U
NIVERSIDADE
F
EDERAL
F
LUMINENSE
Propriedades Eletrˆonicas de Nanofitas
de Grafeno
Bruna do Rˆego Gonc¸alves
Orientador
Prof. Dr. Roberto Bechara Muniz
Co-Orientador
Trabalho de conclus˜ao de curso sob o t´ıtulo”P ropriedades Eletrˆonicas de N anof itas de Graf eno”,defendida por Bruna do Rˆego Gonc¸alves e aprovada em 8 de Fevereiro de2018, em Niter´oi, Estado do Rio de Janeiro, pela banca examinadora constitu´ıda pelos professores:
Prof. Dr. Roberto Bechara Muniz Orientador
Prof. Dra. Andrea Brito Latge Universidade Federal Fluminense
Prof. Dra. Daiara Faria
Agradecimentos
Gostaria de dedicar este trabalho `a minha av´o, Maziles C. do Rˆego, pelo carinho e apoio do berc¸o at´e o tempo que esteve comigo. Sem a sua inspirac¸˜ao eu n˜ao seria nada. Agradecer os meus pais e irm˜aos, o amor e suporte de vocˆes tornou tudo poss´ıvel e trouxe luz `a minha vida nos momentos dif´ıcies.
Ao meu orientador, Roberto Bechara, pela inspirac¸˜ao, bons conselhos e pelos ensina-mentos valiosos que levarei para o resto da vida. Obrigada, tamb´em, pela paciˆencia ao longo desses trˆes anos de trablho juntos.
Ao meu co-orientador, Filipe Guimar˜aes, por responder e-mails muito r´apido e a ajuda essencial para que este trabalho ficasse pronto. Vocˆe ´e demais Filipe!
Aos meus amigos, pelas boas risadas e companhia para os estudos.
Aos professores que ajudaram na minha formac¸˜ao. Em especial ao Prof. Newton Man-sur, que foi uma fonte de insparac¸˜ao.
Resumo
O trabalho a seguir foi desenvolvido durante os meus3 anos de iniciac¸˜ao cient´ıfica. Estudamos as estruturas do carbono, para compreender a hibridizac¸˜ao(sp2) que
possi-bilita a existˆencia da rede cristalina do grafeno. A partir disso, aprofundamos os estu-dos em ferramentas matem´aticas para o estudo das propriedades eletrˆonica do grafeno, para posteriormente analisarmos as propriedades eletrˆonicas de nanofitas de grafeno.
Primeiramente, analisamos a distribuic¸˜ao de bandas eletrˆonicas do grafeno utili-zando o modelo de ligac¸˜oes fortes. Ent˜ao, estudamos as func¸˜oes de Green e a equac¸˜ao de Dyson. Aplicamos estas ferramentas para casos simples: ´Atomos livres e cadeias semi-infinitas.
Com isso, analisamos as nanofitas com bordas armchair, para calcularmos as den-sidades locais de estados. Para tal, usamos express˜oes anal´ıticas para computacio-nalmente obtermos gr´aficos da densidade local de estados de alguns ´atomos em uma nanofita infinita. A partir desses resultamos percebemos que as express˜oes anal´ıticas s˜ao ferramentas eficientes para o calculo das densidades de estados.
Sum´ario
Introduc¸˜ao 6
1 Estruturas de Carbono 12
1.1 Estruturas de Carbono e Hibridizac¸˜ao . . . 12
1.1.1 Hibridizac¸˜aosp3 . . . . 14
1.1.2 Hibridizac¸˜aosp2 . . . . 15
1.1.3 Hibridizac¸˜aosp . . . 17
1.2 Grafeno . . . 18
2 Modelo de ligac¸˜oes fortes e estrutura de bandas do grafeno 20 2.1 Hamiltoniano de ligac¸˜oes fortes . . . 20
2.2 Aplicac¸˜ao ao grafeno . . . 23
3 Func¸˜ao de Green 28 3.1 Introduc¸˜ao `a func¸˜oes de Green de uma part´ıcula . . . 28
3.2 Densidade de estados . . . 30
3.3 Equac¸˜ao de Dyson . . . 32
3.4 M´etodo recursivo baseado na equac¸˜ao de Dyson . . . 34
3.4.1 Problema de uma impureza substitucional em um hospedeiro met´alico . . . 41
4 Grafeno e nanofitas 46 4.1 Nanofitas infinitas de grafeno com borda armchair . . . 48 4.2 Fitas com bordas armchair: express˜oes anal´ıticas . . . 49
5 Conclus˜oes 64
Lista de Figuras
1.1 Estado Fundamental do Carbono . . . 13
1.2 Estado excitado do Carbono . . . 13
1.3 Representac¸˜ao esquem´atica dos orbitais atˆomicos envolvidos na hibridizac¸˜ao sp . . . 13
1.4 Representac¸˜ao esquem´atica dos orbitais atˆomicos envolvidos na hibridizac¸˜ao sp2. . . . 14
1.5 Representac¸˜ao esquem´atica dos orbitais atˆomicos envolvidos na hibridizac¸˜ao sp3. . . . 14
1.6 Hibridizac¸˜aosp3do Carbono . . . . 14
1.7 Rede cristalina do diamante . . . 15
1.8 Hibridizac¸˜aosp2do Carbono . . . . 15
1.9 Estrutura cristalina do grafite . . . 16
1.10 Combinac¸˜ao dos orbitais para hibridizac¸˜aosp. . . 17
1.11 Estrutura qu´ımica do eteno . . . 18
1.12 As esferas s˜ao os ´atomos de carbono e os trac¸os as ligac¸˜oes covalentes. 18 1.13 Grafite: Folhas de grafeno empilhadas. . . 18
1.14 (a) Estutura de bandas [3]E(kx, ky) do Grafeno calculada em func¸˜ao dos vetores de ondakxekypertencentes `a primera zona de Brillouin. (b) Detalhe da estrutura de bandas na vizinhanc¸a dos pontos K e K’ da zona de Brillouin, salientando seu aspecto linear em ~k nas imediac¸˜oes desses pontos. . . 19
2.1 Poc¸os de potencial representando dois ´atomos isolados . . . 21 2.2 Poc¸o de pontecial com comprimento2L . . . 21 2.3 Estrutura cristalina do grafeno;~a1e~a2representam os vetores
primiti-vos da rede de Bravais triangular. . . 24 2.4 Rede rec´ıproca do grafeno; ~b1e ~b2representam os vetores primitivos
da rede rec´ıproca e a regia˜ao achureada delimita a primeira zona de Brillouin. . . 24 3.1 I) Dois ´atomos isolados II) D´ımero . . . 34 3.2 Um ´atomo livre sendo adicionado `a uma cadeia de N ´atomos. . . 36 3.3 Cadeia unidimensional semi-infinita. A linha tracejada representa a
ligac¸˜ao de mais um ´atomo isolado (1) `a cadeia. . . 37 3.4 Densidades de estados locais calculadas em func¸˜ao da energia para
di-versos ´atomos de uma cadeia linear semi-infinita. Linha preta - ´atomo (1) situado na ponta da cadeia. Linhas vermelha, verde, azul e amarela, representam, respectivamente, os resultados para os ´atomos (2) - (5) mais pr´oximos da ponta como ilustrado na figura 3.3 . . . 39 3.5 Cadeia unidimensional infinita. A linha tracejada representa a ligac¸˜ao
entre duas cadeias semi-infinitas, formando a cadeia infinita. . . 40 3.6 Densidades de estado locais calculadas para alguns ´atomos de uma
ca-deia linear semi-infinita em func¸˜ao da energia. Curva preta: ´atomo no infinitamente afastdo da borda da cadeia; curva cinza: ´atomo na ponta da cadeia; curva vermelha: ´atomo distando104s´ıtios da borda da
ca-deia. Nesses c´alculos a origem de energia ´e escolhida em0 = 0, e a
energiaE ´e medida em unidades de t(t = 1). . . 40 3.7 Partes real (f0) e imagin´aria (g0) da func¸˜ao de Green do hospedeiro
no modelo em que a densidade de estados ´e semi-circular. As retas tracejada correspondem a dois valores distintos dev0:v0= V1ev0=
V2. . . 42
4.2 Estrutura cristalina do grafeno;~a1e~a2representam os vetores
primiti-vos da rede de Bravais triangular. Os vetores ~b1e ~b2s˜ao os vetores da
rede rec´ıproca. . . 50 4.3 A nova c´elula unit´aria no espac¸o rec´ıproco ´e obitda transformado a
primeira zona de Brilloouin em uma c´elula equivalente, retangular, de larguraW = 4π/(a√3) e comprimento L = 2π/a. Com essa escolha os limites de integrac¸˜ao em kx eky, s˜ao dados, respectivamente, por
kx∈ [−W/2, W/2] e ky ∈ [−L/2, L/2]. . . 52
4.4 Nanofita de grafeno comborda armchair. As posic¸˜oes dos s´ıtios da rede podem ser expressas em termos de ~R = l~a1+ j~a2, a partir da
origemO. A largura finita da tira na direc¸˜ao ˆy, ´e determinada impondo a condic¸˜ao de que a densidade de estados local seja nula nos s´ıtios das linhas verdes. A linha inferior ´e determinada porl = j, e a superior porl = N + i e j =−N + i. . . 54 4.5 Atomo preto: ~´ R = (l = 1, j = 0, s = 1). ´Atomo vermelho: ~R = (l =
1, j =−1, s = 2). ´Atomo verde: ~R = (l = 2, j =−1, s = 2). ´Atomo azul: ~R = (l = 2, j =−1, s = 2). . . . 59 4.6 Densidade de estados local, calculada em func¸˜ao da energia, para um
s´ıtio localizado na posic¸˜ao ~R = (l = 1, j = 0, s = 1) . . . 60 4.7 Densidade de estados local, calculada em func¸˜ao da energia, para um
s´ıtio localizado na posic¸˜ao ~R = (l = 1, j =−1, s = 2) . . . . 61 4.8 Densidade de estados local, calculada em func¸˜ao da energia, para um
s´ıtio localizado na posic¸˜ao ~R = (l = 2, j =−1, s = 2) . . . 62 4.9 Densidade de estados local, calculada em func¸˜ao da energia, para um
s´ıtio localizado na posic¸˜ao ~R = (l = 2, j =−2, s = 2) . . . 63 A.1 Contorno pela metade superior do plano complexo para efetuar a
inte-gral da Eq. A.7, paraD≥ 0 . . . . 67 A.2 Contorno pela metade inferior do plano complexo para efetuar a
Introduc¸˜ao
Uma das descobertas mais interessantes da ciˆencia nos ´ultimos anos foi o grafeno: um material com propriedades f´ısicas singulares e com grande potencial para ser utili-zado em aplicac¸˜oes tecnol´ogicas.
