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(In)segurança jurídica em meio as mudanças de interpretação do Supremo Tribunal Federal acerca da possibilidade do cumprimento provisório da pena após condenação em segunda instância

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO QUADROS EMIDIO

(IN) SEGURANÇA JURÍDICA EM MEIO AS MUDANÇAS DE INTERPRETAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ACERCA DA POSSIBILIDADE DO CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DA PENA APÓS CONDENAÇÃO EM SEGUNDA

INSTÂNCIA

Araranguá 2020

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EDUARDO QUADROS EMIDIO

(IN) SEGURANÇA JURÍDICA EM MEIO AS MUDANÇAS DE INTERPRETAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ACERCA DA POSSIBILIDADE DO CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DA PENA APÓS CONDENAÇÃO EM SEGUNDA

INSTÂNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Renan Cioff de Sant’Ana, Esp.

Araranguá 2020

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EDUARDO QUADROS EMIDIO

(IN) SEGURANÇA JURÍDICA EM MEIO AS MUDANÇAS DE INTERPRETAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ACERCA DA POSSIBILIDADE DO CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DA PENA APÓS CONDENAÇÃO EM SEGUNDA

INSTÂNCIA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Araranguá, (09) de (dezembro) de (2020).

______________________________________________________ Professor e orientador Renan Cioff de Sant’Ana, Especialista.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Chesman P. Emerim Jr, Especialista.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Laércio Machado Jr, Mestre.

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Dedico este trabalho aos meus pais. Sem eles, nada seria possível.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, aos meus pais, Adair Emidio e Eliete Quadros Emidio, pelo apoio e incentivo desde o começo nesta etapa em minha vida, que me ajudaram a chegar até aqui. Aos meus irmãos Filipi e Ricardo, que durante cinco longos anos me auxiliaram nessa jornada.

Aos professores da universidade que transmitiram tanto conhecimento no decorrer do curso, em especial ao meu professor orientador Renan Cioff de Sant’Ana, que apesar da intensa rotina de sua vida acadêmica aceitou me orientar nesta monografia, me ajudando sempre que possível no desenvolvimento deste trabalho.

Aos meus colegas da Turma B, agradeço imensamente por fazerem parte da minha vida. Deixo aqui um abraço a essas pessoas que tenho o privilégio de chamá-los de amigos: Bruno Prietto; Bruno Magnus; Gabriel Simões (Portuga); Kleiton Cruz; Mariana Spader; Eduardo Costa (meu xará), sempre me ajudando nos momentos difíceis; e um abraço especial ao Luã Dyron e Rodrigo Nuernberg, meus amigos e colegas do grupo do estágio supervisionado, sem vocês não teria aprendido tanto naquelas tardes de estudo.

Aos meus amigos do Ermo, que me acompanharam durante todo esse tempo me dando forças, e principalmente, me ajudando a descontrair dos momentos difíceis da faculdade com as noites de jogos. Fica aqui meu agradecimento a essas pessoas incríveis: Arthur Scarabelot, Diefferson Moro, José Victor de Oliveira, Luiz Antonin, Alexsandro Luiz, e principalmente Erich Farias, meu irmão de coração.

Aos meus colegas, amigos e família da Delegacia de Ermo, que me acolheram por tanto tempo, foi um prazer conhecê-los e um grande aprendizado. Agradeço: ao Soldado Genovês, Cabo Thiago, Sargento Jefferson, Sargento Gilberto, pelos conselhos que recebi e as conversas que tivemos. Um agradecimento especial à Maria Aparecida Casagrande (minha chefinha) e Indiani Veloso, duas mães que ganhei, pessoas maravilhosas e tão queridas, muito obrigado, as guardarei para sempre em minhas memórias.

Por fim, a todas as pessoas que de alguma forma fizeram parte desta minha jornada, e que me ajudaram a chegar até aqui na realização de meu objetivo, muito obrigado.

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RESUMO

O princípio da segurança jurídica é considerado um princípio basilar do Estado Democrático de Direito, sendo imprescindível para a garantia de estabilidade e confiança nas relações entre particulares, nas relações entre os particulares e o Estado, e também, entre o Poder Judiciário e seus jurisdicionados. Portanto, o presente trabalho tem como objeto as recentes mudanças de interpretação do Supremo Tribunal Federal acerca da possibilidade do cumprimento provisório da pena após condenação em segunda instância, e busca identificar se as referidas mudanças ferem a segurança jurídica. O objetivo do trabalho é realizar uma análise principiológica da segurança jurídica em paralelo com as competências do Supremo Tribunal Federal, e os julgamentos que alteraram o entendimento da execução provisória da pena. Para isso, o presente estudo se fundamentou na legislação e principalmente em posicionamentos doutrinários quanto ao tema. Do ponto de vista jurídico, é possível identificar que alternâncias constantes sobre determinado tema, possam gerar insegurança jurídica, todavia, efetivar os direitos fundamentais garantidos no texto constitucional representa o real significado de segurança jurídica.

Palavras-chave: Segurança Jurídica. Constituição. Interpretação Constitucional. Cumprimento provisório da pena.

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ABSTRACT

The principle of legal certainty is considered to be a basic principle of the Democratic Rule of Law, being essential for guaranteeing stability and trust in relationships between individuals and the State, and also, between the Judiciary and its jurisdictions. Therefore, this paper relates the recent changes in the interpretation of the Supreme Court of the possibility of the provisory execution of the sentence on conviction on appeal, and seeks to identify whether these changes hurt legal certainty. The objective is to conduct a principled analysis of legal certainty in parallel with the powers of the Supreme Court, and judgments that altered the understanding of the provisory execution of the sentence. For this, the present study was based on legislation and mainly doctrinal positions on the subject. From a legal point of view, it is possible to identify that constant alternations on a given topic may generate legal uncertainty, however, realizing the fundamental rights guaranteed in the constitutional text represents the real meaning of legal security.

Keywords: Legal Security. Constitution. Constitutional Interpretation. Provisional execution of the sentence.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 10

2 SISTEMA CONSTITUCIONAL BRASILEIRO ... 12

2.1 A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E SEUS PRINCIPAIS FUNDAMENTOS ... 12

2.2 CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS: DO IMPÉRIO À CONSTITUIÇÃO CIDADÃ ... 15

3 STF E HERMENÊUTICA JURÍDICA ... 19

3.1 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ... 19

3.2 CONTROLE JURISDICIONAL E AS COMPETÊNCIAS DO STF ... 20

3.3 HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ... 22

3.4 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO ... 25

3.4.1 Método tópico-problemático ... 26

3.4.2 Método hermenêutico-concretizador... 26

3.4.3 Método normativo-estruturante ... 27

3.4.4 Método científico-espiritual ... 27

3.4.5 Método da comparação constitucional ... 27

3.5 PRINCIPIOS DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ... 28

3.5.1 Princípio da unidade da constituição ... 28

3.5.2 Princípio do efeito integrador ... 29

3.5.3 Princípio da máxima efetividade ... 29

3.5.4 Princípio da justeza ou da conformidade funcional ... 29

3.5.5 Princípio da concordância prática, harmonização ou cedência recíproca ... 30

3.5.6 Princípio da força normativa da Constituição ... 30

3.5.7 Princípio da proporcionalidade ou razoabilidade ... 30

3.5.8 Princípio da interpretação conforme a Constituição ... 31

4 PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA ... 33

4.1 CONCEITO E SUAS CARACTERÍSTICAS ... 34

4.1.1 Dimensão objetiva ... 36

4.1.2 Dimensão subjetiva ... 36

4.2 IMPORTÂNCIA NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ... 37

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5 DAS MUDANÇAS DE INTERPRETAÇÃO DO STF SOBRE A POSSIBILIDADE DO CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DA PENA ... 40 5.1 HISTÓRICO DA APLICAÇÃO DO CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DA PENA NO BRASIL E SUAS MUDANÇAS AO LONGO DOS ANOS ... 40 5.2 ANÁLISE DO JULGAMENTO DAS AÇÕES DECLARATÓRIAS DE

CONSTITUCIONALIDADE Nº 43, 44 E 54 NO STF ... 42 5.2.1 Voto do relator e dos que o acompanharam ... 43 5.2.2 Votos vencidos ... 45 5.3 PONDERAÇÕES SOBRE O NOVO ENTENDIMENTO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O SURGIMENTO DA INSEGURANÇA JURÍDICA ... 47 6 CONCLUSÃO ... 50 REFERÊNCIAS ... 53

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1 INTRODUÇÃO

A Constituição de 1988 surgiu como fruto dos anseios de uma sociedade que acabara de sair de um regime militar. Este perdurou por quase 21 anos e é lembrado até os dias de hoje, pela intensa restrição de direitos fundamentais como: a liberdade de expressão, o direito de ir e vir, a integridade física e principalmente, o direito à vida.

