• Nenhum resultado encontrado

FPIFManualAutoscopia

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "FPIFManualAutoscopia"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

Simulação Pedagógica

Autoscopia

…Espelho meu, espelho meu, diz-me se há alguém mais belo que Eu?! ( da História da Branca de Neve)

(2)

N

OTA

I

NTRODUTÓRIA

No âmbito da Formação Pedagógica Inicial de Formadores, surgem os módulos de Simulação Pedagógica (Inicial e Final). No referencial que serviu de base à Homologação do Curso em referência apresentam-se como objectivos do módulo: i) identificar e descrever as principais aptidões na preparação, desenvolvimento e avaliação de uma sessão de formação; ii) identificar comportamentos pedagógicos a adquirir ou a melhorar e iii) exercitar competências de auto-análise e auto-análise em grupo.Tais objectivos encontram-se totalmente concordantes com o perfil de saída definido para este percurso formativo: “o formando deve ser capaz de preparar, animar e avaliar sessões de ensino-aprendizagem”.

Tecidas estas considerações iniciais, vamos de seguida fazer um breve enquadramento da Autoscopia enquanto técnica, deixando para o final a definição das estratégias de intervenção e critérios de análise estabelecidos para a avaliação deste percurso.

(3)

A palavra “autoscopia” é composta pelos termos “auto” e “scopia”. A primeira reporta-se a uma acção realizada pelo próprio sujeito e a segunda a “scopo” (do grego skoppós e latim scopu) que quer dizer objectivo, finalidade meta, alvo ou mira. Nestes termos a autoscopia diz respeito, portanto, à acção de objectivar-se, na qual o Eu se analisa em torno de uma finalidade.

Na prática de formação pedagógica “é a observação de si mesmo numa situação pedagógica dada” (Fourquet Strasfogel, 1972), centrada num comportamento específico do formando.

O instrumento básico para a autoscopia centra-se num circuito fechado de televisão. Trata-se da utilização de um sistema tecnológico que facilita aos indivíduos a observação directa ou diferida da sua própria actuação. Consiste fundamentalmente numa câmara (ou conjunto de câmaras) que grava a pessoa, as pessoas ou o grupo em formação ou em actividade sob análise, permitindo-lhes observar à posteriori a sua imagem. Deste modo, o feedback que proporciona é real e dinâmico e, por conseguinte, de grande valor e qualidade. Trabalha-se com a imagem para tornarmos consciente a forma como nos apresentamos aos outros… constituindo o cartão de visita da nossa própria identidade, em relação aos outros e também em relação a nós próprios.

É tratada como técnica de pesquisa e de formação que, pela utilização de videogravação dos comportamentos de um ou mais sujeitos, numa dada situação, visa a sua posterior auto-análise. A autoscopia contempla dois momentos essenciais: a videogravação, propriamente dita, de uma situação a ser analisada, neste âmbito, trata-se da simulação de uma micro sessão de formação, e das sessões de análise e reflexão. A implementação desta técnica visa: treinar competências na área da preparação, animação e análise de sessões de formação; desenvolver capacidades de crítica, de síntese e de trabalho em grupo; e diagnosticar comportamentos pedagógicos a melhorar.

O procedimento de autoscopia é encontrado em estudos como os de Linard (1974; 1980), Prax; Linard (975), Nautre (1989), Rosado (1990; 1993) e Ferrés (1996), que detalharam a função de avaliação de si mesmo que a videogravação permite através da confrontação da imagem de si na tela. Allan (1986) utiliza o termo de “microensino”.

Mais recentemente, Guarnieri (1998) designou o procedimento pelo nome de coaching, apresentando-o como uma metodologia de pesquisa e de formação de educadores que implica a

(4)

análise e reflexão conjunta de sessões gravadas ou registadas. Esta estratégia, segundo a autora, possibilita análises mais aturadas sobre o educador e sobre a relação entre pensar e agir na situação pedagógica.

