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A controvérsia do trabalho infantil artístico: infração constitucional ou liberdade cultural?

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA PAULA ORLANDI RAMOS

A CONTROVÉRSIA DO TRABALHO INFANTIL ARTÍSTICO: INFRAÇÃO CONSTITUCIONAL OU LIBERDADE CULTURAL?

Tubarão 2019

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PAULA ORLANDI RAMOS

A CONTROVÉRSIA DO TRABALHO INFANTIL:

INFRAÇÃO CONSTITUCIONAL OU LIBERDADE CULTURAL?

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade.

Orientador: Prof. Francisco Luiz Goulart Lanzendorf, Esp.

Tubarão 2019

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Dedico esta monografia a todos aqueles que de alguma forma estiveram e estão próximos de mim, fazendo essa vida valer cada vez mais a pena.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que vem ajudando-me, guiando-me e preparando-me para a conclusão desta etapa da vida. Ele deu-me forças para não desistir nos momentos de maiores dificuldades.

Ao meu tio Orlandy, tio Dilo, que me ajudou e guiou-me para a conclusão dessa etapa. Ele que sempre foi, é e vai ser de supra importância em minha vida, sempre acreditou e incentivou-me desde pequena.

Ao meu namorado Vitor, queme deu forças para chegar até o final desta etapa, compartilhando momentos, apoiando-me, sendo crítico, quando necessário, ensinando e mostrando que, com muito estudos alcançaremos nossos objetivos.

Aos meus pais, pelo incentivo durante todos estes anos para o estudo, além de toda a ajuda fundamental para o meu crescimento.

Aos professores, que com sabedoria proporcionaram-me o conhecimento que utilizarei com ética e disciplina, e ao meu orientador, Professor Francisco Luiz Goulart Lazendorf, que me auxiliou durante esta etapa conclusiva de meus estudos.

E por fim, agradeço a mim mesma que apesar de todo o suporte e auxílio que tive ao longo dos anos, das pessoas que amo e que se preocupam comigo, eu também precisei acreditar em meu potencial e me levantar em diversos momentos, estes que ninguém poderia fazer nada por mim, além de mim mesma.

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Quando vejo uma criança, ela inspira-me dois sentimentos: ternura, pelo que é, e respeito pelo que pode vir a ser. (Louis Pasteur).

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RESUMO

O estudo aborda a controvérsia do trabalho infantil artístico ser consideradocomo qualquer trabalho infanto-juvenil que possua um fim econômico ou uma infração constitucional. Antes as crianças participavamde telenovelas, programas de TV, apresentações musicais, eram modelos fotográficos e de passarela. Com a internet, além dessas categorias, elas estão nas plataformas digitais, como Youtube e Instagram.Então, o objetivo desta pesquisa édescrever se o trabalho infantil artístico é uma infração constitucional ou uma liberdade cultural. Realizamos uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa de cunho exploratório nas doutrinas, na legislação e em estudos acerca do trabalho infantil artístico infanto-juvenil. Inicialmente, há uma breve conceituação de menor, criança e adolescente. Descrevemos a origem do trabalho infantil, o panorama histórico, sua evolução e das leis trabalhistas da criança e do adolescente, elencando seus órgãos protetores, sujeitos e função social. Estudamos as características do trabalho infantil, as restrições estabelecidas pelos órgãos de controle, e as proteções vigentes. Destacamos os casos de autorização judicial à criança e ao adolescente para exercerem o trabalho infantil artístico autorizados pelos órgãos.Se seguiram uma lista de exigências para que estivessem dentro da proteção legal, mostrando também as formas que podem ocorrer o trabalho artístico na mídia. Discorremos sobre as crianças que estão excluídas de nossos poderes constitucionais de proteção por estarem inseridas sob o regime de seus povos e comunidades culturais. Posteriormente, descrevemos as formas como o trabalho infantil artístico é exposto na era digital, elencando os princípios constitucionais aplicáveis. Enfatizamos os abusos psicológicos, morais e éticos que as crianças e adolescentes estão submetidas para obter a fama e o glamour, relatando casos de crianças e adolescentes que tiveram problemas devido à pressão familiar para serem artistas infanto-juvenis. Na sequência, expomos a realidade de crianças que aproveitam os frutos desse trabalho para mudar de vida. Os resultados alcançados foram: houve evolução das leis trabalhistas, mas somente com a Constituição de 1988e a Lei n⁰ 8.069/90, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente, as crianças e adolescentes tiveram consolidadas suas leis e direitos fundamentais; crianças e adolescentes nacionais e estrangeiras trabalharam e tiveram problemas psicológicos, envolvimento com drogas e álcool; casos de abusos dos

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pais-empresários, que usufruem dessa fonte de renda; o trabalho infantil artístico possui seus prós e contras, desde que seja feito de maneira correta e respeite as leis,só tem a valorizar a vida das crianças e adolescentes.

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ABSTRACT

The study addresses the controversy of artistic child labor to be considered as any child labor that has an economic end or a constitutional infraction. Before the children participated in soap operas, TV programs, musical presentations, were photographic models and of catwalk. With the internet, in addition to these categories, they are on digital platforms such as Youtube and Instagram. So, the purpose of this research is to describe whether artistic child labor is a constitutional offense or a cultural

freedom. We carried out a bibliographical research, of qualitative approach of exploratory nature in the doctrines, in the legislation and in studies on the infantile-juvenile artistic child labor. Initially, there is a brief conceptualization of the minor, child and adolescent. We describe the origin of child labor, the historical panorama, its evolution and the labor laws of the child and adolescent, listing their protective organs, subjects and social function. We study the characteristics of child labor, the restrictions established by the control bodies, and the current protections. We highlight the cases of judicial authorization to the child and the adolescent to carry out the artistic child labor authorized by the organs. They followed a list of

requirements to be within the legal protection, also showing the ways that artistic work in the media can occur. We talk about children who are excluded from our constitutional protection powers because they are inserted under the regime of their peoples and cultural communities. Subsequently, we describe the ways in which artistic child labor is exposed in the digital age, listing the applicable constitutional principles. We emphasize the psychological, moral, and ethical abuses that children and adolescents are subjected to for fame and glamor, reporting cases of children and adolescents who have had problems due to family pressure to be child and youth artists. In the sequence, we expose the reality of children who take advantage of the fruits of this work to change their lives. The results achieved were: there were changes in labor laws, but only with the 1988 Constitution and Law nº 8,069, of July 13, 1990, the Statute of the Child and Adolescent, children and adolescents have consolidatedt heir laws and rights fundamental issues; domesticand foreign children and adolescents worked and had psychological problems, involvement with drugs and alcohol; cases of abuse ofthe parents-entre preneurs, Who enjoy this source of in come; the artistic child labor has its pros and cons, as long as it is done correctly and respects the laws, only hás to value the lives of children and adolescents.

