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Análise do processo participativo democrático: ênfase no Conselho Municipal de Educação de Currais Novos/RN

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

MARIA JOICY ANA SOUZA SILVA

Análise do Processo Participativo Democrático: ênfase no Conselho Municipal de Educação de Currais Novos/RN.

Currais Novos/RN 2017

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MARIA JOICY ANA SOUZA SILVA

Análise do Processo Participativo Democrático: ênfase no Conselho Municipal de Educação de Currais Novos/RN.

Projeto de Intervenção apresentado ao Curso de Especialização em Administração Pública da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, campus Curais Novos, para obtenção do título de Especialista.

Orientador: Prof (a):Ms. Kelsiane de Medeiros Lima.

Currais Novos/RN 2017

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Silva, Maria Joicy Ana Souza.

Análise do Processo Participativo Democrático: ênfase no Conselho Municipal de Educação de Currais Novos/RN./ Maria Joicy Ana Souza Silva.

- 2017. 43f.: il.

Monografia (Especialização em Administração Pública) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas.

Departamento de Ciências Administrativas, Currais Novos/RN, 2017. Orientador: Profa. Me. Kelsiane de Medeiros Lima.

1. Gestão pública – Projeto. 2. Democracia Participativa – Projeto. 3. Conselhos municipais – Projeto. 4. Políticas Públicas - Projeto. I. Lima, Kelsiane de Medeiros. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de Direito e que se fizerem necessários, que assumo total responsabilidade pelo material aqui apresentado, isentando a Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, a Coordenação do Curso, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do aporte ideológico empregado ao mesmo.

Conforme estabelece o Código Penal Brasileiro, concernente aos crimes contra a propriedade intelectual o artigo n.º 184 – afirma que: Violar direito autoral:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. E os seus parágrafos 1º e 2º, consignam, respectivamente:

§1º Se a violação consistir em reprodução, por qualquer meio, no todo ou em parte, sem autorização expressa do autor ou de quem o represente, (...): Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, (...).

§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda, aluga, introduz no país, adquire, oculta, empresta, troca ou tem em depósito, com intuito de lucro, original ou cópia de obra intelectual, (...), produzidos ou reproduzidos com violação de direito autoral.

Diante do que apresenta o artigo n.º 184 do Código Penal Brasileiro, estou ciente que poderei responder civil, criminalmente e/ou administrativamente, caso seja comprovado plágio integral ou parcial do trabalho.

Currais Novos-RN, ___ de ____________ de 2017.

________________________________ Nome do Autor

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A democracia participativa foi uma construção histórica, sendo tema bastante discutido especialmente a partir da década de 1980, e que hoje estar em grande evidencia. As concepções hegemônicas de democracia, provenientes da teoria política e da sociologia, vêm apresentando-a como um procedimento de governo, no qual a participação aparece como técnica de gestão, como forma de legitimação de uma integração consentida. Desta

forma, o presente projeto de intervenção, tem como objeto de estudo o Conselho Municipal de

Educação de Currais Novos/RN, tendo como objetivos, analisar o processo participativo democrático, fortalecer a participação, mencionar as melhorias advindas desta participação ativa dos membros, sendo de suma importância o exercício da cidadania responsável, onde esses cidadãos devem assumir o papel de fiscalizador, colaborador e críticos no processo de construção e implementação de políticas públicas para o desenvolvimento educacional do município. O presente projeto baseia-se em estudos realizados em fontes bibliográficas, artigos, legislação, visitas sistemáticas, sendo a pesquisa caracterizada como qualitativa.

Palavras-chave: Democracia Participativa, Conselhos, Políticas Públicas.

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1.INTRODUÇÃO... 6 2.OBJETIVO... 7 2.1Objetivo Geral... 7 2.2 Objetivos Específicos ... 7 3. DISCUSSÃO TEÓRICA... 7 3.1 Estado e Organização ... 7 3.1.1 Estado... 7

3.1.2 Ciência Política e Teoria do Estado... 12

3.2 Gestão Pública no Brasil e sua Trajetória Histórica ... 15

3.2.1 Gestão Pública e Democracia Participativa... 19

3.2.2 Modalidades de Participação... 21

3.3 Participação como Construção Política... 23

3.4 O Processo Democrático... 25

3.5 O Futuro da Democracia ... 27

3.6 Conselhos Municipais como forma de Participação Popular na Gestão Pública... 28

4. METODOLOGIA... 30

4.1 Cenário do Projeto de Intervenção... 30

4.2 Tipologia da Pesquisa... 31

4.3 Elementos do Plano de Intervenção... 32

4.3.1 Breve Perfil da Intervenção... 32

4.3.2 Denominação da Instituição... 32

4.3.2.1 Descrição da Natureza e as Atividades do Conselho... 33

4.3.2.2 Principais Atividades... 33

4.3.2.3 Força de Trabalho... 34

4.3.3 Organograma... 34

4.4 Cronograma das Atividades... 35

4.5 Processo de Avaliação... 36

5. PROJETO DE INTERVENÇÃO... 37

6. REFERÊNCIAS... 39

7. APÊNDICES... 43

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Com a criação do Estado Democrático de Direito preconizado pela Constituição Federal de 1988, foi possível criar espaços públicos onde a população pode participa do processo de formulação das políticas públicas brasileiras que são os conselhos gestores, que exercem o papel de um canal de ligação entre os anseios da população e os seus gestores locais, permitindo uma cooperação na definição das políticas públicas.

Deste modo, com um bom desempenho da população nessas políticas há um fortalecimento da autonomia dos municípios e da intervenção social, sendo ainda um ambiente propício para mudanças no modo de pensar e agir dos cidadãos, que adquirem uma consciência da importância de sua colaboração dentro dos conselhos e na política do seu Município para o desenvolvimento social.

Sendo assim, o referido trabalho busca analisar o processo participativo democrático, com ênfase no Conselho Municipal de Educação de Currais Novos/RN, no qual será o objeto de estudo, levando em consideração o fortalecimento da participação no processo de políticas Públicas de Educação do Município e quais os benefícios e melhorias que poderão ser alcançadas mediante a participação ativa?

Tendo em vista a importância dessa participação como instrumento de fiscalização na gestão escolar, das políticas educacionais e no controle social, de forma que possa consolidar uma estrutura educacional que possibilite a inclusão social com eficiência, possibilitando inúmeros benefícios para todos os envolvidos no universo escolar, familiar e social.

O Conselho Municipal de Educação de Currais Novos, no qual é o objeto de estudo, é um instrumento de assessoramento, vinculado à Secretaria Municipal de Educação e Cultura e Esporte, o mesmo tem a finalidade de estabelecer a política e as bases educacionais do município, assegurando aos diversos segmentos da comunidade o direito de participar das decisões.

Desta forma, no desenvolver do trabalho será abordado diversos tópicos que servirá com embasamento teórico para uma melhor compreensão dos assuntos estudados e para interpretação da realidade, dentre eles posso citar: Estado e organização social, Ciência Política e Teoria do Estado, Elementos Constitutivos do Estado, Gestão Pública no Brasil e sua trajetória histórica, Gestão participativa, Estado e Democracia, Modalidade de Participação, Pressupostos de ordem política, O futuro da democracia e entre outros.

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2.1 Objetivo Geral

- Analisar o processo participativo democrático no Conselho Municipal de Educação de Currais Novos/RN, para o desenvolvimento do Sistema Municipal de Ensino.

2.1.2 Objetivos Específicos

- Analisar e fortalecer a participação no processo de políticas Públicas de Educação do Município;

- Elencar os benefícios e melhorias que poderão alcançar mediante a participação ativa;

- Propor ao Conselho que possa elaborar e desenvolver projetos junto a UFRN, para que venha contribuir para a melhoria e criação de novas metodologias de ensino.