Nesse contexto se formou uma Assembleia Nacional Constituinte, com o intuito de elaborar uma constituição garantidora de diversos direitos e garantias individuais. Acrescentou-se ao texto constitucional, princípios essenciais para a efetivação desses direitos.

A Constituição tem como pilar os valores e princípios ali inseridos. Pois, foi elaborada com o poder emanado do povo e, para tanto, tais preceitos devem ser observados e respeitados pelo legislador na elaboração de novas normas, bem como pelo aplicador do direito.

É neste cenário que este trabalho se molda. Na importância da garantia desses princípios no ordenamento jurídico brasileiro. Em especial o princípio da segurança jurídica, base do Estado Democrático de Direito.

Até o ano de 2019, o STF entendia ser possível a execução provisória da pena condenatória em segunda instância, alegando que essa modalidade de pena não feriria o princípio da presunção de inocência. No entanto, em novembro do mesmo ano, alterou mais uma vez seu entendimento, passando a proibir a execução antecipada da pena em condenações de segundo grau. Foi decidido no julgamento, que a prisão somente poderá ocorrer com o trânsito em julgado do processo penal e, antes disso, apenas nas hipóteses enquadráveis no artigo 312 do Código de Processo Penal (BRASIL, STF, 2019).

Isto posto, o objetivo deste trabalho é fazer um estudo sobre o princípio da segurança jurídica. Em conjunto, pretende-se trabalhar os julgamentos do STF sobre a possibilidade do cumprimento provisório da pena, buscando entender se estas mudanças podem gerar insegurança jurídica. Como objetivos específicos, será realizada uma análise do sistema constitucional brasileiro, trazendo um breve levantamento histórico das constituições. Da mesma forma, as competências do Supremo Tribunal Federal serão trabalhadas em paralelo com o estudo da hermenêutica e a interpretação constitucional. Abordar-se-á o princípio da segurança jurídica e sua importância para o Estado Democrático de Direito. Por fim, serão analisados os votos dos ministros no julgamento das ADCs n° 43, 44 e 54.

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Este estudo se justifica na relevância que tem os princípios constitucionais na manutenção do sistema jurídico, que devem ser usados como guia na criação das leis e na sua aplicação. Respeitando assim, os preceitos estabelecidos na Constituição. É necessário debater se o STF gera insegurança jurídica no âmago da sociedade, ao alterar constantemente seu entendimento sobre a possibilidade da prisão após condenação de segunda instancia e, suas consequências na proteção dos direitos fundamentais.

A fim de alcançar os objetivos do presente estudo, utilizou-se fontes bibliográficas, dicionários, artigos científicos e documentos referentes à temática. Destaca-se ainda, o uso de obras no âmbito do constitucional e penal, que servirão de fundamentos ao desenvolvimento do objetivo primário do trabalho.

A pesquisa buscou ainda seu sustento na análise da legislação e jurisprudências. Mais especificamente nos votos dos ministros no julgamento das Ações Declaratórias de Constitucionalidade n° 43, 44 e 54. Bem como ampliou o foco na pesquisa doutrinária, a qual foi de fundamental importância para abordar a temática do trabalho.

Por fim, este estudo está estruturado em quatro capítulos. O primeiro aborda o sistema constitucional brasileiro, trazendo um histórico das constituições adotadas pelo Brasil desde o império até a Cidadã. O segundo capítulo se ocupa das particularidades do Supremo Tribunal Federal, sua formação e competências, ao mesmo tempo em que trata da hermenêutica jurídica e suas diferenças com relação à interpretação constitucional. O terceiro capítulo se refere ao princípio da segurança jurídica, seu conceito, classificações, sua importância para o Estado Democrático de Direito e aplicação em matéria penal. Finalmente, o quarto capítulo traz uma retrospectiva histórica dos julgamentos que alteraram o entendimento do STF sobre a execução provisória da pena, dando destaque ao julgamento de 2019, onde apresenta a discussão dos votos de cada ministro, seus argumentos referentes à segurança jurídica e uma reflexão final sobre o novo entendimento e suas consequências no ordenamento jurídico.

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2 SISTEMA CONSTITUCIONAL BRASILEIRO

Serão abordadas as particularidades do sistema constitucional brasileiro, destacando o princípio da segurança jurídica e analisando a forma em que é constituído. Bem como, é realizado um levantamento histórico sobre a evolução do princípio da segurança jurídica ao longo das constituições.

Para melhor compreensão acerca do sistema constitucional, deve-se antes, entender o que é a constituição e qual sua função para a sociedade.

De acordo com Moraes (2019, p. 79)

A Constituição é conceituada como sistema de normas jurídicas, produzidas no exercício do poder constituinte, dirigidas precipuamente ao estabelecimento da forma de Estado, da forma de governo, do modo de aquisição e exercício do poder, da instituição e organização de seus órgãos, dos limites de sua atuação, dos direitos fundamentais e respectivas garantias e remédios constitucionais e da ordem econômica e social.

Por sua vez, ensina Canotilho (1999, apud SARLET, 2019, p. 100)

[...] é possível verificar que uma verdadeira constituição não é apenas um documento assim designado, mas um corpo de normas jurídicas (regras e princípios) qualificado pelo seu conteúdo e por sua função, as quais, estando ou não corporificadas em um documento (ou conjunto de documentos) assumem uma posição diferenciada e privilegiada em relação às demais normas jurídicas, portanto, às normas que não são constitucionais [...].

Em suma, a Constituição é um documento guiado pelos direitos fundamentais garantidos aos cidadãos, que visa tornar a sociedade organizada, definindo direitos e deveres ao povo. Da mesma maneira que possui a função de determinar as atribuições do Estado.

Dito isso, nos próximos títulos será abordada a Constituição de 1988, suas principais características e fundamentos. O objetivo é entender o surgimento do princípio da segurança jurídica, de acordo com o próprio objetivo do presente trabalho.

2.1 A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E SEUS PRINCIPAIS FUNDAMENTOS

Promulgada em 05 de outubro de 1988, a Constituição trouxe várias inovações e se preocupou, principalmente, em estabelecer um Estado Democrático de Direito. Haja vista que a nação Brasileira acabara de sair de uma ditadura militar que perdurou por quase 21 anos.

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Por isso, o Estado Democrático foi instituído logo no preâmbulo da Constituição de 1988. Foi destinado

[...] a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias [...] (BRASIL, CRFB, 2020).

Ademais, a Carta Magna é dotada de princípios que podem ser caracterizados como a base do sistema jurídico. Servem como orientação para as normas restantes e buscam criar um significado a elas. A estes, cabe a função de guiar os intérpretes da Constituição. Daí resulta o sistema constitucional, pois como se pode ver, constituem um sistema de normas que convivem entre si.

Na Constituição, as normas se agrupam em títulos, capítulos e seções, com conteúdo, origem e finalidades diversas.

Para Lenza (2018) estes dispositivos caracterizam a natureza polifacética da Constituição, fazendo com que a doutrina agrupe as diversas normas de acordo com a sua finalidade. O resultado é o que se denomina elementos da Constituição.