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LISTA DE SIGLAS

ART – Artigo

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente MC – Mestre de Cerimônias

MPT – Ministério Público do Trabalho

OIT – Organização Internacional do Trabalho ONU – Organização das Nações Unidas RNPI– Rede Nacional Primeira Infância

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Criança participando de uma aula na Happy Code ... 31 Figura 2 – Crianças forçadas a trabalhar nos sinais ... 36 Figura 3 – Lindsay Lohan em uma de suas diversas prisões... 41

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 14 1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA ... 14 1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 18 1.3 OBJETIVOS ... 18 1.3.1 Objetivo Geral ... 18 1.3.2 Objetivos Específicos ... 18 1.4 JUSTIFICATIVA... 19

1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS.... ... 20

2 PROGRESSO HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO EM RELAÇÃO AO TRABALHO INFANTIL ... 21

2.1 TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL ... 21

2.1.1 Evolução das leis de proteção ao trabalho das crianças e adolescentes 22 2.1.2 Proteção ao trabalho infantil e a convenção nº 138, de 1973. ... 23

2.2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 25

2.3 DEFINIÇÃO DE MENOR ... 27

2.4 DEFINIÇÃO DE CRIANÇA ... 27

2.5 DEFINIÇÃO DE ADOLESCENTE ... 28

2.6 TRABALHO EDUCATIVO ... 28

3 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO INFANTIL ARTÍSTICO ... 31

3.1 TRABALHO INFANTIL ARTÍSTICO: SUAS FORMAS DE APRESENTAÇÕES 31 3.2 RESTRIÇÕES ESTABELECIDAS PELOS ÓRGÃOS DE CONTROLE ... 33

3.3 PROTEÇÃO À INTEGRIDADE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE ... 35

3.4 CRIANÇAS E ADOLESCENTES EXCLUÍDOS DA PROTEÇÃO LEGAL ... 36

4 TRABALHO INFANTIL ARTÍSTICO: INFRAÇÃO CONSTITUCIONAL OU LIBERDADE CULTURAL ... 39

4.1 O TRABALHO ARTÍSTICO INFANTIL NA MÍDIA ... 39

4.2 DO GLAMOUR AO ABUSO ... 40

4.3 CONFLITOS PSICOLÓGICOS ... 41

4.4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS ... 43

4.5 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ... 44

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5 CONCLUSÃO ... 48 REFERÊNCIAS ... 50

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1 INTRODUÇÃO

O presente estudo propõe analisar se o trabalho infantil é uma liberdade cultural ou uma infração constitucional. Mostra a evolução das leis e os órgãos protetores responsáveis pelas crianças e adolescentes, quando deixaram de ser tratados apenas como meros coadjuvantes para seres em ascensão,a evolução de proteção e os órgãos protetores responsáveis.

Adentrando ao tema e sua controvérsia sobre os prós e contras do exercício laboral infanto-juvenil artístico e os frutos que trazem para os envolvidos. Mostrando a flexibilidade das leis e dos órgãos de poderes quando se trata do trabalho infantil artístico, possuindo sua admissão tanto no Estatuto da Criança e do Adolescente, na Convençãon⁰ 138 da OITe nas Leis Trabalhistas preceituadas em nossa Constituição vigente.

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

O estudo aborda a controvérsia do trabalho infantil, no qualexplora a questão de que se é uma opção viável ou não na sociedade em que vivemos atualmente. O trabalho infantil tem sua vedação no artigo 7º, inciso XXXIII da Constituição Federal, (BRASIL, 1988), para fins de impedir a exploração infantil, onde diz que:

Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menor de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (BRASIL, 1988).

Entretanto, para entender o mesmo, analisamos desde os primeiros registros de infância, onde no início não foi reconhecida como tal. Foi necessário passar por mudanças até terem a diferenciação do impacto que o trabalho tem para um adulto e para uma criança. O trabalho infantil apresentou-se nas mais diversas sociedades do mundo, embora pouco fosse discutido a sua relevância, pois tratava apenas de uma atividade comum e normal dentro do seu núcleo de convivência. É recente a consciência dos malefícios do trabalho precoce, de limitações de idade para o ingresso no mercado de trabalho e proteção especial às crianças.

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Oliva (2006, p. 60) afirma que o emprego de crianças e jovens sempre existiu desde os primeiros tempos, onde crianças sempre trabalharam junto as suas famílias e tribos sem que houvesse distinção entre eles. O trabalho era a concepção de aprendizado pelas práticas das atividades cotidianas e elementares para a sobrevivência da tribo a que pertenciam.

No Brasil, a construção social da infância foi criada por um olhar adulto, elitista e reprodutor das condições de desigualdades sociais, onde colocava a criança no seu lugar específico e necessário à imposição do seu poder. O trabalho infantil teve seu maior problema social na época da industrialização, em meados do século XVIII, onde crianças e adolescentes ocupavam lugares de adultos em várias funções industriais, agrícolas, comerciais e também na prestação de serviços sociais. A primeira iniciativa de proteção ao trabalho infantil iniciou-se em 1825, através de um decreto promulgado.Porém, somente em 1854 é que tomou força essa proteção, pois o ensino foi regulamentado e passado a ser obrigado para todas as crianças e adolescentes.(CUSTÓDIO; VERONESE, 2015, p. 11).

Contudo, o decreto não tinha abrangência total, apenas as crianças da elite recebiam tratamento diferenciado sendo privilegiado o acesso à educação. Para as crianças escravas e para as negligenciadas não existia essa proteção. Com isso, as crianças de baixa renda que viviam à margem da sociedade, foram excluídas, ocorrendo uma dupla exclusão aos direitos sociais, ocorrendo a não inserção em sociedade com as outras crianças e a não educação.

Com a Constituição Federal de 1988 e a Lei nº8.069/90, as crianças e adolescentes passaram a dispor de um conjunto de normas protetivas em função de sua condição especial de pessoa em desenvolvimento. O artigo 227, inciso III da Constituição Federal, (BRASIL, 1988) diz que:

Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, a profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:

I - Idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII;

II – Garantiade direitos previdenciários e trabalhistas;

III - Garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola;(BRASIL, 1988).

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Apesar de todas as proteções regulamentadas, sabemos que o Brasil é um país multicultural, tendo a veia artística forte. Logo, vemos crianças com o sonho de serem famosas, exercendo, assim, o chamado trabalho infantil artístico, que é regulamentado pelo artigo 8º da Convençãonº 138 da OIT, onde é admitido o trabalho infantil artístico, com devida autorização judicial. O alvará tem fixado o número de horas e condições nas quais as crianças podem exercer sua atividade.

Com essa autorização, as crianças têm suas carreiras iniciadas desde muito cedo, agenciadas por seus pais, tutores e por agentes. No entanto, sabemos que toda história existe dois lados. Os responsáveis podem estar explorando as crianças para obterem rendas, pois o trabalho infantil é uma saída para uma situação financeira familiar melhor e mais estável. Os pais acabam forçando seus filhos a seguirem uma carreira artística e não percebem os prejuízos físicos e psicológicos que podem provocar.

Um exemplo exposto sobre issofoi o trabalho infantil artístico de crianças que se denominam Mc’s e de crianças que trabalham em plataformas digitais. Os Mc’sinfantis são crianças com idade a partir de 7 (sete) anos que se vestem e se comportamcomo adultos, apresentando-se cantando músicas com conotação sexual. O caso mais recente foi o de Gabriela Abreu Severino, mais conhecida como Mc Melody, com apenas 11 anos e com mais de 3.5 milhões de seguidores em redes sociais.

Mc Melody,postava constantemente em suas redes sociais fotos fazendo caras e bocassensuais, roupas decotadas e maquiada como adulta. Seu empresário é seu próprio pai, Thiago Abreu, conhecido como Mc Belinho. O caso de Mc Melody é tão sério, que já é a segunda vez que seu pai é denunciado ao Ministério Público por erotização infantil da carreia da filha.A primeira vez foi quando a mesma tinha 7 (sete) anos.

Outro exemploexposto é o trabalho infantil artístico das crianças das plataformas digitais, os chamados youtubers mirins. São crianças de zero a 12 anos que produzem conteúdos de vídeos na internet para outras crianças, acumulando milhões e milhões de seguidores e visualizações. Atualmente, existem cursos para youtubers, voltado para crianças e jovens de 8 (oito) a 14 (catorze) anos.