Na técnica da autoscopia, o formando, formador, vê-se em acção, possibilitando uma modificação da acção pela percepção de causa e efeitos. (Linard, 1980). Neste mesmo sentido, Rosado (1993) considera que esta técnica permite a construção de uma representação do real, espaço, tempo, objectos, personagens, suas acções e interacções. O formando que assiste às videogravações não é um mero espectador, no sentido passivo do termo, ele é activo no sentido em que “ressignifica” os elementos apresentados, interpretando conteúdos e estabelecendo arranjos particulares, procedendo a articulações e atribuindo certos valores aos elementos, conforme a sua preparação, experiências e conhecimentos anteriores.

Está hoje muito consolidada a utilização dos meios técnicos e audiovisuais na formação. Neste contexto, a utilização da televisão, através do uso específico do vídeo com “espelho” esteve e está presente em tudo o que se relaciona com a mudança intencional e programada de determinadas condutas e na aceitação e gestão da própria imagem por parte do sujeito. Isto é tanto mais importante quanto a consciência de que a imagem física constitui um dos pilares do auto conceito.

O valor da imagem é inegável enquanto fonte riquíssima de dados para o estudo da personalidade individual, para a dinâmica de grupos e de um modo geral para todo o tipo de interacções. É interessante considerar o estudo da comunicação verbal e não verbal, e a análise de todos os sistemas e processos de interacção da comunicação entre grupos e indivíduos, incluindo, a análise quantitativa, embora se utilize maioritariamente a metodologia qualitativa.

Com efeito, a autoscopia pode ser encarada como um processo de “olhar-se ao espelho”, com garantias não só tecnológicas, como também de registo e análise segundo uma estrutura científica e procedimentos metodológicos específicos. É neste sentido que Ferrés (1996) a designa como vídeoespelho, na medida em que o vídeo potencia a função de auto avaliação. Para este autor, o vídeo é como um espelho, só que mais poderoso. “O espelho devolve à pessoa uma imagem invertida. O vídeo não. No espelho a pessoa pode olhar-se nos olhos. No vídeo não. O espelho impõe um único ponto de vista. No vídeo a pessoa contempla-se a partir de infinitos pontos de vista. (…) no vídeo vejo-me como sou visto, descubro como os outros me

(5)

vêem. Vejo-me para me compreender. O facto de me ver e de me escutar leva a uma tomada de consciência de mim mesmo, da minha imagem, do som da minha voz, da qualidade e da quantidade dos meus gestos, das minhas atitudes, da minha postura, da minha maneira de actuar e de ser.” (Ferrés, 1996, p. 52).

Em termos de síntese, o funcionamento de uma análise através do recurso do vídeo não é tarefa fácil de realizar. Isto porque envolve um processo de tomada de consciência e reflexão sobre diversos códigos expressivos: linguagem, metalinguagem, movimentação, postura, expressões faciais, maneirismos, entre outros, tanto de si como das demais pessoas envolvidas na situação sob análise.

Neste encontro consigo mesmo, a pessoa descobre-se e comenta-se, olha-se como se olhasse o outro. Como afirma Linard (1980, p. 17), “a imagem de si no vídeo é certamente um lugar por excelência de desfasagem e conflitos (…); entre gestos e palavras, entre percepções e projectos internos, entre contrastes “após” e intenções “antes”, entre o “eu” e “os outros”, entre “aqui-agora” e “acolá, outrora, mais tarde.” É, ao tempo, ”um lugar privilegiado de articulação entre experiência individual, consciente e inconsciente, e experiência social, presente e passada.” Em suma, trata-se de uma reapropriação de si e, também, de uma ocasião privilegiada de autocrítica em face da representação que se tem de próprio papel no mundo e a actuação que nele se verifica.

Vantagens da utilização da técnica da Autoscopia

A autoscopia tem inúmeras vantagens. Desde logo, o facto de conservar algo que já é passado, prolongando a existência de um facto, de uma actuação, no tempo.

A videogravação permite, ainda, registar acontecimentos fugazes que muito provavelmente escapariam a uma observação directa.

