UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO
SÓCIO-ECONÔMICO
DEPARTAMENTO
DE
ECONOMIA
CURSO
DE
GRADUAÇÃO
EM
CIÊNCIAS
ECONÔMICAS
DESREGULAMENTAÇÃO
E FLEXIBILIDADE
DOS
DIREITOS
TRABALHISTAS
NO
BRASIL
NOS ANOS
90:Uma
análise crítica.l\/lonografia
submetida
ao
Departamento
de CiênciasEconômicas
paraobtenção
de cargahorária
na
disciplinaCNM
5420
-
Monografia.
Por:
Adriana
Urcelina
Duarte
Orientador:
Prof.Pedro Antonio
Vieira, .
Area
de
Pesquisa:Economia
do Trabalho
Palavras-chaves: 1.
Trabalho
A2.
Desregulamentaçao
3.Encargos
Sociaisli
UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO
SOCIO-ECONÔMICO
DEPARTAMENTO
DE
ECONOMIA
CURSO DE
GRADUAÇÃO
EM
CIÊNCIAS
ECONÔMICAS
A
Banca
{Examinadora
resolveu atribuir a nota alunaAdriana
Urcelina
Duarte
na
disciplinaCNM
5420
-
Monografia
pela apresentação deste trabalho.* fe
É--'ií
Banca Examinadora:
Prof. Pedro
Antônio
Vieira Presidente/'
/
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1' etoCosta
A
meir
PereiraMembro
_..._..._....__---.__ _›_r,,,... _L
. Prof`.Mar'
- ` a dias .iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço
a Deus, por teme
concedido
saúde e capacidade para a conclusão deste curso.A
minha
família, por todo apoio e por toda paciência nessa fasemuito
importante
da
minha
vida.Ao
meu
orientador, Prof” Pedro, por terme
mostrado
oscaminhos
para a realização deste trabalho.Agradeço
aos professoresque fazem
deste curso,um
curso especial, àquelesque
são verdadeiros mestres, eque
serãosempre lembrados
com
carinho.Conquistei
algumas amizades
especiais, conheci pessoas incríveis,que
jamais serão esquecidas.IV
SUMÁRIO
RESUMO
... .. viCAPITULO
I V 1.O
PROBLEMA
... .. 1 UI-K-Iä-J>I\)--^ 1.1. introdução ... .. 1.2.A
Problemática ... .. 1.3. Objetivos ... .. 1.3.1. Geral ... .. 1.3.2. Específicos ... .. 1.4.Metodologia
... ..CAPITULO
II2.
o
LIBERALISMO
ECONÔMICO
COMO
DOUTRINA
PARA A DEFESA
DA
DESREGULAMENTAÇAO
DOS
DIREITOS
TRABALHIsTASz
UMA
ANÁLISE
CRITICA
... ..ó
2.1.
Mercado,
mercado
auto-regulável e trabalho ... ..6
2.2.
O
surgimentodo
liberalismoeconômico
... ..9
2.3.
O
modo
deacumulação
fordista: intervencionismo e rigidez nos contratosde
trabalho ... ._ 12
2.4.
O
modelo
deprodução
toyotista e a flexibilidade dos direitos dos trabalhado- res ... .. 152.5.
O
movimento
liberalizanteque
vivemos
desde adécada de
70: conceito e suas'principais conseqüências ... .. 17
2.6.
O
neoliberalismono
Brasil e as perspectivas para os trabalhadores neste cená- riode
significativasmudanças
... ..20
CAPITULO
IIIX
//À
3.
ANALISE
CRÍTICA
DOS
PRINCIPAIS
ARGUMENTOS
CONTRÁRIOS
E
FAVORAVEIS A
DESREGULAMENTAÇAO
DOS
DIREITOS
TRABALHISTAS
NO
BRASIL
... ..25
3.1.
As
principais conseqüências, para O trabalhadorda
aplicaçãodo
projetoque
V
3.2.
A
utilização dessamedida
para a criação emanutenção de
empregos
... ..28
3.3.
As
contradiçõesno que
concerne ao conceito de encargos sociais e a sua participaçãono
custoda mão-de-obra
no
Brasil ... ..29
3.3.l.
Encargos
sociais e encargos trabalhistas: as diferentes apresentaçõesde
seus conceitos ... ..29
CAPITULO
IV
›AS
PRINCIPAIS
MUDANÇAS
OCORRIDAS
NAS
LEIS
TRABALHISTAS
NO
BRASIL
A
PARTIR
DO
INICIO
DA DECADA
DE
90
... ..34
4.l. Contrato por
tempo
determinado
... .. 354.2.
Quanto
à fiscalização das obrigações trabalhistas ... ..36
4.3. Participação nos lucros e resultados ... ..
38
4.4.
Banco
de
horas ... ..39
4.5. Cooperativas
de
trabalho ... ..40
4.6. Alteração
na
legislação trabalhista proposta pelogoverno
federal para ç anova
redaçãodo
artigo618 da
CLT
... .. 41coNCLUsÃo
... ..43
vi
RESUMO
A
atual crise,no
mundo
do
trabalho,tem
como
principalmotivo
areestruturação
que
vem
ocorrendo nos processos produtivos,desde
adécada de
70.A
conseqüência
desse processo é ochamado
desemprego
estrutural,onde
várias funções são eliminadas e oshomens
tornam-secomo
colocou Castel (1998),supérfluos na
produção.Paralelamente, ressurgem,
com
força, as práticas liberais,segundo
as quaisum
mercado
auto-regulável é
mais
eficiente e o Estadodeve
intervirsomente
em
alguns setoresda
economia,
com
pouca
participação social.O
liberalismoeconômico
viveu seuauge em,
praticamente, todo ouséculoXIX
e iníciodo
séculoXX.
Após
a 2”Guerra Mundial, no
entanto, o Estado passa a intervir efetivamente nas atividadeseconômicas
e sociais. Esse período,denominado
fordismo, foi
uma
forma
de organizar aprodução
e a sociedade,sendo
sua característica principalaprodução
em
massa, realizadacom
equipamentos
emáquinas
automatizadas. Aqui,o
padrãode produção
era rígido, e, assim, amaneira
de se organizar amão-de-obra
também
era rígida. Diante dessa exigênciaforam
criadas leisque
de
certaforma
beneficiaram os trabalhadores, fornecendo-lhes
mais
proteção emais
beneficios dentrodo
mercado de
trabalho.'
No
Brasil, essemovimento
é sentido pelos trabalhadorescom
a criaçãoda
CLT
(Consolidação das Leisdo
Trabalho),na
qual instituiu-seum
conjunto de leisque
passam
a regero
mercado
de trabalho.A
partirda década
de 60, essemodelo começa
a apresentar sinaisde
esgotamento,ocasionando
uma
crise fiscal,comprometendo
os gastos sociais de inspiração Keynesiana.O
modelo
de
produção,que
entãotoma
lugar, é ochamado
toyotísmo,no
qual aprodução
passa a ser flexível, heterogênea e vinculada a pedidos dedemanda.
