e s o n r a cometida pelos s e u s genitores. S o m e n t e poderia ser r e c o n h e c i d a a filiagao c o m o desquite ou a m o r t e do genitor. Retratava na realidade o p e n s a m e n t o tradicionalista da e p o c a .

Para Dias (2006, p. 86): "O Codigo Civil de 1916 era u m a codificagao d o seculo XIX, pois Clovis Bevilaqua foi e n c a r r e g a d o de elabora-lo no ano de 1899. Retratava a s o c i e d a d e d a e p o c a , m a r c a d a m e n t e c o n s e r v a d o r a e patriarcal". R e s t a v a m , portanto, c o m o unicas vitimas desta postura c o n s e r v a d o r a a d o t a d a no C o d i g o Civil de 1916: as m u l h e r e s e as criangas havidas fora do c a s a m e n t o .

C o m o se p o d e observar no t r a t a m e n t o d a d o pelo referido codigo ao c a s a m e n t o , ao patrimonio, as relagoes extramatrimoniais, a responsabilidade c o m filhos havidos fora do c a s a m e n t o , s e m p r e se verifica o h o m e m c o m o g r a n d e beneficiado.

Q u a n d o se busca a raiz desta ideia de superioridade masculina ha muito usada para justificar a d e s i g u a l d a d e de direitos entre h o m e n s e m u l h e r e s durante seculos, surge c o m o relevante a condigao biologica d e forga flsica superior, que foi utilizada pelo h o m e m para se impor nas suas relagoes p e s s o a i s .

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2.2.3 E s t a t u t o d a Mulher C a s a d a

0 Estatuto d a Mulher C a s a d a foi considerado na e p o c a u m a vitoria para as m u l h e r e s , e m razao de ter sido restabelecida a c a p a c i d a d e juridica feminina, q u e a partir de entao, nao precisava mais d a autorizagao do m a r i d o para trabalhar e para exercer atividades antes dificilmente permitidas.

C o m este novo t r a t a m e n t o juridico d a d o as m u l h e r e s , ela a g o r a poderia ter s e u s bens reservados ao seu patrimonio particular, nada mais j u s t o q u e ter direito a o s frutos d o s e u trabalho. A l e m disso, tais b e n s nao r e s p o n d i a m pelas dividas d o s maridos.

Neste m o m e n t o , a mulher a s s u m i u a postura d e c o l a b o r a d o r a do m a r i d o na administragao d a s o c i e d a d e conjugal, isso possibilitou u m avango no t r a t a m e n t o legal assimetrico entre h o m e n s e mulheres, pois de certa f o r m a iniciava-se a s u p e r a g a o do poder marital na s o c i e d a d e conjugal c o m o advento d a Lei 4 . 1 2 1 / 6 2 (Estatuto da Mulher C a s a d a ) .

O primeiro grande marco para romper a hegemonia masculina foi a edigao do chamado Estatuto da Mulher Casada (Lei 4.121/1962). Foi devolvida a plena capacidade a mulher, que passou a condigao de colaboradora do marido na administragao da sociedade conjugal. (DIAS, 2006, p.87)

A posigao da mulher na familia depois d a Lei 4 . 1 2 1 / 6 2 ainda tinha c o m o caracteristica a s u b m i s s a o e d e p e n d e n c i a , e m razao de u m a serie de direitos e d e v e r e s diferenciados, e m q u e a figura feminina estava e m claro prejuizo, tais c o m o o direito r e s e r v a d o s o m e n t e ao marido para a fixagao d a residencia, isso d e certa f o r m a restringia o poder de decisao da mulher, m e s m o p o d e n d o ela recorrer ao juiz c o m relagao a d e c i s a o do marido.

E interessante observar que m e s m o s e n d o c o n s i d e r a d o u m avango, o Estatuto d a Mulher C a s a d a nao foi suficiente para por fim a d e s i g u a l d a d e existente entre h o m e n s e m u l h e r e s , pois c o n f o r m e afirma Lobo (2005, p. 55): "[...] restaram tragos a t e n u a d o s do patriarcalismo, c o m o a chefia d a s o c i e d a d e conjugal e o patrio poder, que o marido passou a exercer c o m a colaboragao d a mulher;".

