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O tribalismo na rede social Instagram: a mobilização local de internautas após o cancelamento de um show

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“O que faz a cultura é a opinião, o pensamento do espaço público, que constituem o cimento emocional da socialidade” (Michel Maffesoli).

Sarah Hilgert Vieira 2

Resumo: O artigo apresenta o tribalismo encontrado na rede social Instagram. O tema presente hoje nas redes sociais retrata a união de tribos e um exemplo de como elas se formam. Objetivando definir esse conceito e seus ligantes e exemplifica-los, foi selecionado o caso do humorista Léo Lins: no dia 5 de abril de 2019 ele tinha um show marcado em Capivari de Baixo, Santa Catarina, este, cancelado por vereadores que se sentiram ofendidos pelo vídeo convidativo aos fãs a comparecerem no evento. Para analisar os resultados e a formação do tribalismo e o engajamento pelas redes sociais, os posts escolhidos são diretamente do Instagram do humorista. A pesquisa realizada neste trabalho é descritiva e qualitativa. Esta é toda baseada nesses comentários que possibilitam a descrição e análise de seus comportamentos que permitem a atribuição ao tribalismo. Com tal compreensão do conceito e seu exemplo, pode-se perceber uma população indignada com a situação e seus sentimentos de “prisão”, pois há um conflito entre sua liberdade de expressão e uma censura cultural. Assim ocorre uma união para que Léo Lins prossiga seu show e a favor de um mesmo propósito, as pessoas são agora tribos.

Palavras- chave: tribalismo, Maffesoli, redes sociais.

Introdução

Com o mundo cada vez mais conectado, é perceptível que as redes sociais são uma forma de discutir ideias e expor o eu, além de criar conexões com outras pessoas. A internet é um meio bidirecional, e, apesar de certas mudanças não serem tão recentes também não são antigas. A bidirecionalidade desta permite que os usuários sejam também participantes de assuntos que lhes interessem. A partir destes assuntos, espera-se uma resposta em relação a algo que foi publicado. A reação dos indivíduos nem sempre é previsível. Em meio a essas discussões, a análise de como essas pessoas usam sua voz e interagem entre si vagueiam em diversos assuntos.

1 Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Jornalismo, da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL,orientada pela professora Dra. Heloísa Juncklaus Preis Moraes.

2 Autora do Artigo. E-mail: shvsarahhilgert@hotmail.com 2

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O objetivo deste artigo é analisar e entender como essa interatividade nas redes sociais formam as tribos, particularmente na rede Instagram com um caso em específico: o cancelamento do show de Léo Lins na cidade de Capivari de Baixo, no litoral sul de Santa Catarina. Ao selecionar alguns comentários do acontecimento escolhido, foi feita uma observação de seus usuários e fãs, para analisar suas reações perante o caso e suas identificações como grupo. Além de observar outros conceitos ligados ao tribalismo, mas que se diferem como redes sociais, imaginário coletivo e laços sociais, descrevendo quem comentou o que e a sua semelhança de pensamento atribuída ao caso.

Será utilizada a metodologia descritiva e qualitativa: ao observar os comentários dos internautas será feita uma descrição a respeito do caso além de analisar suas reações, comportamentos e ações perante ele. A análise do conteúdo selecionado permitirá que o objetivo seja alcançado e exemplifique melhor o conceito central de tribalismo. Para realizar esta pesquisa, primeiramente, todos os conceitos aqui mencionados serão definidos. Para que seja possível analisar algo, é preciso saber do que se trata. Ao segundo passo, a leitura de comentários selecionados a respeito do caso escolhido possibilitará a explicação da utilização dos tópicos no cotidiano online.

Ao Lins postar no Instagram as causas do cancelamento com posts no dia 4 de abril de 2019, as pessoas se engajaram ao assunto, com reações muito semelhantes e interligadas obtendo 1.142 comentários no post anunciando o cancelamento. Após o ocorrido, foram coletados mais alguns comentários para o desfecho da história. Porém, tanto o início quanto o final dessa trajetória gerou a pergunta consequente dessa pesquisa é: como as pessoas interagem com os posts das redes sociais? Como é formado o tribalismo entre elas? Onde estão suas afinidades que os tornam parte de um tribalismo online? Ao analisar, percebe-se o quanto a rede tem contribuído para a formação de uma inteligência coletiva, e a partir desta, constrói se o mundo.

Essa inteligência coletiva afeta a forma do viver do ser humano e a transforma o convívio entre as pessoas, que em suas discussões permitem visualizar novas formas de ver o mundo e unir-se por algo em pró da sociedade. E um show que era para ser apenas humor, tornou-se utilidade pública.

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Afinal, o que são redes sociais? Para alguns apenas mais um meio de comunicação e lazer, para outros também são meios de trabalho. Cada uma tem um objetivo específico e são definidas principalmente por algumas características em comum, todas precisam de uma rede internet para ser utilizada e são parte da cibercultura e do ciberespaço. Toda rede social trata-se de um site ou aplicativo (celular) online onde milhões de pessoas têm acesso e enviam mensagens e também compartilham conteúdos como textos, músicas, fotos e outros arquivos multimídia. Elas começaram ganhar espaço em 1995 e posteriormente crescido desde então. Embora o início de sua trajetória seja por volta da década de 1970 e desenvolvida para a comunicação de pesquisadores nas universidades norte-americanas e no Brasil no ano de 1989 pela Rede Nacional de Pesquisa (também centrada em um ambiente acadêmico e em pesquisas). A partir deste momento as mudanças começam a acontecer:

No início da década de 70, o governo americano liberou a ARPAnet para universidades e instituições relacionadas à pesquisa, para que acessassem a rede. Em poucos anos, seriam aproximadamente 100 sites online. No final dos anos 70, a rede cresceu tanto que o protocolo utilizado já não lhe servia, provocando a criação do protocolo TCP/IP 5. No início dos anos 80, algumas centenas de computadores integravam a ARPAnet. A partir daí, tornou-se uma rede mundial, em que as pessoas podiam se conectar de qualquer lugar do mundo para buscar e trocar informações (CALAZANS;LIMA, 2013, p.3).

Muito mais antigas do que se imagina, de acordo com os dados do autor Fernando Daquino (2012), pelo site Tec Mundo: A história das redes sociais como tudo começou a primeira “rede social” foi criada no ano de 1995 intitulada de Classmates.com além do The

Globe. O Classmates não era um serviço gratuito, porém, com o objetivo de reunir antigos

colegas de classe, fez sucesso na época. E existe até hoje, com uma proporção muito menor de pessoas. Já o The Globe, era outra rede pioneira que permitia que seus usuários compartilhassem suas experiências e momentos pessoais, possibilitando também compartilhar coisas em comum. Em 1997 surgiu o Six Degrees que foi o modelo mais similar aos atuais, pois o mesmo possuía mensagens privadas, publicações em murais e edição de contatos. O grande sucesso de destaque foi com o Friendster criado por Adam Jonathan Abrams na Califórnia, Estados Unidos. Em 2002, as redes começaram a se popularizar e estavam sendo cada vez mais utilizadas seja por trabalho ou lazer, e com isso, muitos sites eram criados. Porém ,Friendster obteve muito êxito nessa época, considerado a primeira rede social pelos indivíduos que permitia que os contatos da vida real fossem contatados virtualmente por todos. Em 2003, o Friendster teve dois concorrentes ao ter tantos usuários rapidamente que o site ficou lento e assim, nasceram o MySpace e Linkedin ambos abertos até hoje (o Linkedin é

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centrado em perfis profissionais e ajuda em encontrar vagas e em 2018 centrou 32 milhões de internautas). Os seguintes até quem é desse século já os conhecem: Facebook (2004), Twitter (2006), Instagram (2010) e Snapchat (2011). Embora sejam semelhantes, é possível perceber que ainda assim eles têm intuitos diferentes e formas. O Instagram é centrado em fotos como é citado no site InfoEscola, utilizando-se também de filtros nas imagens enquanto o Twitter tem como principal os tweets que as pessoas dizem o que pensam, fazem ou sentem por exemplo como é explicado no site TecMundo pela autora Beatriz Smaal (2010) , a ideia original era mandar sms em tempo real por isso o twitter é limitado a meros 140 caracteres. Porém, antes disso tudo já se existia tecnologias. Só que eram mídias massivas como a televisão, rádio e jornal e tinham uma capacidade auto limitada. O receptor apenas recebia a mensagem, mas não havia feedback e quanto tinha, era quadrado. Assim como as formas de armazenamento na época em que existiam somente essas mídias.