Nesse
contexto, a legislação trabalhista,
que
antes era rígida,deve
agora ser flexível, pois acontratação vigente durante
o
fordismonão
condizcom
o
novo modelo
deacumulação.
A
conseqüência
desse processo, aliado à reestruturação produtivaque
vem
ocorrendo desde adécada de
70, éuma
criseno
mundo
do
trabalho, tornando as relações trabalhistascada
vez
vii
No
Brasil, essemovimento, que
visa desregulamentar a mão-de-obra,tem
iníciona década de
90,com
o governo
Collor,sendo aprofundado
nos doisgovernos de
Fernando Henrique Cardoso (FHC),
a partirde
1994,que
játomou
diversasmedidas
paraflexibilizar os direitos trabalhistas, retirando importantes conquistas adquiridas
com
acriação
da
CLT
em
1943,no
governo
Vargas. _Percebe-se, portanto,
uma
alternânciade movimentos, no
qual omodo
de
produção
capitalista oraconcede
direitos e condiçõesmelhores
de
trabalho aostrabalhadores, ora deixa-os à
mercê
das leisdo mercado,
tratando-oscomo
simplesmercadoria,
que
pode
sercomprada
e utilizadada
forma que
melhor' atender. asCAPITULO
I-
O
PROBLEMA
1.1
Introdução
Na
década de
70,no
centrodo
capitalismo mundial, inicia-seum
movimento
de desregulamentação das relações de trabalho.Duas
décadas depois, essemovimento
atingecom
força o Brasil.Durante
toda a históriado
capitalismo, orapredominam
as práticasliberais, ora as protecionistas.
No
períododenominado
de fordísmo, aprodução
apresentava caráter
de
rigidez, e, assim, o capitalismo cedia direitos e garantias aostrabalhadores e a legislação
que
regiao mercado de
trabalhotambém
era rígida.A
partirdo
momento
em
que
essemodelo
de
acumulação
começa
a entrarem
crise, questiona-se a rigidez existente.O
novo modelo
que
se instala,denominado
de
toyotísmo,
não pode mais
convivercom
medidas
rígidas,como
era caracterizada alegislação trabalhista
do
período anterior, e a flexibilidadenos
contratosde
trabalho passaaser apontada, então,
como
um
fator imprescindível para aretomada do
crescimentoeconômico.
O
movimento
iniciado, a partirda década
de 70,tem
como
baseideológica a doutrina liberal,
que propõe
um
mercado
auto-regulado econdena
qualquerintervenção estatal
que
prejudiqueo
cursonormal do mercado.
Dessa
forma, amão-de-
obra
deve
adequar-se a essas condições,ou
seja,deve
ser livre e competitiva,não cabendo
ao
Estado o papel de reguladordo mercado de
trabalho atravésda
legislação trabalhista,que
passa por suavez
a ser consideradacomo
arcaica pelos ideólogos neoliberais.A
importância de tal estudo residena
necessidadede
entender as fases aque
a sociedade é submetida, poiscomo
postula Arrighi (1994, p.25l), existeuma
alternância de fasesde
'liberdadeeconómica'
e fases de 'regulaçãoeconômica,
e ora sedefendem
os trabalhadores,implementando-se
medidas, visando amaior
proteção emais
benefícios, ora se
condenam
tais medidas.No
Brasil, a partirda década de
90, passa-se acondenar
direitos conquistados pelos trabalhadores, durante adécada
de40
e, neste sentido, jáforam
tomadas
diversas medidas, visando a restringir tais direitos.
Os
defensoresdo
projetoque
sepropõe
a desregulamentar a mão-de-obra,
fazem-no
a qualquer custo e utilizam-se muitas vezesde
argumentos
imprecisos,como
éo
casodo peso
dos encargos sociais sobre a folhade
pagamento, que
será estudadono
capítulo lll.O
governo
FHC
implementou
significativasmudanças
na
legislação trabalhistano
sentidode
tomar
amão-de-obra mais
flexível,como
porexemplo,
o contrato por prazo determinado, entre outras,que
objetivam retirar direitos dos trabalhadores,conforme
apresentadono
capítulo IV.il
Verifica-se,
no
entanto,que
essemovimento
agoradenominado
neoliberal, encontra obstáculos
na
sociedade,como
já ocorreuem
outras fasesdo
capitalismo, pois
conforme
Polanyi (1980),o
mercado
auto-reguladopode
levar à destruiçãodo
homem
eda
natureza, e a própria sociedadebusca
saídas para se proteger dasleis
do mercado.
1.2.
A
Problemática
A
criseeconômica
e asmudanças
que
vêm
ocorrendonos
processos produtivosexigem
dasempresas
e dos trabalhadoresum
novo
perfil.As
empresas
são forçadas aadequar
suas bases produtivas e os trabalhadoresficam
submetidos
àsnovas
exigências
que vão
se estabelecendo. Esse processo de reestruturação produtivatem
como
conseqüência
ochamado
desemprego
estrutural.Paralelamente a isso, reacende-se
no
mundo,
a ideologia neoliberal,que
tem
como
base fundamentalo
ataque à regulação estatal das relaçõeseconômicas
e sociais.~dBc,omerMneste---trabalho;~
sobreo
processode
desregulamentação
das leis trabalhistasno
Brasil,demonstrando que o
movimento
que
defende
este projeto ressurgiu nos países centraisdo
capitalismo,na década
de 70, e que,na
década de
90,chega
como
força ao Brasil.A
escolhado tema
para pesquisa surgiudo
interesseem
entender a lógicado movimento
que,na
atual conjuntura, visa a retirardos
trabalhadores direitos adquiridosem
fases anterioresdo
capitalismo.Esse
movimento
émenos
percebidoque
odesemprego.
No
entanto,0 desemprego
éapenas a
manifestaçãomais
visivel deuma
transformação
profunda
da
conjunturado emprego.
A
precarizaçãodo
trabalho constitui-seuma
outra caracteristica,menos
espetacular,porém
ainda
mais
importante,sem
dúvida
(Castel,l 998,p.5]4). _
Os
direitosdos
trabalhadores constituem encargos para seus contratantese, assim,
um
custo amais
para mantê-losempregados.
Esses encargos,segundo
os adeptosda
corrente neoliberal, são entraves à criação emanutenção
deempregos,
poisencarecem
a mão-de-obra, reduzindo opoder de
competitividadedos
produtores brasileiros.A
solução apontada, então, é a flexibilidade,ou
a desregulamentação desses direitos.A
propostabusca
a liberdadede
negociação entreempregados,
empregadores
e sindicatos, retirando o Estado edeixando que
as reivindicaçõesdos
trabalhadores e os conflitos
que vierem
a ocorrer,sejam
resolvidos atravésde convenções
coletivas
ou
mesmo
entre as partes contratantes. Sugere-se alterações de salários, de horastrabalhadas etc.,
dependendo da
necessidadeda
empresa, e se for 0 caso, até dispensaou
contratação
de
trabalhadoressem
que
isso implique custos altos para aempresa
e sem,no
entanto, infringir a lei.