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O patriarcalismo i m p u n h a g r a v a m e s a o s avangos m a i s significativos q u e aos p o u c o s se e s t a b e l e c i a m na legislagao brasileira, sua presenga restringia a liberdade feminina, o q u e a c a b o u se t o r n a n d o u m e m p e c i l h o para a e m a n c i p a g a o juridica e social d a s m u l h e r e s , que c o n t i n u a r a m presas ao lar. C o n f o r m e preleciona Lotufo (2002, p.86):

Na familia patriarcal brasileira, como a concebeu o nosso legislador civil daquela epoca, a mulher ocupou, durante muito tempo, uma posigao desigual a do marido. Era a senhora do lar, a quern cabia apenas a organizagao da casa e a educagao dos filhos, mesmo assim, de acordo com a orientagao daquele.

A mulher d e p o i s de casada tinha q u e cuidar da c a s a , d o s filhos e do marido, pois estas tarefas c o m p r e e n d i a m , c o n j u n t a m e n t e c o m outras, os d e v e r e s conjugais q u e Ihes e r a m impostos. A separagao que podia por fim a s u b m i s s a o , nao era b e m vista, pelo contrario era motivo de v e r g o n h a para a familia e para s o c i e d a d e , por ser contraria as regras legais e religiosas d a e p o c a . N a o h a v e n d o s a i d a , a mulher continuava se s u b m e t e n d o aos caprichos dos maridos.

M a s , a p e s a r d e nao corresponder a t o d o s os a n s e i o s d a s mulheres, a Lei n° 4 . 1 2 1 / 6 2 i n e g a v e l m e n t e foi u m a ruptura c o m r o m a n i s m o contido no C o d i g o Civil de

1916, c o m o preleciona Pereira (2002, p.6):

Comegou por abolir aquele romanismo que se incrustara em nosso direito como uma excrescencia inqualificavel e injustificavel. O Codigo Civil de 1916, parecendo volver-se para um passado ja superado, e retrogradando para dois mil anos, ainda proclamava a incapacidade relativa da mulher casada, que o diploma de 62 aboliu.

E preciso r e c o n h e c e r que o Estatuto da Mulher C a s a d a possuia de certo m o d o u m carater revolucionario, e m especial para a m u l h e r da e p o c a que sequer tinha a u t o n o m i a e c o n o m i c a e n e m podia exerce profissao fora do lar.

D e s s a f o r m a , por ter configurado um importante p a s s o na luta pela libertagao d a m u l h e r e m relagao ao marido, a Lei n° 4 . 1 2 1 / 6 2 impulsionou e inspirou posteriormente novos a v a n g o s , q u e se concretizaram c o m a Lei do Divorcio na d e c a d a seguinte.

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2.2.4 L e i do D i v o r c i o

D e p o i s de muita resistencia d a Igreja Catolica, ocorreu talvez o m a i s importante passo para a e m a n c i p a c a o juridica d a mulher, a Lei 6.515 de 2 6 de d e z e m b r o de 1977 (Lei do Divorcio).

O passo seguinte, e muito significativo, foi a aprovagao do divorcio, rompendo uma resistencia secular capitaneada pela Igreja Catolica. Foi necessaria a alteracao da propria Constituigao Federal, uma vez que a indissolubilidade do casamento era consagrada constitucionalmente. (DIAS, 2006, p.87)

Esta lei resolvia j u r i d i c a m e n t e os e m p e c i l h o s existentes para o fim do c a s a m e n t o . Diz-se j u r i d i c a m e n t e , por que parte da s o c i e d a d e (mais c o n s e r v a d o r a ) e a Igreja Catolica q u e resistiram durante muito t e m p o a legalizacao do divorcio, c o n t i n u a r a m c o n d e n a n d o a s e p a r a c a o judicial do casal, pois c o n f o r m e preceitos religiosos o q u e D e u s une n i n g u e m separa. A p e s a r da Igreja Catolica se opor ao divorcio por considera-lo contrario a lei divina, a Igreja ja nao tinha forga de impor nada ao Estado.

