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O serviço social no atendimento as famílias dos usuários internados na unidade de dependência química do Instituto de Psiquiatria do Estado de Santa Catarina

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA RAQUEL DOS SANTOS VIEIRA

O SERVIÇO SOCIAL NO ATENDIMENTO AS FAMÍLIAS DOS USUÁRIOS INTERNADOS NA UNIDADE DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA DO INSTITUTO DE

PSIQUIATRIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

PALHOÇA 2009

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RAQUEL DOS SANTOS VIEIRA

O SERVIÇO SOCIAL NO ATENDIMENTO AS FAMÍLIAS DOS USUÁRIOS INTERNADOS NA UNIDADE DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA DO INSTITUTO DE

PSIQUIATRIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina – Pedra Branca, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Msc. Maria de Lourdes da Silva Leite Basto

PALHOÇA 2009

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RAQUEL DOS SANTOS VIEIRA

O SERVIÇO SOCIAL NO ATENDIMENTO AS FAMÍLIAS DOS USUÁRIOS INTERNADOS NA UNIDADE DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA DO INSTITUTO DE

PSIQUIATRIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Serviço Social, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça,____de__________de 2009.

_____________________________________________________ Professora Orientadora: Maria de Lourdes da Silva Leite Basto Msc.

Universidade do sul de Santa Catarina

_____________________________________________________ 1º Membro da Banca: Profa. Msc. Andréia de Oliveira

Universidade do sul de Santa Catarina

_____________________________________________________ 2º Membro da Banca Enfermeira Roseli Stahelin Coelho, Esp.

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A minha mãe Braulina e ao meu pai Leonel (in memorian).

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AGRADECIMENTOS

Como é bom chegar ao fim de mais uma trajetória e lembrar daqueles que fizeram parte dela. Cada um com maneiras deferentes de agir, mais há sempre os especiais.

Á Deus, por todas as horas difíceis que passei nesta trajetória.

Ao meu esposo Juarez, por ter me acompanhar nas horas mais precisas, com seu jeito calmo e sempre com pensamento positivo.

Á minha amada e querida filha Jaqueline, por ter me apoiado nos momentos mais difíceis e soube entender a minha ausência nas horas que mais precisava.

A minha orientadora Maria de Lourdes, que além de desenvolver uma boa orientação, agradeço por ter acreditado neste trabalho e por respeitar o meu jeito de ser.

Aos meus colegas de trabalho, que me apoiaram nesta jornada.

A Gerente de Enfermagem Vera Lucia, do IPQ/SC pelo apoio e liberação nas horas necessárias.

A minha supervisora de campo Silvia, por ter me auxiliado durante o estágio.

Aos profissionais e internos da Unidade de Dependência química do Instituto de Psiquiatria do Estado de Santa Catarina que facilitaram a realização deste estudo para realizar este trabalho.

Aos meus colegas de graduação, pela convivência que tivemos e companheirismo. Aos meus professores, por terem paciência na hora que eu mais precisava.

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Oração da Serenidade

Concedei-me, Senhor, a Serenidade necessária Para aceitar as coisas que não Podemos modificar, Coragem para modificar aquelas que podemos, E sabedoria para distinguir umas das outras.

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RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso descreve a experiência vivenciada na Unidade de Dependência Química no Instituto de Psiquiatria do Estado de Santa Catarina. Apresenta como principal objetivo “demonstrar a importância da intervenção do Serviço Social junto aos familiares dos usuários internados na Unidade de Dependência Química do Instituto de Psiquiatria do Estado de Santa Catarina”; e como objetivos específicos: caracterizar a instituição do campo de estagio, apresentar a Unidade de Dependência Química do Instituto de Psiquiatria do Estado de Santa Catarina; contextualizar as atribuições do Serviço Social na Unidade de Dependência Química; descrever e analisar a intervenção do Serviço Social junto aos familiares. Com o trabalho realizado junto aos familiares, foi possível constatar a ocorrência de várias dificuldades em relação à dependência química, como: dificuldades financeiras, sentimento de culpa, de vergonha, a deteriorização dos vínculos afetivos na família, e muita preocupação com a agressividade manifestada pelos usuários. Os familiares eram orientados em relação ao desenvolvimento da doença, tratamento e continuidade. Através dos atendimentos individuais e de grupos, oportunizava-se um compartilhar de experiências, onde cada participante trazia a sua vivência, suas dificuldades, possibilitando um maior e melhor enfrentamento da doença.

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ABSTRACT

This work Completion of course describes the experience in the Chemical Dependency Unit of the Institute of Psychiatry of the State of Santa Catarina. Presents as main objective "to demonstrate the importance of intervention by social services with the families of users admitted in the Chemical Dependency Unit of the Institute of Psychiatry of the State of Santa Catarina", and as specific objectives: to characterize the institution of field training, provide the Chemical Dependency Unit of the Institute of Psychiatry of the State of Santa Catarina; contextualise the tasks of the Social Service Unit of Chemical Dependency, describing and analyzing the intervention of Social Services with the family. With the work done with the family, it was possible to establish the occurrence of various problems in relation to addiction, such as: financial difficulties, feelings of guilt, of shame, the deterioration of the emotional ties of family, and much concern about the aggressiveness expressed by users. The relatives were targeted for the development of disease, treatment and continuity. Through individual and group care, nurture is a sharing of experiences, each participant brought their experience, their difficulties, enabling greater and better coping disease.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11 2 CONTEXTUALIZANDO A DEPENDÊNCIA QUÍMICA ... 13 2.1 DROGAS: BREVE HISTÓRICO, CLASSIFICAÇÃO E EFEITOS NO ORGANISMO ... 13

2.2 OS EFEITOS CLÍNICOS DO ABUSO DE BEBIDAS

ALCOÓLICAS...19 2.3 ASPECTOS SOCIAIS DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA: ALCOOLISMO ... 20 2.4 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO AOS USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS DE ACORDO COM O SUS. ... 23 2.5.1 Al-Anon... 29 3 – A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DO ALCOOLISTA. ... 31 3.1 A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL COM A FAMÍLIA .. ... 31 3.2 A DINÂMICA FAMILIAR DO ALCOOLISTA ... 36 4 A SISTEMATIZAÇÃO DA PRÁTICA DE ESTÁGIO VIVENCIADA NA UNIDADE DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA DO INSTITUTO DE PSIQUIATRIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA. ... 41 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO INSTITUTO DE PSIQUIATRIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA ... 41 4.2 O SERVIÇO SOCIAL NO INSTITUTO DE PSIQUIATRIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA ... 45 4.2.1 O Serviço Social na Unidade de Dependência Química... 46 4.3 A EXPERIÊNCIA VIVENCIADA PELA ESTAGIÁRIA NA UNIDADE DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA ... 50

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 58

ANEXO A - Roteiro para Entrevista ... 65

ANEXO B - Ficha do Serviço Social ... 66

ANEXO C - Ficha de encaminhamento ... 67

ANEXO D - Lista dos CAPS de Santa Catarina ... 68

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho é resultado da experiência de estágio realizado na Unidade de Dependência Química no Instituto de Psiquiatria do Estado de Santa Catarina no período de Agosto de 2007 a Novembro de 2008.

Inicialmente, cabe esclarecer que o interesse pela temática da dependência química surgiu a partir da realização do estágio no setor de atendimento e triagem e na Unidade de Dependência Química do Instituto de Psiquiatria do Estado de Santa. Ao atender a demanda dependente, observou-se que o alcoolismo afeta a população em geral, sem distinção de sexo, raça, credo e/ou posição social, interferindo de modo decisivo na vida pessoal, familiar e profissional.

O lento processo de conscientização em relação ao uso abusivo de álcool e de outras drogas, a desigualdade social e as doenças mentais, que muitas vezes são causadas pela vida estressante que nos desafia, fez com que nos defrontássemos com uma população com ampliadas necessidades de atenção à saúde.

No que se refere ao alcoolismo, este é, reconhecidamente nos dias atuais, um problema de saúde pública, que interfere na dinâmica de todos os setores da vida do indivíduo.