O grafeno ´e um material bidimensional, com espessura de um ´atomo apenas, que apresenta uma estrutura crsitalina formada por uma rede de Bravais triangular e uma base composta por dois ´atomos de carbono. Ele foi primeiramente obtido por esfoliac¸˜oes sucessivas de grafite, cuja estrutura tridimensional, pode ser vista como como folhas de grafeno superpostas. Isso ocorreu em 2004 e foi realizado por dois pesquisadores da Universidade de Manchester: Prof. Andre Geim e Prof. Kostya Novoselov. Em 2010, ambos receberam o prˆemio Nobel de F´ısica por essa descoberta. No ano de 2013 o grafeno foi eleito pela Sociedade Americana de Engenharia Mecˆanica como um dos cinco materiais mais promissores dessa ´area.
Isto demonstra o potˆencial que o grafeno apresenta. Ele ´e um semicondutor de gapnulo. H´a um grande interesse no estudo das propriedades eletrˆonicas do grafeno, por este ser um poss´ıvel substituto ao sil´ıco em dispositivos eletrˆonicos [1, 14]. Por exemplo, em dispositivos de telecomunicac¸˜oes, telas de celulares sens´ıveis ao toque e smart watches. H´a tamb´em eletrodos de grafeno, utilizados em biomedicina por serem mais flex´ıveis e biocompat´ıveis [11].
Nota-se que o grafeno porporcinou uma variedade de estudos devido `as suas pro-priedades. Em particular, para este trabalho, vamos destacar o estudo das nanofitas, que s˜ao tiras estreitas de grafeno com a espessura de um ´atomo. O medelo te´orico das nanofitas foi introduzido pelo f´ısico Prof. Mitsutaka Fujita, para estudar os efeitos de
borda no grafeno [13].
As propriedades eletrˆonicas das nanofitas dependem do formato da borda, neste trabalho vamos estudar as nanofitas com bordas armchair. Utilizando o modelo de ligac¸˜oes fortes, um m´etodo aproximativo para calcular as estrutura eletrˆonica de bandas em f´ısica do estado s´olido, obtemos que as nanofitas zig zag s˜ao sempre met´alicas e as nanofitas armchair podem ser semi condutoras ou met´alicas dependendo do tamanho da tira. Devido a alta condutividade t´ermica e el´etrica, as nanofitas s˜ao uma alternativa poss´ıvel componente de dispositivos eletrˆonicos.
Al´em disso, o grafeno poss´ıbilitou uma nova era de estudo de materiais bidimen-sionais. Por exemplo, a Molibdenita (MoS2) [16], um semicondutor que
possibi-lita a fabricac¸˜ao de mem´oria flash menores e mais flex´ıveis que as atuais. Outro exemplo ´e o Diboreto de magn´esio (MgB2), um supercondutor a temperatura de39
kelvins(−234, 150C) [12], um substituto de fabricac¸˜ao mais baratada aos im˜as su-percondutores feitos de ligas de ni´obio, para aparelhos de imagem por ressonˆancia magn´etica.
Devido a essas poss´ıbilidades quase ilimitadas nossa motivac¸˜ao foi estudar a estru-tura eletrˆonica do grafeno: As func¸˜oes de green monoletrˆonicas e os m´etodos recursi-vos s˜ao ferramentas que auxiliaram o estudo das nanofitas de grafeno, uma ramificac¸˜ao do estudo do grafeno.
Cap´ıtulo 1
Estruturas de Carbono
1.1
Estruturas de Carbono e Hibridizac¸˜ao
O ´atomo de carbono [21] ´e muito vers´atil e pode formar diversos compostos. Ele tem seis el´etrons que ocupam os seguintes orbitais atˆomicos: 1s2, 2s2, e 2p2. Os
dois el´etrons que ocupam o orbital 1s2 est˜ao muito ligados ao n´ucleo atˆomico e s˜ao
praticamente inertes, n˜ao participando de ligac¸˜oes qu´ımicas. Os outros quatro, que ocupam os estados 2s2, e 2p2, s˜ao denominados el´etrons de valˆencia. Eles s˜ao mais
livres e participam dessas ligac¸˜oes.
A Fig.1.1 ilustra, esquematicamente, a ocupac¸˜ao dos n´ıveis de energia do ´atomo de carbono, no estado fundamental, por seus el´etrons (com spin ↑ e ↓), de acordo com as regras de Hund. Os dois el´etrons com spin↑ que ocupam o estado 2p s˜ao os mais prop´ıcios para participar de ligac¸˜oes qu´ımicas. Entretanto, essas ligac¸˜oes geral-mente quando ocorrem promovem uma reduc¸˜ao da energia total do sistema, e outras ordenac¸˜oes podem ampliar essa possibilidade. Como a diferenc¸a de energia entre os n´ıveis atˆomicos 2s e 2p ´e relativamente pequena, podemos imaginar um estado exci-tado intermedi´ario do ´atomo de carbono onde o el´etron com spin↑ no n´ıvel 2s seja promovido para o n´ıvel2p desocupado, gerando o arranjo ilustrado na Fig. 1.2. Esses orbitais podem se recombinar formando outros orbitais (hibridizados) [17]. No caso, trˆes hibridizac¸˜oes distintas podem ocorrer envolvendo o orbital2s e os trˆes orbitais
2px, 2pye 2pz. Elas s˜ao denotadas, respectivamente, porsp3(Fig.1.5),sp2(Fig.1.4) e
sp (Fig.1.3). Os processos est˜ao ilustrados, esquematicamente, nas figuras a seguir:
Figura 1.1: Estado Fundamental do Carbono
Figura 1.2: Estado excitado do Carbono
Figura 1.3: Representac¸˜ao esquem´atica dos orbitais atˆomicos envolvidos na hibridizac¸˜aosp
Figura 1.4: Representac¸˜ao esquem´atica dos orbitais atˆomicos envolvidos na hibridizac¸˜aosp2
Figura 1.5: Representac¸˜ao esquem´atica dos orbitais atˆomicos envolvidos na hibridizac¸˜aosp3
1.1.1
Hibridizac¸˜ao sp
3Na hibridizac¸˜aosp3os orbitais2s, 2p
x,2py e2pz se combinam formando quatro
orbitais distintos, como os que est˜ao ilustrados na figura 1.6.
|sp
±
i =
1
p
2
(
|2si ± |2p
z
i)
Figura 1.6: Hibridizac¸˜aosp3do Carbono
Essas combinac¸˜oes s˜ao explicitadas matematicamente pelas equac¸˜oes: sp3a = 1 2{|2si + |2pxi + |2pyi + |2pzi} sp3b = 1 2{|2si − |2pxi − |2pyi + |2pzi} (1.1) sp3c = 1 2{|2si − |2pxi + |2pyi − |2pzi} sp3d = 1 2{|2si + |2pxi − |2pyi − |2pzi}
Esses quatro orbitais assumem um arranjo tetra´edrico, com um ˆangulo de109.5◦
ˆ
x
ˆ
y
ˆ
z
Figura 1.7: Rede cristalina do diamante
Um exemplo muito conhecido de um material que apresenta esse tipo de hibridizac¸˜ao ´e o diamante. A sua estrutura cristalina consiste em uma rede de Bravais FCC (Rede C´ubica de Face Centrada), com uma base formada por dois ´atomos de carbono posicio-nados em(0, 0, 0) a0(1/4, 1/4, 1/4), respectivamente, onde a0representa o parˆametro
de rede, conforme ilustra a figura (1.7). As ligac¸˜oes covalentes entre os ´atomos de carbono s˜ao bastante est´aveis conferindo alta dureza ao diamante.
1.1.2
Hibridizac¸˜ao sp
2Na hibridizac¸˜aosp2o orbital2s hibridiza com dois orbitais 2p (por exemplo 2p xe
2py), formando trˆes orbitais distintos, como os que est˜ao ilustrados na figura 1.8. Essas
|sp
±
i =
1
p
2
(
|2si ± |2p
z
i)
Figura 1.8: Hibridizac¸˜aosp2do Carbono
sp2a = √1 3|2si − r 2 3|2pyi sp2b = √1 3|2si + r 2 3 (√ 3 2 |2pxi + 1 2|2pyi ) (1.2) sp2c = −√1 3|2si + r 2 3 ( − √ 3 2 |2pxi + 1 2|2pyi ) .
Esses trˆes orbitaissp2assumem um arranjo trigonal no planar, como ilustra a figura
1.8. Eles formam ligac¸˜oes covalentes (tipoσ) com ´atomos vizinhos. O orbital pz, que
n˜ao se misturou, forma ligac¸˜oes tipoπ fora do plano xy.
Figura 1.9: Estrutura cristalina do grafite
O grafite(1.9) ´e um exemplo de cristal tridimensional, que apresenta hibridizac¸˜ao sp2. As ligac¸˜oes covalentesσ entre os ´atomos de carbono no plano s˜ao relativamente
fortes, equanto as tipoπ entre as camadas adjacentes s˜ao mais fracas, permitindo que os planos de grafite possam ser esfolheados facilmente. Para temperatura e press˜ao ordin´arias, a forma est´avel do carbono ´e o grafite.
1.1.3
Hibridizac¸˜ao sp
Na hibridizac¸˜ao sp, o orbital 2s combina-se com um orbital 2p, formando dois orbitais distintos, como ilustrado na figura (1.10).
x z z z x x y y z z z x x x yy yy yy yy yy z
Figura 1.10: Combinac¸˜ao dos orbitais para hibridizac¸˜aosp. Essas combinac¸˜oes s˜ao explicitadas matematicamente pelas equac¸˜oes:
|spai = 1 √ 2(|2si + |2pxi) (1.3) |spbi = 1 √ 2(|2si − |2pxi) .
Os dois l´obulos frontais dos orbitaissp s˜ao afastados um do outro, conforme ilustra a figura (1.10), em umm linha reta, favorecendo formac¸˜ao de estruturas lineares.
Um exemplo de composto orgˆanico que exibe esta hibridizac¸˜ao ´e o eteno (etileno) ilustrado esquematicamente na figura 1.11). ´E um g´as incolor, com aplicac¸˜oes na ´area m´edica (como anest´esico) e em qu´ımica industrial na fabricac¸˜ao de pl´asticos.