A p e s a r da postura de alguns e m relagao ao divorcio, o fato era q u e ter uma lei r e g u l a m e n t a n d o a s e p a r a g a o foi de extrema relevancia para a i n d e p e n d e n c i a da mulher, j a que e m muitos c a s o s a mulher desejava libertar-se d o h o m e m , p o r e m nao existia u m a f o r m a legalmente prevista para que isso o c o r r e s s e .

M a s , nao foi so a possibilidade d e divorcio q u e se t o r n o u realidade para as m u l h e r e s d a e p o c a , na b u s c a de u m a maior igualdade entre os casais nas relagoes conjugais, previu-se q u e seria uma f a c u l d a d e d a mulher adotar o s o b r e n o m e do marido e d e s c a r t a n d o - s e a s s i m a ideia de imposigao.

A lei promoveu outras alteragoes na legislagao civil, no caminho da igualdade conjugal, transformando em faculdade a obrigagao de a mulher acrescer aos seus o sobrenome do marido. Manteve, contudo, o modelo do estatuto da Mulher Casada de proeminencia do marido na chefia da familia. (LOBO, 2005, p.55)

Esta lei possibilitou a mulher nao ter mais q u e utilizar o n o m e do marido, pois esta regra foi abolida, p a s s a n d o a adogao do n o m e do marido a ser facultativa.

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A c o n t e c e q u e m e s m o nao s e n d o m a i s obrigatorio a mulher utiliza-lo, o c o s t u m e dita as regras. E m c o n s o n a n c i a c o m Lobo (2005, p.55), e n t e n d e - s e que: "o direito liberou, m a s o c o s t u m e persiste, s e m consciencia de sua origem".

A q u e s t a o d a adogao do n o m e do marido e motivo d e muitas d i s c u s s o e s , por q u e a adogao d o n o m e d o marido para alguns remete a ideia de propriedade, e para outros e m e r a q u e s t a o d e identificagao ou de status, nao c a b e n d o aqui u m a p r o f u n d a m e n t o a c e r c a do assunto.

S o b r e a mantenga do marido c o m o c h e f e de familia, vale m e n c i o n a r q u e era incompativel c o m o ideal de igualdade prescrito na proposta d a Lei do Divorcio. No entanto, ainda restavam claros alguns resquicios do patriarcalismo, q u e impediu que a lei do Divorcio r e p r e s e n t a s s e u m avango maior para a mulher.

A realidade e que este avango que se d e u c o m a E C n° 9/77, e q u e foi tao exaltado, poderia ter sido b e m melhor, ainda nao traduzia c o m p l e t a m e n t e o anseio d a s m u l h e r e s . Era preciso modificar alguns dispositivos e fazer c o m a s o c i e d a d e estivesse aberta para esta nova realidade.

A insatisfagao referia-se b a s i c a m e n t e a o s prazos exigidos para a c o n c e s s a o do divorcio, ou seja, a existencia d e m a i s de tres a n o s de s e p a r a g a o judicial para o divorcio por c o n v e r s a o , e para o deferimento d o divorcio direto, a existencia de s e p a r a g a o d e fato, c o m inicio anterior a 28 de J u n h o de 19977, d e s d e que c o n t e m p l a d o s cinco a n o s . V e j a o que diz Pereira (2004, p.2):

Com a Emenda Constitucional n° 9/77, que deu ao Art. 175 da Constituigao Federal de 1969, nova redagao, nasceram, respectivamente, o divorcio por conversao e o divorcio direto, para concessao do primeiro, tendo exigido o legislador, inicialmente, a existencia de separagao judicial ha mais de tres anos, e para o deferimento do segundo a existencia de separagao de fato, com inicio anterior a 28.6.77, desde que contemplados cinco anos (arts 25 e 4 0 da Lei 6.515/77).

Na realidade, estes prazos procrastinavam por muito t e m p o u m a situagao q u e era d e s f a v o r a v e l a mulher. A modificagao ocorreu o n z e a n o s depois c o m a p r o m u l g a g a o da Constituigao Federal de 1988.