Caldas (1998) trata o alcoolista como um indivíduo que sofre, sente dor, coleciona perdas, faz outros indivíduos sofrerem, perde a esperança e a motivação para viver, se auto-condena e é condenado, um ser que precisa, pode e deve ser ajudado e tratado.

Na verdade o alcoolismo é um problema significante para a sociedade atual e o fácil acesso ao álcool estimula o uso, sendo que este processo torna o individuo cada vez mais vulnerável e a ser etilista.

Diante disso, tornam-se válidos todos os esforços dos profissionais para amenizar os possíveis danos na tentativa de provocar mudanças no comportamento destes dependentes e de seus familiares.

Na sociedade atual há uma grande facilidade para o uso do álcool. Apesar da lei só permitir a venda à maiores de 18 anos, o consumo acontece entre menores.

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Desta forma, observa-se que a Lei não está sendo cumprida. Como consequência, a população jovem vem precocemente comprometendo não só, a sua qualidade de vida, mas também a de sua família.

Sendo assim, ao lado do dependente químico, caminha a sua família, que normalmente encontra-se em um processo desesperador, vivendo situações de conflito, stress e agressividade.

“Mesmo sabendo que manter a serenidade é o mais apropriado em momentos de dificuldades, os pais são tomados de intenso pânico e, quase sempre, assumem condutas inadequadas” (CAVALCANTE, 1997, p.109).

Acredita-se que cada família apresenta uma maneira de convivência com seu familiar alcoolista, desde o modo de cuidar até as possíveis soluções para amenizar o sofrimento. Não é somente o doente alcoolista que deve ter tratamento, mais sim, o seu familiar que se apresenta como co-dependente, devendo receber atenção e um tratamento digno.

Portanto, é necessário que o familiar cuidador conheça a patologia de seu membro, para que possa modificar seu estilo de vida em família, na tentativa de obter uma vida satisfatória, tanto para o alcoolista quanto para o familiar.

Constata-se que a família vem exercendo o papel de cuidadora e, assim, devem receber o foco da atenção tanto quanto o usuário.

Sendo assim, o referido trabalho encontra-se organizado da seguinte forma: No primeiro capitulo será abordado, sobre a dependência química, drogas: breve histórico; classificação e efeitos no organismo; aspectos sociais da dependência química: alcoolismo; as políticas públicas de atenção aos usuários de substâncias psicoativas de acordo com o SUS.

No segundo capitulo será abordada, a importância da família no processo de manutenção e tratamento do alcoolista, a intervenção do Serviço Social com a família do alcoolista e a dinâmica familiar do alcoolista.

No terceiro capitulo será apresentado o Instituto de Psiquiatria do Estado de Santa Catarina; o Serviço Social na Unidade de Dependência Química e a experiência vivenciada pela estagiária nesta Unidade.

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2 CONTEXTUALIZANDO A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Neste capítulo será apresentado um breve histórico da dependência química, bem como a classificação das substâncias psicoativas e seus efeitos no organismo. Também serão abordados os Aspectos Sociais da Dependência Química com ênfase no alcoolismo e as Políticas Públicas de atenção aos usuários de substâncias psicoativas de acordo com o SUS.

2.1 DROGAS: BREVE HISTÓRICO, CLASSIFICAÇÃO E EFEITOS NO ORGANISMO.

Grande parte das drogas é proveniente de plantas, na antiguidade eram utilizadas em rituais religiosos, culturais, sociais, entre outros. Estas plantas foram descobertas, em sua maioria, por culturas primitivas, que ao sentirem os efeitos mentais das mesmas passaram a considerá-las como "plantas divinas", isto é, que faziam com que, quem as ingerisse, recebesse mensagens divinas, dos deuses, pois elevavam o homem a uma dimensão não material, provocando alucinações. Dessa maneira, esses povos e culturas, em seus rituais, acreditavam estar em contato com forças da natureza e suas divindades. (IMESC, 2009)

Segundo Araújo & Moreira (2006), “nas sociedades ocidentais contemporâneas, o fim do século XIX e o inicio do século XX foram marcados pelo primeiro ciclo de intolerância ao uso de substâncias psicoativas”.

Os trabalhos científicos sobre dependência química na década de 20 eram muito escassos, no entanto, já existiam aproximadamente, 100 mil usuários de drogas, aumentando a cada década. As drogas perturbadoras tiveram seu uso popularizado na década de 60, com o movimento hippie. Este fenômeno sócio-cultural tratava-se de uma revolta contra os valores exclusivamente unitilitaristas, competitivos e materialistas, incorporados ao modo de vida das sociedades industriais que colocavam, em segundo plano, os sentimentos mais íntimos e as necessidades místico-religiosas. (LESSA, 1998 apud PORTO, 2006, p.10)

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“Nas décadas de 60 e 70 foi marcado um período de acentuado consumo de drogas. No fim da década de 70, o cenário das drogas, passou por mudanças, houve um novo ciclo de intolerância ao uso de drogas”. (ARAUJO & MOREIRA, 2006 apud PORTO, 2006, p.10).

Com o passar dos anos, as drogas deixaram de ser consumidas exclusivamente pelos adultos, passando também, a ser consumida pelos adolescentes e idosos, contribuindo de forma decisiva para a marginalidade. Com sua proibição, foi aos poucos se misturando aos valores sociais, culturais, econômicos e morais de cada sociedade. Na contemporaneidade, em muito a droga tem contribuído para determinar a forma como os relacionamentos acontecem, pois quase chega a ser um valor, uma cultura.

Segundo Bucher (1992, p.32), ”as drogas não dão um sentido à vida, mas podem realçar o sentido que o usuário consegue criar para si; mesmo num momento de crise econômica e de sombrias perspectivas sociais em um país como o Brasil”.

O Brasil tem reconhecido as substâncias psicoativas como um grave problema para a sociedade, pois o consumo aumentou nas duas últimas décadas. Mesmo que o consumo destas substâncias seja uma prática antiga, verifica-se que para a sua aceitação, são levadas em consideração várias situações. Pois muitas das substâncias são liberadas para o consumo, outras controladas como medicamentos, e outras literalmente proibidas.

Muitas pessoas experimentam substâncias psicoativas por problemas médicos, para relaxar, lidar com problemas, diminuir inibições, por prazer, por curiosidade, rituais religiosos. Estes são alguns dos motivos que levam o homem ao uso e uma pequena parte passa para padrões de uso de risco, devido a diferentes fatores como, tipo de droga utilizada, características biológicas e psicológicas e o contexto que o usuário faz o uso de drogas.

Segundo a Secretária Nacional Anti-Drogas (SENAD),

dependência é um impulso que leva a pessoa a usar uma droga de forma contínua ( sempre) ou periódica ( freqüentemente) para obter prazer. Alguns indivíduos podem também fazer uso constante de uma droga para aliviar tensões, ansiedades, medos, sensações físicas desagradáveis, etc. O dependente caracteriza-se por não conseguir controlar o consumo de drogas, agindo de forma impulsiva e repetitiva. (SENAD, 2002 apud PORTO,p.12).

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Entre o dependente químico e o usuário, é importante tornar bem visível que há diferenciação. De acordo com Silveira Filho (1995, p. 142),

[...] o dependente de drogas é um individuo para quem a droga passou a desempenhar um papel central na sua organização psíquica, na medida em que, através do prazer, ocupa lacunas importantes, tornando-se assim indispensável ao seu funcionamento psíquico, ou seja, um dependente, ao contrário do usuário, não pode prescindir da sua droga.

Segundo Ballone (2003), a Organização Mundial de Saúde, traça diretriz diagnosticando a dependência de drogas, sendo necessário para isso, que três ou mais critérios, conforme demonstrado abaixo, tenham sido preenchidos por doze meses.

• Forte desejo ou compulsão para usar a substância;

• Dificuldade em controlar o consumo da substância, no inicio, término e quantidade;

• Presença de tolerância, evidente pela necessidade de aumentar a quantidade para obter o mesmo efeito anterior;

• Abandono progressivo de outros interesses ou prazeres em prol do uso da substância;

• Persistência no uso, apesar das diversas conseqüências danosas.