3. DISCUSSÃO TEÓRICA

3.1 Estado e Organização Social

3.1.1 Estado

O Estado é uma sociedade natural, no sentido de que decorre naturalmente do fato de os homens viverem necessariamente em sociedade e aspirarem realizar o bem geral que lhes é próprio, isto é, o bem comum. Por isso e para isso a sociedade se organiza em Estado.

Sob o aspecto da época do surgimento do Estado existem três posições fundamentais: O Estado, assim como a própria sociedade, sempre existiu visto que o homem desde que vive na terra está integrado numa organização social, dotada de poder e com autoridade para determinar o comportamento social de todo o grupo.

Alguns autores defendem que a sociedade existiu sem o Estado durante um certo período e depois, por diversos motivos, foi se constituindo o Estado para atender às necessidades dos grupos sociais; alguns autores somente admitem como Estado a sociedade política dotada de certas características bem definidas, o que só ocorreu a partir do século XVII.

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O Estado Oriental, Antigo ou Teocrático; antigas civilizações no Oriente ou do Mediterrâneo. A família, a religião, o Estado, as organizações econômicas formavam um conjunto confuso, não se distinguindo o pensamento político da religião, da moral, da filosofia ou outras doutrinas econômicas, sendo marcas características a natureza unitária e a religiosidade. O Estado aparece como uma unidade geral, sem divisão interior, territorial ou de funções. A religiosidade denomina este Estado de Teocrático, onde a autoridade dos governantes e os normas de comportamento individuais e coletivos são a expressão da vontade de um poder divino. Em alguns casos o governante é considerado representante do poder divino e, noutros, o poder do governante é limitado pela vontade divina.

O Estado Grego; A característica fundamental é a cidade-Estado, a polis, cujo ideal era a auto-suficiência, a autarquia. Há uma elite que compõe a classe política, com intensa participação nas decisões de caráter público do Estado, sendo restrita a autonomia individual nas relações de caráter privado. Quando citado como governo democrático significava que uma parte restrita da população – os cidadãos – é que participavam das decisões políticas, pois, além destes, habitavam a cidade os Metecos (estrangeiros) e os escravos, que não participavam do poder político.

O mundo greco-romano não se estruturava como cidades-estado. As cidades-estados que conhecemos pela tradição escrita, pela epigrafia ou pelas fontes arqueológicas, eram muito diferentes entre si: nas dimensões territoriais, riquezas, em suas histórias particularmente e nas diferentes soluções obtidas, ao longo dos séculos, para os conflitos de interesses entre seus componentes. (Guarinello aput Pinsky Jaime, Pinsky, 2015).

Além disso, sob o termo cidade-estado abarcamos povos distintos, culturas diferentes, com seus próprios costumes, hábitos cotidianos, leis, instituições, ritmos históricos e estruturas sócias, que sua compreensão se dar pela força das circunstancia parcial e genérica, levando ao entendimento de cada caso particular.

O Estado Romano; A família é a base da organização, dando-se aos descendentes dos fundadores do Estado privilégios especiais. O povo, que compreendia uma pequena parte da população, participava diretamente do governo que era exercido pelo Magistrado. Com o tempo, novas camadas sociais surgiram, adquirindo e ampliando direitos. Com a ideia do surgimento do Império, Roma pretendeu a integração dos povos conquistados, mantendo um sólido núcleo de poder político para assegurar a unidade e ascendência da Cidade de Roma. Com a liberdade religiosa assegurada por Constantino (Edito de Milão) a noção de superioridade dos romanos desapareceu em face do cristianismo.

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Se para os gregos havia primeiro a cidade, polis, e só depois o cidadão, polites, para os romanos era o conjunto de cidadãos que formava a coletividade.

A cidade romana formou-se, então, sob o domínio etrusco e até o próprio nome da cidade parece derivar de uma estirpe etrusca Ruma. Os etruscos nunca formavam um único Estado, mas foram fundamentais para o desenvolvimento das estruturas sócias das cidades itálicas e, em particular a Roma. A sociedade etrusca era formada por dois grandes grupos: a nobreza, que compunha o conselho de anciãos, e o restante da população, em posição subalterna e sem direitos de cidadania. Essa bipartição social foi transferida a Roma na posterior consolidação de dois grupos sociais, os patrícios (detentores da “nobreza de sangue”) e os plebeus. (Funari aput Pinsky Jaime, Pinsky, 2015).

O Estado Medieval: A caracterização se dá pelo Cristianismo, invasões dos bárbaros e o feudalismo. O Cristianismo é a base da aspiração à universalidade, superando a ideia de que os homens valiam diferentemente, de acordo com a origem de cada um, sendo todos iguais, inclusive os ainda não convertidos. O alvo era que todos fossem cristãos e adotassem mesma norma de comportamento público e particular.

Neste contexto onde a Igreja e o Estado formavam uma só realidade social, a blasfêmia não era vista pelo povo apenas como um erro religioso, mas também como um crime contra a sociedade. Era uma ameaça contra a ordem social porque esta se baseava na fé. A própria igreja estimula a afirmação do império como unidade política pensando no Império da Cristandade e, com esse intuito é que o Papa Leão III confere a Carlos Magno, no ano de 800, o título de imperador. Entretanto, dois fatores de perturbação influem nesses planos; em primeiro lugar, a infinita multiplicidade de centros de poderes, como os reinos, os senhorios, as comunas, as organizações religiosas, as corporações de ofícios, todos ciosos de sua autoridade e de sua independência, jamais se submetendo à autoridade do Imperados; em segundo lugar , o próprio imperador recusando submeter-se à autoridade da Igreja, havendo imperadores que pretenderam influir em assuntos eclesiásticos, bem como inúmeros papas que pretenderam o comando, não só dos assuntos de ordem espiritual, mas a de todos os assuntos de ordem temporal.

Para Aristóteles (IV a. C) em sua obra denominada “A Política” já escrevia sobre o Estado, começando pela organização política de Atenas e Esparta, os órgãos de governo dessas cidades, chegando a uma classificação de todas as formas de governos então existentes, podendo ser considerado o fundador da ciência do Estado.

Já Platão (IV a. C) escreveu a obra denominada “A República”. No entanto, enquanto Aristóteles estudou o Estado real, tal como existia na época, procurando descobrir os

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princípios que o regiam, Platão descreveu o Estado ideal, tal como devia ser, de acordo com sua própria concepção do homem e do mundo.

O Estado Moderno suas características baseiam-se na soberania, na territorialidade e no povo no qual se originou da necessidade de unidade, e a busca de um único governo soberano dentro do território delimitado.

O próprio Estado Moderno seria um tipo ideal, uma vez que se pode ver diferenças exorbitantes se tomarmos exemplos históricos para efeito de comparação. De todo modo, o conceito de tipo ideal foi emprestado do jurista europeu. O que se revela claramente, pois esta concepção republicana do poder é compartilhada pela ciência do direito ao expor a urgência de se configurar a própria Teoria da Autolimitação do Estado. (Jellinek ,2000).

Assim, os Estados Modernos, cada um à sua maneira, desenvolveram o Direito Constitucional com suas próprias experiências políticas-jurídicas. Do direito inglês recebeu-se a clássica concepção da necessidade da separação dos poderes estatais. Ainda da Inglaterra, recebemos a ideia da impossibilidade do livre arbítrio do poder público, do qual deriva diretamente o princípio da legalidade, ou seja, da supremacia da lei sobre tudo e todos.