Promulgada a nova Carta Magna do pais, em 1988, os prazos fixados nos artigos 25 e 40, da Lei 6.515/77 tiveram de ser inteiramente alterados, passando-se a admitir, de acordo com o

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estatuido no §6° do art. 226 da Constituigao, o divorcio por conversao apos um ano de separagao judicial e o divorcio direto decorridos mais de dois anos de separagao de fato. (PEREIRA, 2004, p. 2)

A Constituigao Federal de 1988 representou o principal instrumento legal a a p r e g o a r o principio da igualdade c o m o norteador de t o d a s as relagoes existentes na o r d e m juridica brasileira, inclusive no direito de familia.

N o m o m e n t o pos-Constituigao de 1988, o passo s e g u i n t e e bastante significativo para o Direito de Familia e para a m u l h e r foi a edigao do C o d i g o Civil de 2 0 0 2 .

C a b e ressaltar q u e entre a Lei do Divorcio e o C o d i g o Civil de 2 0 0 2 , a mulher alcangou u m e s p a g o n u n c a antes imaginado, as lutas f e m i n i s t a s f o r a m f u n d a m e n t a l s para tal, pois permitiram a m u l h e r se impor e m varias a r e a s e m especial no m e r c a d o d e trabalho, o n d e ela passou a competir c o m os h o m e n s .

A i n d e p e n d e n c i a e c o n o m i c a foi u m d o s principals e l e m e n t o s impulsionadores d a m u d a n g a , as m u l h e r e s c o n s e g u i r a m sozinhas char filhos e sustentar o lar s e m ajuda do sexo m a s c u l i n o e declararam de u m a vez por t o d a , sua i n d e p e n d e n c i a .

2.2.5 C o d i g o Civil d e 2002

O C o d i g o Civil de 2 0 0 2 foi e l a b o r a d o q u a s e que c e m a n o s d e p o i s d o Codigo Civil d e 1916. U m espago muito g r a n d e , que possibilitou a p e r m a n e n c i a d e institutos que nao a c o m p a n h a r a m o d i n a m i s m o d a s o c i e d a d e .

O t e m p o d e elaboragao, a p r o v a g a o e entrada e m vigor no atual C o d i g o Civil foi tao d e m o r a d o q u e q u a n d o passou a vigorar ja h a v i a m dispositivos que m e r e c i a m ser alterados.

S e g u n d o Dias (2006, p. 89): "Talvez o maior merito do atual C o d i g o Civil t e n h a sido afastar t o d a u m a terminologia d i s c r i m i n a t o r i a , q u e estava e n t r a n h a d a na lei, nao so c o m relagao a mulher, m a s t a m b e m c o m r e f e r e n d a a Familia e a filiagao" (grifo d a autora).

A s s i m c o m o estava e n t r a n h a d a a terminologia na lei, estava e n t r a n h a d o o s e n t i m e n t o d i s c r i m i n a t o r y na m e n t e d o s brasileiros. A diferenga e q u e d a lei foi

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possivel retirar t o d o s os a s p e c t o s discriminatorios, p o r e m ainda esta presente o s e n t i m e n t o na m e n t e da s o c i e d a d e brasileira.

M a s , a n t e s de adentrar nas discussoes a respeito do C o d i g o Civil de 2 0 0 2 , e interessante discutir u m p o u c o mais sobre o avango legislative brasileiro que refletiu significativamente no Direito d e Familia, q u e foi a p r o m u l g a c a o d a Constituigao Federal d e 1988.

A Constituigao Federal de 1988 foi u m a vitoria para os c i d a d a o s brasileiros, por ser c o n s i d e r a d o marco juridico d a transigao d e m o c r a t i c a e da institucionalizagao d o s direitos h u m a n o s no Brasil, e t a m b e m por consagrar os direitos e garantias f u n d a m e n t a l s indispensaveis ao Estado de Direito.

O direito a igualdade, a s s e g u r a d o no p r e a m b u l o , d e m o n s t r a que a nova Carta M a g n a do pais nao permitiria q u a i s q u e r agoes discriminatorias contra a mulher o u contra qualquer outro cidadao, m e s m o dentro d a s relagoes conjugais, e o art. 3°, IV, reforga este e n t e n d i m e n t o ao dizer que sera p r o m o v i d o o b e m de todos, s e m preconceito de s e x o .

