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Termas de Águas de Lindóia : uma visão contemporânea dos usuários sobre o balneário nos aspectos termal e turístico

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Academic year: 2021

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ANDRÉIA BENATI DAHDAL

TERMAS DE ÁGUAS DE LINDÓIA: UMA VISÃO CONTEMPORÂNEA

DOS USUÁRIOS SOBRE O BALNEÁRIO NOS ASPECTOS TERMAL E

TURÍSTICO.

CAMPINAS Unicamp

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____________________________________________________________________ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Ciências Médicas

ANDRÉIA BENATI DAHDAL

TERMAS DE ÁGUAS DE LINDÓIA: UMA VISÃO CONTEMPORÂNEA

DOS USUÁRIOS SOBRE O BALNEÁRIO NOS ASPECTOS TERMAL E

TURÍSTICO.

Orientador: Prof. Dr. Roberto Benedito de Paiva e Silva

Dissertação de Mestrado apresentada à Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas para Obtenção do título de Mestra em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação, área de concentração Interdisciplinaridade e Reabilitação.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA ANDRÉIA BENATI DAHDAL E ORIENTADA PELO PROF. DR. ROBERTO BENEDITO DE PAIVA E SILVA

--- Assinatura do Orientador

CAMPINAS Unicamp

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AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho só foi possível com o apoio de um conjunto de pessoas, às quais agradeço profundamente. Algumas tiveram participação direta nessa conquista e outros de uma forma ou de outra me ajudaram a completar a obra.

Às minhas colegas de estudo.

Ao meu orientador Professor Doutor Roberto Benedito de Paiva e Silva, uma profunda gratidão por ter abraçado esta ideia, pelas críticas construtivas, pelo rigor e pelo conhecimento partilhado em todos os aspectos.

Ao diretor do balneário de Águas de Lindóia, Dagnaldo de Araujo Silva e seus colaboradores, que manteve as portas do balneário abertas para minhas idas e vindas. À Valéria Tozzi, bisneta do fundador da cidade e ao historiador Francisco Renzo Goulart que me auxiliaram com documentos necessários.

Ao meu marido, Fernando Izzat Dahdal, que sempre procurou libertar-me de preocupações para que eu tivesse o tempo e a disponibilidade mental necessária para esta aventura. Aos meus familiares e às minhas meninas.

Em especial ao meu avô, Enery Renzo, que despertou minha curiosidade frente o uso das águas termais quando contava histórias de cura.

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“A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em vê-las com outros olhos.”

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Define-se termalismo como um procedimento natural de tratamento alternativo e ou complementar à medicina tradicional, que se utiliza das águas minerais para se atingir a cura. As estâncias termais por suas características terapêuticas e ambientais são lugares que vão de encontro à prática do termalismo, pois atende um conjunto de elementos fundamentais, como localização geográfica, rede hoteleira e balneária. Os encaminhamentos para os tratamentos termais deixaram de ser um procedimento médico para tornar-se ao longo da história um procedimento de relaxamento, descanso e de cura por demanda própria associada ao turismo. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi conhecer o perfil das pessoas e as razões pelas quais elas procuram o Balneário de Águas de Lindóia. É um estudo de caráter qualitativo e participaram da pesquisa vinte e dois usuários do balneário, sendo que os critérios de inclusão foram homens e mulheres adultos frequentadores do balneário para utilização dos recursos termais oferecidos. Realizou-se uma entrevista semiestruturada no próprio balneário, após o usuário concordar e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido que foi aprovado pelo Comitê de Ética da Unicamp. Para a análise dos dados utilizou-se a técnica de análise de conteúdo na qual se estabeleceram quatro categorias temáticas: perfil sócio demográfico das pessoas que procuram o balneário de Águas de Lindóia como destino turístico, o uso dos tratamentos oferecidos pelo balneário e o significado das águas como recurso terapêutico. O usuário do balneário se caracteriza por ser em sua maioria do sexo feminino, com idade média de sessenta anos e aposentada que procuram nas técnicas termais o equilíbrio orgânico e o mental. Constatou-se que Águas de Lindóia no transcorrer da sua história vem se constituindo em polo turístico voltado ao lazer centrado em sua localização geografia, nos recursos termais e na rede hoteleira. Observou-se a ausência de turistas mais jovens nas dependências do balneário, a partir desse panorama, percebe-se a necessidade de ampliar a divulgação dos recursos oferecidos pelo balneário e desenvolver condutas que respondam as exigências dos turistas nas diversas faixas etárias. Conclui-se que, a maioria dos participantes do estudo pratica o termalismo de bem estar que abrange a prevenção e promoção da saúde em detrimento ao uso do termalismo clássico oferecido pelo balneário no início de suas atividades, que era o uso das águas como terapia específica para determinada doença.

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Thermalism is defined as a natural alternative treatment procedure or complement to traditional medicine that is used with mineral water to achieve a cure. The spa for its therapeutic and environmental characteristics are places that meet the practice of thermalism, as it serves a number of key elements, such as geographic location, hotel chain and bathhouse. Referrals to thermal treatments are no longer a medical procedure to become throughout history a procedure for rest, relaxation and healing on their demand associated with tourism. In this sense, the objective of this study was to know the profile of the people and the reasons why they seek Águas de Lindóia’s bathhouse. It is a qualitative study and participated in the survey twenty-two users of the bathhouse, and the inclusion criteria were adult men and women goers batthouse to use thermal resources offered. We conducted a semi structured interview in the bathhouse itself, after the user’s agree and signing the consent form that was approved by the Ethics Committee of UNICAMP. For data analysis we used the technique of content analysis in which it established four thematic categories: socio demographic profile of those seeking Águas de Lindóia’s bathhouse as a tourist destination, the use of the treatments offered by the bathhouse and the meaning of waters as a therapeutic resource. The user of the bathhouse is characterized by being mostly female, with an average of sixty and retired seeking thermal techniques in the organic balance and mental. It was found that Águas de Lindóia the course of its history has turned into a tourist hub geared to leisure centers on its geography location, the thermal resources and hotel chain. Observed the absence of younger tourists premises of bathhouse, from this scenario we see the need to broaden the dissemination of resources offered by the bathhouse and develop behaviors that meet the needs of tourists of different ages. We conclude that the majority of study participants practicing thermalism wellness that covers prevention and health promotion over the use of classical thermalism offered by the bathhouse at the beginning of its activities, that was the use of water as a specific therapy for disease.

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SUMÁRIO

RESUMO ... viii ABSTRACT ...x APRESENTAÇÃO ... 14 1. INTRODUÇÃO ...16 1.1. Termalismo ... 17 1.2. Turismo e Saúde ... 20 1.3. Águas de Lindóia ... 24

1.4. Balneário de Águas de Lindóia ...26

2. OBJETIVOS ...28 2.1. Objetivo Geral ...29 2.2. Objetivo Específico ...29 3. METODOLOGIA ... 30 3.1. Método ... 31 3.2. Participantes...32 3.3. Instrumentos e Procedimentos ... 33

3.4. Tratamento de Dados em Pesquisa Qualitativa ... 36

4. ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO ... 38

4.1. Perfil sócio demográfico ... 39

4.2.Águas de Lindóia como destino turístico ... 40

4.3. A percepção das águas como recurso terapêutico ...44

4.4. O uso dos tratamentos oferecidos pelo balneário ... 47

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 52

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7. APÊNDICE. ...60 7.1.Consentimento Livre e Esclarecido ... 61 7.2. Roteiro de Entrevista ... 65

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A minha relação com o termalismo começou há 20 anos quando vim morar em Águas de Lindóia, estância hidromineral no Estado de São Paulo. A cidade conta com um balneário que é tradicionalmente frequentado por pessoas que se submetem ao tratamento com as águas minerais com propriedades terapêuticas. Ao tomar contato com o balneário da cidade tive a oportunidade de conhecer estas pessoas que vinham de longe tratar doenças segundo elas

“incuráveis”, na sua maioria com problemas dermatológicos e músculo esqueléticos, e relatavam já terem feito de tudo para melhorar e “só” com as águas termais é que viram resultados.