Sabemos que a Constituição Federal de 1988 aplica ampla liberdade de expressão, inclusive para a artística. Por outro lado, não podemos negar que a liberdade estende à educação e criação artística de crianças e adolescentes.

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Marques (2009, p.10) diz:

Desse modo, o trabalho artístico realizado por menores de dezesseis anos é, em princípio, proibido, mas pode ser aceito, com a devida autorização judicial e cautela com respectivas à proteção integral, desde que seja essencial, como por exemplo, na representação de um personagem infantil.

Outros pensadores também admitem a maleabilidade do trabalho infantil artístico, desde que tragam benefícios ao artista mirim e sejam acompanhados dos devidos cuidados. Entretanto, o que vemos nos casos dos Mc’s é uma erotização infantil, onde a criança não é criança, atua como um adulto com músicas e cenas degradantes. Apesar do absurdo que essas crianças passam, temos que pensar sobre o porquê de isso acontecer, devido à vida que ele levava antes.

Uma criança Mc chega a ganhar um cachê que ultrapasse R$ 40 mil reais por show. Logo, a família vê uma oportunidade de conseguir sua renda a partir dessa exploração do trabalho, mesmo cumprindo as regras impostas pela autorização judicial. Casos como esses violam a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Convenção na ONU sobre os direitos da criança.

Enfatizamos que ao aceitarmos esse tipo de trabalho, que nesses casos se configuram como uma “salvação” dessas crianças e de seus familiares, muitas oriundas de famílias pobres, da periferia, sem estudos. Acreditamosque essa situação se apresente como a única oportunidade de ter uma vida melhor, leva-nos a refletir sobre se esse trabalho infantil é saudável para essas crianças, e se essa realmente é a chance de suas vidas, ou apenas exploração de seus responsáveis.

Outro trabalho artístico infantil muito comum, que já ocorre há anos, são as crianças que atuamem programas televisivos, programas de auditórios e nas grandes telas. O trabalho artístico precisa ser bem incorporado pela psique infantil, principalmente quando sabemos que muitas carreiras são rápidas e passageiras, onde pode ocorrer a frustação das crianças. Elas só olham para o lado da fama e esquecem o custo que isso pode causar, porque o trabalho iniciado tão cedo pode acarretar diversos problemas na vida adulta.

Casos semelhantes são conhecidos mundialmente, como a situaçãoda cantora norte americana Demitria (Demi) Lovato, que ano passado precisou ser internada às pressas devido a uma overdose. Demi começou sua carreira aos 5 (cinco) anos na televisão americana e desde nova sofreu com a pressão psicológica

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e padrões decomportamento, criando assim hábitos de compulsão e o consumo de drogas, hoje em dia, ela já está fora da clínica de reabilitação.

Existem casos assim em todos os lugares, aqui no Brasil, o mais recente foi de Yasmin Gabrielle atriz/cantora mirim que quando criança apresentava um quadro infantil na televisão. Após sair da televisão, não conseguiu mais trabalho de apresentadora e nem contratado com gravadoras. Tinha depressão e transtornos até que esse ano, aos 17 (dezessete) anos de idade tirou a própria vida.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Com isso fica a controvérsia sobre a validade do trabalho infantil artístico, o incentivo das famílias com caráter puramente financeiro, da autorização para isso acontecer, e a interpretação da liberdade de expressão, caracterizando o trabalho infantil artístico como uma opção de ajuda ou apenas uma das tantas explorações infantis. E assim, a pergunta de pesquisa é se o trabalho infantil artístico é uma infração constitucional ou liberdade cultural?

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral do trabalho é descrever se o trabalho infantil artístico é uma infração constitucional ou liberdade cultural.

1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Apresentar os conceitose a evolução do trabalho infantil, os princípios basilares do Direito da Criança e do Adolescente e do Direito de Trabalho;

b) elencar os órgãos protetores das crianças e adolescentes, caracterizando a evolução das leis do trabalho infantil;

c) destacar as infrações e as benfeitorias do trabalho infantil artístico e suas consequências;

d) levantar os casos de trabalho infantil artístico atuais, comparando-os com os documentos supra apresentados.

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1.4 JUSTIFICATIVA

Atualmente, a exploração do trabalho infantil no Brasil ainda persiste, sendo amenizada e mascarada no decorrer do tempo pelas diversas legislações e tratados firmados. O país tem uma diversidade cultural, na qualo trabalho infantil artísticoé aceito com mais facilidade devido a essa memória cultural.

Contudo, o trabalho infantil tem uma maior aceitação e naturalidade das famílias devido àgrande desigualdade existenteno país e, também devidoà precariedade do ensino básico (fundamental e médio), não proporcionando às crianças e aos adolescentes o refúgio do trabalho.

Devido a esses fatos, o referente estudo é elaborado para a exposição dessa controvérsia, se o trabalho infantil artístico é uma ajuda ou não para as crianças e os adolescentes, pois apesar de ser considerado uma arte e ter liberdade cultural, o mesmo não deixa de ser trabalho, que possui requisitos próprios, como: subordinação, pessoalidade, não eventualidade e onerosidade. E apesar de ser um trabalho artístico, o mesmo pode ser tão prejudicial para o desenvolvimento da criança e adolescente como qualquer outra espécie de trabalho infantil.

O trabalho artístico, mesmo propiciando aos sujeitos certa formação cultural e ter uma alta remuneração, exige elevado esforço, dedicação e treinamento ao ser executado. Dessa forma, podem ocasionar consequências danosas, tais como falta de dedicação escolar, dificuldade de desenvolvimento físico, psicológico, emocional, moral e social de crianças e adolescentes.

Ante o exposto, o estudo torna-se relevante para perceber, refletir e alertar para o que existe por traz desse trabalho, pois apesar das crianças e adolescentes fazerem sucesso e serem grandes artistas, não deixam de ser seres humanos que estão em crescimento e em desenvolvimento intelectual.Muitas vezes, eles não sabem o significado de suas ações, como as crianças Mc’s, que cantam músicas com apologia ao crime e/ou ao sexo, ou aquelas que atuam na televisão, interpretando papéis diferentes de suas realidades.

Existem outros estudos semelhantes a esse, os quais abordam o tema do trabalho infantil ser um trabalho ou uma liberdade cultural, analisam especificamente o caso midiático da atriz e apresentadora Maísa Silva.

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1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS

O presente estudo monográfico foi estruturado em três capítulos, mais a introdução e a conclusão, e tem como finalidade analisar se o trabalho infantil artístico é uma liberdade cultural ou uma infração à constituição.

Para tanto, este trabalho foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica, de cunho exploratório e abordagem qualitativa.

No primeiro capítulo serão abordados inicialmente o progresso histórico da legislação em relação ao trabalho infantil, a evolução das leis de proteção ao trabalho das crianças e adolescentes, a proteção do trabalho infantil após a OIT e, por fim, a convenção de nº 138, de 1973. No mesmo capítulo é visto sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, onde é feita a conceituação detalhadamente sobre o menor, a criança e o adolescente, finalizando com uma exposição do que é o trabalho educativo.

No segundo capítulo apresentam-se as características do trabalho infantil,a apresentação artística e trabalho infantil, as restrições estabelecidas pelos órgãos de controle, a proteção do interesse da criança e do adolescente e as crianças e adolescentes excluídos da proteção legal.