• Presença da síndrome de abstinência ou uso da substância para evitar o aparecimento dela;

Podemos classificar as drogas em relação a sua legalidade, como lícitas e ilícitas. Em geral, as pessoas acreditam que drogas, são somente as ilícitas, pois são as que causam prejuízos diversos, mas, podemos observar que o uso das drogas licita (tabaco e álcool) também provocam efeitos sobre o Sistema Nervoso Central (SNC).

Sendo a droga considerada lícita, há permissão do Estado para serem comercializadas e consumidas. Porém, atualmente pode-se observar que na mídia diminuiu consideravelmente o volume de propagandas incentivando ao uso de bebidas alcoólicas. Em contrapartida, está havendo a exibição de propagandas como alerta para o consumo com moderação, apesar de ter pouca importância para os dependentes, além de receber pouco destaque nas programações. Pode-se dizer que a sociedade, ao tratar com naturalidade a ingestão de álcool para festejar,

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chorar e muitas vezes para confraternizar, é uma das responsáveis pelo grande número de indivíduos dependentes dessa droga.

Cabe salientar que para efeitos desse trabalho o enfoque está direcionado para a dependência do álcool, no entanto, torna-se importante abordar a classificação e os efeitos do uso de substâncias psicoativas no organismo, que por sua vez, causam conseqüências no âmbito familiar, social e no trabalho, entre outros.

As drogas podem ser extraídas de plantas ou produzidas artificialmente em laboratórios. Elas podem ser introduzidas no organismo de várias maneiras: ingeridas, inaladas, absorvidas pelos tecidos, fumadas, esfregadas no corpo/pele, aspiradas ou injetadas, sendo que a via de administração influencia nos efeitos obtidos.

Segundo Maison (2009), em relação aos efeitos sentidos as drogas podem ser divididas em três grupos básicos:

Estimulantes: São aquelas em que a pessoa fica alerta, atenta, dando a impressão de serem mais fortes, dinâmicos ou potentes, de renderem mais no trabalho, de tornarem-se mais corajosos, aumentando a atividade cerebral, agindo como estimulante do Sistema Nervoso Central, causando alterações no funcionamento do organismo tais como: aumento dos batimentos cardíacos, respiração, pressão sangüínea, temperatura corporal, perda do apetite e do sono.

Perturbadoras: São substâncias que produzem distorções, desvios ou anormalidades na atividade cerebral (funcionamento do Sistema Nervoso Central).

O cérebro funciona desordenadamente, "perturbando" a transmissão de mensagens nervosas até a consciência. As distorções de formas e cores são tidas em certas épocas como meio de entrar em contato com o sobrenatural. Porém, as alucinações correspondem a sintomas semelhantes à de problemas mentais graves.

Depressoras: São substâncias que deprimem a atividade geral do cérebro, causam certo relaxamento, em que a pessoa sente-se mais à vontade, mais calma. Quando utilizadas dão prazer porque afastam as sensações desagradáveis, reduzem a insônia, a ansiedade e a depressão.

O uso prolongado passa a ser crônico, causando efeitos físicos e/ou psíquicos: a fala fica arrastada, o pensamento e a memória prejudicados, podem ocorrer irritabilidade, alterações rápidas de humor, com o indivíduo indo do riso ao

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choro, de um momento para o outro, e com doses altas levam a convulsões, depressão respiratória e do cérebro, podendo até causar a morte.

A abordagem a seguir volta-se para a dependência do álcool, que faz parte das drogas depressoras e seus efeitos no organismo, pois, como já salientamos neste item, o presente estudo apresenta este enfoque.

Álcool: “é uma droga depressora do sistema nervoso central (SNC), que provoca uma redução das atividades cerebrais e uma diminuição do ritmo de suas ações” (AFORNALI & ARAUJO, 2007).

O álcool traz consigo inúmeros problemas e um deles, o mais conhecido, é o alcoolismo, que se relaciona com o consumo crônico do álcool. Um aspecto importante a ser destacado, consiste na hereditariedade, que durante os últimos anos, manifestaram sinais em pesquisas realizadas em gêmeos e adotados, e no fato de que a pessoa, com uma história familiar de alcoolismo, aparenta reagir de forma diferente das pessoas que não têm esse contexto familiar, sendo assim, o alcoolismo pode ter uma base hereditária. Vários pesquisadores mostraram que os filhos de pais alcoólicos são influenciados pelo álcool numa proporção inferior do que os filhos de pais não alcoólicos. É possível que continuem a beber durante mais tempo, porque demoram a perceber os efeitos negativos do álcool, que é de forma lenta.

Inicialmente, o usuário bebe socialmente, e devido à ação que provoca ao cérebro, sente-se relaxado, à vontade, corajoso e falante. Se gostar dessas sensações, provavelmente repetirá a experiência, com mais freqüência, com o tempo, poderá apresentar problemas sociais envolvendo família, trabalho e os amigos.

Segundo Assunção (apud ANTUNELLE & VIEIRA, 2004), o alcoolismo é uma doença considerada em três níveis: progressiva, crônica e fatal.

• Progressiva: porque os sintomas vão se intensificando, à medida que o alcoolista continua a usar bebidas alcoólicas, com aumento das doses e diminuição do intervalo de tempo entre as mesmas;

• Crônica: porque uma vez que o individuo torna-se dependente do álcool, só se manterá sem beber se evitar qualquer desta substância no seu organismo seja vinagre, xarope, ou qualquer bebida ou alimento que contém álcool.

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• Fatal: porque causa severos danos na vida do individuo alcoolista.

Segundo Afornali & Araújo (2007) a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1999, completou um estudo chamado “Global Stratum Reportion Alcohol”, realizado em 153 países. O Brasil ficou em 63º lugar no consumo de álcool em litros, totalizando 5,57 litros/per capita na população com mais de 15 anos.

Quando há casos de morte devido o consumo de álcool, geralmente não é percebida a causa mortis, e muitas vezes, o alcoolismo propriamente dito não é citado em laudos. Os indivíduos morrem, por outras razões, atropelamentos, problemas clínicos, brigas, acidentes no trabalho e transito etc. Não somente morre, mas mata pelo uso descontrolado do álcool.

Com a redução do uso prolongado e excessivo de álcool, começam a surgir sinais e sintomas no dependente. Este quadro é denominado de síndrome de abstinência, que é seguido de fortes tremores, alguns com náuseas ou vômitos, mal estar, taquicardia, transpiração, aumento da pressão sanguínea, ansiedade, depressão ou irritabilidade, passagens alucinadas ou ilusões, dores de cabeça, insônias.

Constitui-se desta forma, numa complicação do alcoolismo, sendo que seu aparecimento acontece de maneira discreta e clinicamente sutil. Diminuir estes sintomas é um dos desafios na adesão ao tratamento do alcoolismo.

Como resultado da interação de fatores biológicos, psíquicos e ambientais, pode ocorrer o delírio da abstinência alcoólica: um nível reduzido de consciência, desorientação, perturbações na memória, ilusões, e alucinações (normalmente visuais) com um comportamento muito desassossegado e agitado.

Também podem ocorrer alucinações alcoólicas, caracterizadas pela vivência de alucinações acústicas enquanto que a consciência se mantém clara.

O conteúdo das alucinações é frequentemente perturbador e desagradável para o viciado, algumas vezes de tal ordem que o indivíduo procura proteção, como por exemplo, da polícia.

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2.2 OS EFEITOS CLÍNICOS DO ABUSO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS

Neste item serão apresentados os efeitos que o alcoolismo causa no organismo de pessoas que abusam da ingestão de bebidas alcoólicas, segundo Athens (2009):

Sistema digestivo: Um risco acrescido para o aparecimento de carcinomas na zona superior do aparelho digestivo; este risco é ainda maior quando combinado com o tabagismo, gastrite com presença de náuseas, dores no abdômen superior, vômitos com presença de sangue, ulceras no estomago, aumento de produção de muco no pequeno intestino na motilidade intestinal, resultando em diarréia e na atrofia vilosa, conduzindo a deficiências nutricionais.

