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Impacto da doença oncológica no funcionamento sexual dos indivíduos: comparação com uma população normal

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Impacto da doença oncológica no funcionamento sexual dos indivíduos:

comparação com uma população normal

-Versão Final-

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Ana Rita Pereira Soares

Professor Catedrático José Vasconcelos Raposo

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Impacto da doença oncológica no funcionamento sexual dos indivíduos:

comparação com uma população normal

-Versão Final-

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Ana Rita Pereira Soares

Professor Catedrático José Vasconcelos Raposo

Composição do Júri:

Professora Doutora Carla Teixeira

Professora Doutora Vera Leirós

Professor Catedrático José Vasconcelos Raposo

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Agradecimentos

No ano letivo 2008/2009 dei início a esta grande aventura à qual chamamos vida académica, no curso de Psicologia na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Este percurso culmina com a realização da presente dissertação, agregada ao segundo ano de mestrado em Psicologia Clínica da referida universidade. Ao longo deste percurso

académico, os conhecimentos adquiridos foram fundamentais para o desenvolvimento da presente investigação bem como, para a minha formação como futura profissional da área. A realização da mesma permitiu um enriquecimento tanto a nível pessoal, como profissional e social.

Desde já, deixo o meu agradecimento ao Professor Catedrático José Vasconcelos Raposo, meu orientador, agradecendo a disponibilidade, os conhecimentos transmitidos, os bons conselhos, a boa disposição e a confiança que contribuem para que hoje me sinta mais próxima da profissional que pretendo ser. Agradeço a todos os indivíduos que se

disponibilizaram, de forma voluntária, a participar neste estudo, constituindo a amostra do mesmo. Deixo ainda, um agradecimento às equipas das unidades de oncologia dos centros hospitalares, que autorizaram e permitiram todas as condições necessárias para que fosse efetuada a recolha da amostra da presente investigação.

Não poderia deixar de agradecer também, às pessoas que me acompanharam ao longo de todo este percurso académico e de vida, salientando a minha família. Um agradecimento especial aos meus pais Fernando e Fernanda, por terem investido em mim acreditando sempre que eu seria capaz, pela dedicação e presença em todas as etapas da minha vida, por me terem ensinado a ser uma pessoa com valores, respeito e determinação. Também aos meus irmãos David e Margarida, um agradecimento pelo respeito e apoio que sempre demonstraram. À titia Olívia, agradeço toda a motivação e confiança, que em tantos momentos difíceis me fizeram erguer a cabeça e seguir em frente.

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Um especial obrigada ao Paulo, pelo apoio, pela paciência e por estar sempre do meu lado a lembrar-me que sou capaz. Aos amigos agradeço terem marcado presença no meu percurso académico, ensinando-me tanto sobre a psicologia como sobre a vida, um especial obrigada ao Pedro, Óscar, Rui, Bárbara, Ana Silveira, Ana Teixeira, Márcia e Tânia Moreira.

Não poderia deixar de mencionar aquela que é a minha amiga de ontem, hoje e

sempre, Filipa Silva, a quem dedico este pequeno parágrafo, mas com um grande significado. Agradeço à “Fifas” por ter estado sempre presente ao longo destes 6 anos, por termos passado tantas experiências marcantes e tantas provas à nossa amizade. Obrigada pela dedicação, pelo apoio, pelas palavras de coragem e confiança, pelos conselhos e raspanetes, pela paciência e pelas gargalhadas. Obrigada sobretudo por ter acreditado em mim, mesmo quando eu duvidei.

Por fim, mas não menos importante, gostaria de agradecer e dedicar todo este trabalho aos meus avós David, Laurentina e Cândida, e bisavós Amélia e António pois com eles aprendi que, tudo que na vida vale a pena, só se consegue com esforço.

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ÍNDICE

Agradecimentos ... v

Lista de Siglas ... x

Introdução ... xi

Parte I Impacto da doença oncológica no funcionamento sexual da mulher: comparação com uma população normal Resumo ... Error! Bookmark not defined. Abstract ... 3

Introdução ... 4

Variáveis sociodemográficas e funcionamento sexual ... 5

Sexualidade na doença oncológica ... 9

Variáveis oncológicas e funcionamento sexual ... 10

Metodologia ... 14 Tipo de investigação... 14 Amostra ... 14 Instrumentos ... 19 Procedimentos estatísticos... 20 Resultados ... 21

Variáveis sociodemográficas e funcionamento sexual ... 21

Grupo de controlo e grupo experimental ao nível do funcionamento sexual ... 25

Variáveis oncológicas e funcionamento sexual ... 26

Discussão ... 30

Conclusão ... 36

Parte II Impacto da doença oncológica no funcionamento sexual do homem: comparação com uma população normal Resumo ... 48

Abstract ... 49

Introdução ... 50

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Sexualidade na doença oncológica ... 54

Variáveis oncológicas e funcionamento sexual ... 56

Metodologia ... 60 Tipo de investigação... 60 Amostra ... 60 Instrumentos ... 65 Procedimentos estatísticos... 66 Resultados ... 67

Variáveis sociodemográficas e funcionamento sexual ... 68

Grupo de controlo e grupo experimental ao nível do funcionamento sexual ... 71

Variáveis oncológicas e funcionamento sexual ... 72

Discussão ... 74

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Lista de Siglas

INE – Instituto Nacional de Estatística

OMS – Organização Mundial de Saúde

APA – American Psychiatric Association

SPSS – Statistical Package for Social Sciences

FSFI – Female Sexual Function Index

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Introdução

O organismo é composto por um vasto conjunto de células que apresentam características morfológicas e coexistem em sintonia citológica, histológica e funcional, permitindo o seu agrupamento em tecidos. Estas células crescem, dividem-se, dão origem a outras células e morrem, sendo este o ciclo normal de transformações celulares que permitem ao organismo, desenvolver-se de uma forma adequada. Contudo, existem células cujo

crescimento ocorre de uma forma desregulada, como resultado de interações entre agressões ambientais, comportamentos e suscetibilidade genética originando assim neoplasias (Fauci et al., 2008; Ferlay et al 2013; Simões et al 2011).

As neoplasias, também conhecidas como tumores, podem ser de origem benigna ou maligna, sendo a segunda também denominada cancro, ao qual correspondem mais de 200 doenças distintas (Simões et al., 2011). O cancro tem a si associado um vasto conjunto de fatores de risco, que podem ser categorizados como internos ou externos (Fauci et al., 2008).

Os fatores de risco internos não são moldáveis, como é o caso da idade, nomeadamente acima dos 60 anos, onde se regista o maior número de casos de cancro; o género, sendo o masculino mais afetado por esta patologia e ainda, a herança genética. Os fatores de risco externos estão associados a comportamentos que podem ser controlados e evitados,

contribuindo para a prevenção oncológica, como é o exemplo da exposição solar e a produtos tóxicos que podem causar um envelhecimento celular precoce e alterações imunológicas; os défices alimentares, tanto na subnutrição, como no consumo excessivo de gorduras saturadas e açúcares; a ausência de prática de exercício físico, que condiciona o rendimento metabólico bem como, o consumo regular de álcool, tabaco e outas substâncias tóxicas que alteram a regeneração celular (Fauci et al., 2008; Simões et al., 2011).

Atualmente, o cancro constitui a segunda maior causa de morte em países

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novos casos, destacando-se os tumores malignos da mama, seguido do colorectal, próstata e pulmão. No que refere à taxa de mortalidade, 1.75 milhões de pessoas sucumbiram à doença oncológica sendo que, os principais responsáveis foram os tumores malignos do pulmão, colorectal, mama e estômago (Ferlay et al., 2013).

Em Portugal, os números associados ao cancro também atingem uma elevada taxa de incidência e mortalidade sendo que, em 2012 surgiram aproximadamente 43.000 novos casos de cancro, valor que tende a aumentar cerca de 27% até 2030 (INE, 2014). No que refere aos tipos de cancro com maior incidência a nível nacional encontramos, o cancro da próstata, seguido do cancro de mama, colorectal, pulmão e corpo-uterino. Relativamente aos óbitos registados em 2012. mais de 25.000 pessoas perderam a luta contra o cancro, o que corresponde a 23.9% de todos os óbitos registados no país, tendo como principais

responsáveis o cancro colorectal, do pulmão, estômago, próstata e mama (Ferlay et al., 2013). Com o avanço científico e tecnológico de diversas áreas do conhecimento, verificou-se que o cancro deixou de ser necessariamente, sinónimo de morte, mas acarreta por si só, uma forte conotação negativa que se reflete em mudanças na vida de quem vive e convive com esta realidade (Pereira & Lopes, 2002; Rowland & Holland, 1989). Uma das dimensões que mais tem sido lesada pelas patologias oncológicas é a sexualidade. Apesar de não ter uma definição única e absoluta, a OMS (2001) esclarece como sendo a energia que nos motiva a encontrar amor, contacto, ternura e intimidade integrando-se na forma como sentimos, movemos, tocamos e somos tocados, é ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual.

