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ESCOLHA LOCACIONAL DAS ATIVIDADES FINANCEIRAS:

UMA ANÁLISE DAS TEORIAS DE LOCALIZAÇÃO

Clarisse Coutinho1

Resumo

O objetivo deste artigo é apresentar uma análise da escolha locacional das atividades financeiras. Para tanto, far-se-á uma análise comparativa entre as principais abordagens teóricas de localização das atividades econômicas em geral e, especificamente, das atividades financeiras. Procura-se, assim, destacar as contribuições e limites das teorias clássicas de localização para a análise da escolha locacional das atividades financeiras. Concluímos que a escolha locacional das atividades financeiras caracteriza-se por economias de aglomeração, dependência e entraves na localização. Assim, os fatores fundamentais para a escolha locacional financeira são: a proximidade da demanda por produtos financeiros, o acesso tecnológico e informacional, capital humano e o aspecto político institucional.

Introdução

O objetivo central deste artigo é apresentar uma análise da escolha locacional das atividades financeiras. Historicamente, essa escolha locacional tem tendência à concentração geográfica, em geral, nos centros urbanos e grandes metrópoles. Contudo, nos modelos locacionais clássicos, a variável financeira não é considerada como um fator explicativo na organização territorial das atividades econômicas.

Neste artigo, far-se-á uma breve apresentação das principais abordagens teóricas sobre a localização das atividades econômicas. Primeiro, apresentaremos um sucinto histórico da chamada Teoria Clássica da Localização, apresentaremos seus principais representantes, como Von Thunen, Alfred Weber, Walter Christaller, August Lösch, e Walter Isard. Em seguida, buscar-se-á analisar as Teorias do Desenvolvimento Regional

1 Mestranda em Geografia Humana – FFLCH/USP. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do

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_________________________________________________________________________________________________ com ênfase nos fatores de aglomeração, destacando autores como Marshall, Perroux, Myrdal e Hirschman. Por fim, na terceira seção, os fatores de aglomeração da determinação locacional das atividades financeira serão apresentados com objetivo de comparar e diferenciar dos fatores locacionais apresentados nas seções anteriores, as quais faziam referência ao setor agrícola e, principalmente, ao setor industrial.

1 Teorias Clássicas da Localização

As Teorias Clássicas da Localização têm como base os modelos neoclássicos da Teoria da Firma, que pressupõe um comportamento otimizador dos agentes econômicos. O primeiro a teorizar sistematicamente a localização das atividades econômicas foi Von Thunen (1826). A sua teoria procura explicar a localização das atividades agrícolas em torno de uma cidade. Desenvolve, assim, o chamado “anéis de Thunen”, que são as circunferências ao entorno da cidade que delimitam as áreas de cultivo agrícola de cada produto. Utiliza-se dos seguintes pressupostos teóricos: i) as áreas de cultivo são planas e igualmente fértil em todos os pontos, ii) os custos de transporte são uniformes como função da distância, iii) os preços na cidade são uniformes para cada produto e, iv) há maximização da renda. O objetivo central é determinar a composição de culturas que maximize a renda da terra, considerando a distancia de cada ponto da produção em relação à cidade, ou seja, seu centro consumidor.

Por ser pioneiro na análise locacional, a teoria de Von Thunen influenciou diversos autores que vieram a estudar o espaço em termos econômicos. Contudo, por sua teoria abordar a localização agrícola, sendo muito influenciada pela distribuição espacial de fatores climáticos e fenômenos da natureza, e basear-se em pressupostos teóricos muito limitados, faz com que a sua teoria seja bastante restritiva, em comparação a outros modelos de localização (AZZONI, 1982).

Mesmo dentro da esfera das Teorias Clássica de Localização, encontramos modelos mais abrangentes que o de Von Thunen, como é o caso do modelo de Alfred Weber (1909), que aborda a localização das atividades industriais. Esse modelo analisa a influência de três fatores fundamentais na determinação da espacialidade das atividades industriais, a saber: os custos de transporte, do fator mão-de-obra e as forças aglomerativas. Para compreendermos como o autor constrói a sua analise teórica,

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_________________________________________________________________________________________________ destacaremos os principais pressupostos que baseiam o seu modelo, a saber: i) as localizações das matérias-primas são dadas e conhecidas; ii) a posição e o tamanho dos centros de consumo são dados e conhecidos, com um mercado abarcando um número de pontos separados; iii) a mão-de-obra pode ser encontrada em oferta ilimitada a uma taxa de salário determinada, em várias localizações dadas e fixas. Além desses pressupostos gerais, cabe ressaltar outros três pressupostos implícitos no modelo, os quais são: a) concorrência perfeita; b) coeficientes fixos de produção; c) minimização de custos.