Passando ao terceiro capítulo, tema central deste estudo monográfico, serãoestudadosse o trabalho infantil é uma infração constitucional ou liberdade cultural para a criança e o adolescente. Ainda, inicia-se a abordagem quanto o trabalho artístico infantil na mídia, doglamour ao abuso, os conflitos psicológicos que essas crianças e adolescentes são obrigados a passar, os princípios constitucionais aplicáveis, como o princípio da dignidade humana, e por fim sobre a liberdade ao trabalho que todos possuem.

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2 PROGRESSO HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO EM RELAÇÃO AO TRABALHO INFANTIL

O capítulo explana a evolução do trabalho da criança e do adolescente desde os primórdios, onde eles não eram reconhecidos e não possuíam seus direitos como crianças e adolescentes, tratados com descaso e como simples coadjuvantes na história que estava se formando.

2.1 TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL

Os primeiros registros históricos da criança e do adolescente trabalhadores do Brasilforam na época das navegações portuguesas, quando chegavam por aqui na condição de pajens e grumetes.

Segundo Ramos (1999, p. 22 e 30), as crianças recrutadas eram órfãos desabrigados e crianças de famílias pedintes.Normalmente, eram selecionados meninos entre 9 (nove) e 16 (dezesseis) anos para servir como grumetes nas embarcações lusitanas. As crianças de famílias portuguesasmenos afortunadas eram selecionadas também para servirem como pajens, as quais eram confiadas tarefas bem mais leves e menos arriscadas do que as impostas aos grumetes. Porém, não se descaracterizava como exploração infantil.

Em 1549, ocorreu a instalação da Companhia de Jesus, na qual os jesuítas implantavam um sistema rigoroso de educação e quando maiores, eram inseridos na cultura de trabalhopelo molde europeu. Porém, somente as crianças filhas de portugueses tinham o direito à educação e posteriormente algumas crianças indígenas, com o intuito de convertê-las ao cristianismo.As crianças de famílias pobres ficavam à mercê da sociedade sem estudo e sem nenhum tipo de instrução.

O período imperial brasileiro tratou de estabelecer um lugar específico da criança no trabalho desde a mais terna idade:

Por volta dos 12 anos, o adestramento que os tornava adultos estava se concluindo. Meninos e as meninas já exerciam a profissão conforme seu sobrenome: Chico Roça, João Pastor, Ana Mucama. Alguns haviam começado muito cedo (...). Entre os quatro e os onze anos, a criança ia tendo o tempo paulatinamente ocupado pelo trabalho que levava o melhor e o mais do tempo (...), aprendia um ofício e a ser escravo: o

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trabalho era o campo privilegiado da pedagogia senhorial. (GÓES; FLORENTINO,1999, p. 184-185).

Com o estabelecimento capitalista do século XIX, as crianças tornaram-se objeto de fácil exploração trabalhista. A criança operária é incorporada no cenário brasileiro, principalmente no setor têxtil. Já no golpe militar de 1964, o Brasil adota uma Política Nacional do Bem-Estar do Menor, prevendo seus direitos e sua inserção no mercado de trabalho como uma alternativa de assistência social, deixando o Estado assumir a responsabilidade e ocultando a exploração das crianças e adolescentes.

Somentena década de 80 surgem os primeiros movimentos sociais em defesa do reconhecimento dos direitos da criança e do adolescente a partir das inúmeras denúncias de situações degradantes de exploração e insalubridade a que eram submetidas. Apenas em 1990, foi ditada a Lei 8.069 de 13 de julho, nominada como Estatuto da Criança e do Adolescente, onde a exploração passou a ser um assunto nacional e de grande atenção pública. Possibilitou a construção de garantias e direitos da criança e do adolescente.

2.1.1 EVOLUÇÃO DAS LEIS DE PROTEÇÃO AO TRABALHO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

As leis trabalhistas que protegem e resguardam a criança e ao adolescente estão inseridas em um conceito histórico relativamente recente. Na primeira constituição em 1824, as crianças e os adolescentes não possuíam amparo constitucional e social.

As crianças eram consideradas e tratadas como se fossem pequenos animais de estimação, verdadeiros brinquedos. A partir dos 7 (sete) anos, a criança estava constantemente com os pais nas tarefas do cotidiano, crescendo à sombra destes, o que só mudaria mais tarde, quando passavam a desenvolver pequenas atividades, trabalhar, estudar ou aprender algum ofício como aprendizes (DEL PRIORE, 2010, p. 84).

A razão disso, dava-seaos interesses político-sociais da elite brasileira da época, onde ocorria o desenvolvimento da indústria brasileira, na qual mão de obra infantil e feminina eram usadas vastamente, principalmente na indústria têxtil. As crianças e os jovens eram recrutados desde muito cedo, havendo a crença de que

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deveriam ser preparados para o trabalho e, assim, resolver-se-ia o problema do menor abandonado e delinquente (RIZZINI, 2010, p. 377).

Com a promulgação da Constituição de 1891 e pelo Decreto nº 1.313, de 17 de janeiro do mesmo ano, procurou regularizar o trabalho infantil nas fábricas da capital, estabelecendo que a partir dos 8 (oito) anos a criança poderia exercer a função de aprendiz e aos 12 (doze) anos poderia ser efetivado no trabalho.

Com a Constituição de 1934 foram introduzidas duas novas ordens relacionadas à ordem social e econômica, englobando família, educação e cultura. Deu-se início ao amparo à maternidade e infância, onde acolhia as famílias que possuíam muitos filhos, além de fazer a proteção da juventude contra exploração e abandono físico, moral e intelectual (BONAVIDES; ANDRADE, 1990, p. 321-325).

Após passar por mais duas constituições com caráter autoritário e centralizador, com pequenas ou nulas mudanças significativas no trabalho da criança e do adolescente, a Constituição de 1988 em conjunto o a Lei n⁰ 8.069/90, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) veio para consolidar a proteção deles. A partir de sua entrada em vigor, as crianças e adolescentes começaram a ser reconhecidos como seres em desenvolvimento, que possuíam dignidade e sua própria personalidade. Passaram de coadjuvantes da vida familiar e cumpridores de deveres, para a posição central na família, alcançando seus direitos promovidos e protegidos.

2.1.2 PROTEÇÃO AO TRABALHO INFANTIL E A CONVENÇÃO Nº 138, DE 1973.

A convenção nº 138, de 1973, foi uma reunião do Conselho de Administração da Repartição Internacional do Trabalho, em Genebra - Suíça, abordando sobre a idade mínima de admissão ao emprego. Tendo decidido adotar diversas propostas relativas à idade mínima para a admissão, que substitua gradualmente os atuais instrumentos, aplicáveis a limitados setores econômicos, com vistas à total abolição do trabalho infantil, tendo em vista seu art. 1º, trata da implementação para todos os países participantes (BRASIL, 2002):

Art. 1º - Todo País-Membro em que vigore esta Convenção, compromete-se a seguir uma política nacional que assegure a efetiva abolição do trabalho

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infantil e eleve progressivamente, a idade mínima de admissão a emprego ou a trabalho a um nível adequado ao pleno desenvolvimento físico e mental do adolescente. (BRASIL, 2002).

Juntamente, asseguradaa efetiva abolição do trabalho infantil, é também estipulada uma norma onde a admissão ao trabalho ou emprego nunca deverá ser inferior à idade de conclusão da escolaridade, ou, em qualquer hipótese, não inferior a 15 (quinze) anos.

Apesar da norma estabelecer que não terá possibilidade de admissão trabalho ou emprego o menor de 18 (dezoito) anos, o art. 7º, em caráter permissivo, estipula que:

Art. 7⁰ - 1. As leis ou regulamentos nacionais poderão permitir o emprego ou trabalho a pessoas entre treze e quinze anos em serviços leves que:a) não prejudiquem sua saúde ou desenvolvimento, eb) não prejudiquem sua frequência escolar, sua participação em programas de orientação vocacional ou de treinamento aprovados pela autoridade competente ou sua capacidade de se beneficiar da instrução recebida. (BRASIL, 2002).