Tenho formação acadêmica em enfermagem, que teve como base uma visão biomédica da saúde, não me permitindo de imediato entender a ação da água como agente terapêutico, portando, para mim por algum tempo, a cura pelas águas foi creditado a uma forma de placebo.

Em 2008 participei de um curso de especialização em geriatria. Ao final deste para a obtenção do título elaborei uma monografia que teve como campo de trabalho: o idoso e o tratamento termal. A pesquisa me permitiu conhecer a complexidade do termalismo nas suas várias vertentes seja no âmbito curativo, preventivo e turístico.

Agora no mestrado, tenho a oportunidade de retomar o meu interesse sobre o termalismo, para tanto elaborei um projeto de pesquisa que me permita através do contato com os frequentadores das Termas de Águas de Lindóia, obter uma visão contemporânea em relação aos recursos termais oferecidos pelo balneário.

Com esse trabalho procuro conhecer a realidade local que sobrevive ao tempo frente o uso das águas termais como recurso terapêutico e que mantém a tradição da estância de Águas de Lindóia viva na memória de muitos e ao mesmo tempo contribuir para a divulgação do termalismo.

Ao finalizar este trabalho passei a entender a frase de Marcel Proust (1871-1922) “A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens,

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1.1 Termalismo

Podemos definir termalismo como um procedimento natural de tratamento alternativo à medicina tradicional, que se utiliza das águas minerais para se atingir a cura. A variedade de componentes químicos da água permite obter propriedades que podem contribuir para o equilíbrio orgânico e psíquico1.

Para Mourão2 a definição de termalismo deriva de termas, substantivo feminino no plural que provém do grego thermai e do latim thermae, dizendo respeito a banhos quentes. A expressão tornou-se genérica por designar em sentido amplo, o aspecto de tratamentos médicos, auxiliares, preventivos, coadjuvantes, curativos ou de consolidação, pelos recursos naturais terapêuticos.

O conjunto das atividades terapêuticas representados pelos banhos de imersão, duchas ou hidropinia (ingestão das águas) é desenvolvido em estabelecimentos nomeados de balneários onde as águas são captadas e distribuídas para fins terapêuticos.

Para Mourão2 e Untura Filho3 o termalismo é constituído por períodos como o histórico ou primitivo marcado pela mística religiosa na Idade Média; período empírico que tem como base a experiência e observação na medicina hipocrática e na química de Lavoisier e a seguir o período da química moderna, que trouxe o conhecimento dos componentes das águas e o surgimento da hidrologia médica como disciplina nas universidades na primeira metade do século XX, na França.

O uso da água como recurso terapêutico pelo homem remonta a antiguidade quando este se deu conta de que alguns tipos de água podiam contribuir na cura de doenças ou ferimentos passando a tratá-la como objeto de culto2.

Na antiga Grécia, Hipócrates descrevia a doença como um desequilíbrio do corpo e para ele era necessário água, ar e relaxamento para o equilíbrio da vida. A água era utilizada como meio de se obter saúde, com técnicas semelhantes às atuais como os banhos, vapores, jatos de água e compressas 3,4.

No Império Romano, século I a IV, as termas foram popularizadas como fontes de prazer e cura, constituindo parte integrante dos hábitos cotidianos da população. Porém,

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durante a Idade Média, século V a XV, a Igreja Católica proíbe o banho de imersão para tratamento de saúde ou higiene. Os fanáticos cristãos pregavam a salvação da alma através do sacrifício do corpo e uma das penitências impostas foi à proscrição do banho, evitando-se a nudez que era pecaminosa podendo levar ao narcisismo e ao autoerotismo, assim, pregava-se o desprezo pelo corpo, abominação do nu e abstinência sexual para que a alma fosse eternamente feliz4. Com medo das punições impostas pela Igreja Católica as pessoas foram deixando as práticas termais. Na segunda metade da Idade Média, no início do século XII, a Igreja reformulou sua posição e as águas minero medicinais passaram a ser consideradas como santas e curativas. O clero passou a organizar peregrinações até às fontes termais e o aumento da procura resultou na abertura de estabelecimentos termais 2,4.

Um novo conceito surgiu e iniciou-se a construção de estabelecimentos termais e com a descoberta da química por Lavoisier, químico Francês 1743-1794, facilitou avanços a todos os ramos da ciência inclusive à crenologia, ciência que estuda as propriedades medicinais das substâncias encontradas na análise físico-química das águas minerais, assim, os cientistas começaram a pesquisar as águas termais para diferencia-las das águas comuns.

Os processos analíticos progrediram com várias descobertas inclusive o interesse em estudar as propriedades físicas e químicas da água termal, alguns médicos e cientistas esforçam-se para relacionar a composição química da água com a moléstia que ela curava e através dessa observação surgiram as primeiras classificações das águas minerais e o termalismo passa da fase empírica para a fase clínica onde os médicos faziam deduções sobre o modo de agir de algumas águas minerais baseados em sua composição química e mais tarde alcança a etapa ou fase científica no início do século XX. Nessa fase o termalismo atingiu seu apogeu com aperfeiçoamento da aparelhagem hidroterápica, protocolos de tratamentos com rigor científico e obras publicadas 2,5.

No Brasil em 1812 na cidade de Caldas de Cubatão, hoje Caldas da Imperatriz, no estado de Santa Catarina D. João enviou uma amostra da água para a corte Portuguesa para análise de seus componentes na qual foram descobertas propriedades terapêuticas. A partir desse resultado, D. João VI emite um decreto para a construção de um Hospital Termal junto as fontes semelhante a Portugal, idealizado no final do século XV pela rainha D. Leonor que se preocupava com a saúde, higiene e bem estar da população portuguesa. Dessa forma, a

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legitimação do termalismo no Brasil foi em 1818 quando foi inaugurada a primeira estância termal brasileira com o nome de Caldas da Imperatriz 4,6,7.

Os primeiros estudos relativos ao uso da água como recurso terapêutico no Brasil ocorreu na cadeira de hidrologia e climatologia, disciplina introduzida na década de 50 na Universidade de Medicina de Minas Gerais e na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e os conteúdos de crenoterapia eram ministrados no curso de terapêutica geral. O fato de a disciplina ser ministrada em universidade parecia dar crédito ao uso das águas minerais como prática terapêutica assentada sobre o saber científico que cabia aos médicos prescrever7. A academia foi precursora do período clínico científico que é marcado por congressos e eventos para divulgação de experiências e elaboração de protocolos para a prescrição do tratamento termal 8,9.

Até as primeiras décadas do século XX o termalismo vivenciou no Brasil a sua melhor fase tendo o apoio do meio científico e com a formação de profissionais para atuarem na área. Os tratamentos de saúde era a maior razão para ir às termas, o que atraia pessoas de todas as partes de nosso país, que era facilitado pela construção de estradas.

As estâncias termais a partir da segunda metade do século XX deixam de receber um número expressivo de pessoas, pois o valor que era creditado à água como recurso terapêutico para a saúde é alterado com o avanço da indústria farmacêutica que inaugura a era dos antibióticos e corticoides. O emprego de uma droga mais rápida e mais potente faz com que progressivamente os recursos naturais, no caso a água, fossem esquecidos. Outro fator importante que contribuiu para seu declínio foi a morte do pesquisador Dr. Renato Souza Lopes, professor da disciplina de crenologia da Faculdade Nacional de Medicina (Praia Vermelha) do Rio de Janeiro, que era defensor das práticas termais e que ministrou por mais de 30 anos as técnicas crenoterápicas e concomitantemente ocorreu a extinção da disciplina de crenologia administrada por mais de 10 anos na Faculdade Federal de Belo Horizonte em Minas Gerais 3,10. A falta de instrução acadêmica e o isolamento dos crenoterapeutas das estâncias termais acarretou o desconhecimento por grande parte da população e dos profissionais de saúde nos dias de hoje10.