Vale salientar a importância da participação do povo nessa época, primeiro na submissão do monarca a preferência da lei, dando início a abertura da participação do indivíduo na direção dos destinos da nação, sendo feito na maioria das vezes por meio de revoluções acontecimento que não era de se estranhar.

O estado contratualista, durante o período entre os séculos XVI ao XVIII surgiu correntes teóricas que visava refletir e tentar explicar como provavelmente se deu a criação do Estado, como a sociedade se comportava antes deste e quando os indivíduos sentiram a necessidade de sua criação. Os pensadores desta corrente filosófica tinham como base que o Estado havia sido criado por meio de um suposto contrato social. Entre os contratualista mais famosos estão Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau. Apesar de que todos os três acreditavam que o Estado havia se formado a partir de um contrato social, existem algumas divergências no pensamento de cada um em relação ao caminho tomado para a consolidação do pacto.

De acordo com Thomas Hobbes (1588 – 1679) em sua obra “Leviatã” discorre sobre o estado de natureza, o contrato social que os indivíduos tiveram necessidade de firmar e o governo soberano. Para Hobbes, os homens no estado de natureza são todos iguais, até mesmo o mais forte não possui a garantia de poder sobre os demais. Possuem, ademais, a

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mesma inteligência, entretanto devido à vaidade humana (requisito comum a todos) cada indivíduo se sente e se considera mais inteligente que o seu semelhante.

Logo, na visão de Hobbes, os seres humanos no estado de natureza estão sempre supondo o que o outro pode estar planejando fazer contra o seu semelhante. A insegurança em relação à possibilidade de uma atitude hostil leva ao ataque seja para vencer o outro ou como meio para se defender de uma possível agressão. Está declarada a guerra de todos contra todos.

Já para John Locke (1632 – 1704) difere consideravelmente da teoria de Hobbes. Locke em “Segundo tratado sobre o governo civil” acredita que os homens no estado de natureza viviam em relativa harmonia e paz. Nesse momento, os homens eram dotados de razão e tinham sua propriedade. Propriedade para o autor, em uma primeira acepção, significava: vida, liberdade e bens. A segunda acepção de propriedade faz relação aos bens móveis adquiridos pelos indivíduos.

Para o pensador a terra é um direito comum a todos, já que, foi dada por Deus e a partir do trabalho o homem a torna sua propriedade privada. Sendo esta terra sua, ele atribui um direito próprio excluindo todos os outros de possuí-la. O estado de guerra para Locke se dá a partir do momento em que há uma violação da propriedade privada fazendo-se necessário a criação de um contrato social.

A finalidade principal do contrato era proteger a propriedade privada e preservar os direitos que cada um possuía no estado de natureza. Este acordo, para Locke, levou os homens a unirem e estabelecerem livremente o que ele vai chamar de “contrato de consentimento” diferentemente do “contrato de submissão” denominado por Hobbes.

Já na compreensão de Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) em suas duas obras “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” e “O contrato social” a primeira discorre sobre a criação do pacto social, que para ele foi um pacto injusto, e na segunda propõe como poderia ser feito o contrato na medida em que todos fossem beneficiados. Já no “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” Rousseau diz que os homens no estado de natureza são amorais, ou seja, eles não têm conhecimentos do que é bom ou mau, não conseguindo ver seu semelhante sofrer.

O mesmo não fala como se produziu o processo do estado da natureza para a sociedade civil, porém, afirma que o pacto social foi injusto, já que, iludidos pelo discurso de homens ambiciosos, homens grosseiros e inocentes perderam sua liberdade natural para a servidão. Ou seja, os indivíduos abriram mão da sua liberdade em troca do trabalho, da

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servidão e da miséria, mas na concepção de Rousseau existe uma relação de liberdade e obediência e, além do mais uma prevalência da vontade geral sobre a particular.

Na verdade Rousseau deseja uma democracia direta aos moldes das antigas Roma e Grécia no lugar de uma democracia representativa. No entanto, haveria assim apenas um representante que colocasse em prática as leis criadas pelo povo soberano. Sendo que o referido autor não crê em um retorno ao estado de natureza, ou seja, o ser humano já perdeu a sua bondade e a pureza, infiltrado cada vez mais dentro da sociedade moderna.

3.1.2 Ciência Política e Teoria do Estado

A noção de Teoria Geral do Estado pode-se dizer que ela é uma disciplina de síntese, que sistematiza conhecimentos jurídicos, filosóficos, sociológicos, políticos, históricos, antropológicos, econômicos, psicológicos e culturais, valendo-se de tais conhecimentos para buscar o aperfeiçoamento do Estado, concebendo-o ao mesmo tempo, como um fato social e uma ordem, que procura atingir os seus fins com eficácia e com justiça.

Em minha Teoria do Estado desenvolvi largamente o tema, para mostrar a nítida separação conceitual entre as duas disciplinas: uma de caráter jurídico-social, a outra (a teoria política), onde os problemas do Estado são estudados não somente sob o ponto de vista institucional, mas principalmente, sociológico e psicológico. (CAVALCANTI, 1977).

Para o Prof. Duverger aput Cavalcanti (1977), a ciência política estendeu o campo dos estudos tradicionais, penetrando no campo dos partidos políticos, da opinião pública, da propaganda, dos grupos de pressão, mas a verdade é que o campo não estar imune aos juristas, que apenas encaram o problema sob outro prisma.

Logo, a Teoria Geral do Estado, atenta com o estudo do estado como um fenômeno da história política e da vida social, em perspectiva teórica no qual demanda a compreensão de alguns conceitos relacionados à ciência política e à filosofia política, podendo desenvolver a reflexão jurídica, analisando toda a estrutura e conjuntura do Estado, aliando-se a sociedade civil, a fim de construir os alicerces de um discurso democrático ligado ás transformações sociais.

O Estado possui três elementos constitutivos, sendo que a falta de qualquer elemento descaracteriza a formação do Estado. Para o reconhecimento do Estado perfeito se faz necessário a presença do povo, território e soberania.

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Como desdobramento da teoria dos três elementos, o autor reduz o conceito de Estado a ordenamento jurídico de tal forma que o poder soberano se torna a poder de aplicar/criar direito num determinado território para um povo – poder que recebe sua validade da norma fundamental e da capacidade de se fazer valer, recorrendo, em derradeira instância, a força e, portanto, do fato de não ser apenas legítimo, mas, também, eficaz (KELSEN apud SOARES, 2001).

O povo e o território são considerados os elementos materiais do Estado, enquanto soberania é o elemento formal, mas todos são elementos essenciais por serem indispensáveis para a existência do Estado. (DALLARI, 2003).

Desta forma, é notável que os três elementos se relaciona entre si, sendo que o povo vive no território e no mesmo território existe a soberania, que de certo modo, é exercida pelo o povo que no qual elege seus representantes através do voto nas eleições periódicas.

O povo se refere ao conjunto de indivíduos que se vincula juridicamente ao Estado, de forma estável, o que não ocorre com estrangeiros e apátridas, diferente da população, que tem sentido demográfico, quantitativo, agregando todos aqueles que se encontrem sob sua jurisdição territorial, sejam eles estrangeiros, nacionais ou apátridas, sem que seja necessário haver qualquer vínculo jurídico do indivíduo com o poder estatal.

Segundo Dallari (2003), o povo é considerado o principal elemento para a caracterização de um Estado, pois segundo o que expressa“ é unânime a aceitação da necessidade do elemento pessoal para a constituição e a existência do Estado, uma vez que sem ele não é possível haver Estado e, é para ele que o Estado se forma”

Já na Constituição Federal de 1988, o conceito de povo nos é fornecido pelo direito, significa o conjunto de pessoas que detém o poder político, a soberania. Artigo 1º. Parágrafo único. “Todo poder emana do povo, que exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

O território é considerado outro elemento importante para a constituição de um Estado, uma vez que é neste território que o povo vive e é neste território que o Estado exerce a soberania.