Há,
entretanto, divergênciasem
torno desse tema, pois alguns .autoresdefendem
a idéia deque o
trabalhadornão
pode
perder direitos já conquistados. Para Silva(I997, In: Júrís Síntese), existe
um
grupo
formado, basicamente, por juristasque
defendem
amanutenção
das regras vigentes. Eles...'
insistem que os fundamentos dos direitos trabalhistas, tais como, férias, descanso
semanal remunerado, descanso durante, a jornada de trabalho, limitação da jornada de
trabalho, aviso prévio, fundo de garantia por tempo de serviço, aposentadoria, dentre
outros, visam à preservação da dignidade do trabalhador e da sua integridade física e
mental.
No
entanto, esses direitosforam
adquiridosnuma
conjunturaeconômica
onde
se permitia sua concessão e, principalmente,onde
os trabalhadorestinham
força parareivindicar e até exigir
melhores
condições de trabalho.A
partirda década
de 70, a necessidadeeconômica
é outra, poiso
novo modelo
de acumulação,
denominado
toyotismo,tem
como
característica principal aprodução
flexível e,conseqüentemente,
exigeum
mercado
de
trabalho flexível,não
permitindo, desta forma,que
seconcedam
direitos aostrabalhadores, entrando, assim,
em
confrontocom
a visão jurídica.'
a Í Constata-'se
um
debate de caráter político eeconômico, sendo na
práticauma
repetiçãodo que
já ocorreuem
outros períodos da' históriado
capitalismo, evque na
atual conjuntura, essa prática neoliberal apresenta-se
como
hegemônica.
No
entanto, sabe- seque
a desigualdade social éum
fator positivo para essa doutrina, eque
nesta relação .-capital/trabalho
-
sua aplicação trazcomo
principalconseqüência
uma
piorana
vidados
trabalhadores,
ou
seja,uma
precarização nas relaçõesde
trabalho. Isso porque,com
o
mercado
auto-regulando-se, as desigualdades inerentes ao sistema capitalista tornar-se-ãomuito mais
evidentes,aumentando
cada
vezmais
as injustiças sociais. V 'Com
base nesse debate, procurar-se-á abordar, neste trabalho de pesquisa,o
que tem
sido feito para tornar amão-de-obra
brasileiramais
flexível e buscar-se-ádemonstrar
que
essapredominância
dos princípios liberais, já ocorreuem
diferentesmomentos
históricos e, que, agora, é apresentada,novamente,
como
uma
saída para superara crise capitalista iniciada
na década
de 70.1.3.
Objetivos
1.3.1.
Geral
Identificar
o
movimento
que
defende adesregulamentação dos
direitos trabalhistasno
Brasil edemonstrar
as principaismudanças
ocorridas nas leis trabalhistas, a partirdo
inícioda década
de 90,com
ênfaseno
governo
Fernando Henrique
Cardoso.1.3.2.
Específicos
l) Situar historicamente,
o
projeto ideológicoque
defende adesregulamentação dos direitos trabalhistas.
2) Analisar os principais
argumentos
contrários e favoráveis à desregulamentação dos direitos trabalhistasno
Brasil.3) ldentificar as principais
mudanças
ocorridas nas leis trabalhistas apartir
do
inícioda década de
90,com
especial ênfase a partirdo
governo
FHC.
1.4.
Metodologia
V
A
metodologia
utilizada para odesenvolvimento
deste trabalho, seráuma
pesquisa bibliográfica, de fontes secundárias
de
dados.O
método
seráde
caráter descritivo e comparativo,onde
serão utilizadas diversas obras acercado
assunto.Escolheu'-se essa metodologia,
pois
aspesquisas
deste tipo (bibliogrdficas)são muito
freqüentesem
economia, sobretudopor
serem
essas fontes asmais adequadas
para
a
investigaçãodos
fatos históricos,que são
fundamentais
para
o
entendimento dos processos
econômicos
(Gil, l996, p.42).Procurar-se-á, através desse
método,
discorrer sobre a ideologiaque
fundamenta
e defende adesregulamentação
dos
direitos trabalhistas, e far-se-áuma
análisedessa proposta. Colocar-se-ão,
também,
as principaismedidas
do govemo, no
sentidode
pôr
em
prática esse projeto.'
_
Serão utilizadas,
como
principal basede
pesquisa as fontes secundárias.de
dados
e para colocar asmudanças
que
vêm
ocorrendona
legislação trabalhista,no
sentidode
flexibilizar amão-de-obra
no
Brasil, far-se-á uso de revistas e principalmente,da
Internet,
uma
vez que
sãopoucos
osdados
disponíveisem
livros sobre esta parteda
pesquisa.'
CAPITULO
II -O
LIBERALISMO
ECONÔMICO
COMO
DOUTRINA
PARA
A
DEFESA
DA DESREGULAMENTAÇÃO
Dos
D1RE1Tos
TRABALH1sTAsz
UMA
ANÁLISE
CRÍTICA.
_ _No
decorrerdo desenvolvimento
capitalista, tanto a doutrina liberal quanto a intervencionistanunca foram plenamente
aplicadas.No
entanto,há
períodosem
que
uma
prevalece sobre a outra.No
momento
atual,o que
se percebe éuma
hegemonia da
doutrina liberal,
ou
seja,govemos
e empresários estãotomando
medidas que
se identificamcom
os pressupostos dessa ideologia.Na
primeira parte deste capítulo, far-se-áuma
breve descriçãodo
conceitode mercado, dos
períodosde
regulamentação edos
'períodosem
que
se teveum
mercado
auto-regulável.
Na
seção seguinte, falar-se-á, sucintamente,do
períodoonde
sevivenciaram práticas liberais.
Em
seguida, apresentar-se-áo
períodoque sucedeu
aspolíticas liberais,
denominado
fordismo, deintewencionismo
estatal que, por sua vez, precede' omovimento
liberalizantecom
que
passamos
a convivernovamente, desde
adécada
de
70.No
restantedo
capítulo, tratar-se-á, brevemente,da
versão atualdo
liberalismo
econômico,
denominado
de
neoliberalismo e de sua aplicaçãono
Brasil, a partirdo
inícioda década
de 90.2.1.
Mercado,
mercado
auto-regulável etrabalho
O
problema
fundamentalda
economia
é aprodução
e a distribuiçãode
bens
e serviços.Existem
diferentesformas
deprodução
e de distribuição, e entre elas, estáo
que
chamamos
de mercado.
