NOVOS AÇOS ESTRUTURAIS DE ELEVADA
RESISTÊNCIA À CORROSÃO MARINHA
Autores:
Rogério Augusto Carneiro
Evandro de Azevedo Alvarenga
NOVOS AÇOS ESTRUTURAIS DE
ELEVADA RESISTÊNCIA À CORROSÃO
MARINHA
A corrosão é um dos principais problemas das estruturas metálicas e o processo corrosivo é acelerado pela umidade, compostos de enxofre e íons cloretos, quando presentes em quantidade elevadas
INTRODUÇÃO
O uso dos tradicionais aços carbono resistentes à corrosão atmosférica, do tipo ASTM A588 (patinável) ou ASTM A606, é uma maneira de melhorar o desempenho da estrutura contra a corrosão
Porém, mesmo estes aços estão sujeitos à corrosão intensa, eventualmente com desplacamento da camada de óxidos (anômala) e exigem proteção por pintura quando a atmosfera é muito agressiva
Brasil: não há normas, pintura feita por “sentimento” ou estética
Alguns países têm normas que exigem a pintura quando a taxa de deposição de íons cloreto supera determinados valores, que dependem da fonte dos íons (mar ou sal de degelo) e do método de análise (vela seca ou úmida)
Japão: mar, vela seca, 5 mg Cl-/m2.dia
Inglaterra: mar, vela úmida, 10 mg Cl-/m2.dia
A pintura acarreta custos iniciais de aplicação e outros relativos à manutenção (parada de linha, mão-de-obra e
material) e, eventualmente, problemas devido a dificuldades de acesso ou contaminação do ambiente
Isso reduz a competitividade do aço, apesar de vantagens como menor peso, possibilidade de maiores vãos livres e
variedade de soluções arquitetônicas, rapidez de construção, menores perdas de material e canteiros de obra mais limpos, e inibe sua maior utilização, principalmente junto à orla
marinha
A Usiminas desenvolveu novos aços resistentes à corrosão marinha, para aplicações sem pintura em regiões com taxa de deposição de íons cloreto da ordem de 100 mg Cl-/m2.dia
4 aços carbono com as seguintes composições químicas:
METODOLOGIA
Aço Composição química típica (% em massa) Ceq(a) PCM(b)
C Mn P Ni Cu Mo Si Cr
Aço 1 0,10 0,70 0,015 < 3,5 0,08 < 0,50 < 1,50 sem adição 0,40 0,23
Aço 2 0,10 0,70 0,015 < 3,5 0,08 sem adição 0,20 sem adição 0,35 0,18
SAC-300 0,048 0,24 0,032 0,014 0,090 sem adição < 1,50 sem adição 0,10 0,10
SAE 1006 0,029 0,47 0,017 0,018 0,012 sem adição 0,20 0,025 0,12 0,06
a)Ceq = C + Mn/6 + (Cr + Mo + V)/5 + (Ni + Cu)/15 (valores típicos)
b)PCM = C + Si/30 + (Mn + Cu + Cr)/20 + Ni/60 + (Mo + V)/15 + 5B (valores típicos)
e com as seguintes propriedades mecânicas
Aço Propriedades mecânicas
LE (MPa) LR (MPa) Alongamento (%) Dureza HV (2kg)
Aço 1(a) 505 746 21,2 (BM(c) = 80 mm) 241
Aço 2(a) 1 358 2 487 3 29,6 (BM
(c) = 80 mm) 144
SAC-300(b) > 300 > 402 > 19 (BM = 200 mm) 153
SAE 1006(b) > 250 400 a 500 > 18 (BM = 200 mm) 115
a) tração: ASTM-A-370, sub-size.