Pâncreas: Pancreatite aguda, recorrente e crônica. A pancreatite crônica é resistente. Depois de formada, a abstinência do consumo de álcool já não ajuda.

Fígado: hepatite, fibrose e cirrose. Eventualmente o funcionamento do fígado torna-se altamente perturbado, com conseqüências para muitas funções corporais, perturbações na coagulação sanguínea, intoxicação com doses normais de medicamentos, ou encefalopatia.

Coração: Redução da capacidade contractória do coração, que eventualmente conduz a uma cardiomiopatia. Também se pode verificar a ocorrência de arritmia. A morte súbita por falha cardíaca é mais comum entre os alcoolistas, devido provavelmente á combinação de arritmia com a esclerose coronária. Apesar da existência de hiperglicemia, alguns estudos deram a conhecer que o risco de esclerose coronária é menor entre os que consumidores de bebidas alcoólicas do que entre os abstinentes.

Sangue: A anemia megaloblástica (séria anomalia nas hemácias) como conseqüência da diminuição do acido fólico, e a anemia hemolítica, a trombicitopenia, uma deficiência nas plaquetas sanguíneas, que conduz à perturbação da coagulação.

Rins: A redução na eliminação do ácido úrico pode levar a um ataque de gota. O álcool também trás a supressão dos hormônios antidiuréticos, resultando numa produção acrescida de urina que pode levar a desidratação.

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Segundo Athens (2009), o alcoolismo apresenta as seguintes conseqüências neurológicas:

Polineuropatia simétrica afetando as pontas dos dedos das mãos e dos pés, assim como perturbações nos sentidos manifestadas em frases como: "andam insetos a passear-me nos braços".

Miopatia pode ser um resultado direto da influencia tóxica do álcool, e pode ser aguda ou crônica.

Síndrome de Wernicke-Korsakoff é principalmente o resultado de uma deficiência de vitamina B1. Os sintomas são: fortes perturbações psíquicas constantes, desorientação no espaço, tempo e pessoas; perturbações na memória no sentido da perturbação da sua inscrição, frequentemente com um caráter eufórico, confabulações, paralisia dupla dos músculos oculares, derrames na retina. Pequenos derrames no interior do cérebro podem ser anatomicamente observados. Se não for tratada desta síndrome é fatal. O tratamento consiste na administração de doses elevadas de vitamina B1.

2.3 ASPECTOS SOCIAIS DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA: ALCOOLISMO

O álcool é a substância psicoativa mais usada no Brasil. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o uso desta substância traz consigo inúmeros problemas e um deles, o mais conhecido, é o alcoolismo, que se relaciona com o consumo crônico de álcool. O alcoolismo é um problema muito sério, trazendo bastantes repercussões sociais, que são geradas pelo uso abusivo do álcool.

O álcool apresenta algumas características que fazem com que seu uso se sobressaia em relação a outras substancias, como: o fato de ser uma substancia licita e culturalmente aceita; de fácil acesso e baixo preço; apresentar deficiência na fiscalização dos seus pontos de vendas; entre outras. (NIEL & JULIÃO, 2006).

Na verdade a população não considera álcool como droga por ser licita, considerando drogas apenas as ilícitas (conforme descrito no item 1.1), contribuindo para a valorização do uso.

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O alcoolismo é considerado uma doença com características biológicas, psicológicas e socioculturais.

Com relação ao fator biológico, pressupõe-se que o abuso e a dependência são determinados por uma pré-disposição biológica, constituindo a doença crônica, progressiva e incurável. Os fatores psicológicos são determinados por características da personalidade preexistentes ao consumo do álcool, como: insegurança, baixa resistência à frustração, entre outros. Quanto aos fatores socioculturais, considera-se a influencia da família ou do grupo social na qual o usuário está inserido. (MOTTA & QUEIROZ, 2006). Essa droga causa muitos prejuízos sociais, perdas de ordem material, aumento da insegurança e da violência, a deterioração do relacionamento humano.

Na realidade o homem quando se relaciona com a droga, geralmente apresenta irritabilidade, frustrações e carência afetiva, no seu dia a dia podendo gerar depressão e ansiedade, levando-o a buscar alívio em um ato tóxico.

A Comissão de Narcóticos das Nações Unidas concluiu que está havendo, em todo o mundo, um aumento crescente da produção e consumo de drogas. Porém, com este dado detectado foi o despertar de muitos países, para o problema das drogas, e que levou à realização de programas preventivos. (SERRAT, 2001 p. 148).

Considerando-se a realidade brasileira, evidencia-se uma distribuição desigual de renda, a crise de valores enfrentada pela sociedade, a desagregação familiar e a influência da mídia como fatores predominantes, podendo interferir no uso decisivo do álcool.

Internações na rede do Sistema Único de Saúde, doenças decorrentes do uso dessas substâncias, aumento de taxas de homicídios e atos violentos, acidentes de trânsito e de trabalho, desagregação familiar, diminuição da expectativa de vida, queda de produtividade, são alguns dos custos sociais e econômicos da utilização abusiva de substâncias psicoativas (SERRAT, 2001).

O álcool quando atua, se manifesta através de descontração, poder, alteração e alegria. Através desta dependência, o usuário vive totalmente com a droga, prejudicando suas relações e inclusive sua imagem. Os usuários em seu local de trabalho apresentam dificuldades como: faltas, que geralmente acontecem nas segundas-feiras ou após feriados prolongados; pouco rendimento; sonolência,

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colocando em risco sua vida e de outros profissionais, principalmente se trabalhar operando equipamentos ou automóveis. Também, mau relacionamento com colegas de trabalho por diversas alterações de conduta, pois não aceita estar errado e ainda, mudança no lado emocional.

Com tantas dificuldades em relação aos trabalhadores alcoolistas, as empresas devem realizar e desenvolver programas assistenciais e programas de prevenção ao álcool.

Apesar das dificuldades encontradas para implantar programas assistenciais, sejam nas instituições públicas ou privadas, particularmente as que tratam de dependência química, esses locais constituem uma opção essencial para a prevenção e o diagnóstico precoce do alcoolista (AFORNALI & ARAUJO, 2007, p.24).

Quanto mais cedo for diagnosticado e tratado adequadamente, o usuário terá maior possibilidade de interromper o processo de dependência.

O alcoolismo envolve tanto a família, quanto o usuário. Dos familiares os mais atingidos são os cônjuges, os filhos, pais, irmãos, avós, tios e tias.

Através do cuidado compulsivo, a família terá a oportunidade de observar o usuário em seus limites, ganhos, perdas e sua diferença no comportamento.

A família assume o papel de cuidadora não sabendo agir, sentindo incapaz e ao mesmo tempo culpada pela situação e o usuário de uma pessoa incapaz que necessita de cuidados e escuta. Com isso a família começa a se isolar socialmente, em parte como estratégia de proteção; os convites são recusados, as pessoas não são estimuladas a convidar, os parentes não são visitados. (EDWARDS, 1987).

Com passar do tempo, à família sente que estas estratégias não funcionam, que a cada dia piora a situação, criando-se assim um sentimento de desespero, e a família acaba buscando ajuda.

Geralmente a família procura atendimento médico para o usuário e informações sobre os alcoólicos anônimos. Também, são procurados livros sobre alcoolismo, para aumentar o próprio conhecimento, além de muitas vezes ser necessário o afastamento dos familiares, para um período de desintoxicação. Várias dificuldades e dúvidas vão surgindo, por este motivo, faz-se necessário ouvir os familiares, sobre o momento que estão passando com o usuário. As situações vividas pela família no contexto da doença que envolve o alcoolismo se manifestam com irresponsabilidade, agressividade, alterações de afeto, insônia e comportamento imprevisível, entre outras.

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O profissional não precisa estar todo o tempo com o familiar, mais deve considerar a família, como essencial no processo de avaliação e tratamento do dependente.