Em relação aos fatores de influencia na determinação da localização, no primeiro deles, o custo de transporte, Weber utiliza o chamado “triangulo locacional”, como um instrumento de análise. Considerando o menor custo de transporte para a determinação da localização, o autor supõe um caso onde haja um centro consumidor e duas matérias-primas necessárias para a produção de um produto final, as quais estão localizadas em pontos diferentes. Formam-se, assim, três pontos distintos que irá caracterizar o “triangulo locacional”, em que cada um desses pontos tem uma “força” de atração para produzir o produto final, essa força corresponde proporcionalmente o custo de transporte da quantidade necessária para produzir uma unidade desse produto final. A localização ótima da produção será no local onde essas três forças se equilibram.

O custo de transporte constitui o principal fator de influência de localização no modelo weberiano. Além desse, há também os fatores mão-de-obra e força aglomerativa, estes isolados ou em conjunto podem compensar o fator custo de transporte, no processo de minimização de custo para determinar a localização da produção. Justifica-se, assim, uma possível localização da produção fora do local de custo mínimo de transporte. Para fazer essa análise, Weber utiliza o instrumento de “isodapanas”, que são conjuntos de pontos que têm igual acréscimo de custos de transporte em relação ao local em que esse custo é mínimo. A “isodapana crítica” é a que apresenta um acréscimo no custo de transporte igual à redução de custos de produção proporcionada pela localização alternativa, que foi influenciada pelo fator mão-de-obra e/ou força aglomerativa.

Cabe ressaltar dois pontos principais na construção do modelo weberiano de localização, a saber: a grande importância atribuída ao custo de transporte e a minimização de custos. Nesse modelo, a demanda é considerada como dada e independente da localização da produção, não havendo, portanto, uma análise para a mesma. A não abordagem do lado da demanda e os pressupostos teóricos limitados e pouco adequados a situações reais, dificulta a comprovação empírica desse modelo, o

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_________________________________________________________________________________________________ que levou a diversas críticas, com a de Walter Christaller e August Lösch.

Seguindo com a Teoria Clássica da Localização, Walter Christaller (1933) elabora uma teoria na tentativa de compreender as leis que determinam o número, tamanho e distribuição das cidades. A sua teoria ficou conhecida como a teoria dos “lugares centrais”, que seria o centro de distribuição de bens e serviços para as regiões ao seu entorno.

A partir da análise dos arranjos espaciais, Christaller (1933), desenvolve o conceito de “limiar”, que é o nível mínimo de demanda que assegura a produção de um determinado bem ou serviço, a partir do qual passa a obter rendimentos crescentes. Com base nesse conceito, estabelece o alcance de um bem ou serviço, ou seja, a distância que a população dispersa propõe-se a percorrer para adquirir um bem ou um serviço. Com isso, Christaller afirma que há uma hierarquia das cidades. Quanto maior for o limiar e o alcance de bens e serviços, menor seria o número de cidades centrais, as quais distribuem esses bens e serviços para outras cidades da região. Isso levaria a uma concentração e centralização dessas atividades e formaria uma espécie de hierarquia das cidades.

Christaller (1933), afirma que a produção de bens e serviços nas cidades ocorreria devido a uma escala de produção que atinge um ótimo representado por uma demanda dividida em um espaço homogêneo. Conclui que há uma tendência à formação de arranjos hexagonais para a distribuição das cidades, ou lugares centrais, em uma determinada região.