Outra particularidade, com superior relevância, resulta em permitir o distanciamento emotivo necessário para a análise reflexiva do material registado. Com efeito, na observação directa, a carga emotiva que acompanha a situação a ser registada dificulta uma percepção mais isenta e profícua do fenómeno a ser compreendido.

(6)

Inegável é, também, a versatilidade durante o visionamento, permitindo ver o material videogravado em ritmo normal, acelerado, cortando, ou repetindo quantas vezes forem necessárias à boa compreensão, comparável, nas palavras de Rosado (1993), ao “folhear de um livro”, que permite ao leitor proceder a avanços e recuos, repetições e pausas.

Ainda, no processo de consciencialização e potenciação de competências, a autoscopia permite a confrontação, pela imagem, com as representações que se tem de si próprio, com vista a uma mudança de atitude.

Na autoscopia a imagem funciona, nas palavras de Rosado, como uma “dobradiça” que articula os elementos do mundo real do sujeito com o seu mundo imaginário, as suas vivências, as suas motivações, atenções e conhecimentos.

Limites e cuidados da utilização da técnica da Autoscopia

Não podem, no entanto, ser desconsiderados alguns riscos na utilização desta técnica que se prendem, desde logo com a possibilidade de o formando fazer uma análise superficial, de apresentar um ponto de vista eminentemente negativo, ou recusar-se a aceitar a critica.

É que a imagem de si, no vídeo, não é inócua. Ela pode provocar reacções nos indivíduos, especialmente naqueles que são mais resistentes à mudança.

Devemos reconhecer que a câmara de vídeo não se apresenta como um elemento neutro nas gravações. Ela opera como que uma violação, porque penetra na intimidade, na privacidade do ser para depois entregá-lo novamente ao olhar. Não obstante, com Linard (1974) reconhecemos a sua importância, na medida em que possibilita a todos os indivíduos envolvidos o conhecimento dos efeitos do seu próprio comportamento, e assim repará-los e corrigi-los, não só em relação às divergências de atitude, mas também de normas, motivações perante os outros formandos envolvidos no processo.

A autoscopia é fatigante, porque muito minuciosa e exigente, em contrapartida, provoca a atenção e interesse dos indivíduos ou grupo com quem se trabalha, tornando-os activos e colaborantes.

(7)

Em todas as experiências de formação as pessoas que intervêm no desenvolvimento das autoscopias reconhecem a utilidade das mesmas na tomada de consciência e no desenvolvimento e potenciação das respectivas competências pedagógicas, por ser esta a área de intervenção e análise. Gera ansiedade antes da realização da simulação objecto de gravação, no decorrer da mesma e no momento do respectivo visionamento.

Considerações finais

Parafraseando Ferrés, o “encontro consigo mesmo, com o próprio corpo e, por intermédio dele, com a personalidade como um todo. Um encontro que é requisito indispensável para a tarefa da transformação”, a autoscopia revela-se muito útil e gratificante para os formadores. Para o garantir, não incorrendo numa postura meramente utilitarista, pragmática e voltada unicamente para o “saber fazer”, é imprescindível que se dispense grande atenção sobre a “ratio facere”, colocando em questão as finalidades educativas, sociais, éticas e humanas envolvidas no acto pedagógico.

No entanto, por mais sofisticada que seja a técnica, ela não será suficiente ou frutífera se não houver qualidades profissionais e humanas dos responsáveis. Sem essas qualidades, corre-se o risco de transformá-la numa máquina de condicionamento ou num “aborrecimento pedagógico” (Linard, 1980, p. 21).

A implementação da técnica da Autoscopia

Depois de explicados os procedimentos e razão de ser da implementação da autoscopia no processo, pode optar-se por um dos dois modelos de autoscopia: um, que preconiza a gravação de todas as simulações com posterior visionamento e análise (auto e hetero), e outro, que prevê a realização de cada simulação com visionamento e análises imediatos.