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Esta situação pode ser reestruturada, através de trabalhos que comprovem a eficácia das terapias termais. Em 2006 o Ministério da Saúde, elaborou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), que envolvem abordagens que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos, recuperação da saúde e a integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade11. A política apresenta a possibilidade de conferir visibilidade aos diferentes modos de cuidar, e no caso do termalismo a articulação do saber popular.

O termalismo é prática silenciada pela mídia, pelas tecnologias biomédicas, sufocada pela indústria farmacêutica, mas pode haver um diálogo favorecendo a riqueza social, cultural e pode ser um meio de promoção à saúde.

1.2 Turismo e Saúde

Observa-se na literatura que uma das modalidades de turismo é a associação com a saúde. É uma das mais antigas atividades turísticas, uma vez que, os deslocamentos em busca de saúde são observados desde a antiguidade pelo mundo, envolvendo a sua promoção e prevenção bem como a cura de doenças durante esses processos. Em muitos casos o período de recuperação foi incrementado com passeios ou atividades recreativas, mas sempre com o foco voltado para a saúde 12 .

Assim surge o Turismo de Saúde que tem como definição, a movimentação de pessoas entre locais diferentes, tendo como meta a cura ou o tratamento da saúde utilizando-se de uma base turística. Ao longo da história o turismo de saúde desenvolveu-se mais fortemente calcado na tradição da medicina ocidental, cuja ênfase é na doença e na intervenção não se preocupando com a prevenção. Atualmente, observa-se uma crescente preocupação em âmbito mundial, com a manutenção da saúde no seu aspecto preventivo e não apenas com a recuperação, no aspecto curativo 12,13.

A evolução do conceito de saúde enfatiza uma visão biopsicossocial do ser humano, considerando o seu bem-estar e, mais que isso, a sua condição dinâmica no processo saúde-doença que leva à busca contínua pela manutenção da saúde. Além disso, o fato de atualmente

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se considerar o indivíduo como sendo diretamente responsável pelo processo de tornar-se saudável ou de assumir a consciência do autocuidado remete à visualização da promoção da saúde, prevenção e cura de doenças como ações indissociáveis.

Nos dias de hoje, o turismo de saúde, não se reduz apenas à vertente medicinal ou curativa, é também associado às dimensões de estilos de vida saudáveis, incluindo a preventiva, lúdica e de bem-estar. Nesta linha, as termas constituem uma oferta competitiva numa nova filosofia de ocupação de tempo livre e férias, um espaço onde existe a combinação entre saúde e turismo, constituindo uma fórmula atrativa, capaz de satisfazer o descanso e bem-estar, cada vez mais procurados na motivação turística atual14.

Antigamente viajar não fazia parte da vida de muitas pessoas, o lazer era definido como luxo e não era acessível à maioria da população. A esperança de vida não era longa, o trabalho ocupava a maior parte do dia e o desenvolvimento técnico e tecnológico estava longe. Com o tempo, viajar passa a ser uma atividade acessível para muitas pessoas, deixa de ser privilégio de poucos e corresponde particularmente nos dias de hoje uma necessidade individual e social 13.

Chegamos a era do lazer e a busca de qualidade de vida, com viagens cada vez mais rápidas, acessíveis e confortáveis. As pessoas procuram conhecer lugares, seja por motivação natural, social ou cultural.

O turismo é relevante a nível mundial, fomenta o crescimento econômico local e pessoalmente o crescimento intelectual e interação multicultural, pois, existe a possibilidade de convivência com novos modos de vida 12.

As estâncias termais por suas características terapêuticas e ambientais são lugares que vão de encontro a esses objetivos, pois atendem um conjunto de elementos fundamentais, que vão desde o balneário até o sistema de hotelaria. Valorizam os aspectos culturais, recreativos, comerciais e ambientais, identificando os espaços termais não só como centros terapêuticos de cura e prevenção, mas também como espaços que permitem o bem-estar físico e psíquico, a recreação e o lazer.

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Hoje mais do que nunca, a necessidade de sair da rotina opressora das grandes cidades que tem em seu pacote: a poluição, a correria do dia a dia, stress e outros problemas transformam as termas em locais de recuperação, reabilitação, relaxamento, repouso e promoção da saúde mesmo que seja por uma curta estadia 15, 16.

Bull17, pesquisador australiano, citado por Alpoim afirma que “O turismo não é um

fenômeno ou um simples conjunto de indústrias. Ele é uma atividade humana que inclui o comportamento humano, uso de recursos e interação com outras pessoas, economias e ambientes”.

Para Cunha18, existe um sistema de inter-relações do turismo que abrange a esfera ambiental, social, econômica, política, tecnológica, educativa e cultural. A interação entre as esferas ou sistemas é fundamental para o turismo. No setor ambiental verifica-se o fator de atração, na educação existe a contribuição para a formação e promoção de cidadãos; socialmente influencia os comportamentos coletivos e troca de valores, estreitando relações; na esfera econômica o turismo gera riqueza e emprego; na política tem o poder de influenciar populações; e no plano tecnológico estimula as tecnologias inerentes às viagens, às estadias e aos sistemas de informação e gestão.

Alpoim ao citar Inskeep13 refere que esses organismos inter-relacionados resultam numa transversalidade quantitativa e qualitativa, pois, orienta uma atitude empresarial mais dinâmica e criativa atuando em um sistema financeiro particular com mão de obra qualificada e formação específica, com isso pode ditar regras de concorrência e também obrigar a criação de leis sustentadas; proteger os recursos naturais, culturais e humanos; permitindo um desenvolvimento mais equilibrado e respeitado.

Ainda para Cunha18 turismo de saúde pode ser definido como um conjunto de produtos que tem a saúde como motivo principal e os recursos naturais como suporte e têm por fim proporcionar ao turista a melhoria do bem-estar físico ou mental.

Frente esse novo paradigma é importante que todo o mercado interessado no produto turístico, incluindo às águas termais, possa encontrar uma oferta de atividades orientada para o lazer, prazer, descanso, relaxamento o que deve ir além da oferta estritamente terapêutica. Existe uma necessidade urgente em implementar um novo ciclo termal que atenda aos novos

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interesses e que direcione os serviços para a prevenção, lazer e bem estar e que reinvente a identidade termal sem perder sua essência13.

De uma forma mais objetiva o usuário do turismo de saúde recorre a esse tipo de turismo como uma forma preventiva ou à procura de cura. São inúmeras as razões que as pessoas frequentam as estâncias termais. Algumas procuram as termas porque a medicina convencional não atende as suas exigências ou falha na hora de dar alivio, outras frequentam pela promessa de encontrar melhorias para a saúde e bem estar.

Numa tentativa de satisfazer as necessidades emergentes de seus usuários foram-se acrescentando produtos e serviços à oferta termal tradicional, até porque como já visto, o destino turístico tem que reagir às diversas fases por que passam as necessidades da sociedade. Essas necessidades compartilham a satisfação de cuidados preventivos de saúde como na medicina preventiva; a prestação de serviços terapêuticos que abrange a medicina curativa e a realização de tratamentos de recuperação, no caso a medicina de reabilitação16. Podemos dizer então que o Turismo de Saúde pode ser entendido como deslocamentos a todo os tipos de locais com infraestrutura orientada para o bem-estar físico e emocional e que fornecem serviços de relaxamento e reabilitação, através de amplo itens de cuidados que integram a medicina, como tratamentos complementares, anti-stress, relaxamento e estética. Esses serviços e produtos baseiam-se na utilização da água com fins terapêuticos ou com objetivos de relaxamento e da melhoria do equilíbrio físico e emocional.