Figura 1.11: Estrutura qu´ımica do eteno
1.2
Grafeno
Nesse trabalho o nosso interesse principal ´e o grafeno, que consiste em um ´unico plano atˆomico de grafite.
Figura 1.12: As esferas s˜ao os ´atomos de carbono e os trac¸os as ligac¸˜oes covalentes.
Figura 1.13: Grafite: Folhas de grafeno empilhadas.
Esta forma alotr´opica do carbono tem propriedades f´ısicas interessante de serem estudadas. Apesar de cientistas terem imaginado a possiblibilade de obter esse material bidimensional h´a muitos anos atr´as, ele s´o foi isolado em 2004 por dois pesquisadores da Universidade de Manchester: Prof. Andre Geim e Prof. Kostya Novoselov. Eles ganharam o prˆemio Nobel de f´ısica em 2010, por esse trabalho pioneiro. O grafeno
tˆem proprieddes eletrˆonicas muito interessantes e para compreende-las ´e necess´ario investigar a sua estrutura eletrˆonica.
Tratando-se de uma material que apresenta simetria de translac¸˜ao, seus n´ıveis de energia eletrˆonicos formam bandas de energia e os autoestados correspondentes s˜ao descritos por func¸˜oes de Bloch. Nos pr´oximos cap´ıtulos iremos discutir a estrutura eletrˆonica do grafeno utilizando um modelo de ligac¸˜oes fortes simplificado, envolvendo apenas um orbital atˆomico por s´ıtio para simular os orbitaispzque n˜ao participam das
ligac¸˜oes covalentes no plano. A estrutura de bandas obtidaE(kx, ky) est´a ilustrada na
figura 1.14 (a), em func¸˜ao dos vetores de ondakxekypertencentes `a primeira Zona de
Brillouin bi-dimensional do grafeno.
Figura 1.14: (a) Estutura de bandas [3]E(kx, ky) do Grafeno calculada em func¸˜ao
dos vetores de ondakxekypertencentes `a primera zona de Brillouin. (b) Detalhe da
estrutura de bandas na vizinhanc¸a dos pontos K e K’ da zona de Brillouin, salientando seu aspecto linear em ~k nas imediac¸˜oes desses pontos.
Cap´ıtulo 2
Modelo de ligac¸˜oes fortes e
estrutura de bandas do grafeno
2.1
Hamiltoniano de ligac¸˜oes fortes
O modelo de ligac¸˜oes fortes - Tight-binding - ´e ´util para descrever a estrutura eletrˆonica de sistemas met´alicos. Nele, as autofunc¸˜oes s˜ao expressas em uma base for-mada por func¸˜oes atˆomicas que s˜ao razoavelmente localizadas espacialmente. V´arios livros textos b´asicos de F´ısica da Materia Condensada discutem essa abordagem, por exemplo as referˆencias [2, 18, 22]
Para introduzir esse modelo vamos inicialmente considerar apenas dois ´atomos iso-lados. Eles est˜ao esquematicamante representados na figura 2.1 por dois poc¸os de po-tencial quadrado de larguraL. Supomos que o estado fundamental de cada poc¸o esteja ocupado por um el´etron, um com spin↑ e o outro com spin ↓.
As equac¸˜oes de autovalores para cada poc¸o, separadamente, s˜ao dadas por: ( ˆK + ˆV1)|1i = 0|1i (2.1)
Figura 2.1: Poc¸os de potencial representando dois ´atomos isolados
Aqui, o operador ˆK representa a energia cin´etica, e ˆV1 e ˆV2 s˜ao os respectivos
potenciais atˆomicos;|1i e |2i simbolizam os autoestados de cada ´atomo isolado. Ao juntarmos os dois poc¸os, temos o equivalente a um poc¸o de potencial de com-primento2L, com dois el´etrons de spins contr´arios (respeitando o princ´ıpio de exclus˜ao de Pauli).
Figura 2.2: Poc¸o de pontecial com comprimento2L
Os autoestados do novo sistema composto pelos dois ´atomos podem ser escritos em termos dos autoestados atˆomicos individuais|1i e |2i:
|ψi = a |1i + b |2i (2.3) Ondea e b representam, respectivamente, as projec¸˜oes de ψ sobre os estados|1i e |2i, supondo que hi|ji = δi,j.
´
E importante mencionar que o Hamiltoniano ˆH = ˆK + ˆV1+ ˆV2 que descreve
a estrutura eletrˆonica do sistema composto pelos dois poenciais n˜ao ´e diagonal nessa base. Seus elementos de matriz s˜ao dados por:
ˆ
H1,1 =h1| ˆH|1i = h1| ( ˆK + ˆV1)|1i + h1| ˆV2|1i = 0+ Vc (2.4)
ˆ
H2,2 =h2| ˆH|2i = h2| ( ˆK + ˆV2)|2i + h2| ˆV2|2i = 0+ Vc
ˆ
H1,2 =h1| ˆH|2i = h1| ( ˆK + ˆV1)|2i + h1| ˆV2|2i = 0 − t
ˆ
H2,2 =h2| ˆH|1i = h2| ( ˆK + ˆV1)|1i + h2| ˆV2|1i = 0 − t∗
O termoVc=h1| ˆV
1|1i = h2| ˆV2|2i, ´e denominado potencial cristalino, e o termo
t =− h1| ˆV2|2i ´e chamado de integral de transferˆencia eletrˆonica (hopping) entre os
dois s´ıtios.
A equac¸˜ao de autovalores ˆH|ψi = E |ψi pode ser escrita nessa base na seguinte forma matricial: 0+ Vc −t −t∗ 0+ Vc a b = E a b (2.5) Os autovalores e autovetores dessa equac¸˜ao s˜ao dados por:
E± = 0+ Vc± |t| (2.6)
|ψ±i =
1
2(|1i ± |2i) (2.7) onde|ψ+i e |ψ−i s˜ao denominados, respectivamente, estados ligante e anti-ligante.
Para um sistema envolvendo v´arios ions, o Hamiltoniano ´e dado por ˆ
H = pˆ
2
2m+ ˆU (2.8) onde,pˆ2/2m representa o termo de energia cin´etica e
ˆ U =X
i
ˆ
ui (2.9)
simboliza a soma dos potenciais iˆonicos centrados nos s´ıtiosi. Na representac¸˜ao de coordenadas,h~r| ˆui|~r0i = δ(~r − ~r0)u(~r− ~Ri), onde ~Ridenota a posic¸˜ao do s´ıtioi.
A equac¸˜ao de autovalores para o problema de um ´atomo isolado ´e dada por: ˆ p 2m+ ˆui |ii = i|ii , (2.10)
ondeie|ii simbolizam, respectivamente, as autoenergias e autoestados atˆomicos
as-sociados ao ´atomo localizado no s´ıtioi.
Os elementos de matriz de ˆH calculados na base das func¸˜oes atˆomicas centradas nos s´ıtiosi e j s˜ao:
hi| ˆH|ji = hi| ˆ p 2m+ ˆui+ X i6=j ˆ ui0 |ji =hi| pˆ 2m+ ˆui |ji + hi|X i6=j ˆ ui0|ji . (2.11)
Utilizando a equac¸˜ao 2.10 obtemos
hi| ˆH|ji = iδij+ tij (2.12)
ondetij =hi|P i06=i
ˆ
ui0|ji s˜ao as integrais de transferˆencia. O termo tii - denominado
de correc¸˜ao de campo cristalino - pode ser adicionado ai. Sendo assim, definindo
i= i+ tii, o hamiltoniano no modelo de ligac¸˜oes fortes pode ser escrito na seguinte
forma:
ˆ H =X
i,j
|ii hi| ˆH|ji hj| =X
i |ii ihi| + X i6=j |ii tijhj| (2.13)
2.2
Aplicac¸˜ao ao grafeno
Com base no modelo de ligac¸˜oes fortes, vamos determinar a estrutura de bandas eletrˆonica do grafeno seguindo os mesmos passos das notas do Prof. Mauro Santos Ferreira do Trinity College, Dublin. O grafeno ´e constitu´ıdo por uma ´unica camada de ´atomos de carbono dispostos em uma estrutura crsitalina formada por uma rede de Bravais triangular e uma base composta por dois ´atomos, como ilustra a figura 2.3.
Escolhemos os vetores da rede de Bravais triangular como sendo~a1 = aˆy e ~a2 =
a(√23x +ˆ 12y), onde a ´e o parˆametro de rede.ˆ
x
y
~a
1
~a
2
Figura 2.3: Estrutura cristalina do grafeno;~a1e~a2representam os vetores primitivos
da rede de Bravais triangular.
Os vetores da rede rec´ıproca s˜ao ~b1 = 2πa
h ˆ y−√xˆ 3 i e ~b2 = 2πa 2 √ 3xˆ . Eles definem a rede rec´ıproca do grafeno e a primeira zona de Brillouin como ilustrado na figura 2.4
x
y
~a
1
~a
2
~b
1~b
22⇡
a
p
3
4⇡
3a
Figura 2.4: Rede rec´ıproca do grafeno; ~b1e ~b2 representam os vetores primitivos da
rede rec´ıproca e a regia˜ao achureada delimita a primeira zona de Brillouin.
O hamiltoniano que descreve a estrutura eletrˆonica do grafeno no modelo de ligac¸˜oes fortes ´e dado por:
H =X
j
(|j•i t hj◦| + |j◦i t hj•|) +X
jj0
(|j•i t hj0◦| + |j0◦i t hj•|) (2.14) Aqui, consideramos somente um orbital (tipos) por ´atomo para simular o orbital pz
e levamos em conta integrais de transferˆenciat entre primeiros vizinhos apenas. Es-colhemos a origem de energias tal quei = 0. A c´elula de Wigner Seitz cont´em dois
´atoms de carbono, um preto e um branco, como ilustrado na figura 2.3. |j•i e |j0◦i representam, respectivamente, os autoestados atˆomicos centrados nos s´ıtios pretos (•) e brancos (◦). Quando o s´ıtio branco encontra-se na mesma c´elula primitiva do s´ıtio preto,j0= j, caso contr´ario, j0 6= j.
