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PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR E AS ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL E ECONÔMICA NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP)

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Academic year: 2021

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PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR E AS ESTRATÉGIAS DE

REPRODUÇÃO SOCIAL E ECONÔMICA NO MUNICÍPIO DE

PRESIDENTE PRUDENTE (SP)

NORONHA, Elias Oliveira1; FCT – UNESP – Presidente Prudente

noronhaunesp@gmail.com

HESPANHOL, Rosângela Ap. de Medeiros2; FCT – UNESP – Presidente Prudente

medeiroshespanhol@yahoo.com.br

Introdução

O presente trabalho tem como objetivo analisar as estratégias de reprodução social e econômica desenvolvidas por pequenos produtores rurais familiares localizados no Município de Presidente Prudente-SP. Tais estratégias compreendem: a combinação de atividades agropecuárias no interior da unidade produtiva; a diversificação dos canais de comercialização agrícola; e, no período mais recente, o desenvolvimento da pluriatividade. Para a realização deste trabalho, partimos da hipótese de que é a adoção desse conjunto de estratégias que tem possibilitado a manutenção da família rural no campo, tendo em vista o grau de competitividade do setor, a falta de alternativas de emprego e as dificuldades encontradas no âmbito da produção, da comercialização e da assistência técnica. Os procedimentos de pesquisa adotados tiveram como base inicial uma revisão bibliográfica sobre a perspectiva da produção agrícola familiar. Posteriormente, se fez importante a elaboração e aplicação de questionário junto a quarenta produtores rurais situados na porção norte do perímetro urbano do referido município.

O Município de Presidente Prudente e a dinâmica agropecuária

O município de Presidente Prudente está localizado na porção sudoeste do Estado de São Paulo, cuja formação socioespacial apresenta características similares à brasileira, destacando a reprodução da estrutura fundiária, por meio da concentração de terras e, o

1 Aluno do Curso de Pós-Graduação em Geografia (Mestrado), Universidade Estadual Paulista, Faculdade de

Ciência e Tecnologia. Membro do Grupo de Estudos Dinâmica Regional e Agropecuária (GEDRA).

2 Professora dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciência e Tecnologia. Coordenadora do Grupo de Estudos Dinâmica Regional e Agropecuária (GEDRA).

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avanço de culturas agrícolas destinadas ao mercado externo, como é o caso da cana-de-açúcar que, no período atual, é destinada à produção de álcool.

No âmbito da estrutura da população no período de 1970 a 2000, verificamos uma considerável diminuição daquela envolvida com as atividades agropecuárias. Isso porque, na década de 1970 a população rural representava 12,3% (12.996) do total. Contudo, em 1991 esse número decaiu em termos relativos para 3,2% (5.257) e, em 2000, para 2,1% (3.957). Essa redução da população vivendo no campo está intimamente relacionada ao crescimento da população urbana que, em 1970 representava 87,7% (92.711) e em 1991 e 2000 passou a representar 96,8% (160.227) e 97,9% (185.229), respectivamente.

No que se refere à estrutura fundiária, averiguamos que o Município de Presidente Prudente, segundo o Censo Agropecuário do IBGE (1996), caracteriza-se pelo predomínio de pequenos estabelecimentos agropecuários, uma vez que 91,1% (877) possuem área inferior a 100 hectares, ocupando, por sua vez, 46,9% (19.856 hectares) da área total ocupada. Cabe observar que no período entre 1970 e 1996, houve uma significativa redução do número e da área ocupada pelos estabelecimentos com área inferior a 100 hectares, da ordem de: 948 no número de estabelecimentos e 6.751 hectares na área ocupada. Esse processo está intimamente relacionado à concentração e/ou ampliação da área e do número dos estabelecimentos acima de 100 hectares, uma vez que esse grupo apresentou um aumento de 44,7% (38) no número de estabelecimentos e de 28,1% (6.228 hectares) na área ocupada (1970 a 1996).