A chamada Constituigao Cidada patrocinou a maior reforma ja ocorrida no direito das familias. Tres eixos nortearam uma grande reviravolta. Ainda que o principio da igualdade ja viesse consagrado desde a Carta Politica de 1937, a atual Constituigao foi alem. (DIAS, 2006, p.87 e 88)

Para o Direito de Familia e s p e c i f i c a m e n t e , a Constituigao Federal de 1988 p r o p o r c i o n o u a l g u m a s modificagoes relevantes, a c o m e g a r pelo conceito de familia que r e c e b e u u m t r a t a m e n t o mais a m p l o e igualitario.

A l t e r a r a m - s e o s prazos para a c o n c e s s a o do divorcio e, a l e m disso, foi r e c o n h e c i d a a e n t i d a d e familiar diversificada, ou seja, nao so a q u e l a constituida atraves d o c a s a m e n t o , m a s t a m b e m aquela presente na uniao estavel e na familia m o n o p a r e n t a l .

O u t r o e l e m e n t o de d e s t a q u e e talvez o mais importante para a mulher foi o r e c o n h e c i m e n t o da igualdade entre h o m e n s e m u l h e r e s e m d e v e r e s e obrigagoes. A s s i m d e s c r e v e Dias (2006, p.88): "[...] pela primeira v e z e enfatizada a igualdade entre h o m e n s e m u l h e r e s , e m direitos e obrigagoes (CF 5°,I)".

A p o s t o d o o t r a t a m e n t o d i s p e n s a d o pelo poder constituinte a familia e a igualdade entre h o m e n s e mulheres, o Codigo Civil de 1916 continuou d i s p o n d o a

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respeito d e e l e m e n t o s diferenciadores, que c o l o c a v a m a m u l h e r n u m a posicao desprestigiada na s o c i e d a d e conjugal.

Mesmo apos a implantacao da nova ordem constitucional, estabelecendo a plena igualdade entre homens, mulheres, filhos e entidades familiares, injustificadamente o legislador nao adequou sequer os dispositivos da legislagao infraconstitucional nao recepcionados pelo novo sistema juridico. (DIAS, 2006, p.88)

Essa situagao so foi realmente alterada c o m o a d v e n t o do C o d i g o Civil de 2 0 0 2 , q u e procurou dar u m a nova configuragao as relagoes de familia e retirar tudo aquilo q u e era contrario as normas constitucionais vigentes a partir d a p r o m u l g a g a o da Constituigao de 88.

Deve-se c o n s i d e r a r extinta pelo atual diploma toda diferenciagao entre h o m e n s e m u l h e r e s , igualando-se os d e v e r e s d o s c o n j u g e s e m respeito a o s preceitos constitucionais. S e g u n d o Lobo (2005, p. 67):

O Codigo Civil de 2002 suprimiu os deveres particulars do marido e da mulher, um dos pilares da desigualdade de tratamento legal entre os conjuges, compatibilizando-se, nesse ponto, com valores constitucionais. Por forga da Constituigao, ja que se encontravam revogados desde o advento desta.

O c o r r e q u e suprimir d a legislagao muitas v e z e s nao significa abolir d a realidade vivenciada nas familias. Surge a n e c e s s i d a d e de u m a s u p r e s s a o cultural d a ideia d e inferioridade d a mulher, para q u e realmente seja alcangado este proposito legal.

Em relagao a p e r m i s s a o da c o n c e s s a o do divorcio s e m previa partilha d o s bens, ha pontos a s e r e m esclarecidos, pois se durante muitos a n o s a gerencia d o s bens do casal ficou por c o n t a do marido e esta pratica continuou a c o n t e c e n d o nao h o u v e n e n h u m beneficio para a e s p o s a .

O legislador deveria ter levado e m consideragao o a s p e c t o historico-cultural d e prevalencia d o s b e n s na administragao d o s maridos, q u e nao foi extinto e m virtude d a evolugao no s i s t e m a brasileiro do principio d a igualdade de direitos e d e v e r e s entre os c o n j u g e s .