Ao lidarmos com esse problema, devemos perceber que a pessoa nesta condição, tende a tornar-se mais alienada, pessimista e sem nenhuma esperança, uma excluída. É preciso capacitá-la durante as entrevistas a compreender os acontecimentos, os processos e os danos sociais.

2.4 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO AOS USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS DE ACORDO COM O SUS.

A partir da Constituição Federal de 1988, o Brasil avançou em relação à saúde. Dessa forma, todo brasileiro tem garantido por Lei o acesso às ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde, executadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), através de uma rede de serviços de saúde.

O SUS foi regulamentado pela Lei nº. 8.080, de 1990, Lei Orgânica da Saúde, formada pelo conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, em caráter complementar pela iniciativa privada. Assim, novas formas de organização de trabalho na área da saúde, passaram a ser necessárias.

Segundo Borja (2003), o SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, com ele o Brasil passou a ter um sistema público de saúde único e universal, sendo o único a ter uma assistência gratuita e integral para toda população.

O artigo 3º da Lei nº. 8.080/90 define saúde não apenas como ausência de doenças, mas sendo determinada e condicionada pela alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, lazer, etc. garantindo condições de bem-estar físico, mental e social às pessoas e à coletividade.

Desta forma, novos desafios no campo da saúde estão surgindo, nessa perspectiva, o álcool e outras drogas vêm recebendo destaque devido à

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necessidade de uma ação não apenas ampliada, mas com uma perspectiva que permitia a apreensão do uso/ abuso/ dependência de álcool e outras drogas de modo integrado e diversificado em ofertas terapêuticas, preventivas, reabilitadoras, educativas e promotoras da saúde (BRASIL, 2003).

Com as crescentes conquistas e ampliações dos direitos sociais, no âmbito da Constituição Federal e do SUS, é garantido aos usuários de serviços de saúde mental e, consequentemente, aos que sofrem por causa de transtornos decorrentes do consumo de álcool e outras drogas, a universalidade e totalidade de acesso e direito á assistência (CARVALHO & MIRANDA).

No Brasil, o consumo de drogas intensificou-se nos anos 60, principalmente nos países industrializados. A partir da década de 70 passou a ser entendido como problema de saúde pública, onde se criou a Lei nº. 6.368, de 1976, sobre medidas de prevenção e repreensão ao tráfico.

Sendo assim, foi criado o Sistema Nacional Antidrogas (SISNAD)em1976, porém regulamentado em 1998, com objetivo de organizar, articular e integrar as atividades do setor público, para prevenção do uso indevido de drogas, reduzindo os danos causados pelo uso das substâncias.

Na década de 80 e inicio de 90, os assuntos relacionados às drogas e as conseqüências que as mesmas causam estavam subordinadas ao Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN).

Conforme Decreto nº. 85.110, de 1980, o CONFEN é o órgão central do SISNAD, sendo vinculado ao Ministério da Justiça, tendo como objetivos: propor a política nacional de entorpecentes, elaborar planos, exercer orientação normativa, coordenação geral, supervisão, controle e fiscalização das atividades relacionadas com o tráfico e uso de substâncias que determinam dependência física e psíquica.

Nos âmbitos estadual e municipal, a ação voltada à prevenção ao uso de drogas se dá através dos Conselhos Estaduais de Entorpecentes (CONEM) e dos Conselhos Municipais de Entorpecentes (COMEN).

O CONEM-SC foi criado pelo Decreto nº. 18.505, de 1982, com as seguintes atribuições, conforme artigo 1º:

Fica instituído o Sistema Estadual de prevenção, Fiscalização e Repressão ao Uso de Entorpecentes ou que determinem dependência física ou química, respeitando o disposto no artigo 8º, inciso VIII, da Constituição Federal, bem como as atividades de recuperação de dependentes.

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Já, no Município de Florianópolis, o COMEN foi criado pela Lei nº. 3713, de 1992, tendo por responsabilidade, no seu artigo 1º,

Fica instituído o Conselho e o Sistema Municipal de Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Uso de entorpecentes, integrado aos Sistemas Federal e Estaduais de Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Uso de Entorpecentes, destinados a auxiliar e cooperar com as atividades de prevenção, fiscalização e ao tráfico e uso de substancias entorpecentes ou que determinem dependência física e psíquica, bem como, na recuperação de dependentes do Município de Florianópolis.

Bucher (1992) ressalta que as ações realizadas pelo CONFEN até o inicio da década de 90, não conseguiam desenvolver propostas coerentes e possíveis frente à extensão do problema. Nesse período, o Brasil não possuía uma política nacional de drogas.

Através da medida provisória nº. 1.669, em 1998, foi reestruturado o Sistema Nacional Antidrogas, (SISNAD), instituindo a Secretaria Nacional Antidrogas, ao longo dos anos podemos observar na finalidade do SISNAD: “Organizar e integrar as forças nacionais - públicas e privadas - em direção ao combate às drogas” (BRASIL 2002, p. 7 ). O SISNAD descentraliza, estruturando-se em três esferas de governo: Federal, Estadual e Municipal.

No federal atuam o Conselho Nacional Antidrogas (CONAD) e a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD). No Estadual temos os Conselhos Estaduais e Conselhos Municipais que atuam de forma compartilhada.

Através do decreto nº. 4.345, foi instituída a Política Nacional Antidrogas, através dessa Secretaria, houve um avanço nas políticas publicas na área da atenção integral aos usuários de álcool e outras drogas.

Em 2005, esta política foi atualizada através da Resolução nº. 03 do CONAD, no entanto, muito ainda tem que ser feito em termos de legislação.

Em 1994, o Ministério da Saúde, através da Portaria GM nº. 1.720, definiu que a saúde mental seguiria os preceitos do Documento da Fundação da Federação Mundial de Saúde Mental e da Declaração Universal de Direitos Humanos.

O Brasil teria até o ano 2000 para alcançar as metas de saúde da OMS, que seguem abaixo:

Conseguir que se respeitem os direitos das pessoas que sofrem transtornos mentais e emocionais;

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Ampliar os programas de prevenção que buscam reduzir a ameaça dos transtornos emocionais nos grupos vulneráveis;

Promover o fornecimento dos serviços terapêuticos necessários e apropriados aos que deles necessite;

Melhorar a qualidade de serviço mental em todo o mundo;

Promover a saúde mental e emocional em todos os povos.(BRASIL, 2003 apud PORTO, 2004. p. 22).

Com isso, garantindo a proteção e os direitos às pessoas portadoras de transtornos mentais, surgiu a Lei nº. 10.216 em 2001. Para efetivação da Lei nº. 10.216/01, o Ministério da Saúde estabeleceu a Portaria GM nº. 336, de 2002, onde teve o surgimento dos CAPs1, incluindo os CAPs ad II 2.

Os CAPS surgiram para atender os pacientes encaminhados por outros serviços de saúde, dos serviços de urgência psiquiátricos ou egressos de internação hospitalar. Atendendo em horário comercial, assistidos por Médicos Psiquiatras, Psicólogos, Enfermeiros e Assistentes Sociais.

Segundo Porto (2004), com o passar do ano, surgiu outra, que recebeu a nomenclatura de Portaria GM nº. 816, que estabeleceu em seu artigo 1º, no Sistema Único de Saúde, o Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada a Usuários de Álcool e Outras Drogas, desenvolvido pelo Ministério da Saúde e Secretárias dos Estados, Distrito Federal e Municípios, tendo por objetivos:

• articular as ações desenvolvidas pelas três esferas de governo destinadas a promover a atenção aos pacientes com dependência ou uso de álcool ou outras drogas;

• organizar e implantar rede estratégica de serviços extra hospitalares de atenção aos pacientes, articulados á rede de atenção psicossocial;

• aperfeiçoar as intervenções preventivas para reduzir os danos sociais e a saúde, prejudicial pelo álcool e outras drogas;

• realizar ações de atenção/assistência aos pacientes e familiares; • organizar/regular as demandas e os fluxos assistenciais;

No ano de 2003, foi criado o Grupo de Trabalho Intraministerial (GAOD), com uma política de saúde na área de álcool e outras drogas, através da Portaria GM nº. 457.