Com relação a tais elementos, a doutrina é muito divergente. Porém, a classificação mais aceita entre os autores é feita por Silva (2014, p. 46), que enumera cinco categorias de elementos, sendo elas

(1) elementos orgânicos, que se contêm nas normas que regulam a estrutura do Estado e do poder, e, na atual Constituição, concentram- se, predominantemente, nos Títulos III (Da Organização do Estado), IV (Da Organização dos Poderes), Capítulos II e III do Título V (Das Forças Armadas e Da Segurança Pública) e VI (Da Tributação e do Orçamento), que constituem aspectos da organização e funcionamento do Estado;

(2) e:ementos limitativos, que se manifestam nas normas que consubstanciam o elenco dos direitos e garantias fundamentais: direitos individuais e suas garantias, direitos de nacionalidade e direitos políticos e democráticos; são denominados limitativos porque limitam a ação dos poderes estatais e dão a tônica do Estado de Direito; acham- se eles inscritos no Título II de nossa Constituição, sob a rubrica Dos Direitos e Garantias Fundamentais, excetuando-se os Direitos Sociais (Capítulo II), que entram na categoria seguinte;

(3) elementos socioideológicos, consubstanciados nas normas socioideológicas, que revelam o caráter de compromisso das constituições modernas entre o Estado individualista e o Estado Social, intervencionista, como as do Capítulo II do Título II, sobre os Direitos Sociais, e as dos Títulos VII (Da Ordem Econômica e Financeira) e VIII (Da Ordem Social);

(4) elementos de estabilização constitucional, consagrados nas normas destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da constituição, do Estado e das instituições democráticas, premunindo os meios e técnicas contra sua alteração e infringência, e são encontrados no art. 102, I, a (ação de inconstitucionalidade), nos arts. 34 a 36 (Da Intervenção 110S Estados e Municípios), 59, I, e 60 (Processo

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de emendas à Constituição), 102 e 103 Jurisdição constitucional) e Título V (Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, especialmente o Capítulo I, porque os Capítulos II e III, como vimos, integram os elementos orgânicos); (5) elementos formais de aplicabilidade, são os que se acham consubstanciados nas normas que estatuem regras de aplicação das constituições, assim, o preâmbulo, o dispositivo que contém as cláusulas de promulgação- e as disposições constitucionais transitórias assim também a do § 1 º do art. 5º, segundo o qual as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

Não obstante, é fundamental mencionar que a CF/88 é a Constituição que evidenciou maior legitimidade popular, onde podemos destacar algumas características, como: a forma de governo República; o sistema de governo Presidencialista e; a forma de Estado Federação.

Outra importante característica é o modelo de controle de constitucionalidade das leis, adotado pela Constituição de 1988. Muito embora o assunto seja abordado no próximo capítulo, aqui será tratado de forma sucinta.

O Brasil adota o controle de constitucionalidade misto. Ou seja, é uma junção dos controles político e jurisdicional. O controle político, de acordo com dispositivos da Constituição, pode ser exercido pela Câmara dos Deputados, Senado Federal ou Congresso Nacional (legislativo) e pelo Presidente da República (executivo).

Por sua vez, o controle jurisdicional pode ser exercido pelo STF e STJ. Quando exercido pelo Supremo, o controle poderá ser concentrado ou difuso. Concentrado, quando o objetivo for fiscalizar a inconstitucionalidade de leis e atos normativos (estaduais e federais) tanto na via de ação, quanto pela via de provocação, exercida pelas seguintes pessoas e entes

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade:

I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados;

IV - Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;

VI - o Procurador-Geral da República;

VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;

IX - Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. (BRASIL, CRFB, 2020)

O controle difuso praticado pelo STF pode ocorrer em sede de recurso ordinário e extraordinário. Sendo que, a declaração da inconstitucionalidade de lei ou ato normativo deverá sempre ser realizada por maioria absoluta de seus membros, conforme art. 97 da CF. (BRASIL, CRFB, 2020).

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Não obstante, por meio do recurso especial, o STJ pode exercer o controle incidental.

A fim de obter melhor compreensão sobre o sistema constitucional brasileiro, adiante será realizado breve levantamento histórico. O objetivo é demonstrar a evolução do instituto, bem como identificar o surgimento do princípio da segurança jurídica no ordenamento pátrio.

2.2 CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS: DO IMPÉRIO À CONSTITUIÇÃO CIDADÃ

É de notório saber que, o Brasil já possuiu sete constituições e uma Emenda Constitucional. Sendo que esta última, trouxe tantas inovações com relação aos textos anteriores, que pode ser considerada uma nova Constituição.

Assim, a primeira Constituição do Brasil foi promulgada em 25 de março de 1824 e ficou conhecida como a “Constituição Imperial”. Vigorou por 65 anos até a Proclamação da República e, instituiu o Estado unitário e a forma monárquica de governo.

A carta de 1824 não adotou a separação tripartida de Montesquieu. Por isso, possuía as funções do poder legislativo, executivo, judiciário e moderador, elencado no art. 98 da carta, nas palavras de Mendes e Branco (2019, p. 97)

O art. 98 da Carta estatuía que o Poder Moderador, novidade mais frequentemente mencionada quando se fala na Constituição de 1824, “é a chave de toda a organização Política, e é delegada privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação”. O art. 99 estabelecia, ainda, que “a pessoa do Imperador é inviolável, e sagrada: ele não está sujeito a responsabilidade alguma”. A ele incumbia nomear os senadores, dissolver a Câmara dos Deputados, nomear e demitir ministros de Estado e, mais, suspender juízes, por queixas contra eles feitas. Os juízes não dispunham das garantias da inamovibilidade e da irredutibilidade de vencimentos. O voto, nesse regime, era censitário e era reconhecido a pouco mais de 1% da população.

Além disso, a primeira Constituição do Brasil, trouxe a garantia de direitos fundamentais e individuais (direitos de primeira geração), como liberdade de expressão e inviolabilidade dos direitos civis e políticos.

Em 24 de fevereiro de 1891 foi promulgada a primeira Constituição republicana, inspirada no presidencialismo norte-americano. Entre suas principais características, destaca-se que já não havia mais o poder moderador, onde passou a adotar o sistema de três poderes de Montesquieu. Houve também a separação entre Estado e religião; a adoção de um sistema

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de constitucionalidade de controle difuso e incidental; a previsão do crime de responsabilidade do Presidente da República e; a criação de um remédio constitucional, o habeas corpus.

A Constituição de 1934 chegou em um momento difícil da história do Brasil e do mundo. No mesmo período, paralelamente, o Brasil passou a adotar uma nova legislação eleitoral, consagrando o voto feminino; estabelecendo o voto secreto e; criando uma Justiça do Trabalho (BARCELLOS, 2019).

Ademais, foi na Constituição de 1934 que, juntamente com os direitos individuais clássicos, foi introduzido o mandado de segurança e a ação popular. Da mesma forma que se procurou garantir na Constituição, direitos sociais, econômicos e culturais.

Com relação ao controle de constitucionalidade, este continuava sendo o difuso e incidental, mas agora com uma novidade, permitindo que o Senado suspendesse lei declarada inconstitucional pelo judiciário, aplicando assim efeitos erga omnes.

Após três anos, o então Presidente Getúlio Vargas toma o poder e institui o Estado Novo no Brasil, impondo assim uma nova Constituição. Influenciada pelo modelo fascista da época, ficou conhecida como “polaca”, haja vista ter sido inspirada na Carta ditatorial da Polônia, de 1935, editada por Jósef Pilsudzki, Ministro da Guerra do Premiê Moscicki. (BULOS, 2018).

Ainda, previu direitos e garantias individuais e criou capítulos que versaram sobre a proteção da família, da educação, da cultura e da ordem econômica. No entanto, os direitos individuais, em comparação à Constituição de 1934, foram reprimidos. A exemplo, tem-se a censura prévia da imprensa, teatro e radiodifusão. Bem como, foi previsto a possibilidade de aplicação da pena de morte em alguns casos. (TAVARES, 2019).