O território é a base física ou geográfica de um determinado Estado, seu elemento constitutivo, base delimitada de autoridade, instrumento de poder com vistas a dirigir o grupo social, com tal delimitação que se pôde assegurar a eficácia do poder e a estabilidade da ordem.

Os limites de delimitação do território são denominados pelas fronteiras, estas podem ser naturais ou convencionais. O território tem duas funções: uma negativa, limitando entre

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fronteiras, a competência da autoridade política, e outra positiva, fornecendo ao Estado base de recursos materiais para ação.

Conforme a concepção de Soares (2001), o território teve sua concepção de elemento indispensável ao Estado, reconhecida somente com o advento do Estado moderno, uma vez que a partir desse momento, é que se insculpiu o conceito de soberania, aonde o território passou a ser compreendido como a superfície terrestre, onde o Estado exerce seu poder.

A Constituição brasileira atribui ao Conselho de Defesa Nacional, órgão de consulta do presidente da República, competência para “propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo”. (Artigo 91, parágrafo primeiro, inciso III da CF).

E para finalizar o último elemento indispensável para a Constituição do Estado é a soberania, sua definição deve ser compreendida por diferentes perspectivas. Para a política, a soberania é o exercício da autoridade que reside num povo e que se exerce por intermédio dos seus órgãos constitucionais representativos.

Para o Dicionário da Língua Portuguesa também define o conceito de soberania como sendo a autoridade suprema do poder público e como a alteza ou excelência não superada em qualquer ordem imaterial.

Aos olhos de Jean Jacques Rousseau (Do Contrato Social), “soberano é o povo”. Porém, cada cidadão é soberano e súbdito em simultâneo, uma vez que contribui para a criação da autoridade (como tal, faz parte da mesma) embora, por sua vez, esteja submetido a esta mesma autoridade e seja obrigado a obedecer a esta.

Desta forma, para Rousseau (Do Contrato Social), todos os cidadãos são livres e iguais, tendo em conta que não são mandados por um indivíduo em concreto, recebendo antes ordens de um sujeito indeterminado que representa a vontade geral.

A noção de soberania é de origem feudal. Ao compilar no século XI, os costumes da região do Beauvaisis, nos confins da Picardia, da Normandia e da lle-de France, Philippe de Beaumanoir distingui a soberania (termo correlato de suserania) de cada senhor feudal, da soberania do rei. “ Cada barão”, escreveu ele, “é soberano em sua baronia. Mas o rei é soberano acima de todos, e exerce, juridicamente, a guarda geral de todo o seu reino. (COMPARATO, 2006).

Já no caput do artigo 1º, I, da Constituição Federal de 1988, alude expressamente à “soberania como um fundamento do Estado, da República Federativa do Brasil. O dispositivo

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acima demonstra a preocupação com a legitimação do poder com seu exercício, sem embargo de diversos problemas da participação política do “povo”.

Conforme Moraes (2005), a soberania “é a capacidade de editar normas, sua própria ordem jurídica (ao começar pela Lei Magna), de tal modo que qualquer regra heterônoma só possa valer nos casos e nos termos admitidos pela própria Constituição”.

Já de acordo com o pensamento de Comparato (2006), o povo soberano não pode e não deve governa. O governo, sobretudo nas sociedades altamente complexas do mundo moderno, é uma tarefa especializada, que deve ser deixada a cargo de agentes executivos.

Desta forma, compreende-se que, compete antes de tudo ao povo o poder, o poder e dever de controlar a ação dos governos, e esse controle soberano, pode ser dado por vários elementos, como a aprovação da Constituição e suas alterações e também fixar as diretrizes gerais do governo, ou seja, as metas politicas a médio e longo prazo.

3.2 Gestão Pública no Brasil e sua Trajetória Histórica

A Administração Pública pode ser compreendida como um conjunto de órgãos e de servidores que, mantidos com recursos públicos, são nomeados de decidir e implementar as normas necessárias ao bem-estar social e das ações necessárias à gestão da coisa pública.

Dessa forma, a evolução da administração pública é um processo de aprimoramento dos serviços prestados pelo Estado à população e essa pode ser representada por três modelos: administração pública patrimonial, administração pública burocrática e administração pública gerencial. Nesses modelos, o objetivo é suprir uma deficiência do modelo anterior, introduzindo novos conceitos ou mudando conceitos ineficientes ou nocivos ao aparelhamento do Estado.

Em suma, o modelo de gestão pública pode ser definido como um conjunto de métodos administrativos executados pela direção de uma organização para atingir seus objetivos traçados. Assim, esses métodos administrativos tendem a se modificar de acordo com cada organização, amarrado às metas e objetivos traçados.

No Brasil, o modelo patrimonialista vigorou desde o período colonial, estendendo-se até a década de 1930. Nesta fase verifica-se a “confusão” patrimonial, na qual, toda a máquina estatal é utilizada em benefício do próprio governante e de terceiros por ele favorecidos. Assim, há o favorecimento de poucos em detrimento dos interesses de toda uma sociedade.

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No patrimonialismo, o aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder do soberano, e os seus auxiliares, servidores, possuem status de nobreza real. Os cargos são considerados prebendas. A res publica não é diferenciada de res principis. Em consequência, a corrupção e o nepotismo são inerentes a esse tipo de administração. No momento em que o capitalismo e a democracia se tornam dominantes, o mercado e a sociedade civil passam a se distinguir do Estado. (MARQUES, 2008).

Já a Administração Pública Burocrática, surge na segunda metade do século XIX, na época do Estado liberal, como forma de combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista. Constituem princípios orientadores do seu desenvolvimento a profissionalização, a ideia de carreira, a hierarquia funcional, a impessoalidade, o formalismo, em síntese, o poder racional-legal.

Os controles administrativos visando evitar a corrupção e o nepotismo são sempre a priori. Parte-se de uma desconfiança prévia nos administradores públicos e nos cidadãos que a eles dirigem demandas, por isso, são sempre necessários controles rígidos nos processos. (MARQUES, 2008, p. 34).

Para o economista e sociólogo alemão Max Weber, aput Chiavenato (1995), busca- se estabelecer o comportamento esperado pelo servidor ou administrador público na forma de regulamentos exaustivos, enfatizar a impessoalidade, seja na forma de acesso ao serviço público, seja na progressão na carreira, e torna o conhecimento das regras um recurso de poder (o que decorre do poder racional-legal de Weber).

E de acordo com Marques (2008), a Administração Pública Gerencial emerge na segunda metade do século XX como resposta, de um lado, a expansão das funções econômicas e sociais do Estado e, de outro, ao desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia mundial, uma vez que ambos deixaram a mostra os problemas associadas à adoção do modelo anterior.

De acordo com Emenda Constitucional 19/981. Art. 41-B. Fica instituída a Gratificação de Qualificação - GQ, a ser concedida aos titulares de cargos de provimento efetivo de nível intermediário integrantes do Plano de Carreiras e Cargos de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública, em retribuição ao cumprimento de requisitos técnico-funcionais, acadêmicos e organizacionais necessários ao desempenho das atividades de níveis intermediário e auxiliar de desenvolvimento tecnológico, gestão, planejamento e infraestrutura, quando em efetivo exercício do cargo.

1 CF/88, EC 19/88, modifica o regime e dispõe sobre princípio e normas da Administração Pública, Servidores e Agentes políticos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal, e dá outras providências.