Dentro da amplitude que é a sexualidade, existe uma subdimensão que corresponde a uma parte fulcral na qualidade de vida do ser humano, o sexo. A sua relevância levou

investigadores de todo o mundo a estudar, analisar e compreender como se processa, divide e manifesta, categorizando um conjunto de fases hoje conhecidas como ciclo de resposta sexual humana.

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Este ciclo encontra-se dividido em 4 fases subsequentes, nomeadamente: a fase de

desejo – consiste em fantasias e desejos acerca da atividade sexual; a fase de excitação –

consiste na sensação subjetiva de prazer sexual acompanhada por modificações fisiológicas correspondentes; a fase de orgasmo - consiste num pico de prazer sexual que se faz

acompanhar de uma libertação de tensão sexual e contração rítmica dos músculos períneo e órgãos reprodutores; e a fase de resolução – caracteriza-se por uma sensação generalizada de relaxamento muscular e bem-estar. Nesta fase os homens encontram-se fisiologicamente refratários a uma nova ereção e orgasmo durante um período de tempo variável, já as

mulheres são capazes de responder a uma estimulação adicional quase imediata (APA, 2000). À semelhança do que acontece com outras atividades humanas, também o sexo pode ter associadas algumas disfunções, caracterizadas como sendo problemas que ocorrem em uma ou mais fases do ciclo, por falta, excesso, desconforto e/ou dor na expressão e no

de-senvolvimento das mesmas, manifestando-se de forma persistente ou recorrente que resulta em dificuldades interpessoais (APA, 2000).

Perante a doença oncológica as preocupações associadas à expressão da sexualidade tendem a adquirir uma conotação secundária, talvez por esse motivo, em Portugal seja difícil antever números significativos que permitam traçar uma associação direta entre cancro e funcionamento sexual (Hamerschlak, 2008; Rowland, & Holland, 1989).

Neste sentido, a presente dissertação pretende dar à investigação portuguesa um contributo que se revela importante e inovador na medida em que, se debruçou sobre questões de foro sexual considerando caraterísticas individuais e especificas da doença oncológica. Esta investigação pretende ainda, demonstrar a relevância da sexualidade e sua abordagem em todo o processo oncológico, apelando aos profissionais para as necessidades específicas desta população. Para tal, foi realizada uma divisão em duas partes empíricas

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similares, contendo cada umas delas uma análise bibliográfica, a descrição metodológica do estudo, contemplando resultados, discussões e conclusões acerca da população estudada.

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Parte I

Impacto da doença oncológica no funcionamento sexual da mulher:

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Resumo

A presente investigação teve como objetivo comparar mulheres com diagnóstico oncológico e mulheres sem diagnóstico oncológico ao nível do funcionamento sexual. O estudo apresentou um caráter quantitativo, descritivo, comparativo e correlacional, com um design quasi-experimental, ocorrendo num período de tempo transversal. A análise de dados foi realizada através do programa Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 22. A amostra contou com 116 participantes do sexo feminino, dos quais 61 apresentavam um diagnóstico oncológico e os restantes pertenciam a um grupo de controlo, sem evidência de doença oncológica. Os instrumentos utilizados foram um questionário sociodemográfico, um questionário oncológico específico e o Female Sexual Function Index (FSFI). Os resultados demonstraram que, quando comparadas, mulheres com diagnóstico oncológico apresentavam valores mais reduzidos (M = 16.30; DP = 11.14) no índice de funcionamento sexual, do que mulheres sem diagnóstico oncológico, (M = 23.37; DP = 11.27). Em conclusão, o cancro influencia negativamente o índice de funcionamento sexual, aumentando a probabilidade da mulher desenvolver disfunções sexuais.

Palavras-chave: doença oncológica; variáveis sociodemográficas; variáveis oncológicas;

funcionamento sexual. .

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Abstract

The present investigation had as main purpose to compare women with cancer diagnosis and women without cancer diagnosis at sexual functioning. The study presented a quantitative, descriptive, comparative and correlational character with a quasi-experimental design, occurring in transversal period of time. Data analysis was performed using the Statistical

Package for the Social Sciences (SPSS) version 22. The sample consisted in 116 female participants, of which 61 had a cancer diagnosis and the remaining belonged to a control group with no evidence of cancer disease. The instruments used were a socio-demographic questionnaire, a specific cancer questionnaire and the Female Sexual Function Index (FSFI). The results demonstrated that, when compared, women diagnosed with cancer had lower values (M = 16.30; PD = 11.14) in sexual functioning index than women without cancer diagnosis (M = 23.37; PD = 11.27). In conclusion, cancer negatively influences sexual function index, increasing the likelihood of developing female sexual dysfunctions.

Keywords: oncological diseases; socio-demographic variables; oncological variables; sexual

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Introdução

O cancro é uma das doenças mais temidas pela humanidade sendo vivido como um evento traumático, repleto de mitos e crenças disfuncionais que resultam num estigma de dor, morte e solidão. Traz consigo uma serie de alterações que se refletem em todas as dimensões que caracterizam o ser humano, obrigando a uma reorganização do estilo de vida de quem vive e convive com esta doença (Pereira & Lopes, 2002; Rowland & Holland, 1989).

Cerca de 47% dos novos casos, registados na Europa referentes a tumores malignos, correspondiam a indivíduos do sexo feminino, apresentando uma taxa de mortalidade aproximada de 44% em 2012 (Ferlay et al., 2013). A realidade portuguesa segundo o INE (2014), vai de encontro às percentagens europeias, com destaque para uma maior prevalência do cancro da mama, seguido do colorectal e corpo-uterino, sendo estes grupos tumorais, com exceção do corpo-uterino que dá lugar ao cancro do estômago, também os principais

responsáveis pela taxa mortalidade por cancro nas mulheres portuguesas, correspondendo a esta mais de 10.000 óbitos no referido ano (Ferlay et al., 2013; INE, 2014).

Se por um lado, o número de casos de cancro apresenta uma taxa de crescimento acentuada, por outro lado, também a taxa de sobrevivência evidencia resultados positivos tornando-se, cada vez mais, um número em expansão. Os crescentes casos de sucesso podem dever-se aos avanços científicos e tecnológicos de várias áreas do conhecimento, não apenas no investimento que é dedicado aos tratamentos mas também, na crescente preocupação com a prevenção. No entanto, a sobrevida já não é o único domínio a ocupar um lugar primordial durante o processo o oncológico. É importante atender a outras necessidades que assistem a esta população, como a preservação da qualidade de vida, permitindo não só acrescentar anos à vida, como também vida aos anos (Cassidy, Bisset & Obe, 2002; Perz, Ussher & Gilbert, 2013; Serrano, 2005).

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Uma das dimensões pertencentes ao bem-estar prende-se com a sexualidade. A

sexualidade é fulcral e indispensável à qualidade de vida, satisfação individual e relacional do indivíduo. Esta dimensão tem-se revelado, cada vez mais, uma preocupação diante das

mulheres com cancro, isto porque é uma das dimensões mais afetada aquando do processo de doença e adquire uma conotação secundária levando a uma resposta desadequada do seu funcionamento. Este desajuste pode ocorrer em qualquer fase do processo de doença e por diversos motivos sejam eles de caráter individual, relacional, físico, psicológico, emocional, entre outros, podendo evoluir para a disfunção sexual, condicionando o bem-estar e o enfrentamento à doença (Wright, Kiely, Lynch, Cull, & Selby, 2002). Todavia, as queixas relativas a esta matéria são difíceis de admitir e articular, sendo que, a etiologia que abrange as disfunções sexuais é multifatorial e nem sempre é possível atribuir uma única causa (Goshtasebi, 2011; Nobre, 2006).

Variáveis sociodemográficas e funcionamento sexual

As variáveis sociodemográficas como a faixa etária em que a mulher se encontra; se tem, ou não, filhos; o estado civil; a área de residência; as habilitações académicas; o rendimento mensal e a morbilidade com perturbações de ordem psíquica e/ou física têm-se revelado fatores de influência no aparecimento e manutenção de disfunções sexuais

femininas (Baine et al., 2011; Barlow, 2009; Cassidy et al., 2002; Harden, Northouse, Cimprich, Pohl, & Kershaw, 2008; Parish et al., 2007; Patrão, 2005).

Diversas investigações demonstram uma associação significativa entre a doença oncológica, e a idade, sendo esta um fator de risco com influência considerável uma vez que, quanto mais avançada for, maior a probabilidade da mulher desenvolver tumores,

considerando que a maior taxa de prevalência oncológica regista-se em mulheres em período pós menopausa. Também existe uma associação direta entre a idade e a prevalência de

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& Ferreira, 2007). Parece existir uma tendência natural que confirma o declínio do

funcionamento sexual, associado à idade, nomeadamente ao nível do desejo, da excitação, da lubrificação e orgasmo. A faixa etária entre os 50 e os 64 anos é a que refere mais problemas de foro sexual, o que pode ser explicado pelo conjunto de mudanças fisiológicas e hormonais que tendem a surgir nesta fase do desenvolvimento (Harden et al., 2008; Huguet, Morais, Osis, Pinto-Neto, & Gurgel, 2009).