O termalismo é dinâmico e está em constante evolução, a atualização em todos seus setores é determinante para atender as novas demandas delineadas de acordo com as necessidades emergentes de seu usuário. O termalismo clássico de longa permanência não perde seu lugar; o que é novo são os tratamentos de finais de semana e feriados, otimizando a ociosidade da baixa temporada nas termas tendo uma estratégia mercadológica crescente principalmente nos meses de baixa estação. O turismo de saúde tem seu sucesso na persistência o que é fator indispensável para se obter resultado19.

Como consequência disso a evolução do Turismo de Saúde em particular no que refere ao termalismo, a exemplo da Europa, proporcionou a construção de estabelecimentos denominados agora por SPAS. O termo consiste na abreviatura da expressão Salus per

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Aquam, usada pelos anglo-saxões e substitui, por vezes, a palavra “termas”. Por tradição os

spas eram estâncias balneárias localizadas fora das cidades, procurados por pessoas que se hospedavam por um período em busca de descanso e de cuidados com a saúde 16.

No Brasil, os spas começaram a ser implantados na década de 90 com uma proposta que diverge da definição inicial19. Os spas foram alavancados pelo culto ao corpo que se difundiu rapidamente e compreende diversas técnicas que podem ser as esportivas, nutricionais e médicas e não são desenvolvidas necessariamente em cidades termais.

Pode-se ainda afirmar que as estâncias termais não devem ser reduzidas ao simplismo de instalações balneárias que se utilizam das águas em prol da saúde, da cura, reabilitação e ou prevenção, pois se fosse assim seriam clinicas de saúde e ainda não podemos reduzir a meros spas termais. As termas oferecem muito além dessa visão redutora nunca esquecendo que o aspecto terapêutico das águas permitiu o seu desenvolvimento15.

1.3 Águas de Lindóia

Águas de Lindóia é uma estância hidromineral de acordo com o decreto número vinte, de 13 de julho 1972. Está localizada a 180 km de São Paulo e a 8 km da divisa com Minas Gerais. Tem uma altitude média de 945 metros, sendo uma ramificação da Serra da Mantiqueira e ocupa uma área de 60 km², com uma população de 17.266 habitantes segundo o censo de 201020.

No século XVIII a região era batizada pelo nome de “Águas Quentes” quando os Tropeiros e Bandeirantes buscavam descanso e relaxamento nas águas que “brotavam” da terra. Em 1900 o pároco da cidade de Socorro convida Dr. Francisco Tozzi, médico italiano, para dar assistência médica ao município e região. Aceito o convite, o jovem médico veio acompanhado de seu tio o padre Henrique Tozzi. Em 1901, já casado com Dona Philomena Pulino, mudou-se para a cidade de Serra Negra onde enfrentou problemas com o idioma e também foi intimado pelo governo federal a revalidar seu diploma, assim, defendeu tese perante a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e com a ajuda dos moradores da cidade foi aprendendo a Língua Portuguesa21.

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Em 1909 soube através do seu tio Henrique Tozzi, pároco de Lindóia, que seu eczema havia sido curado através do uso das “Águas Quentes” que jorravam de um morro. Tal situação despertou o seu interesse, pois o Dr. Tozzi já era conhecedor das águas termais da Europa e assim coletou amostras da água da cidade e as encaminhou para análise na qual constatou o seu “poder curativo”.

Dr. Tozzi comprou algumas terras leiloadas no arraial das Águas Quentes, depois Thermas de Lindóya – Thermas em homenagem a Itália berço das águas medicinais – atualmente Águas de Lindóia21.

A região era parada dos tropeiros para descanso, estes se banhavam nas águas e a propaganda de origem popular do uso terapêutico chamou a atenção dos doentes que procuravam as águas com a orientação do jovem médico.

Começou a ganhar vida as ideias europeias do Dr. Tozzi de utilizar as águas com características medicinais. Com economia e recursos necessários construiu um balneário rudimentar e bebedouro. Por volta de 1916 contava com doze banheiras para banhos naturais e quatro banheiros para banhos quentes.

Os trabalhadores que vieram para a construção deste balneário tinham famílias que demandavam necessidades de sobrevivência e para isso foi construída uma escola, armazém, farmácia e um consultório para o Dr. Tozzi atender aos curistas - pessoas que procuravam as estações balneárias em busca de cura - e aos operários e seus familiares.

As características das águas conquistaram fama internacional com inúmeras curas de sucesso de anônimos e pessoas ilustres 21, 23.

Em 1928, Dr Tozzi ao saber da visita da cientista Madame Currie (1867-1934) ao Brasil, convidou-a para vir à cidade de Águas de Lindóia para ajudá-lo a desvendar o mistério curativo das águas. Madame Currie, prêmio Nobel de Física em 1903 e de Química em 1911, na época pesquisava a radioatividade, ficou impressionada ao constatar a enorme presença de gazes radioativos nas fontes 21,22.

Em 1929 para acomodar os aquistas, indivíduos que fazem uso das águas medicinais na localidade em que elas nascem, foi construído o Hotel Glória e sua inauguração contou

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com personagens ilustres como o político Washington Luiz Pereira de Souza. Alguns anos mais tarde foram construídas as piscinas de água mineral e para a solenidade de inauguração foi convidada Maria Lenk, campeã mundial de natação21.

Sempre propondo melhorias para os usuários Dr. Tozzi se preocupava em investir para propiciar aos curistas o melhor em tratamento com águas termais e em 1934 inaugurou outro emanatório, maior e mais moderno para respiração da radioatividade emanada das águas e para esse evento Dr. Celestino Bourroul (1880-1958) médico e cientista, esteve presente e para homenageá-lo o local recebeu seu nome.

Dr. Francisco Tozzi apresentou para o mundo os recursos termais encontrados em Águas de Lindóia, acreditou em seus componentes medicamentosos, provou sua eficiência e eficácia através de inúmeros usuários que satisfeitos divulgaram o balneário.

Em novembro de 1937 Dr. Tozzi faleceu de pneumonia, mas seu legado continuou e suas ideias europeias passaram para seu genro, Dr. Vicente Rizzo que lutou pela emancipação da cidade que, na época era distrito de Serra Negra, o que aconteceu em 1938 21, 22, 23.

1.4 Balneário de Águas de Lindóia

Em 1941 o Embaixador Macedo Soares, Interventor Federal no Estado, promove a desapropriação das fontes e áreas de terra que circundavam as termas, para a construção de um novo balneário projetado pelo arquiteto Oswaldo Arthur Bratke (1907-1997), com projeto de paisagismo de Roberto Burle Marx (1909-1994), que foi o responsável pelo projeto paisagístico da estância de Araxá em 1946 23. Sua construção teve início em 1954 e o término em 1959. Para atender a demanda da época foram construídas 64 cabines de banhos de imersão, grandes salas de espera masculina e feminina.

Em 1956 o engenheiro Luis Saia (1911-1975), responsável pela urbanização da cidade, apresentou relatório administrativo e urbanístico da estância para o governador Jânio Quadros que instituía um crescimento do município de Águas de Lindóia ordenado e coerente para atender aos problemas da cidade como a construção do balneário (que já havia sido iniciada), vias de acesso, sistemas de parques, jardins e saneamento que deveriam ser

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projetados de acordo com as técnicas modernas de urbanismo como acontecia nas estações termais da Europa. Para tanto foram realizadas viagens para o exterior com a finalidade de conhecer em detalhes o funcionamento das estações termais24

Suas instalações sempre atenderam a população interessada, demanda que sempre existiu e mantém o balneário ativo mesmo diante das modernidades dos dias de hoje. Os encaminhamentos para os tratamentos deixaram de ser um procedimento médico para tornar-se ao longo da história um procedimento de relaxamento, descanso e de cura por demanda própria associada ao turismo 21.