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O resultado pratico desta situagao e q u e s e m a previa partilha d o s bens, o divorcio a c o n t e c e e os bens c o n t i n u a m nas m a o s do marido, p o d e n d o advir para a m u l h e r serios prejuizos patrimoniais.

Por contingencia historica e cultural, normalmente o patrimonio ainda esta na posse e administragao do varao, enquanto a esposa se dedica prioritariamente aos afazeres domesticos e a criagao dos filhos. Assim, nao ha como deixar de reconhecer que o vies patriarcal da familia ainda subsiste: o patrimonio esta nas maos dos homens, os filhos ficam sob a guarda materna e os pais sao os grandes devedores de alimentos. (DIAS, 2006, p. 90)

O patriarcalismo e v i d e n c i a d o nas relagoes de familia d e s d e a antiguidade, ainda esta vivo nas s o c i e d a d e s , e m a l g u m a s d e m o n s t r a ser m a i s forte que e m outras. No Brasil, ele e e v i d e n c i a d o atraves dos altos indices d e violencia contra a mulher, praticada na maioria d o s c a s o s pelo conjuge ou c o m p a n h e i r o .

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3 C O M P R E E N S A O S I S T E M I C A D A V I O L E N C I A D O M E S T I C A E D O S I N S T R U M E N T O S L E G A I S D E P R O T E Q A O A M U L H E R

Para introduzir as d i s c u s s o e s a cerca d a violencia d o m e s t i c a e dos instrumentos legais de protegao a mulher e p r o e m i n e n t e c o n h e c e r o conceito d e V i o l e n c i a Domestica. E o conceito mais completo de violencia d o m e s t i c a e extraido d a propria Lei 11.340/06, pois e m s e u artigo 5°, ela t r o u x e insita u m a c o n c e p g a o bastante a m p l a d e s t e tipo de violencia, s e g u n d o a qual e c o n s i d e r a d a violencia d o m e s t i c a toda e s p e c i e de a g r e s s a o ( a g i o ou o m i s s a o ) dirigida contra a mulher (vitima certa) n u m d e t e r m i n a d o a m b i e n t e , seja ele d o m e s t i c o , familiar ou d e intimidade, b a s e a d a no g e n e r o que Ihe cause morte, lesao, sofrimento fisico, sexual ou psicologico e d a n o moral ou patrimonial.

3.1 F O R M A S D E V I O L E N C I A D O M E S T I C A E F A M I L I A R

A s classificagoes s a o importantes para identificar o tipo de a g r e s s a o e para poder analisar s u a s c o n s e q u e n c i a s para as m u l h e r e s vitimadas. O s tipos d e violencia a n a l i s a d o s terao c o m o r e f e r e n d a t o d o s a q u e l e s e v i d e n c i a d o s pela Lei Maria d a P e n h a , que sao: violencia fisica, violencia patrimonial, violencia psicologica, violencia moral e violencia sexual.

A n t e s de analisar c a d a u m a destas f o r m a s de violencia d o m e s t i c a e imperioso d e s t a c a r q u e a alteragao ocorrida no art. 6 1 , inciso II d o C o d i g o P e n a l , favorecida pela Lei Maria d a P e n h a , atingiu diretamente os c r i m e s a b a r c a d o s pela violencia moral, patrimonial, sexual e psicologica, pois a nova redagao na alinea T fez incidir circunstancias a g r a v a n t e s s e m p r e que tais crimes f o r e m c o m e t i d o s contra a m u l h e r c o m a b u s o de autoridade ou p r e v a l e c e n d o - s e de relagoes d o m e s t i c a s , de coabitagao ou de hospitalidade, na f o r m a da lei e s p e c i f i c a . Foi u m a f o r m a que o legislador e n c o n t r o u para agravar a pena q u a n d o o crime ocorrer no contexto previsto pela Lei 11.340/06. Entretanto e preciso atentar para o seguinte fato:

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[...] nao e toda forma de violencia contra a mulher, em qualquer lugar, uma circunstancia valida para a configuragao desta agravante. E fundamental que se de no contexto descrito pela referida Lei 11.340/2006, que cuida dos mecanismos para coibir a violencia domestica e familiar contra a mulher. (NUCCI, 2007, p. 451)

C o m o se v e , a previsao desta circunstancia a g r a v a n t e se d a s o m e n t e nos c a s o s e m que restar configurada a violencia d o m e s t i c a contra a mulher e nao qualquer violencia de g e n e r o , pois esta inovacao foi trazida pela Lei 11.340/06, v i s a n d o coibir a violencia contra a mulher no ambito d a familia e f a z e n d o c o m a pena seja a g r a v a d a e m virtude da prevalencia d a s relacoes d o m e s t i c a s .