A comunicação foi sendo criada virtualmente em passos: primeiro o computador, depois a internet para então surgir as primeiras redes e irem ficando cada vez mais aprimoradas à medida que o tempo passa. Sua história principal começou em torno de 1990, é aqui que realmente a conexão entre as pessoas estava sendo facilitada. E enquanto por um lado, as pendencias são mais simples de resolver e o conhecimento é acessível a quase qualquer ser humano, por outros, exige-se cuidados. As redes atuais citadas anteriormente, são a todo minuto usadas e conectadas. Visto que muitas vezes, elas saem do ar. Em uma matéria do G1 (2018), um levantamento demonstrou como o brasileiro tem sido o campeão das quando se trata de redes sociais: a partir de um levantamento do comitê gestor de internet do Brasil, realizado no ano de 2018, 49% dos brasileiros usam o smartphone apenas para redes sociais.

Totalmente contrário ao que era no passado, o mundo virtual é instantâneo e automático, pois possui rapidez de fluxo de informações. Para Raquel Recuero, no site Digestivo Cultural (2009), com tanta disponibilidade de conteúdo, nem tudo é relevante. Por isso, é necessário realizar uma filtragem do que é realmente importante, o que se torna uma tarefa complicada com a disseminação exagerada de saberes. Segundo ela, as redes passariam a se comportar como gatekeepers, através da credibilidade que jornalistas e autores ganham conforme suas publicações vão sendo feitas.

A alta utilização dessas redes confirma o espaço em volta, onde há computadores, tablets, notebooks e principalmente smartphones circulando por todos os cantos. O que a web 1.0 não poderia oferecer, agora o é: a mobilidade da internet e de todo o conhecimento advindo dela. E, inclusive, o mundo está tão absorvido pelo ciberespaço que até crianças

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utilizam-se de redes e celulares. Embora as mesmas precisem ser observadas pelos pais para orientações. Porque a rede também tem suas desvantagens e elas facilitam a comunicação entre pessoas, não se sabe sempre o que está do outro lado da tela. Nas redes há também compartilhamento de interesses em comum além de servir para relações comerciais para um processo de seleção e até mesmo marcas utilizam-se das mesmas para divulgar sua marca e criar uma reputação positiva por avaliações positivas. Alguns encontros de paralisações já foram marcados e concretizados através dessas mesmas redes. O seu impacto para a sociedade mostra-se cada dia maior e implica fortemente em grandes interações com novidades a todo momento entre outras coisas como explica Lemos (2015, p. 71):

Com a contração do plano pelos novos media digitais, transformamo-nos não numa única aldeia global, mas em várias e idiossincráticas aldeias globais, devido principalmente a implosão do mundo ocidental pelo efeito das tecnologias microeletrônicas. Não se trata de bens materiais, matérias-primas e energias retiradas da natureza, mas de informações traduzidas sob a forma de bits, imateriais, abstratas, lidas por uma meta máquina ( o computador, o ciberespaço). Atualiza-se com o ciberespaço, o grande sonho enciclopédico de, em um único media, armazenar todo o conhecimento da humanidade. (LEMOS, 2015, p. 71)

Essas inovações midiáticas implicariam diretamente uma nova forma de interagir com o mundo, visto que, em sua explicação, Lemos (2004) ressalta os dados, bits e informações são reunidos em um único espaço: a web. Com as redes sociais, ainda há a possibilidade de opinar sobre os mais diversos assuntos, podendo até mesmo contribuir para algum veículo de informação, por exemplo. As redes sociais podem-se destacar, pois elas se diferem da comunicação tradicional de massa (televisão, rádio e jornal). Embora a televisão seja o destaque principal da mídia de massa, alcance espectadores e até mesmo, possa em interferir opiniões através de conteúdos jornalísticos opinados, sua abrangência não é tão grande quanto na cibercultura. Com a expansão do jornalismo online, a TV tenta criar novas formas de se comunicar com o público: Foram inventados mecanismos para que o espectador navegue na web pela televisão e grave programas para assistir depois. Tudo para tentar “suprir” e não perder espectador por causa do webjornalismo. Segundo o autor José Luiz Braga:

De modo correlato, no espaço produtivo empresarial, as tentativas (canhestras) de TV interativa representam esforços de gerar alguma reciprocidade, alguma ação do usuário sobre o encaminhamento do discurso televisual. Na mesma ordem de raciocínio o radio hoje se apresenta como mais interativo do que a TV, com grande número de programas que os ouvintes reagem via telefone(...). As redes informatizadas são definidas como interativas porque viabilizam aqueles procedimentos “conversacionais” – esquecendo-se que uma parte significativa das

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ações na rede não são deste tipo; ou então, apressada e equivocadamente, assimilando aqueles procedimentos conversacionais interações decididamente de outros tipos (hipertexto, ações do usuário sobre “objetos”, decisões de busca, variabilidade de percursos,etc.) (BRAGA, 2001, p. 112).

Assim, o enfoque na cibercultura não é por um acaso. Seu conceito e estudo mostra-se muito mais complexo pois nela há infinitas possibilidades. Os conceitos de cibercultura e ciberespaço fazem parte das redes sociais e, segundo Pierre Lévy (2010), o ciberespaço é uma conexão entre os computadores mundiais, tratando-se não somente da sociabilidade no universo midiático, mas também das informações contidas nele, enquanto a cibercultura são as formas de interação proporcionadas por esse ambiente nas quais se desenvolvem pensamentos, atitudes e opiniões. Refletindo tal conceito chega-se ao pensamento de que a cibercultura proporciona uma experiência completa: não só pelas suas imagens presentes também na televisão e na forma de criação de novos conteúdos, os quais não são possíveis nas mídias massificadas sendo a interação opinativa muito maior. Enquanto nas redes massivas, o modo interativo é unidirecional (ou seja em apenas uma direção), as mídias digitais são pós-massivas e são bidirecionais (o leitor passa a ser parte). Na cibercultura o usuário tem a possibilidade de selecionar muito bem os conteúdos que são de seu interesse, enquanto na mídia tradicional esse espaço existe mas é limitado. Como exemplo, podemos citar o rádio: no aparelho de transmissão do mesmo há várias opções para quem estiver ouvindo escolher porém são opções com um limite e depende também do local onde a pessoa está para pegar algumas frequências. Em seu livro A Força da Mídia Social, Pollyana Ferrari (2010) cita autores para analisar como as mídias “antigas” funcionavam e como a tecnologia possibilitou uma grande interferência de público:

John Browning e Spencer Reiss ressaltam o caráter coletivo das novas tecnologias quando dizem, em referencia a Dizard, que a velha mídia divide o mundo entre produtores e consumidores: nós somos autores ou leitores, emissoras ou telespectadores, animadores ou audiência; como se diz tecnicamente, essa é a comunicação um-todos. A nova mídia, pelo contrario, dá a todos a oportunidade de falar assim como de escutar. Muitos falam com muitos- e muitos respondem de volta (FERRARI, 2010, p. 33).