Tendo em vista que o sistema apresenta simetria de translac¸˜ao no plano da rede, contruimos os estados de Bloch
~k◦ E =√1 N X j0 ei~k· ~Rj0 ◦|j0◦i , (2.15) e ~k• E =√1 N X j ei~k· ~Rj•|j•i , (2.16)
ondeN representa o n´umero de c´elulas unit´arias. A representac¸˜ao do operador ˆH na base formada por
~k◦Ee
~k•E´e diagonal em ~k, como veremos a seguir. Expressamos |j0◦i = √1 N X ~ k e−i~k· ~Rj0 ◦ ~k◦ E , (2.17) e |j•i = √1 N X ~ k e−i~k· ~Rj• ~k• E . (2.18) Substituindo na equac¸˜ao 2.14 obtemos
ˆ H = 1 N P j P ~ k ~k0 e−i~k· ~Rj•e+i ~k0· ~Rj◦ ~k• E tD~k◦ + e −i~k· ~Rj◦e+i ~k0· ~Rj• ~k◦ E tD~k• +1 N P jj0 P ~k ~k0 e−i~k· ~Rj•e+i ~k0· ~Rj0 ◦ ~k• E tD ~k0◦ + e −i~k· ~Rj0 ◦e+i ~k0· ~Rj• ~k◦ E tD ~k0• (2.19) Entretanto, ~Rj◦= ~Rj•+a √ 3 3 x e ~ˆ Rj0◦= ~Rj•−a √ 3 6 xˆ± a 2y. Portanto, substituindoˆ
esses valores na equac¸˜ao (2.19) obtemos: ˆ H =P ~k eikxa √ 3 3 + 2 cos kya 2 e−ikx a√3 6 ~k•E tD~k◦ +e−ikxa √ 3 3 + 2 cos kya 2e ikxa √ 3 6 ~k◦ E tD~k• (2.20) Em forma matricial, a representac¸˜ao do operador ˆH nessa base ´e dada por:
ˆ H = 0 t(~k) [t(~k)]∗ 0 (2.21) onde t(~k) = teikxa √ 3 3 + 2 cos ky a 2 e−ikxa √ 3 6 . (2.22) Os autovalores de ˆH s˜ao E±(~k) =±|t(~k)| (2.23) portanto, E±(~k) =±t " 1 + 4cos2k y a 2 + 4cosky a 2 cos kx a√3 2 !#12 . (2.24) Eles descrevem a estrutura de bandas do grafeno no espac¸o rec´ıproco, e vale salietar que basta representa-la para valores do vetor de onda ~k varrendo a primeira zona de Brillouin, como ilustrado na figura 1.14, pois o sistema ´e peri´odico.
Os autoestados associados aos autovaloresE±(~k) satisfazem a equac¸˜ao ˆ H~k, ± E = E±(~k) ~k, ±E , (2.25) que em forma matricial ´e dada por
0 t(~k) [t(~k)]∗ 0 A1 A2 = E±(~k) A1 A2 . (2.26) A soluc¸˜ao ´e A1=±t(~k) |t(~k)|A2=±e iφA 2, (2.27)
ondeφ representa a fase de t(~k). A normalizc¸˜ao dos autoestados imp˜oe que A1 =
1/√2. Consequentemente, ~k, ±E = √1 2 ~k◦E ± eiφ~k• E (2.28) A representac¸˜ao do operador ˆH na base dos seus autoestados ´e dada por:
ˆ H =X ~ k X α=± ~k, α E Eα(~k)D~k, α . (2.29)
Cap´ıtulo 3
Func¸˜ao de Green
3.1
Introduc¸˜ao `a func¸˜oes de Green de uma part´ıcula
Func¸˜oes de Green podem ser utilizadas para resolver equac¸˜oes diferenciais n˜ao-homogˆeneas sujeitas a condic¸˜oes iniciais ou condic¸˜oes de contorno determinadas. Em particular, sistemas de part´ıculas independentes podem ser descritos pelas chamadas func¸˜oes de Green de uma part´ıcula, como veremos a seguir.
Considere, por exemplo, a seguinte equac¸˜ao n˜ao homogˆenea:
[z− h(r)]φ(r) = f(r) , (3.1) onde h(r) representa um operador hermitiano. A func¸˜ao de Green G ´e definida pela equac¸˜ao:
[z− h(r)]G(r, r0, z) = δ(r− r0) (3.2)
Os autoestados de h(r) s˜ao as func¸˜oes ψn(r), soluc¸˜oes da equac¸˜ao de autovalores
h(r)ψn(r) = εnψn(r). Como h(r) ´e hermitiano, o conjunto dos seus autoestados
ψn(r) ´e ortonormal e completo, ou seja ,
Z
X
n
ψ∗n(r)ψn(r0) = δ(r− r0) . (3.4)
Na notac¸˜ao de Dirac a func¸˜aoψn(r) =hr|ψni retrata o autoestado |ψni na representac¸˜ao
de coordenadas, pois|ri simboliza um autoestado do operador posic¸˜ao.
Conhecida a func¸˜ao de GreenG(r, r0, z), podemos resolver a equac¸˜ao original
mul-tiplicando a Eq.(2) porf (r0) e integrando em r0. Obtemos ent˜ao
Z [z− h(r)]G(r, r0, z)f (r0)d3r0 = Z d3r0δ(r− r0)f (r0) (3.5) e, consequentemente, [z− h(r)] Z G(r, r0, z)f (r0)d3r = f (r0) . (3.6) Comparando com a Eq.(1), vemos que:
ψ(r) = Z
G(r, r0, z)f (r0)d3r0. (3.7)
Isto ´e verdade paraz 6= εn, ondeεns˜ao autovalores de h(r). Quandoz = εn, a
soluc¸˜aoψ(r) ´e dada pela equac¸˜ao de Lippmann-Schwinger: ψ(r) = ψ0(r) +
Z
G(r, r0, z)f (r0)d3r0, (3.8)
ondeψ0(r) ´e a soluc¸˜ao da equac¸˜ao homogˆenea [z−h(r)]φ0(r) = 0, associada `a Eq.(1).
Utilizando as relac¸˜oes de completeza e ortogonalidade podemos reescrever a Eq. (2) na notac¸˜ao de Dirac da seguinte forma:
(z− ˆh) ˆG(z) = ˆ1 . (3.9) Portanto,
ˆ
G(z) = [z− ˆh]−1, (3.10)
´
E poss´ıvel expressar o operador ˆG na sua representac¸˜ao espectral utilizando-se o conjunto completo e ortogonal formado pelos autoestadosψnde ˆh, da seguinte forma:
G(r, r0, z) =X
n
ψn(r)ψn∗(r0)
z− εn.
(3.11) Como os autovaloresεndo hamiltoniano ˆh s˜ao reais, G(r, r0, z) ´e uma func¸˜ao anal´ıtica
no plano complexo, com p´olos emz = εn. Se o espectro dos autovalores for cont´ınuo,
ent˜ao existir´a um corte ao longo do eixo real. Escrevendo
z = E + iη (3.12) Constatamos que os limites
G+() = lim
η→0+G( + iη) e (3.13)
G−() = lim
η→0+G(− iη) (3.14)
existem, mas s˜ao diferentes. A Eq. (3.13) define a func¸˜ao de Green retardada e a Eq. (3.14) define a func¸˜ao de Green avanc¸ada, que usualmente tamb´em s˜ao denotadas por Gr(func¸˜ao de Green retardada) eGa(func¸˜ao de Green avanc¸ada), respectivamente.
3.2
Densidade de estados
Uma grandeza muito ´util para analisar propriedades eletrˆonicas em s´olidos ´e a den-sidade de estados. Ela representa o n´umero de autoestados do sistema por unidade de energia, e pode ser expressa por
ρ(ε) =X
n
δ(ε− εn) . (3.15)
Note queρ(ε) ´e um contador de estados eletrˆonicos pois aR ρ(ε0)dε0em um intervalo
εnnesse intervalo de energia. Portanto,
N (E) = Z E
−∞
ρ(ε)dε (3.16) representa o n´umero de autoestados eletrˆonicos com energia menor ou igual aE. Ana-logamente, definimos a densidade local de estados
ρ(r, ε) =X
n
δ(ε− εn)|ψn(r)|2. (3.17)
Note que apenas os autoestados|ψn(r)|2 6= 0 (ou seja, com probablidade n˜ao nula de
encontrar o el´etron na posic¸˜ao r) contribuem para a densidade de estados local. Como os autoestados s˜ao normalizados, ou seja,R d3r
|ψn(r)|2= 1, ´e imediato ver
que ρ(ε) = Z d3r ρ(r, ε) . (3.18) Utilizando a identidade lim η→0+ 1 x + iη = P 1 x ∓ iπδ(x) , (3.19) ondeP (x) representa o valor principal, podemos reescrever os termos diagonais das func¸˜oes de Green avanc¸ada e retardada na representac¸˜ao espectral dada pela Eq.(11), como: G±(r, r, ε) = lim η→0+ X n ψn(r)ψ∗n(r) ε± iη − εn. (3.20) Portanto, G±(r, r, ε) = P " X n |ψn(r)|2 ε− εn # ∓ iπX n δ(ε− εn)|ψn(r)|2 (3.21)
Sendo assim, a densidade de estados local ´e dada por:
As partes real e imagin´aria da func¸˜ao de Green n˜ao s˜ao independentes. Reescre-vendo a Eq. 3.21, podemos obter:
G(r, r, z) = Z d0X n δ(0− n) ψn(r)ψ∗n(r) z− 0 (3.23) = Z d0ρ(r, 0) z− 0 . (3.24)
Novamente utilizando a Eq. 3.19, obtemos: G±(r, r, ) = P " Z d0ρ(r, 0) − 0 # ∓ iπρ(r, ) , (3.25) que, com o aux´ılio da Eq. 3.17, fornece:
Re{G±(r, r, )} = ∓P π " Z ∞ −∞ Im{G±(r, r, 0)} − 0 d0 # . (3.26) Essa ´e a relac¸˜ao de Kramers-Kronig, que nos permite calcular a parte real da func¸˜ao de Green sabendo a parte imagin´aria em todo o espectro de energia.
3.3
Equac¸˜ao de Dyson
A equac¸˜ao de Dyson, na verdade, ´e uma identidade muito ´util que permite obter a func¸˜ao de Green de um sistema perturbado conhecendo-se a perturbac¸˜ao e func¸˜ao de Green associada ao sistema n˜ao perturbado.
Para deduzi-la, vamos supor que o sistema perturbado seja descrito por um hamil-toniano
ˆ
H = ˆH0+ ˆV , (3.27)
onde ˆH0descreve o sistema n˜ao perturbado e ˆV ´e operador associado `a perturbac¸˜ao.