Mas a parte mais importante da convenção para o requerido trabalho, com certeza, é o art. 8⁰, onde é autorizado o trabalho infantil artístico, tendo seus requisitos mínimos para proceder com sua autorização.

Art. 8⁰ - 1. A autoridade competente, após consulta às organizações de empregadores e de trabalhadores concernentes, se as houver, poderá, mediante licenças concedidas em casos individuais, permitir exceções para a proibição de emprego ou trabalho provida no Artigo 2º desta Convenção, para finalidades como a participação em representações artísticas.2. Licenças dessa natureza limitarão o número de horas de duração do emprego ou trabalho e estabelecerão as condições em que é permitido. (BRASIL, 2002).

O Brasil é signatário da Convenção nº 138 da OIT, onde as normas previstas nessa convenção internacional são aplicáveis em nosso ordenamento jurídico. A versa sobre a proteção e os resguardos dos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes, abordando seus direitos humanos. Segundo Marques (2009, p. 2):

O Diploma da OIT ora comentado fixa normas que objetivam resguardar a dignidade das crianças e adolescentes, configurando-se assim como uma norma de proteção aos direitos humanos, devendo por isso ser encarada como uma disposição com valor de norma constitucional, como se verá no item seguinte. Conveniente, ainda que brevemente, dizer por que a Convenção OIT nº 138 deve ser encarada como norma protetiva dos direitos humanos.

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Dessa forma, a Convenção da OIT versa sobre a idade mínima para o labor infanto-juvenil, por conter caráter protecionista, que tem como objetivo resguardar as crianças e adolescentes, da ganância capitalista, onde apenas enxergam uma fonte de renda. Este caráter protetivo procura garantir as condições necessárias para o seu desenvolvimento físico, moral, intelectual e psicológico, sendo levada em contacomo uma norma internacional de direitos humanos amparando as crianças e adolescentes.

Com base na Convenção nº 138 da OIT, a permissão normativa existe, podendo ser exercido o trabalho infantil artístico. Contudo, perante o silêncio do art. 8º da OIT, deve-se fazer uma análise entre a Convenção da OIT e o Texto Constitucional, para que não haja uma confusão sobre a autorização do trabalho infantil com a exploração do abuso do trabalho infantil. A própria Convenção já tem definido as possibilidades de permissões em casos excepcionais, que ainda dependem da autorização da autoridade competente.

Tendo em vista isso, é errônea a argumentação de que a permissão do art. 8⁰ da Convenção de nº 138 da OIT, não teria aplicabilidade no direito brasileiro, pois essa norma internacional foi devidamente recepcionada pelo nosso ordenamento jurídico, e possui plena eficácia, pois é uma norma garantidora de direito humanos de crianças e adolescentes.

Sendo assim, é equívoco, também, dizer que o conflito entre o art. 7º, inciso XXXIII da CF, e o art. 8º da Convenção nº 138 da OIT, seja um obstáculo para o exercício do labor artístico, apesar de parecerem dispositivos adversos. O artigo da Constituição versa sobre as limitações do trabalho infantil artístico, para evitar possíveis abusos de direitos.

2.2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A Lei 8.069/90, de 13 de julho de 1990, também conhecida por Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, é o instituto de regularização os direitos da criança e do adolescente concomitante com o art. 227 da Constituição Federal de 1988.

Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e

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comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988).

A criança eo adolescente passam a ser vistos como seres humanos, sujeitos de direito, que estão em desenvolvimento tanto físico, como psicológico e social, e devem receber o máximo de apoio e dedicação, em virtude de seu desenvolvimento. O ECA não serve somente para admitir a Declaração Universal da Criança, mas também para reconhecer e aplicar que a criança e ao adolescente são indivíduos e cidadãos, exigindo assim um tratamento especial e prioritário.

Para garantir esse tratamento, o ECA conta com um Sistema de Garantia de Direitos, que faz questão da obrigação de uma política de atendimento aos direitos específicos da criança e do adolescente, isto está preceituado no art. 86 do Estatuto, onde diz que (BRASIL, 1990):

Art. 86 - A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.(BRASIL, 1990).

Este Sistema de Garantia de Direitos é de grande importância, para o funcionamento do atendimento especial, pois ele preceitua sobre os eixos fundamentais do ECA, que são delimitados como: a promoção, que cuida do rito da política de atendimento dos direitos em conjunto com os outros órgãos de política pública; a defesa que é composta pelos Conselhos Tutelares, Centros de Defesa, Ministério Público e outros; e o controle social que é a base que garante o cumprimento dos preceitos legais. Esse Sistema deve ser praticado pelos órgãos governamentais e não governamentais. (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2013).

Sobre o trabalho infantil, o ECA possui artigos que citam a vedação de qualquer forma de trabalho até os 13 (treze) anos de idade, sobre as condições para o trabalho protegido, como na forma de aprendiz, a partir dos 14 (catorze) anos. Porém, o ECA também preceitua que o trabalho infantil artístico pode ser realizado, independentemente da idade, desde que seja autorizado judicialmente, esteja dentro da proteção legal e siga as regras estabelecidas pelo alvará judicial expedido pelo juiz que deliberou a decisão.

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2.3 DEFINIÇÃO DE MENOR

Segundo a definição, menor é “a pessoa que ainda não atingiu a maioridade”. Mas juridicamente falando é um termo de sentido vago, onde é usado para definir o indivíduo menor de 18 (dezoito) anos. (AURÉLIO, 2010).

Desde a implementação do ECA, o termo “menor de idade” é considerado inadequado para a definição de criança e adolescente, pois possui um tom de desdenhativo. A criança e o adolescente, segundo a legislação em vigor do Brasil, já são considerados sujeitos de direito.

Podemos identificar a criança e o adolescentecomo seres que estão sob a tutela da família ou outros responsáveis, que tomam as decisões por eles, enquanto não gozarem de seus direitos como cidadãos.

2.4 DEFINIÇÃO DE CRIANÇA

Segundo Ariès(1981, p.4), criança é um ser humano no que está no início de seu desenvolvimento, são englobados todos os seres humanos que possuem entre 18 (dezoito) meses até 12 (doze) anos de idade. Até antes do século XV, a criança não tinha seus próprios direitos, sendo vista apenas como um adulto em miniatura, sendo introduzida na sociedade como adultos, vestida como tal e servindo de mão de obra também.

Essa fase de desenvolvimento é muito importante e relevante para o adulto que ela irá se tornar, pois é nessa faixa etária onde a criança irá desenvolver suas características, padrões de comportamento e seu caráter. Sendo de supra importância o seu bem-estar e núcleo social, serem saudáveis e positivos.

Contudo, a demora da concepção de criança na sociedade foi tanta, que por muitos anos, eram impossibilitadas de terem seus próprios direitos e deveres, que fossem condizentes com suas características e fases de desenvolvimento. Como relata Passeti (1999, p. 277), apenas em 1927, foi criado o Código de Menores, onde era abordado o “trabalho do menor”.Em 1943, foi incorporado na edição da Consolidação das Leis do Trabalho e somenteem 1990 que foi criada a Lei 8.069, de 13 de julho, que é denominada como Estatuto da Criança e do Adolescente.

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2.5 DEFINIÇÃO DE ADOLESCENTE

Ariès, (1981, p.4) relata que o adolescente é o ser humano que está em transição da infância para a idade adulta, são os seres humanos que estão na faixa etária dos 12 (doze) aos 18 (dezoito) anos.