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A busca pela eficiência na administração pública, a necessidade de redução de custos, e aumentar a qualidade dos serviços, tendo os cidadãos como beneficiário, torna-se então essencial. Desta forma, o aparelho do Estado passa a ser orientada predominantemente pelos valores de eficiência e qualidade na prestação de serviços públicos e pelo o desenvolvimento de uma cultura gerencial nas organizações.

Sendo assim, pode se dizer que a administração gerencial constitui um avanço, e até determinado ponto um rompimento com a administração burocrática, sendo que isso não significa que negue todos os seus princípios, ao contrário ainda conserva alguns, como as admissões segundos rígidos critérios de mérito, sistema universal de remuneração e entres outros.

Desta forma, os princípios básicos da administração de acordo com Meirelles (2012), é a Legalidade, Moralidade, Impessoalidade ou finalidade, Razoabilidade e proporcionalidade, Publicidade, Eficiência, Segurança Jurídica, Motivação, ampla defesa e contraditório, Interesse público ou supremacia do interesse público.

Os princípios básicos da administração pública estão consubstanciados em doze regas de observância permanente e obrigatória para o bom administrador e na interpretação do direito administrativo, sendo que os cinco primeiros estão expressamente previstos no art. 37,

caput, da CF/88, essa mesma norma diz que a Administração Pública deve obedecer aos

princípios acima referidos.

A Legalidade, como princípio de administração (CF, art.37, caput), significa que o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e as exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato invalido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso. (MEIRELLES,2012).

Sabe-se que na Administração Pública não há liberdade nem vontade pessoal, enquanto na administração particular é licito fazer tudo que a lei não proíbe, e na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza, essa explicação pode ser vista da seguinte forma, no particular significa “pode fazer assim” e para o administrador público significa “ deve fazer assim”.

A Moralidade administrativa constitui, hoje em dia, pressuposto de validade de todo ato da Administração Pública (CF, art.37, caput), não se trata da moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como “ conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração”. O agente administrativo, como ser humano dotado da capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o elemento ético de sua

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Por consideração de Direito e de Moral, o ato administrativo, não poderá obedecer somente ao que estar estabelecido na lei jurídica, mas também tem que levar em consideração a lei ética da própria instituição, porque nem tudo que é legal é honesto, pode ser considerado como ético.

O princípio da impessoalidade, referido na CF/88 (Art.37, caput), nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõem ao administrador público que só pratique o ato para seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal. (MEIRELLES, 2012).

Também podemos compreender esse princípio como sendo uma forma de excluir a promoção pessoal de autoridade ou servidores públicos a realização de suas atividades administrativas. E a finalidade terá sempre um objetivo certo e inafastável de qualquer ato administrativo. Todo ato que se apartar desse objetivo sujeitar-se a invalidação por desvio de

finalidade, que a nossa lei da ação popular conceituou como o “fim diverso daquele previsto,

explicita ou implicitamente, na regra de competência” do agente.2

Com a Emenda Constitucional 45/20043 a eficiência passou a ser um direito com sede constitucional, pois, no tít. II, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, que assegura “ a todos, no âmbito judicial e administrativo”, a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

A eficiência passa a ser elemento objetivo de aferição de merecimento e impeditivo da promoção. Obviamente, para outras carreiras, em face do princípio da eficiência, essa presteza no exercício das funções e a retenção indevida de processo, ou mesmo a demora excessiva e injustificada na prolação de decisão administrativa, deverão ser consideradas para a promoção por merecimento, podendo, conforme o caso, até mesmo caracteriza imoralidade administrativa e se dolosa a conduta improbidade

administrativa. (MEIRELLES, 2012).

Dessa forma, foi estabelecido a todos os cidadãos, no âmbito judicial ou administrativo, a garantia de razoável duração do processo e os meios para permitir a celeridade de sua tramitação, em outros termos pode se dizer que essa nova garantia fundamental, além de visar à prestação de uma tutela jurisdicional mais rápida, evita gastos desnecessário.

2Lei nº4.717/65, regula a ação popular: Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: incompetência;vício de forma; ilegalidade do objeto; inexistência dos motivos; desvio de finalidade.

3 A Emenda Constitucional n° 45, de 08 de dezembro de 2004, publicada em 31.12.2004, determinou significativas mudanças no Poder Judiciário, em especial na Justiça do Trabalho, com a ampliação de su a competência, através da nova redação dada ao art.114 da Constituição Federal.

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3.2.1 Gestão Pública e Democracia Participativa

O tema participação tem diferentes conceitos e definições além de ter forte conteúdo ideológico, por mais que existem muitas tipologias dedicadas a especificar as diferentes categorias da participação, todas elas estar refletindo ações dedicadas a “fazer parte” de determinados processos decisórios ou não.

De acordo com Teixeira, (2002) aput Nogueira (2005), os que participam são partes que desejam ser partes ou tomar parte de algo.

A rigor, ainda que nem toda participação seja imediatamente política, não há participação que não se oriente por algum tipo de relação com o poder, tanto com o poder de outros atores quanto com os determinados centros organizacionais e decisórios.

Desta forma, quem participa procura projetar-se como sujeito que porta valores, interesses, aspirações e direitos, construindo assim uma identidade, formula uma teoria para si e traça um plano de ação.

As últimas duas décadas do século XX, sobretudo no Sul do mundo, e dentre dele particularmente no Brasil, assistiram à afirmação categórica da ideia da participação no campo da gestão pública. Refletindo, por um lado, o avanço da democratização e da diferenciação social e, por outro, a progressiva valorização da democracia participativa, a perspectiva da participação consolidou-se tanto entre técnicos e estudiosos da gestão pública quanto entre formuladores e dirigentes dos programas de reforma do Estado que se tornaram típicos naquele período.

Nessa inflexão, uma espécie de inversão da hipótese decisionista que predominaram em momentos imediatamente anteriores, segundo a qual o arranque desenvolvimentista, a resolução dos problemas sociais ou combate à inflação requereriam bem mais a autoridade e centralização decisória do que a democracia e deliberação expandida.

Antes, a convicção era a de que processos participativos ou, mais genericamente, mecanismos de consulta popular, negociação e formação ampliada de conselhos, agiram “ contra” o crescimento econômico, na medida em que dificultaria a tomada rápida de decisões e, com isso, prolongariam indevidamente o tempo de formulação e de implementação de políticas. (NOGUEIRA, 2005).

Assim, os processos participativos converteram-se, em recursos estratégico do desenvolvimento sustentável e da formulação de políticas públicas, particularmente na área social.

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De acordo com Cunill-Grau (1997), Navarro (2002) aput Nogueira (2005), a ideia de que a participação deve ser incorporada ativamente aos processos de governo e de implementação de políticas irá encontrar uma tradução mais tópica, consubstanciada na figura do orçamento participativo, experimento que se revelou particularmente forte no Brasil.

O novo status alcançado pela participação no campo da gestão pública corresponde não apenas a mudança política e teórico-ideológica, mas antes de tudo ás exigências da modernidade radicalizada e da globalização capitalista.

Percebe-se que nas últimas décadas, a insatisfação social com a gestão pública aumento em grande escala, ela se resulta pela a má qualidade efetiva de alguns serviços públicos. Há desarranjo e baixo rendimento em diversas áreas, graças a fatores organizacionais, que tem a ver com decisões políticas, com pouco financiamento e também ao padrão de reforma administrativa e de políticas de recursos humanos.

Outra parte da insatisfação vem da campanha contra o Estado, que incentiva as pessoas a acharem que tudo que é público tem menor qualidade quando comparado com o que é ofertado por uma empresa particular.

