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A CRIANÇA E A CONSTRUÇÃO DO DESENHO: UMA EXPERIÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 1

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Maria Aparecida Mendes Cardoso Guimarães2 Mariléia Mendes Goulart3 Resumo: O presente artigo tem por tema a criança e a construção do desenho na educação infantil. As questões que se apresentaram foram: Como as crianças de 4 e 5 anos constroem o desenho a partir das materialidades disponíveis? O modo como as professoras disponibilizam as materialidades contribui para a construção dos desenhos das crianças? O objetivo geral foi analisar a construção do desenho das crianças de 4 e 5 anos, matriculadas em uma turma de um Centro de Educação Infantil. Como objetivos específicos, delineamos: estabelecer, a partir de referenciais teóricos, as relações entre o desenho e as situações significativas para a criança; verificar as metodologias utilizadas pelo professor para que a criança construa seus próprios desenhos; observar como a criança elabora seus desenhos na relação entre pares; e identificar os espaços e tempos que a criança tem para a construção do desenho. O método de abordagem desta pesquisa caracterizou-se como dialético. A pesquisa exploratória e a coleta de dados definiram-se como pesquisa de campo de cunho qualitativo. A coleta de deu por meio de observação e registro escrito e fotográfico. Percebemos que mesmo estando sozinha desenhando, ou em pares, a criança organiza seus brinquedos, manifesta suas criações e que desenhar é uma forma de vivenciar momentos anteriores de uma forma nova, envolvendo a imaginação com situações reais e significativas para ela. Esperamos que este artigo possa promover mais reflexões sobre a linguagem do desenho, como forma de conhecer melhor a criança e, também, como modo de superar a ideia de que o desenho é um modo de treino de coordenação motora, porque ele é mais que um treino sensório motor, ele é poético e prazeroso. Palavras-chave: Desenho. Educação Infantil. Experiência.

1 Introdução

Compreender o que a criança sente ao fazer seu desenho, é poder entrar na sua imaginação, é transpor os caminhos percorridos por ela, por isso, este trabalho busca entrar nesse universo de formas e cores. Assim sendo, este artigo se propõe a investigar os processos

1 Artigo apresentado ao Curso de Pedagogia da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito para a

conclusão da Unidade de Aprendizagem de Conclusão dos Processos Investigativos.

2Acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. E-mail:

mariamcguimaraes@gmail.com.

3Licenciada em Pedagogia - Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. Especialização em Gestão Escolar

– Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. Mestre em Educação - Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL. E-mail: marileia.goulart@unisul.br.

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na construção do desenho por crianças de 4 e 5 anos, matriculadas em uma turma de um Centro de Educação Infantil da rede municipal de ensino da cidade de Tubarão – Santa Catarina.

Partindo da premissa de que nos CEI as crianças encontram diferentes materialidades (desde revistas, jornais, vídeos, lápis, canetas, tintas, até a disposição dos objetos, e os próprios ambientes culturais e naturais) para elaborar seus desenhos, questionamos: Como as crianças de 4 e 5 anos constroem o desenho a partir das materialidades disponíveis? O modo como as professoras disponibilizam as materialidades contribui para a construção dos desenhos das crianças?

O objetivo geral deste artigo visa a analisar a construção do desenho das crianças de 4 e 5 anos, matriculadas em uma turma de um Centro de Educação Infantil da rede municipal de ensino da cidade de Tubarão – SC. Assim sendo, buscamos alcançar os seguintes objetivos específicos: estabelecer, a partir de referenciais teóricos, as relações entre o desenho e as situações significativas para a criança; verificar as metodologias utilizadas pelo professor para que a criança construa seus próprios desenhos; observar como a criança elabora seus desenhos na relação entre pares; e identificar os espaços e tempos que a criança tem para a construção do desenho.

O método de abordagem desta pesquisa caracterizou-se como dialético. A pesquisa exploratória e a coleta de dados definiram-se como pesquisa de campo de cunho qualitativo. A coleta se deu por meio de observação e registro escrito e fotográfico.

Durante nossa caminhada percebemos que o desenho é importante no desenvolvimento da criança, sendo este considerado a primeira forma de escrita, expressando sentimentos e emoções por meio de suas cores e formas.

Assim, no decorrer dos estágios nas escolas, surgiu a vontade de pesquisar sobre o desenho e sua relação com o aprendizado da criança. À medida que fomos lendo a respeito, o olhar ficou mais apurado quanto ao processo de construção do desenho pela criança, sobretudo, quando observávamos quando criavam e interagiam nos espaços externos, por exemplo, na areia do parque. Buscando em nossas memórias, lembramos que quando criança gostávamos muito de desenhar com várias materialidades. Fazer o sol brilhante, a casinha com janelas abertas e cortinas, no chão batido do quintal, utilizando apenas uma varinha de eucalipto. Era uma das melhores formas de expressar nossos sentimentos, como se o desenho mostrasse um mundo à parte, uma realidade transformada pela nossa imaginação.

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2 A criança e a construção do desenho

A educação infantil é a primeira etapa da educação básica e foi concebida para amparar a criança na fase em que ela inicia o desenvolvimento de suas habilidades motoras e cognitivas. Segundo os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006), o cuidar e o educar são funções indissociáveis básicas da educação infantil e estão atrelados com o desenvolvimento diário da criança.

Nessa fase, é preciso promover o enriquecimento das situações significativas, aguçar a curiosidade e despertar o interesse da criança para o mundo a sua volta. Para tanto, o professor precisa levar em conta os aspectos peculiares desta fase e oferecer materialidades significantes e meios que reflitam e ampliem o seu convívio social.