Contudo, é nas mulheres mais jovens que o impacto de uma doença oncológica teima em ser mais devastador, abalando dimensões fulcrais da qualidade de vida da mulher, como é o caso da resposta sexual. Tal pode ser explicado por várias razões, entre as quais o facto de mulheres com mais idade apresentarem uma maior resiliência e aceitação do diagnóstico, enquanto as mais jovens apresentam menor preparação para lidar com a doença estando mais expostas ao distress psicológico, apresentado por vezes, uma relação instável e adiando, ou mesmo abandonando a possibilidade de ser mãe (Flynn et al., 2011; Patrão, 2005).

Em mulheres cuja maternidade já tenha ocorrido, o enfrentamento à doença tende a ser mais positivo, isto porque, o impacto que é exercido na mulher que se depara com a impossibilidade de ter filhos biologicamente, como consequência do curso da doença e seus tratamentos, prende-se em grande parte, com o desejo de ser mãe mas também com a pressão social que reforça a ideia de que um dos objetivos centrais na vida da mulher deve passar pela reprodução. Quando a doença arrasta consigo a impossibilidade de ter filhos biologicamente surgem elevados níveis de distress psicológico que exercem uma influência negativa na resposta sexual (Patrão, 2005; Rebelo et al., 2007).

No que respeita ao estado civil, a literatura é clara indicando que mulheres que tenham um parceiro fixo tendem a desenvolver uma relação de maior confiança e

comunicação, tornando-a mais estável e beneficiando do apoio do seu companheiro, o que contribui para um maior e melhor enfrentamento à doença e sobrevida (Baine et al., 2011;

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Huguet et al., 2009). Com informação adequada é possível que a vivência sexual do casal admita uma reestruturação, quebrando por vezes, crenças erróneas e disfuncionais sobre a sexualidade. As crenças disfuncionais mais comuns entre mulheres segundo Robertson et al. (2014), relacionam-se com a impossibilidade de prazer quando a imagem corporal é afetada e ainda, com o avanço da idade e manifestação da menopausa, há um decréscimo no prazer e na frequência de atividade sexual. Juntamente com o parceiro, estas crenças vão perdendo a sua veracidade e aspetos como a intimidade e comunicação, vão sendo valorizados (Huguet et al., 2009).

A área de residência tem sido apresentada como um fator relevante na vivência da sexualidade feminina. Viver num meio rural pode condicionar o acesso a informação, influenciando a forma como a mulher se expressa neste domínio, esta é uma razão apontada pela literatura para explicar as elevadas taxas de disfunção sexual que se fazem sentir em mulheres pertencentes a regiões rurais (Lau, Cheng, Wang, & Yang, 2006). Outra explicação para este facto prende-se com a cultura e tradição que predomina nestas regiões sendo que, a relação sexual existe sobretudo, para a reprodução e prazer masculino (Parish et al., 2007).

Relativamente às habilitações literárias é sugerido que mulheres com um nível educacional mais elevado apresentem menores taxas de disfunção sexual, o que pode ser explicado pelo vasto acesso a informações e melhor autoperceção da sexualidade, permitindo conhecimentos acerca da identificação e extensão do problema, recorrendo mais rapidamente a soluções adequadas, como a procura de ajuda profissional (Huguet et al., 2009; Laumann, Parik, Rosen, 1999).

Também o rendimento mensal está, na grande maioria dos casos, associada ao nível de escolaridade, quanto maior o grau de instrução maior o rendimento. Este rendimento permite definir o estatuto socioeconómico e constata-se que existem opiniões literárias ambíguas, no que toca à relação entre o estatuto e a expressão da sexualidade feminina. Por

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um lado, estudos como o de Rogers (1996), apontam o rendimento como fruto de um trabalho exigente e a tempo inteiro, fazendo com que a mulher descure dos seus papéis familiares e por conseguinte, esteja menos disponível para relações íntimas e sexuais provocando uma menor satisfação e funcionamento da sua vida sexual.

Por outro lado, outros investigadores defendem que uma elevada escolaridade proporciona um emprego estável e por sua vez bem remunerado, o que acarreta um maior sentido de competência, maior poder familiar, suporte social mais elevado bem como, menor restrição financeira o que contribui para um relacionamento mais estável e por ventura uma expressão sexual mais favorável (Laumann et al., 1999).

O cancro tende a provocar alterações contínuas na vida dos pacientes provocando muitas vezes distúrbios de ajustamento. No que refere à morbilidade de perturbações psicológicas associadas aos tumores malignos, entre 20 a 30% dos pacientes apresentam indícios suficientes para ser considerado um diagnóstico psicopatológico, sendo que, os mais comuns são a perturbação depressiva major e a perturbação de ansiedade (Holland,

Greenberg, & Hughes, 2006; Paredes, Canavarro, & Simões, 2011). Estas perturbações podem ser sintomas de uma disfunção sexual como também, responsáveis pelo aparecimento das mesmas, onde se verificam alterações ao nível do desejo sexual, da excitação e do

orgasmo (Barlow, 2009). É afirmado por Gold (1998), que os distúrbios de ansiedade e depressão são mais comuns nas mulheres, sendo o sexo um fator de risco para o seu

desenvolvimento. Segundo Gallicchio et al. (2007), foi possível constatar que mulheres com humor deprimido, também referiam uma satisfação mais empobrecida nas suas relações sexuais.

Doenças como a diabetes, problemas hormonais e infeções, têm demonstrado uma estreita relação com a doença oncológica e as disfunções sexuais (Barlow, 2009). No caso da diabetes, os autores Wincze, Albert, e Bansal (1993), comparando mulheres com e sem

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diabetes, concluiu que, mulheres diabéticas apresentavam índices significativamente mais baixos de excitação sexual, em resposta a estímulos eróticos. Oscilações hormonais estão fortemente associadas à doença oncológica e também ao funcionamento sexual, sendo que, níveis reduzidos de estrogénio relacionam-se com possíveis atrofias vaginais que podem levar a uma lubrificação deficitária, ou inexistente, causando dor associada à atividade sexual. Também reduzidos níveis de testosterona podem levar a um declínio ao nível do desejo sexual e do orgasmo. As infeções crónicas, ou sexualmente transmissíveis, podem estar interligadas a disfunções sexuais como causa ou consequência das mesmas (Fauci et al., 2008; Fleury, Pantaroto, & Abdo, 2011).

Sexualidade na doença oncológica

Alguns estudos verificam que existem determinados tumores malignos cuja taxa de morbilidade com disfunções sexuais é mais elevada. A probabilidade de desenvolver desajustes na resposta sexual, em doentes oncológicos, aumenta quando os tumores e/ou tratamentos acometem órgãos sexuais ou pélvicos e afetam os sistemas hormonais que participam na mediação da função sexual sendo que, o cancro da mama, o cancro

ginecológico e o cancro colorectal são os tumores malignos que apresentam índices mais elevados de disfunção sexual (Hendren et al., 2005; Goshtasebi, 2011; Valério, 2007).

As disfunções sexuais mais comuns entre mulheres com cancro são o desejo sexual hipoativo, que corresponde à ausência ou diminuição acentuada do desejo de atividade sexual e fantasias sexuais que ocorre por diminuição da líbido; a perturbação da excitação na

mulher, que se reflete na dificuldade acentuada em lubrificar resultando na incapacidade de atingir ou manter a atividade sexual e ainda, a dispareunia que se caracteriza como uma dor genital associada à penetração sexual (APA, 2000; Hendren et al., 2005; Pablo & Soares, 2004).

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Uma das condições que mais influencia o funcionamento sexual pleno, entre doentes oncológicos, prende-se com a imagem corporal. O impacto do cancro neste sentido, depende em grande escala do órgão afetado. É comum que a mulher se depare com uma transfiguração de si mesma que influencia a forma como se vê a si própria, como vê o mundo e como se expressa (Ramos & Patrão, 2005; Rebelo et al., 2007). Mesmo quando os efeitos não são visíveis fisicamente, as mazelas emocionais podem condicionar a resposta sexual (Flynn, et al., 2011).

A doença oncológica traz consigo o medo da morte e da desfiguração, a incerteza face ao futuro, o sofrimento físico e psicológico, um conjunto de perdas sucessivas que levam a momentos de elevado distress em que a mulher se depara com um rompimento do seu estilo de vida e um sentimento constante de dependência e incapacidade. A forma como a doença crónica é encarada está intimamente ligada às consequências que cada indivíduo espera como resultado do seu processo clínico (Bakht & Najafi, 2010; Rebelo et al., 2007).