Segundo Hirschmann (1983), aput Nogueira (2005),

Estamos assistindo a conclusão do ciclo privado-público-privado, após terem sido impelidos a atuar na esfera pública pelas decepções inerentes à sua contratação anterior em atividades privadas, os cidadãos verificam que a esfera pública também reserva, ela própria várias decepções, terminando por voltas a se recolher à esfera privada. As atividades privadas – mercado- ganharam enorme poder de atração.

Desta forma, aqueles cidadãos que se decepciona, não deseja mais melhorar o mundo, lutar pelos seus direitos, democratizar o poder ou consumir bens ou serviços públicos que lhes seriam devidos por direitos, mas busca apenas cuidar de seus interesses e necessidades adquiridos por meios privados para que possa-lhe satisfazer, essas atitudes acarretam diretamente a degradação dos bens e serviços públicos.

As pessoas não querem mais esperar. Não conseguem levar a vida com vagar nem aceita alguma lentidão. Indivíduos mais lentos passam a ser malvistos, a velocidade converte-se em valor, e tudo precisa passar pelo crivo da rapidez e a ser pensado como devendo ser obtido sem delongas ou intermediários. Paradoxalmente, porém, as pessoas também desejam participar, interferir nas escolas, vocalizar seus direitos e prerrogativas, o que impõe um ritmo mais lento e processual ás coisas, chocando-se com as imagens e as expectativas de velocidade. (NOGUEIRA, 2005).

A gestão pública, ainda funciona de modo geral. Com base em ritos e ritmos burocráticos não propriamente ágeis e velozes. É imaginável que não consiga funcionar

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diferentemente, por mais que se pensem estratégias para modernizar a burocracia aproxima-la do empreendedorismo e invadi-la de novas tecnologias. Como os ritmos burocráticos são constitutivamente lentos, entram em atrito com a velocidade adquirida pela vida.

3.2.2 Modalidade de Participação

A legitimação da participação constrói-se sobre distintos fundamentos os quais não apenas convivem lado a lado, mas também estruturam a disputa de significados quanto à natureza da democracia em construção. Ou seja, o confronto e oposição que caracterizavam as relações entre Estado e sociedade civil no período da resistência contra a ditadura, cedem lugar para uma postura de negociação, aberta a uma atuação conjunta sob o estigma da participação da sociedade civil.

Disso depura-se que, assim com a sociedade civil tem diferentes concepções e direções, a categoria participação também, e, por consequência, possuem diferentes matizes e intenções. Nogueira (2005) elabora um roteiro contendo quatro grandes modalidades de participação, as quais coexistem e se combinam de diferentes maneiras. “Tais modalidades expressam, também, os diferentes graus de consciência política coletiva, correspondendo, assim, à maior ou menor maturidade, homogeneidade e organicidade dos grupos sociais”. São elas:

Na Participação Assistencialista, seja de natureza filantrópica ou solidaria. Trata-se de uma atividade universal, encontrável em todas as épocas, como extensão da natureza gregária e associativa do ser humano, e que se mostra particularmente relevante entre segmentos sociais mais pobres e marginalizados (em que funciona como estratégia de sobrevivência) ou nos momentos históricos em que crescem a miséria e a falta de proteção. Práticas de auxilio mutuo e de mutirão, por exemplo, desenvolvem-se ao lado de ações filantrópicas de fundo benemérito ou religioso para diminuir o infortúnio, para otimiza recursos comunitários ou grupais, para aumentar a qualidade de vida, para neutralizar conflitos ou par resolver problemas.

Já na Participação Corporativa, esta está dedicada à defesa de interesses específicos de determinados grupos sócias ou de categorias profissionais. Trata-se de uma participação fechada em si, que se objetiva, sobretudo com um proposito particular, em maior ou menor medida excludente: ganham apenas os que pertencem ao grupo ou à associação. Como se sabe, foi essa participação que esteve na origem do sindicalismo moderno.

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Sua importância é extraordinária, diretamente proporcional à força, ao relevo e à transparência que os interesses foram adquirindo na dinâmica social. Tanto quanto a participação assistencialista, essa é uma modalidade universal. Ambas, aliás, interpenetram-se intensamente, até mesmo porque estão articuladas de maneira estreita com problemas existenciais imediatos, práticos, concretos, quase sempre de fundo econômico.

Na Participação Eleitoral a modalidade de participação projeta-nos para o campo político propriamente dito, de fato, não visa apenas à defesa de interesses particulares, mas interfere diretamente na governabilidade e tem efeitos que dizem respeito a toda a coletividade. Já há nela, portanto, uma consciência mais clara do poder político e das possibilidades de direcioná-lo ou de reorganizá-lo. O cidadão estar muito mais encorpado e maduro, afirmando-se não apenas em relação a si próprio (direito individuais, civis), mas também em relação aos (direitos políticos).

A participação eleitoral, porem tem seus limites e não necessariamente leva a uma reorganização sustentada do Estado ou do poder político. Ela é típica do contratualismo liberal, ainda que evidentemente não seja exclusiva dele. Está muito condicionada por atos e escolhas individuais, particulares, operando de modo muitas vezes episódicos, flutuante, despojado de estratégias ou de cálculo de longo prazo.

Por mais que os rumos políticos de um pais democrático resultem do voto, tal “método de combinar preferência” termina por limitar o envolvimento do cidadão. Trata-se de uma limitação inerente ao processo democrático; na medida em que constrange o “ exercício da paixão política”, pode acabar por “ gerar decepção e, via de consequência despolitização” (HIRSCHMANN, 1983 apud NOGUEIRA 2005).

Não há, portanto, como superestimar a participação eleitoral em abstrato, ou seja, sem que estejam definidos os critérios do sufrágio, o caráter do eleitorado, quem pode eleger e ser eleito, bem como o sistema eleitoral e o modo como se vota.

Para Cerroni (1993) apud Nogueira (2005), o principio técnico da eletividade deve ser vinculado, portanto, a um preciso contexto de valores. Por trás dos vários critérios de determinação da capacidade eleitoral, encontram-se concepções gerais da política e da vida social.

Já na participação política inclui, complementa e supera tanto a participação eleitoral, quanto a participação corporativa. Não colide com elas, nem as rejeita como algo “menor”, muito ao contrário. O simples ato de votar sempre é, aliás, em maior ou menor medida, uma forma política de participação, assim como uma ação em defesa de interesses.

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A participação propriamente política, porém, realiza-se tendo em vista a comunidade como um tudo, a organização da vida social em seu conjunto, ou seja, o Estado. Ela é assim uma pratica e ético-politica, que tem a ver tanto a questão do poder e da dominação quanto com a questão do consenso e da hegemonia, tanto com a força quanto com o consentimento, tanto com o governo quanto com a convivência, em suma, tanto com o “ato pelo qual um povo é povo, pois esse ato constitui o verdadeiro fundamento da sociedade”. (ROUSSEAU, do contrato social, livro I, apud NOGUEIRA, 2005).

Em suma, no mundo moderno, os grupos sociais seguem trajetórias nas quais se combinam diferentes graus de consciência política e de atuação pratica. No próprio plano econômico-corporativo, que de certo modo é basal, oscila-se entre consciência da solidariedade entre todos os membros do grupo e a consciência de que os próprios interesses de parte superam o “círculo corporativo” e podem ser adotados por outros grupos.

3.3 Participação como Construção Política

Dados todos os riscos e obstáculos com que se defronta, a gestão participativa não tem como efetivar-se de costas para a política, indiferentemente a ela ou em atrito com ela. Quanto menos política há nos processos de gestão participativa, menos tenderá a ser a disposição dos atores para assimilar a perspectiva negocial e para lutar por soluções políticas, calçadas em debates, embates e acordos difíceis, vinculados a uma racionalidade especifica.