As respectivas func¸˜oes de Green monoeletrˆonicas associadas a ˆH0e ˆH s˜ao dadas
por
ˆ
e
ˆ
G = [z− ˆH0− ˆV ]−1. (3.29)
Note que a Eq.(25) pode ser reescrita na forma: ˆ
G = [ˆg−1− ˆV ]−1⇒ [ˆg−1− ˆV ] ˆG = ˆ1 . (3.30) Multiplicando ambos os lados dessa equac¸˜ao pela esquerda porg obtemosˆ
[1− ˆg ˆV ] ˆG = ˆg (3.31) e, finalmente,
ˆ
G = ˆg + ˆg ˆV ˆG (3.32) que ´e equac¸˜ao de Dyson.
Iterando essa equac¸˜ao podemos representa-la pela s´erie ˆ
G = ˆg + ˆg ˆV ˆg + ˆg ˆV ˆg ˆV ˆg + ... , (3.33) que pode ser recoletada na forma
ˆ
G = ˆg + ˆg ˆT ˆg , (3.34) onde o operador ˆT ´e dado por
ˆ
T = ˆV (ˆ1− ˆg ˆV )−1 (3.35) Em termos das representac¸˜oes dos operadores, a func¸˜ao de Green pode ser reescrita na forma: Gij = gij+ X m,n gimVmnGnj, (3.36) ou,
Gij= gij+
X
m,n
gimTmngnj, (3.37)
3.4
M´etodo recursivo baseado na equac¸˜ao de Dyson
Baseado no modelo de ligac¸˜oes fortes ´e poss´ıvel desenvolver um m´etodo recursivo para obter as func¸˜oes de Green monoeletrˆonicas de sistemas compostos por muitos ´atomos utilizando-se a equac¸˜ao de Dyson descrita na sec¸˜ao anterior. Por simplicidade apresentaremos o m´etodo para cadeias lineares de ´atomos, considerando apenas um orbital atˆomico por s´ıtio. ´E importante frisar que este m´etodo pode ser facilmente generalizado para tratar sistemas mais complexos, como multicamdas e aglomerados atˆomicos, empregando-se modelos multi-orbitais mais sofisticados.
O m´etodo consiste na adic¸˜ao de ´atomos para formar a cadeia iterativamente, da seguinte forma: inicialmente consideramos que temos 2 ´atomos isolados, os quais cha-maremos de 0 e 1, como ilustrado na Fig.3.1 (I). As func¸˜oes de Green dos ´atomos isolados s˜aog00= g11= (z− 0)−1, onde0´e a energia atˆomica.
Figura 3.1: I) Dois ´atomos isolados II) D´ımero
essa conex˜ao ´e feita atrav´es de um potencial dado por: ˆ
V =|0it01h1| + |1it10h0| , (3.38)
ondet ´e a integral de transferˆencia entre os ´atomos, conforme ilustrado na Fig.3.1 (II). Utilizando a equac¸˜ao de Dyson, podemos calcular todos os elementos da func¸˜ao de Green do d´ımero atrav´es de um sistema fechado de equac¸˜oes:
G00 = g00+ g00t01G10 , (3.39)
G10 = g11t10G00 , (3.40)
G11 = g11+ g11t10G01 , (3.41)
G01 = g00t01G11 . (3.42)
Conhecendo as func¸˜oes de Green do d´ımero, podemos adicionar um terceiro ´atomo, cuja func¸˜ao de Green isolada ´eg22= (z− 0)−1. A conex˜ao do ´atomo2 ao d´ımero ´e
feita da mesma forma, atrav´es de um potencial similar `a Eq. 3.38, por´em envolvendo as integrais de transferˆenciat12et21. As func¸˜oes de Green do sistema composto pelos
trˆes ´atomos podem ser calculadas novamente usando a equac¸˜ao de Dyson.
De maneira geral, o m´etodo consiste em supor conhecida as func¸˜oes de Green associadas `a uma cadeia comN ´atomos e do ´atomo isolado. Utilizando a Eq. 3.36, podemos calcular as func¸˜oes de Green para a cadeia comN + 1 ´atomos.
Como exemplo deste m´etodo, vamos obter a func¸˜ao de Green de superf´ıcieS de uma cadeia homogˆenea semi-infinita onde a estrutura eletrˆonica ´e descrita pelo modelo de ligac¸˜oes fortes. Se o sistema ´e semi-infinito, a adic¸˜ao de um ´atomo na ponta da cadeia n˜ao deve alterar a func¸˜ao de Green de superf´ıcie, ou seja:
lim
N→∞gN N = GN +1N +1 . (3.43)
Figura 3.2: Um ´atomo livre sendo adicionado `a uma cadeia de N ´atomos. Conectamos o ´atomo isoladoN + 1 `a cadeia atrav´es do potencial:
ˆ
V =|NitN N +1hN + 1| + |N + 1itN +1NhN| . (3.44)
Obtemos, usando a Eq. 3.36:
GN +1N +1 = gN +1N +1+ gN +1N +1tN +1NGN N +1 , e (3.45)
GN N +1 = gN NtN N +1GN +1N +1 , (3.46)
ondegN +1N +1= (z− 0)−1 ´e a func¸˜ao de Green do ´atomo isoladoN + 1 e gN N ´e a
func¸˜ao de Green da ponta da cadeia semi-infinita. Impondo queGN N = GN +1N +1 =
S, obtemos a func¸˜ao de Green de superf´ıcie como soluc¸˜ao da equac¸˜ao:
S = gN +1N +1+ gN +1N +1tN +1NStN N +1S . (3.47)
Considerando quetN +1N = t ∀N e que tN N +1= t†, temos:
S =(z− 0)±p(z − 0)
2− 4|t|2
2|t|2 , (3.48)
onde a escolha do sinal± ´e feita de modo que a densidade de estados ρ = −π1Im{S} seja sempre positiva.
Uma vez obtido o propagador monoeletrˆonico associado `a ponta da cadeia semi-infinita, ´e poss´ıvel obter todos os outros propagadores dessa cadeia em termos deS [6]. Considere, por exemplo, que um ´atomo (1) seja adicionado `a ponta de uma cadeia semi-infinita, como ilustrado na figura 3.3. Aqui, para simplificar a notac¸˜ao, renumeramos os ´atomos da cadeia semi-infinita de modo que o ´atomo da ponta seja sempre o ´atomo (1).
2 3 4
1 5
t t t t
Figura 3.3: Cadeia unidimensional semi-infinita. A linha tracejada representa a ligac¸˜ao de mais um ´atomo isolado (1) `a cadeia.
Utilizando a equac¸˜ao de Dyson 3.36 obtemos que,∀m > 1,
Gm,1= gm,2t2,1G1,1, (3.49)
sabendo queG1,1 = S. Como a cadeia formada pelos ´atomos rotulados de 2, 3, ..∞
tamb´em ´e semi-infinita, temos quegm,2= Gm−1,1e, portanto,
Gm,1= Gm−1,1t†G1,1. (3.50)
Repetindo o mesmo procedimento paraGm−1,1, podemos escrever
Gm,1= Gm−2,1t†G1,1t†G1,1, (3.51)
e assim por diante, de modo que
Gm,1= G1,1 t†G1,1
m−1
(3.52) ComoG1,1= S, temos que
Gm,1= S(t†S)m−1. (3.53)
Um procedimento an´alogo pode ser feito para calcularG1,m. Reutilizando a equqc¸˜ao
de Dyson 3.36 obtemos que,∀m ≥ 1,
G1,m= g1,1t1,2G2,m. (3.54)
Por outro lado,
Juntando as equac¸˜oes (3.54) e (3.55), obtemos: G1,m= 1− g1,1tg2,2t†−1g1,1 | {z } G1,1 t G1,m−1 z}|{ g2,m (3.56)
Sendo assim,G1,m= G1,1tG1,m−1e, de forma similar ao caso anterior, encontramos
que
G1,m= G1,1(tG1,1)m−1= S(tS)m−1. (3.57)
A obtenc¸˜ao dos propagadoresGm,npara valores arbitr´arios dem e n tamb´em pode
ser feita por um procedimento similar aos antereriores. Inicialmente, vamos supor que m≤ n. Utilizando a equac¸˜ao 3.36 temos que
Gm,n= gm,n | {z } Gm−1,n−1 + Gm−1,1 z}|{ gm,2 t†G1,n (3.58)
Equac¸˜oes semelhantes podem ser obtidas para o propagador Gm−1,n−1. Como
m≤ n, podemos iterar a equac¸˜ao 3.58 m − 1 vezes e obter: Gm,n= G1,n−m+1+
m−1
X
j=1
Gm−j,1t†G1,n−j+1 (3.59)
G1,`eG`,1podem ser obtidos respectivamente pelas equac¸˜oes 3.57 e 3.53. Portanto,
Gm,n= S(tS)n−m 1 + m−1 X j=1 (t†S)m−j(tS)m−j , (3.60) ou, alternativamente, escrever:
Gm,n= S(tS)m−n1 + (t†S)(tS) + ...(t†S)n−1(tS)n−1 (3.61)
Param≥ n ´e poss´ıvel deduzir express˜oes an´alogas [7] Gm,n= S(t†S)m−n[1 +
n−1
X
j=1
Figura 3.4: Densidades de estados locais calculadas em func¸˜ao da energia para diversos ´atomos de uma cadeia linear semi-infinita. Linha preta - ´atomo (1) situado na ponta da cadeia. Linhas vermelha, verde, azul e amarela, representam, respectivamente, os resultados para os ´atomos (2) - (5) mais pr´oximos da ponta como ilustrado na figura 3.3
Em particula, o elemento diagonal ´e dado por: Gm,m= S +
m−1
X
j=1
S(t2,1S)m−j(t1,2S)m−j . (3.63)
Para exemplificar, calculamos num´ericamente a densidade de estados local, em func¸˜ao da energia, para v´arios ´atomos de uma cadeia linear semi-infinita, usando as ex-press˜oes que foram deduzidas nessa sec¸˜ao. A estrutura eletrˆonica da cadeia ´e descrita por um hamiltoniano de ligac¸˜oes fortes, considerando apenas um orbital por s´ıtio e in-tegrla de transferˆencia somente entre ´atomos primeiros vizinhos. Escolhemos a origem de energias em = 0 e a unidade de energia de modo que|t| = 1.