Sendo assim, a interatividade está crescente na atualidade. E nos encontramos na web 3.0. A web obteve várias classificações e como foram citadas anteriormente, e coletadas do site da Fapcom (2014). Explica-se o que cada uma significa: A web 1.0 trata-se de apenas uma “cópia” das mídias tradicionais como o rádio e a televisão pois é uma reprodução de sites sem ligação nenhuma com o espectador, nascida na década de 60. Nos anos 2000, a web já mostrava uma evolução considerável com maior uso do YouTube e uso de outros sites para

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compartilhamento de vídeos e fotografias, além da interações nos conteúdos apresentados e criação de novos. Mas a 3.0, além de toda essa adição, possui também aprimoramentos de busca pelo Google, por exemplo, que significa que se o usuário buscar por livros de poesia, o site lhe dará diversas recomendações. Acrescenta-se também o aumento de uso das pessoas por causa dos aparelhos que apresentam uma alta mobilidade. Pode-se definir interatividade como a permissão de relações tecno-sociais através de máquinas que oferecem formas de diálogos entre os próprios seres humanos. Ela ocorre em páginas famosas do Facebook (apenas um exemplo) e há reações em postagens principalmente de pessoas públicas e veículos: um bate-boca muitas vezes desenfreado a depender do assunto, pessoas que concordam e discordam entre si e os pertinentes “barracos.” Hoje todos tem uma identidade na rede, ainda que esta seja falsa.

Quem utiliza redes sociais, tem voz e está ali para quem quiser ouvir ou até mesmo discordar. O século em que se vive permite que cada pessoa tenha um “eu”. Este eu seria colocado como a liberdade de publicar sobre si, como aponta Aline Soares (2009, p. 8) num processo contínuo de ciberidentidades, com suas relações fora e dentro daquele ambiente online.

A interatividade pode ser classificada em dois tipos: a seletiva e a comunicativa. A seletiva utiliza-se das ferramentas de hipertextualidade onde, como citado anteriormente, o usuário pode selecionar o que deseja ler, por exemplo, (ferramentas de busca) ou personalizar a página. Enquanto a comunicativa como o próprio nome sugere, trata-se de debates online onde são expostas suas opiniões, nas quais podem concordar ou discordar e criar uma conversa entre os demais. Essa peculiaridade entre as duas é observada no quadro elaborado por Rost (2014) em que se destaca suas características:

Imagem 1 - Quadro de comparação entre interatividade seletiva e comunicativa

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Tais características são confirmadas por Alejandro Rost (2014) e a partir de suas explicações no livro, podemos exemplificar as mídias antigas e atuais do jornalismo: as redes sociais destacam-se principalmente pela interatividade comunicativa pois a partir destas: há diversas discussões em notícias, escolhas segmentadas de sites noticiosos, criadores de conteúdo através de blogs e páginas. Mas os outros veículos jornalísticos são ligados pela interatividade seletiva. O rádio tem uma certa característica comunicativa, pois o telefone e as próprias redes sociais permitem participar mais ativamente dos programas. Enfim, essas formas de interação são essenciais para a construção de novos horizontes e pesquisas a fundo a respeito dos assuntos, criando também uma relação saudável de sabedoria entre os mesmos. Basta saber usar corretamente. É mais do que óbvio que a rede está transformando e informando a vida das pessoas. E a velocidade com que isso ocorre é extraordinária, pois o que demorava no passado para ser repassado pelo menos algumas horas, hoje levam segundos. Essa é apenas uma das explicações pelas quais estamos tão ansiosos. A interatividade comunicativa possui a facilidade de qualquer um publicar o desejado, tornando notícias falsas sendo espalhadas pelas mesmas redes sociais, sendo difícil de definir o que é real e o que é fictício. Jornalistas e pessoas mais analíticas podem ter uma certa noção mas a grande parte dos indivíduos, compartilham as “fake News”. Essas notícias espalhadas pela internet e especificamente pelas redes sociais têm opções para novas publicações, o que deixa fácil da população ser enganada. A citação abaixo evidencia isto:

O processo consiste basicamente em que, além de qualquer sujeito ser capaz de produzir textos considerados noticiosos e/ou jornalísticos, tais textos podem ser propagados para diversos outros usuários das redes sociais. Considera-se que essa prática seja fomentadora de um potencial aumento da produção de notícias falsas, visto que usuários e até mesmo sites de grande engajamento no ambiente digital noticiam sem comprometimento com os cânones jornalísticos (ROCHA; et al, 2018, p. 6).

Podemos observar que também que com a sua identidade, as redes e sites na internet são desiguais pois agem de maneiras diferentes. Segundo Rachel Recuero (2011, p. 102):

A grande diferença entre sites de redes sociais e outras formas de comunicação mediadas pelo computador é o modo como permitem a visibilidade e a articulação das redes sociais, a manutenção dos laços sociais estabelecidos no espaço off-line. Assim, nessa categoria estariam os fotologs (como o Flickr e o Fotolog por exemplo;) os weblogs (embora sua definição não seja exatamente dentro de um sistema limitado, defenderemos que são sistemas semelhantes; as ferramentes de micromessaging atuais (como o Twitter e o Plurk), além de sistemas como Orkut e Facebook, mais comumente destacados na categoria. Esses sites podem ser enquadrados dentro de todas as categorias elencadas (...) pois possuem mecanismos de invidualização (personalização,construção do eu) ; mostram as redes sociais de

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cada ator de forma pública e possibilitam que os mesmos construam interação nesses sistemas. (RECUERO, 2011, p. 102)

Com a interação nesses sistemas, é válido citar o conceito de inteligência coletiva: este foi criado por Pierre Lévy (1998), em alguns debates e estaria relacionado a construção do saber humano por máquinas, mais especificamente, computadores e com o indivíduo presente do outro lado. Cada um deles compartilharia e reforçaria seus conhecimentos de mundo, tornando a internet uma ferramenta ainda mais útil. De acordo com Lévy, no livro

Cibercultura (2010), a inteligência coletiva não só acredita que seja a melhor maneira de

trocar conhecimentos em favor das pessoas, como também identifica como essa inteligência atinge de uma maneira positiva a sociedade: econômicas (enaltecem na valorização do ser humano), políticas (mais voz na democracia e abordagem dos problemas) e culturais (difusão e interpretação das obras). Traduzindo-se para uma forma mais simplificada: a economia hoje valoriza os conhecimentos adquiridos ao longo do tempo (é observado isso quando para se exercer determinada profissão exige-se diploma). A política divulga sobre os candidatos e trata das questões que eles se propõem a resolver e a população troca seus conhecimentos e discute seus votos,. Nas culturais há uma vasta circulação de obras online e críticas a respeito das mesmas por resenhas. E o que isso tem a ver com inteligência coletiva? São trocas de conhecimento e todos esses itens utilizam-se da mesma para progredir. A política divulga suas marcas também através da internet, onde se discutem a respeito em grupos fechados do facebook ou tags do twitter.

Pode-se dizer que através da inteligência coletiva há propagação de informação. Obviamente que tudo há um lado negativo como o espalhamento de mentiras que pessoas mal intencionadas colocam ou pequeninas partes da sociedade são excluídas pois não tem acesso a internet. Mas de uma maneira geral, o excesso de conhecimento pode ser ruim pela confusão, também pode ser benéfico para não sermos enganados constantemente (por um político, por exemplo). Agora, realizado com o intuito de analisar a interatividade, Maria Cristina Castilho (2003) conta, no livro Mídia, Cultura e Comunicação 2 que publicou uma história intitulada de Selma e propôs uma interatividade entre os leitores: ela escreveu um trecho da história e pediu que continuassem esta. O resultado foi inesperado: a maioria dos usuários escreveu pouco mas não alterou o curso da narrativa, somente a minoria decidiu interferir. Mostrando assim que, embora o leitor tenha essa liberdade, ele opta por não interferir na história. Não faz tanto tempo assim que as mídias evoluíram a este ponto, portanto o leitor ainda se comporta

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como se estivesse em uma mídia analógica com respostas sucintas. Segundo a autora, “processa-se no ciberespaço uma ruptura em relação às características típicas das mídias analógicas também no que diz respeito a produção e direcionamento discursivo: a centralidade e a unidirecionalidade do fluxo comunicativo dão lugar a multidirecionalidade e a descentralização (CASTILHO, 2003, p. 268). Ou seja, essa ruptura ainda é muito recente e nem todos os espectadores habituaram-se a esse novo modelo digital, enfatizando as pessoas mais velhas que nasceram na época em que o jornal estourava e as televisões eram o meio mais importante de ficar informado.