O ato de desenhar é tido por alguns autores como essencial para a construção de uma base motora e cognitiva, já que, por meio dele, a criança expressa naturalmente suas ações e emoções. Segundo Moreira (2005), o desenho é uma forma de linguagem que permite deixar marcas, seja por meio de uma brincadeira, de um jogo ou uma história. Por intermédio do desenho, a criança aprende, brinca e expõe suas ideias e sentimentos.

Toda criança desenha. Tendo um instrumento que deixe uma marca: a varinha na areia, a pedra na terra, o caco de tijolo no cimento, o carvão nos muros e nas calçadas, o lápis, o pincel com tinta no papel, a criança brincando vai deixando sua marca, criando jogos, contando histórias (MOREIRA, 2005, p. 15).

Para a autora, a linguagem do desenho, em um sentido mais amplo, também, expressa-se na forma como a criança organiza seus brinquedos e brincadeiras e, assim, traduz o que quer transmitir ao outro. Portanto, o espaço de cada criança é único, um desenho elaborado a partir da organização dos objetos, uma forma de criação e expressão da criança. Então, precisamos saber vê-la, ouvi-la e, também, como falar com ela, dentro desse espaço desenhado.

A criança que desenha aprende a expressar tudo o que vê e sente enquanto descobre o mundo ao seu redor. Por isso, os espaços destinados à educação da criança devem propiciar caminhos para curiosidade, pela busca do diferente, para criar novas aventuras. É na primeira infância que ela desperta para o mundo social, absorvendo e internalizando o que vê e ouve. Nessa idade, a criança amplia suas linguagens através das brincadeiras, da música, das artes plásticas, etc. As relações entre os pares se concretizam e, assim, ela constrói importantes significados e valores. Nesse sentido, Kramer, Nunes e Corsino (2011) mencionam:

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Elas brincam, aprendem, criam, sentem, crescem e se modificam ao longo do processo histórico que dá corpo à vida humana, dão sentido ao mundo, produzem história e superam sua condição natural por meio da linguagem. [...] Quando interagem, aprendem, formam-se e transformam; como sujeitos ativos, participam e intervêm na realidade; suas ações são maneiras de reelaborar e recriar o mundo.

Nas relações entre seus pares, com os adultos e com o ambiente, as crianças vão construindo culturas e resinificando suas histórias e, também, o universo em que habitam. E é, ainda, nesse espaço, nessa relação que as representações das crianças vão ganhando forma, é nessa materialização que o desenho ganha destaque.

Moreira (2005) constata que, no ato de desenhar, o pensamento e os sentimentos estão ligados. Em suas pesquisas, observa que crianças com o cognitivo comprometido, tem dificuldades no ato de desenhar, assim como as crianças com o estado emocional afetado. O desenho feito por crianças da mesma faixa etária em lugares e culturas diferentes, embora com diferenças individuais, são similares, o que altera os sentidos e significados dos mesmos, são os objetos e o contexto cultural de cada uma.

No entanto em nosso entendimento, para que a crianças tenha a capacidade criadora da imaginação, além das suas capacidades cognitivas e emocionais, é necessária uma diversidade de experiências vividas pelas crianças e, igualmente, na educação infantil, uma ampliação dessas experiências precisam serem propostas. Segundo Vigotski (2009, p. 20), “toda obra da imaginação constrói-se sempre de elementos tomados da realidade e presentes na experiência anterior da pessoa.”

É fundamental que nas instituições de educação infantil as crianças tenham acesso à experimentação, à pesquisa e à linguagem visual na qual o desenho está inserido. A exploração de muitos materiais, com tamanhos, formas e cores diferenciados, tais como giz de cera, carvão, lápis de cor, pincéis, tinta, palitos, terra, papelão, etc. permitirão uma experiência mais rica e criadora.

De início, nos desenhos da criança, vê-se apenas uma garatuja sem cor: é a fase do desenvolvimento sensório-motor. Nesse momento, ela rabisca pelo prazer, sem compromisso com representações. São rabiscos sem qualquer intenção de figuração. Depois, ela vai adquirindo seus formatos e se revelando em símbolos: é o princípio das representações. A partir daí, começa a receber nomes, cores e formas.

A compreensão da utilidade do desenho deve ultrapassar o conceito errôneo de que este só serve para preencher lacunas no planejamento das aulas ou, simplesmente, passar o tempo, pois se trata de um importante indicativo de como a crianças percebe o mundo a sua volta e como se faz presente nele. A criança quando desenha vive e age intensamente, muda,

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principalmente, a si mesma, e sem intenção ela pode mudar, inclusive, seu ambiente. Sua garatuja vai evoluindo com seu crescimento, em um processo que se retroalimenta e resulta no desenvolvimento da forma estética e do desenho.

Segundo Moreira (2005), no princípio do desenvolvimento sensório-motor, a linguagem da criança é uma resposta aos estímulos do ambiente. Mais tarde, quando o olho orienta as mãos e ela começa manipular as representações do ambiente, o desenho passa a ter estrutura como linguagem. Aqui, o jogo passa a ser organizado com o real, na cor do objeto, nos espaços e lugares determinados. A fantasia e o real ganham estrutura. Por meio do lúdico, a criança constrói o jogo e suas histórias do que vê no tempo e espaço real.

Para Richter (2007, p. 5), a ação do desenho modifica e amplia as experiências.

Imagens desenhadas ou pintadas, modeladas ou construídas, modificam nossa relação com as coisas, com o mundo, com o corpo. A atitude laboriosa que envolve o ato de desenhar, pintar e modelar, assim como construir objetos, não é apenas um passatempo que promove a evasão do real a partir da livre imaginação e tampouco se reduz a um meio para "adquirir" conhecimentos. Implica em uma experiência de aprendizagem no sentido de formação.