Com relação às políticas públicas de atenção aos usuários de substâncias psicoativas, foi criado no município de Florianópolis o CAPS ad, que é um serviço especializado em saúde mental que atende pessoas com problemas decorrentes do uso ou abuso de álcool e outras drogas em diferentes níveis de cuidado: intensivo

1 Centro de Atenção Psicossocial

2 Centros de Atenção Psicossocial para Atenção a Pacientes com Transtornos Decorrentes do Uso Prejudicial de álcool e outras Drogas.

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(diariamente), semi-intensivo (de duas a três vezes por semana) e não-intensivo (até três vezes por mês).

É um serviço ambulatorial territorializado, que integra uma rede de atenção em substituição à “internação psiquiátrica", e que tem como princípio a reinserção social. Realiza ações de assistência (medicação, terapias, oficinas terapêuticas, atenção familiar), de prevenção e capacitação de profissionais para lidar com os dependentes.

Os CAPS ad é uma alternativa bastante positiva no tratamento dos usuários de álcool ou outras drogas, que eram atendidos somente no âmbito hospitalar ou no domicilio sem acompanhamento necessário, como ainda acontece no município de São José, se a população necessitar de um atendimento para seu familiar a única saída é procurar o hospital psiquiátrico, que muitas vezes, devido à lotação, não há vaga para internação.

Depois da redução de leitos nos hospitais psiquiátricos há necessidade de um CAPS ad em São José, para diminuir a demanda hospitalar e dar mais assistência em sua própria comunidade.

È necessário lembrar sobre os grupos de ajuda mútua, que surgiram em 1935, que fazem parte da rede de atenção ao usuário e cresceu muito rapidamente e hoje se acredita que existam cerca de 98.710 grupos. (MARCATTI & RABELO, 2003).

È importante reconhecer que um número significativo de alcoolistas freqüentam os A. As. Não recebem nenhum outro tratamento e se recuperam, no entanto, parece que a combinação de um tratamento formal em conjunto com os A. As. aumenta a probabilidade de recuperação.

Os alcoólicos Anônimos são eficazes e devem ser parte de qualquer programa de tratamento, interno ou externo.

Enfatizam a ação e colocam a responsabilidade pela recuperação diferente, nos ombros do alcoolista.

A participação nos Alcoólicos Anônimos não danifica a aliança terapêutica com a instituição. Muito pode ser aprendido e observado, e mudanças surpreendentes podem ser notadas nos indivíduos que estão “se entregando” ao processo e que estão participando genuinamente. ( GITLOW , 1991,p.145).

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O comparecimento aos encontros dos Alcoólicos Anônimos, deve ser prescrito com o mesmo grau de seriedade que uma consulta.

Os alcoolistas podem encontrar calor, amizade direcionamento firme confrontação apropriada e sustentadora, ressocialização, nenhuma necessidade de beber, e uma crescente confiança em suas recuperações, através de um comparecimento regular afetivo.

Segundo Gitlow (1991) os Alcoólicos Anônimos é uma fraternidade universal de homens e mulheres que se uniram para resolver seus problemas comuns e para ajudar os companheiros sofredores a se recuperarem.

Compartilhando suas experiências, forças e esperanças como alcoolistas recuperados e guiados por uma filosofia materializada nos “Doze Passos”, os membros são capazes de manter a sobriedade.

Os Doze Passos

1. Admitimos que somos importantes perante o álcool – que nossas vidas se tornaram ingovernáveis.

2. Passamos a acreditar que um poder maior que nós próprios, pode nos restaurar a sanidade.

3. Tomamos a decisão de entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados de Deus como nós o entendemos.

4. Fizemos um inventário moral profundo e corajoso de nós mesmos. 5. Admitimos a Deus, a nós mesmos, e a outro ser humano a natureza exata dos nossos erros.

6. Estamos totalmente prontos para que Deus remova todos estes defeitos do caráter.

7. Humildemente pedimos a ele que remova nossas imperfeições

8. Fizemos uma lista de todas as pessoas a quem causamos mal, e estamos dispostos a fazer reparações a todas elas.

9. Fizemos reparações diretas a estas pessoas sempre que possível, exceto quando fazê-lo as prejudicaria ou a outros.

10. Continuamos a fazer um inventário pessoal e quando erramos, prontamente o admitimos.

11. Procuramos através do coração e da meditação melhorar nosso contato consciente com Deus como nós o entendemos, orando somente pelo conhecimento de sua vontade e pelo poder de levá-lo a cabo.

12. Tendo tido um despertar espiritual como resultado destes passos, tentamos levar esta mensagem aos alcoolistas, e praticar estes princípios em todos os nossos assuntos. (GITLOW , 1991,p.147).

È importante, ao usar os A.A. como uma fonte de encaminhamento, entender que os A.A. não dão importância à razão do beber e consideram todas essas razões meramente como desculpas. Os A.A. acreditam que os alcoolistas bebem devido a uma por compulsão fazê-lo e que eles perderam o poder de escolha entre beber ou não, mesmo quando não estão conscientes desta perda.

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2.5.1 Al-Anon

O Al-Anom é uma associação que tem a finalidade de contribuir para diminuir o sofrimento vivido por familiares de alcoolistas, de acordo com o site Al-Anon (2008), os familiares de um alcoolista vivenciam um sofrimento cujas consequências podem ser comparadas a destruição causada por um furacão.

O Al-Anom promove reuniões entre grupos de familiares de alcoolistas há mais de quarenta anos, o trabalho na instituição busca colaborar para renovar a esperança das pessoas que tiveram suas vidas destruídas pelo convívio com um alcoolista.

Ainda segundo o site Al-Anom (2008),

os familiares de alcoólicos que frequentam as reuniões de Al-Anon e Alateen percebem que a base para a recuperação começa quando ouvem ‘os três ces’: você não causou o alcoolismo, não pode controlá-lo e não pode curá-lo. com a troca de experiências que ocorrem nas reuniões, muitas vezes coloca o sentimento e a preocupação com o alcoolista no seu verdadeiro lugar e possibilita oportunidades para uma maneira de pensar. A identificação e a vontade dos familiares, em recuperar suas vidas são à base do Al-Anon para mudar as atitudes e para a renovação pessoal. As reuniões de Al-Anon são confidenciais e o único requisito para fazer parte da associação é que sejam familiares ou amigos de alcoolistas. O Al-Anon não é uma organização social, mais sim, grupos de auto-ajuda, onde a identidade de todos os membros é protegida. Essa associação iniciou suas atividades em New York, EUA, em 1951, atingindo hoje, mais de 100 países e milhares de Grupos pelo mundo. No Brasil, tem cerca de 1000 grupos. O Al-Anon existe desde 1966, com sede em São Paulo, SP. Toda sua estrutura de funcionamento de serviço se mantém através das contribuições voluntárias de seus próprios membros, não aceitando doação de fora.

O Al-Ateen, é parte do Al-Anom dirigida a jovens, com idade entre 9 a 20 anos, parentes e amigos de alcoolistas,. Segundo Foester (2009),

Crescer em uma família que possui um alcoolista é sempre um desafio, principalmente quando falamos do contato direto de crianças e adolescentes com esta realidade. Filhos de alcoolistas apresentam risco aumentado para transtornos emocionais e dificuldades escolares. Filhos de pais alcoólicos têm uma forte tendência em consumir bebidas alcoólicas ou buscar alívio em outros tipos de drogas mais pesadas comparando com crianças onde não há alcoolismo na família. No entanto, também é um grupo com maior chance para o desenvolvimento de depressão, ansiedade, transtorno de conduta e dificuldades de entrosamento com outros colegas e pessoas da sociedade.

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O Alateen procura ajudar a superar estas e outras consequências desastrosas na vida de um jovem que convive com o alcoolismo, buscando fortalecê-los para que possam participar do processo de recuperação do alcoolista.

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3 A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DO ALCOOLISTA.

Nesse capitulo será abordada a importância da família no processo de recuperação do alcoolista, sendo, dado ênfase a intervenção do Serviço Social com a família, aos aspectos da dinâmica familiar, seguido da co-dependência da mesma.