Polanyi (1980, p.59) coloca que,
Embora
a instituição do mercado fosse bastantecomum
desde a Idade da Pedra, seu papel era apenas incidental na vida econômica. (...).Um
pensador do quilate deAdam
Smith sugeriu que a divisão do trabalho na sociedade dependia da existência de mercados ou,
como
ele colocou, da 'propensão dohomem
de barganhar, permutar etrocar
uma
coisa pela outra '. Essa frase resultou mais tarde no conceito deHomem
Econômico (....).
Na
verdade, até a época deAdam
Smith, essa propensão não se haviamanifestado
em
qualquer escala considerável na vida de qualquer comunidade pesquisada e, quando muito, permaneciacomo
aspecto subordinado da vidaeconômica. ._
O
conceitode mercado que temos
hoje representaum
papel diferentedo
que
representou para civilizações anteriores a nossa pois principalmente depoisda
Revolução
Industrial, este passa acomandar
as atividadeshumanas, ou
seja,vivemos
em
funçãodo
mercado
eestamos sempre
sujeitos as suas leis.Durante
todo esse período,vivemos
fasesem
que
osmercados sofrem
regulamentações estatais e fases
em
que
essas regulamentações são restringidas, visandoassim, a
um
mercado
auto-regulado,como
é of casoque estamos
presenciando,desde a
década de
70.Livre
mercado, ou mercado
auto-regulável, acontecequando
asmercadorias são
compradas
e vendidassem
qualquer controle externo a ele. Issopode
ocorrer tanto
no mercado
de bens e serviços, quantono mercado
de trabalho.Segundo
Polanyi (l 980, p.59).
Uma
economia de mercado significaum
sistema auto-regulável de mercados;em
termos ligeiramente mais técnicos, é
uma
economia dirigida pelos preços do mercadoe nada além dos preços do mercado.Um
tal sistema capaz de organizar a totalidade davida econômica sem qualquer ajuda ou interferência externa, certamente mereceria ser chamado de auto-regulável .
_
Isso,
conforme
ainda coloca Polanyi, é o contráriodo que
ocorreuno
período mercantilista,
quando
aexpansão
do
mercado
deu-sesimultaneamente
com
aexpansão da
regulamentação, para dessaforma
evitar acompetição
e osmonopólios.
Polanyi ainda coloca
que 0
sistemaeconómico
estavasubmerso
em
relações sociais; osmercados eram
apenas
um
aspecto acessório deuma
estrutura institucional controlado e regulado,mais que nunca pela
autoridade estatal (Polanyi, 1980, p.80)lNo
entanto, oque
se percebe a partir
da Revolução
Industrial, ocorridaem
1789, éuma
tentativade
se estabelecerum
mercado
auto-regulável (Polanyi, l980, p.80),passando
omercado da
condição
de acessórioda
vidaeconômica
para a de controlador desta.Os
ideólogos liberais apresentam o livremercado
como
uma
condição
crucial e natural para
o
bom
funcionamento
do mercado,
como
se aquele fosseuma
característica inerente a este.
Porém, conforme
Polanyi (1980, p.8l) , asregulamentações
eos
mercados
nasceram
juntos,sendo que
as regulamentações apresentam-secomo
necessárias para a
manutenção da
ordem
econômica
e social.Com
aimplementação
e odesenvolvimento
do
sistema fabril, a sociedadeorganizar-se
de maneira
diferente, pois alguns valores são modificados.O
trabalhoassume
importância fundamental, nesse processo, e assim, estrutura-se a fim
de
estar disponívelpara
compra
no mercado,
ou
seja, passa a ser vistocomo
mercadoria.r
Como
o desenvolvimento do sistema fabril se organizava
como
parte deum
processo decompra e venda, o trabalho, a terra e o dinheiro também tiveram que se transformar
em
mercadoria para manter a produção
em
andamento. (...). Dos três elementos,um
sedestaca mais: trabalho (mão-de-obra) é o termo usado para os seres humanos na medida
em
que não são empregadores mas empregados. Segue-se daí que aorganização do trabalho mudaria simultaneamente
com
a organização do sistema demercado. (..) Segundo este raciocínio, a sociedade
humana
torna-seum
acessório dosistema econômico (Polanyi, 1980, p.87).
No
entanto, essemercado
livrenão
se estabeleceu logoa
partirda
revolução industrial.Em
1795, foi criado,na
Inglaterra, oque
sechamou
de LeiSpeenhamland,
colocado- por Polanyicomo
sistemade
abonos.Essa
lei tinha por objetivouma
rendamínima
para os pobres,ou
seja, durantea
vigênciada Speenhamland
Law, o
indivíduo recebia assistência
mesmo
quando
empregado,
se seu salário fossemenor
do que
a renda
familiar estabelecidapela
tabela (Polanyi, 1980, p.90).Essa
lei foi abolidaem
1832,
acusada
pelos liberaisde
impedir aformação de
um
mercado
de trabalhocompetitivo,
uma
vez
que, durante a sua vigência, levou ohomem
comum
a preferir a assistência aos pobres aos salários,causando
uma
redução significativana
produtividadedo
trabalho, impedindo, assim,
que
os saláriosnão
aumentassem além da
tabela estabelecida.Com
a abolição dessa medida, estabelecia-seum
mercado
de
trabalhocompetitivo,
que
coloca os trabalhadores disponíveis parao
mercado
e dependentes dele.No
entanto,segundo
Polanyi (1980, p.89), asvantagens
econômicas
deum
mercado
livre de trabalhonão
podiam compensar
a
destruição socialque
ele acarretaria.Tiveram que
ser introduzidas
regulamentações
deum
novo
tipopara
mais
uma
vezproteger
o trabalho,só
que
agora
contrao
funcionamento do
própriomercado
de
trabalho.l
A
partir de 1870, os sindicatos são reconhecidos eimplementam-se
regras
que garantem
uma
certa proteção aos trabalhadores contra osmales advindos
do
livremercado,
pois se se deixassea economia
de
mercado
desenvolver-sede acordo
com
'suas
próprias
leis, elancríariagrandes
epermanentes males
(Polanyi, 1980, p. 1 37).Esse
movimento
que buscava
proteção contrao
mercado
auto-reguláveldesenvolveu-se a partir de 1860,
sendo
alvo de criticas por parte dos liberaisque
diziamque
todoprotecionismo
foium
erro resultanteda
impaciência,ambição
e estreitezade
visão, e
sem
eles,o
mercado
teria resolvidosuas
dificuldades (Polanyi, 1980, p.147),como
écolocado
até hoje pelos seguidoresdo
liberalismoeconômico.
Durante
todo o séculoXIX, o
movimento
liberal tendeu a sermais
forte,e,
algumas
vezes, foi ofuscado por políticas contrárias,que tentavam
abrandar osmales
causados
para a sociedade porum
mercado
auto-regulável. ç~
Na
seção seguinte, far-se-á
uma
breve descriçãodo
liberalismoeconômico
e das conseqüências dessa prática para toda a sociedade, principalmente para ostrabalhadores.
