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Ética na advocacia pública: teoria e realidade

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Academic year: 2021

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RESUMO

O trabalho a seguir tem por objetivo o estudo da realidade das condutas dos advogados públicos, no que tange ao cumprimento dos mandamen-tos éticos a eles imputados. Inicialmente, o es-tudo tratará da definição da Deontologia Jurídica e de que forma ocorre a aplicação dos princípios que dela emanam às condutas dos profissionais supracitados. Posteriormente, proceder-se-á à caracterização dos procuradores em questão, destacando a conceituação legal, jurisprudencial e doutrinária. Será realizada também, uma aná-lise da realidade, verificando-se se há o exercício efetivo dos mandamentos e normas éticas des-tinadas a esses profissionais. Finalmente, serão apontadas sugestões de melhorias que visem o afastamento de condutas imorais. A construção do texto foi feita através de pesquisas bibliográfi-cas, seguindo o método dialético. Assim, por meio do presente artigo é possível conhecer como es-ses servidores devem agir em busca do interesse de todos, objetivando, quando da prática de suas atribuições, o efetivo cumprimento dos preceitos de moralidade e probidade defendidos pela Carta Maior e por legislações infraconstitucionais.

PALAVRAS-CHAVE

Ética. Direito. Advocacia-Pública. ISSN Impresso: 2316-1299

ISSN Eletrônico: 2316-3127

ÉTICA NA ADVOCACIA PÚBLICA:

Maria da Conceição Santos Mendonça Correia1

Jorge Renato Johann2

1 Graduada em Ciências Sociais e Pós-graduada em Direito Civil e Processual Civil. mcsmcorreia@hotmail.com

2 Mestre em História da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1984) e Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2008). Atu-almente é professor do Programa de Pós Graduação da Universi-dade Tiradentes - UNIT, do NEAD - Núcleo de Educação à Distância e coordena o NAPPS - Núcleo de Atendimento Pedagógico e Psi-cossocial na mesma universidade. jorge_renato@unit.br

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ABSTRACT

The following work aims to study the reality of the conducts of public lawyers, concerning the fulfill-ment of the ethical commandfulfill-ments. Initially, the study will address the definition of Legal Ethics and how the principles towards the conducts of the mentioned professionals are applied. Later, the prosecutors will be characterized, highlighting the legal, jurisprudential and doctrinal concepts. An analysis of reality will also be held, check-ing whether there is the effective exercise of the commandments and ethical standards for these professionals. Finally, suggestions for improve-ments will be pointed out, aiming at the removal of immoral conducts. This text was elaborated through literature searches, following the dialecti-cal method. So, through this article you can know how these servers must act, bearing in mind the interests of all, in order to fulfill the precepts of morality and integrity, defended by the Charter and infraconstitutional laws.

KEYWORDS

Ethics. Law. Public Advocacy.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por tema a conduta dos servidores que atuam na advocacia pública, como advogados públicos e procuradores, no que tange ao cumprimento dos preceitos éticos inerentes à profissão. Assim, questiona-se: existe o efetivo cumprimento desses mandamentos?

Nesse sentido, o trabalho em questão tem como objetivo-geral a análise da realidade pre-sente em repartições como as procuradorias, no tocante à conduta de seus profissionais, abor-dando os princípios que regem o exercício dessa profissão forense, identificando as infrações mais comuns e possíveis soluções para o problema. A escolha do tema tem por fundamento a importân-cia do trabalho realizado por esses servidores na medida em que, como servidores públicos, devem pautar suas condutas à luz de princípios

consti-tucionais e éticos, a supremacia do interesse pú-blico e a indisponibilidade deste, respeitando os interesses da coletividade e contribuindo para a construção de um Estado Democrático de Direito. A elaboração desta obra foi feita a partir de pes-quisas bibliográficas e embasada no método dia-lético, contestando a realidade colocada e expon-do suas contradições.

Finalmente, o texto a seguir retratará o contex-to normativo ético e prático do exercício das pro-fissões relacionadas à advocacia pública.