Ao olhar para o interior das coisas, a criança aguça sua curiosidade, e não comtempla apenas o objeto, mas compreende o que aquela imagem lhe provoca. Por meio dessa interação, ela traça no papel aquilo que a sensibiliza em relação ao seu mundo, pois o que define o autor da obra é a marca de sua presença no mundo provocada através das suas produções.

A criança, que tem liberdade para construir seus desenhos, mostra-se confiante diante dos desafios, mistura formas e cores até elaborar o que tem em sua mente. Expressa sua interpretação do contexto com o qual interage.

Para Moreira (2005), o desenho é natural a toda criança, mas ao longo do processo estudantil a confiança no desenho se perde. Somos condicionados a pensar que não sabemos desenhar, por não termos a habilidade em reproduzir formas e modelos preestabelecidos. O traço autoral é ignorado, os riscos e rabiscos perdem seus significados. A própria criança passa a acreditar que seu desenho não é um desenho de fato e aqueles riscos e rabiscos são infantis demais e já não são mais aceitos. Percebemos que essa linguagem tão importante para a criança se expressar deixa de ser aceita e acaba por se perder ao longo do processo.

Com o intuito de ensinar a criança o código da escrita, a escola aos poucos reduz a fala da criança, que é por meio do ato de desenhar, com isso ela perde a confiança em sua palavra e percebe que a escola é o espaço do adulto falar, ficando submissa, restando apenas a cópia e o silêncio, assim, o desenho fica apenas nas sobras de tempo, reduzindo seu valor.

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A forma como os currículos estão estruturados, também, exclui o desenho e seus métodos justificam sua exclusão. A escola permite que a criança se expresse na aula de arte por meio da linguagem plástica, porém é necessário que isso também ocorra nas outras áreas de estudos para que o conhecimento, no sentido real da palavra, seja alcançado, em todas as diferentes linguagens. Os horários para o aprendizado são favoráveis ao pensamento lógico e objetivo, com tempo menor para as experiências no aspecto afetivo e emocional.

Somos instruídos a pensar que a aula de arte não é importante, visto que seu tempo é menor e quase nunca é cumprido nos anos iniciais, e nos anos finais, apenas duas aulas semanais.

Quando a linguagem plástica é colocada em todas as disciplinas, o envolvimento das crianças com o aprendizado é maior, contudo são poucos os professores que buscam ofertar o desenho em todas as aulas. Alguns relatam que não conseguem passar todo o conteúdo programado se incluírem o desenho. Por outro lado, para os pais, o mais importante é seu filho ter uma escola forte no ensino de alfabetização, dificultando, cada vez mais, a introdução do desenho na escola. Mas a linguagem plástica é indispensável para o conhecimento de si próprio e da forma de pensar e sentir, porém é um tempo que a vida urbana nos privou.

Segundo Moreira (2005), com poucas exceções, as escolas procuram atender às vontades dos pais, que desejam uma escola onde se promova a alfabetização (habilidade entendida como sinônimo de sucesso para a sociedade). Com o intuito de ensinar à criança o código da escrita, o sistema educacional, aos poucos, reduz a expressão da criança, dada por meio do ato de desenhar. Com isso, ela perde a confiança em sua palavra e é conduzida a aceitar que a escola é o espaço do adulto falar, restando a ela apenas a cópia e o silêncio. Assim, o desenho fica apenas nas sobras de tempo, reduzindo seu valor. A forma como os currículos estão estruturados exclui o desenho e seus métodos justificam sua exclusão. Por ser o adulto que domina a fala, é ele quem influencia, e os recursos apresentados são cópias de figuras para serem pintadas pelas crianças. Então, forma-se uma cadeia de desenhos sem significados, enquanto que o verdadeiro desenho é repleto de expressões e significados na linguagem de quem o cria.

Moreira (2005) defende ainda que é preciso que o professor reaprenda o sentido do desenho e saiba encontrar seus valores. A busca de reaprender o desenho é de cada um, não existe receita ou mapa, mas é necessário que o educador reencontre seu contato com a música, as cores, os gestos, para reinventar-se como ser humano que cria e desenha. E que não julgue o desenho da criança, antes que ela mostre o sentido e o que quer demonstrar com a imagem produzida, porque o elogio e o desprezo podem gerar conflitos para quem cria brincando. É

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preciso manter a confiança no poder de criação, para que não se repita a frase “eu não sei desenhar” nas aulas de arte. É preciso resgatar a infância de nossas crianças para recuperar o desenho e suas formas lúdicas de expressão.

3 Diálogo entre os desenhos criados e a experiência da criança 3.1 O percurso da pesquisa

Para iniciar a investigação, primeiramente, procuramos a instituição e apresentamos o projeto de pesquisa. Fomos muito bem recebidas e o projeto, também, interessou a direção e a professora da instituição.

Com a contribuição da diretora, optamos por um grupo de crianças de quatro e cinco anos e definimos o cronograma dos seis dias de investigação pensado para a pesquisa. Em seguida, apresentamo-nos às crianças e compartilhamos com elas o motivo de nossa presença. Para realizar a coleta, utilizamos como instrumento metodológico momentos distintos: observação e registro escrito e fotográfico, das ações das crianças e da professora; e oficina de desenho – construção de desenhos a partir de uma proposição.

Nos primeiros dias, apenas observamos, registramos por escrito e fotografamos as rotinas e atividades das crianças, focando o olhar para o desenho. Enquanto elas desenhavam, conversamos sobre o que criavam. Esses olhares foram realizados em todos os espaços em que elas estavam.

Na oficina, organizamos um ateliê com papéis coloridos, giz de cera, lápis de cor e deixamos disponível para as crianças desenharem livremente o que quisessem. Conversamos com as crianças nesses momentos para saber o que estavam expressando.

Ao final das coletas, procuramos organizar os registros fotográficos e descritivos e analisar à luz dos estudos.