b) para os aços SAC-300 e SAE1006 os valores são típicos. c) BM: base de medida
TESTES DE CORROSÃO
Teste acelerado de corrosão com aspersão intermitente de solução salina, norma ISO 11474
solução 3% p/v de NaCl, três vezes por semana
4,6 kg Fe/m2.ano, corrosividade muito alta (C5) da ISO 9225
avaliações após 1 ano, 1,5 ano, 2 anos e 3 anos
Teste não-acelerado de corrosão com exposição em atmosfera marinha, norma NBR 6209
taxa média de deposição de cloreto: 102 mg Cl-/m².ano
0,6 kg Fe/m2.ano, corrosividade alta (C4) da ISO 9225
Modelo matemático de Pourbaix considera que a corrosão segue lei exponencial do tipo:
p = AtB
p = perda de espessura
A = taxa de corrosão no primeiro ano
B = parâmetro que reflete as características protetora da camada de óxidos
e permite estimar a perda de espessura para um período de até 30 anos
Dividindo por t temos a taxa de corrosão e tomando log10:
log10(p/t) = A’ + (B-1)log10t
B = 0,5 processo segue a lei parabólica e é controlado por difusão
B < 0,5 a camada de óxidos é protetora
B > 0,5 a camada de óxidos não é protetora
Com dados reais de, no mínimo, quatro avaliações, pode-se determinar a equação da reta e do parâmetro B
TAXAS DE CORROSÃO – NORMA NBR 6210
RESULTADOS
Aspersão Atmosfera marinha
Aço Taxa de corrosão (mm/ano) Taxa de corrosão (mm/ano)
1 ano 1,5 ano 2 anos 3 anos 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos
Aço 1 0,046 0,035 0,037 0,028 0,037 0,027 0,020 0,017 0,014 0,013
Aço 2 0,066 0,048 0,063 0,115 0,039 0,027 0,026 0,021 0,018 0,017
SAC-300 0,125 0,214 0,252 0,362 0,047 0,036 0,033 0,040 0,057 0,066 SAE 1006 0,425 0,547 0,583 0,637 0,055 0,118 0,159 0,184 0,216 0,208
Aspersão:
SAC-300 com corrosão anômala e comprometimento
TAXAS DE CORROSÃO – NORMA NBR 6210
RESULTADOS
Aspersão Atmosfera marinha
Aço Taxa de corrosão (mm/ano) Taxa de corrosão (mm/ano)
1 ano 1,5 ano 2 anos 3 anos 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos
Aço 1 0,046 0,035 0,037 0,028 0,037 0,027 0,020 0,017 0,014 0,013
Aço 2 0,066 0,048 0,063 0,115 0,039 0,027 0,026 0,021 0,018 0,017
SAC-300 0,125 0,214 0,252 0,362 0,047 0,036 0,033 0,040 0,057 0,066 SAE 1006 0,425 0,547 0,583 0,637 0,055 0,118 0,159 0,184 0,216 0,208
Aspersão:
SAE 1006 destruído pela corrosão anômala, perda média de massa de 88% do valor inicial
TAXAS DE CORROSÃO – NORMA NBR 6210
RESULTADOS
Aspersão Atmosfera marinha
Aço Taxa de corrosão (mm/ano) Taxa de corrosão (mm/ano)
1 ano 1,5 ano 2 anos 3 anos 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos
Aço 1 0,046 0,035 0,037 0,028 0,037 0,027 0,020 0,017 0,014 0,013
Aço 2 0,066 0,048 0,063 0,115 0,039 0,027 0,026 0,021 0,018 0,017
SAC-300 0,125 0,214 0,252 0,362 0,047 0,036 0,033 0,040 0,057 0,066 SAE 1006 0,425 0,547 0,583 0,637 0,055 0,118 0,159 0,184 0,216 0,208
Aspersão:
Aço 1 estruturalmente íntegro, corrosão uniforme e perda média de massa de 3,3% do valor inicial
TAXAS DE CORROSÃO – NORMA NBR 6210
RESULTADOS
Aspersão Atmosfera marinha
Aço Taxa de corrosão (mm/ano) Taxa de corrosão (mm/ano)
1 ano 1,5 ano 2 anos 3 anos 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos
Aço 1 0,046 0,035 0,037 0,028 0,037 0,027 0,020 0,017 0,014 0,013
Aço 2 0,066 0,048 0,063 0,115 0,039 0,027 0,026 0,021 0,018 0,017