2 DOS MANDAMENTOS ÉTICOS

Em todas as profissões faz-se necessária a observância de um conjunto de normas e precei-tos de caráter ético. Todavia, quanto ao exercício profissional jurídico, a importância desses man-damentos se faz maior, na medida em que aquele que faz da ciência jurídica sua profissão:

examina o torto e o direito do cidadão no mundo social em que opera; é, a um tempo, homem de estudo e homem público, persuasivo e psicólogo, orador e escritor. A sua ação defensiva e a sua conduta incidem profundamente sobre o contex-to social em que atua. (LEGA, Carlo. 1975. p. 17, apud Pasquale Gianniti, idem, p. 4).

A Deontologia Forense é a responsável pela determinação de um conjunto de preceitos éticos e comportamentos que devem ser verificados pe-los profissionais jurídicos. O princípio fundamen-tal da Deontologia das Profissões Jurídicas con-siste no agir segundo a ciência e a consciência. A primeira indica a existência de um conhecimento técnico exigível a todo profissional, ou seja, torna--se imprescindível o domínio das regras atinen-tes à profissão para que exista um desempenho eficiente. A segunda está relacionada à ideia de que a profissão deverá ser exercida visando a uma função social, ou seja, a atuação do profissional não deve ser descompromissada, mas imbuída de um esforço para a concretização daquela.

A Deontologia Jurídica é marcada por uma série de outros princípios, a saber:

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Princípio da Conduta Ilibada: reza que os pro-fissionais do Direito devem atuar de maneira reta, sendo incorruptíveis, sejam dignos de confiança, atuem de forma digna na defesa da honra, da li-berdade, dos bens e outros valores abarcados pelo ordenamento jurídico. Não se cobra uma mera boa conduta, mas sim uma atuação ética de uma qualidade mais elevada, em relação aos profissio-nais de outras áreas.

Princípio da Dignidade e do Decoro Profissio-nal: a primeira consiste em um valor relacionado à pessoa humana, o segundo consequência desta, no sentido de ser uma projeção de condutas posi-tivas ou negaposi-tivas. Como exemplos de falta de de-coro, pode-se destacar o estelionato, a falsidade, a receptação, a remuneração excessiva. A ausência daquele também pode ser observada quando do “[...] uso de expressões chulas, inconvenientes e vulgares. Inadmissíveis em sentenças, despachos ou pareceres, também não podem constar de quaisquer peças insertas em processo.” (NALINI, José Renato, 2011, p. 333). Em observância aos princípios em questão, devem ser respeitados: a moderação, o caráter, evitando-se, por conseguin-te, os excessos, a arrogância e a presunção.

Princípio da Incompatibilidade: reza que deve existir dedicação exclusiva por parte do titular do exercício forense. A exceção subsiste em relação ao magistério. Esse princípio tem por escopo a autonomia, o prestígio e a eficiência daqueles que atuam na prática forense, evitando, dessa forma, lesões provenientes de confusão, no que concerne às finalidades de atuações, e do estabelecimento de vínculos que constituam afronta ao princípio da dignidade.

Princípio da Correção Profissional: segundo esse princípio, o profissional jurídico deve atuar com transparência na convivência com aqueles que estão ao seu redor no ambiente de trabalho, sendo sério, mas não sisudo, cortês, urbano, ho-nesto e acessível.

Princípio do Coleguismo: este princípio advém de uma consciência de que se pertence a

deter-minado grupo, conduzindo a uma homogeneidade comportamental, considerada um autêntico de-ver. Fazendo uma comparação às antigas Corpo-rações de Ofício, LEGA afirma que:

[...] os membros do grupo estão ligados entre si por um vínculo orgânico que lhes estimula e lhes obriga a ter determinados comportamentos ho-mogêneos com o objetivo de salvaguardar o bem comum setorial. Segundo a tradição, tais com-portamentos se caracterizam pelos conceitos de fidelidade, lealdade, camaradagem, confiança re-cíproca e solidariedade, que podem considerar-se confluentes no conceito genérico de coleguismo. (LEGA, Carlo.1983. p. 168-169).

Princípio da Diligência: ensina que o profissio-nal deve agir de pronto e com presteza, por ser responsável pelos cuidados de interesses alheios que se encontram vulnerados. Assim, o trata-mento deverá ser igualitário, tanto para os casos considerados menores, humildes, quanto para aqueles que apresentam uma maior relevância, dotados de maior poder. Dessa forma, exige-se zelo, assiduidade, precisão e escrúpulo quando da exceção das funções judiciais.