1.1 Engajamento

Engajamento pode ser definido como participação, estando ligado também à interatividade, pois a participação nada mais é do que uma forma de interação. O engajamento é usado em diversas situações e esses conceitos são geralmente próximos. O engajamento é um envolvimento social e é muito utilizado nas empresas e no marketing digital, por isso, muitas vezes, é ligado à publicidade. É um conceito um tanto complicado de ser definido e é ainda mais novo do que a interatividade. O engajamento trata-se muitas vezes da relação entre usuários e marcas. Mas ele também tem relação com as redes sociais. Este uso tem relação com o tema, pois o engajamento trata-se aqui de como as pessoas interagem com uma marca ou um perfil. Nas palavras de Brodie et al (apud MARRA; DAMASCENA, 2013, p.8) observa-se como a interatividade e o engajamento se relacionam quando que diferentes:

O engajamento do cliente é definido como um estado psicológico que ocorre por meio da virtude da interatividade, cocriação de experiência do cliente com um agente\objeto focal (por exemplo uma marca), em uma relação focal de serviço. Isso ocorre em um conjunto específico de condições dependentes do contexto, as quais geram diferentes níveis de engajamento do cliente, e existe como uma dinâmica , num processo interativo dentro das relações de cocriação e de valor de serviço. O engajamento do cliente desempenha papel central em uma rede nomológica que rege as relações de serviço em que outros conceitos relacionais (por exemplo,o envolvimento, lealdade)são antecedentes e\ou consequências em processos interativos de engajamento do cliente. Neste conceito, é importante destacar uma perspectiva multidimensional do engajamento do cliente, ou seja, a dimensão cognitiva, emocional e/ ou comportamental. (apud MARRA; DAMASCENA, 2013, p. 8).

Embora esse conceito seja muito utilizado para a relação entre consumidor e produto, as redes sociais fazem parte do mesmo, pois através delas são coletados dados para que estes sejam medidos por compartilhamentos, comentários, likes, retweets, seguidores,

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visualizações, número de visitas na página, etc. E através desses dados, obtém-se uma noção do engajamento do “produto” no caso jornalístico digital, podendo ser segmentado.

Com essa percepção em como o consumidor está mais engajado as marcas e sua alta participação, se o cliente não curtir o que foi feito, ele expõe a marca nas redes, o que acaba causando um receio nas mesmas. O consumidor estaria modificando a mídia, pois teria um empoderamento sobre ela. Os consumidores têm agora maior conhecimento sobre os produtos da empresa. E as empresas se dão conta de que ter um cliente engajado e que divulga sua marca, pode ser propício. O engajamento ocorre por meio da interação entre o cliente e a marca, sendo indispensável para gerá-lo. A familiaridade e conversação entre os dois trazem benefícios não somente pelo logo, mas para o usuário. Por exemplo, há uma interação mutua, pois cria-se um diálogo com o consumidor ao ser questionado a respeito do que acha da marca, sugestões, duvidas e críticas. A aproximação com as mesmas tem sido tão expressiva que consumidores ainda defendem quem os critica virtualmente. Segundo Recuero (2011), a rede constitui-se de laços fracos e fortes: citando o sociólogo Mark Granovetter, em 1973, que teve uma descoberta significante.

Em seus estudos, ele descobriu que o que chamou de laços fracos seriam muito mais importantes na manutenção da rede social do que os laços fortes, para os quais habitualmente os sociólogos davam mais importância. Os laços fracos seriam constituídos pelas interações mais pontuais e superficiais, enquanto os fortes, pelas relações de amizade e intimidade. Granovetter mostrou também que pessoas que compartilhavam laços fortes em geral participavam de um mesmo círculo social. Já aquelas pessoas com que se tinha um laço mais fraco eram justamente importantes porque conectaram vários grupos sociais. Sem elas, os vários clusters existiram como ilhas isoladas e não como rede.Ora, dois desconhecidos que tem em comum um amigo possuem muito mais chances de virem a se conhecer no tempo do que um padeiro da Argentina e um agricultor chinês (RECUERO, 2011, p. 63).

Esses laços são vistos online no engajamento. Os laços fracos conversam-se entre si e criam as vezes uma intimidade com o produto apresentado. Na pirâmide de engajamento criada originalmente por Li em 2010, foi retirada do artigo Atores e ações de informação em

redes sociais na internet: pensando os regimes da informação em ambientes digitais (2015).

Como veremos abaixo, observa-se que a grande maioria das pessoas age como mero espectador, enquanto os que estão mais para a base agem como produtores de conteúdo. Logo após, vem os que compartilham as informações e comentam: emitindo assim sua opinião e contribuindo para pontos de vista diferenciados. Quase no topo da pirâmide, a produção ocupa espaço. No século XXI, a liberdade de criação de conteúdo é muito maior, sem precisar passar por rígidos processos antes da publicação. Assim, na menor parte da pirâmide, encontra-se a curadoria: necessária para adaptar o conteúdo para o público alvo, divulgação, revisão e

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adequação. Ou seja, embora os participantes ativos não sejam uma parcela tão expressiva, eles estão presentes. Assim, ainda que de uma forma sutil, ao assistir, o usuário já está participando automaticamente daquele site.

A pesquisa realizada que será relatada está no terceiro da pirâmide pois é a partir dos comentários que será feita sua base: as opiniões de cada internauta é essencial para se ligar aos conceitos explicados.

Imagem 2- Pirâmide de engajamento

Fonte: (apud Araujo, 2014, p. 5)

Como observado na imagem, quem assiste e é passivo (não responde de volta) ainda tem uma maior porcentagem porém, as mídias atuais estão mudando cada vez mais esse processo ao estimular os espectadores a participarem e , ajudando assim, em um maior engajamento.

2. Tribalismo na perspectiva de Michel Maffesoli e imaginário coletivo

Primeiramente, deve-se ter em mente o que é tribalismo. Como o nome sugere, deriva-se de tribos: são grupos que deriva-se unem com interesderiva-ses em comum ou com alguma forma de identificação de assuntos pós-moderno. Segundo o autor Maffesoli (apud PITHAN, 2007, p. 5), “o tribalismo é entendido como a característica cultural que reúne os indivíduos de grupos

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de identificação.” Ainda segundo Pithan (2007, p. 5), as relações contemporâneas têm suas características próprias e que influenciam no envolvimento de seus grupos. Muitas das vezes esses assuntos são efêmeros e hedônicos (buscam pelo prazer da vida). Ainda que sem ser percebido, ao concordarem com alguns fatos, essas pessoas formam uma comunidade entre elas. O que se pode ser chamado de imaginário será retratado mais adiante. O francês Michel Maffesoli aponta que quando esses grupos se unem, os indivíduos se preocupam com a performance (um modo de demonstrar que aquela pessoa se sai bem em algum trabalho, reconhecimento profissional e social), pois estas competências tem um inestimável valor ao homem pós-moderno. Muitas vezes, este homem muda tais peculiaridades suas para se enquadrar nessas tribos. O “vai e vem” citados no livro O tempo das tribos (1998) refere-se a esse comportamento, pois o relevante é poder estar incluso naquela tribo e participar de suas discussões.