Em relação à dinâmica agropecuária do município, temos constatado que um dos fatores negativos é a ausência de um projeto de desenvolvimento rural integrado. Isso porque, verificamos que tanto a SEDEPP (Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Presidente Prudente) quanto a CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integrada), atuam de forma separada, não tendo projetos e ações conjuntas. Esse fato fica ainda mais evidente quando se analisa a prioridade dos programas realizados, pois, em sua maioria, são assistencialistas, cuja ‘visão urbana do desenvolvimento’ ainda é predominante e tem repercussões diretas nos resultados finais, tornando o produtor rural um mero coadjuvante e não prioridade.

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Assim, verificamos que, em meio à falta e/ou ausência de um projeto de desenvolvimento rural integrado, os pequenos produtores rurais familiares se vêem fortalecidos com as estratégias de reprodução social e econômica, cujo objetivo é sua permanência e/ou sobrevivência no campo. Feito essa ressalva, é interessante observar que, embora cada território tem respondido de forma particular ao aprofundamento das relações capitalistas de produção, nesse texto, nos ateremos em analisar o desenvolvimento de tais estratégias no âmbito do Município de Presidente Prudente, tendo em vista o grau de pobreza crescente na produção agrícola familiar.

Produção agrícola familiar e as estratégias de reprodução social e econômica

A pesquisa fundamenta-se na definição de produção agrícola familiar proposta por Abramovay (1992) e Lamarche (1993). Para Abramovay (1992), a agricultura familiar pode ser definida como aquela em que a gestão, a propriedade e boa parte do trabalho são realizadas por indivíduos que mantém entre si laços de parentesco. Lamarche (1993), por sua vez, compreende a produção agrícola familiar a partir de três elementos indissociáveis: trabalho, propriedade da terra e família.

De acordo com Minatto; Corrêa (2003, p. 92) “as explorações familiares adotam estratégicas variadas para viabilizar a reprodução social do grupo doméstico”. Assim, consistem em estratégias de sobrevivência, de reprodução social e econômica e de continuidade na atividade agrícola. Para essas autoras, essa lógica de reprodução é bastante heterogênea, já que a adoção de estratégias não apenas corresponde a um mecanismo de adaptação ao mercado. Isso porque, são três aspectos que a produção familiar busca quando se utiliza destas estratégias, ou seja, “permanecer no mercado, manter a unidade produtiva e se reproduzir” (MINATTO; CORRÊA, 2003, p. 94).

Nessa perspectiva de análise, optamos em caracterizar três principais estratégias adotadas pelos produtores familiares entrevistados: a primeira está relacionada à diversificação das atividades agrícolas; a segunda, diz respeito às estratégias utilizadas no processo de comercialização de produtos agropecuários; e, a terceira, por sua vez, mais atual, está relacionada ao desenvolvimento e/ou combinação de distintas rendas e atividades agrícolas e não agrícolas, dentro ou fora da unidade de produção.

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Como já constatamos, a principal dificuldade da produção agrícola familiar no Município de Presidente Prudente é a sua inserção e permanência no mercado, tendo em vista a ausência de um sistema organizado de comercialização agropecuária específico a esse segmento produtivo, bem como ao grau de exigência do mercado. Em virtude disso, as famílias rurais passam a combinar diferentes canais de comercialização agrícola, o que garante a obtenção de renda sem depender unicamente de um canal específico. Esse grupo representa 60% do total de produtores rurais entrevistados.

A combinação de distintos canais de comercialização é de certa forma acompanhada pela diversificação das culturas agropecuárias dentro da unidade familiar. Isso porque, uma das características essenciais da produção agrícola familiar no Município de Presidente Prudente não é a especialização produtiva, mas a diversificação das culturas agrícolas. Quando há especialização, o produtor familiar centra-se na produção de um produto cujo mercado se encontra direcionado ao mercado. Entre os produtores rurais do Município de Presidente Prudente, destacamos a especialização na fruticultura (12,5% do total de famílias entrevistadas), dada à importância adquirida pela Cooperativa Prudensafra na comercialização das frutas, em especial, da manga. A diversificação das culturas agrícolas é o que possibilita a combinação de diferentes canais de escoamento e de comercialização. Além disso, constatamos que 65% das famílias entrevistadas apostam na combinação de distintas rendas não agrícolas, tendo destaque o trabalho externo à unidade de produção, bem como a utilização da aposentadoria rural (renda de transferência social) como complemento orçamentário da família.