O modelo de Christaller (1933) é comumente interpretado como um “modelo tipo

shopping”. As funções de oferta (atividades produtivas e as de serviços, por exemplo)

são orientadas pelo mercado, isso significa que são ofertadas tanto para consumidores como para produtores de outras atividades. Cabe considerar, que essas são distribuídas a partir de um ponto concentrador, o que se assemelha a uma figura de shopping center, com seus diversos tipos de bens expostos a venda. A orientação para o mercado da função de oferta evidencia a correspondência entre a distribuição espacial da oferta e da demanda, que tanto para Christaller como para Lösch irá depender em última instância dos custos de transporte e das economias de escala.

O modelo de sistema urbano de Christaller (1933) baseia-se nos seguintes pressupostos: i) se uma função com uma área de mercado dada for abastecida por um centro particular, este centro também abastecerá todas as funções que tenham áreas de mercado iguais ou menores; ii) a existência de um fator constante k de crescimento do

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_________________________________________________________________________________________________ tamanho da área de mercado (pressuposto este que pode ser flexibilizado). A partir desses pressupostos, Christaller estabelece seu sistema de lugares centrais hierárquicos.

A abordagem teórica de Christaller pretende ressaltar a formação uma rede de centros urbanos e as causas dos seus diferentes tamanhos e da sua distribuição irregular no espaço. Para isso, conceitua o chamado lugar central, que tem como característica a densidade populacional e a concentração de atividades econômicas em uma determinada região, como uma produção de bens e serviços centrais. Assim, o lugar central tem uma grande densidade de produção de bens e serviços, que atende não apenas a si próprio, mas também como as demais regiões ao seu entorno. Isso leva a Christaller a denominar a maior concentração na produção de bens e serviços em uma dada região como uma hierarquia de lugares centrais. Uma região é mais hierarquia que outra conforme o seu grau de sofisticação dos bens e serviços e quanto maior a sua área de mercado. Desta forma, a sua teoria explica os sistemas urbanos governados por fatores centrais, formando uma rede de lugares centrais.

Também abordando a espacialização do setor de serviços, August Lösch (1954) propõe uma hierarquia entre áreas de mercado. A análise teórica de Lösch, ao contrário da de Weber, prioriza o lado da demanda e confere a maximização de lucros como principal fator para a determinação da localização ótima. Assim, faz uma crítica a abordagem de Weber sobre a minimização de custos para a determinação dessa localização.

De acordo com Lösch (1954), as maiores concentrações urbanas são dependentes não apenas de alguma característica local (como recursos naturais ou especialização da força de trabalho), mas também de elementos adicionais, e provavelmente mais importantes, que atuam no processo de concentração urbana. Esses elementos mais importantes seriam os retornos crescentes de escala e os custos de transporte, os quais para o autor são essenciais para a compreensão da dinâmica espacial.

Os custos de transporte e os retornos crescentes de escala são endógenos ao modelo dinâmica espacial de Lösch. Assim, quanto maior as economias de escala menor será o preço de oferta do bem, o que implica em uma maior área de mercado do produtor e uma maior capacidade de avanço sobre novas áreas. Isso faz com que a estruturação do espaço em áreas de mercado seja essencialmente dinâmica, devido à interação desses fatores, custo de transporte e retornos crescentes de escala, ou do movimento de forças produtivas ou de aspectos concorrenciais (Lemos, 1988).

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_________________________________________________________________________________________________ demanda, como resultado da integração entre os custos de transporte e a maximização dos lucros das firmas que propicia a existência de áreas limite que são vizinhas a outras áreas de demanda. Além disso, esses lucros apresentam uma hierarquia conforme a oferta de serviços e a abrangência da demanda por esses serviços. Desta forma, forma-se uma hierarquia de regiões centrais e suas circunvizinhanças, com núcleos de maior e menor influência dentro do território. A idéia central na sua abordagem é a configuração de uma rede de cidades que formam-se a partir das cidades centrais, que seriam os nódulos principais dessas redes.

O último grande expoente da Teoria Clássica de Localização é Walter Isard (1957). O seu modelo sintetiza as teorias anteriores, sendo um modelo mais geral e abrangente. A sua formulação teórica considera apenas os fatores locacionais pelo lado dos custos, conferindo grande importância aos custos de transporte, de transmissão e produção. Como em modelos anteriores, baseia-se na minimização de custos para alcançar a localização ótima. Entretanto, além disso, agrega a substituição de fatores em função de variações de preços relativos de insumos e também faz uma análise das áreas de mercado, considerando as variações espaciais de receitas.