Desse modo, embrenhamo-nos nesse universo lindo, de construção, de imaginação e de transposição da realidade, por meio dos desenhos infantis. Desejamos, na sequência, traduzir a riqueza coletada, no cotidiano da instituição, com as crianças e com a professora. Diante das tantas evidencias, trazemos alguns recortes que costuram os objetivos pensados para este texto.

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3.2 Os desenhos nas rotinas: as observações

A arte plástica, na infância, segundo Richter (2007), é importante para que a criança aprenda a representar seus gestos materializados por intermédio dos desenhos, das pinturas, dos objetos, dos movimentos de seu corpo com o mundo. Sua experiência com essa linguagem é marcante por sua dimensão poética, é uma sintonia entre seu corpo, a linguagem e o mundo.

As imagens materiais – extraídas no embate do corpo (mão) com a materialidade do mundo – são eminentemente ativas e nos dinamizam. Nada está dado, tudo se busca. A realidade só pode ser verdadeiramente constituída pelo esforço humano. Esforço que, quando inteligentemente ofensivo afronta a resistência e as forças do concreto, num corpo-a-corpo com a materialidade do mundo, nos fornece a imago de nossa energia e faz da matéria nosso espelho energético. As coisas nos interrogam e exigem de nós ações no mundo. (RICHTER, 2007, p. 3).

Essa experiência de realidade, citada pela autora, foi evidenciada durante a coleta, bem no início da aproximação, no momento em que as observávamos no parque. Neste local, elas criavam brincadeiras e desenhos no chão, riscando com os dedos ou com pedaços de madeira que encontravam.

Esses desenhos traziam vivências do cotidiano. Na primeira imagem, a criança desenha individualmente e representa um prédio e, na segunda, meninos e meninas, coletivamente, desenham bolos. Mesmo não sendo foco da pesquisa, chamou-nos atenção que nas brincadeiras coletivas ou não, não havia distinção de gênero para a escolha. As figuras 1 e 2 mostram essa vivência.

Figura 1 - Representação de um prédio

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Figura 2 – Representação de um bolo

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

A ação de construir saberes pelas emoções que sentem ao tocar, manusear os objetos de desejo, torna a criança sensível ao seu ambiente. Recorrendo à diversão, a criança supera os desafios. Para Richter (2007), a forma como ela busca ultrapassar os obstáculos é importante, pois o fazer é relevante, mas o como fazer é mais significativo. Repetir ou recontar as ações, tais como nas imagens apresentadas acima, permite que a criança descubra novas formas de reviver suas histórias, sejam elas imaginadas ou não, o importante é fazer parte dela, porque mesmo que para alguns adultos seja incompreensível, ela aprende e desenvolve muito além do que apresenta.

O desenho é uma forma de linguagem que permite deixar marcas, seja por meio de uma brincadeira, de um jogo ou uma história. Por intermédio do desenho, a criança aprende, brinca e expõe suas ideias e sentimentos. A forma como organiza seus brinquedos e brincadeiras traduz o que quer transmitir ao outro. O espaço de cada criança é único, então, precisamos saber vê-la, ouvi-la e, também, falar com ela.

Nas imagens a seguir, as crianças organizam o espaço da sala reproduzindo seus momentos em casa com suas famílias. Na primeira foto, a menina faz do seu jeito, sem ter qualquer interferência, organizando os brinquedos como deseja. No momento seguinte, com as outras crianças e com a interação entre elas, a brincadeira se transforma, revelando o compartilhamento da brincadeira entre os pares, onde cada uma delas colocou suas ideias no decorrer da brincadeira, fazendo uma mistura de gostos e prazeres, sentidos por cada uma em outros momentos vividos. Em suas falas, por exemplo, elas reproduziam os passeios no shopping, as compras no mercado e os alimentos que comiam, mostrando como eram produzidos em suas casas.

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Figura 3 - Brincadeiras no espaço da sala

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

Com sua experiência, a criança se permite extrair valores por meio da combinação do corpo com a materialidade, envolvendo seus pensamentos. A cada movimento é um desafio proposto para ensaiar um relacionamento, seja com o outro, com animais, ideias ou consigo mesmo. O brincar, o admirar possibilitam ações e reações que transformam o entorno, abrem novos caminhos do/ para o lúdico. É a inquietação que provoca e constrói novas possibilidades de superar os desafios dos conhecimentos.

3.3 Desenhos a partir das proposições da professora

Ao pensar o desenho na infância, como uma linguagem, consideramos uma forma de expressão e desenvolvimento. Tendo em vista que a atividade criadora da criança depende do modo como ocorre as proposições para as suas experiências, permitimo-nos observar como eram as propostas feitas pela professora. Assim, nos dias em que realizamos a coleta, em todo

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o início, a acolhida era realizada com a disponibilização para as crianças da massa de modelar e dizia que elas poderiam criar o que quisessem.

Nessa hora, aproximávamo-nos e iniciávamos um diálogo para saber o que esses desenhos significavam. Suas produções foram bem diversificadas.

Figura 4 - Representação do bolo

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

Figura 5 - Representação do semáforo

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

As crianças apresentam o que vivenciam no dia a dia: o bolo que gostam, o momento da passagem no semáforo no carro com a família, entre outros.

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Chamou-nos atenção a repetição de material em todos os dias, visto que ao selecionarmos materiais diversos, poderíamos trazer outras experiências para a sala de aula, além de ampliação de conhecimento de outros recursos.