A preocupação com o crescimento e desenvolvimento da estância de Águas de Lindóia nas décadas de 50 e 60 construiu o alicerce do que a cidade é hoje, mantendo um turismo constante com a utilização do balneário para fins de descanso e recuperação da saúde.

Frente a mudança de seus usuários e adaptando-se às novas tendências termais o Balneário Municipal de Águas de Lindóia acrescentou novas formas de uso das águas termais, não menos importante, mas com finalidades diferentes principalmente as relaxantes. Essa nova demanda de usuários, permanecia menos tempo no local, o que dificultava o uso dos antigos protocolos, mas eles podiam sentir os benefícios das águas através do banho de espuma com óleos essências, com argila, etc. Essa nova tendência faz parte dos SPAs, Salus per Aguam, espaços onde se destacam os valores ambientais e paisagísticos tendo por objetivo alcançar o bem-estar físico e mental através do uso das águas.

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2.1 Objetivo Geral

Conhecer as razões pelas quais as pessoas procuram o Balneário de Águas de Lindóia.

2.2 Objetivo Específico

1. Conhecer o perfil sócio demográfico das pessoas que procuram o Balneário de Águas de Lindóia;

2. Conhecer a maneira que os frequentadores tomaram conhecimento das termas;

3. Conhecer a percepção que os usuários têm em relação aos tratamentos oferecidos no Balneário;

4. Conhecer a percepção que os usuários têm em relação ao uso da água como recurso terapêutico.

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(31)

3.1 Método

Método é uma palavra originária do grego methodos e significa caminho, conforme encontrado no Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio, caminho pelo qual se atinge um objetivo. Turato25 refere que o caminho é mais importante que o resultado, pois segundo o autor, “tendo-se a bússola, chegar-se á ao particular de qualquer homem” (p. 28).

Os estudos qualitativos na área de Ciências Humanas é definido por diversos autores. Denzin e Lincoln26 pontuam que a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem naturalista, interpretativa, ocorre no setting natural e busca entender ou interpretar os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem.

Bogdan e Biklen27 entendem que o alvo da pesquisa qualitativa é:

...melhor compreender o comportamento e a experiência humana. Eles procuram entender o processo pelo qual as pessoas constroem significados e descrevem o que são aqueles significados. Usam observação empírica porque é com os eventos concretos do comportamento humano que os investigadores podem pensar mais clara e profundamente sobre a condição humana (p. 38).

Ao contrário dos estudos quantitativos, que estão preocupados com amostras numéricas representativas, cálculos, técnicas estatísticas e com a reprodução de situações em laboratórios, gabinetes, etc. Os estudos qualitativos, de acordo com Turato25, enfatizam a diferença e o individual. Deste modo, a contextualização dos particulares leva às teorias gerais, mas têm que ser adaptáveis a cada situação única.

Na metodologia qualitativa, de acordo com a concepção advinda das ciências humanas, busca-se entender o significado que os fenômenos possuem para a vida das pessoas, seja individual ou coletivo. Procura-se identificar o que os fenômenos da doença e da vida em geral representam para estas pessoas 25.

Minayo 28 refere que as metodologias qualitativas são:

...aquelas capazes de incorporar a questão do SIGNIFICADO e da INTENCIONALIDADE como inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas (p. 10).

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Martins e Bicudo29 referem que o pesquisador ao deter-se no significado expresso pelo sujeito sobre sua experiência, descobre determinantes sobre as situações e também sobre o sujeito, assim como os significados atribuídos por ele. Desta forma, o pesquisador vai se defrontar com um conjunto de significados, os quais vão variar de sujeito para sujeito.

Utilizando este método como recurso na área da saúde, buscar-se-á dar interpretações a sentidos e significados dados pelos entrevistados sobre o fenômeno saúde-doença em questão, considerando que 29:

Cada situação humana é sempre original e única (...). Esta originalidade de cada acontecimento não impede o estabelecimento de constantes gerais, quer dizer, das condições que se repetem com mais frequência. O individual não exclui o geral, nem a possibilidade de introduzir a abstração e categorias de análise.

3.2 Participantes

Os participantes do estudo foram homens e mulheres adultos, usuários do Balneário de Águas de Lindóia, SP, para banhos de imersão, duchas e hidropinia (ingestão da água diretamente nas fontes).

Pelo fato de não ser possível a participação na pesquisa de todos os frequentadores do balneário, o número de participantes não foi previamente definido, considerando que em pesquisa qualitativa, “uma amostra ideal é aquela capaz de refletir a totalidade nas suas dimensões” 30.

Turato25 refere que amostra quer dizer uma porção, um pedaço, um fragmento que é apresentado para demonstrar propriedades da natureza ou qualidade de algo. Em pesquisas com seres humanos essa palavra se refere a uma parcela selecionada, segundo uma determinada conveniência, e extraída de uma população de sujeitos, constituindo assim um subconjunto do universo.

Nos estudos qualitativos, geralmente a amostra é escolhida de forma proposital ou intencional. Procura uma espécie de representatividade do grupo maior das pessoas que participarão do estudo. Portanto, sua preocupação não é a quantificação da amostragem. A

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escolha dos participantes não é aleatória, é realizada intencionalmente, considerando uma série de condições, ou seja, que os participantes atendam às necessidades do estudo se enquadrando tanto para o esclarecimento do assunto em foco, como na facilidade e tempo disponível para participar das entrevistas 25.

Assim sendo, para a construção da amostra deste estudo, escolheu-se um pequeno número de pessoas, em função da importância destas em relação ao objetivo do estudo, considerando que elas podem ter uma representatividade nessa determinada situação.

No presente estudo, adotou-se a amostragem por saturação, a pesquisadora encerrou a coleta de dados quando as informações coletadas com certo número de sujeitos começaram a se repetir25.

Assim, ao completar 22 entrevistas, percebeu-se que estas permitiam uma análise significativa do tema, com material suficiente para uma discussão científica permitindo encerrar o trabalho de coleta de dados.

3.3 Instrumentos e Procedimentos

Para conhecer as razões pelas quais as pessoas procuram o Balneário de Águas de Lindóia e a percepção que estes usuários têm em relação ao uso da água como recurso terapêutico, optou-se pela entrevista semiestruturada, pois é um meio “em que

intencionalmente o pesquisador recolhe informações através das falas dos atores sociais”29. De acordo com Minayo28 a entrevista transmite as representações de grupos determinados, em condições históricas, socioeconômicas e culturais específicas. Parte da elaboração de um roteiro e suas qualidades consistem em enumerar de forma mais abrangente possível as questões que o pesquisador necessita abordar em campo, a partir de hipóteses ou pressupostos advindos da definição do objeto de estudo.

Sobre o roteiro de entrevista Minayo28 refere que “deve ser o facilitador de

abertura, de ampliação e de aprofundamento da comunicação. Dele constam apenas alguns itens que se tornam indispensáveis para o delineamento do objeto”.

(34)

Para o presente estudo foi elaborado um roteiro de entrevista (anexo) a fim de orientar a coleta de dados. Desta forma, o que não foi relatado espontaneamente pelos participantes, foi questionado pela entrevistadora.

Tais tópicos foram:

1. Caracterização sócio demográfica do participante. 2. O motivo de estar no balneário.

3. Como teve conhecimento das termas. 4. Quais os recursos que utiliza nas termas. 5. Os benefícios que espera conseguir.