É caracterizadapelo seu desenvolvimento de identidade e abandono de seu comportamento social, mental e físico infantil, adquirindo suas características competentes para assumir os deveres e papéis sociais da idade adulta.

Nesta fase,o adolescente está mais ciente de seu papel na sociedade e na vida que está criando, podendo assim ser inserida com tarefas mais sérias e que necessitem de sua responsabilidade e seu comprometimento. Podendo ser inserido no mercado de trabalho, com proteção trabalhista, a partir dos 14 (catorze) anos, como menor aprendiz. (BRASIL, 1943).

Art. 403 - É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos. (BRASIL, 1943).

A vigência dos artigos 402 ao 441 da Consolidação das Leis Trabalhistas e na Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, onde são determinadas as condições que o adolescente pode exercer seu trabalho, o horário e as suas funções.

2.6 TRABALHO EDUCATIVO

O ECA além de fazer a proteção integral da criança e do adolescente,ajuda na iniciação do menor ao mercado de trabalho, com o Trabalho Educativoque está previsto no Estatuto, no seu art. 68 (BRASIL, 1990), onde diz que:

Art. 68 – O programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob responsabilidade de entidade governamental ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao adolescente que dele participe condições de capacitação para o exercício de atividade regular remunerada. § 1⁰ entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo.

§ 2⁰ a remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a participação na venda dos produtos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.(BRASIL, 1990)

O Trabalho Educativo é todo o trabalho que promove a parceria entre a escola e o labor na medida exata, prevalecendo em maior parte o aspecto educativo

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para que não seja ensinado apenas o crescimento profissional, mas também, promova a educação do jovem aos aspectos morais e sociais que o trabalho esteja inserido. Oliveira (2009, p.198) conceitua o trabalho educativo como:

a) em que há exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando; b) do qual resulta produção; c) em que as exigências pedagógicas prevalecem sobre da produção; d) do qual se aufere remuneração, que não desfigura ou descaracteriza o caráter educativo.

Desta forma, este trabalho tem que estar em conjunto com um projeto pedagógico onde procure desenvolver o amadurecimento pessoal e social do jovem, o educando com a prática do labor. Sendo assim, o trabalho educativo é resultado de um programa social que assegura aos jovens que nele se inserem, principalmente para aqueles de baixa renda, onde necessitam trabalhar para ajudar nos proventos familiares. A proteção que o trabalho educativo dá a esses jovens uma profissionalização adequada feita pela junção da educação social, moral e a profissionalização, via os programas sociais disponíveis pela Lei 8.069/90. Ainda,

Não uma atividade laborativa qualquer, mas a que se insere em projeto pedagógico que vise ao desenvolvimento pessoal e social do educando. Portanto o ritmo, o desenrolar das atividades deverá ser ditado, sob pena de inversão de meios e fins, por um programa preestabelecido. Não uma produção qualquer, mas aquela cujo produto possa ser vendido dentro das exigências de qualidade e competitividade. Uma produção, pois, que implique custo e benefícios, capaz de remunerar quem a executa. (OLIVEIRA, p. 222, 2009).

Embora haja uma maior evidência sobre o âmbito de desenvolvimento pessoal e social, o produtivo é de supra importância, pois é devido a ele que o jovem irá praticar suas orientações e lições, as quais irão lhe preparar para o mercado de trabalho. Contudo, é salientado, que as empresas que recebem o jovem para a execução do trabalho educativo, não possuem autonomia própria para lhe atribuir qualquer atividade. Devem cumprir o programa de formação elaborado pela entidade educacional, a qual pode ser uma empresa, uma instituição não governamental ou outra entidade. (BRASIL, 1990).

Algumas das modalidades de trabalho educativo que esses jovens podem praticar são: o contrato de aprendiz; o estágio curricular; o estágio profissionalizante e o estágio em conjunto com a escola. Outros tipos de trabalhos que não possuam finalidade social, educativa ou moral irão ser classificados como exploração de mão de obrajovem.

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3 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO INFANTIL ARTÍSTICO

Este capítulo irá explicar o que é o trabalho infantil artístico. Será exposto e fundamentado sobre o conhecimento desse trabalho que é aceito e protegido por lei, para as crianças e adolescentes.

Será abordado sobre as apresentações artísticas, suas características, suas restrições, a proteção que é concedida a criança e ao adolescente e sobre as crianças e adolescentes que estão excluídos da proteção legal.

3.1 TRABALHO INFANTIL ARTÍSTICO: SUAS FORMAS DE APRESENTAÇÕES

O trabalho infantil artístico é considerado qualquer trabalho infanto-juvenil que possua um fim econômico. Anteriormente, as crianças participavam de telenovelas, programas de TV, apresentações musicais, modelos fotográficos e de passarela.Com ainternet, além dessas categorias elas também estão nas plataformas digitais, como Youtube e Instagram. Para Cavalcante (2011, p. 46), “é trabalho infantil artístico quando o desempenho da criança ou adolescente será explorado comercialmente por terceiros”.

Apesar de o trabalho infantil ser alvo de controvérsias e debates, é aceito de forma protegida e integrada em lei, como o trabalho infantil artístico. A apresentação artística feita por essas crianças vem de muitos anos, onde o trabalho infantil é visto como algo absolutamente normal pela sociedade em que estamos incluídos.

Uma das principais causas do trabalho infantil artístico é o aspecto econômico, onde muitas vezes é como uma solução de um problema financeiro familiar. Os pais incentivam de uma forma mais intensa os filhos a seguir carreira artística, sem perceber e se importar com prejuízos físicos e psicológicos que podem decorrer dessa atividade.

É necessário ter um olhar atento sobre essa pressão causada pelos pais e agenciadores dessas crianças e adolescentes, visto que em alguns casos a compensação econômica alcançada não fica para o artista mirim, mas sim para quem está utilizando a imagem ou trabalho para contrair seus próprios lucros, visto que o trabalho ocorre por “permuta”, uma troca de imagem por presentes como roupas e brinquedos, ou por, uma divulgação da imagem do menor.

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Principalmente, nessa era de rede social, onde o crescimento de “Youtubers” infantis, pessoas que fazem vídeos na plataforma Youtube, configurando-se como algo bastante comum. Atualmente existe uma escola, a HappyCode, que possui filiais no Brasil, Portugal, Espanha e Estados Unidos, onde ela dá aulas para as crianças se prepararem para o mercado de trabalho, conforme as necessidades e habilidades digitais do século 21, como desenvolvimento de aplicativos, de games e robótica, tendo um curso exclusivo de como fazer vídeos de sucesso para o Youtube.

Figura 1 – Crianças participando de uma aula na HappyCode.

Fonte: HappyCodeSchool(2019).

Em 2018, a revista Forbes listou os “10 YouTubers Mais Bem Pagos de 2018”. A lista é liderada por Ryan ToysReview, de apenas 07 (sete) anos de idade, que obteve de lucro um rendimento de US$ 22 (vinte e dois)milhões. (FORBES, 2018).

Ryan é como qualquer outro garoto de 7 anos: ama Lego, trens, carros, a Disney e seus 17 milhões de seguidores, que lhe renderam 26 bilhões de visualizações. O mais recente lançamento do crítico dos brinquedos é uma linha de assinatura de bichos de pelúcia colecionáveis, que contam com vestuário e acessórios, vendidos no Wal-Mart. (FORBES, 2018).