Richter (2007) diz que para que as experiências significativas se manifestem através dos desenhos, a criança precisa de liberdade para aprender e, ainda, entender os sentidos do que e como fazer com suas conquistas para socializá-las com o outro. Portanto, é necessário outro olhar para com os movimentos e experiências das imagens produzidas pela criança. Transformar o saber abstrato em objetos palpáveis promove os saberes para artes visíveis, em coisas únicas “do” para o “seu” (nosso) mundo. Mediante a sua imaginação, a criança ultrapassa as fronteiras da lógica e da apropriação dos significados das coisas, o insignificante torna-se valores motivadores para vivenciá-los.

O gesto da criança é materializado conforme sua imaginação e sentimentos, nutridos pelo seu olhar ampliado no jogo da ação sobre as coisas. O ato de brincar repetindo experiências como o desenho, a pintura, as modelagens e as construções, caracteriza o fazer de novo, como prazer de começar novamente, mas com o sentido de novidade. Seus primeiros movimentos e traços estimulam o aprendizado poético e as linguagens, permitindo trazer para sua realidade o que está oculto, e sem essa experiência não há aquisição do conhecimento.

Neste sentido, Richter propõe que é necessário encontrar um novo olhar para as artes plásticas e o fazer pedagógico. Buscar conexão entre a linguagem, o corpo e as imagens, no qual o sensível e o inteligível sejam priorizados, tornando a admiração e as experiências presentes para que possam ser sentidas, repetidas, compartilhadas e internalizadas, transformando o conhecimento da linguagem plástica na infância em sabedoria. Richter (2007, p. 4) afirma que:

Portanto, antes de propor apaziguadoras soluções metodológicas para o encontro entre educação, artes plásticas e infância, considero importante inflamar o debate ao destacar o silêncio em torno da questão posta pelo descaso com a aprendizagem das linguagens plásticas e, assim, forjar uma escuta que permita constatar a ausência da discussão educacional sobre os modos simplificados e simplificadores de conceber seu tratamento pela educação na infância.

Sabemos da importância da arte plástica para a infância e o quanto se faz necessária essa linguagem para o desenvolvimento da criança, pois o mundo visto pelo seu olhar se transforma no desenhar, pintar, modelar, construir objetos. Com suas repetições, os significados se multiplicam, ampliando os conhecimentos da criança no seu (nosso) mundo.

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Outra proposta da professora foi que as crianças pintassem o cordão, esse havia sido usado para fazer a medida da altura de cada uma. O interesse das crianças ficou na forma de manusear a tinta oferecida a elas. Com as pontas dos dedos, o encanto foi de misturar as cores. Figura 6 - Pintura do cordão

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

Com o entusiasmo das crianças, a professora percebeu que o ato de brincar com as cores teve mais significado para elas do que a proposta inicial, transformando completamente o ambiente da sala. O encantamento provocado pelo contato com as cores e pelas sensações sentidas são a expressão da criação das crianças. Nos reportamos, também, a sensibilidade do professor em notar que os recursos devem estar disponíveis para as crianças e que elas podem escolher o modo como se expressar diante desses materiais. Importante, ainda, que o professor pergunte para as crianças por que as cores, nesse caso, a encantaram tanto, porque falar permitirá que elas tenham mais vivências com as linguagens e esses dados são subsídio para a elaboração de outros planejamentos. Após o término das pinturas, todas foram colocadas no varal da sala para secar. A todo o momento, as crianças se aproximavam para mostrar e falar sobre a arte que produziram, revelando o prazer que sentiram em manusear as tintas. Para Tsuhako (2017, p. 182), “[..] independente de faixa etária, todas as produções, ao serem expostas para apreciação e avaliação do grupo, possibilitam contribuições e aprendizagens por meio da observação e dos comentários das crianças.” Quando nos perguntamos como as crianças na educação infantil podem participar efetivamente dos planejamentos, esse é um dos exercícios de participação, ou seja, levar em consideração as falas que vem a partir do exposto.

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Figura 7 - Pinturas a dedo

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

A arte plástica na infância precisa ser reinventada diariamente para que não caia na rotina do ambiente escolar e afete o aprendizado individual do sujeito. Richter (2007) defende, ainda, que a admiração ou estranhamento sobre a linguagem plástica e do corpo provocam nas crianças o encantamento e, ao mesmo tempo, condições de interpretar o que ainda não falam. As mãos das crianças que manipulam os objetos absorvem os sentidos e extraem valores desse encontro do seu corpo com a materialidade, construindo novos significados através dos seus gestos. Assim, por meio da diversão, a criança supera os desafios.

Outra linguagem trazida pela professora foi a linguagem musical, o que movimentou a sala. Quando a professora cantou com as crianças algumas músicas que eles já conheciam, elas acompanhavam cantando e reproduzindo os gestos, demostrando momentos de prazer e descontração, mas que, ao mesmo tempo, manifestavam os aprendizados já internalizados em cada uma delas. Esses gestos foram simbolizados em cima da mesa, em forma de desenhos feitos com os dedos.

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Figura 8 - Descontração com as músicas

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

A forma como a criança busca para ultrapassar os obstáculos é importante, pois o fazer é relevante, mas o como fazer é mais significativo. As crianças, a começar da música e dos movimentos, criaram o modo de se manifestarem, a partir do corpo e por meio de desenhos, embora invisíveis, mas para eles bastante significativos. Repetir ou recontar as ações permite que ela descubra novas formas de reviver suas histórias, sejam elas imaginadas ou não, o importante é fazer parte dela, pois assimila muito além do que apresenta.

Ampliar o repertório das crianças e favorecer o desenvolvimento de conceitos, ajudam a superar a ideia de desenho apenas com o uso do lápis de cor sobre o papel sulfite retangular. Alternativas de ação possibilitam à criança uma autonomia sobre a escolha de materiais e os modos de fazer produção. (TSUHAKO, 2017, p. 182).