Dessa forma, o surgimento de unidades familiares pluriativas é um aspecto intimamente ligado às dificuldades intensificadas com a crise recente da agricultura. A pluriatividade parece, assim, constituir-se num processo de (re) estruturação do trabalho na unidade produtiva e de reprodução social e econômica da família, em detrimento da associação desse conjunto de dificuldades apresentadas e a falta de alternativas de emprego na agricultura.

É interessante observar que a pluriatividade também pode ser associada às principais modificações ocorridas no espaço rural, tais como: o avanço e o crescimento das ocupações rurais não agrícolas; a ampliação do trabalho informal; a superexploração da mão-de-obra

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familiar; e, o crescimento da população economicamente não agrícola. O rural, assim, é concebido por meio de sua multifuncionalidade e pelas complexas relações sociais, o que o torna plural, heterogêneo e desigual.

No espaço rural do Município de Presidente Prudente houve um crescimento significativo de pessoas que saem à procura de trabalho. Com a falta de alternativas de empregos na agricultura, muitos filhos de produtores rurais passam a desenvolver atividades fora da unidade produtiva, o que amplia a saída da população jovem existente nesse espaço, implicando, por sua vez, no processo de sucessão hereditária e continuidade da atividade agropecuária.

Em relação ao processo de comercialização agrícola, verificamos a expansão da fragilidade dos pequenos produtores, haja vista a existência de distintos agentes envolvidos no circuito produtivo. Tanto na Central de Abastecimento (CEASA) quanto nos supermercados e hipermercados do Município de Presidente Prudente, o produtor rural local não participa de forma significativa, pois os principais agentes envolvidos no abastecimento de produtos hortifrutigranjeiros são os comerciantes urbanos e/ou intermediários.

Conclusão

A partir do exposto é válido observar que o principal objetivo da família com o desenvolvimento dessas estratégias é sua permanência na terra. A propriedade fundiária é, assim, o principal aspecto de reprodução familiar, tornando a dinâmica interna das famílias rurais um elemento crucial de análise. Isso porque, é a partir dessa dinâmica interna que a unidade familiar desenvolve sua estratégia de reprodução, ou seja, é a família que organiza, gestiona e toma as decisões, conquanto, sabemos que cada família desenvolve um tipo de estratégia que responda suas necessidades, sejam essas de reprodução social ou de sobrevivência diante das dificuldades enfrentadas. No caso específico dos produtores rurais no Município de Presidente Prudente, as estratégias desenvolvidas vão além da produção e da comercialização, pois a mais significativa estratégia de reprodução se refere à combinação de rendas e atividades agrícolas e não agrícolas dentro ou fora da unidade produtiva, ou seja, a pluriatividade.

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Bibliografia

ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Paulo: Hucitec, Campinas: Editora da UNICAMP, 1992, 275 p. (Estudos Rurais, 12).

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Censos Demográficos do Estado de São Paulo de 1970 a 2000. Rio de Janeiro.

______ Censos Agropecuários do Estado de São Paulo de 1970 e 1995/96. Rio de Janeiro. LAMARCHE, H. (coord) Agricultura Familiar: comparação internacional. Trad. Ângela M. N. Tijiwa. Campinas: Editora da UNICAMP, 1993, Coleção Repertórios.

MINATTO, J. M.; CORRÊA, W. K. As estratégias de reprodução na agricultura familiar em Turvo (SC). Geosul, Florianópolis, v. 18, n. 36, p. 77 – 98, 2003.

Referências

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