6. A percepção do uso da água como recurso terapêutico.

As entrevistas foram realizadas no balneário que tem entrada aberta ao público sendo possível explorar suas dependências sem ônus e usufruir do local para descanso, leitura ou simplesmente beber suas águas diretamente das fontes.

O balneário funciona para atendimento ao público de terça-feira a domingo das sete às treze horas. Os dados foram coletados entre o período de 11 de dezembro de 2012 a 28 de fevereiro de 2013.

Durante este período, a pesquisadora abordou 28 pessoas. Destas 22 concordaram em participar do estudo. Como critério de inclusão adotou-se que os entrevistados estariam fazendo uso dos recursos termais oferecidos pelo balneário e a assinatura do TCLE, as pessoas que se negaram a assinar o TCLE foram excluídas.

As técnicas termais, no caso os banhos de imersão, disponíveis no balneário são adquiridas nos guichês situados na entrada do estabelecimento termal, local escolhido para o primeiro contato com os usuários dos banhos. Neste momento, a pesquisadora se apresentava como estudante dos recursos termais com interesse em conhecer pessoas que fazem uso do balneário e as razões que as trazem a Águas de Lindóia. Após a apresentação do objetivo do estudo o usuário foi convidado a participar do mesmo. Os que aceitaram foram conduzidos

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pela pesquisadora a uma sala no próprio balneário onde puderam receber maiores detalhes da pesquisa, ler e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido, segundo resolução 196/96 sobre o trabalho envolvendo seres humanos (Ministério da Saúde, 1996), aprovado pelo comitê de ética sob o número 06129912.50000.5404.

Após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), estes foram entrevistados com duração entre 40 e 50 minutos, sendo gravados com equipamento de áudio digital MP3 player.

A pesquisadora recorreu a um diário de campo para as suas anotações imediatamente após as entrevistas, recurso também utilizado para suas observações durante o processo.

As três primeiras entrevistas foram de natureza exploratória para adaptação da pesquisadora ao instrumento de trabalho e a abordagem com os usuários, permitindo uma maior desenvoltura no ato de entrevistar e naturalidade em relatar a sua vivência no balneário e estas entrevistas foram também incluídas na análise dos dados.

Ao primeiro contato, as pessoas se disponibilizaram em participar da pesquisa, podendo auxiliar na narrativa sobre o balneário, Águas de Lindóia e seus vínculos pessoais, porém, a formalização da pesquisa através do fornecimento dos dados pessoais, como número do Registro Geral - RG, endereço e assinatura do documento foram para alguns uma barreira, levando a perda da espontaneidade do primeiro contato e algumas recusas principalmente por pessoas mais velhas em fornecer estas informações necessárias ao TCLE. Alguns explicaram a negativa devido a orientação que tiveram de parentes ou filhos, do perigo de se fornecer dados pessoais em relação a roubo e uso de documentos por terceiros.

O gravador provavelmente encurtou algumas falas que anterior à formalização se caracterizavam mais espontâneas e detalhadas, porém, esses relatos foram registradas no diário de campo permitindo um olhar mais aprofundado das verbalizações.

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3.4 Tratamento dos Dados em Pesquisa Qualitativa

Os dados obtidos nas vinte e duas entrevistas foram submetidos a um processo de categorização e análise de conteúdo.

A análise de conteúdo não reside na descrição dos conteúdos, mas sim no que estes nos poderão ensinar após serem tratados. Neste sentido, a intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção, ou eventualmente de recepção, inferência esta que recorre a indicadores quantitativos ou não.

A princípio, realizou-se uma leitura minuciosa das entrevistas transcritas selecionando os temas que se destacavam nas falas e que estavam ligados aos objetivos do estudo.

A segunda etapa consistiu na elaboração das categorias existentes. A categorização é definida por Bardin31 como:

... uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. (p146) A respeito da categorização, Turato25 afirma que as mesmas sendo detalhistas, trazem o risco de paralisar as ideias, impedindo que as mesmas se entretenham criativamente com os dados categorizados. Assim, de tudo o que foi “pescado” pelas entrevistas em campo, uma parcela considerável ficará de lado temporária ou definitivamente, pois se o autor se dispuser a discutir tudo, o trabalho de tese não terá fim.

As categorias escolhidas que emergiram a partir da leitura e dos tópicos pré-estabelecidos na entrevista foram:

1. Perfil sócio demográfico das pessoas que procuram o balneário; 2. Águas de Lindóia como destino turístico;

3. O uso dos tratamentos oferecidos pelo balneário; 4. O significado das águas como recurso terapêutico.

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Realizada a categorização, partiu-se para análise dos dados e finalmente para a discussão.

Minayo28 pontua que a fase de análise deve estabelecer uma compreensão dos dados, confirmação ou não dos pressupostos da pesquisa, ampliação do conhecimento sobre o assunto pesquisado, articulando-o ao contexto cultural ao qual está inserido.

Turato25 define que a parte de discussão dos resultados no trabalho científico se constitui por um ato imbuído por um olhar especial, que busca retratar a organização dos dados de uma nova forma. O pesquisador utiliza-se da sua imaginação, propondo novos conceitos e teorias para proporcionar novos e úteis sentidos e usos dos mesmos à comunidade.

Com base nas categorias selecionadas, procedeu-se à análise dos dados de cada participante em cada categoria, para depois se agruparem os dados dos vinte e dois participantes nas categorias, o que permitiu conhecer as razões pelas quais as pessoas procuram o Balneário de Águas de Lindóia.

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4.1 Perfil Sócio Demográfico

Para conhecer o perfil das pessoas que procuram o balneário, levou-se em consideração questões como: idade, sexo, escolaridade, profissão, ocupação, estado civil, motivo de estar no balneário e o número de estadias em Águas de Lindóia. Estes dados podem ser melhor visualizados no quadro I.

Quadro I Perfil dos participantes

Part. Idade Sexo Escola/de Profissão Ocupação Est.Civil Vinda ao Bal. Motivo

1 66 F Sup.Compl. Tera Floral Aposen Casada 1º vez Turismo 2 66 F E M.C Professora Aposen Solteira 1º vez Turismo 3 69 F Sup. Compl. Professora Aposen Viúva 1º vez Turismo 4 39 F Pós Grad. Fun.Pública Arquivista Casada + 3 vezes Tur. Saúde 5 29 M Sup. Compl. Designer Designer Solteiro 2-3 vezes Turismo 6 25 F Sup. Incom. Arquitetura Estágiaria Solteira 1º vez Turismo 7 41 M Pós Grad. Perito Perito Casado 1º vez Tur. Saúde 8 39 F Sup. Compl. Advogada Advogada Casada 1º vez Turismo 9 66 F Sup. Compl. Professora Aposen Viúva + 3 vezes Tur. Saúde 10 66 F E. M. C. Do Lar Aposen Casada + 3 vezes Tur. Saúde 11 66 F Sup. Compl. Professora Aposen Casada + 3 vezes Tur. Saúde 12 70 M Pós Grad. Médico Médico Casado + 3 vezes Tur. Saúde 13 35 F Pós Grad. Professora Professora Casada 1ª vez Tur. Saúde 14 79 M E. M.C. S.Manut Aposen. Casado + 3 vezes Tur. Saúde 15 49 F E. M.C Age. Saúde Age .Saúde Casada + 3 vezes Tur. Saúde 16 54 F Ens Médio Tecelã Aposen Casada + 3 vezes Tur. Saúde 17 67 F Sup.Compl. Professora Aposen Casada 1º vez Turismo 18 79 F E. M.C Empresária Aposen Casada + 3 vezes Tur. Saúde 19 72 M E. M.C Vendedor Aposen Casado + 3 vezes Tur. Saúde 20 93 F Ens.Fund Tecelã Aposen Viúva + 3 vezes Tur. Saúde 21 85 M Sup.Compl. Médico Aposen Casado + 3 vezes Tur. Saúde 22 71 F Sup.Compl. Professora Aposen Solteira + 3 vezes Turismo