Variáveis oncológicas e funcionamento sexual

Para além das variáveis sociodemográficas que, inevitavelmente exercem influência na forma como a pessoa enfrenta a doença e é afetada por ela, existem também outros fatores capazes de condicionar o funcionamento sexual das mulheres com cancro na medida em que, se relacionam diretamente com a etiologia da doença permitindo traçar diagnósticos e

prognósticos definindo o tratamento que melhor se adequa. Estes fatores fazem parte da esfera das variáveis oncológicas e correspondem à recidiva; ao tempo de diagnóstico; à modalidade terapêutica e às alterações associadas (Andersen, 2009; Bower & Waxman, 2006; Cassidy et al., 2002; Moreira, 2013).

Apesar dos positivos progressos que têm surgido na área da oncologia, ainda se verifica a possibilidade dos tratamentos oncológicos não alcançarem os efeitos esperados podendo resultar no reaparecimento do cancro na região inicial, ou em outra parte do

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organismo, a este acontecimento denomina-se recidiva (Cassidy et al., 2002; Valle, 2010). Desta forma, a recidiva corresponde ao reinício de todo o processo oncológico cuja reação dos pacientes tende a ser semelhante e em alguns casos, até mais devastadora do que no diagnóstico inicial isto porque, a possibilidade de cura diminui significativamente (Araújo, 2011).

Um estudo de Andersen (2009), em mulheres com recidiva de cancro de mama, sugere que a resposta sexual feminina diminui com o diagnóstico e tratamento de cancro mas essa diminuição é mais acentuada quando a mulher se encontra em recidiva. A mesma autora cita um estudo de Silberfarb et al. (1980) no qual foram analisadas 152 mulheres, das quais 50 apresentavam uma recidiva e aduziam mais 50% de probabilidade de experienciar problemas sexuais ao nível da frequência e do desejo.

Para além dos fatores já mencionados, também o tempo de diagnóstico parece exercer influência sob a expressão sexual dos indivíduos. Segundo Trufelli et al. (2008), os pacientes com diagnóstico inferior a 1 ano, apresentam um funcionamento sexual mais deficitário, encontram-se numa fase mais agressiva do tratamento e ainda não está consolidada a

adaptação à condição oncológica sendo que, é durante este primeiro ano que se fazem sentir as maiores alterações a nível físico, psicológico e social. Entre 1 e 3 anos de diagnóstico encontram-se resultados mais positivos ao nível da sexualidade, é geralmente neste período que terminam os tratamentos e surgem possibilidades de reestruturação a nível sexual, relacional e íntimo, quando necessário (Moreira, 2013).

A partir dos 3 anos pós diagnóstico, o índice de funcionamento sexual tende a diminuir novamente, pelo receio de uma recidiva e alterações permanentes na imagem corporal, fadiga e capacidades (Moreira, Silva, & Canavarro, 2008). Em período igual ou superior a 5 anos volta a existir um aumento da capacidade funcional a nível sexual, pois ao fim deste período, o paciente é considerado sobrevivente de cancro (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007).

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Um dos fatores que mais influência exerce sobre o funcionamento sexual da mulher, aquando de uma doença oncológica, é a modalidade terapêutica. A escolha do tratamento deriva sobretudo, do tipo de cancro, da idade do paciente e do estadio em que se encontra. O principal objetivo do tratamento é promover a cura, mas existem casos específicos em que o objetivo passa, essencialmente, pelo controlo da doença e redução da sintomatologia (Cassidy et al., 2002; Fauci et al., 2008). O processo terapêutico deve seguir um modelo

multidisciplinar no qual o paciente deve ocupar um papel ativo e colaborativo. Assim, este processo tende a ser desenvolvido em conjunto de forma a responder adequadamente às necessidades, características e valores individuais de cada um (Bower & Waxman, 2006).

As terapias utilizadas podem ser locais, com o propósito de destruir células tumorais numa zona específica do organismo, sendo as mais comuns a radioterapia e a cirurgia, ou podem ser sistémicas, quando se estendem a outras regiões do organismo, em que o

tratamento penetra na corrente sanguínea e destrói ou inibe o crescimento do tumor, sendo as mais utilizadas a quimioterapia e a terapia hormonal (Cassidy et al., 2002; Fauci et al., 2008).

A quimioterapia, a radioterapia, a cirurgia e a terapia hormonal são as modalidades terapêuticas mais temidas pelos doentes oncológicos, isto porque, os seus efeitos secundários são bem conhecidos e marcantes. Os efeitos variam conforme as dosagens aplicadas, a região tumoral e as próprias características do organismo (Cassidy et al., 2002).

No caso da quimioterapia é frequente os pacientes experienciarem náuseas; fadiga; alopecia; vómitos; mucosite; mielotoxicidade; alterações intestinais; peso irregular e apetite reduzido. Esta é uma modalidade terapêutica que pode levar à inibição do desejo sexual e excitação, bem como a episódios de anorgasmia. Na mulher, pode ocorrer a falência ovariana e conduzir a uma menopausa precoce, que traz consigo alterações fisiológicas ao nível da lubrificação, atrofia vaginal e dispareunia, condicionando a frequência e a qualidade da atividade sexual (Cassidy et al., 2002; Cavalheiro et al., 2012; Fauci, et al., 2008).

(27)

Na radioterapia evidenciam-se efeitos secundários associados a elevados níveis de fadiga, diarreias, enjoos, danificação da pele, entre outros, que podem condicionar a autoimagem e por sua vez o funcionamento da libido e respetivo funcionamento sexual. É comum que a radiação possa provocar danos a nível nervoso e vascular que, por sua vez, vão condicionar a lubrificação alterando a capacidade de excitação e orgasmo, podendo provocar dispareunia (Cassidy et al., 2002. Fleury et al., 2011).

A terapia hormonal pode levar mulheres a experienciar problemas

musculosqueléticos, alterações de humor, alterações nos órgãos reprodutores e ainda, alterações ao nível das hormonas que medeiam a função sexual. Deste tratamento resultam frequentemente, a anorgasmia, a inibição, ou redução acentuada da lubrificação e

consequentemente, a dispareunia (Cassidy et al., 2002; Glbraith & Crighton, 2008).

A cirurgia é considerada o tratamento mais antigo no combate aos tumores malignos e pode provocar efeitos secundários acentuados, como é o caso da dor, fadiga, desconforto, mutilação e desfiguração. Dependendo do órgão afetado e do tipo de cirurgia aplicada, é possível ocorrerem excisões de órgãos, amputações e cicatrizes o que revela efeitos negativos sob a autoimagem e perceção da feminilidade, que podem resultar na inibição do desejo sexual, lubrificação deficitária e dispareunia, sendo mais comum encontrar estes sintomas em mulheres submetidas a mastectomia, ostomia, histerectomia e vulvectomia (Cassidy et al., 2002; Vieira et al., 2012).

Apesar do número crescente de investigações relacionadas com o funcionamento sexual no doente oncológico, ainda é comum que os profissionais de saúde não abordem,

diretamente esta questão e assim, o doente nem sempre é informado acerca do impacto da doença e seus tratamentos na sua vida sexual, fazendo com que este considere normal a vivência de uma sexualidade deficitária e pouco satisfatória (Andersen, Carpenter, Yang, & Shapiro, 2007). Estudos demonstram que, estas mulheres apresentam uma necessidade de

(28)

abordar a dimensão sexual de forma a expor as suas dúvidas e dificuldades, os seus medos e incertezas, obtendo informações necessárias para a adaptação à situação clínica (Andersen et al., 2007; Perz et al., 2013).

Neste sentido, a presente investigação tem como objetivo geral comparar indivíduos do sexo feminino com diagnóstico oncológico (grupo experimental) e indivíduos do sexo

feminino sem diagnóstico oncológico (grupo de controlo), ao nível do funcionamento sexual. Como objetivo específico, a investigação pretendeu analisar se as caraterísticas

sociodemográficas exercem influência sob o índice de funcionamento sexual, em mulheres de ambos os grupos. Ainda como objetivo específico, a investigação pretendeu analisar se as caraterísticas oncológicas específicas exercem influência sob o índice de funcionamento sexual, em mulheres do grupo experimental.

Metodologia

Tipo de investigação

Este estudo apresenta um caráter de análise descritiva, comparativa e correlacional com um design quasi-experimental, num período de tempo transversal utilizando variáveis

quantitativas. Os dados foram analisados através do programa Statistical Package for the

Social Science (SPSS), versão 22 (Pestana & Gajeiro, 2008).

Amostra

A amostra englobou 116 indivíduos do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 28 e os 90 anos, sendo a média de idades de 55.6 com desvio padrão de 15.8. Foi realizada a divisão dos indivíduos em 2 grupos. Esta divisão teve em conta a presença, ou ausência, de um diagnóstico oncológico, sendo criado um grupo experimental composto por 61 mulheres com uma média de idades de 58.8 e um desvio padrão de 16.8 e ainda, um grupo de controlo que abrangia 55 mulheres com uma média de idades de 52.1 e desvio padrão de 13.9.