2.2.
O
surgimento
do
Liberalismo
Econômico
A
doutrina liberal se desenvolveu a partirdo
séculoXVIII
com
a revolução industrial, e tevecomo
tese básica a obrade
Adam
Smith,A
Riqueza
das Nações,
escrita
em
1776. Nela,Adam
Smith
defende o individualismo,argumentando que
existeuma mão
invisívelque harmoniza o mercado,
resultandonum
bem-estar para toda asociedade. Esses princípios liberais são colocados
em
prática atéfins do
séculoXIX,
quando
começam
a entrarem
crise. E,desde
o início de sua primeira crise, até os diasatuais, os liberais
argumentam
que
os insucessosda
utilização dessa política são resultadosda
aplicação incompletados
seus princípios (Polanyi, 1980, p. 149).A
revolução industrial, ocorridaem
1789,promoveu
a difusãodo
modo
de
produção
capitalista, e, assim,da
chamada
economia de mercado. Esse
fatopode
serdescrito
como
um
período de grandes transformaçõeseconômicas
e sociais, dadas as tecnologias, a partir daí, utilizadasna produção de
mercadorias.Aquelas
grandes transformaçõesdizem
respeito, principalmente, aomodo
de
produção, poiscom
a introduçãoda máquina,
passa-se a produzirmais
mercadoriasem
menos
tempo, sendo
este processocada vez
mais
intensificadonos
dias atuais.No
entanto, amudança
mais
significativa,que
éconseqüência da
anteriormente citada,concerne
ao
trabalho
humano,
ànova
organizaçãodo
trabalho nessanova
sociedadeque
surge.A
necessidadeda
utilizaçãode
trabalhadores nas fábricas fezcom
que
osdetentores
dos meios de produção
retirassem doshomens
desprovidos destesmeios
a sua capacidadede
subsistência, tornando-os dependentes deste processo, obrigando-os aoferecer
no
mercado
sua força de trabalho.Com
um
mercado
auto-regulando-se, o preço torna-se o único reguladordo mercado,
e os sereshumanos
passam
a comportar-se demodo
que
obtenham
sempre
lucro
máximo.
A
sociedadeque
nasce a partir daí, traz consigoo
ressurgimento de doismovimentos.
Um
identificadocomo
liberalismoeconômico,
e outro,que
defende a proteção social.O
primeiro prega a liberdade individual eum
mercado
auto-regulável,enquanto
osegundo
defende a proteçãodo
homem
eda
natureza,não
osdeixando
àmercê
da
livreação
do
mercado.
Há
momentos,
na
históriada
sociedadeem
que predomina o
liberalismoeconômico, enquanto
em
outros, a proteção social éque
fica
em
evidência.No
atualmomento
histórico,o
liberalismoeconômico,
agorachamado
de
neoliberalismo, éque
está se fazendo presente nos discursos oficiais e nas práticas politicas e econômicas,sendo
apresentado
como
o
melhor
caminho
a ser seguido para a saídada
crise e dos desequilíbrioseconômicos.
O
liberalismoeconômico
começou
aganhar
espaço,como
prática, a partir dosanos
:-;"“
1830.Um
dos
principaismotivos
foi a pressãoque
os industriasfizeram
paraque
se criasse
um
'mercado
de trabalho livre,que
se estabeleceu a partir deç__l834,com
a`/íJ____________
íø.-
revogação da
LeiSpenhamland.
A
partir daí,0
laíssez-faire havia sido ça¿alis.ado.n'uín/)impulso _d_e__in_trans_ige_nte. ferocidade (Polanyi, 1980, p.43).
De
acordocom
Polanyi (1980, p.l4l),O
liberalismoeconômico
foio
princípioorganizador
deuma
sociedadeengajada
na
criaçãode
um
sistema demercado.
Em
tal sistemade mercado,
tudo é mercadoria e os preçosdevem
ser ajustados pelas próprias leisdo
mercado.
O
trabalhohumano,
que
passa a ser mercadoriafundamental
nesse processo,
deve
estar disponívelno
mercado da maneira que melhor
atenda asexigências
do
capital.Deve,
portanto,de
acordocom
as premissas neoliberais, ter totalflexibilidade e ser competitiva.
O
mercado
de
trabalhomanteve-se
sujeito às práticas liberais de1834
a1870,
quando
foram
tomadas medidas
protecionistas. Polanyi (1980, p.l46) colocaque
a
ponta-de-lança legislativa
do contramovimento que
seopôs
ao mercado
auto-regulável,conforme
se desenvolveuna
metade do
séculoapós
1860, revelou-se espontânea,não
dirigida
pela
opinião e induzidapor
um
espíritopuramente
pragmático.
Polanyi cita,
em
seu livro, que,em
1897,o empregador
passou a responsabilizar-se por qualquerdano que
ocorresse ao trabalhador duranteo
seu expedientee continua a
afirmar
que
não
sepoderia
acrescentarmelhor
prova
de que
não
foia
mudança
no
tipode
interesses envolvidosou
a
tendênciadas
opiniõesem
relaçãoao
assunto
que levaram à
substituição deum
principio liberalpor
um
anti-liberal, esim
exclusivamente
a
evolução das
condições sob as quaiso
problema
surgiu epara
o qual
sebuscou
solução (Polanyi, 1980, p. 151),ou
seja, osmales advindos da
utilizaçãodos
princípios liberaisfazem
com
que
a sociedade criemecanismos
para se proteger,assegurando assim, dignidade para seus
membros.
E,enquanto
essemovimento
defendia os direitoshumanos,
tentando garantir dignidade para os trabalhadores, os liberaispregavam que o
trabalhohumano
deveria sermanuseado
como
aquiloque
ele era-
uma
mercadoria que deve
encontrar seupreço no
mercado
(Polanyi, 1980, p.l26),ou
seja, buscava-se a utópica eficiência dos mercados, colocando-seem
jogo
a dignidadedo
serhumano.