Princípio do Desinteresse: prega a busca do in-teresse da justiça acima de quaisquer ambições pessoais ou aspirações legítimas. Hodiernamen-te, pode ser observado nas disputas de cargos nos concursos públicos para a Magistratura, Ministé-rio Público, Procuradorias, Defensorias Públicas e outras carreiras jurídicas. Mesmo diante de re-munerações diminutas em relação às dificuldades enfrentadas, das renúncias e da relevância dos cargos em questão, a concorrência é elevada.

Princípio da Independência: apregoa que o ope-rador do direito deverá estar afastado de quais-quer vínculos que venham a interferir na atuação do profissional do direito, condicionando-a ou orientando-a a caminho diverso ao da justiça. Ruy Azevedo Sodré fala que a independência está vin-culada à observância dos preceitos éticos:

Os cânones éticos, a que estamos vinculados e que balizam a nossa conduta, asseguram a

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nos-sa reputação, propiciam a nosnos-sa liberdade moral, efetivam nossa independência. À sua sombra, abriga-se o advogado das tentações que o cer-cam, de que fala Couture e das que exemplifica Angel Ossório. (SODRÉ, Ruy de Azevedo.1967. p. 138).

Princípio da Reserva: implica na restrição fei-ta ao operador do direito em não comenfei-tar com estranhos, informações inerentes ao exercício profissional, sobre quaisquer circunstâncias re-lacionadas às partes ou a terceiros, de forma di-reta ou indidi-reta. Difere do princípio do segredo, pois este abarca questões ligadas à controvérsia ou ao processo, enquanto aquela a quaisquer par-ticularidades dos envolvidos na lide. Assim, cabe ao profissional evitar a tratativa de assuntos pro-fissionais em locais que não sejam o foro, ainda que em sedes de associações de classes, onde o que se objetiva é o lazer ou a prática de interesses associativistas, não uma continuidade do traba-lho. Gianniti ainda destaca alguns desdobramen-tos desse princípio: a tratativa das práticas pro-fissionais deve ser feita no foro e não em locais públicos; constitui dever, manter reserva sobre os documentos ou objetos do processo; deve-se cui-dar para que funcionários, digitadores, assisten-tes ou escrevenassisten-tes, mantenham reserva acerca daquilo de que tomem conhecimento em virtude do trabalho; reserva no que concerne ao endereço do cliente; dever de não exteriorizar opinião sobre processo que foi confiado, ainda que no ambiente familiar.

Existem ainda princípios constitucionais como o Princípio da Legalidade, que assevera que a con-duta dos servidores deve ser pautada no que é di-tado por lei; o Princípio da Moralidade, tornando esta de presença imprescindível na atuação dos profissionais; Princípio da Publicidade, que infor-ma que todos os atos praticados no serviço públi-co devem ser imbuídos de transparência; Princípio da Eficiência, que ressalta a busca dos melhores resultados favoráveis à coletividade, a menores custos; e o Princípio da Impessoalidade, afastando situações de privilégios, ou seja, de se aproveitar do fato de ser detentor de um determinado cargo para obtenção de vantagens indevidas.

Além dos supramencionados, José Renato Na-lini cita alguns outros, como: o princípio da liberda-de profissional, da probidaliberda-de profissional, da fun-ção social da profissão, da severidade para consigo mesmo, da defesa das prerrogativas profissionais, da clareza, pureza e persuasão na linguagem, da moderação e da tolerância.

3 DA ADVOCACIA PÚBLICA E

SEUS SERVIDORES

À Advocacia Pública, elencada na seção II, capí-tulo IV, da Carta Maior, Função Essencial à Justiça, compete representar judicial e extrajudicialmente os entes federativos. Essa função é exercida pela Advocacia-Geral da União, pelas Procuradorias Gerais dos Estados, e, seguindo o princípio da si-metria, pelas Procuradorias dos Municípios, onde houver. Essas instituições, junto ao Ministério Pú-blico e à Defensoria Pública, gozam de autonomia e independência.