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Observa-se que o perfil dos participantes se diferencia da população brasileira no que se refere à escolaridade, pois treze participantes apresentam nível superior completo, cinco com pós-graduação. A idade situa-se entre 25 e 93 anos, sendo que a maioria encontra-se na faixa etária de 60 a 80 anos, com média de 62,6 anos para os homens e 59,3 anos para as mulheres. A maioria, 14 dos participantes, é aposentada. Quanto ao estado civil 15 são casados, quatro solteiros e três viúvas. Observa-se o predomínio de participantes do gênero feminino em relação ao masculino, com 16 mulheres e seis homens. Gomes32 e Schraiber 33 discutem que a falta de atenção com a própria saúde não é visto como prática do homem. Cuidar-se estaria associado a sinais de fraqueza, medo, ansiedade e insegurança o que colocaria em risco a masculinidade. De um modo geral, os homens têm dificuldade em verbalizar seus sentimentos, o que para eles significa que falar de seus problemas de saúde pode ser entendido como uma demonstração de fraqueza e de feminilidade perante os outros. Outra questão que pode explicar tal ausência masculina na procura do cuidado da saúde é o medo da descoberta de uma doença, portanto, este comportamento pode ser creditado a um fator de proteção32.

Em relação aos usuários aposentados existe uma gama de ofertas e descontos que facilitam o deslocamento desse segmento da população oferecendo vantagens exclusivas para os idosos, aposentados e pensionistas. Tal atitude tem apoio do Ministério do Turismo que estimula esse público a conhecer as mais diferentes facetas do Brasil. Em relação aos custos do uso dos serviços do balneário, os aposentados pagam 50% menos e a estadia nos hotéis tem descontos vantajosos, assim sobra mais recurso financeiro para gastarem em outros serviços na cidade, estimulando a economia.

4.2 Águas de Lindóia como Destino Turístico

Águas de Lindóia integra o Circuito das Águas Paulista formado por oito cidades. Seis são consideradas Estâncias Hidrominerais: Termas de Lindóia, Amparo, Lindóia, Monte Alegre do Sul, Serra Negra e Socorro.

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Pedreira e Jaguariúna não são consideradas estâncias pela definição peculiar dessas cidades, elas integram o Circuito das Águas por possuírem rios, cachoeiras e algumas fontes espalhadas pela cidade.

Entre as estâncias hidrominerais paulista Águas de Lindóia se destaca frente ao termalismo e na memória dos frequentadores, podemos observar nas narrativas que alguns participantes tiveram o primeiro contato com a cidade através de familiares quando na infância vinham às termas passar as férias.

É costume da minha família passar uma parte um período das férias... esse apreço pelas termas veio principalmente da minha mãe que por razões médicas vinha aqui e nessa ocasião conheceu meu pai... na verdade existe uma relação de história com essa cidade. (P 4).

Eu frequento Águas de Lindóia desde que eu me conheço por gente, quando posso quando tenho condições eu venho pra cá tomar banhos, a cidade é muito agradável pelos banhos relaxantes. (P 21).

Estar em Águas de Lindóia para alguns dos entrevistados parece estar associado à nostalgia, emergem as lembranças da infância e a estadia nas termas propicia reviver essa época.

A possibilidade de deixar os grandes centros urbanos em busca de uma harmonia biopsicossocial, através dos recursos oferecidos pela cidade é relatada pelos participantes 18 e 9.

Há bastante tempo a gente frequenta Águas de Lindóia a gente comprou um apartamento aqui... Aqui é muito bom, em São Paulo a gente vive muito estressada aqui a gente fica muito tranquilo. (P 18).

Eu, minha irmã e minha amiga gostamos muito daqui então alugamos até uma casa, não por temporada nos alugamos assim mesmo por mês. Gostamos do ar, da tranquilidade da cidade, dos banhos, a água me resolve problema urinário. (P 9).

Sua identidade multidimensional foi construída ao longo da história pelos recursos oferecidos pela cidade voltada ao termalismo e simultaneamente ao lazer e ao turismo.

Ao procurar Águas de Lindóia como destino turístico de lazer, o turista pode ter acesso aos recursos do termalismo, se beneficiando dos efeitos terapêuticos propiciados pelos recursos naturais da cidade.

Dos vinte e dois entrevistados, a maioria relatou estar em Águas de Lindóia pela fama do balneário e experimentar as águas na forma de banhos e beberem nas fontes. Para essas

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pessoas, o balneário é o local adequado para alcançar o bem estar físico e mental que o produto turístico oferece quando se associa natureza e tranquilidade que pode ser definido como descanso e repouso. Essa análise pode ser observada nas narrativas dos participantes da pesquisa P 20 e P 22.

O balneário de Águas de Lindóia é famoso pelas suas águas, né? Pelo termalismo da região e eu fui pela curiosidade de saber como que é o banho de imersão, né? Que eles falam tanto da água azulada, né? Da radioatividade, esse foi o motivo principal. (P 5).

Primeiramente foi a questão da água, porque é considerada uma das melhores do planeta, a estrutura do balneário, a proposta do balneário, a proposta dos tratamentos, a qualidade de vida, a questão da saúde. (P 7). O atrativo turístico foi a escolha de oito entrevistados, referem que procuraram Águas de Lindóia levando em consideração o clima e a possibilidade para relaxar. Como citaram os participantes:

Passeio turístico. Na verdade a gente não veio por causa do balneário, na verdade, foi pra relaxar somente isso. Descobri o balneário aqui. (P 8).

A motivação não foi o balneário... foi muito mais a região do ponto de vista geográfico e o clima, muito mais isso, acho que o balneário vem secundariamente... (P 10).

Vontade de descansar de ter um lugar mais tranquilo de poder fazer as coisas num ritmo mais lento... Basicamente isso. (P 11).

A cidade permite ao turista se desligar das obrigações do dia a dia e se dedicar a atividades prazerosas. Tendo como opção caminhadas sob a paisagem agradável, uma geografia composta de montanhas com clima que inspira a respiração profunda proporcionando relaxamento. Dessa forma, essas pessoas se sentem satisfeitas no

cumprimento de seu objetivo e o balneário só agrega mais um item para o lazer ou mais um ponto turístico para visitar.

A rede hoteleira de Águas de Lindóia recebeu cerca de dois milhões de turistas em 2012, neste mesmo período, o balneário atendeu cerca de sessenta mil turistas pagantes, não contabilizados aquelas pessoas que usufruem as águas diretamente das fontes nas dependências no balneário que é aberto ao público, segundo dados da direção do balneário referente ao ano de 2012.

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Confrontando o número de turistas que a cidade tem recebido com o número de usuários do balneário pode-se concluir que existe um desconhecimento dos recursos termais oferecidos pelo mesmo. Fato este, provavelmente decorrente de uma concentração na divulgação do turismo de lazer, e em contrapartida a não exploração do turismo voltado à saúde. Outra hipótese que justifica a discrepância numérica para a baixa frequência do balneário pode ser a falta de credibilidade da utilização das águas termais para fins terapêuticos, segundo Silva e Barreira 34, citados por Alves, o fenômeno pode ser explicado pelo avanço da medicina de um modo geral e da indústria farmacêutica que introduz para a humanidade a era dos antibióticos e corticoides cujo efeito é mais rápido se adequando às necessidades imediatistas da vida moderna.

O turismo de saúde é uma das mais antigas atividades do mundo e tem sofrido significativas alterações ao longo dos tempos. Atualmente é um campo de ação que se estende a questões ambientais, econômicas e a qualidade de vida, é um fenômeno complexo que pode ser encarado como fator de crescimento e progresso16.