Devido a esse fato,as empresas procuram essas crianças “famosas” na internet para divulgarem seus produtosvoltados para o público infantil. Usam de “permuta”, muitas vezes não efetuam o pagamento em dinheiro para esse trabalho infantil, mas sim com presentes. Sendo necessária distinguir quando o trabalho

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infantil é remunerado economicamente e quando é remunerado sem fins lucrativos. Cavalcante (2011, p. 46) afirma:

Embora possam ser classificadas como espetáculos ou representações artísticas, as atividades artísticas realizadas sem fins econômicos não caracterizam o trabalho infantil. Assim, quando a finalidade imediata é pedagógica e não comercial, não se pode falar em trabalho artístico.

Todavia há crianças e adolescentes que trabalham da mesma maneira e intensidade que adultos fazem produzindo seus conteúdos, seus ensaios, suas apresentações e coreografias. Caracteriza-seassim, a existência do trabalho infanto-juvenil, que tem a sua proibição vedada, visto que o trabalho infantilartístico é permitido e cultivado no meio artístico.

3.2 RESTRIÇÕES ESTABELECIDAS PELOS ÓRGÃOS DE CONTROLE

Apesar da Constituição Federal de 1988 ter consagrado a liberdade de expressão,não é possível negar a expressão artística das crianças e adolescentes. A proibição do trabalho para menores de 16 anos, com exceção na condição de menor aprendiz, não deve ser considerada absoluta, principalmente quando se trata do trabalho infantil artístico, pois todos temos garantia do direito à livre manifestação artística e cultural.

Conforme Mascaro (2003, p. 846), “há situações eventuais em que a permissão para o trabalho do menor em nada o prejudica, como em alguns casos de tipos de trabalho artístico, contanto que acompanhado dos devidos cuidados.”

No âmbito constitucional o trabalho infantil artístico deve estar disposto no rol de inciso do artigo 149 do ECA, (BRASIL, 1990), onde dispõe:

Art. 149 – Compete à autoridade judiciaria disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:

I – a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável, em:

a) estádio, ginásio e campo desportivo; b) bailes ou promoções dançantes; c) boate ou congêneres;

d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas; e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão. II – a participação de criança e adolescente em:

a) espetáculos públicos e seus ensaios; b) certames de beleza.

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciaria levará em conta, dentre outros fatores:

a) os princípios desta Lei; b) as peculiaridades locais;

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c) a existência de instalações adequadas; d) o tipo de frequência habitual ao local;

e) a adequação do ambiente a eventual participação ou frequência de crianças e adolescentes;

f) a natureza do espetáculo.

§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as determinações de caráter geral. (BRASIL, 1990).

A Consolidação das Leis Trabalhistas, no art. 405 traz um rol de restrições em locais que apresentam perigo a saúde física e moral da criança e do adolescente, podendo o trabalho infantil artístico ser inserido na alínea “a” do artigo supracitado, onde diz que:

Art. 405 - Ao menor não será permitido o trabalho:

I - nos locais e serviços perigosos ou insalubres, constantes de quadro para esse fim aprovado pelo Diretor Geral do Departamento de Segurança e

Higiene do Trabalho;

II - em locais ou serviços prejudiciais à sua moralidade.[...]

§ 3º Considera-se prejudicial à moralidade do menor o trabalho: a) prestado de qualquer modo, em teatros de revistas, cinemas, boates, cassinos, cabarés, dancings e estabelecimentos análogos;

b) em empresas circenses, em funções de acróbata, saltimbanco, ginasta e

outras semelhantes;

c) de produção, composição, entrega ou venda de escritos, impressos, cartazes, desenhos, gravuras, pinturas, emblemas, imagens e quaisquer outros objetos que possam, a juízo da autoridade competente, prejudicar

sua formação moral;

d) consistente na venda, a varejo, de bebidas alcoólicas. (BRASIL, 1943).

No mesmo código existe a previsão no art. 406, no qual aborda a autorização do Juiz de Menores, sobre o labor do trabalho artístico, onde dispõe:

Art. 406 - O Juiz de Menores poderá autorizar ao menor o trabalho a que se referem as letras "a" e "b" do § 3º do art. 405:

I - Desde que a representação tenha fim educativo ou a peça de que participe não possa

ser prejudicial à sua formação moral;

II - Desde que se certifique ser a ocupação do menor indispensável à própria subsistência ou à de seus pais, avós ou irmãos e não advir nenhum prejuízo à sua formação moral. (BRASIL, 1943).

Desse modo vemos que existe a autorização judicial para que as crianças e adolescentes possam participar de seus espetáculos públicos, ensaios e certames de beleza. Mas deve haver uma análise de cada caso em que estão inseridas, sendo autorizadas a exercer o seu trabalho, desde que sejam dentro da Lei.

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3.3 PROTEÇÃOÀ INTEGRIDADE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE

A proteção ao interesse da criança e adolescente passou a tratar esse grupo como sujeitos de direito e não apenas como “problemas sociais”, como eram rotulados e vinham sendo tratados. As crianças e os adolescentespassaram a ter, além da proteção jurídica comum, uma proteção complementar, voltada especificadamente para os seus direitos, no art. 3⁰ do ECA, (BRASIL, 1990), fica esclarecido a proteção complementar:

Art.3° - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando sê-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (BRASIL, 1990).

A proteção complementar da criança e do adolescente compreende que os seres humanos incluídos nesse grupo estão em constante mudança em seus aspectos físicos e psíquicos, essa mudança é baseada em suas experiencias psicológicas e fisiológicas. Desse modo, quando possuem uma infância e adolescência tranquila e sadia o ingresso a vida adulta tem uma forma mais digna e satisfatória.

Por absoluta prioridade, entende-se que, na área administrativa, enquanto não existirem creches, escolas, postos de saúde, atendimento preventivo e emergencial às gestantes, dignas moradias e trabalho, não se deverão asfaltar ruas, construir praças, sambódromos, monumentos artísticos etc, porque a vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças são mais importantes que as obras de concreto, que ficam para demonstrar o poder do governante. (LIBERATI, 2003. p. 47).

Conforme Martins (2015, p. 541), a proteção do trabalho de crianças e adolescentes tem uma prioridade absoluta e se baseia em 4 (quatro) fundamentos basilares, que são: moral, cultural, fisiológico e segurança.

O primeiro tem por base assegurar a moralidade, preservando a integridade psicológica desse grupo; o segundo se refere aos estudos, pois todos devem ser instruídos educacionalmente; o terceiro é a vedação de realização de trabalhos em locais que prejudiquem o desenvolvimento das crianças e adolescentes, locais que possuam perigos, locais insalubres e penosos ou trabalhos

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noturnos; já o último fundamento preceitua a segurança, onde é necessário tomar medidas protetoras, para não ocorrer acidentes de trabalhos envolvendo o menor. A prioridade absoluta tem por base a Lei n⁰ 8.069/90, onde em seu parágrafo único do artigo 4⁰, (BRASIL, 1990), diz que:

Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à

convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. (BRASIL, 1990).

A proteção é para todos os momentos da vida, possuindo uma maior atenção e prioridade no momento de maior vulnerabilidadepeculiar. Desse modo, à família, à comunidade, à sociedade em geral, o poder público deve ter uma prioridade absoluta em proteger esse grupo de indivíduos.

Dessa forma, a garantia da prioridade de proteção ajuda as crianças e os adolescentes a se formarem como pessoas racionais de direito, dando todo o amparo que necessitam para a sua evolução e desenvolvimento da personalidade humana adulta. Mas compreender que essa proteção, em geral, não é apenas até eles atingirem a personalidade adulta, pois, a vida humana é possuidora de dignidade em si mesma.