No q u e t a n g e a violencia fisica no a m b i t o d o m e s t i c o , nao podera incidir tal a g r a v a n t e do Art. 6 1 , inciso II, alinea " f , e m razao do bis idem, pois o Art. 129, § 9° do C o d i g o Penal j a traz u m a u m e n t o de pena q u a n d o as lesoes corporais f o r e m c o m e t i d a s no a m b i t o d a s relagoes d o m e s t i c a s , de coabitagao ou de hospitalidade.

Satisfeitas estas d i s c u s s o e s preliminares, c o n v e m e m s e g u i d a realizar-se u m a p a n h a d o d e c a d a f o r m a de violencia e v i d e n c i a d a no a m b i t o d o m e s t i c o , enfatizando os e l e m e n t o s q u e t o r n a m cada f o r m a de violencia diferenciada q u a n d o c o m e t i d a no a m b i t o d o m e s t i c o .

3.1.1 V i o l e n c i a F i s i c a

A violencia fisica c o m p r e e n d e a f o r m a mais grotesca que o ser h u m a n o utiliza para atingir o outro ser h u m a n o . A regra e que o mais forte agrida f i s i c a m e n t e o mais fraco, v a l e n d o - s e s e m p r e d a superioridade do s e u porte fisico e dos d a n o s que pode causar.

A Lei 11.340/06 p r e o c u p o u - s e e m definir e m s e u art.7°, inciso I, o que seria violencia fisica, c o n s i d e r o u e n t a o que violencia fisica e q u a l q u e r c o n d u t a q u e ofenda a integridade ou s a u d e corporal da mulher.

Na analise d o presente trabalho, o f o c o principal e o agressor d o sexo m a s c u l i n o q u e m a n t e n h a ou m a n t e v e u m a relagao intima c o m a v i t i m a , ou seja, o conjuge (ou e x - c o n j u g e ) , c o m p a n h e i r o (ou e x - c o m p a n h e i r o ) ou o n a m o r a d o (ou ex-n a m o r a d o ) .

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V i a de regra o sexo masculino leva v a n t a g e m no q u e se refere a forga fisica e este fato faz c o m q u e muitos h o m e n s utilizem desta forga para manter s u a s parceiras s u b m i s s a s e passivas, atraves do uso d a forga fisica ou e n t a o da a m e a g a de uso dela.

Violencia fisica e o uso da forga, mediante socos, tapas, pontapes, empurroes, arremesso de objetos, queimaduras, etc, visando, desse modo, ofender a integridade ou a saude corporal da vitima, deixando ou nao marcas aparentes, naquilo que se denomina, tradicionalmente, vis corporis. ( C U N H A ; P I N T O , 2 0 0 7 , p. 37)

O b e m j u r i d i c o atingindo neste tipo de violencia e a integridade fisica da mulher. O s t r a n s t o r n o s c a u s a d o s pela violencia fisica sao muitos, por q u e muitas v e z e s a m u l h e r q u e nao quer d e n u n c i a r o c o m p a n h e i r o , t e n d e a mentir e e s c o n d e r as a g r e s s o e s , t o r n a n d o - s e u m a pessoa confusa e esquiva.

E m outras situagoes mais graves, a m u l h e r e s p a n c a d a p o d e sofrer limitagoes fisicas, g e r a n d o u m p r o b l e m a de s a u d e publica, pois muitas m u l h e r e s d e i x a m de ir para d e l e g a c i a , para nao envolver a policia, e a c a b a m indo parar nos hospitais publicos, c o m o intuito a p e n a s de curar os ferimentos, s e m resolver o p r o b l e m a principal q u e e a a g r e s s a o sofrida.