Os resultados est˜ao mostrados na figura 3.4. A linha preta representa o resultado para o ´atomo (1) situado na ponta da cadeia. As linhas vermelha, verde, azul e
ama-ilustrados na figura 3.3. 2 3 4 1 5 t t t t t -1 -3 -2 -4 t t t 1 2 3 4 t t t
Figura 3.5: Cadeia unidimensional infinita. A linha tracejada representa a ligac¸˜ao entre duas cadeias semi-infinitas, formando a cadeia infinita.
A medida em que nos afatsamos da ponta da cadeia a densidade de estados local aproxima-se da densidade de estados de uma cadeia infinita. Isso pode ser apreciado na figura 3.6.
Figura 3.6: Densidades de estado locais calculadas para alguns ´atomos de uma cadeia linear semi-infinita em func¸˜ao da energia. Curva preta: ´atomo no infinitamente afastdo da borda da cadeia; curva cinza: ´atomo na ponta da cadeia; curva vermelha: ´atomo distando104s´ıtios da borda da cadeia. Nesses c´alculos a origem de energia ´e escolhida
em0= 0, e a energia E ´e medida em unidades de t(t = 1).
Para calcular a densidade de estados da cadeia infinita, utilizamos a equac¸˜ao de Dyson 3.36 para conectar duas cadeias semi-infinitas, como ilustrado na figura 3.5. O resultado ´e
As oscilac¸˜oes que aparecem nas densidades de estado locais claramente aumentam com a distˆancia do ´atomo `a ponta da cadeia. Elas s˜ao causadas por interferˆencias quˆanticas devido ao confinamento criado pela existˆencia da ponta da cadeia.
3.4.1
Problema de uma impureza substitucional em um hospedeiro
met´alico
Vamos investigar agora os efeitos causados por uma ´unica impureza substitucio-nal em um hospedeiro met´alico homogˆeneo. Considere que a estrutura eletrˆonica do hospedeiro seja descrita pelo hamiltoniano mono-eletrˆonico dado por:
ˆ h0=X
k
εk|kihk| , (3.65)
e que a impureza esteja localizada no s´ıtio0. O potencial efetivo perturbador nesse s´ıtio ´e representado pelo operadorˆv. Sendo assim, podemos escrever o hailmotniano do sistema na forma:
ˆ
h = ˆh0+ ˆv . (3.66)
Note queˆv descreve a alterac¸˜ao apenas do potencial devido `a impureza.
Usando a equac¸˜ao de Dyson, podemos escrever a func¸˜ao de Green projetada no s´ıtio da impureza como
G00= g00+
X
m,n
g0mvmnGn0 (3.67)
Em sistemas met´alicos a blindagem em geral ´e relativamente bastante efetiva e, com boa aproximac¸˜ao, podemos supor que toda a perturbac¸˜ao causada pela impureza fique restrita ao s´ıtio que ela ocupa. Nesse caso,
vmn= v0δm0δn0. (3.68)
Sendo assim. temos que:
Escrevendog00= f0+ig0, ondef0= Re g00eg0= Im g00, obtemos, finalmente,
que
Im G00= g 0
(1− vf0)2+ (g0v)2 (3.70)
Note queG00depende da energia, poisg0= g0(E) e f0= f0(E)) e, como vimos
anteriormente,g0ef0est˜ao relacionados pela relac¸˜ao de Kramers-Kronig
f0(ε) =− 1π P Z ∞ −∞ dε0g 0(ε0) ε− ε0 (3.71)
Para que possamos progredir na nossa an´alise iremos considerar um modelo bem simples onde a densidade de estados local no hospedeiro n˜ao perturbado tenha um formato semi-circular. Nesse caso,f0eg0assumem os perfis que est˜ao representadas
esquematicament na Fig. 3.7. �������� -2 -1 1 2 -1.0 -0.5 0.5 1.0 1/V1 1/V2 g0 f0
Figura 3.7: Partes real (f0) e imagin´aria (g0) da func¸˜ao de Green do hospedeiro no
mo-delo em que a densidade de estados ´e semi-circular. As retas tracejada correspondem a dois valores distintos dev0:v0= V1ev0= V2.
A Eq. 3.70 nos permite concluir que Im G00 = 0 sempre que g0 = 0, exceto
quando(1− vf0) tamb´em for nulo. Nesse caso temos uma indeterminac¸˜ao, e o
re-sultado pode ser diferente de zero. Graficamente, vemos que a soluc¸˜ao da equac¸˜ao (1− vf0) = 0 ´e obtida quando a reta horizontal 1/v intercepta a curva f0(ε). Na
acon-tece em dois valores de energia, como ilustra a figura no caso em quev0 = V2 > 0.
Uma intercec¸˜ao ocorre dentro do semi-circulo, na regi˜ao ondeg0(ε) 6= 0 e a outra
encontra-se abaixo do fundo da banda semi-circular. A intercec¸˜ao que ocorre dentro do semi-c´ırculo d´a origem a pico emIm G00(ε) que tem a forma de uma Lorentziana
centrada nessa energia. A segunda expressa o aparecimento de um estado ligado que se separa do fundo da banda. Correspondendo a um pico relativamente alto e com uma largura de linha muito estreita na func¸˜ao espectral. Parav0 = V2< 0 temos um
com-portamento semelhante, por´em, a separac¸˜ao do estado ligado ocorre no topo da banda. Esses estados s˜ao conhecidos como estados ligados virtuais de Friedel, que previu o aparecimento deles dessa forma.
3.5
Regra de soma de Friedel
A regra de soma de Friedel nos permite determinar, com certas aproximac¸˜oes, o valor dev0, mediante a imposic¸˜ao de neutralidade global de carga. Em outras palvaras,
estabelecemos em sua deduc¸˜ao que a carga el´etrica total do sistema ´e conservada ao introduzirmos a impureza no hospedeiro.
No nosso modelo com apenas um orbital atˆomico por s´ıtio, a dendidade local de estadosρ(ε) e o n´umero de particulas N (ε) relacionam-se com a func¸˜ao de Green do sistema de acordo com as equac¸˜oes
ρ(ε) =−1 πIm G(ε) , (3.72) e N (E) = Z E −∞ ρ(ε)dε =−π1 Im Z E −∞ G(ε)dε . (3.73) A variac¸˜ao da func¸˜ao de Green devido `a introduc¸˜ao da impureza (em relac¸˜ao ao sistema n˜ao perturbado) pode ser calculada com o aux´ılio das equac¸˜oes (3.34) e (3.35), escrevendo
ˆ
Utilizando a representac¸˜ao dos operadores na base das func¸˜oes atˆomicas e empre-gando a Eq.(3.37) obtemos que
∆Gii=
X
m,n
gimTmngni. (3.75)
Somando a contribuic¸˜ao de todos os s´ıtios temos que X i ∆Gii = X i X m,n gimTmngni. (3.76)
Com uma notac¸˜ao mais compacta, onde o trac¸o de um operador ´e dado pela soma dos seus elementos diagonais representados nessa base, podemos reescrever essa equac¸˜ao na forma Tr∆ ˆG=X i ∆Gii= Tr ˆ g ˆT ˆg. (3.77) Utilizando a propriedade c´ıclica do trac¸o e a identidadeˆg2(ε) =
−dˆg/dε temos que Tr (∆G) =− Tr dˆg dεTˆ =− Tr dˆg dεv ˆ1ˆ − ˆgˆv −1 (3.78) Como o potencialv n˜ao depende da energia, obtemos:
Tr (∆G) = d
dε Tr ln ˆ1− ˆgˆv . (3.79) A variac¸˜ao no n´umero total de part´ıculas (totalizando a contribuic¸˜ao de todos os s´ıtios) ´e dada por
∆N (E) =−1 πIm Tr
Z E
−∞
∆G(ε)dε . (3.80) Substituindo a Eq. (3.79) na Eq.(3.80), e sabendo-se que a dendidade de estados ´e uma func¸˜ao limitada inferiormente no espectro de energia, constatamos que
∆N (E) =−1
πIm Tr (ln (1− ˆg(E)ˆv)) . (3.81) Essa express˜ao ´e conhecida como a f´ormula de Loyde, sendo frequentemente
empre-gada para auxiliar a an´alise de propriedades eletrˆonicas de metais e ligas met´alicas. Suponhamos agora que a perturbac¸˜ao seja estritamente local e restrinja-se apenas ao s´ıtio da impureza, como explicitado na Eq. (3.68). Exprimindo o loga´ır´ıtimo na Eq.(3.81) como uma s´erie
ln(1− ˆgˆv) = ˆgˆv −1 2(ˆgˆv)
2
− ... , (3.82) ´e relativamente simples mostrar, nesse caso, que
Tr ln ˆ1− ˆgˆv = ln(1 − g00v0) . (3.83)
Introduzindo esse resultado na f´ormula de Loyde, dada pela Eq.(3.81), encontramos que ∆N (E) =−1 πarctan g0v 0 1− f0v 0 . (3.84) Ao substituir um ´atomo do hospedeiro com n´umero atˆomicozhpor uma impureza
com n´umero atˆomicozi, a variac¸˜ao no n´umero de part´ıculas ´e dada porδz = zi− zh,
que deve igualada ao∆N para garantir a neutralidade global de carga. Portanto, δz = 1 πarctan g0v 0 1− f0v 0 (3.85) Essa ´e a regra de soma de Friedel, que permite obter o valor dev0, mediante o
Cap´ıtulo 4
Grafeno e nanofitas
A representac¸˜ao do operador ˆH que descreve a estrutura eletrˆonica do grafeno na base dos seus autoestados ´e dada por:
ˆ H =X ~ k X α=± ~k, α E Eα(~k)D~k, α , (4.1) onde os autovalores Eα(~k) e autoestados
~k, α
E
de ˆH s˜ao dados, respectivamente, pelas Eqs. 2.24 e 2.28.