O Estado Novo termina em 1945, juntamente com o fim da Segunda Guerra Mundial. Assim, com o retorno das tropas que haviam sido enviadas à guerra como apoio aos “Aliados”, Vargas convocou novas eleições para Presidência. Porém, foi vencido por Eurico Gaspar Dutra e, em 18 de setembro de 1946 foi promulgada a nova Constituição.

Nas palavras de Pires (2016, p. 74)

A Carta de 1946, de 18 de setembro de 1946, é considerada por muitos autores como a melhor que tivemos. Saboreava ares de democracia e liberdade pós-guerra e restituiu inúmeros avanços que tivemos na Constituição de 1934. Uma das principais mudanças foi a restauração dos Três Poderes, independentes e harmônicos entre si. O Poder Judiciário recuperou seu prestígio ao declarar a inconstitucionalidade de

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leis e atos normativos e fixou as três conhecidas garantias da magistratura: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos.

A Constituição de 1946 se preocupou em garantir os direitos sociais, os direitos políticos e o direito de greve. Assim como, reestabeleceu o mandado de segurança e a ação popular. Importante destacar que a Carta de 1946 criou um importante princípio garantidor dos direitos subjetivos: o princípio da inafastabilidade da jurisdição (PIRES, 2016).

Em 31 de março de 1964 acontece o Golpe Militar, que destituiu o Presidente João Goulart.

A Constituição de 1946 continuou vigente até 1967. Isto aconteceu por meio dos Atos Institucionais (AI). Ou seja, decretos autoritários, que davam ao presidente da República poderes ilimitados e típicos de um regime ditatorial.

Assim, grandes alterações foram feitas no texto constitucional vigente até então. E na AI n° 4 houve a convocação do Congresso Nacional, a fim de votar uma nova Constituição. Esta, foi outorgada em 1967 e, além de sancionar os Atos Institucionais editados até então, suprimiu diversos direitos individuais.

De acordo com Pinho (2012, p. 326)

Os militares sentiram a necessidade de institucionalizar os “ideais e princípios da Revolução”. Tratava-se de uma Constituição outorgada, pois o Congresso Nacional não havia sido eleito com essa finalidade e não mais possuía legitimidade política para a representação da vontade nacional, visto que diversos congressistas oposicionistas tiveram seus mandatos cassados. Essa Constituição prevaleceu somente por dois anos, sendo logo substituída pela Carta Constitucional de 1969.

Assim, em 17 de outubro de 1969 foi outorgada a Emenda Constitucional n° 1/1969, que tornou o regime ainda mais autoritário. Devido a extensão dos assuntos abordados em seu texto, para grande parte da doutrina, esta Emenda ficou conhecida como a Constituição de 1969.

Em 1978 houve o processo de redemocratização do Brasil e em 1980 ocorre as eleições diretas para governadores. O que possibilitou a criação do movimento “Diretas Já”, que exigia eleições diretas para Presidente da República. Em 1985 Tancredo Neves foi eleito de forma indireta. Porém, quem assumiu foi o Vice José Sarney, haja vista o falecimento do primeiro (PIRES, 2016).

Uma nova Assembleia constituinte foi convocada em 1985 com o intuito de elaborar uma nova constituição. Assim, em 5 de outubro de 1988 foi outorgada a atual

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Constituição Brasileira, também denominada Constituição Cidadã, pois tinha como grande objetivo garantir os direitos do cidadão.

Portanto, entende-se com os fatos expostos até então que, o princípio da segurança jurídica no Brasil remonta desde a Constituição Imperial e seguiu ganhando espaço na maioria das constituições seguintes, sempre de forma implícita, como na garantia dos direitos individuais e no direito adquirido.

Por fim, Camargo e Balarini (2012, p. 06) corroboram com o assunto e argumentam que

No Brasil, o princípio da segurança jurídica aparece já na Constituição do Império, 1824, ainda que não com tal nomenclatura. Apesar de outorgada, protegeu a irretroatividade das leis e o direito adquirido; expressões claras da defesa à segurança. Em 1891, a Constituição da República também trouxe a ideia da irretroatividade das leis. A Constituição de 1934 trouxe o texto que, salvo pequenas modificações, principalmente a respeito da ordenação, repetiu-se pelas constituições de 1946 e 1967 e permanece até a carta de 1988. Procura-se assegurar aos cidadãos tanto a proteção da legalidade como das decisões judiciais (a única constituição que deixou de abordar a ideia da segurança jurídica foi a outorgada em 1937, fruto do Estado Novo de Getúlio Vargas; certamente por conta da influência do contexto externo a que o governo da época era ligado).

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3 STF E HERMENÊUTICA JURÍDICA

A interpretação do Direito é, segundo Tavares (2019, p. 183), “a operação intelectiva por meio da qual a partir da linguagem vertida em disposições (enunciados) com força normativa o operador do Direito chega a determinado e específico conteúdo, sentido e objetivo desse enunciado, em face de um caso concreto (real ou hipotético)”.

Para Barroso (2019, p. 263)

A interpretação jurídica consiste na atividade de revelar ou atribuir sentido a textos ou outros elementos normativos (como princípios implícitos, costumes, precedentes), notadamente para o fim de solucionar problemas. Trata-se de uma atividade intelectual informada por métodos, técnicas e parâmetros que procuram dar-lhe legitimidade, racionalidade e controlabilidade. A aplicação de uma norma jurídica é o momento final do processo interpretativo, sua incidência sobre os fatos relevantes. Na aplicação se dá a conversão da disposição abstrata em uma regra concreta, com a pretensão de conformar a realidade ao Direito, o ser ao dever ser.

No que tange a aplicação da hermenêutica em âmbito constitucional, esta pode ser representada pelo controle de constitucionalidade repressivo (abstrato ou concentrado). Neste contexto, o Supremo Tribunal Federal detém a competência de interpretar a Constituição, a fim de invalidar uma lei baseada em norma inconstitucional, visando garantir segurança nas relações jurídicas.

Nesse sentido, Saleme (2011, p. 171) traz o seguinte entendimento

O STF tem como tarefa precípua a guarda da Constituição. Suas decisões devem se pautar pela neutralidade. A função do magistrado é a simples interpretação de lei ou ato e sua pertinência em face da Constituição. Isso caracterizaria o formalismo hermenêutico sem espaço para construções jurisprudenciais. Contudo, observa-se, esporadicamente, a necessidade de determinadas adaptações a fim de buscar-se uma coerência e uma interpretação lógica e adequada à segurança jurídica.

Por isso, de modo a tornar o tema mais compreensível, nos próximos títulos serão abordados, primeiramente, as particularidades do STF e suas competências. Mais adiante, as diferenças entre hermenêutica e interpretação constitucional, seus métodos e princípios, assim como sua relação com o papel principal da Suprema Corte.

3.1 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

O STF é o órgão de cúpula do Poder Judiciário sediado em Brasília/DF, mas com jurisdição em todo o território nacional.

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O Supremo Tribunal Federal é composto por 11 (onze) Ministros. Sendo que, de acordo como o art. 12, § 3°, IV e art. 101, da CF, os membros devem ser cidadãos brasileiros natos; possuir notável saber jurídico e reputação ilibada e; ter entre trinta e cinco e sessenta e cinco anos (BRASIL, CRFB, 2020).

Popularmente conhecido como o guardião da Constituição, o STF possui entre suas atribuições: promover a proteção dos direitos fundamentais contidos na Carta Maior. Este sistema de fiscalização da constitucionalidade das leis e dos atos normativos em geral, é denominado controle de constitucionalidade. Para Bulos (2018, p. 187) “o controle de constitucionalidade é o instrumento de garantia da supremacia das constituições. Serve para verificar se os atos executivos, legislativos e jurisdicionais são compatíveis com a carta magna”.