Importante superar práticas mecânicas de desenhos, de figuras pontilhadas ou cópias e reproduções de modelos prontos, ver o desenho em todas as suas potencialidades e a partir das muitas linguagens. Perceber o movimento das crianças e as descobertas delas, das suas relações com as materialidades disponibilizadas. Pensar que cabe ao professor lançar desafios que permitam provocar o desenvolvimento das crianças.

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3.4 Ateliê dos desenhos: proposição da pesquisadora

Uma das metodologias dessa pesquisa foi pensar um momento para que as crianças desenhassem livremente, uma proposição nossa. Para isso, criamos um elemento de surpresa e ludicidade. Levamos uma caixa de presente e dentro dela havia folhas coloridas, lápis de vários formatos e cores. Encenamos a chegada do presente e pedimos para as crianças adivinharem o que seria o presente. A caixa fechada e a história criada aguçaram a curiosidade e a imaginação. Fizemos isso, porque acreditamos que cabe aos professores lançar desafios à imaginação e à criação das crianças.

Figura 9 - A caixa de presentes

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

Depois das mais variadas suposições, abrimos a caixa e deixamos que elas manuseassem o conteúdo do “presente”. Em seguida, pedimos que escolhessem os materiais que quisessem e desenhassem algo que mais gostavam, o que quisessem. “Incentivamos a criação e a expressão quando levamos a criança a olhar para si e pensar no que sente, gosta, não gosta; quando a incentivamos a falar sobre si, sobre seus sonhos, gostos, preferências, vontades e sentimentos.” (TSUHAKO, 2017, p. 186). Enquanto desenhavam, aproximamo-nos delas e perguntamos os significados dos desenhos.

Segundo Moreira (2005), o desenho é uma forma de linguagem que permite deixar marcas, seja por meio de uma brincadeira, de um jogo ou uma história. Por intermédio do

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desenho, a criança aprende, brinca e expõe suas ideias e sentimentos. A forma como organiza seus brinquedos e brincadeiras traduz o que quer transmitir ao outro.

No desenho abaixo, a criança demostrou seu carinho através das cores e formas, transformando o abstrato em algo visível.

Figura 10 - Representação da criança com a pesquisadora

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

Quando oferecemos a caixa com lápis às crianças para que desenhassem algo de sua preferência, não imaginávamos que seríamos agraciadas com este lindo desenho. Para nossa surpresa, uma das crianças mostrou o desenho e perguntou o que achávamos do seu desenho. Disse a ela que estava muito lindo. Então, sorrindo explicou que desenhou a pesquisadora e ela de mãos dadas, além de um sol brilhante, um passarinho e muitos corações, pois gostou muito de me conhecer.

O espaço de cada criança é único, precisamos saber vê-la, ouvi-la e, também, como falar com ela. O desenho é a primeira escrita da criança. Ao desenhar, ela se transforma e demonstra suas descobertas, tristezas, afeto e alegrias, expondo seu interior e seu exterior, por meio do desenho, conta sua história.

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Os desenhos, mesmo feitos em lugares e culturas diferentes, mas com crianças das mesmas faixas etárias, possuem características semelhantes, o que difere são os sentidos e significados que elas lhe atribuem. À medida que a criança vai desenvolvendo sua coordenação motora, ela descobre que através do desenho pode expressar-se, passa a construir formas para demonstrar ao outro seus valores e sentimentos.

Toda criança desenha. Tendo um instrumento que deixe uma marca: a varinha na areia, a pedra na terra, o caco de tijolo no cimento, o carvão nos muros e nas calçadas, o lápis, o pincel com tinta no papel, a criança brincando vai deixando sua marca, criando jogos, contando histórias. (MOREIRA, 2005, p. 15).

A criança faz o desenho repetindo várias vezes, até ter o domínio dos traços. Este jogo de movimentos é divertido para ela e, aos poucos, deixa sua marca. Aquilo que, de no início é apenas uma garatuja sem cor, aparentemente rabiscos, progressivamente adquiri formato e revela símbolos e representações que, aos olhos dos adultos, podem passar imperceptível, mas está cheio de significado para a criança. Por isso, são importantes a aproximação e o diálogo. Nesse desenho, por exemplo, o que para nós não passa de alguns rabiscos, quando conversamos, a criança manifestou que havia desenhado um cachorro e um sorvete, demonstrando sua relação com o que ela já vê no seu cotidiano.

Figura 11 - Representação do cachorro e o sorvete

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Segundo Moreira (2005), para um adulto, o desenho é momento de criação, já para a criança, é apenas uma brincadeira. A criança, quando brinca, concentra-se, vive esse momento intensamente. É visível, também, no artista que cria sua pintura, sua música que quanto mais próximo da sua criança interior, mais envolvimento, a dor e o prazer se aproximam, e os conflitos ficam longe. Porém há diferença de criação entre o adulto e a criança. Enquanto a criança vive e age, muda, principalmente, a si mesma, podendo mudar, também, seu ambiente, mas sem essa intenção, o adulto, por sua vez, interfere no mundo a sua volta com sua criação, produzindo mudanças conscientes, com intenção e significados que mudam a realidade vivida. Figura 12 - Representação de sabonetes

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

Na imagem acima, a criança nos disse que seu desenho representava três sabonetes, porque ela gosta de lavar as mãos com bastante espuma para poder sentir seus perfumes.

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Figura 13 - Representação dos monstros

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

Nessa outra, a expressão foi o desenho de vários monstros. A criança utilizou-se de sua borracha para fazer o início dos contornos. Em sua fala, relatou-nos que fez a evolução dos movimentos do monstro.

O desenho é um difusor de expressões, a criança se diverte brincando, rompendo barreiras e alimentando-se de sonhos, aguçando seus pensamentos para cruzar novos caminhos e apodera-se do mundo, estabelecendo relações do seu interior com exterior, envolvendo-se mentalmente, assim como também os gestos materializados com o movimento do corpo se transformam em aprendizado.