A a g r e s s a o fisica praticada contra a mulher g e r a l m e n t e v e m a c o m p a n h a d a de outros tipos de violencia, c o m o a violencia moral e psicologica. Muitas v e z e s estas a g r e s s o e s e s t a o correlacionadas. "Em principio parece q u e nao existe correlagao estatisticamente significativa entre a m a g n i t u d e do d a n o fisico sofrido e a r e p e r c u s s a o psicologica d a agressao". ( M O L I N A ; G O M E S , 2 0 0 6 , p. 75) M a s , s a b e -se que o d a n o fisico tern reflexos e m t o d o s os -setores d a vida d a mulher.

C o n v e m acrescentar q u e a Lei 11.340/06 ao propiciar a modificagao do Art. 129 do C P , no qual o m i n i m o legal ficou e q u i p a r a d o a lesao simples e o m a x i m o teve u m consideravel a u m e n t o de p e n a , teve o legislador a intengao de afastar a lesao corporal c o m e t i d a contra a mulher no a m b i t o d o m e s t i c o do c a m p o das infragoes de m e n o r potencial ofensivo. A s s i m postula Nucci (2007, p. 6 3 7 ) :

O intuito teria sido, apenas, afastar a infragao do campo das de menor potencial ofensivo. Se alguma vantagem houve, esta concentrada na agao penal, que passa a ser publica incondicionada,

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retornando para a iniciativa do Ministerio Publico, sem depender da representagao.

A n t e s desta m u d a n c a proporcionada pela Lei Maria da P e n h a , a mulher q u e sofria c o m violencia d o m e s t i c a na f o r m a de lesoes corporais, ia ate a Delegacia Especializada d a Mulher registrava a a g r e s s a o , m a s d e p o i s retirava a representacao e o agressor ficava impune, pois a agao carecia d e sua representacao.

A t u a l m e n t e nao existe esta possibilidade, uma vez registrada a a g r e s s a o , o Ministerio Publico passa a ser o responsavel pelo p r o s s e g u i m e n t o d a acao, q u e e publica incondicionada.

Ha u m a polemica c o m relagao as lesoes corporais leves c o m e t i d a s no ambito d o m e s t i c o , cujo contraditorio se da e m razao de ser ou nao passivel de agao penal publica incondicionada.

A divergencia ainda nao esta pacificada, alguns tribunals tern entendido que a

agao nestes c a s o s d e v e ser publica incondicionada, a e x e m p l o d a 6a T u r m a do

Superior Tribunal de Justiga que decidiu por tres votos a dois que lesoes corporais leves praticadas contra a m u l h e r no ambito familiar t a m b e m constituem delito de agao penal publica incondicionada (HC 10.680-5).

Este e n t e n d i m e n t o se baseia na ideia de que antes d a Lei 9.099/95 o crime era de agao penal publica incondicionada e q u e foi tal lei q u e exigiu a representagao d a vitima c o m o condigao de procedibilidade a autorizar o Ministerio Publico na oferta d a d e n u n c i a . No entanto, a Lei 11.340/06 afastou a aplicabilidade dos j u i z a d o s , retornando, a s s i m a c o m p r e e n s a o d a d e s n e c e s s i d a d e d a representagao para este delito. ( C U N H A ; P I N T O ; 2 0 0 7 , p.136)

No entanto, ha muitos q u e s t i o n a m e n t o s sobre este e n t e n d i m e n t o , o principal deles e sobre a reconciliagao da vitima c o m o a c u s a d o , posto q u e q u a n d o ha reconciliagao, a agao penal perde sua razao de ser e s e n d o ela publica incondicionada de nada valera a v o n t a d e d a v i t i m a , que nao deseja q u e seu e s p o s o ou c o m p a n h e i r o seja punido.

£ certo q u e nao so a gravidade d a lesao, c o m o t a m b e m a repercussao psicologica delas d e v e ser levadas e m consideragao, i n d e p e n d e n t e de a vitima aquiescer ou nao c o m o rigor da punigao. M a s , e preciso evidenciar que e m certos c a s o s o p r o s s e g u i m e n t o da agao penal podera trazer m a i s prejuizos para a vitima que a propria a g r e s s a o sofrida.

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