De acordo com Nogueira (2005), a democracia participativa é legitima em si mesma. Ela opera, porém, diversamente conforme a escala.

Na escala nacional, mostra-se como um poderoso parâmetro ético e incide de modo mais restrito nas práticas políticas efetivas, particularmente as governamentais. Seu peso relativo no jogo democrático é menor, ou, dizendo de maneira, somente se viabiliza em integração estreita com os mecanismos da representação. Na medida em que se aproxima das escalas subnacionais – estaduais, provinciais, regionais, locais –, mostra-se mais efetiva, incidindo diretamente nas práticas governamentais e na formulação e implementação de políticas. (NOGUEIRA, 2005).

Ações complementares entre democracia participativa e democracia representativa mostram-se, assim, não apenas possíveis, mas também decisivas para que se visualizem formas mais produtivas de se exigir, dos governos, maior eficiência, maior efetividade e maior receptividade ao controle social.

Por fim, regras procedimentais são necessárias tanto à representação quanto a participação, e não podem ser vistas como atributo exclusivo da democracia representativa:

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quanto mais participativa é uma comunidade, mais procedimentos tendem a ser suas orientações, sobretudo se trata de uma participação sustentável.

A Constituição Federal de 1988, construída a partir da influência de uma pluralidade de forças e de sujeitos políticos, estabeleceu o Estado Democrático de Direito no Brasil. Além disso, promulgou uma série de princípios e de diretrizes sobre a participação dos cidadãos no desenho, na implementação e no controle social das políticas públicas que, posteriormente, foram regulamentados e operacionalizados em diversos mecanismos institucionais nas três esferas da Federação (União, estados e municípios).

O processo democrático pressupõe a participação ativa de seus cidadãos para reivindicar direitos, questionar políticas públicas e cobrar responsabilidades das instituições, este diálogo entre as autoridades e as comunidades é essencial para que as necessidades reais dessas populações sejam de fato consentidas.

A participação não só define a qualidade da democracia como a “forma de viver a democracia”, como afirma Lilian Celiberti.

“A participação é uma forma de viver a democracia e ela abarca as práticas anômalas e subversivas que vivem no plano subjetivo e pessoal, aquelas coisas que fazem as formas de sentir e amar, a formas de viver e criar comunidade. Nesse sentido, a participação democrática abarca a sociedade em seu conjunto, as meninas e os meninos nos centros educativos, em seus domicílios e na sociedade, os adolescentes e os jovens, as mulheres, os gays, lésbicas, os transexuais, os transgênicos, os atores políticos e sociais, mas também a quem constrói cultura, poesia e arte” (CELIBERTI, 2005).

Conforme Bobbio (2003), em seu livro “O futuro da democracia”, explicita que antes de qualquer estudo a ser realizado acerca da democracia necessário é se estabelecer um conceito mínimo da mesma, que o autor estabelece como sendo “[...] primariamente um conjunto de regras de procedimento para a formação de decisões coletivas, em que está prevista e facilitada a participação mais ampla possível dos interessados. ”

Já em outra obra o mesmo autor estabelece um conceito mais direto, didático e tradicionalista dos clássicos do que seria a democracia tendo por base o uso descritivo da mesma, e assim destaca:

[...] a democracia é uma das três possíveis formas de governo na tipologia em que as várias formas de governo são classificadas com base no diverso número dos governantes. Em particular, é a forma de governo na qual o poder é exercido por todo o povo, ou pelo maior número, ou por muitos, e enquanto tal se distingue da monarquia e da aristocracia, nas quais o poder é exercido, respectivamente, por um ou por poucos. (BOBBIO, 2003).

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Desta forma, princípio da gestão democrática não deve ser entendido apenas como prática participativa e descentralização do poder, mas como radicalização da democracia, como uma estratégia de superação do autoritarismo, do patrimonialismo, do individualismo e das desigualdades sociais e desigualdades educacionais. Nessa perspectiva de democracia participativa, o objetivo da criação de instâncias de participação popular é estabelecer um diálogo permanente entre governo e sociedade, de tal forma que permita ao governo desenvolver políticas públicas que contem com o endosso de toda a sociedade.

3.4 O Processo Democrático

Nos Estados democráticos, Aristóteles (1952) apud Dahl (2012), escreveu na Política, “o povo [ou demos] é soberano; nas oligarquias, por outro lado, apenas um pouco [ou oligoi] detêm o poder”. Democracia significa, literalmente, o governo do povo.

Quais são as características distintivas de um processo democrático de governo? Para responder essa questão, convém prosseguir em três etapas.

Em primeiro lugar, como a democracia é uma ordem política, é necessário estabelecer os pressupostos que justificam a existência de uma ordem política. Em segundo lugar, é preciso especificar os pressupostos que justificam uma ordem política democrática. Embora eu vá descrever esses dois grupos de pressupostos de uma forma um tanto abstrata, eles não pretendem abstrair a história e definidamente não pressupõem ficção comum na teoria democrática desde Locke, segundo a qual existe um “estado de natureza” anterior do qual surge uma sociedade política, mediante um contrato social.

Em terceiro lugar, precisamos descrever os critérios essenciais de uma ordem política democrática e indicar como estes derivam dos pressupostos.

A reflexão de Aristóteles sobre a política é que ela não se separa da ética, pois a vida individual está imbricada na vida comunitária. A razão pela qual os indivíduos se reúnem nas cidades (e formam comunidades políticas) não é apenas a de viver em comum, mas a de viver “bem” ou a boa vida, para que isso aconteça, é necessária que os cidadãos vivam o bem comum, ou em conjunto ou por intermédio dos seus governantes; se acontecer o contrário (a busca do interesse próprio), está formada a degeneração do Estado.

Para entendermos como se organiza os pressupostos de ordem política, primeiro vamos supor que (numa situação histórica concreta, digamos) algumas pessoas tenham em mente a ideia de formar uma associação para alcançar certos fins.

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Para atingir esses fins, a associação precisa adotar certos cursos de ação política que os seus membros terão de seguir coerentemente. Em geral a obrigação dos membros de agir de um modo coerente com as políticas da associação é expressa numa regra ou lei que inclui penalidades para o seu não cumprimento. (DAHL, 2012).

O fato de que as decisões são vinculativas não significa que a associação seja necessariamente coerciva, empregue a ameaça de sanções violentas para garantir a obediência ou possua outras características semelhantes, comumente utilizadas para distinguir um Estado de outros tipos de associação.

Para Dahl (2012), o processo de tomada de decisões vinculativas inclui pelo menos dois estágios analiticamente distintos: o estabelecimento de uma agenda e uma decisão quanto ao resultado.

O estabelecimento de uma agenda é a parte do processo durante a qual são escolhidos os temas sobre as quais as decisões serão tomadas (incluindo uma decisão de não decidir o assunto). A decisão quanto ao resultado, ou o estágio decisivo, é o período durante o qual o processo culmina num resultado, o que significa que num curso de ação política foi definitivamente adotado ou rejeitado. (DAHL, 2012).

Até que o estágio decisivo seja completado, o processo de tomada de decisões e experimental. Ele pode levar a discursões, acordos, até mesmo a resultados de votações; mas estes são todos preliminares, podem ser invalidados no estágio decisivo e não são vinculativos para os membros. As decisões somente se tornam vinculativas na conclusão do estágio decisivo, embora essa distinção analítica se aplique a qualquer ordem política, ela é essencial para o esclarecimento da natureza do processo democrático.