O desenho infantil é uma arte que envolve sentimentos e pensamentos com princípios e saberes para a construção intelectual do sujeito. É um processo que envolve os traços e significados que expressa a espontaneidade da criança. Ele comunica e transmite realidades do cotidiano ou do imaginário, por meio dos traços, cores e formas, potencializando a prática da criação. Conforme a criança cresce, suas formas se transformam e seu estilo floresce juntamente com os aspectos cognitivos e motores. Na imagem abaixo, por exemplo, a criança desenhou uma caixa de supermercado cheia de frutas, simbolizando seu passeio com a família na hora das compras, demonstrando sua conexão com o mundo real.

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Figura 14 - Representação de uma caixa de supermercado com frutas

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

Hanauer (2011) destaca que o desenho está presente em todos os povos, representa a vida e sua prática faz parte das descobertas, pensamentos e felicidade da criança. Pelo desenho, ela imagina, cria e desperta sua curiosidade e conhecimento. O desenho infantil, segundo Lowenfeld (1977 apud Hanauer, 2011), é classificado em diferentes estágios: garatujas, pré-esquemático, esquemático e realismo, cada um deles representando uma característica, conforme a idade e a evolução da criança. No início, a criança utiliza o lápis como brinquedo, depois vem o jogo dos símbolos, até que começa a controlar seus traços e direcionar sua mão para onde seu olho guia, representando objeto com mais precisão.

Esse exercício de aprendizado não é algo automático, pelo contrário, é um processo de evolução no qual a criança vai percebendo suas habilidades, conforme se apropria da sua coordenação psicomotora. Com destaque a essa conexão, Hanauer (2011, p. 11) menciona:

Os primeiros desenhos parecem surgir de forma espontânea e evoluem junto ao processo de desenvolvimento da criança. Os rabiscos iniciais apontam para a extensão do gesto que deixa marcas, mas nem sempre possuem a intenção de transmitir alguma mensagem. Ocorre então o aprimoramento das capacidades sensoriais e motoras e o prazer de registrar. Com o tempo essas marcas passam a ter uma intenção e a criança se comunica por meio delas.

Portanto, o desenho de uma criança contém muito mais que rabiscos. De início, pode não possuir intenções, mas à medida que se desenvolve, vai deixando suas marcas no

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mundo e demonstrando suas emoções e conflitos, os quais refletem situações vividas por ela enquanto se desenvolve.

O desenho abaixo pode parecer uma série de formas desconexas, mas para a criança, segundo suas palavras, ele representa a mãe, a filha e alguns fantasmas, que seriam de um desenho animado que ela gosta de assistir na TV.

Figura 15 - Representação da mãe, a filha e os fantasmas

Fonte: Acervo das autoras, 2019.

É preciso regatar nossa infância para recuperar o desenho e suas formas lúdicas, é aceitar “o não saber” para escrever nossa marca e presença, no desenho e nos traços do olhar seguido das mãos. A busca de reaprender o desenho é de cada um, não existe receita ou mapa, mas se faz necessário que o educador reencontre seu contato com a música, com as cores, com os gestos para reinventar-se como ser humano que cria e desenha, para que possa incentivar suas crianças a conquistar o brilho que a criação e a imaginação produz em nossas vidas.

Cabe conhecer os estágios e a importância do desenho na infância a fim de enxergar nele possibilidades de desenvolvimento infantil e valorização dos processos individuais de cada

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uma das crianças, bem como pensar formas de potencializar essas linguagens nas práticas de educação infantil.

4 Considerações finais

O propósito deste artigo foi analisar a construção do desenho das crianças de 4 e 5 anos, matriculadas em uma turma de um Centro de Educação Infantil da rede municipal de ensino da cidade de Tubarão – SC. Nessa trajetória, percebemos que, por meio dos estudos e pesquisa, pelo desenho a criança materializa seus pensamentos, anseios e emoções. Coloca em prática experiências vividas de forma natural e poética, sem pronunciar nenhuma palavra, apenas sente a ação que produz do corpo com o mundo ao seu redor, descobrindo a si mesma e revelando-se um ser social. As linguagens plásticas trazem sentido para tudo o que a criança imagina, por isso, entre seus rabiscos e garatujas, ela reproduz seu cotidiano, buscando em seu íntimo tudo aquilo que lhe faz algum sentido.

Nas observações, na rotina das crianças, identificamos que os espaços e tempos que a criança tem para a construção do desenho acontece a todo momento, no parque, na sala de aula, no momento da acolhida, nas brincadeiras. Percebemos que elas têm mais possibilidades de criação, individual ou coletiva, no parque, mas que nas proposições da professora elas sempre encontram modos de romper com o esperado e apresentam suas proposições, como no caso do desenho em cordões, em que elas manifestaram interesse em descobrir na mistura das tintas, novas cores. Em seus movimentos, com o dedo, com o corpo, elas expressam o desenho e no desenho, as suas vivências. A cada movimento das crianças, vemos o seu cotidiano refletido e mesmo com poucas materialidades disponíveis, como no parque, percebemos os estímulos e a imaginação. Estas emoções se fazem presentes em todos os momentos e ambientes do CEI, seja na sala, nos corredores ou no parque.

Ao verificar as metodologias utilizadas pela professora para que a criança construa seus próprios desenhos, nosso entendimento foi o de que ela tem procurado romper com o modelo tradicional de propor desenho, aquele que costumeiramente vemos na educação infantil, pois ela trouxe outras linguagens, como artes plástica, musical e outras. Contudo, ainda, há que se desafiar a trazer outras materialidades para a sala de aula, como, por exemplo, quando ela, todos os dias, apresenta a massa de modelar, poderia trazer argila, terra, palitos, folhas, etc.