3.1 A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL COM A FAMÍLIA

O Serviço Social é uma profissão multidisciplinar, que atua no campo social para produzir mudanças, inserindo-se em dois níveis micro e/ ou macro social.

No que se refere ao primeiro nível, tem-se a intervenção do Serviço Social diretamente com os usuários através de projetos e programas sociais. Quanto ao nível de macro atuação, o Assistente Social insere-se no planejamento de execução e avaliação de políticas públicas voltadas a garantia e direitos sociais.

Segundo Iamamoto (1997), o processo de trabalho do Serviço Social é pautado no instrumental técnico-operativo, não compreendendo apenas as técnicas utilizadas para realização do serviço, mas também são considerados os aspectos ético-políticos e teórico-metodológicos, que compreendem os conhecimentos, valores, herança cultural, habilidades. Possibilitando um melhor direcionamento das ações a serem desenvolvidas.

Dessa forma, permite apreender a realidade numa perspectiva de totalidade, construindo mediações em seu exercício profissional, e observando os limites dados pela realidade de atuação.

No processo de intervenção com família percebe-se que o Assistente Social, em seu exercício profissional, procura aprofundar seus conhecimentos para o atendimento dessas demandas.

Com esses conhecimentos, apontam uma diversidade de instrumentos e técnicas entre os quais se sobressaem, os encaminhamentos, reuniões, visitas domiciliares, entrevistas, o estudo e o parecer social.

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O encaminhamento para ambulatório, CAPS e grupo de auto-ajuda tem uma grande importância à família e ao usuário, pois o encaminhamento também é acionado quando o usuário recebe alta da instituição, dando mais tranqüilidade ao familiar.

Com estes encaminhamentos o profissional terá melhor resultado, pois alem de ter o seu olhar ao caso, terá o olhar de profissionais de outras áreas. Com este enfoque inicia-se as reuniões com as equipes técnicas para o estudo do caso, podendo contar usuários e familiares.

Outra técnica que é usada pelos Assistentes Sociais é a visita domiciliar, “é uma prática profissional, investigativa ou de atendimento, realizada por um ou mais profissionais, junto ao individuo em seu próprio meio social ou familiar”. (AMARO, 2003).

Na visita domiciliar, o Assistente Social aproxima-se do cotidiano da família e do usuário, observando as interações entre os familiares, vizinhos, a sociedade, e aos recursos mais próximos. Ao atender a família o Assistente Social inicia uma entrevista, onde necessita obter dados sobre esta, buscando a objetividade, esforçando-se para ignorar as sensações, imaginações ao realizar e analisar a entrevista.

O Serviço Social também usa o estudo social para orientar o seu trabalho, tanto no planejamento de intervenções como para demonstrar a situação sobre uma realidade investigada ou trabalhada, proporcionando-lhe resposta às necessidades da atuação profissional. (PIZZOL, 2001).

O parecer social é parte integrante de estudo social, onde o profissional através dos estudos expõe sua opinião técnica, de como poderá ter a solução do conflito. Os assistentes sociais também utilizam os instrumentos relacionados ao registro do acompanhamento à família, como prontuário e os relatórios. Com isso os instrumentos e técnicas, analisam e interpretam a realidade de cada família. (JESUS; ROSA & PRAZERES, 2004)

A família é um sistema complexo de relações, onde seus membros compartilham um mesmo contexto social de pertencimento. A família é o lugar do reconhecimento da diferença, do aprendizado de unir-se e separar-se, a sede das primeiras trocas afetivo-emocionais, da construção da identidade.

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É um sistema em constante transformação, por fatores internos à sua história e ciclo de vida em interação com as mudanças sociais. (CASTILHO, 2003).

Entretanto, esta convivência entre indivíduos estabelece relações entre si, compartilhando a mesma cultura, crenças, onde cada um tem uma função dentro deste contexto, tentando manter o seu equilíbrio.

Em relação à família do alcoolista, se não acontecer uma interação dos membros, tentando amenizar as modificações ocorridas devido a presença no contexto familiar da referida doença, toda a estrutura fica alterada e inclusive passível de uma ruptura. A família passa por períodos previsíveis, de estabilidade, equilíbrio e adaptação na busca de uma nova ordem familiar.

Segundo Castilho (2003), este ciclo familiar está marcado por nascimentos e mortes, separação, nascimento do primeiro filho, o primeiro irmão, adolescência, a idade adulta, envelhecimento, a separação pela morte de um dos membros do casal entre outros. É neste ciclo familiar que os filhos desenvolverão sua personalidade.

Ao se focalizar o contexto da família, deseja-se encontrar as formas de interação próprias desse contexto que facilita ou dificulta o uso do álcool, identificando possibilidades de intervenção para a transformação desse comportamento, percebendo que o alcoolismo pode ser produtor de processos próprios de interação entre os familiares, de tal modo que produza contextos alcoolistas, ou seja, de uma cultura alcoolista.(Steinglass P, Bennett LA, Wolin SJ, Reiss 1989 apud ROSSATO;KIRCHHOF 2006, p. 252).

Para intervenção nestas famílias, o Serviço Social necessita adotar uma abordagem cultural de cuidado, ou seja, uma abordagem na qual leve em conta os valores, crenças e modos de vida padronizados, aprendidos e transmitidos e que facilita a cada indivíduo ou ao grupo manter o seu bem estar, melhorando suas capacidades e modos de vida e, como enfrentar a doença.

A equipe do Serviço Social se insere nas equipes de saúde, atuando como profissionais capacitados, tendo como objetivo intervir e trabalhar junto ao usuário e familiar à conscientização e aceitação da doença frente ao processo de recuperação, durante o período de internação.

De acordo com Gonçalves (1983), o Serviço Social no campo da saúde é o elo entre o usuário e sua família e entre o hospital e a comunidade da qual faz parte, devendo conhecer as tensões que influem nas vidas envolvidas. Busca

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desenvolver atividades que são fundamentais no processo do tratamento, objetivando o conhecimento do usuário e de sua situação sócio-familiar.

Desta forma possibilita o acompanhamento de sua evolução, fornecendo subsidio para o atendimento aos familiares e fornecendo, também, à equipe, dados da realidade social, contribuindo com a elaboração do diagnóstico e tratamento.

Para intervir nas situações que estão relacionadas com a família, exige uma profunda capacidade teórica para estabelecer suas ações e uma capacidade para analisar, entender e explicar as particularidades de um fato ou situações.

Segundo Mioto (1997 apud SCHWERZ 2007, p.37) é preciso “pensar as famílias sempre numa perspectiva de mudança, dentro da qual se descarta a idéia dos modelos cristalizados para se refletir as possibilidades em relação ao futuro.” Nesse sentido, coloca que as transformações ocorridas no âmbito familiar são históricas e articuladas com a sociedade, e quando não encontram “soluções adequadas para os desafios, elas expressam suas dificuldades por meio de inúmeros problemas.”

Cada família enfrenta vários problemas de acordo com seu convívio familiar, lutam igualmente por um espaço no interior de suas pequenas casas e enfrentando conflitos internos. Nesse caso necessitando de um apoio profissional onde possa motivar a essas famílias uma mudança, através de diálogos, onde há troca de idéias e saberes, incentivando-as a pensar o que é certo e o que é errado.

É muito importante entender como as pessoas que estamos trabalhando, visualizam o mundo e seus valores através da escuta, analisando as causas e soluções de maneira discreta e correta. Observando que cada ser humano, a partir do nascimento, precisa de segurança e cuidados.

A família é o grupo social responsável por estas tarefas, em sua organização, é por meio de papéis e funções que será determinado o comportamento de cada membro desse grupo.

Na realidade então esses padrões relacionais já fazem parte da família e servirão de base para habilidades que cada indivíduo irá formar ao longo de sua vida, juntamente com outros processos fora da família.

A família é a unidade básica de crescimento e experiência, desempenho ou falha. É também a unidade básica de doenças e saúde. Com todo sistema, a família é regida por regras que determinam seu funcionamento que dão o “ritmo” do

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relacionamento de seus membros. O comportamento de qualquer membro da família afeta e é afetado por todos os outros.