(29)

Foram criados alguns critérios de inclusão e exclusão em ambos os grupos. Os critérios de inclusão abrangiam idade igual ou superior a 18 anos; sexo feminino; orientação

heterossexual e participação voluntária e ainda, a presença de um diagnóstico oncológico no grupo experimental e no grupo de controlo, a ausência de um diagnóstico oncológico. Os critérios de exclusão permitiam excluir indivíduos com idade inferior a 18 anos; sexo masculino; orientação não heterossexual e uma participação não voluntária sendo que, para além dos critérios mencionados, no grupo experimental eram também excluídos os indivíduos que não apresentassem diagnóstico oncológico e no grupo de controlo eram excluídos os indivíduos que apresentassem diagnóstico oncológico.

Na Tabela 1 é possível verificar a caraterização da amostra total (N = 116), considerando as variáveis sociodemográficas analisadas no questionário. Na Tabela 2 encontra-se a caraterização da amostra do grupo experimental (N = 61), considerando caraterísticas oncológicas específicas analisadas no questionário.

(30)

Tabela 1: Caraterização da amostra total (N = 116), ao nível das caraterísticas

sociodemográficas.

Variáveis Doença oncológica Total

(N = 116) Teste Qui-quadrado Não (n = 55) Sim (n = 61) Filhos Não 14 (25.5%) 9 (14.8%) 23 (19.8%) p = 0.168 Sim 41 (74.5%) 52 (8.2%) 93 (80.2%) Residência Rural 9 (16.4%) 32 (52.5%) 41 (35.3%) p < 0.001 Urbana 46 (83.6%) 29 (47.5%) 75 (64.7%)

Estado Civil Solteira 7 (12.7%) 6 (9.8%) 13 (11.2%)

p = 0.072 Casada 26 (47.3%) 31 (50.8%) 57 (49.1%) União de facto 5 (9.1%) 6 (9.8%) 11 (9.5%) Viúva 5 (9.1%) 14 (23.0%) 19 (16.4%) Divorciada 12 (21.8%) 4 (6.6%) 16 (13.8%) Habilitações Literárias Sem habilitações 1 (1.8%) 6 (9.8%) 7 (6.0%) p < 0.001 1º ciclo 6 (10.9%) 24 (39.3%) 30 (25.9%) 2º ciclo 7 (12.7%) 4 (6.6%) 11 (9.5%) 3º ciclo 11 (20.0%) 12 (19.7%) 23 (19.8%) Ensino Secundário 9 (16.4%) 10 (16.4%) 19 (16.4%) Ensino Superior 21 (38.2%) 5 (8.2%) 26 (22.4%) Rendimento Mensal Inferior a 500 Euros 18 (32.7%) 36 (59.0%) 54 (46.6%) p = 0.001 De 501 a 750 Euros 11 (20.0%) 17 (27.9%) 28 (24.1%) De 751 a 1000 Euros 8 (14.5%) 4 (6.6%) 12 (10.3%) De 1001 a 1500 Euros 13 (23.6%) 3 (4.9%) 16 (13.8%) Superior a 1501 Euros 5 (9.1%) 1 (1.6%) 6 (5.2%) Perturbação psiquiátrica Não 49 (89.1%) 46 (75.4%) 95 (81.9%) p = 0.089 Sim 6 (10.9%) 15 (24.6%) 21 (18.1%)

Doença física Não 46 (83.6%) 52 (85.2%) 98 (84.5%)

p = 0.881

(31)

Tabela 2: Caraterização da amostra do grupo experimental (N=61), ao nível das

caraterísticas oncológicas específicas.

Variáveis n %

Doença oncológica Ginecológicos 13 21.3

Gastrointestinais 12 19.7 Mama 12 19.7 Hematológicos 8 13.1 Torácicos 6 9.8 Cabeça e pescoço 4 6.6 SNC 2 3.3 Geniturinários 2 3.3

Ossos e tecidos moles 1 1.6

Pele 1 1.6

Tempo de diagnóstico Inferior a 1 ano 35 57.4

Entre 1 e 3 anos 19 31.1

Entre 3 e 5 anos 4 6.6

Superior a 5 anos 3 4.9

Primeiro diagnóstico Não 16 26.2

Sim 45 73.8 Tratamento (1) Quimioterapia 47 77.0 Cirurgia 40 65.6 Radioterapia 20 32.8 Terapia Hormonal 8 13.1 Imunoterapia 5 8.2 Transplante 4 6.6 Outros 8 13.1 Alterações Não 6 9.8 Sim 55 90.2

(32)

Quais alterações (1)

Entre os que responderam sim na questão anterior (N = 55) Fadiga 31 56.4 Alterações de peso 30 54.5 Náuseas/Vómitos/Enjoos 30 54.5 Alopecia 28 50.9 Alterações intestinais 27 49.1 Alterações de apetite 24 43.6

Perda de uma parte do

corpo 22 40.0

Alterações de humor 18 32.7

Alterações do sono 17 30.9

Problemas sexuais 17 30.9

Outras 22 40.0

(1) questões em que era possível indicar mais do que uma opção.

A recolha da amostra, pertencente ao grupo experimental, foi efetuada em centros hospitalares, da região norte e centro do país com unidade de oncologia, após a devida autorização do diretor de serviço, da comissão de ética e conselho administrativo. Apesar de ser um questionário de autorresposta, a pedido dos pacientes e profissionais, a aplicação decorreu em versão de entrevista, sendo a investigadora a aplicar as perguntas e registar as respostas. Os questionários foram aplicados individualmente e foi informado aos

participantes que a sua colaboração seria parte integrante de um estudo sobre o funcionamento sexual em doentes oncológicos, sendo a sua participação anónima,

confidencial e voluntária e que a recusa da participação não traria qualquer consequência no seu processo clínico.

No caso da recolha da amostra do grupo de controlo, esta foi feita sob a forma de autorresposta, não sendo aplicada em versão de entrevista. Para obter um número

significativo de indivíduos para este grupo, foram distribuídos questionários a mulheres sem historial oncológico em locais públicos e com recurso à criação de um questionário online.

(33)

Também neste grupo, foram garantidas as mesmas condições de anonimato, confidencialidade e cariz voluntário, explicando o propósito do presente estudo.

Instrumentos

Os instrumentos utilizados no estudo foram um questionário sociodemográfico que abrangia os itens idade; sexo; filhos; residência; estado civil; habilitações literárias; rendimento mensal; perturbação psiquiátrica e doença física (exceto cancro), construído propositadamente para a presente investigação. Foi também construído um questionário oncológico específico, de forma a diferenciar os indivíduos dentro do grupo experimental. Este segundo questionário abrangia a presença de doença oncológica; o tipo de doença oncológica; o tempo de diagnóstico; a recidiva; os tratamentos e as alterações ao longo do percurso clínico.

Em seguida, era apresentado um questionário de avaliação do funcionamento sexual feminino, denominado Female Sexual Function Index (FSFI), que corresponde a um inquérito de autorresposta, composto por 19 itens que avaliam diversas dimensões, sendo estas o desejo sexual (itens 1. 2); a excitação sexual (itens 3. 4. 5, 6); a lubrificação (itens 7, 8, 9, 10); o orgasmo (itens 11. 12. 13); a satisfação sexual (itens 14. 15, 16) e a dor (itens 17, 18,19). Cada dimensão tem um índice máximo e mínimo e um fator, o que permite calcular o valor de cada uma delas bem como, o valor total do questionário sendo que, valores mais elevados indicam melhor funcionamento sexual (Rosen et al., 2000).

Estudos psicométricos demonstram a fidelidade teste-reteste (correlações entre r = 0.79 e r = 0.86), bem como a consistência interna do instrumento (alfa de Cronbach > 0.82). A validade discriminante foi evidenciada através de diferenças estatisticamente significativas (p < 0.001) entre um grupo clínico e um grupo controlo em todas as dimensões avaliadas (Rosen et al., 2000). Ao FSFI foi adicionado um item específico para avaliar o vaginismo (item 20), sendo que quanto menor for a pontuação maior o seu índice e o seu valor não integra o

(34)

cálculo total do questionário (Nobre, 2006). A mulher devia escolher a resposta que melhor se adequava a si, considerando as últimas 4 semanas, podendo esta resposta variar entre 0 e 5 ou entre 1 e 5, apresentando uma forma tipo Likert (Rosen et al., 2000). No item 15 do

questionário FSFI foi adicionada, para este estudo, mais uma hipótese de resposta “Não tenho parceiro”.

As variáveis independentes da presente investigação são as questões que compõe o questionário sociodemográfico e as questões que compõe o questionário oncológico

específico. Já a variável dependente corresponde ao funcionamento sexual em todas as suas dimensões.