A representac¸˜ao espectral do propagador monoeletrˆonico ˆG = [z− ˆH]−1na base
dos autoestados de ˆH ´e: ˆ G = lim η→0 X ~ k X α=± |~k, αih~k, α| + iη− Eα(~k) . (4.2) Por simplicidade, o limiteη→ 0 ser´a omitido nas express˜oes seguintes, mas a func¸˜ao de Green retardada ˆG() deve ser sempre vista como limη→0G( + iη).ˆ
Para simplificar a notac¸˜ao, daqui em diante, os ´atomos (•) e (◦) ser˜ao especificados, respectivamente, pors = 1, 2, e as suas posic¸˜oes por ~R e ~R0. Os elementos de matriz
dos propagadores monoeletrˆonicos entre s´ıtios da rede, no espac¸o real, s˜ao dados por h ~R, s| ˆG| ~R0, s0i =X ~ k X α=± h ~R, s|~k, αih~k, α| ~R0, s0i − Eα(~k) . (4.3) A relac¸˜ao de dispers˜ao ´e dada pela Eq. 2.24, e fazendo uso da Eq. 2.28 temos que
h ~R, 1|~k, ±i =√1 2Ne i~k· ~R, h ~R, 2|~k, ±i = ± √1 2Ne i~k· ~R+iφ, (4.4) ondeeiφ = t(~k)
|t(~k)|, et(k) ´e dado pela Eq. 2.22.
Substituindo as Eqs. 4.4 e 2.23 na Eq. 4.3 obtemos que • Ses = s0: h ~R, s| ˆG| ~R0, si = 1 2N X ~ k ( ei~k·(R− ~~ R0) − |t(~k)| + ei~k·(R− ~~ R0) +|t(~k)| ) =1 N X ~k ei~k·(R~− ~R0) 2− |t(~k)|2 . (4.5) • Ses = 1 e s0 = 2: h ~R, 1| ˆG| ~R0, 2i = 1 2N X ~k ( ei~k·(R− ~~ R0)e−iφ − |t(~k)| − ei~k·(R− ~~ R0)e−iφ +|t(~k)| ) =1 N X ~ k ei~k·(R~− ~R0) 2− |t(~k)|2t ∗(~k) . (4.6) • Ses = 2 e s0 = 1: h ~R, 2| ˆG| ~R0, 1i =2N1 X ~ k ( ei~k·(R− ~~ R0)eiφ − |t(~k)| − ei~k·(R− ~~ R0)eiφ +|t(~k)| ) =1 N X ~k ei~k·(R~− ~R0) 2− |t(~k)|2t(~k) , (4.7)
Os resultados podem ser sumarizados na forma: h ~R, s| ˆG| ~R0, s0i = N1 X ~k ei~k·(R− ~~ R0) 2− |t(~k)|2 , s = s0 t∗(~k) , s = 1 e s0 = 2 t(~k) , s = 2 e s0 = 1 . (4.8) Essas express˜oes envolvem uma soma sobre vetores de onda ~k = kxx+kˆ yy no dom´ınioˆ
da primeira zona de Brillouin bidimensional do grafeno [10, 15]demonstraram que a Eq. (4.8) pode ser simplificada, realizando uma das integrais em k analiticamente. Eles obtiveram um a equac¸˜ao para os propagadores monoeletrˆonicos que ´e bastante ´util do ponto de vista num´erico, envolvendo uma integral unidimensional numa das compo-nentes de k apenas. Al´em disso, para propagadores monoeletrˆonicos fora da diagonal, envolvendo s´ıtios dispostos ao longo de direc¸˜oes de alta simetria da rede, eles veri-ficaram que essa ´unica integral pode ser aproximada, com muita precis˜ao, por uma express˜ao alg´ebrica. Os mesmos autores obtiveram express˜oes anal´ıticas para nanofi-tas de carbono com bordas armchair, como veremos a seguir.
4.1
Nanofitas infinitas de grafeno com borda armchair
´
E poss´ıvel produzir tiras ultra-finas de grafeno (com larguras nanosc´opicas) de v´arias formas [4, 5, 9, 23]. As propriedades eletrˆonicas dessas nanofitas dependem de caracter´ısticas das suas bordas e da largura da fita. A figura 4.1 ilustra dois exemplos: uma fita com bordas zigzag de larguraLze uma fita com bordas armchair de largura
La. Nanofitas de grafeno com bordas zigzag s˜ao sempre met´alicas, por´em as que tˆem
bordas armchair podem ser met´alicas ou semicondutoras, dependendo da largura da fita.
O estudo das propriedades de transporte dessas nanofitas requer que elas sejam conectados a condutores que tˆem a finalidade de injetar e coletar a corrente el´etrica que passa pela fita. A condutˆancia da fita pode ser expressa em termos dos propagadores monoeletrˆonicos que descrevem suas propriedades eletrˆonicas, e nosso objetivo aqui
Grafeno
Nanofita armchair La
Nanofita zigzag Lz
Figura 4.1: Nanofitas de grafeno com bordas zigzag e armchair
´e obter express˜oes anal´ıticas para esses propagadores para o caso das fitas de grafeno com bordas armchair. O formalismo a ser desenvolvido segue os mesmos passos das referˆencias [7] e [19].
4.2
Fitas com bordas armchair: express˜oes anal´ıticas
Para simplificar as express˜oes envolvidas ´e ´util trabalhar com os seguintes vetores primitivos da rede de Bravais triangular do grafeno
~a1= √ 3a 2 x +ˆ a 2y ,ˆ ~a2= √ 3a 2 xˆ− a 2y .ˆ (4.9) Os vetores da rede rec´ıproca, associados a esses vetores~a1e~a2, definidos pela relac¸˜ao
~ai·~bj= 2πδij, s˜ao: ~b1= 2π √ 3ax +ˆ 2π a y ,ˆ ~b2=√2π 3axˆ− 2π a y .ˆ (4.10) Eles est˜ao ilustrados na Fig. 4.2.
x
y
~a
1
~a
2
~b
1~b
22⇡
a
p
3
4⇡
3a
Figura 4.2: Estrutura cristalina do grafeno;~a1e~a2representam os vetores primitivos
Com essa escolha, a express˜ao parat(~k) toma a seguinte forma: t(~k) = t1 + ei~k·~a1+ ei~k·~a2
. (4.11) Os autoestados de ˆH, s˜ao dados por E±(~k) =±|t(~k)|, onde
|t(~k)| = th3 + 2 cos ~k· ~a1+ 2 cos ~k· ~a2+ 2 cos ~k· (~a1− ~a2)
i1/2 . (4.12) Aqui, ~k · ~a1= √ 3kxa 2 + kya 2 ~k · ~a2= √ 3kxa 2 − kya 2 . (4.13) Sendo assim, a Eq. 4.8 pode ser reescrita na seguinte forma:
h ~R, s| ˆG| ~R0, s0i = N1 X ~k ei~k·(R− ~~ R0) 2− |t(~k)|2 × , s = s0 t 1 + ei √ 3kxa 2 + ky a 2 ∆s + ei √ 3kxa 2 − ky a 2 ∆s , s6= s0 , (4.14) onde∆s = s− s0= 0,±1.
Para o grafeno podemos transformar a soma em ~k em uma integral bidimensional na primeira zona de Brillouin. Entretanto, para facilitar a integrac¸˜ao, definimos uma zona retangular equivalente de larguraW e comprimento L, como ilustra a Fig. 4.3. Efetuando a transformac¸˜ao de vari´aveis
kA= √ 3kxa 2 kZ =kya 2 , (4.15)
L =
2⇡
a
W =
4⇡
a
p
3
Figura 4.3: A nova c´elula unit´aria no espac¸o rec´ıproco ´e obitda transformado a primeira zona de Brilloouin em uma c´elula equivalente, retangular, de larguraW = 4π/(a√3) e comprimentoL = 2π/a. Com essa escolha os limites de integrac¸˜ao em kxeky, s˜ao
dados, respectivamente, porkx∈ [−W/2, W/2] e ky ∈ [−L/2, L/2].
obtemos: t(~k) =t1 + eikA eikZ+ e−ikZ =t1 + 2eikAcos(k Z) , (4.16) e
|t(kA, kZ)| = tp1 + 4 cos2(kZ) + 4 cos (kA) cos (kZ) . (4.17)
Escrevendo ~R = l~a1+ j~a2e ~R0= l0~a1+ j0~a2, a Eq. 4.14 adquire a seguinte forma:
hl, j, s| ˆG|l0, j0, s0i = 1 2π2 Z π2 −π 2 dkZ Z π −π dkA ei[kA(∆l+∆j)+kZ(∆l−∆j)] 2− |t(k A, kZ)|2 × , s = s0 t1 + eikA∆s eikZ∆s+ e−ikZ∆s , s6= s0 , (4.18) onde∆l = l− l0e∆j = j− j0.
A determinac¸˜ao desses propagadores envolve o c´alculo de integrais do tipo: I(D) = 1 2π Z π −π dke ikD f (k), (4.19)
ondef (k) ´e uma func¸˜ao par e peri´odica, com per´ıodo 2π, dada por:
f (kA, kZ) = 2− t21 + 4 cos(kA) cos(kZ) + 4 cos2(kZ) . (4.20)
Elas podem ser efetuadas utilizando o m´etodo dos res´ıduos, como est´a descrito deta-lhadamente no Apˆendice A.
Para o caso das fitas de grafeno com bordas armchair, as condic¸˜oes de contorno abertas, que delimitam o tamanho finito da tira na direc¸˜aoy, imp˜oem quantizac¸˜ao daˆ componentekZ do vetor de onda bidimensional. Como veremos a seguir, isso permite
a obtenc¸˜ao de express˜oes anal´ıticas os progadores monoeletrˆonicos desse sistema. Com essa escolha de vetores de base podemos escrever os autoestados do grafeno, dados pela Eq. 2.28 na forma:
|kA, kZ,±i = 1 p2NxNy X r ei[(l+j)kA+(l−j)kZ] | ~R, 1i ± eiφ| ~R, 2i , (4.21) onde Nx e Ny representam, respectivamente, os n´umeros de c´elulas unit´arias nas
direc¸˜oesx e ˆˆ y. Esses estados s˜ao autoestados de ˆH com autovalores E± =±|t(kA, kZ)|
ondet(kA, kZ) ´e dado pela Eq. 4.16. Fazendo uso das Eqs. 4.16 e 4.17, obtemos a fase
φ com a equac¸˜ao: eiφ(kA,kZ)= 1 + 2e ikAcos k Z p1 + 4 cos2(k Z) + 4 cos (kA) cos (kZ) . (4.22) N˜ao ´e dificil mostrar que
|kA,−kZ,±i = 1 p2NxNy X ~ R ei[kA(l+j)−kZ(l−j)] |~r, 1i ± eiφ| ~R, 2i , (4.23) e |−kA, kZ,±i = 1 p2NxNy X ~ R ei[−kA(l+j)+kZ(l−j)]| ~R, 1i ± e−iφ| ~R, 2i (4.24)
qualquer combinac¸˜ao linear desses autoestados.