A ideia de que o Procurador de Estado se equipara a um advogado privado ainda se faz presente em muitos, entretanto, trata-se de uma concepção errônea. O procurador é um “[...] fun-cionário público pago pelo Estado, com recursos arrecadados do povo, exercente de múnus [...]” como afirmou o Ministro Peçanha Martins no Recurso Especial nº 416853/PR. Logo, não se deve comparar a advocacia pública a um escri-tório, muito menos igualar a relação existente naquela ao binômio “cliente/advogado”. Nesse sentido, é incoerente pensar que o procurador tem a obrigação de recorrer de tudo, com o es-copo de retardar o andamento processual, a fim de assegurar a defesa do Governo. Trata-se de um estigma existente, até mesmo, entre aqueles que atuam nas carreiras, como relata Willian Jun-queira Ramos:

Muitos partilham o pensamento de que as Pro-curadorias têm a obrigação de defender os atos da Administração a qualquer custo, ainda que, por vezes, ilegais, ou seja, contrários à legislação. Hoje, infelizmente, grande parte dos Procurado-res não admitem, v.g., reconhecer a procedência

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do pedido em uma ação judicial ou mesmo aviar uma proposta de acordo, embora o direito plei-teado pela parte contrária seja legítimo. (RAMOS, Willian Junqueira, 2009, p. 1).

O procurador tem por função a prestação de consultoria jurídica e representação no que se refere à orientação das autoridades estatais, pre-viamente às suas deliberações, auxiliando-as no exercício do contraditório e da ampla defesa, prin-cípios inerentes ao devido processo legal.

Os procuradores públicos são regidos pelas mesmas regras éticas de conduta destinadas aos advogados. Contudo, existem algumas ques-tões que apresentam singularidades, como apon-ta Dárcio Augusto Chaves Faria: “a aceiapon-tação, a suspeição e o abandono da causa, a verdade e o segredo profissional, o direito aos honorários e o dever de indenizar.” (FARIA, p. 31).

No que tange à aceitação da causa, o procu-rador é dotado de um poder-dever, não devendo recusá-la, como poderia acontecer quando do exercício no âmbito particular. Se a pessoa jurí-dica de direito público figurar como ré, em uma causa ilegal, injusta, ilícita ou imoral, caberá ao procurador alertá-la acerca da inevitabilidade de uma decisão desfavorável, da qual resul-te proposta de acordo ou o reconhecimento do pedido do autor. Todavia, figurando como auto-ra, em casos excepcionais, o procurador poderá abster-se de mover a causa, sendo juridicamen-te amparado, quando o pedido se constituir in-compatível ou contrário à lei ou à moral, ferindo os preceitos constitucionais da moralidade e le-galidade que guiam a atividade pública.

No que se refere à suspeição, aponta José Re-nato Nalini: “[...]. O mais comum é a sua convicção quanto à injustiça da causa. Outros são o interes-se direto ou indireto no objeto da lide, o interesinteres-se direto de pessoa de suas relações, a vinculação a pronunciamento anterior e a orientação externa da causa.” (NALINI, 2011).

No tocante ao abandono da causa, este lhe é vedado, podendo o procurador ser

responsabili-zado disciplinarmente e penalmente, ao incorrer em prática de prevaricação ou abandono de cargo público.

O procurador, por sua vez, não tem o dever de guardar sigilo em relação aos assuntos do ente que representa. Todos os fatos e circunstâncias devem ser levados a juízo, respeitando-se o prin-cípio Constitucional da Publicidade.

Os honorários percebidos pelo procurador referem-se ao tempo despendido e ao serviço prestado, decorrente da função que exerce. Sen-do assim, em uma causa que a pessoa jurídica de direito público saia vencedora, ele não pode-rá se beneficiar, do imposto pelo art. 20 do CPC, que reza: “A sentença condenará o vencido a pa-gar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advo-gado funcionar em causa própria.” Dessa forma, o procurador não poderá elevar seus ganhos de forma descomunal.

Ao procurador público caberá o dever de inde-nizar prejuízos que causar à entidade, por negli-gência, erro inescusável ou dolo. Quando a isso se somar comportado dotado de culpa grosseira, má-fé ou abuso de poder, além da indenização, o procurador estará sujeito às penalidades discipli-nares cabíveis.

Dessa forma, se um cidadão busca o Judiciá-rio com o intuito de reclamar direito que não foi reconhecido administrativamente pelo Estado, quando da prática de um ato ilegal, é dever do Procurador, como representante de um Estado Democrático de Direito, declarar legítimo o direi-to buscado. Assim, a genuína função das Procu-radorias reside em cuidar da legalidade dos atos emanados do Estado: caso este erre, aquelas têm a obrigação de realinhá-lo ao caminho ditado pela Lei Maior.