Para Maffesoli (1998), um dos aspectos mais relevantes para alguém fazer parte da mesma, é a estética. Ele explica que ela é um meio comum e uma forma de integração entre as tribos:

A estética é um meio de experimentar, de sentir em comum e, é também, um meio de reconhecer-se. (...) Em todo caso os matizes de vestimenta, os cabelos multicoloridos e outras manifestações punk , servem de cimento. A teatralidade instaura e reafirma a comunidade. O culto do corpo, dos jogos da aparência, só valem porque se inscrevem numa área ampla onde cada um é , ao mesmo tempo, ator e espectador (MAFFESOLI, 1998, p.108)

A aparência seria uma das formas retratadas anteriormente como performances, onde,mesmo que cada indivíduo tenha seus gostos, está inserido em alguma tribo, ainda que sem propósito. Mas, segundo Pithan (2007), em sua análise das antigas comunidades do Orkut (esta, uma rede social que estourou em 2004), os membros podem ser banidos desses grupos que, por algum motivo, reúnem-se e retiram aquele membro do meio. Isto faz com que muitos, para conseguir aprovação ou manter-se inserido nesses grupos, vistam máscaras como, aponta Maffesoli (apud PITHAN, 2007, p. 6), finjam ser aquilo que não o são. O sentimento de “estar-junto” citado em O tempo das tribos torna-se muito forte ao observar o convívio entre eles e sua vontade de compartilhar suas experiências. Na opinião de Maffesoli, (apud COELHO et al, 2015, p. 4), não é a formação do grupo nem ele em si que os torna tribos, mas o relacionamento entre eles: emoções, opiniões, percepções, gostos e posicionamentos em conjunto são o que o caracterizam como tribo. Ainda para Coelho et al (2015, p. 5), Maffesoli apresenta três características que compõem o tribalismo: o território

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em que se vive (ou seja, a sua residência), divide seus gostos com os demais e sua juventude eterna, pois as expressões de suas paixões são típicos de adolescentes.

A ligação do assunto com as redes sociais pode ser feita através da análise do extinto

Orkut, no artigo de Pithan (2007). Nele, há a percepção de que as redes sociais é que trazem

essa questão muito forte de tribalismo, visto que, a partir delas, é que são realizadas essas principais interações, independente de um local físico, pois aquela rede virtual é o bastante para que se construa uma demanda de posicionamentos e, com essa ligação, os pertencimentos a estes locais. A cibercultura disponibiliza o individualismo do usuário ao deixá-lo expor suas crenças e personalidade. Entretanto, essas pessoas formam grupos por causa de suas concordâncias e gostos, o que formaria o tribalismo como na fala de Cynthia Correa:

os encontros que levam a formação de tribos virtuais, geralmente, acontecem por acaso, quando o indivíduo navega na Internet e se depara com pessoas com as quais descobre compartilhar afinidades. Apesar de ser um encontro ocasional, valoriza-se o fato de estar-junto, assim como prevalece um compromisso e um sentimento de respeito entre os membros enquanto perdurar o contato (CÔRREA, 2005, p. 6).

Assim, ainda que antigamente fosse possível participar de uma tribo, a distância poderia ser um empecilho, e na contemporaneidade, as redes são os principais encontros. O conceito de imaginário coletivo também está atrelado ao tribalismo. Esse conceito pode ser observado de um modo mais simplista pelo site da InfoEscola: “Em toda comunidade ou grupo de pessoas existe um imaginário coletivo, ou seja, um conjunto de símbolos, costumes ou lembranças que tem significado específico para ela e comum a todas as pessoas que fazem parte dela.” (ARAUJO, 2019).

Maffesoli propõe os conceitos de identidade e identificação: este último é relacionado ao tribalismo. Na análise de Eduardo Portanova Barros na Revista Unisinos (2008), seria uma conotação imaginal, ligada ao imaginário. O imaginário é ligado aos grupos e, para o filósofo, o eu não costuma ser individualizado, tendo identificação e não uma identidade única: “o eu é apenas uma ilusão, ou antes, uma busca um pouco iniciática, não é nunca dado definitivamente, mas conta-se progressivamente sem que haja, para ser exata, unidade de suas diversas expressões” (BARROS, 2008, p.182).

O imaginário coletivo pode-se ser definido como parte de símbolos e, semelhante ao conceito de tribalismo, este se impacta também com a rede social. Mas diferentemente da mesma, o imaginário coletivo são memórias e suas afinidades, sendo, portanto, desigual ao tribalismo. O tribalismo consiste em grupos com alguma semelhança, enquanto o imaginário

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são estas afinidades que constituem o grupo. Baseando-se no autor Silva, Moraes e Bressan apontam como este age virtualmente:

O imaginário, através dos dispositivos, das tecnologias do imaginário, encontra formas de se expressar e estas dependem da empatia para se expandir e ganhar força social e simbólica. Nesse sentido, a imagem do tear pode ser recuperada na atual conjuntura de desenvolvimento, principalmente com as tecnologias de comunicação e informação. Se imaginarmos alguém tecendo um lindo tapete no tear, a agilidade com que movimenta linhas e cores fica evidente a relação que há com os usuários de tecnologias digitais. A velocidade com que circulam imagens, palavras, trolagens, memes é ímpar. (MORAES; BRESSAN, 2019, p.108)

Este trecho, retirado do capítulo Conversa fiada: tecendo a ambiência social e

informativa pelas redes sociais (MORAES; BRESSAN, 2019, p.103), reflete que mesmo que

algum tópico pareça sem importância ou utilidade para tal, para estes grupos que compõem o imaginário, para essas pessoas que “contribuem” para esse movimento, elas desejam compartilhar entre as mesmas. E esperam por essas respostas seja através de likes, comentários ou compartilhamentos. Esses compartilhamentos fazem parte da vida cotidiana delas e é utilizado o termo “conversa fiada” no texto para referir-se a conversas banais, que não tem interesse público. Essa “força social” depende da empatia e como exemplo foram citados os youtubers: estes que compartilham seus anseios, dores, angústias e que no fundo são retratados como uma pessoa comum. Heloisa Moraes (2019, p.101 ), no capítulo O

imaginário no cotidiano: a imagem como potência do laço social, discute a pregnância de

uma imagem como formadora de laços e sentimento de pertença, identificação. Ela explica que é a empatia, alegria e descontração dos youtubers que o tornam tão únicos e especiais, criando vínculos com quem os assiste por causa de suas afinidades, por assim dizer. E são a partir dessas demonstrações de mundo, que Moraes e Bressan (2019, p. 103) concluem que essas conversações sociais vão se criando e recriando-se, nascendo novas conversas ainda mais “fiadas”, aquelas que vão sendo construídas, amarradas, enredadas.

Ainda, no texto de Moraes e Bressan (2019) fica clara a ligação entre tribalismo e imaginário, ao citar o autor Susca, que exemplifica como as amadas selfies (fotos tiradas do individuo por ele mesmo, pela câmera frontal). Pois, segundo este autor, o agradável encanta a população, onde ela sairia de museus para ruas. Já a conexão entre imaginário e cultura é citada por Michel Maffesoli, em uma entrevista realizada em 2001 pela revista Famecos, tal qual evidencia-se que a cultura e o imaginário coletivo não possuem o mesmo significado. Eles podem ser confundidos, pois, contém uma ligação forte e, segundo o entrevistado, enquanto a cultura pode ser definida com cinema, artes, música, etc. Maffesoli (2001, p.3)

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aponta que “o imaginário é a cultura de um grupo”. Essa cultura seria o compartilhamento entre as pessoas. Em suas palavras, discute o conceito de imaginário “estado de espírito de um grupo, de um país, de um Estado- nação, de uma comunidade, etc. O imaginário estabelece vínculo. É cimento social. Logo, se o imaginário liga, une numa mesma atmosfera, não pode ser individual” (MAFFESOLI , 2001, p.3).

Assim, os conceitos de tribalismo e imaginário coletivo também estão intimamente ligados: enquanto o tribalismo são as tribos formadas devido às afinidades específicas, o imaginário coletivo trata-se dos símbolos e imagens que aquela determinada comunidade possui e que os une como tribo.