Contudo, o modelo de localização de Isard, não diferente dos demais já analisados, atribui ao custo de transporte um papel fundamental para a compreensão da distribuição espacial das atividades econômicas. Apoiado nisso, o autor desenvolve sua técnica de análise de substituição de “insumos de transporte” como fundamental para alcançar a localização ótima, tendo os demais fatores de localização uma menor relevância.

Dentre os representantes da “Teoria Clássica de Localização”, Walter Isard foi último a oferecer uma significativa contribuição teórica. Contudo, provavelmente, o que tem maior destaque entre os clássicos seja August Lösch.

As contribuições teóricas de Christaller e Lösch foram fundamentais para o desenvolvimento do estudo regional e sua espacialização. Cabe ressaltar que ambos os autores, com algumas diferenças de abordagem, desenvolvem a teoria do lugar central, que tinha como objetivo explicar a localização de atividades em que o padrão de oferta segue um padrão de demanda que é dispersa. A estrutura espacial dessas atividades seria dependente da interação entre a economia de escala e custo de transporte. A teoria do lugar central, de acordo com Parr e Budd (2000), tem como característica fundamental a agregação do sistema urbano em sua abordagem, desenvolvendo um modelo hierárquico para explicar a localização dessas atividades, a partir do grau de urbanização de cada

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_________________________________________________________________________________________________ lugar central com uma hierarquia maior ou menor.

2 Teorias do Desenvolvimento Regional com Ênfase nos Fatores de Aglomeração

As Teorias de Localização apresentadas acima fundamentam-se apenas em fatores econômicos, como custos de transporte e economias de escala. A análise das economias de aglomeração não se faz presente, a qual é um importante fator na determinação dos preços e, logo, para o exame locacional. A incorporação da abordagem da economia de aglomeração faz-se cada vez mais necessária, haja vista a perda relativa de importância dos fatores custos de transporte e economia de escala como determinantes na localização das atividades econômicas.

Um dos pioneiros no estudo sobre os fatores de aglomeração foi Alfred Marshall (1890), que tratou além dos ganhos de escala internos a firma, como também de duas externalidades pecuniárias e uma externalidade tecnológica, a saber: i) a possibilidade oferecida por um grande mercado local de viabilizar a existência de fornecedores de insumos com eficiência de escala; ii) as vantagens decorrentes de uma oferta abundante de mão-de-obra; e iii) a troca de informações que ocorre quando empresas do mesmo setor aglomeram-se. O destaque dado aos fatores de aglomeração contribuiu de sobremaneira para o desenvolvimento de teorias que tratam sobre o desenvolvimento regional.

A intensificação do estudo do desenvolvimento regional relacionado com a aglomeração começa durante a década de 1950. Autores como Perroux, Myrdal e Hirschman estão dentre os principais que dedicaram-se a esse tema, tendo como influencia principal autores como Schumpeter e Keynes. Contudo, mesmo de forma tangencial não se pode negar a influencia da abordagem marshaliana nessas teorias.

Perroux (1955), fortemente influenciado por Schumpeter (1911), faz uma crítica ao “fluxo circular da vida econômica enquanto condicionado por circunstâncias dadas”, de base walrasiana. Segundo Perroux, nenhum crescimento observável de uma economia teria ocorrido dessa forma, de equilíbrio geral walrasiano.

Com base na economia de aglomeração, Perroux, desenvolve a sua teoria de pólos de crescimento. Para tanto, busca compreender as relações existentes entre indústrias, que as denominou como motriz e movida. As primeiras referem-se as que têm propriedade de aumentar as vendas e compras de serviços de outras. Enquanto as

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_________________________________________________________________________________________________ indústrias movidas, seriam as que têm as vendas aumentadas em função das indústrias motrizes. Assim, sugere que o crescimento não ocorre de forma homogênea no espaço. Apresenta-se, portanto, como pontos ou pólos de crescimento, em diversos graus de intensidade, expandindo-se por variados canais e, com isso, produzem efeitos finais diversos na economia.