Cabe às Procuradorias, também, atuar de for-ma ativa, com o objetivo de combater a corrupção e a má utilização do dinheiro público.

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4 DA REALIDADE

Para que a real finalidade do trabalho dos ad-vogados e procuradores públicos seja alcançada, faz-se necessário que estes pautem suas condu-tas em regras éticas, como as supracitadas, a fim de que o objetivo maior, a preservação do interes-se da coletividade, interes-seja protegido de forma efetiva. Todavia, não é o que ocorre em muitos casos.

Apesar da existência de normas éticas desti-nadas a esses profissionais, alguns ainda não as cumprem, agindo de forma antiética e prejudicial ao interesse da coletividade. Dentre os problemas, pode-se destacar o inerente à assiduidade dos procuradores públicos.

A Portaria nº 636, de 11/09/95, que trata da fi-xação do horário de expediente da AGU e do regis-tro da frequência dos servidores desse órgão, não se aplica aos procuradores, visto que estes estão submetidos a um regime de dedicação integral, elencado no inciso I, do artigo 28 da Lei Comple-mentar nº 73/93, que assegura ser vedado o exer-cício da advocacia fora das atribuições institucio-nais. Por conseguinte, o controle de assiduidade desses profissionais torna-se desnecessário, uma vez que aqueles dotados de dedicação exclusiva não devem ter o seu horário controlado, haja vista que não têm obrigações a mais além das previs-tas. Assim, o controle da produtividade é realizado via relatórios que são inseridos em sistemas in-formatizados, controlados pelo Sistema Integrado de Controle das Ações da União, o SICAU, que atua como um programa de gestão de resultados. Com a inserção dos chamados “processos eletrônicos” ou “processos virtuais”, tramitados via internet, os requerimentos, juntadas e vistas de documentos e petições podem ser feitos até as 24 horas (di-ferentemente do prazo estabelecido no art. 172, do Código de Processo Civil, estabelecendo como limite até as 20 horas) e em qualquer lugar, inde-pendentemente de ser o ambiente de trabalho. Para tanto, o procurador só necessita da senha para ter acesso ao sistema.

Com essa flexibilização, o procurador pode trabalhar em casa, a qualquer hora. Sua

pontu-alidade consiste no cumprimento dos prazos ju-diciais e administrativos, contudo, mesmo com essa flexibilização no tocante ao local de trabalho e carga horária, ainda se trabalha com cargas de processos físicos e várias informações são reti-radas dos mesmos, necessitando que o profis-sional se utilize dos pedidos de retirada dessas cargas junto às varas judiciais. Diante desse fato, alguns dissabores são gerados em relação ao servidor administrativo que deverá estar a tem-po e hora distem-ponível para as “urgências”, tem-por par-te daqueles que deixam para o último momento a solicitação da documentação necessária, sem contar que nem sempre é possível a retirada des-ses junto aos órgãos judiciais por diversos fato-res e regras jurídicas. Todavia, realidade e teoria apresentam-se discrepantes. Mesmo com uma maior flexibilidade quanto ao horário de trabalho, existem procuradores que perdem prazos. Esse comportamento fere o apregoado nas alíneas “a” e “b”, item XIV, seção II, presente no anexo do Decreto nº 1.171/94, que trata do Código de Éti-ca Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, que rezam:

[...] a) desempenhar, a tempo, as atribuições do cargo, função ou emprego público de que seja titular; b) exercer suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento, pondo fim ou procurando prioritariamente resolver situações procrastina-tórias, principalmente diante de filas ou de qual-quer outra espécie de atraso na prestação dos serviços pelo setor em que exerça suas atribui-ções com o fim de evitar dano moral ao usuário. (Decreto nº 1.171/94, item XIV, alíneas “a” e “b”).