Assim,
as regulamentaçõesque nasceram
para permitir a organizaçãodos
trabalhadores e garantir-lhes alguns direitos e
alguma
proteção,na
sua condiçãode
subordinado
ao
capital,foram algumas
dasformas
de proteger ohomem
do
livremercado,
tratando
o
como
um
serhumano
enão somente
como
uma
mercadoria.Os
argumentos
liberais,em
favor das desregulamentações,trazem
intrínseco,
em
suas entrelinhas,o
seu conceitode
trabalho=mercadoria, e assimo
defendem,
poissegundo
a lógica capitalista,não cabe à mercadoria
decidironde
será oferecidaà
venda,para
que
finalidade seráusada
ea que preço
ser-lhe-á permitido trocarde mãos,
ede que maneira deve
serconsumida
ou
destruída. (...). Isso esclarece0 que
sígnifica realmente
a
insistênciados
patrõesem
favor
da
mobilidade
da
mão-de-obra
eda
flexibílídade
dos
salários... (Polanyi, 1980, p.l78).Somente
dessa forma,o
trabalhador adquire acondição de
mercadoria, e sua força de trabalhopode
sercomprada
evendida
segundo
as necessidadesda
empresa; assim, tem-se, efetivamente,uma
verdadeiraeconomia
de mercado,
tãoproclamada
pelos liberais e por seus seguidores, até hoje.Desde
aRevolução
Industrial, até as primeiras décadasdo
séculoXX,
embora
a sociedade' tenhabuscado algumas formas
de proteção para os trabalhadores, estasnão foram
tão abrangentes e satisfatóriascomo
as adquiridas duranteo
modelo
de
acumulação
capitalistadenominadafordísmo,
iniciado a partirdo
séculoXX,
eque
teve seuauge após
a 2”Guerra Mundial, quando foram
praticadas as políticas de inspiração Keynesíana.Na
próxima
seção, falar-se-ádo
modo
de produção
fordista, dos direitos e benefícios concedidos aos trabalhadores eda
sua sucessão pelomodelo
deacumulação
toyotísta, onde,
novamente,
busca-se suprimir tais direitos trabalhistas.2.3.
O
modelo
de
acumulação
fordista:intervencionismo
e rigideznos
contratosde
trabalho. .
O
modelo
deacumulação
fordistacomeçou
a serimplantado no
iníciodo
séculoXX,
no
entanto, só foi consolidado,ou
seja, atingiu seuauge após
a 2”Guerra
Mundial.
O
modelo
deacumulação
fordista foiuma
forma de
organizar aprodução
e a sociedade.
Nele
destaca-se,como
principal característica, aprodução
em
massa,realizada
com
equipamentos
emáquinas
automatizadas. Essemodelo
tinhacomo
princípiobásico
o
trabalho especializado,ou
seja,cada
operário realizavasomente
uma
tarefa, para assimaumentar
a produtividade,que
também
dependia
deuma
grande escala produtiva. Trata-se, então,de
um
modelo
rígido de produção, para o qual, haviauma
legislação trabalhista rígida, afim
de organizar emanter
amão-de-obra
nas fábricas.O
fordismo
introduziu,na
sociedade,novos
conceitos. Criaram-senovas
necessidades,
uma
vez que
parauma
grande oferta de produtosque
passou a sercolocada
no mercado,
era necessáriotambém
um
grandeconsumo. Nesse
contexto,o
que
sepretende destacar é
o
modo
como
se tratavam os trabalhadores,ou
seja,como
era a relaçãocapital-trabalho.
No
fordísmo, os trabalhadoreseram
colocadosem
linhasde
montagem,
em
trabalhos repetitivos e maçantes,sendo
essauma
necessidadedo
modelo
então vigente.Com
a alta produtividade e a necessidadede
ter-se os trabalhadores organizadosna
produção, os capitalistas precisavam conceder-lhes salários altos e outros incentivos, para
deixá-los “satisfeitos”.
Além
do
que, paraque houvesse
um
consumo
em
massa, era necessáriobons
salários.De
acordocom
Vieira (1995, p.l9l),para
assegurar
o
consumo da produção
em
massa,por
intermédiodo
estado benfeitor, os trabalhadores sebeneficiavam
com
uma
série deformas
indiretasde
salários: férias pagas, seguro-desemprego,
auxílio-doença, jubilaçãofinanciada, etc.V
O
propósito desses beneficios concedidos aos trabalhadores era anecessidade
que
omodelo
tinha deuma
disciplinano
trabalho, essencial parao
modelo
de
produção.
Além
disso, os trabalhadoresdeveriam
ter lazer ebons
salários paraque
consumissem
os produtos produzidosem
larga escala.A
representatividadedo
trabalho, atravésdos
sindicatos, era forte, osgovernos
também
buscavam
fornecer
um
fortecomplemento ao
salário socialcom
gastos deseguridade
social, assistência médica, educação, habitação, etc.Além
disso,o
poder
estatal era exercido direta e indiretamente sobre os
acordos
salariais e os direitosdos
trabalhadores
na produção
(Harvey, l 996, p.l29).No
entanto,mesmo em
condições de crescimentoeconômico
e plenoemprego,
havia setoresem
que
os trabalhadoresnão
participavamdos
“privilégios”do
modelo
fordista.As
desigualdadesque
existiam nesse período,que
são inerentesao
capitalismo,
desencadeavam
tensões emovimentos
sociais,movimentos que giravam
em
tornoda
maneira pela
quala
raça,o
gênero, ea origem
étnicacostumavam
determinar
quem
tinhaou
não
acessoao
emprego
privilegiado (Harvey, 1996, p. l 32).Nessa
situação,não
se tinha,também,
acesso aoconsumo
de
massa, introduzido por essemodelo, deixando
insatisfeita esta parcela
da
forçade
trabalho.A
legitimaçãodo
poder do
Estado dependia
cada
vezmais
da
capacidade de
levar os beneficiosdo
fordismo a
todos e de encontrarmeios
defornecer
assistência médica, habitação e serviços educacionaisadequados
em
larga escala (Harvey, l996, p.l 33).
Nesse
contexto, destaca-se a política Keynesiana,onde
o Estado passaa
intervir
na
vidaeconômica
e social, deforma
bastante intensa. Pode-se dizer que, nesseperíodo, os trabalhadores
conseguiram
conquistar direitosmuito
importantes, tantono que
concerne
aganhos
salariais,como
nos benefícios sociais.Esse
modelo
deacumulação
desenvolveu-seprimeiramente nos
EUA,
espalhando-se,
em
seguida, por toda a Europa,sendo que
em
alguns países,mais
intensamente.