A partir dessa abordagem, Perroux (1955) procura demonstrar que um pólo industrial seria capaz de transformar seu meio geográfico imediato, como também toda a estrutura da economia nacional em que ali estiver estabelecida. Levando em conta que nesses pólos industriais concentram-se as atividades econômicas, devido ao surgimento e encadeamento de novas necessidades coletivas. O estabelecimento de pólos industriais poderia resultar em “um estimulo do Estado sob forma de subvenção”. Isso levaria a reestruturação de uma parte significativa das políticas de desenvolvimento local, que foram realizadas tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, a partir de então. Portanto, a análise dos pólos de desenvolvimento passa a ser uma característica do planejamento regional.

Outro autor a utilizar os fatores de aglomeração para a sua teoria sobre desenvolvimento regional foi Myrdal (1957). Em sua abordagem teórica afirma que as desigualdades regionais e as heterogeneidades observadas em um país seriam explicadas pelo processo de “causação circular e cumulativa”. Isso ocorreria, pois há um jogo de forças de mercado que age no sentido da desigualdade. Por isso, o autor defende a intervenção do Estado para conter as forças de mercado, as quais intensificam o processo de desigualdade regional.

Também com base na idéia de aglomeração econômica, Hirschman (1958), aborda as diferenças regionais a partir dos seus conceitos de efeitos para frente e efeitos

para trás. O primeiro refere-se à oferta de insumos, que tornaria possíveis os setores de

posicionarem a jusante. Por outro lado, os efeitos para trás seria o resultado das externalidades advindas da instalação de indústrias, que aumentariam a demanda de insumos no setor a montante, acarretando escalas mínimas de produção na região. Desta forma, o autor argumenta que o desenvolvimento econômico encontraria barreiras devido a uma série de círculos viciosos entrelaçados. Sendo que há maior facilidade de encontrar recursos e circunstancias necessárias para o desenvolvimento econômico onde este já se revele. Em outras palavras, onde há desenvolvimento é mais fácil desenvolver mais. Por isso, propõe o intervencionismo para reduzir as diferenças regionais, a partir de pressões e processos de incentivos para que mobilize o maior número de recursos

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_________________________________________________________________________________________________ escassos possíveis, como capital e atividade empreendedora. Sendo esse seu principal argumento para um plano de desenvolvimento econômico.

3 Os Fatores de Aglomeração na Determinação Locacional das Atividades Financeiras

Na Teoria Clássica da Localização, Lösch (1954) e Christaller (1933) abordam a espacialização do setor de serviços. Sendo o setor financeiro entendido como um tipo serviço, então, essas teorias nos darão suporte para discutirmos a questão da concentração e distribuição espacial das atividades financeiras, considerando as decisões de localização destas atividades.

Com base na teoria de Lösch e expandindo para o sistema financeiro, verificamos que alguns fatores também estão presentes nesse setor quando analisado a dinâmica espacial e localização das atividades financeiras no território. O custo de transporte não é um elemento relevante para a análise da decisão locacional das instituições financeiras, como ressalta Sicsú e Crocco (2002; 2006). De acordo com esses autores, o produto e o insumo final das atividades financeiras são muito específicos, sendo em geral depósitos, que seriam os insumos; e serviços financeiros (como fundo de investimento, empréstimos, dentre outros), correspondendo ao produto. O serviço de transporte não se faz necessário em nenhum desses, pois, tanto para captar e entregar o seu insumo, como o seu produto é necessário que as instituições financeiras estejam presentes no local. Portanto, o custo de transporte não seria determinante na localização de instituições financeiras.

O outro fator essencial para a compreensão da dinâmica espacial são os retornos crescentes de escala e com isso a formação de uma área de mercado. Esse fator apresenta-se como essencial para explicar as decisões locacionais das atividades financeiras. Evidenciando, portanto, que nessas atividades a oferta depende da demanda e configura-se espacialmente de acordo com a variação dessa demanda. Conforme discutido em Martin (1999), Sicsú e Crocco (2003), a dimensão dessa demanda está delimitada pelo tamanho do PIB local e pelo grau de concentração de renda gerada dessa região.

Portanto, no caso das atividades financeiras, em especifico, a proximidade da demanda é um fator fundamental para a localização das firmas financeiras. Essa é uma

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_________________________________________________________________________________________________ grande diferença na decisão locacional entre firmas financeiras e industriais, já que esta última não necessita de uma demanda próxima. Isso também corrobora o argumento que o custo de transporte não tenha tanta relevância para a localização de firmas financeiras, ao contrário das industriais. Cabendo ao custo de transmissão um papel mais significativo.