Procedimentos estatísticos

Os dados recolhidos foram analisados no programa Statistical Package for the Social

Science (SPSS), versão 22. Numa fase inicial procedeu-se à análise descritiva das variáveis

independentes através do cálculo da média e desvio padrão nas variáveis quantitativas, e frequências absolutas e relativas, nas variáveis qualitativas. Em seguida, foi analisada a consistência interna do questionário FSFI e respetivas dimensões, através do Alfa de

Cronbach, considerando os valores de referência de Pestana e Gajeiro (2008) com valores de

boa consistência interna entre 0.80 e 0.90 e de muito boa consistência acima de 0.90. O estudo da significância da associação entre caraterísticas sociodemográficas e grupo, experimental e de controlo, foi efetuado com o Teste do Qui-quadrado. As relações entre variáveis ordinais foram analisadas através do coeficiente de correlação de Spearman (Marôco, 2011; Pestana & Gajeiro, 2008).

As relações entre variáveis independentes e variável dependente foram ajustadas à idade, assumindo-a como covariável e portanto, estudadas com recurso à Análise

(35)

análise dos coeficientes de assimetria e achatamento. A homogeneidade das variâncias foi testada através do Teste de Levene e a homogeneidade das matrizes de

variâncias-covariâncias foi verificada pelo Teste de M Box (Marôco, 2011).

Foi considerado um nível de significância de 5% para a tomada de decisão quanto aos resultados das análises estatísticas. A dimensão do efeito foi analisada com o eta quadrado parcial (ηp2) e usados como referência os valores propostos por Marôco (2011), efeito

pequeno (ηp2 ≤ 0.05), médio (0.05 < ηp2 ≤ 0.25), elevado (0.25 < ηp2 ≤ 0.50) e muito elevado

(ηp2 > 0.50).

Resultados

O FSFI foi utilizado para avaliar o índice de funcionamento sexual em todas as suas dimensões, na amostra considerada. Foi obtido um Alfa de Cronbach total de 0.98 sendo este, igual ou superior a 0.90 em todas as suas dimensões, o que permite afirmar que existe uma consistência interna muito boa (Pestana & Gajeiro, 2008). As pontuações de todas as dimensões do FSFI variam entre o mínimo e o máximo possível, com elevados níveis de dispersão. Os coeficientes totais de assimetria (-0.25) e achatamento (-1.48), e em cada dimensão particular, são negativos mas próximos de zero, mostrando ligeiros desvios à normalidade o que, segundo Marôco (2011), não coloca em causa o uso de técnicas multivariadas sendo que estes métodos são resistentes à violação do pressuposto da normalidade, particularmente quando a dimensão das amostras é superior a 30. como é o caso. Das 116 mulheres participantes no estudo, 34 não tiveram atividade sexual nas últimas quatro semanas.

Variáveis sociodemográficas e funcionamento sexual

Foi realizada uma caraterização da amostra que apresenta 55 mulheres pertencentes ao grupo de controlo e 61 mulheres pertencentes ao grupo experimental, com idades

(36)

compreendidas entre 28 e 90 anos. A associação entre as pontuações do FSFI com a idade, as habilitações académicas e o rendimento mensal foi estudada com o Coeficiente de Correlação de Spearman (Tabela 3). As correlações do FSFI total e suas dimensões, com a idade são todas moderadas negativas, observando-se um tendência de diminuição dos índices de funcionamento sexual com o aumento da idade. As correlações com as habilitações

académicas e com o rendimento mensal são moderadas positivas, indicando uma tendência de aumento dos índices de funcionamento sexual com o aumento das habilitações académicas e do rendimento mensal.

Tabela 3: Correlações do FSFI com a idade, habilitações académicas e rendimento mensal

(N = 116).

FSFI Idade Habilitações académicas Rendimento mensal

Desejo Sexual r = -0.324 (p < 0.001) r = 0.341 (p < 0.001) r = 0.282 (p = 0.002) Excitação r = -0.366 (p < 0.001) r = 0.344 (p < 0.001) r = 0.328 (p < 0.001) Lubrificação r = -0.389 (p < 0.001) r = 0.361 (p < 0.001) r = 0.364 (p < 0.001) Orgasmo r = -0.372 (p < 0.001) r = 0.352 (p < 0.001) r = 0.364 (p < 0.001) Satisfação r = -0.355 (p < 0.001) r = 0.314 (p = 0.001) r = 0.313 (p = 0.001) Dor r = -0.370 (p < 0.001) r = 0.303 (p = 0.001) r = 0.288 (p = 0.002) Vaginismo r = -0.310 (p = 0.001) r = 0.260 (p = 0.005) r = 0.267 (p = 0.004) FSFI TOTAL r = -0.417 (p < 0.001) r = 0.377 (p < 0.001) r = 0.354 (p < 0.001)

Observam-se também correlações significativas e elevadas da idade com as habilitações académicas (r = -0.746; p < 0.001) e o rendimento mensal (r = -0.403; p < 0.001), indicando que mulheres mais velhas têm menor escolaridade e menores rendimentos. As habilitações académicas encontram-se também, fortemente correlacionadas, com o rendimento mensal (r = 0.740; p < 0.001), sugerindo um exponencial positivo entre as variáveis.

(37)

A comparação entre mulheres com e sem filhos mostra a inexistência de um efeito multivariado nos índices de funcionamento sexual (F(7.107) = 0.660; p= 0.705; λWilks= 0.959),

sendo o efeito de pequena dimensão (ɳp2= 0.041). Também não se observou qualquer efeito

significativo (p > 0.05) nas análises univariadas, sendo o efeito de pequena dimensão (ɳp2 <

0.02).

Quanto ao local de residência, existe um efeito multivariado no funcionamento sexual (F(7.107) = 1.581; p= 0.149; λWilks= 0.906), com efeito (ɳp2= 0.094). A análise univariada

(Tabela 2) mostra que as diferenças são significativas no desejo sexual em que, os doentes dos meios urbanos (M = 3.86; DP = 1.41) apresentam índices superiores aos dos meios rurais

(M = 2.66; DP = 1.57), sendo o efeito moderado. Nas restantes dimensões, apesar das

mulheres de meios urbanos terem pontuações médias superiores, as diferenças não são significativas e os efeitos são de pequena dimensão.

Tabela 4: Comparação do FSFI em mulheres que vivem em meios urbanos e rurais (N= 116).

Dimensões Residência F P ηp2 P.O. Rural (n = 41) Urbana (n = 75) Desejo Sexual 2.66 (1.57) 3.86 (1.41) 8,395 0.005 0.069 0.819 Excitação 2.10 (2.17) 3.51 (2.13) 2.712 0.102 0.023 0.372 Lubrificação 2.25 (2.33) 3.80 (2.29) 2.812 0.096 0.024 0.383 Orgasmo 2.05 (2.30) 3.55 (2.30) 2.553 0.113 0.022 0.354 Satisfação 2.73 (1.78) 4.01 (1.96) 3.223 0.075 0.028 0.429 Dor 2.53 (2.43) 3.82 (2.35) 1.132 0.290 0.010 0.184 Vaginismo 2.75 (2.59) 4.11 (2.44) 1.380 0.243 0.012 0.214

(38)

O estado civil ao nível do funcionamento sexual, evidenciou através da MANCOVA, um efeito multivariado (F(21.302) = 2.383; p= 0.001; λWilks= 0.644), com efeito (ɳp2= 0.136). As

análises univariadas posteriores (Tabela 5) mostram que apenas não existem diferenças significativas no desejo sexual. Nas restantes dimensões do FSFI as diferenças são

significativas e de efeito moderado, com mulheres casadas ou a viverem em união de facto, a apresentarem índices de funcionamento sexual mais elevados, as viúvas com índices mais reduzidos e as solteiras e divorciadas com valores próximos entre si e intermédios entre as casadas ou em união de facto e as viúvas.

Tabela 5: Comparação do FSFI considerando o estado civil (N = 116).

Dimensões Estado Civil F P ηp2 P.O. Solteira (n = 13) Casada/ União facto (n = 68) Viúva (n = 19) Divorciada (n = 16) Desejo Sexual 3.69 (1.75) 3.43 (1.58) 2.81 (1.65) 4.01 (1.11) 0.585 0.626 0.016 0.168 Excitação 2.45 (2.62) 3.86 (1.78) 0.77 (1.55) 2.55 (2.44) 8,020 0.000 0.178 0.989 Lubrificação 2.61 (2.68) 4.17 (1.88) 0.68 (1.47) 2.94 (2.79) 8,921 0.000 0.194 0.995 Orgasmo 2.46 (2.68) 3.90 (2.04) 0.74 (1.57) 2.45 (2.49) 7,118 0.000 0.161 0.979 Satisfação 2.74 (2.29) 4.41 (1.52) 1.54 (1.50) 3.03 (1.93) 11.274 0.000 0.234 0.999 Dor 2.28 (2.67) 4.35 (1.80) 0.93 (1.88) 2.95 (2.88) 9,855 0.000 0.210 0.997 Vaginismo 2.49 (2.83) 4.69 (1.79) 1.14 (2.31) 3.00 (2.97) 10.336 0.000 0.218 0.998

No que refere ao efeito das perturbações psiquiátricas, não se evidencia um efeito multivariado nos índices de funcionamento sexual (F(7,107) = 0.806; p= 0.584; λWilks= 0.950),

(39)

físicas (F(7,107) = 1.582; p= 0.148; λWilks= 0.906), com efeito médio (ɳp2= 0.094). Em ambos os

casos as análises univariadas não mostraram diferenças significativas em nenhuma das subescalas e as dimensões do efeito de muito baixa intensidade (ɳp2 < 0.01). A perturbação

psiquiátrica mais relatada pelas inquiridas foi a depressão, com evidência de 14 mulheres das quais 11 pertenciam ao grupo experimental e 3 ao grupo de controlo, num total de 21

mulheres que responderam sim a esta questão. Quanto à doença física 9 mulheres indicaram ter diabetes das quais 6 pertenciam ao grupo experimental e 3 ao grupo de controlo, num total de 18 inquiridas que respondeu sim à presença de doença física, exceto cancro.