As decisões vinculativas devem ser tomadas apenas pelas pessoas que estão sujeitas ás decisões, ou seja, pelos membros da associação, e não pelas pessoas fora dela, assim para utilizar uma expressão familiar, nenhum legislador está acima da lei. Esse pressuposto repousa sobre o princípio elementar de justiça segundo o qual as leis não podem ser legitimamente impostas aos outros por pessoas que não são elas próprias, obrigadas a obedecer a essas leis.

Ou seja, negar a qualquer cidadão as oportunidades adequadas para a participação efetiva significa que, por causa do fato de que suas preferencias são desconhecidas ou incorretamente percebidas, elas não podem ser levadas em consideração. Mas não levar em igual consideração as preferências dos cidadãos quanto ao resultado final equivale a rejeitar o princípio da igual consideração de interesses.

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3.5 O Futuro da Democracia

Para Dalh (2012), a visão do processo democrático é uma visão de um sistema político cujos membros veem uns aos outros como iguais políticos, são coletivamente soberanos e possuem todas as capacidades, recursos e instituições de que necessitam para governar a si mesmos.

Ele também defende a ideia de que o processo democrático é superior a outros modos viáveis de governo em pelo menos três pontos.

Em primeiro lugar, ele promove a liberdade como nenhuma alternativa viável consegue fazer: liberdade sob a forma da autonomia moral que ele encoraja e permite; além disso, promove um amplo espectro de outras liberdades mais especificas que são inerentes ao processo democrático, e tendem apoiar generosamente outras liberdades.

Em segundo lugar, o processo democrático promove o desenvolvimento humano, acima de tudo na capacidade de exercer a autodeterminação, a autonomia moral e a reponsabilidade pelas próprias escolhas. Finalmente, ele é o meio mais certo, para que os seres humanos possam proteger e promover os interesses e bens que compartilham entre si.

Na medida em que a ideia e a pratica de democracia se justificam por valores como liberdade, o desenvolvimento humano e a proteção e promoção dos interesses humanos compartilhados, a ideia e a pratica da democracia também pressupõem três tipos de igualdade: a igualdade moral intrínseca de todas as pessoas; a igualdade expressa na premissa de que as pessoas adultas têm direitos a autonomia pessoal na determinação do que e melhor para si; e, como consequência destas, a igualdade política entre os cidadãos, conforme ela é definida pelos critérios do processo democrático. (DALH, 2012).

A estreita associação entre democracia e certos tipos de igualdade nos leva a uma conclusão moral importante: se a liberdade, o desenvolvimento pessoal e o avanço dos interesses compartilhados são bons objetivos, e se as pessoas são intrinsecamente iguais em seu valor moral, isso significa que as oportunidades para alcançar esses bens devem ser distribuídas igualmente a todas as pessoas.

Desta forma, visto por essa perspectiva, o processo democrático torna-se um requisito da justiça distributiva. Portanto, o processo democrático se justifica não apenas por seus próprios valores últimos, mas também como um meio necessário para a justiça distributiva.

Imagine se pudéssemos criar uma sociedade que, dentro dos limites humanos viáveis, onde facilitasse as conquistas máximas da democracia e de seus valores, isto é uma sociedade democrática avançada, como poderia imagina-la.

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De acordo com Dahl (2012), é possível desenhar algumas possibilidades: a primeira, um juízo acerca da viabilidade, um mundo que consiste apenas em unidades muito pequenas e fortemente autônomas está fora de cogitação. Países que exijam governos de grandes escalas estão fadados a existir, é desejável que sejam democráticos. Ou seja, não podemos conceber uma sociedade democrática viável sem governos em grandes escalas.

Em sua segunda conclusão, trata-se de um juiz moral, onde dentro dos limites da viabilidade, num pais democrático avançado os cidadãos possuiriam os recursos políticos necessários para participar como relativamente iguais na vida política. Para muitas pessoas, essas proposições parecerão tão extravagantes em suas implicações que o primeiro impulso será descarta-las como absurda. Portanto, é preciso lembra o motivo pelo o qual a igualdade política é tão importante.

A meu ver, nem a igualdade política, nem o processo democrático se justifica como intrinsecamente bons. Na verdade, eles se justificam como o meio mais confiável de proteger e promover o bem e os interesses de todas as pessoas sujeitas a decisões coletivas. Entre os bons fundamentais servidores pelo o processo democrático e a igualdade política estão a liberdade, principalmente a liberdade de autodeterminação, o autodesenvolvimento e a proteção e promoção de outros interesses compartilhados. (DAHL, 2012).

Assim, a preocupação explicita é com a igualdade política, liberdade, o desenvolvimento humano e os valores humanos, no extremo, podem tentar imaginar um país no qual as estruturas sócias e econômicas, sem controle do Estado, automaticamente distribuem para todos os cidadãos os recursos necessários para a participação nas decisões coletivas como iguais políticos.

Desta forma, as estruturas sócias espontaneamente ocasionam tal igualdade de recursos que a igualdade política se torna inevitável, portanto o que buscamos é um pais democrático avançado regularia deliberadamente suas estruturas sócias, econômicas e políticas a fim de atingir a igualdade política.

3.6 Conselhos Municipais como forma de Participação Popular na Gestão Pública

O princípio de participação popular norteia a administração pública, o Estado Democrático de Direito preconizado pela Constituição Federal de 1988 (CF/88), criou espaços públicos em que a população participa do processo de formulação das políticas públicas brasileiras: são os conselhos gestores, que exercem o papel de um canal de ligação

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entre os anseios da população e os seus gestores locais, permitindo uma cooperação na definição das políticas públicas.

Com a atuação da população nessas políticas, há um fortalecimento da autonomia dos municípios e da intervenção social, e um ambiente para mudanças no modo de pensar e agir dos cidadãos, que adquirem uma consciência da importância de sua colaboração na política do seu Município, tornando-se aptos para intervir na deliberação de seus interesses frente ao Estado. (ROCHA, 2011).

A participação popular na elaboração, implementação e fiscalização das políticas públicas ganhou amplitude sem precedentes, contribuindo para aumentar tanto a eficácia e abrangência das ações públicas, como a capacidade de formulação dos movimentos sociais.

De acordo Rocha (2011), essa dimensão de participação popular é a que garante o exercício da democracia para além dos espaços formais de poder e da representatividade eleitoral, levando em conta os interesses do conjunto da população, e possuindo uma visão abrangente e integrada do território, da sociedade e das questões do desenvolvimento.

Os Conselhos Municipais são órgãos públicos destituídos de personalidade jurídica, constituindo-se em mediadores entre a população e o Governo local, com o objetivo de formular políticas públicas, as quais atenderão às necessidades sociais. Eles são instrumentos da democracia participativa, tendo como função o de trazer para o Governo os problemas reais da sociedade.

De acordo com a Controladoria Geral da União (CGU 2008), podem-se destacar algumas atribuições dos conselhos gestores, como a fiscalizadora, a mobilizadora, a deliberativa e a consultora. A primeira, fiscalizadora, abrange o controle e o acompanhamento das ações dos gestores públicos. A atribuição de mobilização se configura pelo estímulo à contribuição da sociedade civil para formular e divulgar a importância da participação popular na gestão pública, seja através de reuniões, palestras, enfim, pela propagação da existência desses instrumentos de controle social.

A função deliberativa constitui-se na participação efetiva dos conselhos nas decisões sobre estratégias a serem utilizadas pela administração pública. E a consultiva se expressa por meio da consulta sobre o direcionamento das políticas públicas, realizada pelo Estado, ao conselho correspondente ao setor em foco, marcada por sugestões e opiniões dos conselheiros e da população para os gestores.

Tendo em vista que o objeto de estudo desse projeto, é o Conselho Municipal de Educação do Município de Currais Novos, faz-se necessário mostrar a importância dos conselhos escolares no desenvolvimento educacional do município.

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