A decisão locacional de uma firma financeira não basta apenas ter demanda por produtos financeiros, mas é necessário saber qual o volume dessa demanda para instalar-se no local determinas tipos de firmas financeiras. Por isso, o tipo de instituição financeira e do tipo de serviço que oferta-se dependerá do volume de demanda financeira naquele local específico. Cabe ressaltar, que as firmas financeiras e seus respectivos “produtos financeiros” enquadram-se dentro do setor de serviços, o qual comumente necessita de uma demanda mais próxima em comparação com outros setores da economia.

Verificamos, conseqüentemente, que as instituições financeiras tendem a localizar-se em praças onde já exista elevada concentração financeira para usufruir economias de aglomeração. A maior interação entre os bancos devido a uma proximidade física permitem aos mesmos beneficiarem-se do spillover informacional e também a maior concentração geográfica acarreta mercados interbancários mais líquidos e eficientes. Outro fator que favorece a concentração geográfica é o capital humano, de profissionais qualificados em centros financeiros (Fattouh, 2001). Há, portanto, vantagens econômicas decorrente da economia de aglomeração, pois isso acarretará um menor gasto de mão-de-obra, por já aproveitarem pessoal treinado e muitas vezes com experiência no setor.

Além desses, também há mais um fator decorrente da economia de aglomeração, a concorrência. As firmas que instalam-se próximas aos seus concorrentes reduzem o risco de encontrar problemas locais que aumentem seus custos ou que tenham dificuldade de encontrar demanda local. Isso tende a levar a um menor custo de transformação, por causa dessa proximidade entre firmas do mesmo setor. Próximos aos concorrentes, as dificuldades locacionais serão comuns a todos, o que deixa cada firma em uma posição relativa inalterada.

Contudo, apesar da queda dos custos de transação reduzir devido aos avanços tecnológicos, isso não é suficiente para aumentar a diversificação geográfica das atividades financeiras (Gehrig, 1998). Doravante, este autor, distingue entre “informação simples padronizada” (ISP) e “informação complexa sofisticada” (ICS). Na

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_________________________________________________________________________________________________ primeira, a informação é facilmente compreendida e pode ser disseminada eletronicamente de forma simples. Enquanto na segunda, é mais difícil de transmitir-se e necessita de uma proximidade física entre a pessoa que transmite e a que recebe. Isso faz com que as atividades que dependem de ISP tendem a expandir-se geograficamente conforme o avanço da tecnologia. Por outro lado, as atividades que dependem de ICS, como as operações em bolsa de valores, são chamados de “informacionalmente sensitivos”, tendem a concentrar geograficamente junto a mão-de-obra especializada capaz de analisar cuidadosamente os seus retornos futuros. A capacidade desses centros financeiros em atrair mais atividades dependerá em grande medida da sua disponibilidade de especialistas aptos a gerar e transmitir ICS.

Segundo Tschoegl (2000), o desenvolvimento de novas tecnologias altera a distribuição espacial das atividades financeiras de acordo com a natureza dessas atividades. As atividades que envolvem processos mais rotinizados dispersaram-se dos grandes centros financeiros. Enquanto as que envolvem processos inovadores continuaram a ser desenvolvidas em importantes centros financeiros.

Gostaríamos de destacar a importância do fator demanda financeira como determinante na escolha locacional das atividades financeiras. Sendo que a demanda financeira está estreitamente relacionada com a não preferência por liquidez. Devido a isso, a localização das atividades financeiras diferencia-se em dois fatores principais em relação à localização das atividades industriais e agrícolas, por exemplo, que são: a proximidade da demanda e a pouca relevância do custo de transporte. Ambos os fatores estão relacionados, pois com a necessidade de uma demanda próxima, o custo de transporte perde importância. Concluímos que a escolha locacional das atividades financeiras caracteriza-se por economias de aglomeração, dependência e entraves na localização. Assim, os fatores fundamentais para a escolha locacional financeira são: a proximidade da demanda por produtos financeiros, o acesso tecnológico e informacional, capital humano e o aspecto político institucional.

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Referências

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