SAC-300 0,125 0,214 0,252 0,362 0,047 0,036 0,033 0,040 0,057 0,066 SAE 1006 0,425 0,547 0,583 0,637 0,055 0,118 0,159 0,184 0,216 0,208
Aspersão:
Aço 2 estruturalmente íntegro, corrosão uniforme e perda de massa média de 14% do valor inicial
TAXAS DE CORROSÃO – NORMA NBR 6210
Aspersão Atmosfera marinha
Aço Taxa de corrosão (mm/ano) Taxa de corrosão (mm/ano)
1 ano 1,5 ano 2 anos 3 anos 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos
Aço 1 0,046 0,035 0,037 0,028 0,037 0,027 0,020 0,017 0,014 0,013
Aço 2 0,066 0,048 0,063 0,115 0,039 0,027 0,026 0,021 0,018 0,017
SAC-300 0,125 0,214 0,252 0,362 0,047 0,036 0,033 0,040 0,057 0,066 SAE 1006 0,425 0,547 0,583 0,637 0,055 0,118 0,159 0,184 0,216 0,208
Atmosfera Marinha:
SAC-300 com corrosão anômala na face voltada para o solo e perda média de massa de 18% do valor inicial
TAXAS DE CORROSÃO – NORMA NBR 6210
Aspersão Atmosfera marinha
Aço Taxa de corrosão (mm/ano) Taxa de corrosão (mm/ano)
1 ano 1,5 ano 2 anos 3 anos 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos
Aço 1 0,046 0,035 0,037 0,028 0,037 0,027 0,020 0,017 0,014 0,013
Aço 2 0,066 0,048 0,063 0,115 0,039 0,027 0,026 0,021 0,018 0,017
SAC-300 0,125 0,214 0,252 0,362 0,047 0,036 0,033 0,040 0,057 0,066 SAE 1006 0,425 0,547 0,583 0,637 0,055 0,118 0,159 0,184 0,216 0,208
Atmosfera Marinha:
SAE 1006 destruído pela corrosão anômala, perda média de massa de 56% do valor inicial
TAXAS DE CORROSÃO – NORMA NBR 6210
Aspersão Atmosfera marinha
Aço Taxa de corrosão (mm/ano) Taxa de corrosão (mm/ano)
1 ano 1,5 ano 2 anos 3 anos 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos
Aço 1 0,046 0,035 0,037 0,028 0,037 0,027 0,020 0,017 0,014 0,013
Aço 2 0,066 0,048 0,063 0,115 0,039 0,027 0,026 0,021 0,018 0,017
SAC-300 0,125 0,214 0,252 0,362 0,047 0,036 0,033 0,040 0,057 0,066 SAE 1006 0,425 0,547 0,583 0,637 0,055 0,118 0,159 0,184 0,216 0,208
Atmosfera Marinha:
Aço 1 estruturalmente íntegro, corrosão uniforme e perda média de massa de 3% do valor inicial
TAXAS DE CORROSÃO – NORMA NBR 6210
Aspersão Atmosfera marinha
Aço Taxa de corrosão (mm/ano) Taxa de corrosão (mm/ano)
1 ano 1,5 ano 2 anos 3 anos 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos
Aço 1 0,046 0,035 0,037 0,028 0,037 0,027 0,020 0,017 0,014 0,013
Aço 2 0,066 0,048 0,063 0,115 0,039 0,027 0,026 0,021 0,018 0,017
SAC-300 0,125 0,214 0,252 0,362 0,047 0,036 0,033 0,040 0,057 0,066 SAE 1006 0,425 0,547 0,583 0,637 0,055 0,118 0,159 0,184 0,216 0,208
Atmosfera Marinha:
Aço 2 estruturalmente íntegro, corrosão uniforme e perda de massa média de 4,3% do valor inicial
Corpos-de-prova após 6 anos de corrosão marinha
Aço 1 – face superior
Aço 1 – face inferior Aço 2 – face superior
Aço 2 – face inferior SAC-300 – face superior
SAC-300 – face inferior SAE 1006 – face superior
ESTIMATIVAS PERDA DE ESPESSURA - ASPERSÃO DE SOLUÇÃO SALINA
Aço Parâmetros Estimativa de perda de espessura (mm)
A B 10 anos 15 anos 20 anos 25 anos 30 anos Aço 1 0,046 0,5895 0,18 0,23 0,27 0,31 0,34 Aço 2 0,066 1,5337 2,26 4,20 6,53 9,20 12,16 SAC-300 0,125 1,9422 10,94 24,05 42,05 64,86 92,42 SAE 1006 0,425 1,3589 9,72 16,85 24,91 37,73 43,22
Aço SAC-300, oscilação na taxa de corrosão e estimativas de maiores perdas de espessura do que o SAE 1006 pode ser um indicativo de que o mecanismo do processo corrosivo