Portanto se um membro da família tem uma mudança de comportamento trará mudança para todo o sistema.

A família, portanto não seria simplesmente um conjunto de indivíduos aparentados, mas um todo interdependente em que as condições de saúde e a doença circulam pelo sistema por meio e suas interações, que serão compreendidas no seu contexto. (Dória & Maia 2007, p.48).

Ao interagir aos padrões relacionais para regularizar a sobrevivência da família, possibilitando a continuidade de identidade que dá sustento aos seus membros.

Segundo Dória & Maia (2007) este fato está condicionado ao grau de flexibilidade da família ao interagir através de seus padrões relacionais. Se o sistema se organiza de forma a que só suporte graus mínimos de mudança, os padrões relacionais serão rígidos, trazendo sofrimento aos seus membros, devido à condição estrutural permanente do sistema.

Vale ressaltar que o citado acima pode não ser uma condição estrutural permanente, e, sim de momento, voltada para alguns assuntos específicos, ou para alguma fazes delicadas.

Se nesse momento não houver uma intervenção para identificar o problema que está apresentando poderá produzir padrões relacionais rígidos que repetirão por gerações.

No caso da dependência química, Roudinesco (2003 apud DÓRIA & MAIA, 2007, p. 48) observa que a adição na família em uma determinada geração, costuma se perpetuar ao longo do tempo.

Quando o dependente volta a viver no seu âmbito familiar, as pessoas acompanham seu estilo de vida, mudando seus hábitos, horários ou abandonam emprego para cuidarem do dependente (co-dependência). Evitando não provocar sua saída de casa. Outros membros podem agir completamente diferentes rejeitando e ignorando o dependente, e com esses dois modos de agir toda a estrutura familiar começa ter uma modificação.

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A estrutura familiar é formada por várias regras encobertas que determinam os relacionamentos entre seus membros. Onde cada membro possui o seu lugar na família, mostrando seu papel e a maneira que é exercido.

Cada família tem um padrão diferente, onde cada individuo aprende a se relacionar através das regras que podem estar bem realizadas ou não. As regras estabelecidas em consonância com toda família, devem ser discutidas previamente, com cada individuo de acordo com a necessidade de mudar para uma vida melhor, fazendo as alterações que se acha necessário para unificar essa família.

É muito comum no inicio, quando o usuário abusa das drogas, contarem com o apoio de pessoas disponíveis para ajudá-lo em sua perda de controle. Porem nem sempre o usuário aceita a ajuda, negando a doença.

Assim, quando a dependência se estabelece dentro do contexto familiar, a dependência se desenvolve na interação da família. A interação entre doente e família entra em conflito, tornando os membros co-dependentes, necessitando de atendimento de profissionais ligados a área da dependência química, e grupos de ajuda mutua.

A família mesmo não estando integrada no mesmo contexto, quando identifica qualquer problema toma a decisão de qual procedimento deve seguir. Nesse processo verificamos a importância do papel da família junto ao alcoolista.

Passa a assumir o papel de cuidadora, mesmo não sabendo como agir, sentindo-se impotente e culpada ao mesmo tempo. Com isso enfrenta uma série de problemas, como abrindo mão de pensar, sentir e agir, perdendo o controle de si mesmo, tornando-se co-dependente, ficando doente junto com o dependente.

3.2 – A DINÂMICA FAMILIAR DO ALCOOLISTA

No processo de desenvolvimento da dependência o usuário utiliza mecanismo de defesa, negando e usando geralmente a proteção da família. A família por sua vez, também nega, racionaliza e projeta, geralmente nos amigos, a culpa.

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Esse mecanismo possibilita o aparecimento de pena na família, o que faz com que ela assuma a responsabilidade de cuidar dele e fazer com que pare de beber (policiando). Isso faz com que o alcoolista passe a apresentar modos diferentes de agir, por estar sendo tratado desta maneira, produzindo agressões por atitudes verbais ou físicas, onde essas ações desencadeiam sentimento de raiva.

Segundo Afornali & Araújo (2007), através do cuidado compulsivo, a família tira a oportunidade de o alcoolista experimentar seus limites, a sua diferenciação e os ganhos ou perdas por seus comportamentos adequados e inadequados.

A família se apresenta em crise diante da situação, pois até então considerava que estava tudo bem com o seu familiar, mais com essas mudanças de comportamento, a família passou a prestar mais atenção no alcoolista.

Diante deste processo, a família sofre e na maioria das vezes sente-se culpada. Culpam um ao outro ou então culpam a quem está mais próximo do dependente e o meio social, não conseguem compreender, e aceitar, que o uso de drogas é um sintoma de que alguma coisa não vai bem com a pessoa, ou mesmo dentro da relação familiar (LOURENÇO, 2001).

Nesse caso, muitos familiares se comportam como vitimas, buscando resolução do problema fora do núcleo familiar, se sentem frustrados, impotentes para agir. Na verdade não sabem onde procurar ajuda para eles e para o dependente, procurando uma “cura”, para tirar a família desta tensão.

Essas modificações no comportamento do dependente acabam modificando toda a dinâmica familiar, desenvolvendo problemas de relacionamento interpessoal e dificuldades emocionais. Seu cotidiano se torna mais difícil, apresentando uma estrutura fragilizada pela convivência constante com o estresse, onde as afetividades podem acabar se destruindo entre os membros da família.

A presença do alcoolismo diariamente no contexto familiar é percebida de varias maneiras pelos membros da família, apresentando comportamentos de não falar, não sentir e não confiar, se isolar completamente para proteger a pessoa dependente e os demais membros da vergonha e da dor.

Além dos problemas citados, a família que convive com um alcoolista, muitas vezes passa por agressões físicas e verbais, tornando pessoas fechadas e não valorizando a sua própria vida. Não tem certeza se está agindo de forma

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correta com o membro dependente e com isso sua saúde física e mental vai se desgastando, prejudicando a si mesmo.

A família nessa hora tem que ser bem estruturada e amparada, para dificuldades que aparecerem sobre a doença. Na realidade, a família é um suporte para o tratamento do seu membro dependente.

No entanto, é comum observar-se que muitas famílias tornam-se co-dependentes. Segundo Beattie (2008), a palavra co-dependência apareceu na área da terapia no fim da década de 70. Embora várias pessoas possam reivindicar isso, a palavra despontou simultaneamente em vários centros de tratamento de Minnesota, de acordo com informação da clínica da psicologia Sandra Smalley, uma expoente no campo da co-dependência. Originalmente, a palavra foi usada para descrever a pessoa ou pessoas cujas vidas foram afetadas por estarem envolvidas com pessoas quimicamente dependentes.

Os co-dependentes certamente já sentiam os efeitos da co-dependência muitos antes que a palavra surgiu. “Nos anos 40, depois da criação dos alcoólicos Anônimos, surgiu grupos de ajuda mútua e apoio para lidar com as famílias que eram afetadas pelo alcoolismo.” (BEATTIE, 2008).

Essas famílias, nem imaginavam que eram afetadas pelo alcoolismo e que mais tarde seriam chamadas de co-dependentes, como os alcoolistas tinham um programa de Doze Passos para sua recuperação, a família passou a utilizar os Doze Passos do A.A, revisando e mudando o nome para Al-Anon.

Como percebemos o alcoolista além de prejudicar a si mesmo, acaba prejudicando a sua família, muitas vezes privando-os de necessidades básicas como lazer, alimentação, vestuário e outros e, causando sofrimentos desnecessários a cada membro da família.

A família passa a ser o salvador, protetor ou conservador da outra pessoa, mesmo que esteja prejudicando e agravando o problema do outro, essa família passaria a ser co-dependente.

Os co-dependentes são pessoas que deixaram o comportamento de outra afeta-la, e é obcecada em controlar o comportamento dessa outra pessoa. (BEATTI, 2008).

A autora quer dizer que a família diante do problema é afetada de varias maneiras, sendo obsessiva, controladora, tolerante, culpada, e dependente da

Referências

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