E para outras pessoas o motivo de vir à Águas de Lindóia exprime a reputação de suas águas como observamos na entrevista P 21.

Sabe que essa água de Lindóia foi pesquisada pela NASA? Quando o homem foi pra Lua eles verificaram as águas hidrominerais do mundo e acharam que essa é a água ideal e levaram pra Lua. Essa água foi até na Lua e nos brasileiros não conhecemos? (P 21)

A cidade vive em torno dessa informação veiculada pela impressa, comprovada apenas pela emissão de uma nota fiscal da época para a National Aeronautics and Space

Administration, NASA. Na nota de 1969, aparece o envio de cem dúzias de água de meio

litro para o Centro Espacial Kennedy partindo do aeroporto de Santos Dumont. Porém em uma carta endereçada ao Lyndon B. Johnson Space Center protocolo AP131-02-03 em fevereiro de 2002, pedindo informações sobre o tema, não se constatou evidências de que a água mineral de Lindóia tenha ido ao espaço.

Águas de Lindóia faz parte do programa de férias e feriados de algumas pessoas, passando de geração a geração o hábito de visitar a cidade, usufruindo dos recursos termais como no relato dos participantes P 4, P 14, P 21.

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Bem na verdade é de costume da minha família já há mais de 10 anos vir aqui, passar uma parte do período das férias. (P 4).

A minha vinda aqui começou quando eu vim visitar meu pai que estava no hospital aqui, ele estava com cólicas de vesícula tinha operado do estomago e ficando 20 dias aqui ele conseguiu se recuperar

Eu frequento Águas de Lindóia desde que eu me conheço por gente porque Águas de Lindóia além do próprio clima da cidade simpática que ela é, ela é produtora de uma água mineral radioativa das mais importantes que eu considero do Brasil.... (P 21).

Nesse contexto pode-se afirmar que a estância hidromineral de Águas de Lindóia como destino turístico de lazer ou pelos recursos termais que oferece é apropriada para quem procura repouso e quer ficar longe dos ambientes aglomerados, poluídos e cansativos que configuram o dia a dia da maioria das pessoas.

A cidade carece de divulgação de seus recursos turísticos, alguns dos entrevistados não tinham informações sobre o balneário, fato relevante, necessitando a atenção tanto das autoridades municipais e da rede hoteleira.

Como exemplo, temos o relato do entrevistado P7:

Eu tenho a pretensão de estar retornando, gostei da cidade, mas principalmente desse espaço, (o balneário), esse espaço aqui é singular então... (P 7).

4.3 A Percepção das Águas como Recurso Terapêutico

Quando falamos em percepção nos referimos a sensação física interpretada, traduzida ou ensinada através da experiência vivenciada nas termas mediante as águas minero medicinais que podem ser usadas ou empregadas como meio curativo, recuperação e prevenção de agravos ao corpo.

A percepção ou valor que o termalismo tem para algumas pessoas ultrapassa os efeitos terapêuticos da água minero medicinal, quando reduzimos seus efeitos a componentes químicos e efeitos físicos.

Através dos relatos dos entrevistados podemos observar que a percepção do uso das águas depende do objetivo de cada usuário. A importância ou o valor a ela atribuído pode ter diversas implicações além do evidente.

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Só o fato de tá imerso numa água diferenciada já foi uma sensação muito diferente, o tempo parece que passa bem devagar do que os vinte minutos que eles estipulam né? Parece que você fica muito mais tempo por causa do relaxamento intenso que tem o banho. (P 5).

A água que abraça o corpo na banheira também envolve a alma e se manifesta na forma de descanso e relaxamento orquestrado pelo silêncio que leva as pessoas a ouviram suas próprias vozes dispondo de tempo para seus pensamentos fluírem fora do stress do dia a dia. Segundo Brasil 35, essa afirmação pode ser a experiência da vivência de nove longos meses no líquido amniótico ou próximo a esse período, essa sensação nos remete a lembrança de proteção em um ambiente acolhedor que estivemos um dia.

No tratamento crenoterápico é frequente a liberação de bloqueios emocionais porque instintivamente a contemplação da água em seu meio natural desperta reações emocionais que pode suscitar os mais variados sentimentos no homem como a reflexão, o medo, o prazer, a euforia. Em algumas culturas a água é um elemento com propriedades curativas e sagradas, que parece possuir o dom de emergir sensações, permitindo o cair das máscaras que por vezes revestem nosso ser, possibilitando o encorajamento dos sentimentos oprimidos da alma, àqueles que se escondem no mais profundo íntimo para cuidar, curar e animar 35, 36.

Associado às sensações proporcionadas pela água, os agentes climáticos como a altitude que exerce efeitos específicos como sedação pela hipóxia, diminuição das taxas de oxigênio no ar devido à diminuição da pressão parcial do mesmo, causando sonolência em algumas pessoas mais sensíveis 36.

A água das fontes, o correr dos rios, o ondular do mar remetem o homem para o mistério do movimento e manifestação de energia e quando quieta a água é espelho que proporciona o conhecimento da própria imagem. A riqueza simbólica da água permite compreender seu uso pelas civilizações em rituais de purificação ou de passagem9.

Em uma passagem da Bíblia37 podemos encontrar exemplo de “vitalidade” através do uso da água como no Novo Testamento, Evangelho de João 4:14, que diz: “Mas aquele

que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte d'água que salte para a vida eterna." Nessa passagem a água pode ter

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Me sinto bem... digamos pleno de saúde, de vontade de viver quer dizer essa água diria tem até um rejuvenescimento, eu tenho 85 anos eu adoro isso eu acho que todas as pessoas que vierem e fizerem esse tipo de banho saem assim rejuvenescidos e agradecidos por isso que a natureza nos fornece. (P 21).

Para alguns entrevistados as questões do cotidiano tomam uma dimensão diferente, a água pode ser um meio de promover a reflexão e energia para o enfrentamento do dia a dia.

Ah... Como é um momento relaxante a gente tenta esquecer dos problemas mas em certos momentos você começa a pensar na sua vida o que aconteceu no passado o que você pensa do futuro. ( P 6).

Eu fico muito descansada, sabe assim... desestresso fico estressada com esse problema de família ai chega aqui é um calmante pra mim, é um calmante durmo bem, nossa! (P 12)

Aqui é muito bom, em São Paulo a gente vive muito estressada aqui a gente fica muito tranquila, então a gente tá muito satisfeito não tem nem vontade de ir pra São Paulo gostaria de ficar aqui mais, mas a gente tem coisas pra resolver em São Paulo. (P 18).

Podemos entender a função do banho como agente relaxante quando na antiguidade os helênicos acreditavam que o acúmulo de medos, rancores, frustrações, ciúmes, invejas e tensões eram responsáveis pela perda de saúde e promoviam paradas cotidianas para

“esvaziar o corpo”, evitando assim os tão conhecidos “transbordamentos”. Esses banhos eram destinados à limpeza e purificação que levava a reflexão e meditação através de pausas diárias. Se necessário conversavam com conselheiros detentores de conhecimento e sabedoria quando solicitados auxiliavam na limpeza da “psique” colocando as pessoas frente a frente com os mistérios de sua existência na busca do real e verdadeiro sentido da vida38.

Para essas pessoas pode ser terapêutico apreciar uma realidade menos “virtual” e mais próxima da terra que só é capaz de existir fora do contexto das grandes cidades39.

Na análise da fala dos participantes da pesquisa emergiram narrativas que citam cotidianos revestidos de insatisfação com doenças, dores, limitações físicas e quando entram na banheira e a água os envolve, o acolhimento é imediato e o relaxamento certo.

Só o fato de tá imerso numa água diferenciada, né? Em uma temperatura elevada já traz relaxamento maior pro corpo, é diferente de uma banheira comum de uma água comum, foi uma sensação muito diferente... (P 5)

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