2.1 Laços sociais, sob a concepção de Mark Granovetter

Laços sociais de uma maneira geral são interações entre usuários online, especialmente nas redes sociais. Na concepção de Granovetter, em seus estudos de 1973, esses laços são constituídos de laços fracos (aos quais referem-se a contatos “distantes”, ou seja pouco íntimos e relacionam-se entre si pouco como de forma profissional, por exemplo) e laços fortes (estes intimamente ligados). O artigo A força dos laços fracos desenvolvido por Kaufman (2012), baseia-se nas propostas de Granovetter e explica que a “coleção de perfis” citada abaixo, nada mais é do que esses laços fracos e suas conexões (os usuários possuem milhões deles para alguma necessidade), mas não interagem com frequência, são pessoas apenas conhecidas e ficam “descansando” até precisarem de algum contato:

Essas conexões ou “coleções de perfis” guardam semelhança com a definição de “Laços Fracos” de Granovetter desempenharem o papel de propagadores de inovações, difundindo referências e experiências, facilitadas pela tecnologia que amplia o acesso e acelera as interações com um número maior de pontos de contato. Todavia, as decisões importantes dos indivíduos continuam sendo compartilhadas com suas relações de “Laços Fortes”, com as quais têm implicitamente firmado contratos de fidúcia (KAUFMAN, 2012, p. 209).

Kaufman (2012) expõe o capital como parte dos laços sociais. Esse capital seria uma forma de cooperação e reciprocidade nas redes sociais, pois ele é considerado a interconexão entre essas pessoas. Com essa colaboração entre os membros, formaria-se o que Granovetter intitula de laços fracos e laços fortes. Os “weak ties” são, para Granovetter, o maior

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propagador de informações e os “Strong ties” são mais íntimos e ligados à confiança e credibilidade, aceitando-se assim a informação compartilhada com exatidão. Kaufman (2012), a partir desta proposta, complementa também que, contrariamente ao que se fala hoje, os laços fortes aproximam-se mais com as redes pelo corrido tempo em que a agitação da vida urbana, que dificulta o encontro face a face entre essas pessoas.

Essa tese é reforçada por Mark Granovetter (1973), ao exemplificar uma determinada relação:

Por exemplo, C pode ter um laço fraco com um ator D, que não se relaciona com A e B. Este ator D também deve ter laços fortes com outros atores, E e F, que não se relacionam com A e B. Por consequência, o laço fraco que liga C e D pode ser um canal pelo qual fluem novas informações. Como este laço é o único canal que liga A e B a E e F, ele também se torna uma ponte. A remoção desse laço fraco causaria um dano maior à rede do que a remoção de um laço forte, pois sua ausência geraria um bloqueio no fluxo de informações entre os atores (SILVA et al, 2017, p. 182) .

Dessa forma, as informações são melhores distribuídas e, tornam-se “ligações” entre os internautas. Sua mensuração era definida por Mark Granovetter utilizava-se da frequência de vezes que os indivíduos se viam para definir se este era um “Strong tie” ou “weak tie”. Não foram constatados mais estudos nesta mesma proposta, porém novos investigadores continuam a procurar a conexão entre esses laços.

Com essas reflexões a respeito do mundo, todos os conceitos analisados interligam-se um com o outro. Como demonstrado acima, as redes sociais são um ambiente do imaginário coletivo, pois elas fazem a comunidade mostrar suas experiências de mundo, que condiz com suas lembranças e símbolos, como visto no conceito do imaginário. O imaginário formaria esses laços sociais fracos e fortes, como conceituado por Granovetter, que se espalharia pelas redes, sendo importante para novas informações, enquanto a rede social seria um instrumento para a publicação do conteúdo.

As lembranças que fazem parte do imaginário coletivo formaram-se tribos em questão com o mesmo intuito. O tribalismo então seria importante para a criação de novos pensamentos, abrir a mente para novos horizontes e ao fortalecimento de relações sociais. Ao concordarem entre si, mesmo que virtualmente, ou discordarem, essas relações acabam tendo impacto e acrescentando a novos conhecimentos ou acontecimentos. É nessa união que as revoluções são feitas.

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De acordo com o site oficial do artista, Leonardo de Borges da Lima Lins é carioca e hoje tem 37 anos de idade. Em sua adolescência, mudou-se para Curitiba. Cursou a faculdade Educação Física e apostava piadas com seus colegas, onde começou a escrever piadas em 2001. Mas a sua carreira no stand up começou em 2005, com o espetáculo “ Pão e Circo” e participou do primeiro grupo de stand up do Brasil chamado de “Comédia em Pé.” No solo, sua carreira começou somente em 2009 com o show “Surreal.” Apesar de ter sido convidado em muitos programas de televisão,foi no programa Legendários que teve seu primeiro papel importante como redator no programa de Marcos Mion.

Em 2011, Léo assinou um contrato com a Band no programa “Agora é Tarde” com Danilo Gentilli. Em 2013, todos, exceto Marcelo Mansfield, os integrantes deste programa assinam com o SBT e vão para o programa “The Noite”. Seus shows começam a ter mais repercussão pela fama adquirida no programa, onde continua atuando até hoje. O show “Piadas Secretas” realizado no ano de 2012 passou por inúmeros estados brasileiros e até, outros países como Alemanha, Inglaterra, Irlanda, Japão e Portugal. Lins também tem alguns livros já lançados: Notas de um comediante stand up, Segredos da Comédia Stand up, Sapo

Césio e Whatahell HQ.

De acordo com o site Rd1 (2019) e o Instagram do próprio artista (@leolins), o cancelamento de seus shows já não é mais uma novidade: estes foram cancelados em mais de 20 cidades. Léo postou uma foto no Instagram com um bolo e uma faixa na boca em denúncia à falta de liberdade de expressão em virtude desses cancelamentos Estes acontecem por suas piadas serem pesadas e “sem limites”. Em uma entrevista à Veja (05/2019), Léo afirmou que essa sempre foi a maneira de lidar com a tristeza e que até no enterro de sua vó ele fez piada. Para ele, foi uma forma de honrar sua memória. E volta a reafirmar que foi assim que superou as grandes adversidades da vida. Ainda na mesma entrevista, Léo afirma que o “Livro dos Insultos” será lançado nesse ano, e de acordo com o humorista a ideia é de que seja a maior “bíblia” do insulto com a parte prática e a parte teórica. Ainda comentando sobre seus trabalhos, ele cita uma série intitulada de “Exterminadores do Além’ que tem previsão para 2020 além dos volumes 2 e 3 do HQ chamado de Whatahell.

O cancelamento de uma dessas 20 cidades foi em Capivari de Baixo, Santa Catarina. Em cada passada por alguma cidade, o humorista coleta alguns dados sobre ela e faz um vídeo para chamar os fãs a comparecer em seus shows. No vídeo especificamente para Capivari, os vereadores se irritaram em uma piada em que Léo tinha feito a respeito deles ao serem chamados de “animais”. O show Bullying arte está sendo realizado atualmente. O show

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mencionado no caso foi transferido para a cidade de Tubarão, mas a repercussão do cancelamento foi enorme no Instagram, gerando mobilização dos internautas.