Por meio das propostas da professora, muitas experiências aparecem e, algumas vezes, tudo se modifica. A partir da música, da dança e das brincadeiras, a proposta inicial, às vezes, toma outra direção, com outro tempo e outras variáveis. Cabe ao professor encontrar esse

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lugar da mudança que, muitas vezes, torna-se invisível, e vislumbrar este olhar mais sensível para identificar estes movimentos e encontrar nessas sutilezas o desenvolvimento de cada criança. O desenho não pode ser uma simples forma de passar o tempo ou preencher lacunas entre os planejamentos, pelo contrário, ele é um instrumento indispensável para construção dos símbolos e dos signos, para que uma criança ultrapasse cada etapa na busca pelo conhecimento.

Ressaltamos na atividade da professora, a publicação dos desenhos das crianças, essa é uma forma de valorizar as produções infantis, fortalecendo a autoria e possibilitando a participação ao avaliar e apresentar suas manifestações e a de seus pares.

Na conversa com as crianças, no momento do ateliê, percebemos que mesmo estando sozinha desenhando, ou em pares, a criança organiza seus brinquedos e manifesta suas criações, e que desenhar é uma forma de vivenciar momentos anteriores de uma forma nova, envolvendo a imaginação com situações reais e significativas para ela. Nos desenhos, elas revelaram seu íntimo, seus sentimentos, emoções e vivências, dentro e fora da instituição.

Sendo o desenho nossa primeira forma de escrita, devemos dar mais atenção ao que ele nos revela, principalmente quando é elaborado por uma criança, pois nos riscos e garatujas estão às obras mais puras e sensíveis, carregadas de situações significativas, de uma vida repleta de medos, emoções e transformações e que se traduz no que sentem e vivenciam no cotidiano. Esperamos que este artigo possa promover mais reflexão sobre a linguagem do desenho, como forma de conhecer melhor a criança e, outrossim, como modo de superar a ideia de que o desenho é um modo de treino de coordenação motora, porque é mais que um treino motor.

Os estudos não se esgotam por aqui, é preciso aprofundar muito mais as análises e, sobretudo, as escutas das crianças para compreender que o desenho é uma linguagem que potencializa o desenvolvimento delas e que as suas experiências, trazidas pelo desenho, fazem-nos conhecê-las mais a fundo e, assim, permitem adentrar no modo como elas recriam e significam a cultura.

Por fim, essas experiências, de pesquisas e de práticas pedagógicas, precisam ser partilhadas, pois a infância, ainda, guarda muitas facetas que devem ser desveladas.

Agradecimentos

Agradeço, primeiro, a Deus que permitiu e abençoou cada passo desse percurso tão importante da minha existência.

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Aos meus familiares, que não mediram esforços para me ajudar durante toda esta caminhada em busca do conhecimento.

Às professoras e orientadoras que me conduziram a escolhas de boas leituras e tiveram muita paciência e compreensão com as minhas dificuldades.

À direção e às professoras do CEI Peixinho Dourado, que me receberam com muito carinho e atenção. Também, meus sinceros agradecimentos às professoras da turma do pré I, Karina Freitas (regente), Grasielle Carmelo (substituta) e às crianças que me proporcionaram momentos de muito aprendizado, sabedoria e prazer de estar em suas companhias.

Referências

BRASIL. Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. Secretaria de Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, 2006.

HANAUER, Fernanda. Riscos e Rabiscos: O Desenho na Educação Infantil. Revista de Educação do IDEAU, Alto Uruguai, v.6, n.13, p.1-13, jan./jul. 2011. Disponível em: https://www.ideau.com.br/getulio/anterior/index/16/REI+18072011. Acesso em: 13 mai. 2019.

KRAMER, Sonia; NUNES, Maria Fernanda R.; CORSINO, Patrícia. Infância e criança de 6 anos: desafios das transições na educação infantil e no ensino fundamental. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.37, n.1, jan./abr. 2011. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022011000100005. Acesso em: 15 mai. 2019.

MOREIRA, Ana Angélica Albano. O Espaço do desenho: a educação do educador. 10. ed. São Paulo: Loyola, 2005.

RICHTER, Sandra Regina Simonis. Experiência poética e linguagem plástica na infância. In: Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

(ANPED), 2007, Caxambu - MG. GE- Educação e Arte. Disponível em:

http://30reuniao.anped.org.br/grupo_estudos/GE01-3538--Int.pdf. Acesso em: 13 out. 2018. TSUHAKO, Yaeko Nakadakari. O desenho como expressão da criança. In: COSTA, Sinara Almeida da; MELLO, Suely Amaral (Orgs.). Teoria Histórico Cultural na Educação Infantil: conversando com professoras e professores. 1. ed. Curitiba, PR: CRV, 2017. VIGOTSKI, L. S. Imaginação e criação na infância. São Paulo: Ática, 2009.

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Apêndices

Apêndice A – Roteiro

Instrumento de coleta - Observação e registro escrito e fotográfico.

- Coleta de desenhos feitos pelas crianças.

1º momento: observar, registrar por escrito e por meio de fotografias, as rotinas e atividades das crianças, focando o olhar para o desenho. Enquanto elas desenham, conversar sobre o que estão criando. Esses desenhos podem ser em qualquer espaço que estiverem.

2º momento: organizar um ateliê com papéis coloridos, giz de cera, lápis de cor e deixar disponível para as crianças desenharem livremente no momento que quiserem. Conversar com as crianças nesses momentos para saber o que estão expressando.

3º momento: observar e registrar como a professora propõe o desenho.

- Nos desenhos das crianças e na proposição da professora, registrar suas falas. - Arquivar os desenhos.

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