A conduta omissiva, em se tratando do cum-primento de prazos, constitui também afronta ao Princípio da Diligência, que reza que os operadores do direito devem atuar com presteza e assiduida-de, zelando sempre pelo interesse da coletividade. Como exemplos da inobservância dos precei-tos éticos pelos procuradores públicos, se pode citar o caso do subprocurador-geral da República Antônio Augusto César, que sofreu uma pena de suspensão de 90 dias, fruto da decisão do Plená-rio do Conselho Nacional do MinistéPlená-rio Público. As

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investigações das faltas cometidas por Antônio Augusto César começaram na Corregedoria do Mi-nistério Público, quando do seu suposto envolvi-mento na denominada Operação Anaconda, defla-grada em 2003 pela Polícia Federal, um esquema de venda de sentenças, atuação de “laranjas” em veículos e imóveis, bem como sonegação de im-postos.

No rol de infrações imputadas ao subprocura-dor-geral está a ausência de declaração de sus-peição ou impedimento de atuação, representan-do o Ministério Público, em um processo penal, no qual uma das partes envolvidas mantinha rela-ções com ele; não adoção de providências quan-do da existência de uma série de irregularidades e ilegalidades praticadas pelo escritório Passarelli & Guimil, de cuja banca causídica figurava; exer-cício ilegal da advocacia e fornecimento de de-claração falsa de renda e patrimônio à Secretaria de Recursos Humanos do Ministério Público, não apresentando as declarações de bens e rendas dos anos-calendários presentes de 2003 a 2008, configurando, assim, crime de falsidade ideológi-ca. A decisão pela suspensão do subprocurador foi resultado da análise do processo administrativo disciplinar 488/2006.

Outro caso fora a exoneração do advogado da União Paulstein Aureliano de Almeida do seu cargo, pelo crime de falsidade ideológica e docu-mental. Pausltein foi preso em flagrante em 2005, quando da tentativa de fingir ser candidato a con-curso público de oficial de justiça no Maranhão. O advogado ainda não se encontrava estabiliza-do e efetivaestabiliza-do no seu cargo, uma vez que ainda encontrava-se em estágio confirmatório. Após a conclusão dos processos administrativos discipli-nares instaurados contra ele, a Corregedoria-Geral da Advocacia Geral da União decidiu pela impossi-bilidade do prosseguimento de Paulstein no car-go, no Parecer 004/2006. O Conselho Superior da Advocacia Geral da União entendeu que a condu-ta do advogado afroncondu-tava a defesa da moralida-de administrativa e, por conseguinte, as funções institucionais do órgão, recomendando ao Minis-tro Advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli, que o exonerasse. O pedido foi atendido,

sendo Paulstein exonerado do ofício pelo Ministro Toffoli.

No ano de 2007, a Corregedoria-Geral da Ad-vocacia da União averiguou que o Procurador da Fazenda Nacional Glênio Sabbad Guedes atuava como advogado privado em sua sala de trabalho, promovendo reuniões com outros advogados e elaborando peças processuais, utilizando indevi-damente recursos da Fazenda Nacional do Rio de Janeiro. Glênio Sabbad foi demitido pelo advoga-do-geral da União, José Antônio Toffoli, por exercí-cio ilegal da advocacia.

Portanto, infelizmente ainda existe o desres-peito aos mandamentos éticos inerentes à prática das atividades forenses, resultando em casos de improbidade administrativa, apropriação indevi-da do erário público, exercício ilegal indevi-da advocacia privada e uma série de outros problemas éticos e morais, que envolvem deficiências concernentes à assiduidade, ao relacionamento com os colegas de trabalho, desacato a ordens superiores, entre ou-tros, prejudicando assim, um dos mais importan-tes princípios basilares da administração pública: a supremacia do interesse público sobre o privado.

Para realizar a apuração dos atos praticados de forma indevida pelos procuradores, advogados--gerais, destacam-se dois órgãos: a Corregedoria--Geral da Advocacia da União e a Procuradoria-Ge-ral FedeProcuradoria-Ge-ral, que se encontra vinculada à Advocacia Geral da União.