No
Brasil,uma
das atitudesdo
governo, baseada nestemovimento, que
foide
grande relevância para toda a sociedade, principalmente para os trabalhadores, foi a instituição aCLT
(Consolidação das Leisdo
Trabalho),em
l943,quando
foi sistematizadoas leis já existentes
que estavam
esparsasque
passavam
a reger omercado
de
trabalho.Na
década
de 60,no
entanto, essemodelo começou
a dar os primeiros sinais de esgotamento,quando começou
a haveruma
saturaçãono
mercado
interno,ocasionando
uma
queda na
produtividade e, conseqüentemente, nos lucros. Decorrentedisso,
houve
uma
crise fiscal,comprometendo
os gastos de inspiração Keynesíana.A
rigidez presenteno
modelo
de produção
fordistaem
todos os setores, especialmenteno
mercado
de trabalho, explicava a incapacidadede
omodelo,
entãovigente, contornar a crise
que
se estabeleceu.l
O
forte 'poder sindicaldesencadeou
greves eo Estado precisava
cada vez mais manter
os gastos sociais até então oferecidos.O
único instrumentode
resposta flexível estavana
política monetária,na
capacidade
deimprimir
moeda
em
qualquer montante que
parecesse necessáriopara
manter a
economia
estável. E, assim,começou
a
onda
inflacionáriaque acabaria
por
afundar a expansao do pós-
guerra
(Harvey, l996, p.l36).As
principaismedidas
para sair desse desajusteocorreram
no
próprio processo produtivo, atravésdo avanço
tecnológico e deformas
mais
flexíveis de produção,que
fizeram
com
que o
novo
modelo,
chamado
toyotismo superasseofordismo. Essas
experiências
podem
representar os primeiros ímpetosde
passagem para
o regime de
acumulação
inteiramente novo, associadocom
um
sistemade regulamentação
política e socialbem
distinta (Harvey, l996, p.l40).A
partir daí, os direitos adquiridos pelos trabalhadores, duranteo
modelo
deacumulação
fordista, são questionados, e acusa-se intervenção estatal pelos desequilíbrioseconômicos
gerados.Nesse
contexto, as politicasde cunho
liberalcomeçam
a ser apontadascomo
soluções para tais desequilíbrios,quando
se passa a conviver,novamente,
com
uma
hegemonia da
doutrina liberal, entãodenominada
neoliberalismo,
o
qualestamos
vivenciando até os dias atuais.2.4.
O
modelo de produção
toyotista ea
flexibilidadedos
direitosdos trabalhadores
As
mudanças
que
vem
sendo
implementadas na
legislação trabalhista,tem
sua baseno novo modelo
deacumulação que
se instala a partirda década
de 90.O
Direitodo
Trabalho
estápassando
atualmentepor
um
profundo processo de
desregulamentação. Tal V
fienómeno,
sentido intensamenteno
ordenamento
jurídico trabalhista,tem suas
raízesfora
dele,ou
seja,na
alteraçãodo
modo
de
acumulação
de
capital, e
por
conseguinte,no
modo
deprodução
(Ramos,
l998, p.244).Como
já foiadiantado, o
modelo
de produção
fordista estásendo
superado,ou
substituido, pelomodelo
de produção
toyotista.O
modelo
de produção
toyotísta nasceuno
Japão,após
a 2”Guerra
Mundial
e caracteriza-se pelaprodução
flexível, heterogênea ecom
estoque reduzido,estando
sempre
vinculada auma
demanda. Seu
outro ponto, bastante característico, são as múltiplas funçõesque
o trabalhadordeve desempenhar, não
ficandomais
restrito aum
tipode
atividade.Ao
contrário do que ocorreu no período fordista, no qual a acumulação era baseadaem
padrões rígidos, a acumulação agora é flexível, pois flexível e' o mercado,e, flexível
deve ser o processo de produção e a exploração da força de trabalho. Dessa forma,
flexível deve ser a legislação, impondo-se a desregulamentação do ordenamento
jurídico de peifil rígido (Ramos, l998, p.250).
Esse
modelo
deacumulaçao que
sucedeo
fordismo,combate
osprincípios organizadores deste, e a flexibilidade
da
forçade
trabalho é colocadacomo
imprescindível para a flexibilidade
da
produção; desta forma, a legislação trabalhistanão
pode
impedirque
tal flexibilidade possa ser realizada. Diante disso, a legislaçãotem
de sermudada,
para adequar-se aosnovos
tempos.Conforme
já citado, qualquermovimento
nascido
dos
paises centraisdo
capitalismo, posteriormente rebatenos
paísesda
periferia.Portanto,
no
Brasil, essemovimento
é sentido a partirdo
inícioda década
de 90, intensificando-seno
governo Fernando Henrique
Cardoso, o qualdá
inícioao
projetoque
visa a limitar os direitos trabalhistas inscritos
na
CLT,
desde
ogoverno
Vargas.A
flexibilidadeda mão-de-obra pode
ser entendidacomo
uma
facilidadede
mobilidade tanto geográfica,como
funcional e salarial.A
flexibilidade trabalhista consistena
possibilidadeda
empresa
contarcom
mecanismos
jurídicosque
permitem
ajustar
sua produção,
emprego
e condições de trabalho ante as flutuações rápidas econtínuas
do
sistema económico... (Siqueira Neto, 1997, p.335),ou
seja, é o trabalhadorsempre
vulnerável às oscilaçõesda economia.
O
conceito de flexibilidade pode ser usado para caracterizar tanto o trabalhador quando o mercado de trabalho: no primeiro caso, relaciona-se à capacidade dotrabalhador realizar as tarefas exigidas, a partir da implementação dos novos
processos produtivos; e, no segundo, tradicionalmente mais utilizado, a flexibilidade
(ou a rigidez) do mercado de trabalho está associado à articulação dos agentes
económicos
num
contexto institucional (regras, convenções e instituições), específicosde cada pais (iW€lm0WÍChÍ, Cí al, 1994, p. l 06).
Para
que
a força de trabalho torne-se flexível, é preciso a desregulamentação,ou
seja, é precisoabandonar
o caráter rígidoda
legislação trabalhistapara adequá-la às exigências
no
novo modelo
de produção.No
entanto,conforme
colocao
autor, deve-se observar as especificidades de
cada
país, neste caso, a política educacional,a qualificação
da mão-de-obra
e a oferta de empregos, poissem
essas condições essenciais, a desregulamentação,que
visa à flexibilidade, torna as condições trabalhistas cadavez
mais
precárias.Desregulamentar
significa retirar as regras, para assim dar espaço àflexibilização.
A
desregulamentação,na
verdade, éum
tipode
flexibilidadepromovida
pela
legislação (Siqueira Neto, l997, p.33).A
legislação criada duranteo
periodofordistaadquiriu seu caráter rígido
quando
os trabalhadores tiveram força política para conseguirimpor
suas condições, pois omodelo
de produção, então vigente, baseava-seem
princípios rígidos para organizar aprodução
e a sociedade. Hoje, essa legislação é acusadade
inadequada
pelos neoliberais, poisjánão
condizcom
o atualmodelo
de acumulação.
O
que
está ocorrendono
Brasil éum
processoque
tenta colocar,sob
aforma de
leis, maneiras de deixar amão-de-obra
flexível,provocando
uma
reduçãodos
direitos trabalhistas já existentes e abrindo possibilidades
de
flexibilizar a forçade
trabalho,
conforme
sugere a política neoliberal.No
ideário neoliberal, os desajustes causadosdevem
ser resolvidosno
próprio
mercado,
sem
a interferênciado
Estado.O
custo dessanova
tendência, já bastante difundida, recai sobre o trabalhador,que deve
se adaptar paranão
ser considerado“inadequado”
à“nova
ordem
econômica”.O
que
se percebe,no
entanto, sãoformas de
contratação
mais
precárias,em
que
a insegurança de trabalho e rendafazem
partedo
cotidianodo
trabalhador.As
exigências e os conceitos colocados aquinão
são novos,conforme
colocados pela mídia, são apenas
uma
nova
versãodo
liberalismo, já vividosem
outrosperíodos
na
históriado
capitalismo.Porém
agora, estão dentrode
outra fasedo
seudesenvolvimento
(e de outromodelo
de produção), eque
agora échamado
neoliberalismo.. Tratar-se-á
na
seção seguinte,do
neoliberalismo ede
suas principaisconseqüências.