Em síntese, Bulos (2018) explica que o controle de constitucionalidade pode ser classificado da seguinte forma: Quanto ao órgão fiscalizador, que usa técnicas de controle político, controle jurisdicional e controle misto e; quanto ao momento da fiscalização, que usa técnicas de controle preventivo e controle repressivo.

O controle político geralmente é realizado por órgão pertencente aos Poderes legislativo e Executivo. Já o controle jurisdicional é exercido de forma exclusiva pelo Poder Judiciário, através dos juízes e tribunais. O controle misto é justamente uma combinação entre o político e o jurisdicional. Ou seja, é a utilização das técnicas difusa e concentrada, onde o judiciário fiscaliza certos temas, enquanto o legislativo e o executivo ficam responsáveis por outros assuntos (BULOS, 2018).

Com relação ao momento da fiscalização, o controle preventivo acontece quando a lei ou ato normativo inconstitucional ainda está na etapa de projeto. Já o controle repressivo é exercido após a produção da lei ou ato normativo.

Dito isso, encaminha-se para a abordagem do controle jurisdicional exercido pelo Poder Judiciário, dando destaque as atribuições do STF, a fim de dar maior foco ao objeto deste trabalho.

3.2 CONTROLE JURISDICIONAL E AS COMPETÊNCIAS DO STF

O controle jurisdicional, também denominado jurídico, pode ser difuso ou concentrado. De acordo com a definição de Bulos (2018, p. 201)

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Controle jurisdicional concentrado — exercido pelo Supremo Tribunal Federal, fiscaliza a inconstitucionalidade das leis e atos normativos federais e estaduais, na via de ação. Trata-se de um controle abstrato, instaurado por provocação dos agentes, órgãos e entidades previstos no art. 103 da Lei Maior. Também pode ser acionado o controle abstrato de leis ou atos normativos estaduais ou municipais perante os Tribunais de Justiça dos Estados, em face das constituições estaduais (CF, art. 125, § 2o).

Controle jurisdicional difuso — realizado por juízes e tribunais, nos processos de sua competência (CF, art. 97). O Supremo Tribunal Federal também o pratica em sede de recurso extraordinário (art. 102, III, a, b e c) e de recurso ordinário ou quando aprecia a inconstitucionalidade de leis ou atos normativos que se tenham fundado em decisões recorridas (art. 102, II). O Superior Tribunal de Justiça exercita o controle incidental via recurso especial (art. 105, III, a, b, c). Recordemos, nesse contexto, o enunciado contido na Súmula 568 do STJ: “O relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver entendimento dominante acerca do tema”.

Nota-se que o STF pode atuar tanto com o controle difuso (via de exceção), quanto com o concentrado (via de ação).

O controle difuso autoriza qualquer das partes, no curso de um processo, declarar o problema da inconstitucionalidade como questão prejudicial, cabendo ao juiz ou tribunal decidi-la. Pois, só assim a questão principal poderá ser resolvida (BULOS, 2018).

O objetivo no controle difuso é sanar a questão da inconstitucionalidade e não o litígio do processo. Ou seja, ele não se atém ao mérito da causa.

O Supremo Tribunal Federal poderá fazer uso do controle difuso quando analisar Recurso Extraordinário, Recurso Ordinário ou, quando julgar a inconstitucionalidade de normas baseadas em decisões recorridas. Isto se pode extrair dos artigos 102, inciso III, alíneas a, b, c e, art. 102, inciso II, ambas da CF/88 (BRASIL, CRFB, 2020).

Já o controle concentrado, que está intimamente relacionado ao tema central deste trabalho, autoriza que somente o STF discuta a inconstitucionalidade das leis ou atos normativos. Também chamado de controle abstrato, está atrelado à via de ação e busca realizar a justiça constitucional.

Bulos (2018, p. 235) ensina que “o controle concentrado apresenta as características do chamado processo objetivo. Processo objetivo é aquele que segue regras próprias, não sendo regido pelas mesmas diretrizes do processo ordinário, comum ou subjetivo”.

Entende-se, portanto, que o controle concentrado segue regras próprias para resolver as questões de ordem constitucional e não aquelas dispostas no CPC, aplicáveis na resolução de conflito entre partes.

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Importante assunto a se tratar é o fato de que o STF não pode atuar como um legislador positivo. Ou seja, criar leis ou atos normativos primários. Pois, caso pudesse, entraria no campo de atuação do Legislativo e assim, violaria o princípio da separação dos poderes previsto no art. 2º da CF “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (BRASIL, CRFB, 2020).

Dito isso, o STF deve ser visto como um legislador negativo que não cria leis, mas as retira da ordem jurídica por serem inconstitucionais (BULOS, 2018).

Para tanto, o Pretório Excelso é dotado de instrumentos previstos na Constituição Federal e nas leis infraconstitucionais, que possibilitam realizar a tutela da ordem jurídica. Dentre estes instrumentos de defesa da Constituição é possível citar: Ação direta de inconstitucionalidade genérica (art. 102, I, a, 1º parte da CF/88); ação direta de inconstitucionalidade interventiva (art. 36, III, da CF/88); ação direta de inconstitucionalidade por omissão (art. 103, § 2º, da CF/88); ação declaratória de constitucionalidade (102, I, a, 2º parte, da CF/88) e; arguição de descumprimento de preceito fundamental (art. 102. § 2º, da CF/88) (BRASIL, CRFB, 2020).

Sendo assim, após estudar de forma suscinta o sistema de controle de constitucionalidade adotado pelo Brasil, em especial o controle repressivo composto pelas técnicas de controle difuso e concentrado, pode-se afirmar que a função principal do Supremo Tribunal Federal é a guarda da Constituição, de seus princípios valores e normas. Para isso, faz uso das técnicas de interpretação e hermenêutica, a fim de declarar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade das normas ou atos normativos.

Por isso, o próximo título tratará sobre hermenêutica jurídica e interpretação constitucional. O intuito é compreender este método que auxilia os ministros da Suprema Corte a julgarem os instrumentos de defesa da constituição.

3.3 HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL

Para o autor Puccinelli Junior, a interpretação expressa a busca de um objeto e complementa que, “no campo jurídico, a interpretação visa desvendar o real sentido e alcance de uma norma jurídica, atividade que para alguns é descritiva e para outros é eminentemente constitutiva, por envolver esforço criativo e escolha de um significado entre vários possíveis” (PUCCINELLI JUNNIOR, 2015, p. 95).

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Entendimento semelhante é o de Tavares (2019, p. 183), “a interpretação não é uma atividade descritiva, mas sim construtiva; não se “extrai” o significado do enunciado normativo [...] A interpretação é ‘atribuição’ de conteúdo, sentido e objetivo, por parte daquele que procede na delicada tarefa hermenêutica’’.

A hermenêutica deriva do grego hermeneuin, que pode ser entendida como a teoria ou filosofia da interpretação. É associada ao deus grego Hermes, conhecido como o mensageiro dos deuses na mitologia grega, que transmitia as mensagens dos deuses e traduzia tudo o que a mente humana não compreendesse (SOARES, 2019).

Na atualidade, a hermenêutica é reconhecida como a ciência ou arte da interpretação. Segundo Maximiliano (2017, p. 1), “tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito”.

O autor ainda conclui que hermenêutica e interpretação não são sinônimos, isto porque esta, é a aplicação daquela. Ou seja, a hermenêutica desvenda e estabelece os princípios que regem a segunda (MAXIMILIANO, 2017, p. 1).

Nesse contexto, Puccinelli Junior (2015, p. 95) define a hermenêutica como, “o ramo do conhecimento científico que estuda as regras que presidem o processo de interpretação das normas jurídicas”.

É imprescindível que a Constituição seja interpretada de forma mais minuciosa possível, haja vista que se trata de norma fundamental, fonte comum de validade de todas as normas do ordenamento jurídico. Assim, uma vez que a Constituição recebe nova interpretação com novo sentido e alcance ampliado, uma norma infraconstitucional anteriormente válida, poderá ser afastada por estar em desacordo com o novo entendimento.