Para impor as condic˜oes de contorno que delimitam a largura finita da tira de gra-feno com borbas armchair, iremos construir combinac¸˜oes lineares desses autoestados que estabelec¸am que a densidade de estados local seja nula nas “bordas” da tira, como representado pelas linhas verdes na Fig. 4.4.
Figura 4.4: Nanofita de grafeno comborda armchair. As posic¸˜oes dos s´ıtios da rede podem ser expressas em termos de ~R = l~a1+ j~a2, a partir da origemO. A largura
finita da tira na direc¸˜aoy, ´e determinada impondo a condic¸˜ao de que a densidade deˆ estados local seja nula nos s´ıtios das linhas verdes. A linha inferior ´e determinada por l = j, e a superior por l = N + i e j =−N + i.
Considere a seguinte combinac¸˜ao dos esdados: |Ψ (kA, kZ) ,±i =√1 2{|kA, kZ,±i − |kA,−kZ,±i} = 1 p4NxNy X ~ R eikA(l+j) h eikZ(l−j)− e−ikZ(l−j) i | ~R, 1i ± eiφ | ~R, 2i = i pNxNy X ~ R eikA(l+j)sin [k Z(l− j)] | ~R, 1i ± eiφ | ~R, 2i . (4.25)
Os estados|Ψ (kA, kZ) ,±i s˜ao formados por uma combinac¸˜ao linear dos
autoes-tados do grafeno e eles tˆem, claramente, amplitude nula em todos os s´ıtios da linha verde inferior, ilustrada na Fig. 4.4, que corresponde aj = l e s = 1, 2.
As projec¸˜oes desses estados nos s´ıtios da rede s˜ao dadas por: D ~R, 1|Ψ (kA, kZ) ,±E = i pNxNy eikA(l+j)sin [k Z(l− j)] , (4.26a) D ~R, 2|Ψ (kA, kZ) ,±E =± i pNxNy eikA(l+j)eiφsin [k Z(l− j)] . (4.26b)
Para obter uma nanofita com bordas armchair, desejamos que a densidade de pro-babilidade seja nula, tamb´em, na linha verde superior ilustrada na Fig. 4.4. Ou seja, a projec¸˜ao desses estados nos s´ıtios da rede deve ser nula tamb´em paral = N + i, j =−N + i e s = 1, 2. A condic¸˜ao de contorno que garante isso ´e dada por:
sin [kZ(N + i + N− i)] = sin [2kZN ] = 0 , (4.27)
ou
kZ =
πn
2N , n = 1, 2,· · · , N . (4.28) Definimos ent˜ao os autoestados:
|Ψn(kA) ,±i = Ψ kA, kZ = πn 2N ,±E , (4.29) onden = 1, 2,· · · , N.
Os propagadores monoeletrˆonicos s˜ao dados por: h ~R, s| ˆG| ~R0, s0i =Nx 2π N X n=1 X α=± Z π −π dkAh ~ R, s|Ψn(kA) , αi hΨn(kA) , α| ~R0, s0i − En(kA, α) . (4.30) ondeEn(kA,±) = ±|tn(kA)| e, utilizando a Eq. 4.16,
tn(kA) = t h 1 + 2eikAcos πn 2N i . (4.31)
As projec¸˜oes que precisamos para calcular os propagadores s˜ao: • Paras = s0: D ~R, s|Ψn(kA) ,±E hΨn(kA),±| ~R0, si = 1 N Nxe ikA(∆l+∆j)sinhπn 2N(l− j) i sinhπn 2N(l 0− j0)i . (4.32) • Paras6= s0 h ~R, s|Ψn(kA),±ihΨn(kA),±| ~R0, s0i = ± 1 N Nx eikA(∆l+∆j)eiφ∆ssin hπn 2N(l− j) i sinhπn 2N(l 0− j0)i . (4.33) Sendo assim, obtemos que:
• Paras = s0, hl, j, s| ˆG|l0, j0, si =2 N N X n=1 sinhπn 2N(l− j) i sinhπn 2N(l 0− j0)iI n(∆l + ∆j) , (4.34) ondeIn(∆l + ∆j) ´e uma integral do mesmo tipo da que foi efetuada
anailica-mente no Apˆendice A. • Paras6= s0, hl, j, s| ˆG|l0, j0, s0i =2t N N X n=1 sinhπn 2N(l− j) i sinhπn 2N(l 0− j0)i ×hIn(∆l + ∆j) + 2In(∆l + ∆j + ∆s) cos πn 2N i . (4.35) Na deduc¸˜ao dessas express˜oes utilizamos que
t kA, πn 2N e iφ∆s= th1 + 2eikA∆scosπn 2N i . (4.36)
O denominador da integralIac n (D) ´e fn(kA) = 2− t2 h 1 + 4 cos(kA) cos πn 2N + 4 cos2πn 2N i , (4.37) com polos dados por
cos qn() = 1 4 cos 2Nπn 2 t2 − 4 cos 2πn 2N − 1 , (4.38) paran < N . O caso em que n = N deve ser tratado separadamente, pois fn=Nn˜ao
depende dekA.
A derivada defn(kA) para n < N ´e
fn0(kA) = 4t2sin(kA) cos
πn 2N
. (4.39) Sendo assim, a integral que precisamos efetuar para calcular os propagadores que s˜ao dados pelas Eqs. 4.34 e 4.35 paran < N ´e dada opor
In(D) = 1 2π Z π −π dkA eikAD 2− t21 + 4 cos(k A) cos 2Nπn + 4 cos2 2Nπn = i 4t2 eiqn()|D| sin qn() cos 2Nπn . (4.40) Paran = N , a integral In=N ´e
IN(D) = 1 2π Z π −π dkA eikAD 2− t2 = δD,0 2− t2 , (4.41) Finalmente, obtemos que os propagadores monoeletrˆonicos para nanofitas de grafeno com bordas armchair s˜ao dados por:
• Para o caso em ques = s0 hl, j, s| ˆG|l0, j0, si = i 2N t2 N−1 X n=1 sinhπn 2N(l− j) i sinhπn 2N(l 0− j0)i eiqn()|∆l+∆j| sin qn() cos 2Nπn ,
• Paras6= s0, hl, j, s| ˆG|l0, j0, s0i = i 2N t N−1 X n=1 sinhπn 2N(l− j) i sinhπn 2N(l 0− j0)i ×e iqn()|∆l+∆j|+ 2eiqn()|∆l+∆j+∆s|cosπn 2N sin qn() cos 2Nπn . (4.43) A contribuic¸˜ao do termon = N requer uma atenc¸˜ao especial, pois nesse caso ele est´a situado na borda da zona de Brillouin. Sendo assim, o peso dele deve ser12e a sua contribuic¸˜ao ´e dada por
hl, j, s| ˆG|l0, j0, s0in=N = 1 N sin hπ 2(l− j) i sinhπ 2(l 0− j0)iI N(0) , s = s0 t , s6= s0 . (4.44) Substituindo na Eq. 4.41 obtemos que a contribuic¸˜ao do termon = N ´e
hl, j, s| ˆG|l0, j0, s0in=N = 1 N sinπ 2(l− j) sin π 2(l0− j0) (− 0)2− t20 δ∆l,−∆j , s = s0 t , s6= s0 . (4.45) Utilizando as Eqs. 4.42, 4.43, e 4.45, calculamos as densidades de estado locais em alguns s´ıtios de uma fita de grafeno com com borda armchair. Em nossos c´alculos uti-lizamost =−1, e escolhemos a largura da fita W = 6. Os resultados est˜ao mostrados nas Figs. 4.6, 4.7, 4.8 e 4.9. Cada ´atomo est´a representado, respectivamente na Fig.4.5.
Figura 4.5: ´Atomo preto: ~R = (l = 1, j = 0, s = 1). ´Atomo vermelho: ~R = (l = 1, j = −1, s = 2). ´Atomo verde: ~R = (l = 2, j = −1, s = 2). ´Atomo azul:
~
Figura 4.6: Densidade de estados local, calculada em func¸˜ao da energia, para um s´ıtio localizado na posic¸˜ao ~R = (l = 1, j = 0, s = 1) .
Figura 4.7: Densidade de estados local, calculada em func¸˜ao da energia, para um s´ıtio localizado na posic¸˜ao ~R = (l = 1, j =−1, s = 2) .
Figura 4.8: Densidade de estados local, calculada em func¸˜ao da energia, para um s´ıtio localizado na posic¸˜ao ~R = (l = 2, j =−1, s = 2) .
Figura 4.9: Densidade de estados local, calculada em func¸˜ao da energia, para um s´ıtio localizado na posic¸˜ao ~R = (l = 2, j =−2, s = 2) .
Cap´ıtulo 5
Conclus˜oes
Todas as propriedades eletrˆonicas de sistemas n˜ao interagentes (aqueles nos quais ´e poss´ıvel, com boa aproximac¸˜ao, desprezar a interac¸˜ao Coulombiana) podem ser des-critas em termos dos propagadores monoeletrˆonicos associados. Consequentemente, m´etodos num´ericos e anal´ıticos que permitam determinar esses propagadores de forma eficiente s˜ao bastante ´uteis para realizac¸˜oes de investigc¸˜oes sobre as caracter´ısiticas eletrˆonicas desses sitemas.
Iniciamos o nosso trabalho com uma breve descric¸˜ao das estruturas de carbono e suas ligac¸˜oes qu´ımicas. Apresentamos o modelo de ligc¸˜oes fortes e o utilizamos para detalhar a estrutura de bandas do grafeno. Introduzimos conceitos b´asicos sobre as func¸˜oes de Green de uma part´ıcula (propagadores monoeletrˆonicos) e mostramos como algumas grandezas de interesse podem ser expressas em termos desses propaga-dores. Examinamos equac¸˜ao de Dyson e indicamos como que ela pode ser utilizada para desenvolver um m´etodo recursivo bastante eficiente para determinar as func¸˜oes de Green monoeletrˆonicas de sistemas descritos pelo modelo de ligac¸˜oes fortes. A t´ıtulo de ilustrac¸˜ao, empregamos esse m´etodo para calcular densidades de estado locais as-sociadas a alguns s´ıios atˆomicos pr´oximos da borda de uma cadeia linear semi-infinita. Aproveitamos a oportunidade e, tamb´em, empregamos a equac¸˜ao de Dyson para dis-cutir o problema de uma impureza substitucional em um hospedeiro met´alico.