pode sofrer alterações ao longo do tempo e, eventualmente, não seguir a lei prevista por Pourbaix
ESTIMATIVAS PERDA DE ESPESSURA - ASPERSÃO DE SOLUÇÃO SALINA
Aço Parâmetros Estimativa de perda de espessura (mm)
A B 10 anos 15 anos 20 anos 25 anos 30 anos Aço 1 0,046 0,5895 0,18 0,23 0,27 0,31 0,34 Aço 2 0,066 1,5337 2,26 4,20 6,53 9,20 12,16 SAC-300 0,125 1,9422 10,94 24,05 42,05 64,86 92,42 SAE 1006 0,425 1,3589 9,72 16,85 24,91 37,73 43,22
As estimativas para o Aço 1 são muito menores do que para o Aço 2, que por sua vez são muito menores do que para os aços SAC-300 e SAE 1006
ESTIMATIVAS PERDA DE ESPESSURA - ASPERSÃO DE SOLUÇÃO SALINA
Aço Parâmetros Estimativa de perda de espessura (mm)
A B 10 anos 15 anos 20 anos 25 anos 30 anos Aço 1 0,046 0,5895 0,18 0,23 0,27 0,31 0,34 Aço 2 0,066 1,5337 2,26 4,20 6,53 9,20 12,16 SAC-300 0,125 1,9422 10,94 24,05 42,05 64,86 92,42 SAE 1006 0,425 1,3589 9,72 16,85 24,91 37,73 43,22
Pintura obrigatória para os aços SAC-300 e SAE 1006 e
recomendada para o Aço 1 e, principalmente, para o Aço 2, devido ao fator B ser maior do que 0,5 para ambos
ESTIMATIVAS PERDA DE ESPESSURA – ATMOSFERA MARINHA
Aço Parâmetros Estimativa de perda de espessura (mm)
A B 10 anos 15 anos 20 anos 25 anos 30 anos
Aço 1 0,037 0,4181 0,10 0,12 0,13 0,14 0,15
Aço 2 0,039 0,5419 0,14 0,17 0,20 0,22 0,25
SAC-300 0,047 1,1799 0,74 1,20 1,68 2,19 2,71
SAE 1006 0,055 1,7609 3,17 6,48 10,75 15,92 21,95
O aço SAC-300 tem estimativas bem inferiores às do SAE 1006, mas, novamente, as oscilações na sua taxa de
ESTIMATIVAS PERDA DE ESPESSURA – ATMOSFERA MARINHA
Aço Parâmetros Estimativa de perda de espessura (mm)
A B 10 anos 15 anos 20 anos 25 anos 30 anos
Aço 1 0,037 0,4181 0,10 0,12 0,13 0,14 0,15
Aço 2 0,039 0,5419 0,14 0,17 0,20 0,22 0,25
SAC-300 0,047 1,1799 0,74 1,20 1,68 2,19 2,71
SAE 1006 0,055 1,7609 3,17 6,48 10,75 15,92 21,95
O Aço 1 e o Aço 2 apresentam perdas de espessuras
estimadas para 30 anos muito inferiores às dos aços SAC-300 e SAE 1006
ESTIMATIVAS PERDA DE ESPESSURA – ATMOSFERA MARINHA
Aço Parâmetros Estimativa de perda de espessura (mm)
A B 10 anos 15 anos 20 anos 25 anos 30 anos
Aço 1 0,037 0,4181 0,10 0,12 0,13 0,14 0,15
Aço 2 0,039 0,5419 0,14 0,17 0,20 0,22 0,25
SAC-300 0,047 1,1799 0,74 1,20 1,68 2,19 2,71
SAE 1006 0,055 1,7609 3,17 6,48 10,75 15,92 21,95
Pintura obrigatória para os aços SAC-300 e SAE 1006 e
dispensável para o Aço 1 e o Aço 2, embora o fator B deste último seja ligeiramente maior do que 0,5
CONCLUSÕES
O Aço 1 e o Aço 2 são adequados para aplicações em estruturas expostas a altas taxas de deposição de íons
cloreto, como pontes junto à orla marítima ou sobre o mar, torres eólicas e componentes internos de navios e
plataformas, como decks, escadarias e corrimões
Os desempenhos contra a corrosão dos Aço 1 e Aço 2 em ambientes contendo íons cloretos são muito superiores aos dos tradicionais aços SAC-300 (patinável) e SAE 1006, o
que possibilita eliminar a pintura na maioria das situações nas quais ela é necessária para estes aços tradicionais
A maior resistência mecânica do Aço 1 possibilita reduzir a espessura de peças e, assim, o peso final de estruturas, tanto na parte metálica quanto na de alvenaria