Acerca da necessidade da interpretação, Bulos (2018, p. 447) se posiciona no sentido de que

Nenhum texto constitucional dispensa interpretação, sob pena de não adaptarmos o dever ser de suas normas ao influxo dos acontecimentos sociais, históricos, políticos, religiosos e econômicos, presentes num determinado momento. Extrair as finalidades supremas dos preceitos constitucionais, tornando-os efetivos e harmônicos entre si, é a palavra de ordem na exegese das constituições. Sem isso, a aplicabilidade dos direitos, garantias e liberdades fundamentais não se realiza, uma vez que não se pode aplicar aquilo que não se entende. Assim, a importância da interpretação constitucional é indiscutível, pois ela antecede a própria aplicação das normas fundamentais que organizam o Estado.

Dito isso, a interpretação constitucional assim como a interpretação do Direito, deve obedecer a algumas orientações. Pois, o direito nada mais é do que um sistema de

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normas que não tolera contradições, devendo ser considerado um conjunto coeso e coerente (TAVARES, 2019).

O mesmo autor ainda assevera

Isto porque o intérprete é obrigado a partir sempre das normas constitucionais, adequando, sempre que necessário, as normas infraconstitucionais ao conteúdo específico da Constituição. Daí decorre, inclusive, a denominada interpretação conforme a Constituição, uma das mais relevantes orientações interpretativas (TAVARES, 2019, p. 184).

A interpretação conforme a Constituição, além de um princípio, mostra-se como uma das limitações impostas ao intérprete pela própria Constituição, devido a sua supremacia sobre as demais normas do direito.

Para a doutrina, a existência de uma hermenêutica constitucional se justifica por diversos elementos, que dão significado à necessidade de aplicação dessa “ciência” em âmbito constitucional. Neste sentido, destaca-se a jurisdição constitucional, que objetiva fazer valer a Constituição como norma suprema dentro do ordenamento jurídico. E, outros elementos essenciais como a própria supremacia da Constituição, os princípios e as normas abstratas. (TAVARES, 2019).

Com efeito, sabe-se que a Constituição é composta por diversos dispositivos com significados vagos e genéricos, principalmente aqueles relativos aos direitos previstos no art. 5°. Sendo que a maioria destes dão grande margem para interpretação. Este é o real motivo que justifica a necessidade de uma hermenêutica constitucional.

Corroborando com o assunto, Puccinelli Junior esclarece

A linguagem e a abertura do texto constitucional, permeado por princípios e termos vagos e polissêmicos, reforçam a necessidade de substituir o paradigma conservador por uma postura hermenêutica que agregue racionalidade à atuação dos intérpretes, numa linha evolucional verdadeiramente guardiã̃ e obsequiosa da supremacia constitucional (PUCCINELLI JUNIOR, 2018, p. 96).

O mesmo autor ainda complementa ao avaliar a postura do Supremo Tribunal Federal como intérprete e guardião da Constituição

Nesse contexto, digna dos elogios mais fervorosos é a dinâmica atuação do STF, que, como interprete final da Constituição brasileira, vem se divorciando de um modelo meramente contemplativo para protagonizar firme defesa da efetividade e expansividade do texto magno (ativismo judicial), de modo a pautar discussões de há muito pendentes e rever soluções insatisfatórias conferidas a institutos constitucionais num passado recente, como exemplificam os casos de liberação de pesquisas científicas com células-tronco embrionárias e redefinição dos efeitos da decisão proferida em sede de mandado de injunção (PUCCINELLI JUNIOR, 2015, p. 96).

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Enfim, após breve diferenciação entre hermenêutica e interpretação, serão abordados os diferentes métodos e técnicas de interpretação.

3.4 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO

Os métodos de interpretação surgem como importantes instrumentos que auxiliam na difícil tarefa de elucidar a norma constitucional.

Por isso, é necessário esclarecer que os métodos tradicionais de interpretação constitucional, conhecido como método jurídico clássico, foram desenvolvidos pelo jurista alemão Friedrich Carl Von Savigny. Estes métodos, a princípio, foram desenvolvidos para aplicação no direito civil e consequentemente passaram a ser utilizados na interpretação constitucional, devido à ausência de métodos específicos para tal (PEIXINHO, 2015).

Nas últimas décadas, porém, começaram a ser desenvolvidos métodos modernos, próprios para a interpretação em âmbito constitucional. Isso fez com que a maioria dos autores passassem a considerar o método clássico insuficiente para a resolução de casos mais complexos, visto que este comparava a Constituição como uma lei comum, considerando seu texto como única fonte de entendimento.

Ocorre que a Constituição é mais do que um simples texto legal. Possui valores e princípios (explícitos e implícitos). Ou seja, possui um texto que dá margem para interpretação de seus sentidos.

Nesta esteira, argumenta Peixinho (2015, p. 56)

Savigny quando desenvolveu seus métodos de interpretação refletia sobre o direito privado e analisava regras jurídicas e institutos jurídicos próprios para a unidade do sistema. [...] Logicamente, como dito anteriormente, as normas constitucionais se revestem de características próprias, com textura aberta e contém princípios orientadores cuja interpretação não pode se subsumir a silogismos e reducionismos da interpretação estritamente legalista, já́ que este tipo de interpretação sofre severas restrições mesmo no direito privado

Por isso, serão destacados os métodos modernos de interpretação constitucional, pois foram desenvolvidos única e exclusivamente para este fim. Ademais, cumpre ao menos mencionar os elementos de interpretação que compõem o método jurídico clássico. Para isso, Padilha (2018, p. 116) elucida sobre esse método e elenca seus elementos

A Constituição deve ser interpretada como uma lei, utilizando para isso os métodos tradicionais de interpretação. De acordo com esse entendimento, os elementos de interpretação são:

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a)elemento literal (gramatical, filológico, textual ou semântico) – a análise é puramente literal, textual; b)elemento sistemático – busca o estudo da Constituição como um todo; c)elemento lógico – analisa a Constituição de forma a harmonizar suas normas; d)elemento genético – investiga as origens dos conceitos utilizados no texto constitucional; e)elemento histórico – analisa o momento em que ocorreu o procedimento constituinte, o contexto que levou os constituintes a positivarem o texto daquela forma; f)elemento teleológico (sociológico) – estuda a finalidade da norma; g)elemento judicial – é a realizada por órgão integrante do Poder Judiciário; h)elemento administrativo – é exercida por servidor com atribuições para tanto, pertencente aos quadros do Poder Executivo; i)elemento doutrinário – parte da interpretação doutrinária realizada sobre o instituto ou texto constitucional; j)elemento evolutivo – inerente à mutação constitucional.

3.4.1 Método tópico-problemático

Este método aponta que, os elementos do ordenamento jurídico estão preestabelecidos à resolução de problemas concretos. Isso significa que, a Constituição é um sistema de princípios e regras abertas, fazendo com que a interpretação da norma tenha que partir de um problema específico.

Dellagnezze (2019, p. 1) assim conclui

[...] que um problema permite mais de uma resposta; e que, o tópico é a técnica do pensamento problemático, então, pode-se dizer que os meios hermenêuticos tradicionais não resolvem dificuldades da interpretação concretizadora do novo modelo constitucional e que, por isso, o método tópico-problemático aparece, se não como o único, pelo menos, o mais adequado para se chegar até a Constituição.

3.4.2 Método hermenêutico-concretizador

Quanto ao método hermenêutico-concretizador, é o oposto do método tópico. Pois, enquanto o segundo tende a dar relevância na discussão dos problemas, o primeiro, parte da Constituição para o problema. Ou seja, busca solucionar o alcance e o sentido da norma ao aplicar a realidade social na mesma.

Para isso, o intérprete faz uso de sua própria pré-compreensão da norma em análise (pressuposto subjetivo), que será concretizada quando for aplicada a um caso concreto (pressuposto objetivo). Isto se denomina círculo hermenêutico. (DIAS, 2017).