2.5.
O
movimento
liberalizanteque vivemos
desde
adécada de
70: conceito esuas
conseqüências.
V
.
O
neoliberalismo surgecomo
respostaà
criseeconómica mundial
da
década
de
70,agravada pela
crisedo
petróleo.Seu ponto
de partida é,com
freqüência
associado
à
vitóriada Margareth
T
hatcherna
Inglaterra ede
Ronald
Reagan
nos Estados
Unidos
(Bianchi, 1997, p.lO6).O
mesmo
autor diz, ainda,que além de
um
corpo
doutrinário
que
reafirmauma
ordem
social excludente e contrapostaaos
desejos etransformação
social, portantoprofundamente
antiutópíco,o
neoliberalismo étambém
um
movimento
político articuladoem
tornode
um
programa
práticode
ajusteseconómicos
edas
formas
políticas necessáriaspara
a
aplicação de talprograma
(Bianchi, l997,pg.lO5).
Esse
movimento
tenta atualizar os princípiosdo
liberalismoeconômico
àscondições
do
capitalismomoderno.
Afronta toda e qualquer intervenção estatalque
prejudique a liberdade individual e, assim, o cursonormal do mercado.
É
uma
_formade
dominação
de
classesadequada
às relações econômicas, sociais e ideológicascontemporâneas
(Sader, 1998, p.l46).O
neoliberalismo nasceu após a 2”Guerra
Mundial,na Europa
ena
América do
Norte.Tem
como
textode origem
o livrode
FriedrichHayek,
O
Caminho
da
Servidão,
que
foi escritoem
1944.T
rata-se deum
ataqueapaixonado
contraqualquer
limitação
dos
mecanismos do mercado por
partedo
Estado,denunciados
como
uma
ameaça
letalà
liberdade,não somente
económica,mas também
política (Anderson, 1998,p. 9). .
Esses princípios liberais são colocados, hoje, muitas vezes,
como
uma
prática nova,ou
seja,como
uma
nova
saída para enfrentar as crises conjunturais aque o
capitalismo está submetido.
No
entanto, analisando-se sobuma
perspectiva histórica, percebe-seque
as crises e as soluções apontadas para sair dela se repetem.A
organização capitalistatem
em
sua históriao
que
foichamado
por Polanyi (1980, p.l39)de
duplo movimento, (..)
um
foi o princípio do liberalismo econômico que objetivavaestabelecer
um
mercado auto-regulável, (...).O
outro foi o princípio da proteção social,cujafinalidade era preservar o
homem
e a natureza, além da organização produtiva, eque dependia do apoio daqueles mais imediatamente afetados pela ação deletéria do mercado.
Arrighi (1994, p.251),
da
mesma
forma, colocaque
aevolução
da
economia
mundial
capitalistanos
últimos trezentosanos
(...)não progrediu de
modo
linear,
mas
através deuma
alternância de tipos opostos de estruturas organizacionais,na
qual
a
forma
de corporações
surgiudesapareceu
e retorno. Esse autor colocaque
existeuma
“alternânciade
fases de liberdadeeconômica”
e fases de “regulaçãoeconómica
(Arrighi, 1994, p.251). Isso ocorre porque,
quando
a sociedade percebeque o
livremercado
levaria a
um
caos social,busca
saídas através de intervenções estatais.A
partirda
criseeconômica, que
começou
na década de
70, a doutrinaneoliberal
começa
a ganharum
maior
número
de
adeptos, e seus principais idealistascolocam
como
principais causadoresda
criseo
grandepoder
dos sindicatos e os excessivosgastos sociais
com
que o
Estado estavacomprometido.
Os
primeiros governos, acolocarem
essa doutrinaem
prática,foram Margaret
Thatcher,na
Inglaterra,em
1979, eRonaldo Reagan,
nos Estados Unidos,em
1980.Nos
anos
80, a doutrina neoliberal tornou-se
hegemônica
nesses países, e, desde essemomento
histórico, descrito anteriormente, atéhoje, vive-se
o auge
do
poder anônimo
do mercado,
em
face do
poder
dos cidadãos
edos
trabalhadores
das empresas
(Sader, 1998, p.l42).Dessa
forma, preza-seo
aumento
da
eficiência
dos
mercados
em
detrimento dos cidadãos.De
fato,o
pressupostofundamental do
neoliberalismo éa
revalorizaçãodo mercado
como
instrumento de regulaçao económica,0 que tem
como
conseqüência
a
retirada
do
Estado das
atividades produtivas ea
aberturade novas
frentes deexpansão
para
o
capital (Bianchi, 1997, p. 107)._
_
Um
dos principais entraves àretomada do desenvolvimento
econômico
de acordo
com
a doutrina neoliberal, é opoder dos
sindicatos. Portanto, é precisodesmoraliza-los e retirar suas forças, para
que
assimnão
impeçam
a prática dessa política.Assim,
consegue-se a recuperação das taxas de lucros atravésda
redução de salários eda
retirada
de
benefícios trabalhistas e sociais concedidos aos trabalhadoresno
períodofordista.
No
atualmodelo
deacumulação
capitalista, deeconomia
globalizada edesregulamentada, a especulação financeira é
mais
interessantedo que
os investimentosprodutivos, que, aliada aos
avanços
tecnológicos,causam
uma
criseno
mundo
do
trabalho, pois reduz-secada vez mais o
número
de postos de trabalhoem
todo omundo.
lsso revelauma
“questão social”no
qual,além do
aumento da
exclusão eda
pobreza, tornam-secada
vez
mais
precárias as condiçõesda
classe trabalhadora.A
desigualdade,que
e'um
fator imprescindível para o neoliberalismo, estásendo
alcançada nessesanos
de
políticaseconômicas
neoliberais,a taxa média de desemprego nos países da
OCDE,
que havia ficadoem
torno de4%
nos anos 70, pelo menos duplicou na década de 80 (...), o grau de desigualdade - outroobjetivo sumamente importante para o neoliberalismo - aumentou si gniƒicativamente no
conjunto dos países da
OCDE:
a tributação dos salários mais altos caiu20%
em
média nos anos 80, e os valores das bolsas aumentaram quatro vezes mais rapidamente doque os salários (Anderson, 1998, p.l 5).