A Corregedoria-Geral da União, citada no Ca-pítulo II da Lei Complementar nº 73, de 10 de fe-vereiro de 1993, é responsável pela tramitação de processos relacionados aos ocupantes do cargo de Advogado da União, Procuradores da Fazenda Nacional, Assistentes Jurídicos e demais servi-dores da Advocacia Geral da União, que têm suas atribuições elencadas nos incisos I a VI do art. 5º da supramencionada lei, a saber:

[...] I- fiscalizar as atividades funcionais dos Membros da Advocacia-Geral da União; II- pro-mover correição nos órgãos jurídicos da Advoca-cia-Geral da União, visando à verificação da

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regu-laridade eficácia dos serviços, e à proposição das medidas, bem como à sugestão de providências necessárias ao seu aprimoramento; III- apreciar as representações relativas à atuação dos Mem-bros da Advocacia-Geral da União; IV- coorde-nar o estágio confirmatório dos integrantes das Carreiras da Advocacia-Geral da União; V- emitir parecer sobre o desempenho dos integrantes das Carreiras da Advocacia-Geral da União sub-metidos ao estágio confirmatório, pinando, fun-damentalmente, por sua confirmação no cargo exonerado; VI- instaurar, de ofício ou por deter-minação superior, sindicâncias e processos ad-ministrativos contra os Membros da Advocacia--Geral da União. (Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993).

As correições ordinárias constituem fiscaliza-ções gerais, inerentes à natureza gerencial, visan-do à coleta de informações de caráter amplo, como a estrutura organizacional, material e de pessoal, serviços terceirizados e administrativos, siste-mas de informação, entre outros. Possuem um aspecto preventivo e de regularidade, sendo rea-lizadas anualmente pelo Corregedor-Geral e seus auxiliares. As correições extraordinárias objetivam a análise de temas concernentes à atuação fun-cional de membros ou órgãos da Advocacia-Geral da União. Os procedimentos correicionais extra-ordinários, que ao contrário das anteriores não exigem a inspeção in loco, e atuam quando do re-cebimento de denúncias e representações contra unidades da instituição. Configuram um juízo de admissibilidade para a instauração de sindicân-cias ou processos administrativos disciplinares. Como salienta Aldemário Araujo Castro:

[...] Assim, ao final do procedimento correicio-nal extraordinário a Corregedoria conclui: a) pela ausência de infração disciplinar pura e simples-mente; b) pela ocorrência de uma anormalidade decorrente, total ou majoritariamente, de pro-blemas gerenciais ou de gestão; c) pela ocorrên-cia de uma irregularidade sem densidade sufi-ciente para atrair uma apuração disciplinar; d) pela necessidade de instauração de sindicância investigativa; e) pela necessidade de instaura-ção de sindicância acusatória; ou f) pela

neces-sidade de instauração de processo administra-tivo. (CASTRO).

Nesse caminho, vale ressaltar a diferença en-tre as sindicâncias e processos administrativos disciplinares. As primeiras têm por objetivo a apu-ração de faltas menores, tais como a desobediên-cia de ordem superior. A punição pode variar entre advertência e suspensão por até 30 dias. A ins-tauração dos últimos se dá quando da existência de informações concretas que declinem a autoria e a materialidade das práticas irregulares. E tem por punições a suspensão por tempo superior a 30 dias, podendo chegar à demissão do cargo.

A Procuradoria-Geral Federal trata de proces-sos relacionados aos procuradores federais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante todos os fatores elencados neste artigo, cabe ressaltar que mesmo com o esforço imple-mentado pela Advocacia Geral da União (AGU), através de um projeto de reestruturação da Pro-curadoria Federal no Estado de Sergipe, no sentido de melhorias no atendimento às causas jurídicas, procedentes de órgãos governamentais e da so-ciedade como um todo, ainda se está aquém do desejável. Visto que a observação desses princí-pios éticos não fora assimilada por alguns profis-sionais, que deixam a desejar no tocante ao cum-primento do seu dever, servindo como modelo para os demais servidores uma vez que conhecem ou devem conhecer todos os princípios nortea-dores das regras éticas e do direito bem como o respeito à coletividade servindo-a com respeito, presteza e eficiência, afinal é essa coletividade que, através de impostos, pagam os maravilhosos salários desses profissionais.

Portanto, infelizmente, ainda existem profis-sionais que pensam, de acordo com ideologia ul-trapassada, os empregos em repartições públicas. Nesse caso específico, procuradorias, geralmente ociosas e beneficiárias de gordos salários e de-mais vantagens sem, contudo, se preocuparem com o objetivo fim do seu cargo.

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REFERÊNCIAS

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Recebido em: 21 de julho de 2012 Avaliado em: 30 de julho de 2012 Aceito em: 8 de agosto de 2012

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