Imagem 3- anúncio do cancelamento do show pelo humorista

Fonte: Instagram @leolins

3.1 Discussões sobre o caso Leo Lins e a mobilização local pela rede social

O show do humorista foi cancelado em Capivari de Baixo em Santa Catarina, com isso muito internautas revoltaram-se e revelaram seus pensamentos na rede. Como critério, os comentários escolhidos foram divididos em assuntos mais específicos mas que ainda falam sobre o caso e estes estão presentes neste artigo em forma de prints, além dos que foram julgados mais importantes para a análise do conflito principal. Ao publicar o motivo do cancelamento, praticamente todas as pessoas ficaram contra esses políticos. “Os comentários prevaleceram em tópicos como: “venha para cá, Léo”, “ falta de liberdade de expressão” , “de novo?”, “manda o vídeo” e elogios para o humorista. Além das brincadeiras com as suas próprias cidades. Os prints abaixo foram retirados do Instagram de Léo e demonstram como as pessoas se sentiram e, não se calaram sobre isso. As redes sociais ligam-se assim à citação de Pollyana Ferrari, (2010, p. 33) ao descrever a web na atualidade como “uma direção que se escuta e se fala, muitos ouvem e muitos respondem de volta.”. Isso significa que todos têm a capacidade de opinar, criar e escrever. Aqui, é mais do que perceptível que com essa

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liberdade de escolher o que se quer ver na cibercultura, e fazer parte, são não só possíveis mas também utilizados a todo momento. Esses usos criariam uma inteligência coletiva, conceito criado por Pierre Lévy (1998) que contribuiria para a formação de conhecimento através de máquinas tecnológicas. Enquanto Léo Lins pareça ser a primeira vista apenas mais um humorista, ao trazer estas questões ao público, ele torna seu auditório mais crítico, que procura saber mais a respeito do ocorrido e mesmo sem o ser intencional.Trouxe questões de interesse público: o modo com que a cidade é governada e com que tipos de pessoas os brasileiros estão selecionando como seus vereadores, como acontece no caso.

Pensando nisto, ao analisar alguns desses comentários selecionados, o conceito que Ferrari (2010) citou entrelaça-se com o ocorrido. Ao Léo Lins falar, muitos responderam e ficaram ao lado do mesmo. Seria a bidirecionalidade da rede agindo: não somente são meros espectadores, estes são também participantes. O feedback já é esperado para assim formar as devidas conclusões. O engajamento proporcionado já se pode ver que foi grande, pois nesta postagem no Instagram obteve mais de 1.000 comentários. Este engajamento tornou-se importante para a formação do que Maffesoli (1998) chama de tribos, pois foi neste grande número significante que o imaginário coletivo fez parte da opinião dessas pessoas.

Assim, esses comentários mostram a formação e engajamento de uma tribo. São grupos que têm uma identificação em comum e, de acordo com ele, são suas emoções, opiniões e posicionamentos que os tornam uma tribo: podemos exemplificar pegando alguns comentários. Os comentários abaixo mostram o tribalismo evidente entre eles, já que todos tem uma identificação em comum: acreditam que o cancelamento do show de Léo Lins trata-se de uma censura e falta de liberdade de expressão ao chamá-los de hipócritas, autoritários e ser usado o termo “ditadura”. O assunto tópico trata-se do mesmo, e essas pessoas, unem-se para evitar que o show do humorista em que elas têm respeito possa realizar suas piadas em suas cidades.

O mesmo ocorre com os comentários de outros internautas. Estes convocam Léo a virem em suas cidades, em busca de entretenimento e hedonismo, como é proposto ao conceito de tribalismo. Outros ironizam o fato de que o humorista já foi censurado em diversas cidades por seu palavreado destemido e brincam: “de novo?” e outro em que diz para já ter um plano B pois é certo que isso iria acontecer.

Podemos destacar também que essas tribos não existiriam sem as redes sociais, visto que não existiriam tais postagens e um ambiente propício para discussão. E o “imaginário coletivo” também se torna indispensável no tribalismo, pois são esses símbolos e identificações que os fizeram unir-se por uma causa específica. Como Moraes (2019)

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exemplifica em seu artigo “O imaginário no cotidiano: a imagem como potência do laço

social”, ao citar os youtubers para demonstrar o imaginário coletivo, é criado a partir da

empatia e compartilhamentos das pessoas que possuem os mesmos interesses. E embora Léo Lins não seja um youtuber, ele faz parte de ser um dos “influenciadores digitais”, pois ele cria empatia e suas piadas são a respeito do cotidiano. O filosofo Michel Maffesoli (2001) afirma que “a cultura é o imaginário de um grupo” e a cultura poderia ser definida com exemplos como cinema, música e artes. Com isto, conclui-se que Léo Lins faz parte da cena cultural, ainda que de forma menos tradicional, ele traz essas memórias para essas pessoas. Suas piadas transmitem risadas e comentários sobre.

Ainda podemos observar que, nos dois últimos comentários deste tópico, com a “censura’’ mencionada por eles, o sucesso do humorista fica mais destacado, pois as pessoas demonstram certo desgosto pelos políticos: enquanto um determinado usuário os chama por palavrões, o próximo comenta que os políticos não têm o mesmo empenho para arrumar as cidades, enquanto outro continua o convocando para vir a Capivari, pois a cidade não é dos políticos. Um deles xinga o prefeito e há relatos de que os políticos “não aguentam ouvir verdades”.

Novamente, essas opiniões são todas a respeito de um mesmo assunto, que é dividido em tópicos e seu tribalismo é presente ao notar essas identificações. Tais características os unem como tribos, tendo como principal destaque a afinidade com o humorista.

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Fonte: Instagram @leolins

Indignado com essa situação, Léo Lins reponde o vídeo polêmico, em que falava sobre a cidade e que foi a causa do cancelamento como pedido em alguns comentários anteriores. Os comentários abaixo mostram o laço social criado entre elas no post, que segundo Granovetter (1973),seriam laços fracos, mas não menos importantes que os laços fortes. Os internautas concordaram entre si com o vídeo do humorista e ainda observam-se complementos nos comentários, como os abaixo, em que descrevem os buracos da cidade, e no reforçamento da fala do humorista pela cidade ser pequena e ninguém se perder nela. Eles ainda brincam com a própria cidade. Ou seja, enquanto os políticos repreendem e tentam impedir os shows de Léo Lins, as pessoas vão criando esses laços fracos. Fracos porque embora eles tenham um imaginário coletivo em comum, são pouco conhecidos e não há a comunicação direta entre eles. Porém, esses mesmos laços fracos desenvolvidos nos comentários podem vir a se tornar fortes caso alguma dessas pessoas venha conversar diretamente com a outra. Nesta conversa, pode-se tornar uma amizade e uma conexão mais forte potencialmente feita. Os comentários selecionados abaixo, assim como os apresentados anteriormente, demonstram, assim, os conceitos presentes no artigo:

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Imagem 10 e 11- Internautas brincam com as suas cidades

Fonte: Instagram @leolins

Ainda no Instagram, Lins postou um áudio recebido pela sua produção em que o vereador Praxedes do PSD reclama que não se pode trazer esse tipo de comédia á cidade e que Lins estaria denegrindo sua imagem. Léo Lins o chamou de “cabeça de batata” e, bravo com a situação, afirma que um representante que não sabe escutar o que não gosta não merece o ser. A repercussão no Instagram continuou grande e nas imagens podemos ver alguns deles em que sua maioria concorda com a fala do humorista:

Imagem 12 – Léo discute sobre a censura no Instagram

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Imagem 13,14 e 15 – Os fãs criticam o governo atual a partir do post de Lins

Fonte: Instagram @leolins

Mais uma vez, as pessoas mostram o quão descontentes estão com a atitude dos vereadores, especificamente desta vez com Praxedes. As pessoas chamam no para trabalhar, e têm vergonha do representante e dos demais políticos brasileiros pois concordam que com o povo nada tem a ver o vereador e que este somente representa a si mesmo. Essa amostra apenas confirma suas indignações com o acontecimento e reclamações sobre o Praxedes, em que muitas vezes é mencionado por “não fazer seu trabalho direito”. Alguns usam da ironia para relatar suas indignações com a famosa frase “é verdade esse bilhete.”

O tribalismo mais uma vez está presente e a força dos internautas mostrou-se potente e, finalmente o caso tem um desfecho: o show é enfim mudado para um local vizinho, a cidade de Tubarão, a apenas 8 km de Capivari de Baixo.

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Imagem 17 e 18 - Internautas apoiam Léo, mas ainda argumentam contra a atitude dos políticos.