Nessa mesma linha, Moraes (2019, p. 162) traz o seguinte posicionamento

Por último, a interpretação constitucional restringir-se-ia a dois elementos, consistentes na pré-compreensão, isto é, formação de um juízo, abstrato e antecipado, sobre a norma constitucional que figura como objeto da interpretação, e

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problema concreto, ou seja, situação de fato em relação à qual a norma constitucional, uma vez interpretada, é aplicada.

3.4.3 Método normativo-estruturante

Demonstra a diferença entre texto normativo e norma jurídica. Mostrando-se necessário que ao analisar o enunciado, esta seja feita visando sua aplicação na realidade social.

Nos dizeres de Canotilho (1993, apud VASCONCELLOS, 2018, p. 85)

O intérprete-aplicador deve considerar e trabalhar com dois tipos de elementos de concretização: um formado pelos elementos resultantes da interpretação do texto da norma; e outro resultante da investigação do referente normativo. Por outras palavras, o texto e a realidade social que este visa retrata.

3.4.4 Método científico-espiritual

Este método considera a Constituição um fenômeno cultural. Não tem como foco o estudo da literalidade da lei. Ao contrário, visa entender os valores e a realidade social implícitos no texto constitucional.

Nesse sentido, preleciona Mendes e Branco (2019, p. 93)

Tem o seu corifeu no jurista alemão Smend. Enxerga‐se a Constituição como um sistema cultural e de valores de um povo, cabendo à interpretação aproximar‐se desses valores subjacentes à Constituição. Esses valores, contudo, estão sujeitos a flutuações, tornando a interpretação da Constituição fundamentalmente elástica e flexível, submetendo a força de decisões fundamentais às vicissitudes da realidade cambiante.

3.4.5 Método da comparação constitucional

“Este método busca estabelecer uma comparação entre os ordenamentos constitucionais de Estados distintos, com vistas a identificar e compreender o regime, sentido, alcance e natureza dos mais variados institutos constitucionais” (PUCCINELLI JUNIOR, 2015, p. 100).

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3.5 PRINCIPIOS DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL

Juntamente com os métodos interpretativos trabalhados até então, a hermenêutica constitucional desenvolveu diversos princípios que devem ser aplicados em conjunto pelo intérprete, a fim de traçar parâmetros capazes de identificar o real sentido e alcance de uma norma.

No entanto, Sarlet (2019, p. 222) adverte

Sob o rótulo “princípios da interpretação constitucional” cuida-se de elencar um catálogo do que se poderia designar de técnicas e diretrizes para assegurar uma metódica racional e controlável ao processo de interpretação (e aplicação) da constituição e de suas normas (princípios e regras), portanto, auxiliar na construção de respostas constitucionalmente adequadas para os problemas jurídico-constitucionais.

A intenção do autor é esclarecer que assim como os métodos interpretativos, os princípios vistos a seguir, são pontos de vista interpretativos. Estes, apresentam-se como argumentos que auxiliam na solução de uma celeuma interpretativa, mas não possuem caráter normativo, nem mesmo decisório.

Em suma, são diversos os princípios que tratam da interpretação constitucional. Contudo, existem divergências entre a doutrina sobre os princípios aplicáveis. Por isso, serão demonstrados aqueles mais mencionados pelos autores em suas obras.

3.5.1 Princípio da unidade da constituição

Traz a ideia de que a Constituição deve ser entendida como um sistema unitário de normas, pelo qual não permite interpretação isolada. Deve ser analisada como parte de um todo, já que o intérprete deve procurar atribuir coerência ao sistema.

Nas palavras de Bulos (2018, p. 459), “pela unidade da constituição, o texto maior não comporta hierarquia entre suas próprias normas, pois o que se busca, por seu intermédio, é o todo constitucional, e não preceitos isolados ou dispersos entre si”.

Padilha ainda complementa (2018, p. 11), “a Constituição deve ser interpretada como um bloco único, não se analisando artigos isolados. A interpretação deve considerar todo diploma de forma harmônica, buscando evitar contradições entre suas normas”.

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3.5.2 Princípio do efeito integrador

“Referido princípio sustenta a ideia de que o intérprete deverá sempre que possível buscar soluções que propiciem a integração social e a unidade política na aplicação da norma jurídica, com respeito ao pluralismo existente na sociedade” (VASQUES,2016, p. 1).

Cumpre destacar que o princípio do efeito integrador se origina do princípio da unidade da Constituição. Além disso, a integração política e social deve estar presente na resolução dos conflitos, para que prevaleça o sentido de unidade da Constituição.

3.5.3 Princípio da máxima efetividade

De forma suscinta, este princípio visa atribuir às normas constitucionais, a maior eficácia possível. Sendo mais utilizada, geralmente, nas normas garantidoras dos direitos fundamentais.

De acordo com Puccinelli Junior (2015, p. 101), tal princípio traduz a ideia de que

a uma norma constitucional deve ser atribuído o sentido que maior eficácia lhe dê, o princípio da efetividade tem sua matriz ligada ao fenômeno da juridicização da Constituição e ao incremento de sua força normativa, diretrizes centrais do constitucionalismo contemporâneo.

3.5.4 Princípio da justeza ou da conformidade funcional

“O mencionado princípio tem por escopo, orientar o intérprete para que não chegue a uma exegese que deturpe o sistema organizatório-funcional estabelecido na Constituição, com violação às regras de competências e funções elencadas” (VASQUES,2016, p. 1).

A exemplo cita-se a separação dos poderes, estabelecida na Constituição pelo constituinte originário, a qual o intérprete não poderá alterar ou tomar decisões que influenciem mudanças nestes sistemas.

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3.5.5 Princípio da concordância prática, harmonização ou cedência recíproca

Deve ser aplicado nos casos em que há conflito de normas constitucionais. Cabe aos intérpretes conciliá-las, criando limites próprios para atuação de cada norma, em cada caso concreto pertinente a esta norma. Este princípio decorre do pressuposto de coerência e racionalidade do sistema constitucional, que por sua vez, também decorre do princípio da unidade da Constituição.

Corroborando com o assunto

Esse princípio determina que, perante situações conflituosas, o intérprete deve buscar uma solução harmoniosa que permita a coexistência dos direitos, princípios ou bens constitucionais em choque, evitando a supressão ou o sacrifício total de um valor em relação ao outro (PUCCINELLI JUNIOR, 2015, p. 104).

3.5.6 Princípio da força normativa da Constituição

O princípio da força normativa da lei determina que a norma constitucional, seja ela qual for, possui eficácia plena. Tal princípio adveio dos ensinamentos do jurista alemão Konrad Hesse, que afirma que qualquer norma do texto constitucional poderia figurar letra morta, caso a referida norma fosse desprovida de um mínimo de eficácia (COÊLHO, 2011).

“Assim, a Constituição deve ser interpretada de modo que lhe seja assegurada força normativa, reconhecendo a eficácia de suas normas, já que não se trata de uma mera carta política de intenções” (VASQUES, 2016, p. 1).

3.5.7 Princípio da proporcionalidade ou razoabilidade

Trata-se de um princípio de extrema importância, não só no âmbito da interpretação, mas também em todo o ordenamento jurídico. É composto por três elementos imprescindíveis: adequação; necessidade e; proporcionalidade.

Acerca dos elementos, Lenza (2018, p. 182) os destaca

Como parâmetro, podemos destacar a necessidade de preenchimento de 3 importantes elementos:

▪ necessidade: por alguns denominada exigibilidade, a adoção da medida que possa restringir direitos só se legitima se indispensável para o caso concreto e não se puder substitui-la por outra menos gravosa;

▪ adequação: também chamado de pertinência ou idoneidade, quer significar que o meio escolhido deve atingir o objetivo perquirido;

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▪ proporcionalidade em sentido estrito: sendo a medida necessária e adequada, deve-se investigar se o ato praticado, em termos de realização do objetivo pretendido, supera a restrição a outros valores constitucionalizados. Podemos falar em máxima efetividade e mínima restrição.