Grupo de controlo e grupo experimental ao nível do funcionamento sexual

Os resultados da MANCOVA mostram a existência de efeito multivariado entre

mulheres com diagnóstico oncológico e mulheres sem diagnóstico oncológico e os índices de funcionamento sexual (F(7,107) = 2.185; p= 0.041; λWilks= 0.875), com efeito moderado (ɳp2=

0.125). A análise univariada (Tabela 6) mostra diferenças significativas em todas as

dimensões do FSFI, com exceção da dor e do vaginismo. Nas restantes dimensões, o grupo de controlo apresenta índices de funcionamento sexual superiores ao grupo experimental, sendo o efeito pequeno moderado.

(40)

Tabela 6: Comparação do FSFI entre mulheres com e sem diagnóstico oncológico (N = 116). Dimensões FSFI Doença oncológica F P ηp2 P.O. Não (n = 55) Sim (n = 61) Desejo Sexual 3.88 (1.36) 3.04 (1.65) 5,562 0.020 0.047 0.647 Excitação 3.62 (2.16) 2.46 (2.18) 4.439 0.037 0.038 0.551 Lubrificação 3.99 (2.33) 2.59 (2.31) 6,257 0.014 0.052 0.699 Orgasmo 3.83 (2.31) 2.30 (2.26) 8,295 0.005 0.068 0.815 Satisfação 4.12 (2.01) 3.05 (1.84) 5,190 0.025 0.044 0.617 Dor 3.92 (2.43) 2.87 (2.38) 2.533 0.114 0.022 0.352 Vaginismo 4.12 (2.53) 3.19 (2.54) 1.520 0.220 0.013 0.231

Variáveis oncológicas e funcionamento sexual

A comparação quanto ao tempo de diagnóstico mostra a inexistência de efeito

multivariado nos índices de funcionamento sexual (F(14.100) = 0.903; p= 0.558; λWilks= 0.792),

com efeito médio (ɳp2= 0.110). As análises univariadas (Tabela 7), apesar de não

significativas, mostram a existência de um efeito moderado no orgasmo (ɳp2 = 0.068) e na

satisfação (ɳp2 < 0.070) com as mulheres cujo tempo de tratamento é inferior a um ano a

(41)

Tabela 7: Comparação do FSFI quanto ao tempo de diagnóstico (N = 61). Tempo de diagnóstico F P ηp2 P.O. Dimensões FSFI Inferior a 1 ano (n = 35) Entre 1 e 3 anos (n = 19) Superior a 3 anos (n = 7) Desejo Sexual 2.97 (1.78) 2.97 (1.43) 3.60 (1.70) 0.654 0.524 0.022 0.155 Excitação 2.31 (2.19) 2.49 (1.90) 3.17 (2.99) 0.874 0.423 0.030 0.193 Lubrificação 2.45 (2.32) 2.65 (2.09) 3.13 (3.02) 0.613 0.545 0.021 0.147 Orgasmo 2.45 (2.13) 2.53 (2.09) 3.37 (3.16) 2.068 0.136 0.068 0.408 Satisfação 2.73 (1.87) 3.39 (1.56) 3.71 (2.27) 2.151 0.126 0.070 0.423 Dor 2.72 (2.45) 3.07 (2.17) 3.03 (2.86) 0.584 0.561 0.020 0.142 Vaginismo 3.02 (2.61) 3.54 (2.38) 3.09 (2.93) 0.656 0.523 0.023 0.155

No que refere à recidiva, a comparação entre mulheres mostra a inexistência de um efeito multivariado nos índices de funcionamento sexual (F(7,52) = 0.735; p= 0.644; λWilks=

0.910), com efeito pequeno (ɳp2= 0.090). Também não se observou qualquer efeito

significativo (p > 0.05) nas análises univariadas, sendo o efeito de pequena dimensão (ɳp2 <

0.02) em todas as subescalas.

O funcionamento sexual, quando comparado com os diferentes tipos de tratamento, mostrou inexistência de efeito multivariado sendo os efeitos moderados (Tabela 8).

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Tabela 8: Comparação do FSFI total e suas dimensões de acordo com os tratamentos (N =

61).

Tratamentos λ Wilks F P ɳp2 P.O.

Quimioterapia 0.909 F(7,52) = 0.744 0.636 0.091 0.288 Radioterapia 0.864 F(7,52) = 1.173 0.334 0.136 0.454 Cirurgia 0.780 F(7,52) = 2.096 0.060 0.220 0.746 Terapia Hormonal 0.873 F(7,52) = 1.081 0.389 0.127 0.419 Imunoterapia 0.874 F(7,52) = 1.071 0.395 0.126 0.415 Transplante 0.891 F(7,52) = 0.913 0.504 0.109 0.353

Relativamente às alterações que se podem fazer sentir ao longo do processo oncológico (Tabela 9), apenas se observou um efeito multivariado dos problemas sexuais (F(7,52) = 2.320; p= 0.039; λWilks= 0.762) e da fadiga (F(7,52) = 2.178; p= 0.051; λWilks= 0.773) nos índices de

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Tabela 9: Comparação do FSFI total e das suas dimensões de acordo com as alterações (N =

61).

Alterações λ Wilks F P ɳp2 P.O.

Alterações do sono 0.944 F(7,52) = 0.439 0.873 0.056 0.176 Alterações de apetite 0.924 F(7,52) = 0.611 0.744 0.076 0.237 Alopecia 0.884 F(7,52) = 0.975 0.459 0.116 0.378 Alterações de peso 0.882 F(7,52) = 0.996 0.445 0.118 0.386 Problemas sexuais 0.762 F(7,52) = 2.320 0.039 0.238 0.796 Náuseas/Vómitos/Enjoos 0.953 F(7,52) = 0.370 0.916 0.047 0.152 Alterações intestinais 0.890 F(7,52) = 0.917 0.501 0.110 0.355 Fadiga 0.773 F(7,52) = 2.178 0.051 0.227 0.765 Alterações de humor 0.889 F(7,52) = 0.927 0.493 0.111 0.359

Perda de uma parte do corpo 0.950 F(7,52) = 0.392 0.903 0.050 0.160

No caso dos problemas sexuais, as análises univariadas posteriores mostraram diferenças significativas na lubrificação (p = 0.038; ɳp2= 0.072), na dor (p = 0.025; ɳp2=

0.084) e vaginismo (p = 0.006; ɳp2= 0.121), com efeitos moderados. Relativamente à fadiga,

as análises univariadas mostraram a existência de diferenças significativas no desejo sexual (p = 0.024; ɳp2 = 0.085), na excitação (p = 0.007; ɳp2 = 0.120), na lubrificação (p = 0.009; ɳp2

= 0.111), no orgasmo (p = 0.016; ɳp2 = 0.096), na satisfação (p = 0.004; ɳp2 = 0.138) e na dor

(p = 0.044; ɳp2= 0.068), em todos os casos com efeitos moderados. Nestas dimensões as

mulheres que referiram ter fadiga têm índices de funcionamento sexual inferiores às que não o referiam. Não existem diferenças significativas quanto ao vaginismo (p = 0.119; ɳp2 =

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Discussão

Neste estudo pretendia-se comparar um grupo de mulheres com diagnóstico oncológico (grupo experimental) e um grupo de mulheres sem este diagnóstico (grupo de controlo), ao nível do funcionamento sexual. Para além deste objetivo central, pretendia-se ainda, analisar se as caraterísticas sociodemográficas exercem influência sob o índice de funcionamento sexual, em mulheres de ambos os grupos, bem como também, analisar se as caraterísticas oncológicas específicas exercem influência sob o índice de funcionamento sexual, em mulheres do grupo experimental.

Para tal, foram aplicados 3 questionários, um sociodemográfico, um com variáveis específicas do processo oncológico e um questionário de avaliação da funcionalidade sexual, FSFI. Os resultados do estudo têm por base, as respostas de 116 mulheres que preencheram os critérios de inclusão para a participação.

Verificou-se nesta investigação, ao nível das características sociodemográficas, a influência de alguns dos fatores analisados como a idade; o estado civil; a residência; as habilitações literárias e o rendimento mensal, sob o índice de funcionamento sexual feminino, em concordância com a literatura.