Propomos o primeiro modelo por, entre outras razões, conferir ao formando um, ainda que aparente, sentimento de equidade face aos demais intervenientes no processo.

A auto-análise incide sobre os elementos que considera mais pertinentes no desempenho da função de formador, identificando os comportamentos e atitudes em presença, que considera positivos, bem como aqueles que importa optimizar, alterar, suprimir ou integrar. Após esta

(8)

auto-avaliação, são chamados a intervir: primeiro, os formandos; depois o formador. A crítica construtiva e circunstanciada de todos os agentes tem por objectivo contribuir para um efectivo processo de crescimento de todos os intervenientes pela reflexão sobre o vivido.

Mais do que encontrar opiniões ou pontos de vista diferentes, pretende fazer-se uma reflexão sobre as consequências dos diferentes comportamentos do formador e seus efeitos na prática pedagógica.

Assim, sem desmerecimento para outros elementos dignos de reflexão face ao vivido, servem de orientação os seguintes critérios: domínio do assunto; comunicação dos objectivos; verificação dos pré-requisitos; métodos e técnicas pedagógicos; motivação; actividade dos participantes; facilitação da estruturação do conteúdo; recursos didácticos; interacção com o grupo comportamento físico; auto-confiança; verificação dos resultados da aprendizagem; comunicação dos resultados da aprendizagem e gestão do tempo.

Depois de todo este enquadramento do Módulo das Simulações Pedagógicas no Curso de Formação Pedagógica Inicial de Formadores, gratificante de verdade é a prática!

(9)

Bibliografia

ALLAN, M. Teaching english with vídeo. Harlow-England: Longman Group Limited, 1986.

FERRÉS, J. Video e educação, Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

GUARNIERI, R. M. A estratégia do “coaching” na pesquisa e na formação de professores, In: Encontro Nacional de

Didáctica e Prática de Ensino, 9, Águas de Lindóia, 1998.

LINARD, M. Les effets du feedback par television sur le processus enseigner-apprendre en situation de

groupe-classe. Bulletin de Psychologie, Tome XXVIII, n. 316 – spéciel

NAUTRE, C. Etude sur l’utilization de l’autoscopie video en formation permanente au Groupe Esc. Lyon. In : Cicle de

Mamagement des Ressources Humaines à L’Istitut de Gestion Social de Lyon, 3., 1989.

ROSADO, E. M. Comunication mediatisse et processus d’evolution des representations – etude des cas : la

representation de l’informatique, 1990

SADALLA, A. M. e outra, Autoscopia: um procedimento de pesquisa e de formação - Educação e Pesquisa, São

Paulo, 2004.

Referências

Documentos relacionados

(A) 96 litros.. Os Números Naturais resolveram então organizar a Copa do Mundo de Matebol entre eles. Cada número joga uma única vez com cada um dos números de seu

Cerca de 13 quilómetros para este da cratera principal o vulcão, emitiu escoadas lávicas que atingiram a altura de 50 quilómetros para este da cratera principal o

1.1 O presente Edital define as regras para o processo de seleção de estudantes matriculados nos Programas de Pós-Graduação stricto sensu (mestrados e

Juíza de Direito da 1ª Vara do Foro de Santa Rita do Passa Quatro SP, na forma da lei, etc., FAZ SABER, aos que o presente edital virem ou conhecimento dele tiverem, e

No primeiro Capítulo, serão revisitados os textos freudianos que versam sobre a psicose, a paranoia e o delírio, para desvelar os principais conceitos e noções que servem

O fragmento selecionado foi uma oração de São Lucas, em que pudemos extrair exemplos de características das escritas góticas e mostrar que, com ferramentas próprias, a

Fatologia: a maternagem ideativa; a fecundidade mentalsomática; a adoção de neover- pon; a concepção de neoideias; os cuidados para a maturação de neoconceito; as primeiras

Em cada filme atuam atores, que possuem um nome artístico único, um número de seguro social (também único), uma nacionalidade, idade, sexo, e um conjunto de tipos de papéis para