Fonte: Instagram @leolins

Aqui, os internautas agora estão animados com a chegada de Léo Lins, mas ainda reclamam das posições dos vereadores. Alguns perguntam do show, muitos reagem com apenas emojis e outros repetem o que já foi relatado antes: vereadores não gostam de ouvir a verdade. O carisma que Léo Lins emana para seus fãs é apresentado não somente pelos elogios, mas pela forma de apoio e sua animação com o novo show programado. O humorista passa o hedonismo atribuído a esses grupos através de suas piadas. Tanto pelas suas piadas quanto pela sua sinceridade, que, embora seja falada de uma maneira chula, ainda é verdadeira. Talvez por isto, Léo possua tantos internautas dispostos a defendê-lo, pois os “representantes” do povo que deveriam o ser, segundo eles, não o são.

Assim, os comentaristas transparecem seus pensamentos, com convicção e os conceitos apresentados se mostram presentes da seguinte forma:

-Rede social: pois se apresenta no Instagram, uma rede social recente (2010) e sua tecnologia permite a discussão do fato, através da sessão de comentários.

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-Engajamento: pois sua repercussão foi grande para a análise presente, tendo um número significante de comentários e curtidas. Sem essa repercussão, não se formariam tantas tribos e discussões acerca do assunto.

-Imaginário coletivo: pois os shows de Léo Lins trazem-lhes boas lembranças e criam empatia com novos fãs, além de construir uma relação mais forte com os antigos, além do símbolo recordado por eles da ditadura, em que não havia liberdade para falar o que pensa. Essas memórias boas e ruins foram essenciais para a construção desses grupos.

-Laços sociais: uma consequência do tribalismo, que faz os laços fracos se comunicarem e criarem novas conexões, por exemplo. Os laços fracos podem ser muito importantes para a divulgação de eventos como esse, como Granovetter (1973) demonstra em sua teoria que ao ser cortado determinados laços fracos, o estrago seria relevante. Pois estes é que ligam pontes e, com isto, suas informações. Conhecimento é sempre uma chave essencial para o ser humano, saber o que se passa ao redor do mundo e fazer a sua parte.

- Tribalismo: já que uniu pessoas de diversas cidades próximas com o mesmo propósito: algumas queriam mais liberdade e refletir acerca dos representantes e que nada fazem pelo povo, outras zombar de sua cidade, elogiar o humorista, outros apenas divertirem-se acerca dos comentários. Esses grupos trazem uma reflexão complexa, a de observar mais o que estão fazendo os “representantes” do povo. Em suas opiniões, os vereadores censuraram um show que era importante para seu hedonismo, enquanto, assuntos importantes os políticos não se preocupariam em arrumar. As verdades estão ali, segundo os internautas, mas os representantes preferem defender-se e negar seus erros, alegando ainda que esse tipo de humor denigre o município.

Essa tese confirma o conceito elaborado por Maffesoli (2008), que alega que um eu não existe individualmente, sendo apenas uma ilusão. É possível perceber também o temor dos comentaristas à censura, o que interliga com o conceito de imaginário coletivo, pois isso os traz os símbolos de uma época em que já se passou, mas que não a querem novamente. Enquanto o humorista Léo Lins traz lembranças que desejam ser recordadas, por serem boas, a ditadura mencionada traz medo e desespero.

A jogada de Praxedes foi inteligente, ao dizer que a cidade e os habitantes estavam sendo ofendidas. Mas o povo está tão habituado a essas atitudes desses políticos, que não caíram. Suas referências à censura, os fazem ter lembranças de um imaginário coletivo que as assombraram no passado: a famosa ditadura. As pessoas não querem mais ser caladas e continuam a gritar sua voz a fim de que mudanças sejam feitas. Enquanto os políticos não serem honestos com a sociedade e, além disso, descumprirem suas promessas, os problemas

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continuarão e as cobranças serão ainda maiores. O descontentamento da população tem razão, pois essas práticas afetam gravemente a economia, o desenvolvimento e até mesmo a democracia, que passa a ser questionada quando algo não pode ser dito ou feito, que estes tentam impedir. Ao vereador se sentir ofendido, é compreensível que este não tem uma ficha limpa ou estaria tranquilo em relação às críticas e não usaria um termo defensivo para se “livrar” das respectivas reclamações.

A realidade descrita como verdade é um choque para Praxedes, que insiste em se esconder atrás das máscaras citadas pelo autor Maffesoli. E a união dos internautas pode ser um progresso para que os “representantes” observem que a força maior não é dele e sim de sua população.

4- Conclusão

Conclui-se que, o tribalismo em cena é evidente, pois o conceito proposto está em todos os comentários. O Instagram possibilitou que os internautas de construíssem sua visão de mundo e relatassem seus incômodos, a partir da sessão de comentários e do engajamento nos posts. Essa união foi composta através dessa rede e é caracterizada pelos pensamentos semelhantes que os identificam, tornando as tribos. Tal força fez com que o show continuasse, embora da cidade do lado. O conflito aqui se estabelece com o sentimento de falta de liberdade de expressão: a proibição da realização do stand up fez com que as pessoas se sentissem novamente em uma ditadura, em que não se têm voz. Contrariadamente, é exatamente o que os indivíduos fazem: jogam suas vozes nas redes sociais e desabafam suas inquietações. É notável como as redes sociais evoluíram desde seu nascimento, pois no início destas, não havia tantas discussões.

Com esses posicionamentos, automaticamente as pessoas ficam mais antenadas dos assuntos que lhes interessam e podem se expressar. Ao usarem suas expressões no post, os políticos, ao repararem suas opiniões contra, assim “vestem” máscaras e afirmam se preocupar com o bem da população, enquanto censuram parte da cultura por recusar escutar críticas. Enquanto se irritam com o entretenimento, ao invés de procurar uma melhora e pensar sobre as alegações de pessoas tanto comuns quanto famosas, procuram apenas defender-se e, através dessas máscaras, apontar que estão ofendendo o município e a eles mesmos. É notório que essas ‘’ofensas” são em sua maioria críticas construtivas, e, a falta de vontade de realizar os pedidos pela população é sempre observada e nada inesperada.

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Essas máscaras remetem ao que foi atribuído no conceito de tribalismo, a performance. O vereador Praxedes usa desta para se adequar à população e for bem aceito. Ele tenta mudar quem ele realmente é para que não perca seu cargo. Com essa afirmação, pode-se concluir que a afirmação de Michel Maffesoli (1998) descrita no início sobre estilos faz sentido. Os membros daquela tribo também, de certa forma, expulsaram Praxedes do grupo. Ele não foi bem aceito e nem ouvido como desejado.

A partir disto, o principal conflito nesse caso foi este e os grupos formados na concepção de Maffesoli (1998) , estão presentes para mostrar que as pessoas têm voz e estão aqui para ser ouvidas. Se o grupo silenciar-se estará consentindo com suas ações. Por isto, é o dever de todos ter um posicionamento aquilo que incomoda e que afeta não somente a um habitante, mas a milhares de outros habitantes de determinada cidade.

Essas reflexões, fazem parte da atualidade e afetam a população: não se trata somente de um show humorístico mas também das vozes dos internautas, que buscam melhorias na sua condição de vida e, para isso, buscam os meios tecnológicos para se comunicar entre si e mencionarem seus desgostos. A política é algo que está constante há muitos anos no Brasil, e percebe-se que, apesar da dita democracia, as máscaras que os representantes colocam remetem a uma volta dos tempos em que ninguém além deste poderia ser ouvido.

Essas críticas não são recentes, visto que se tornou um hábito para os vereadores se “vestirem” e não escutar a população, mas tal cancelamento chocou as pessoas de uma maneira ainda mais impactante: porque, embora eles se utilizem de mentiras para manter seu mandato, a proibição traz o sentimento de privação. Em tempos de tecnologia e espaço para a fala, o tribalismo faz a diferença pois, ao as pessoas juntarem-se, sua força se torna muito maior. Talvez seja esta união que permita que feitos importantes sejam realizados para a melhora de quesitos públicos.

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