O referido princípio se destaca na colisão de valores protegidos pela Constituição, traçando um parâmetro racional, justo e equilibrado para a resolução destes conflitos. Neste sentido é o posicionamento de Barroso (2019, p. 292)

Trata-se de um valioso instrumento de proteção dos direitos fundamentais e do interesse público, por permitir o controle da discricionariedade dos atos do Poder Público e por funcionar como a medida com que uma norma deve ser interpretada no caso concreto para a melhor realização do fim constitucional nela embutido ou decorrente do sistema.

3.5.8 Princípio da interpretação conforme a Constituição

A interpretação conforme a Constituição defende que, na ocorrência de uma norma possuir vários significados, o intérprete deve optar pela interpretação que mais se aproxime do propósito constituinte. Afastando assim, as demais interpretações que violem a Constituição.

O princípio comentado decorre da supremacia da Constituição e, aos olhos da doutrina, é considerado uma técnica de decisão no controle de constitucionalidade, que tem como escopo evitar a invalidação de norma plurissignificativa ao optar por uma interpretação que não viole o texto constitucional (PUCCINELLI JUNIOR, 2015).

O mesmo autor ainda pontua que, muito embora o intérprete vise adequar uma norma à Constituição, este não está autorizado a atuar como legislador positivo. Mas sim, como legislador negativo, corroborando com os ensinamentos de Bulos, já citados anteriormente neste trabalho.

Contribuindo para essa linha de pensamento, Vasques (2016, p.1) entende que

A interpretação conforme a constituição mostrasse como a verdadeira técnica de controle de constitucionalidade [...] na interpretação conforme a Constituição, dentre as várias interpretações possíveis, o STF declara a constitucionalidade da norma em um determinado sentido que seja compatível com a Constituição, afastando as demais interpretações.

Contudo, não se pode confundir este princípio com a interpretação da Constituição conforme a lei, como muito bem aponta Mendes e Branco (2019, p. 96)

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Não se confunda, afinal, interpretação da lei conforme a Constituição, procedimento, como visto, sancionado pela jurisprudência e doutrina, com a interpretação da Constituição conforme a lei, prática que encontra reservas nessas mesmas instâncias. A admissibilidade sem a devida prudência de um tal exercício poderia levar à coonestação de inconstitucionalidades, deturpando‐se o legítimo sentido da norma constitucional [...].

Como se nota, este princípio busca conciliar o princípio da supremacia da Constituição, com o da presunção de constitucionalidade das leis. O objetivo é a preservação da norma objeto de declaração de inconstitucionalidade. Busca-se interpretá-la de modo a adequá-la à Constituição. Não sendo possível, o único caminho será declará-la inconstitucional (BARCELLOS, 2019).

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4 PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA

A segurança jurídica sempre foi objeto de estudo da doutrina. Pois, o homem como ser naturalmente curioso que é, sempre buscou a certeza das coisas ao seu redor. Fazendo uso principalmente de seu maior instrumento: o direito. Por isso, Souza (1996, p. 2) argumenta

[...] nos tempos de crise, a instabilidade das instituições e das relações humanas exige novas reflexões para encontrarmos fórmulas diretas de Justiça que restabeleça o equilíbrio social. Segurança e Justiça, à sua vez, são valores que se completam e se fundamentam reciprocamente: não há Justiça materialmente eficaz se não for "assegurado" aos cidadãos, concretamente, o direito de ser reconhecido a "cada um o que é seu", aquilo que, por ser justo, lhe compete.

Nessa mesma linha, Machado (2000, apud MENDES e BRANCO, 2019, p. 378) explica

É possível que a aplicação da lei no tempo continue a ser um dos temas mais controvertidos do Direito hodierno. Não raro, a aplicação das novas leis às relações já estabelecidas suscita infindáveis polêmicas. De um lado, a ideia central de segurança jurídica, uma das expressões máximas do Estado de Direito; de outro, a possibilidade e a necessidade de mudança. Constitui grande desafio tentar conciliar essas duas pretensões, em aparente antagonismo.

Observa-se que a segurança jurídica deve ser compreendida como um valor garantidor de justiça e dos direitos de cada cidadão.

De acordo com os ensinamentos de Barcellos (2019, p. 392) a segurança jurídica é, ao lado da justiça, um dos pilares gerais do Direito. É um princípio implícito da Constituição, manifestado em um conjunto de dispositivos como os que preveem a proteção ao direto adquirido, ao ato jurídica perfeito e à coisa julgada (CF, art. 5°, XXXV).

Assim, a aplicação deste princípio é indispensável para o desenvolvimento de uma sociedade organizada. Pois, é precípuo que exista segurança em todos os setores, em especial no exercício jurisdicional do estado por meio do poder judiciário.

Nesta esteira, Araújo (2010, p. 1) traz o seguinte posicionamento

As relações entre do Estado e também as mantidas entre particulares, necessitam de que haja um atributo de estabilidade, especialmente nas regulamentações, a fim de que os cidadãos tenham a possibilidade de que se concretizem suas legítimas expectativas e tenham a capacidade de compreender as reações e políticas a serem implementadas

Após essas breves noções, é possível concluir que o princípio da segurança jurídica impõe ao Estado a necessidade de garantir ao cidadão, estabilidade e previsibilidade

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das normas de direito e, nas relações jurídicas entre estes. Da mesma forma ocorre no poder judiciário. Sendo que suas decisões devem transparecer segurança ao indivíduo. Portanto, esses atos deverão ser realizados conforme a lei, a fim de terem validade no ordenamento jurídico brasileiro.

Adiante, será tratado de forma mais específica sobre a segurança jurídica, seu conceito, características e classificações. Bem como se destacará a sua importância no estado democrático de direito e sua aplicação em matéria penal.

4.1 CONCEITO E SUAS CARACTERÍSTICAS

Antes de tudo, é importante destacar o conceito de segurança jurídica, que pode ser entendido como

[...] princípio que impõe a atribuição da maior previsibilidade e estabilidade possível às relações humanas. Portanto, garante que uma nova lei não prejudique situações já consolidadas sob a vigência de uma lei anterior. Com efeito, a Constituição Federal declara que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (SEGURANÇA JURÍDICA, 2019).

Para Tavares, a segurança jurídica decorre do Estado Constitucional de Direito e complementa trazendo três elementos que julga essenciais na fundamentação deste princípio

[...] como primeira “densificação” do princípio da segurança jurídica, tem-se: i) a necessidade de certeza, de conhecimento do Direito vigente, e de acesso ao conteúdo desse Direito; ii) a calculabilidade, quer dizer, a possibilidade de conhecer, de antemão, as consequências pelas atividades e pelos atos adotados; iii) a estabilidade da ordem jurídica (TAVARES, 2019, p. 643).

Entendimento semelhante é o de Mosimann (2019, p. 1), que elenca dois conceitos determinantes para que se possa compreender a segurança jurídica

[...] (1) estabilidade ou eficácia ex post da segurança jurídica dado que as decisões dos poderes públicos ume vez adoptadas, na forma e procedimento legalmente exigidos, não devem poder ser arbitrariamente modificadas, sendo apenas razoável a alteração das mesmas quando ocorram pressupostos materiais particularmente relevantes; (2) previsibilidade ou eficácia ex ante do princípio da segurança jurídica que, fundamentalmente, se reconduz à exigência de certeza e calculabilidade, por parte dos cidadãos, em relação aos efeitos jurídicos dos actos normativos.

Por outras palavras, a estabilidade aqui mencionada, refere-se aos institutos do direito adquirido, do ato jurídico perfeito e, da coisa julgada. Visa garantir que tanto o legislador quanto o julgador não intervenham nas relações jurídicas já estabilizadas, pois do contrário, não poderia o direito garantir paz e tranquilidade no seio da sociedade.

Referências

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