3.4 CRIANÇAS E ADOLESCENTES EXCLUÍDOS DA PROTEÇÃO LEGAL

As crianças e adolescentes que estão excluídos da proteção legal da nossa Constituição vigente, são as crianças e adolescentes que estão inseridos em seus próprios povos e comunidades tradicionais, onde possuem suas próprias organizações sociais. Esses povos e comunidades tradicionais têm proteção legal, segundo decreto 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, que em seu art. 3⁰, inciso I, (BRASIL, 2007), diz que:

Art. 3⁰ - Para os fins deste Decreto e do seu Anexo compreende-se por: I - Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e

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econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição; [...]. (BRASIL, 2007).

O órgão que fica responsável sobre a averiguação da garantia dos direitos dessas crianças e adolescentes é a Rede Nacional Primeira Infância – RNPI. É composto por organizações da sociedade civil, do governo, do setor privado, de outras redes e organizações multilaterais que atuam, direta ou indiretamente, na promoção de garantia desses direitos, sem qualquer tipo de discriminação seja ela qual for.

Dessa forma, as crianças e adolescentes seguem a cultura e ensinamento de seu povo e comunidade tradicional. Alguns exemplos desses povos e comunidades que são reconhecidos pela Rede Nacional Primeira Infância são: povos indígenas, quilombola, seringueiros, castanheiros, quebradeiras de coco-de-babaçu, comunidades de fundo de pasto, faxinalenses, pescadores artesanais, marisqueiras, ribeirinhos, varjeiros, caiçaras, praieiros, sertanejos, jangadeiros, ciganos, açorianos, campeiros, varzanteijros, pantaneiros, geraizeiros, veredeiros, catingueiros, retireiros do Araguaia.

Outras crianças e adolescentes que estão “excluídas” de nossa Constituição, de uma forma indiretamente são as crianças chamadas de: fora da norma, que são classificadas, a maioria, crianças que convivem com a extrema pobreza, crianças de rua e as que estão em condições de subalternidade. (AITKEN, p. 2, 2001; COOK, p. 5-10, 2009 apud MARCH, 2007).

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Fonte: FaxAju (2019).

Apesar dessas crianças e adolescentes viverem conforme nossa Constituição, não consegue oferecer a proteção integral que elas merecem, pois, essas crianças e adolescente estão a mercê de nossa sociedade, devido a sua classe econômica. Esta exclusão é uma das consequências de que a ideia de infância não se estabelece como uma realidade possível para as classes econômicas mais baixas. Sendo assim, as desiguais condições que estão inseridas, incidem em seu desenvolvimento histórico da sua construção moderna, são antes, sua consequência e, ao mesmo tempo, sua condição (MARCHI, 2007).

Dessa forma, mesmo que essas crianças não estejam inclusas em nossa proteção legal, devido a sua “cultura”, não podemos deixá-las desamparadas, pois vivemos em uma sociedade desenvolvida e justa. Devido a isso, existe a luta e os manifestos da RNPIpara que essas crianças sejam tratadas com a legitimidade que ela tem por direito por ser direito da criança e do adolescente.

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4 TRABALHO INFANTIL ARTÍSTICO: INFRAÇÃO CONSTITUCIONAL OU LIBERDADE CULTURAL

Esse capítulo irá abordar o tema principal do trabalho, se o trabalho infantil artístico é uma infração constitucional ou uma liberdade cultural. Será abordado o trabalho infantil e sua repercussão na mídia social e visual, incluindo a parte do glamour até os problemas e conflitos psicológicos, mostrando lados opostos que andam juntos. Estudaremos osprincípios básicos que amparam o trabalho infantil artístico: o direito ao respeito, o direito à dignidade, à proteção legal e o direito à liberdade. E por fim, descreveremos a liberdade ao trabalho, desde que não acarrete problemas.

4.1 O TRABALHO ARTÍSTICO INFANTIL NA MÍDIA

O trabalho infantil artístico na mídia se dá por meio dos atores-mirins, que são crianças e adolescentes que aparecem em novelas, programas de auditório para adultos ou especificamente voltados para o público infantil epor meio das plataformas digitais como o Youtube.

Ocorre uma aceitação geral do trabalho empregado por essas crianças e adolescentes, como se o fato de estarem na mídia, sendo transmissores de entretenimento para as pessoas, ocultasse estarem exercendo ser um trabalho. Segundo a definição do art. 3⁰ da Constituição Federal de 1988, onde preceitua que: “considera-se empregada toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.”

Como já foi visto, a lei brasileira possui autorização para o labor do trabalho infantil artístico, desde que seja dentro dos critérios estabelecidos, como o da faixa etária, das restrições de certas atividades laborais como: tipo de serviço, horário, condições morais, físicas etc.

A questão do trabalho artístico desempenhado por crianças e adolescentes sempre suscitou discussões. Há os que entendem que não se pode impedir que os pequenos demonstrem seus dons criativos, proibindo-os de cantar, representar e dançar em público, compor, desfilar etc. Outros opinam que este tipo de trabalho é tão árduo quanto aos demais e que, assim como todos os outros, roubam da criança o tempo necessário para estudar, brincar e desenvolver-se. (MINHARRO,p. 61-62, 2003).

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O trabalho artístico infantil em evidência na mídia recebe tanta aprovação e aplausos da mesma sociedade que acha um absurdo ver uma criança trabalhando nas ruas dos grandes centros ou até mesmo em prol do labor familiar. Refletindo sobre isso:

Paradoxalmente, a sociedade contemporânea olha com simpatia e aprovação para as crianças artistas, algumas fazendo espetáculos teatrais várias vezes por semana há meses, outras, presentes diariamente nos canais televisivos, em novelas ou apresentação de programas. Vivemos na sociedade do espetáculo, o artista famoso é visto como alguém que chegou no “Olimpo Contemporâneo” criado em torno do mito das celebridades. Por isso, é fácil entender o deslumbramento de pais e filhos com a carreira artística. (CAVALCANTE, p.140, 2003).

A justificativa dessa aceitação geral é que todos possuímos a liberdade de expressão artística e devemos ter acesso às fontes de cultura e arte.Porém, apesar de toda essa exposição midiática que o trabalho artístico infantil é submetido, o mesmo devia ser tratado de uma forma mais séria e cuidadosa como qualquer outra atividade laboral praticada por crianças e adolescentes.

4.2 DO GLAMOUR AO ABUSO

O glamour do trabalho infantil artístico vemda fama e seus benefícios, o reconhecimento do público, a realização pessoal e financeira e das inúmeras oportunidades que aparecem devido a essa visibilidade que o trabalho artístico proporciona. Mas junto com ele, vem o abuso como o sustento dos caprichos, das vontades, da pressão dos envolvidos e da alimentação do ego.

Um dos fatores do glamour que está relacionado ao trabalho infantil são os salários exorbitantes em conjunto com toda a fama que estão vivendo, e que sua família também está usufruindo. Esses fatores parecem colocar uma venda sob os olhos das pessoas envolvidas como os pais, tutores e agentes, que não se importam e não se preocupam com as consequências que podem acarretar a vida dessas crianças e adolescentes.

O lado financeiro é um fator de transição do glamour ao abuso, visto que a renda obtida nesta atividade servirá tanto noauxílio da economia familiar menos favorecida, quanto na ajuda para o futuro dos jovens. Como é o caso dos Mc’s mirins, que chegam a ganhar até 40 (quarenta) mil por mês ou de 5 (cinco) mil a 12 (doze) mil reais por semana. Tem-se o caso já descrito da maior renda do Youtube

Referências

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