Relativamente à idade, foi possível verificar que, em ambos os grupos, há um declínio do funcionamento sexual em todas as suas dimensões, com o avanço da idade. Esta

informação vai de encontro ao que nos é apresentado na literatura. Estes resultados podem ser explicados pelo conjunto de alterações de foro fisiológico, hormonal e psicológico que

tendem a surgir sobretudo, entre os 50 e os 64 anos, sendo esta a faixa etária a que apresenta índices mais elevados de disfunções sexuais (Harden et al., 2008; Karraker, DeLamater, & Schwartz, 2011). Tendo em consideração esta faixa etária, a presente investigação corrobora a literatura sendo que a média de idades das mulheres em estudo é de aproximadamente 56 anos. Também se verificou que, no grupo experimental a média de idades foi mais elevada, o

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que permite afirmar, tal como Almeida (2005) que a idade é um fator de risco ao desenvolvimento de doenças oncológicas.

Quanto ao estado civil observaram-se índices de funcionamento sexual,

significativamente mais reduzidos em mulheres solteiras, divorciadas ou viúvas, em todas as dimensões do FSFI, com a exceção da dimensão do desejo sexual. Ao passarmos pela

literatura encontramos diversos estudos que corroboram os resultados obtidos, afirmando que mulheres casadas ou em união de facto apresentam uma relação mais estabilizada em que, apesar do impacto negativo de receber um diagnóstico de cancro, existe uma estruturação no casal que permite uma melhor adaptação e enfrentamento à doença oncológica. Pechorro et al. (2010), afirmam que a presença de um companheiro estável é realmente importante para uma satisfação e funcionamento sexual plenos. Todavia, é importante considerar, aquando de um diagnóstico de disfunção sexual, a relação do casal prévia ao cancro (Pereira & Lopes, 2002).

Relativamente à residência os resultados demonstram que mulheres que habitam em meios urbanos possuem valores mais elevados ao nível do funcionamento sexual em todas as suas dimensões, mas apenas no desejo sexual foram encontradas diferenças estatisticamente significativas. Estes resultados são convergentes com os estudos encontrados, nos quais a explicação para um funcionamento sexual mais empobrecido, na população feminina de meios rurais, é explicada pelas raízes culturais e menor acesso a informação e educação (Lau et al., 2006).

Tanto nas habilitações académicas, quanto no rendimento mensal, foi possível encontrar um exponencial positivo face aos índices de funcionamento sexual, em ambos os grupos das populações observadas. Também se verificou que quanto maior o grau de instrução, maior o rendimento mensal. Estes resultados fazem sentido à luz da literatura consultada, já que mulheres mais instruídas possuem empregos mais estáveis e melhor

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remunerados o que permite acesso a mais informações e conhecimento sobre a sexualidade podendo explorar e atender, de melhor forma, aos recursos disponíveis quando se deparam com dificuldades a este nível (Huguet et al., 2009; Rosen, Taylor, Leiblum, & Bachmann, 1993).

Ainda nas variáveis sociodemográficas, não foram encontrados resultados

estatisticamente significativos, ao nível do funcionamento sexual, nos aspetos respeitantes à maternidade; à presença de perturbação psiquiátrica ou doença física. No que refere à maternidade, a bibliografia consultada indicava que mulheres cuja maternidade ainda não tenha ocorrido, evidenciavam maior probabilidade de inadaptação ao diagnóstico oncológico, que traria consigo a dificuldade de reestruturação pessoal e relacional e, como consequência, um declínio a nível sexual, uma vez que, a reprodução é considerada um aspeto fulcral na vida do ser humano (Flynn et al., 2011; Huguet et al., 2009; Rebelo et al., 2007). Tal sugestão é contrariada pela presente investigação, que demonstra não existir qualquer relação de significância entre a maternidade e o funcionamento sexual. Este resultado pode ser justificado tendo em conta o facto de serem analisadas em simultâneo, diferentes variáveis sociodemográficas que podem exercer maior influência sob a vivência sexual da mulher, ou mesmo pelo facto das inquiridas sem filhos, com diagnóstico oncológico, serem apenas nove.

Em congruência com a literatura, a perturbação psiquiátrica mais relatada pelas inquiridas foi a depressão o que vai de encontro a Gold (1998), de que a perturbação

psiquiátrica mais comum entre mulheres é a depressão. E ainda que é esta psicopatologia que mais se encontra em morbilidade com a doença oncológica (Paredes et al., 2008). Também, no que respeita à doença física, a diabetes foi a mais mencionada, o que vai de acordo com a bibliografia tendo em conta que pessoas diabéticas apresentam maior risco de

(47)

Contudo, não foram encontradas associações entre as perturbações psiquiátricas e as doenças físicas com o funcionamento sexual. Para explicar tal resultado temos de considerar o reduzido número de indivíduos (perturbação psiquiátrica apenas 21 mulheres; perturbação física apenas 18 mulheres) bem como, a influência de outros parâmetros sociodemográficos a considerar.

Os resultados obtidos face à comparação de ambos os grupos ao nível do

funcionamento sexual demonstram um claro declínio em todas as suas dimensões, no grupo experimental. Tais resultados são congruentes com estudos consultados que afirmam que a sexualidade é um dos parâmetros, mais afetados aquando de um diagnóstico oncológico, bem como ao longo de todo o processo clínico (Flynn, et al., 2011; Rebelo et al., 2007). A

bibliografia e a presente investigação são concordantes sugerindo que as disfunções sexuais mais comuns em mulheres com diagnóstico de cancro evidenciam-se ao nível da excitação, lubrificação e dor (Valério, 2007).

Relativamente às variáveis oncológicas e funcionamento sexual, apenas na variável correspondente às alterações, sentidas ao longo do processo oncológico, foi possível verificar associação positiva com a literatura no que respeita ao funcionamento sexual. As alterações que se fazem sentir, física, psicológica e socialmente, aquando do percurso de tratamento, parecem estar intimamente ligadas à resposta sexual da mulher, sendo as mais comuns a fadiga, a perceção de dificuldades a nível sexual e as alterações que se relacionam

diretamente com a imagem corporal (Cassidy, 2002; Fleury et al., 2011; Siegel et al., 2012). Neste estudo, os resultados mais significativos foram encontrados na fadiga e perceção de dificuldades sexuais, evidenciando-se que na maioria dos pacientes que apresentam estas alterações, existe um declínio do seu funcionamento sexual.

Não foram encontradas diferenças significativas entre as pacientes em recidiva e as pacientes com primeiro diagnóstico, ao nível da resposta sexual. Estes resultados são

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divergentes ao estudo de Andersen (2009) que indica maior probabilidade, na mulher com recidiva, em desenvolver problemas sexuais. No entanto, os resultados obtidos podem considerar algumas hipóteses explicativas não avaliadas na presente investigação, como a frequência do contato sexual que, segundo o estudo de Serrano (2005), revelou ser o único parâmetro ao nível sexual, de diferenciação entre mulheres com primeiro diagnóstico e mulheres em recidiva, sendo que as segundas apresentavam índices de frequência sexual mais reduzidos; no mesmo estudo é apresentada outra hipótese explicativa que diz respeito à avaliação da relação do casal previamente à recidiva e ao diagnóstico inicial sendo que, uma conjugalidade estável e satisfatória permite maior resiliência por parte de ambos e por conseguinte, melhor enfrentamento à doença e suas adversidades (Huguet et al., 2009; Serrano, 2005). Não menos importante é o tempo de diagnóstico da recidiva, sendo que, ao fim de 12 meses há um declive nos níveis de distress psicológico, o que pode facilitar uma resposta sexual mais adequada (Serrano, 2005).

Quanto tempo de diagnóstico considerado é possível verificar uma média ligeiramente superior de funcionamento sexual em pacientes com 3 ou mais anos de diagnóstico. Apesar de não ser estatisticamente significativo, este resultado vai de encontro à literatura, uma vez que demonstra existirem níveis de satisfação mais elevados quando são atingidos cerca de 5 anos de sobrevida, que segundo Pinto e Pais-Ribeiro (2007), é neste período que se encara o indivíduo como sendo um sobrevivente de cancro, o que acarreta maior estabilidade

emocional, menor medo ou incerteza face ao processo clínico e uma reestruturação mais estabilizada do seu estilo de vida.

Não obstante, apesar dos estudos sugerirem diferenças significativas no funcionamento sexual da mulher, no primeiro ano após diagnóstico (Moreira, 2013; Trufelli et al., 2008), tal conclusão não se verificou no presente estudo, o que se pode dever a influências mais

Imagem

Tabela  1:  Caraterização  da  amostra  total  (N  =  116),  ao  nível  das  caraterísticas  sociodemográficas
Tabela 2: Caraterização da amostra do grupo experimental (N=61), ao nível das  caraterísticas oncológicas específicas
Tabela 3:  Correlações  do FSFI com a idade, habilitações  académicas e rendimento  mensal  (N = 116)
Tabela 4: Comparação do FSFI em mulheres que vivem em meios urbanos e rurais (N= 116)
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Referências

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